UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ MATERNIDADE ESCOLA ASSIS CHATEAUBRIAND – MEAC PROTOCOLO DE AVALIAÇÃO PRÉ-ANESTÉSICA PRO.ANEST.009 Revisado em agosto de 2016 Validade 1 ano PROTOCOLO DE AVALIAÇÃO PRÉ-ANESTÉSICA Antônia Maria de Carvalho Bruno Araújo Silva Vânia Gracielle da Costa e Silva INTRODUÇÃO Segundo a resolução 1802/2006 do Conselho Federal de Medicina (1), recomenda-se que todo paciente antes da realização de qualquer anestesia seja submetido a Avaliação Pré-Anestésica (APA). Para procedimentos eletivos, recomenda-se que a APA seja realizada em consulta médica antes da admissão hospitalar. A APA aumenta o conhecimento do Anestesiologista acerca da condição clínica do paciente, tornando-se o fundamento principal para elaboração do plano de manejo desse indivíduo no período perioperatório. Os objetivos primordiais são assegurar que o paciente seja submetido à anestesia para o procedimento proposto de forma segura e reduzir os riscos de complicações perioperatórias (3). Durante a avaliação o Anestesiologista pode solicitar avaliação por outros especialistas para obter informações ou serviços relevantes para o cuidado perioperatório (1-3). Deve-se também obter consentimento livre e esclarecido, específico para anestesia, e orientar sobre cuidados perioperatórios, esperando reduzir a ansiedade e facilitar recuperação. Os testes pré-operatórios podem ser solicitados por vários propósitos, incluindo, mas não limitados a (2): • • • Identificar uma doença ou desordem que possa afetar o cuidado perioperatório Avaliar uma doença conhecida, desordem ou tratamento médico ou alternativo que possa influenciar no perioperatório Formular planos específicos ou alternativas para o cuidado dos pacientes no perioperatório Qualquer avaliação, exame ou interconsulta deve ser solicitado no pré-operatório se os benefícios potenciais de tais procedimentos superarem os malefícios. Uma rotina de solicitação racional de exames pré-operatórios está associada a redução dos custos, sem comprometimento da qualidade ou segurança. Solicitação indiscriminada de testes eventualmente detecta alterações clínicas menores, sem relevância para o perioperatório, aumentando o risco para os pacientes, com atrasos e cancelamentos desnecessários de procedimentos (4,5). O objetivo deste protocolo é padronizar a avaliação pré-anestésica nessa instituição, envolvendo os pontos essenciais da anamnese e exame físico; e sugerir, baseados na literatura médica de relevância mais recente, uma rotina de solicitação de exames e testes pré-operatórios, individualizada de acordo com as características do paciente. No nosso serviço fica estabelecido que deverão ser encaminhados ao ambulatório de APA: • Pacientes maiores de 50 anos ou de qualquer idade com comorbidades ou história de alergias; • Pacientes de qualquer idade que se submeterão a procedimentos de longa duração e/ou de alta complexidade: como, cirurgia oncológica com ressecção ampla, tratamento de endometriose profunda e mastectomia associada à reconstrução. UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ MATERNIDADE ESCOLA ASSIS CHATEAUBRIAND – MEAC PROTOCOLO DE AVALIAÇÃO PRÉ-ANESTÉSICA PRO.ANEST.009 Revisado em agosto de 2016 Validade 1 ano 1. ANAMNESE E EXAME FÍSICO Os pontos essenciais da anamnese e exame físico do paciente estão no formulário de avaliação préanestésica a ser preenchido pelo Anestesiologista responsável. Colocamos em anexo (ANEXO I) algumas tabelas com informações relevantes para o preenchimento da referida ficha disponibilizada no final deste texto (ANEXO II). 2. EXAMES COMPLEMENTARES A solicitação de exames complementares deve ser realizada de forma individualizada. A seguir seguem algumas recomendações com relação aos exames pré-operatórios mais frequentemente solicitados (2, 3, 4 e 7). O algoritmo 1, adaptado do ACC/AHA Guideline on Perioperative Cardiovascular Evaluation and Management of Patients Undergoing Noncardiac Surgery, trata especificamente da avaliação cardiovascular (7). A tabela 8 serve como referência para solicitação dos exames baseando-se na história e doenças clínicas atuais (3). 2.1. ECG - Pode ser solicitado em pacientes com idade superior ou igual a 40 anos e obrigatoriamente acima de 50 anos; - Paciente com doença coronariana, arritmia, doença arterial periférica ou cerebrovascular, doença cardíaca estrutural, hipertensão arterial sistêmica e diabetes. - Não é necessário para pacientes de rotina assintomáticos e/ou que se submeterão a procedimentos de baixo risco 2.2. Hematócrito ou Hemoglobina - Extremos de idade – menores de 1 ano e idade > 50 anos - Procedimentos invasivos (cirurgias de longa duração, endometriose profunda e mastectomia com reconstrução). - Comorbidades - História de anemia, sangramento ou outra desordem hematológica 2.3. Provas de coagulação - Coagulopatias ou uso de anticoagulantes - Doença renal ou hepática - Cirurgias de grande porte ou invasivas com risco de sangramento 2.4. Creatinina - Solicitada em pacientes com idade superior a 40 anos, obrigatoriamente aos 50 anos; - Portadores de HAS, endocrinopatias (como o DM), nefropatia (situação em que deve ser solicitada também a uréia), insuficiência hepática ou cardíaca, transplantados renais ou uso de drogas nefrotóxicas. UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ MATERNIDADE ESCOLA ASSIS CHATEAUBRIAND – MEAC PROTOCOLO DE AVALIAÇÃO PRÉ-ANESTÉSICA PRO.ANEST.009 Revisado em agosto de 2016 Validade 1 ano 2.5. Eletrólitos – sódio, potássio, cálcio - Pacientes em uso de diurético - Portadores de HAS, Endocrinopatias (como o DM), nefropatia, insuficiência hepática ou cardíaca - Pacientes que se submeterão a preparo de cólon no pré-operatório. 2.6. Glicemia - Diabetes Mellitus, doenças do SNC, uso de corticosteroides, idade maior de 50 anos. 2.7. RX de Tórax - Pacientes com idade superior ou igual a 75 anos; - Pacientes com avaliação sugestiva de doença cardiorrespiratória - Tabagismo, IVAS recente (período menor ou igual a 15 dias), Asma ou DPOC debilitantes Obs.: Idade maior ou igual a 75 anos, fumo, DPOC estável, doença cardíaca estável, IVAS resolvidas não devem ser consideradas indicações obrigatórias. A solicitação de exames mais especializados (Ecocardiograma, Teste de esforço, Cintilografia miocárdica, Espirometria) ou encaminhamento para interconsulta com especialista (Cardiologista, Pneumologista) fica a cargo do Anestesiologista que realizar a consulta pré-anestésica e com base nos achados clínicos ou resultado de exames que surgiram complementar a investigação. UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ MATERNIDADE ESCOLA ASSIS CHATEAUBRIAND – MEAC PROTOCOLO DE AVALIAÇÃO PRÉ-ANESTÉSICA PRO.ANEST.009 Revisado em agosto de 2016 ANEXO I Validade 1 ano UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ MATERNIDADE ESCOLA ASSIS CHATEAUBRIAND – MEAC PROTOCOLO DE AVALIAÇÃO PRÉ-ANESTÉSICA PRO.ANEST.009 Revisado em agosto de 2016 Validade 1 ano Tabela 1: Componentes do exame das vias aérea Tamanho dos incisivos superiores Condições dos dentes Relação entre os incisivos superiores e inferiores Capacidade de avançar a mandíbula Distância interincisivos Visibilidade da Úvula Presença de pelos faciais densos Complacência do espaço mandibular Distância tireomento Comprimento do pescoço Circunferência do pescoço Mobilidade da cabeça e pescoço Tabela 2: FATORES DE RISCO PARA DIFICULDADE DE VENTILAÇÃO COM BALÃO E MÁSCARA Idade > 55 anos Presença de barba IMC > 26 História de roncos Ausência de dentes Tabela 3: FATORES DE RISCO PARA DIFICULDADE DE VENTILAÇÃO Apnéia obstrutivo Anomalias congênitas da cabeça e pescoço História de roncos Artrite reumatóide Obesidade Síndrome de Down Aumento da circunferência cervical (>17 Inabilidade em protuir a mandíbula ou dentes inferiores polegadas em homem e >16 polegadas em além dos dentes superiores mulher) Distância tireomento > 7 cm com extensão Deformidades faciais e cervicais decorrentes de cirurgias cervical máxima prévias Índice de Mallampati alto Irradiação prévia de cabeça ou pescoço Língua grande Trauma de cabeça e pescoço Esclerodermia Doença ou cirurgia prévia da coluna cervical MET 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 Tabela 4: EQUIVALENTES METAÓLICOS DE CAPACIDADE FUNCIONAL (3,9) NÍVEL DE EXERCÍCIO EQUIVALENTE Comer, trabalhar no computador ou se vestir Descer escadas, caminhar em casa ou cozinhar Andar um ou dois quarteirões em terreno plano Subir uma colina. Correr curta distância. Trabalho pesado em casa. Subir um lance de escadas, dançar ou andar de bicicleta Jogar golf ou carregar os tacos de golf Jogar tênis sozinho Subir escadas rapidamente ou correr lentamente Pular corda devagar ou andar de bicicleta moderadamente Nadar rapidamente ou correr Esquiar ou jogar basketball Correr rapidamente por moderadas a longas distâncias UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ MATERNIDADE ESCOLA ASSIS CHATEAUBRIAND – MEAC PROTOCOLO DE AVALIAÇÃO PRÉ-ANESTÉSICA PRO.ANEST.009 Revisado em agosto de 2016 Validade 1 ano Tabela 5: Índice de risco cardíaco revisado de Lee (8) Cirurgia de alto risco (Intra-abdominal, intratorácica ou vascular suprainguinal) – 1 ponto Doença cardíaca isquêmica (IAM prévio, onda Q patológica, angina ou TE anormal) – 1 ponto Insuficiência Cardíaca – 1 ponto Doença Cerebrovascular – 1 ponto DM necessitando de terapia com insulina – 1 ponto Creatinina maior que 2mg/dL – 1 ponto Estratificação (Risco de Mortalidade) Classe I (0 pontos): 0,4% Classe II (1 ponto): 1% Classe III (2 pontos): 7% Classe IV (3 ou mais pontos): 11% Tabela 6: DROGAS E TEMPO SE SUSPENSÃO ANTES DO PROCEDIMENTO Drogas Tempo Drogas Tempo AAS* 7 dias ACO Não interromper Clopidogrel** 7 dias Drogas para doença Não interromper psiquiátrica Ticlopidina** 14 dias Colírios Usar no dia Warfarina 4 dias Drogas para DRGE Não interromper Não interromper Drogas para Asma Não interromper ߚ-bloqueadores iECA e BRA Individualizar Corticóides Não interromper Diuréticcos Interromper no dia Medicamentos tópicos Interromper no dia Hipoglicemiantes orais Interromper no dia Sildenafil ou similares Interromper 24h antes Estatinas Não interromper Inibidores da COX-2 Não interromper Digoxina Não interromper AINE’s (Não-seletivos) Interromper 48h antes Drogas para doença Não interromper Inibidores da MAO Não interromper *** tireoideana *Continuar se os riscos de eventos cardíacos forem maiores que de sangramento, como, por exemplo, pacientes com doença coronariana ou cerebrovascular importante. ** Vide recomendações específicas a seguir no caso de portadores de Stent. *** Selecionar drogas anestésicas com cuidado pelo risco de síndrome serotoninérgica maligna Tabela 7: Pacientes submetidos a intervenção coronariana percutânea (7) Procedimento Tempo para procedimento eletivo* Angioplastia por balão 14 dias Angioplastia com stent convencional 30 dias Angioplastia com stent farmacológico 365 dias** *Esse tempo é o mínimo recomendado para a descontinuação de terapia antiplaquetária dual. A suspensão da mesma deve ser evitada se o risco de trombose do stent for maior que o de sangramento. ** Situações em que o risco do atraso adicional do procedimento for maior que o de trombose do stent, a interrupção da terapia dual pode ser considerada após 180 dias, discutindo-se a conduta com cardiologista assistente, cirurgião, Anestesiologista e paciente. UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ MATERNIDADE ESCOLA ASSIS CHATEAUBRIAND – MEAC PROTOCOLO DE AVALIAÇÃO PRÉ-ANESTÉSICA PRO.ANEST.009 Revisado em agosto de 2016 Validade 1 ano História de IAM Angina Estável ICC HAS FA DAOP Valvopatias DPOC Asma DM Hepatite Infecciosa Hepatite por drogas Tumor hepático Nefropatia Doença hematológica Coagulopatia AVE Epilepsia Tumores Doenças Vasculares Câncer Hipertireoidismo Hipotireoidismo Doença de Cushing Doença de Addison Hiperparatireoidis-mo Hipoparatireoidis-mo Obesidade Mórbida Desnutrição/ Malabsorção Digoxina Anticoagulantes Fenitoína Fenobarbital Diuréticos Corticosteróides Quimioterapia AINE’s Teofilina Ca Nível Drogas. AST/ALT FA, Billir TAP/ Ttpa Glicemia Cr Eletrólitos HC Hb/ Ht RX Tórax. Diagnóstico Pré-operatório ECG. Tabela 8: Solicitação de Exames baseada na História Clínica/Doenças Atuais (3) x x + x x + x + x + x x *Digox x *Teofil x + x + x Prova de função pulmonar se sintomático. Se doença leve e assintomático, não solicitar. x + x x X X X X X X x x x x X x X x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x + x x x x x x + x x x x x x x x x x x x: solicitar; + pode ser solicitado, ou não, à critério do anestesiologista. Outros testes assim como interconsultas com especialistas serão solicitados a critério do anestesiologista, baseado em protocolo específico se disponível. *Dosar teofilina ou digoxina nas doenças citas se o paciente fizer uso das mesmas. UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ MATERNIDADE ESCOLA ASSIS CHATEAUBRIAND – MEAC PROTOCOLO DE AVALIAÇÃO PRÉ-ANESTÉSICA PRO.ANEST.009 Revisado em agosto de 2016 Validade 1 ano Algoritmo 1: Avaliação do paciente cardiopata para cirurgia não-cardíaca (7) Paciente com fatores de risco ou doença cardíaca conhecida Cirurgia de Emergência Sim Estratificar risco cardiovascular e realizar cirurgia Nã Tratar conforme guideline específico Paciente tem condição cardíaca Sim Nã O risco de eventos cardíacos maiores baseado no risco clínico e cirúrgico é baixo (<1%) Sim Realizar cirurgia sem testes adicionais Nã Capacidade Funcional > 4 METs Capacidade funcional < 4METs ou desconhecida. Testes adicionais modificarão a decisão ou cuidados perioperatórios? Solicitar teste de estresse farmacológico Sim Negativo Positivo Nã Realizar cirurgia Realizar Cirurgia Tratar conforme guidelines UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ MATERNIDADE ESCOLA ASSIS CHATEAUBRIAND – MEAC PROTOCOLO DE AVALIAÇÃO PRÉ-ANESTÉSICA PRO.ANEST.009 Revisado em agosto de 2016 ANEXO II Validade 1 ano UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ MATERNIDADE ESCOLA ASSIS CHATEAUBRIAND – MEAC PROTOCOLO DE AVALIAÇÃO PRÉ-ANESTÉSICA PRO.ANEST.009 Revisado em agosto de 2016 Validade 1 ano UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ MATERNIDADE ESCOLA ASSIS CHATEAUBRIAND – MEAC PROTOCOLO DE AVALIAÇÃO PRÉ-ANESTÉSICA PRO.ANEST.009 Revisado em agosto de 2016 Validade 1 ano