INICIAÇÃO CIENTÍFICA COM ALUNOS DO ENSINO FUNDAMENTAL EM ALEGRE-ES: RESULTADOS PARCIAIS DO USO DE PLANTAS MEDICINAIS Gean Carlos da Silva Abreu1, Antônio João Viana Batista1, Gean Gimenez1, Marroni de Alcântara Barbosa1, Amanda Ribeiro Braga1, Mauricio Assad1, Maria Júlia Alledi de Campos1, Mirelle Baptista Jordain2, Rudison da Silva Florêncio2, Lenir Cardoso Porfirio2 1 2 EEEFM Aristeu Aguiar/8ª série, Rua Dr. Wanderley, Centro Alegre-ES, [email protected] Universidade Federal do Espirito Santo/DMVET, Alto Universitário, Alegre-ES, [email protected] Resumo – Este artigo apresenta resultados preliminares do trabalho de pesquisa junto a estudantes da EEEFM Aristeu Aguiar, Alegre-Espírito Santo. No projeto são desenvolvidas atividades voltadas a jovens interessados em aprender a preparar domissanitários que tem como base, plantas medicinais cultivadas na horta de plantas medicinais da escola. A importância do método de observação científica é destaque nas atividades dos estudantes, que incluem entre outras: manutenção da horta identificação das espécies; preparo de tinturas e extratos de plantas medicinais usadas para formulação de produtos a serem utilizados como alternativas a problemas do dia a dia da escola, como a desinfecção de ambientes de uso comum no cotidiano dos estudantes. Os bolsistas prepararam, a partir de extrato de alecrim (Rosmarinus officinalis), uma loção que foi, por opção dos alunos, utilizada em teste de controle do bicho mineiro (Leucoptera coffeella) do café (Coffea sp.), com iniciativa observacional dos alunos, o que resultou nos resultados preliminares para a preparação deste artigo. Palavras-chave: Fitodomissanitários, pragas, observação científica, Rosmarinus officinalis. Área do Conhecimento: Ciências da saúde: Farmácia: Farmacotécnica Introdução O ensino da ciência e método científico tem espaço na abordagem do projeto da horta de plantas medicinais na E.E.E.F.M. Aristeu Aguiar em Alegre-ES. Para Oiagen et al. (2013), a educação científica é componente não dissociado da educação escolar, e destaca-se o papel de formas de ensino e aprendizagem que tomem como base, o pensamento crítico sobre problemas vivenciados na comunidade, e assim, feiras de ciência e projetos de iniciação científica são medidas chave para aproveitar a curiosidade natural dos estudantes e estimula-los a produzir ciência e pensar de maneira lógica. A horta de plantas medicinais mantida pelos alunos na escola Aristeu Aguiar possui 42 espécies de plantas, e após leitura em artigos científicos, o Alecrim (Rosmarinus officinalis) foi escolhido como modelo para testes de aplicabilidade em diversos produtos, por apresentar ação antioxidante, antibacteriana, antifúngica e anti-inflamatória. As propriedades da planta podem ser utilizadas em tecnologia farmacêutica, de perfumaria e cosméticos, além de aromaterapia, embalagens para alimentos e alimentação (RIBEIRO-SANTOS et al., 2015). O uso de inseticidas é indicado como forma de controle de pragas tanto no campo como em locais de armazenamento, mas destaca-se que, esse método de controle de pragas, tem desvantagens uma vez que pragas resistentes podem surgir, e o risco de contaminação dos alimentos é uma ameaça constante (CAMPOS et al., 2014). O objetivo deste trabalho foi promover a observação científica com um grupo de 10 alunos bolsistas do Projeto de Iniciação Cientifica Júnior, por meio do uso de plantas medicinais na busca de alternativas para controlar as pragas na produção agropecuária familiar. Metodologia O projeto de Iniciação Cientifica Júnior (PIC Junior) é promovido pela Fundação de Amparo a Pesquisa e Inovação do Espírito Santo (FAPES) nas escolas de ensino fundamental e médio do estado, o projeto “Manutenção de horta medicinal para a produção de fitodomissaniantes na E.E.E.F.M. Aristeu Aguiar, Alegre-ES” estimula os alunos na percepção científica da seguinte maneira: XX Encontro Latino Americano de Iniciação Científica, XVI Encontro Latino Americano de Pós-Graduação e VI Encontro de Iniciação à Docência – Universidade do Vale do Paraíba. 1 Na fase inicial os alunos estudaram em artigos científicos as atividades biológicas exercidas pelo alecrim. Aprenderam a preparar o extrato hidroalcoólico da planta, que foi utilizado para produzir a loção com atividade inseticida para combater o bicho mineiro (Leucoptera coffeella) do cafeeiro. A escolha partiu dos próprios estudantes que buscavam utilizar o produto da extração como alternativa a problemas do seu dia-a-dia. Este trabalho teve como objetivo estimular alunos do ensino fundamental que participam de projeto PIIC a desenvolverem um olhar crítico na observação científica. 1. Apresentação sobre diferentes plantas medicinais existente na Horta de Plantas Medicinais da EEEFM Aristeu Aguiar, em encontros semanais. 2. Coordenadora, tutor, monitores e alunos promovem a manutenção da Horta. 3. Sob a supervisão, os alunos prepararam tinturas e extratos com as plantas medicinais. 4. Com essas tinturas e extratos aprenderam a produzir sabonete liquido e loção repelente com atividade fungicida inseticida, repelência, conforme a atividade dos princípios ativos das plantas. 5. Selecionaram o alecrim por possuir atividade antioxidante, antibacteriana, antifúngica, antiinflamatória, após consulta na literatura e discussão entre os pares. 6. Preparou-se a loção com tintura de alecrim a 20% diluída em propilenoglicol, água e álcool de cereais a 70%. Com esta loção os alunos optaram por aplicar, como teste, em um pé de café (Coffea sp.) onde havia presença de folhas amareladas, perfurações nas folhas, partes de diversas folhas com lesões que prejudicam o desenvolvimento e a produção. Na aplicação do cafeeiro foi utilizado ½ (meio) litro da loção de tintura de alecrim a 20% com bomba de aspersão manual uma única vez. Após aplicação ocorrida às 17h00min, os alunos do projeto se prontificaram a conferir mudanças ocorridas no cafeeiro durante o período de 6 dias. Resultados Para surpresa da equipe do projeto, uma semana após a aplicação do produto no pé de café, um dos alunos apresentou em Power Point os resultados parciais do experimento. Figura 1: Estágios das folhas com bicho mineiro antes e após aplicação da loção de alecrim Fonte: o autor 1. Cafeeiro acometido por bicho mineiro (Leucoptera coffeella), seta branca indica lesão. 2. Folha com lesão que serve de porta de entrada ao ataque do bicho mineiro. 3. Folha jovem com lesões iniciais, 1 dia após aplicação de alecrim (Rosmarinus ofiicinalis). 4. Folha jovem com lesão reduzida após 6 dias da aplicação de solução com alecrim. XX Encontro Latino Americano de Iniciação Científica, XVI Encontro Latino Americano de Pós-Graduação e VI Encontro de Iniciação à Docência – Universidade do Vale do Paraíba. 2 Discussão O projeto apresentado neste trabalho resgata nos jovens o interesse no saber popular, e mostra como o conhecimento é construído, por meio de observação científica e experimentação e os resultados apresentados pelos alunos corroboram com os experimentos de Souza et al. (2015), que observaram que há a necessidade de trabalhos que unam o saber tradicional e a população mais jovem, umas vez que ficou demonstrado em seu trabalho que a população mais jovem sabe pouco a respeito das plantas medicinais e sua aplicabilidade. Observou-se que os alunos tiveram capacidade e discernimento em fotografar diariamente, medir o tamanho das lesões, identificar a redução das lesões, comparar como estava e como ficaram as folhas após uma única aplicação por aspersão da loção hidroalcoólica de alecrim a 20% em um pé de café (Figura 1). Descreveram que houve redução significativa de 0,5 cm de uma lesão inicial com medidas de 3 cm x 1 cm, e que segundo Ribeiro-Santos et al. (2015) a planta Rosmarinus officinalis L. (alecrim) é da família Lamiaceae, amplamente utilizada tanto seca como fresca, por possuir propriedades aromáticas e medicinais desejáveis, além de ser aplicada na preparação de refeições e medicamentos da medicina popular, portanto não prejudica o produto que será utilizado. Acredita-se que os resultados apresentados no presente estudo são justificadas pelas análises ralizadas por Bomfim et al. (2015) que obtiveram na cromatografia gasosa e ressonância magnética nuclear, do óleo essencial de Rosmarinus officinalis, os principais compostos: cineol (52,2%) cânfora (15,2%), alfa-pineno (15,2%) e concordam com as observações de Ghaedi et al. (2015) que a planta possui atividade antimicrobiana de amplo espectro além de ser utilizada como alternativa uma vez que a produção do seu extrato gera menos poluentes e pode ser utilizada em tecnologia de nanoparticulas, que garantem maior eficácia do uso farmacêutico de suas propriedades. Os alunos também encontraram informações na literatura científica descritos por Alcantara et al. (2015), em um levantamento realizado com famílias atendidas em três unidades de saúde da Familia (USF) no interior do estado de São Paulo em 2013, que mostrou como o alecrim é utilizado pelas famílias: como medicamento, principalmente para combater problemas hepáticos, tosse produtiva, nervosismo, dores nas pernas, dor muscular, machucados e picadas de insetos, este último, com atividade repelente. Leram também em períodicos científicos que, segundo Santana-Meridas et al. (2014) a atividade repelente do alecrin ocorre principalmente pela presença do ácido carmósico e genkwanina presente no extrato seco da planta. Os alunos solicitaram à equipe que coordena o projeto que seja dada continuidade ao uso do alecrim porque descobriram que agrodenfensivos possuem efeitos indesejados bem estudados e órgãos reguladores e consumidores se preocupam cada vez mais com a qualidade dos alimentos, de forma que existe um estímulo pela busca de alternativas para controlar as chamadas pragas de produção agropecuária (FIALHO et al., 2015). E mais, leram no artigo de Santana-Meridas et al. (2014) que o resíduo sólido do extrato de Rosmarinus officinalis, pode ser utilizado com sucesso para inibir o comportamento alimentar de insetos que prejudicam outros cultivares (Leptinotarsa decemlineata Say e Myzus persicae Sulzer). O grupo de alunos bolsistas ficou impressionado quando descobriram, por meio de artigo escrito por Souza (2015), que há na sociedade moderna, uma tendência à perda do conhecimento tradicional a respeito da importância farmacológica que as plantas medicinais possuem, e como é importante para as sociedades dada a longa historia do uso por grupos humano; comentaram que é muito triste saber disso. Mas, aprenderam também com Cassas et al. (2016) que deste muito tempo as plantas são utilizadas para muitos fins, destacando-se o papel daquelas utilizadas na alimentação e no tratamento de enfermidades das comunidades, configurando-se assim como fatores relevantes para sobrevivência. Conclusão Os alunos, por meio do uso de plantas medicinais buscaram formas e alternativas práticas para controlar as pragas na produção agropecuária familiar. O ensino aprendizagem por meio de observação científica, aliada ao saber tradicional demonstrou sua aplicabilidade em trabalhos a respeito do uso das plantas medicinais. XX Encontro Latino Americano de Iniciação Científica, XVI Encontro Latino Americano de Pós-Graduação e VI Encontro de Iniciação à Docência – Universidade do Vale do Paraíba. 3 Por solicitação do grupo de alunos bolsistas será dado continuidade a trabalhos científicos com o uso de plantas medicinais, como o alecrim e mais 41 espécies existentes na horta medicinal da EEEFM Aristeu Aguiar. Agradecimentos A FAPES, Fundação de Amparo a Pesquisa e Inovação do Estado do Espírito Santo, pelo financiamento e bolsas concedidas. A UFES, Universidade Federal do Espírito Santo. A Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio Aristeu Aguiar. Referências ALCANTARA, R.G.L., JOAQUIM, R.H.V.T., SAMPAIO, S.F. Plantas medicinais: o conhecimento e uso popular, Rev. APS, v, 18, n. 4, p. 470-82, out/dez 2015. BOMFIM, N.S. et al. 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