UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS
Programa de Pós-Graduação em Biotecnologia
Dissertação
Desenvolvimento de vacinas recombinantes e de teste de
diagnóstico para controle da linfadenite caseosa
Andréa de Fátima Silva Rezende
Pelotas, 2013
ANDRÉA DE FATIMA SILVA REZENDE
DESENVOLVIMENTO DE VACINAS RECOMBINANTES E DE
TESTE DE DIAGNÓSTICO PARA CONTROLE DA
LINFADENITE CASEOSA
Dissertação
apresentada
ao
Programa de Pós-Graduação em
Biotecnologia
da
Universidade
Federal de Pelotas, como requisito
parcial à obtenção do título de
Mestre em Ciências (área do
conhecimento: Biotecnologia)
Orientadora: Sibele Borsuk
Pelotas, 2013
Dados de catalogação na fonte:
Maria Beatriz Vaghetti Vieira – CRB-10/1032
Biblioteca de Ciência & Tecnologia - UFPel
R467d
Rezende, Andrea de Fatima Silva
Desenvolvimento de vacinas recombinantes e de teste de
diagnóstico para controle da linfadenite caseosa / Andrea de
Fatima Silva Rezende. – 94f. – Dissertação (Mestrado).
Programa de Pós-Graduação em Biotecnologia. Universidade
Federal de Pelotas. Centro de Desenvolvimento Tecnológico.
Pelotas, 2013. – Orientador Sibele Borsuk.
1.Biotecnologia. 2. Vacinas recombinantes. 3. CP0369.
4. ELISA. 5. Linfadenite caseosa. I.Borsuk, Sibele. II.Título.
CDD: 614.47
Banca examinadora:
Prof. Dr Alan McBride, Universidade Federal de Pelotas
Profª Drª Daiane Hartwig, Universidade Federal de Pelotas
Profª Drª Sibele Borsuk, Universidade Federal de Pelotas (Orientadora)
Drª Silvana Marchioro, Universidade Federal de Pelotas
Prof. Dr Vasco Azevedo, Universidade Federal de Minas Gerais
Dedico este trabalho aos meus pais Fátima e Anselmo (in memoriam) e ao meu
filho João Henrique por todo amor e carinho.
AGRADECIMENTOS
Agradeço a Deus Pai que em sua infinita misericórdia me deu sabedoria
e forças para enfrentar esse desafio.
A minha orientadora Profª Sibele Borsuk por toda confiança e incentivo
durante todo o Mestrado. Muito obrigada por todo carinho e por ser uma
verdadeira amiga, sendo um grande exemplo de caráter, humildade e
profissionalismo. Serei grata por toda a minha vida.
Ao Programa de Pós-Graduação em Biotecnologia e à Universidade
Federal de Pelotas pela oportunidade.
Ao meu esposo Carlos Davi, grande parceiro, por todo apoio, paciência
e companheirismo nesta caminhada.
Ao meu filho João Henrique por ser minha maior inspiração.
A minha família, principalmente a minha Mãe por me fazer sempre
acreditar que sou capaz, por todo amor e carinho.
A minha grande amiga Betânia por toda força e por me aguentar em
momentos difíceis .... Valeu flor !!!
Aos meus companheiros de luta do LPDI Alexandre, Cristiane, Márcia,
Henrique, Carlos, Alex e Suelen por todo apoio. Em especial a minha
“filhusca” Karen por todo carinho e incentivo. Sem vocês eu não teria
conseguido.
As minhas queridas Drielly e Gabriela por toda ajuda inicial assim que
cheguei ao laboratório. Nunca esquecerei o que vocês fizeram por mim.
Aos professores Alan McBride, Lucielli Savegnago, Daiane Hartwig, Odir
Dellagostin, Fabiana Nora, Cláudia Hartleben e Luciano Pinto.
A equipe do Biotério Central, pela atenção e incontáveis auxílios.
Ao meu eterno amigo Professor Ricardo Scher por toda força e por
sempre acreditar no meu potencial.
Aos meus amigos sergipanos que mesmo longe sei que torcem por mim
Taniara, Alécia, Péricles, Karynne, Inês, Edna, Josinaldo, Jane, Wanessa,
Dani, Rose e Geraílda.
Aos demais amigos gaúchos que me ajudaram muito sempre que
precisei Helena, Karine, Gizele, Bianca, Sérgio, Charles, Andressa,Thaís,
André, Carol Rizzi, Vânia, Neida, Ivânia e Wallace.
A Fabiane Perez, Claudinei, Michele e Vilson por toda alegria e boas
risadas.
A amiga Regina Suarez por todo apoio e carinho.
A todos que não foram mencionados aqui, mas que de alguma forma
foram importantes e contribuíram para mais uma etapa na minha vida.
"É melhor tentar e falhar, que preocupar-se e ver a vida passar;
É melhor tentar, ainda que em vão, que sentar-se fazendo nada até o final.
Eu prefiro na chuva caminhar, que em dias tristes em casa me esconder.
Prefiro ser feliz, embora louco, que em conformidade viver ..."
Martin Luther King
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
%
Porcentagem
BHI
Brain Heart Infusion
C
Citosina
DL50
Dose letal para 50% da população em teste
DNA
Ácido desoxirribonucleico
ELISA
Enzyme-Linked Immunoabsorbent Assay
fagA
Proteína Integral de Membrana
fagB
Transportador de enterobactina de ferro
fagC
ATP-proteína de ligação da membrana
fagD
Sideróforos – proteína de ligação de ferro
G
Guanina
h
Hora
H2O2
Peróxido de hidrogênio
IBGE
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
IFN
Interferon
IgG
Imunoglobulina G
IPTG
Tio-galactopiranosídeo de isopropila
kDa
Kilodalton
LB
Meio de cultura Lúria-Bertani
LC
Linfadenite caseosa
Mb
Mega bases
mM
Milimolar
mPCR
Multiplex-PCR
N
Número
NE
Nordeste
nm
Nanômetro
ºC
Graus Celsius
P.S.N.C
Projeto Senador Nilo Coelho
pb
Pares de base
PBS
Solução Fosfato Salina
PBS-T
Solução Fosfato Salina com Tween-20
PCR
Reação em cadeia da polimerase
pH
Potencial hidrogeniônico
RNA
Ácido ribonucleico
SDS-PAGE
Sodium dodecyl sulfate polyacrylamide gel electrophoresis
Tris-HCl
Tris(hydroxymethyl) aminomethane hydrochloride
Β
Beta
μg
Micrograma
Μl
Microlitro
Μm
Micrômetro
TABELAS
MANUSCRITO 1
Tabela
1:
Grupos
e
preparações
vacinais
utilizadas
no
experimento.......................................................................................................50
LISTA DE FIGURAS
MANUSCRITO 1
FIGURA 1:
Western Blotting utilizando anticorpo monoclonal anti- 6Xhis Tag
(Sigma)........................................................................................................51
FIGURA 2: Avaliação da transfecção de células CHO com o DNA do vetor
PTARGET/0369 e pTARGET por Reação de Imunoflurorescência Indireta
(RIFI)............................................................................................................52
FIGURA 3: Avaliação da antigenicidade da proteína rCP0369 através de Western
Blotting utilizando soros de ovinos positivos e negativos para
LC................................................................................................................53
FIGURA 4: Curva de sobrevivência dos animais imunizados com as diferentes
formulações vacinais após desafio com a cepa Mic6 de C.
psudotuberculosis........................................................................................54
FIGURA 5: Determinação do nível de IgG total através de ELISA indireto utilizando a
proteína recombinante rCP0369 nos grupos experimentais pósimunização...................................................................................................55
MANUSCRITO 2
FIGURA 1:
Western Blotting utilizando anticorpo monoclonal anti- 6Xhis Tag
(Sigma).................................................................................................73
FIGURA 2:
Análise do ELISA-rCP0369 através do Receiver Operating
Characteristic (ROC) usando 182 amostras de soros de
ovinos....................................................................................................74
FIGURA 3:
Valor preditivo positivo e negativo associado ao ELISA-r0369 em vários
níveis de prevalência de linfadenite caseosa......................................75
RESUMO
REZENDE, Andréa. DESENVOLVIMENTO DE VACINAS RECOMBINANTES
E TESTE DE DIAGNÓSTICO PARA LINFADENITE CASEOSA. 2013.93f.
Dissertação (Mestrado) - Programa de Pós-Graduação em Biotecnologia.
Universidade Federal de Pelotas, Pelotas.
A linfadenite Caseosa (LC) é uma doença que acomete principalmente
pequenos ruminantes sendo causada pela bactéria Corynebacterium
pseudotuberculosis. No Brasil a prevalência clínica da LC é de 30%. As
medidas de controle são a vacinação e o diagnóstico dos animais infectados.
As vacinas disponíveis comercialmente não são totalmente eficazes, o mesmo
ocorre com os métodos de diagnóstico, pois os sinais clínicos não são
perceptíveis de imediato. Através de sequenciamento e da análise proteômica
complementar foram identificados vários alvos, dentre eles o gene
cp1002_0369, que codifica para uma proteína secretada sendo esta descrita
provavelmente como uma fosfoesterase, potencialmente antigênica, a qual
pode vir a ser utilizada no desenvolvimento de vacinas recombinantes e no
desenvolvimento de testes de diagnóstico. Esta proteína foi utilizada na forma
recombinante como vacina de subunidade e como vacina de DNA e também
para o desenvolvimento de um teste de diagnóstico baseado em ELISA. Para
isso o gene cp1002_0369 foi clonado no vetor de expressão em eucariotos
pTARGET e de expressão em procariotos pAE. A proteína CP0369
recombinante foi purificada e avaliada como vacina recombinante associada
aos adjuvantes xantana e hidróxido de alumínio e em um ELISA indireto com
soros de ovinos. O potencial imunoprotetor foi avaliado em modelo murino
através de desafio com a 104 UFC da cepa Mic6 de C. pseudotuberculosis em
9 grupos vacinais. A formulação vacinal que aumentou a taxa de sobrevida dos
animais após o desafio foi o grupo contendo a proteína recombinante (rCP0369
+ hidróxido de alumínio). O ELISA para diagnóstico de LC foi avaliado através
da análise ROC em um total de 182 soros revelou uma sensibilidade e a
especificidade de 90% e 75,6%, respectivamente. O formato de ELISA (ELISArCP0369) pode ser utilizado no diagnóstico de LC em rebanhos ovinos com
bom índice de sensibilidade. No entanto, novas estratégias vacinas
empregando a proteína CP0369 serão avaliadas para melhorar a eficácia da
vacina.
Palavras chaves: CP0369. Vacinas recombinantes. ELISA. Linfadenite
caseosa
ABSTRACT
REZENDE, Andréa. DESENVOLVIMENTO DE VACINAS RECOMBINANTES
E TESTE DE DIAGNÓSTICO PARA LINFADENITE CASEOSA. 2013.93f.
Dissertação (Mestrado) - Programa de Pós-Graduação em Biotecnologia.
Universidade Federal de Pelotas, Pelotas.
The caseous lymphadenitis (CLA) is a disease that affects mainly small
ruminants and is caused by the bacteria Corynebacterium pseudotuberculosis.
In Brazil the clinical prevalence CLA is 30%. The control measures are
vaccination and diagnosis of infected animals. Currently, commercial vaccines
are not completely effective, the same occur with the methods of diagnosis,
because the medical signs are not immediately detectable. By sequencing and
additional proteomic analysis, several targets were identified, including
cp1002_0369 gene, which codifies a secreted protein which is probably
described as a potentially antigenic phosphoesterase, that can subsequently be
used in the development of recombinant vaccines and development of
diagnostic tests. This protein was used as recombinant and it was tested as
subunit vaccine and as a DNA vaccine and also to develop a diagnostic test
based on ELISA. For this, the cp1002_0369 gene was cloned in the eukaryotic
expression vector pTARGET and in a vector of expression in prokaryotes pAE.
The recombinant protein CP0369 was purified and evaluated as a recombinant
vaccine associated with both of the adjuvants xanthan and aluminum hydroxide
and then measured in an indirect ELISA with sheep serum. The
immunoprotective potential was assessed in a murine model by challenge with
104 CFU of strain Mic-6 of C. pseudotuberculosis in 9 vaccinal groups. The
vaccine formulation that increased the survival rate of animals after challenge
was the group containing the recombinant protein (rCP0369 + aluminum
hydroxide). The ELISA for diagnostic of CL was evaluated by ROC analysis of
182 sera and showed a sensitivity and specificity of 90% and 75.6%,
respectively. The format of ELISA assay (ELISA-rCP0369) can be used in the
diagnosis of LC sheep herds with a good sensitivity index. However, new
vaccine strategies employing the CP0369 protein will be evaluated to improve
the effectiveness of the vaccine.
Keywords: CP0369. Recombinant vaccines. ELISA. Caseous lymphadenitis
SUMÁRIO
1.
INTRODUÇÃO GERAL ............................................................................. 15
2.
REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ..................................................................... 18
2.1 Aspectos microbiológicos e bioquímicos .......................................... 18
2.2 Epidemiologia........................................................................................ 19
2.3 Impactos Econômicos .......................................................................... 20
2.4 Resposta Imune .................................................................................... 21
2.5 Transmissão .......................................................................................... 22
2.6 Determinantes moleculares de virulência e patogenicidade ............ 23
2.7 C. pseudotuberculosis e estudos de genômica e proteômica .......... 24
2.8 CP0369 uma possível Fosfoesterase .................................................. 26
2.9 Diagnóstico............................................................................................ 27
2.10 Vacinas................................................................................................. 28
3.
OBJETIVOS .............................................................................................. 32
3.1.Objetivo Geral........................................................................................ 32
3.2. Objetivos Específicos .......................................................................... 32
4. MANUSCRITO 1: Fosfoesterase recombinante (Cp1002_0369): avaliação
como
vacina
de
subunidade
para
Linfadenite
Caseosa.............................................................................................................33
5.
MANUSCRITO 2: Desenvolvimento de um ELISA indireto utilizando a
proteína recombinante CP0369 de Corynebacterium pseudotuberculosis para
diagnóstico de linfadenite caseosa em ovinos...................................................57
6.
CONCLUSÕES ......................................................................................... 76
7.
REFERÊNCIAS ......................................................................................... 77
1. INTRODUÇÃO GERAL
A Linfadenite Caseosa (LC) é uma doença crônica, infectocontagiosa,
que acomete pequenos ruminantes, acarretando sérias perdas econômicas
para as atividades de ovinocaprinocultura. É reconhecida como doença de
importância mundial, em decorrência da alta prevalência e pelos prejuízos
econômicos nos rebanhos (D'AFONSECA et al. 2008). É causada pelo
Corynebacterium
pseudotuberculosis,
uma
bactéria
gram-positiva, intracelular
facultativa (D'AFONSECA et al. 2010), pleomórfica e anaeróbica facultativa. C.
pseudotuberculosis
são
microrganismos
cosmopolitas,
encontrados
predominantemente no solo, na pele, ou mucosas dos animais e, ao abrigo da
luz solar direta, pode manter-se viável por longos períodos no ambiente e em
secreções purulentas por 6 a 12 meses (BINNS et al. 2002). A forma mais
comum de infecção por C. pseudotuberculosis em animais de produção é causada
pela contaminação de água, alimentos e feridas por descargas purulentas
resultantes da fistulação dos abscessos (BAIRD AND FONTAINE 2007).
O Brasil é o 8º maior criador de ovinos e caprinos do mundo com cerca
de 26 milhões de cabeças sendo 34% de caprinos e 66% de ovinos. A maior
parte do rebanho se localiza na região Nordeste, onde se concentram
aproximadamente 9,6 milhões de animais (IBGE 2010). Nesta região, estimase que a prevalência da doença em rebanhos seja de aproximadamente 30%.
Em alguns estados brasileiros como Minas Gerais a prevalència da doença
pode chegar a 70% em rebanhos ovinos e 80% em caprinos (SEYFFERT et al.
2010).
16
Considerando que o tratamento da LC é de alto custo e ineficaz, a
medida de melhor custo-benefício contra a disseminação da LC é a
imunização. Entretanto, não existe uma vacina eficiente e protetora contra C.
pseudotuberculosis. Vários estudos relatam diferentes estratégias que vêm sendo
testadas, como o uso de bactérias atenuadas ou inativadas, frações contendo
antígenos da parede da bactéria ou do sobrenadante de cultura bacteriana e
ainda uma mistura de componentes celulares e sobrenadante (DORELLA et al.
2009). Todas as preparações ofereceram certo grau de proteção contra
infecções experimentais e até mesmo naturais. Contudo, os níveis de proteção
e a severidade das lesões são variáveis. Vacinas de DNA contra LC já foram
testadas, porém com resultado pouco satisfatório (COSTA et al. 2011;De Rose
et al.2002).
A identificação de determinantes moleculares presentes no genoma da
bactéria C. pseudotuberculosis permite
a formulação de novas estratégias
vacinais, como as vacinas recombinantes, as quais podem possibilitar um
controle mais efetivo da LC nos rebanhos (D'AFONSECA et al. 2008). Alguns
antígenos já foram avaliados nesta abordagem (BURREL 1980; HODGSON et
al. 1990; HODGSON et al. 1999; De ROSE et al. 2002; FONTAINE et al. 2006),
no entanto apresentaram proteção pouco satisfatória.
Os dados genômicos sobre C. pseudotuberculosis foram obtidos a partir do
sequenciamento de várias linhagens deste microrganismo (SILVA et al. 2011;
PINTO et al. 2012; SOARES et al. 2012; PETHICK et al. 2012b). Através dos
dados de sequenciamento e da análise proteômica complementar foram
identificados vários alvos importantes, dos quais pode-se citar o gene
cp1002_0369, que codifica para uma provável proteína secretada sendo esta
uma possível fosfoesterase (SANTOS et al. 2012), potencialmente antigênica,
a qual pode vir a ser utilizada no desenvolvimento de vacinas recombinantes e
de um teste de diagnóstico baseado em ELISA.
Com a finalidade de obter uma vacina protetora e mais segura,
diferentes estratégias vêm sendo testadas, como vacinas recombinantes de
subunidade e de DNA em caprinos e ovinos. Ambas apresentam potencial
protetor sem riscos de causar a doença. Além disso, as vacinas de DNA têm
17
diversas vantagens como estabilidade, baixo custo de produção além
de
induzir ambos os tipos de imunidade, celular e humoral (BABIUK et al. 2000).
Assim,
devido
à
tamanha
relevância
econômica
e
social
da
ovinocaprinocultura em nosso país e, concomitantemente a este fato, a
inexistência de uma vacina nacional eficaz contra LC, este estudo tem como
objetivo desenvolver vacinas recombinantes e um teste de ELISA diagnóstico
utilizando a proteína recombinanterCP0369 . A utilização da proteína rCP0369
como vacina de subunidade recombinante
administrada a diferentes
adjuvantes, bem como na estratégia de vacina de DNA contendo a sequencia
codificadora do gene cp1002_0369 é apresentado no Manuscrito 1, e a
utilização da proteína CP0369 recombinante em um ELISA indireto com soros
de ovinos é apresentada no Manuscrito 2. Ambos serão submetidos ao
periódico Veterinary Microbiology.
18
2. REVISÃO DE LITERATURA
2.1 Aspectos microbiológicos e bioquímicos
C. pseudotuberculosis é o agente causador da linfadenite caseosa. Esta
bactéria pertence ao gênero Corynebacterium e à ordem dos Actinomicetos,
predominantemente gram-positivos. Este gênero é composto por 50 espécies,
algumas das quais podem ser patogênicas para animais e plantas. O gênero
pertencente ao grupo CMNR (Corynebacterium,Mycobacterium,Nocardia e Rhodococcus)
(HARD 1975; SONGER et al. 1988; PAULE et al. 2004), o qual é um grupo que
apresenta características específicas, como uma parede celular peculiar e um
alto conteúdo de guanina e citosina (47-74%) em seu genoma (GARG AND
CHANDIRAMANI 1985; FUNKE et al. 1995; NAVAS 1996; DORELLA et al.
2006b).
C.pseudotuberculosis foi descrito pela primeira vez em 1888 pelo veterinário
francês Edmound Nocard (BENHAM et al. 1962). Em 1891, Hugo Von Preisz
isolou uma bactéria semelhante de um abscesso renal ovino. A partir daí o
patógeno foi nomeado de bacilo de "Preisz-Nocard”, denominação que
perdurou por décadas. A nomenclatura atual foi adotada em 1948 na sexta
edição do Manual Bergey, e a designação Corynebacterium ovis é usada como
sinônimo (MOORE et al. 2010).
A bactéria C. pseudotuberculosis é pleomórfica, detentora de fímbrias,
imóvel e anaeróbica facultativa. Exibe formas que variam desde cocóides a
bastões filamentosos, não possui cápsula e não esporula. Suas dimensões
variam de 0,5 a 0,6 micrometros por 1,0 a 3,0 micrômetros (DORELLA et al.
2006b).
19
A presença de dois biovares denominados equi e bovis demonstra uma
variabilidade nas características bioquímicas do C. pseudotuberculosis que são
definidas pela sua capacidade de produzir a enzima nitrato-redutase, que
permite a conversão do nitrato para nitrito em provas bioquímicas (BATEY
1986a). O biotipo equi possui capacidade de reduzir o nitrato a nitrito, enquanto
o biotipo ovis não reduz este substrato. O biotipo equi infecta preferencialmente
os equinos, enquanto o biotipo ovis acomete os pequenos ruminantes. Os
bovinos podem ser infectados pelos dois biovares, com predomínio do equi
(SONGER et al. 1988).
As reações bioquímicas de isolados de C. pseudotuberculosis variam,
principalmente em sua habilidade de fermentação. Todas as linhagens
produzem ácido, mas não gás, a partir de fontes de carbono incluindo glicose,
frutose, maltose, manose, e sacarose (HOLT et al. 1994). O peptideoglicano
apresenta, além de outros constituintes, o ácido meso-diaminopimelico
relacionado a resistência da parede celular contra a maioria das peptidases,
mas a arabinose e galactose são os principais açúcares da parede (DORELLA
et al. 2006b).
As afecções causadas por essa bactéria em animais de produção
(ovinos, caprinos e equinos) geram grandes prejuízos aos produtores, que
incluem a depreciação da pele e lã, redução na produção de carne e leite em
ruminantes, indisponibilidade para o exercício ou treinamento em equinos e
morte ocasional de animais com disseminação sistêmica do organismo. Tais
perdas econômicas são significativas na ovinocaprinocultura em diversos
países do mundo incluindo o Brasil (PEPIN et al. 1989; STING et al. 1998;
PAULE et al. 2003).
2.2 Epidemiologia
C. pseudotuberculosis é um patógeno muito importante na pecuária mundial,
pois é o agente causador de doenças como a linfadenite caseosa, linfangite
ulcerativa, e acne contagiosa ou dermatite ulcerativa que acomete caprinos e
ovinos, equinos e bovinos, respectivamente. Tais doenças apresentam um
20
grande impacto econômico por afetarem rebanhos ou animais de considerável
valor econômico (BROWN et al. 1987).
Em vários países, incluindo Austrália, Nova Zelândia, África do Sul,
Estados Unidos, Canadá e Brasil,
existem casos relatados de LC,
principalmente em pequenos ruminantes (BINNS et al. 2002; ARSENAULT et
al. 2003; PATON et al. 2003; CONNOR et al. 2007). C. pseudotuberculosis
também foi isolada de espécies como camelos, cervos, alpacas, rinocerontes,
porcos, roedores, macacos, búfalos e lhamas. Em humanos, foram relatados
aproximadamente 25 casos de contaminação por esse microrganismo (PEEL et
al. 1997).
De acordo com a Organização Mundial da Saúde Animal, dos 201
países que relataram suas situações sanitárias, 64 declararam a presença de
animais com LC (OIE 2009). O Brasil é considerado o país com a mais alta
prevalência de LC. Pinheiro et al.(2000) relataram que 66,9% dos capinos
apresentavam sinais clínicos de LC no estado do Ceará. Em Minas Gerais
estudos epidemiológicos recentes demonstram uma prevalência de 75,8% para
ovinos e de 78,9% para caprinos (GUIMARAES et al. 2011). Na Austrália, 61%
dos rebanhos de ovinos apresentaram sinais clínicos da infecção por
C.pseudotuberculosis (EGGLETON et al. 1991).
Nos EUA, a prevalência pode
atingir até 43% em ovinos(STOOPS et al. 1984). No Reino Unido, 45% dos
produtores que foram entrevistados mencionaram a presença de abscessos na
sua criação de ovinos (UNANIAN et al. 1985; BINNS et al. 2002).
2.3 Impactos Econômicos
No Brasil rebanhos de pequenos ruminantes somam cerca de 26
milhões, sendo 66% de ovinos e 34% de caprinos. A região Nordeste é a que
apresenta maior prevalência da LC, devido a maior concentração desses
animais com cerca de 90% dos rebanhos de caprinos e 40% de ovinos, Destes,
rebanhos cerca de 30% dos animais são acometidos pela LC (IBGE 2010).
A LC tem causado sérias perdas econômicas ao redor do mundo como a
diminuição da produção de leite e carne, perda de peso, redução da pele
21
devido às cicatrizes e dificuldades na locomoção do animal. No entanto as
perdas econômicas devido a esta doença ainda não foram devidamente
contabilizadas (GUIMARAES et al. 2011).
A LC também está se tornando um problema para as regiões Sudeste,
Norte e Centro-Oeste, onde esta atividade cresce rapidamente, afetando
negativamente a indústria de processamento de carne ovina (GUIMARAES et
al. 2009).
No Nordeste brasileiro, onde caprinos são importantes fontes de
alimento e renda, a situação é ainda mais crítica devido ao tipo de vegetação
(espinhosa) e ao baixo nível de escolaridade dos agricultores (UNANIAN et al.
1985).
2.4 Resposta Imune
C. pseudotuberculosis é uma bactéria intracelular facultativa que se
multiplica
dentro
dos
macrófagos
e
sobrevive
à
ação
de
enzimas
fagolisossômicas com ajuda da camada lipídica externa da parede celular.
Nesta parede estruturas como os ácidos micólicos são
determinantes da
patogenicidade que são muito importantes na sobrevivência dessa bactéria no
ambiente (WEST et al. 2002; BAIRD AND FONTAINE 2007;DORELLA et al.
2006b)). Ao penetrar no hospedeiro através das mucosas ou de feridas na
pele, esta bactéria se difunde pelo sistema linfático, linfonodos locais e órgãos
internos. A camada lipídica da parede desta bactéria tem a capacidade de
impedir a sua fusão com o fagolisossomo, aumentando a sua virulência e a
sobrevivência no interior dos macrófagos (DORELLA et al. 2006b). A liberação
de enzimas lisossômicas acaba formando os abscessos .
A infecção por LC apresenta diferentes fases: uma fase inicial (1-4 dias
pós-infecção), caracterizada pelo recrutamento de neutrófilos para o local da
inoculação e linfonodos de drenagem; uma fase de amplificação (5-10 dias
pós-infecção), caracterizada pelo desenvolvimento de piogranuloma, e uma
fase de estabilização, caracterizada pela maturação e persistência do
piogranuloma (PEPIN et al. 1997).
22
Após a captura do C. pseudotuberculosis por células fagocíticas como
neutrófilos e macrófagos, o fagossomo se funde com o lisossomo, formando o
fagolisossomo (BATEY 1986b). No entanto C. pseudotuberculosis é um patógeno
intracelular facultativo capaz de sobreviver dentro de macrófagos por mais de
48 horas. Durante esse tempo, as bactérias são liberadas como resultado de
um processo que leva os fagócitos à morte (BASTOS et al. 2012). Ainda não se
sabe ao certo quais os mecanismos específicos de morte celular causada por
C. pseudotuberculosis, mas a capacidade das bactérias de sobreviver dentro de
macrófagos é devido à incapacidade de várias populações desta célula
produzirem óxido nítrico em resposta a essa bactéria in vivo (BOGDAN et al.
1997). Isso pode estar associado à presença da camada lipídica externa em C.
pseudotuberculosis e outros componentes antigênicos, que interromperiam a
produção de óxido nítrico pelos macrófagos (BASTOS et al. 2012).
A multiplicação descontrolada da bactéria dentro dos macrófagos leva o
hospedeiro
a
tentar
restringir
a
infecção
através
da
formação
de
piogranulomas, caracterizados pelo encapsulamento das células infectadas por
C.
pseudotuberculosis
(BATEY 1986b).
Além disso,
a infecção
por
C.
pseudotuberculosis leva a formação de abscessos por via subcutânea localizada,
que não provem de lesões primárias nos linfonodos (PAULE et al. 2003). No
entanto, alguns abscessos podem ser encontrados em estreita associação com
os gânglios linfáticos, resultado da destruição dos tecidos associados com
abscessos, que posteriormente encapsulam e podem conter pus parcialmente
calcificado (MOLLER et al. 2000).
2.5 Transmissão
A transmissão da LC ocorre principalmente através da ingestão de água
e alimentos contaminados, bem como, através de ferimentos superficiais na
pele, os quais podem ser causados tanto por manejo inadequado como por
tosquia, castração e uso de agulhas contaminadas, quanto por fatores naturais
como ferimentos por arbustos pontiagudos (ALVES et al. 1997).
O principal fator que contribui para a disseminação dessa doença é a
contaminação ambiental, pois o C. pseudotuberculosis é capaz de sobreviver no
ambiente por longos períodos sob baixas temperaturas e condições de
23
umidade. Esse microrganismo pode sobreviver em frestas de piso a
temperatura ambiente por até 10 dias e cerca de 8 meses ou mais de um ano
em fômites, principalmente em baixas temperaturas (CAMERON AND BESTER
1984).
2.6 Determinantes moleculares de virulência e patogenicidade
Os determinantes moleculares de virulência do C. pseudotuberculosis, e o
controle da sua expressão gênica ainda são pouco conhecidos (DORELLA et
al. 2006b; MCKEAN et al. 2007). As bactérias patogênicas possuem genes que
codificam para antígenos que permitem sua entrada e sua sobrevivência no
hospedeiro, bem como os que resultam na doença, os quais são denominados
como determinantes de virulência (SCHUMAN W. 2007).
Três genes presentes em um operon fagABC e gene fagD apresentam
papel na virulência desta bactéria e foram designados como genes de
aquisição de ferro (BILLINGTON et al. 2002). Uma proteína de 40 kDa,
identificada como proteína imunogênica que revelou atividade proteolítica, a
serina protease também seria um outro determinante de virulência (WILSON et
al. 1995).
Entretanto, apenas dois determinantes da C. pseudotuberculosis estão
bem caracterizados: a fosfolipase D (PLD) e os lipídeos da parede celular. A
PLD tem sido considerada como o principal fator de virulência para C.
pseudotuberculosis (CARNE et al. 1956; HODGSON et al. 1992). Essa exotoxina
funciona como um fator de permeabilidade promovendo a disseminação da
bactéria a partir do local inicial de infecção a todos os tecidos do corpo do
hospedeiro, causando sérios danos, além de contribuir para a passagem do
patógeno da derme para pequenos vasos sanguíneos para que acesse os
vasos linfáticos (EGEN et al. 1989).
A fosfolipase D é uma enzima encontrada em bactérias, fungos, plantas
e animais (PEPIN et al. 1989). Tem como função hidrolisar a esfingomielina
que pertence a uma classe de lipídeos cuja função parece estar ligada a
transmissão de sinais e reconhecimento celular através da membrana de
células. Uma variedade de atividades biológicas da PLD de C. pseudotuberculosis
24
e o uso da antitoxina tem reduzido a disseminação desta bactéria no
hospedeiro (WILLIAMSON 2001a).
Para que exista uma devida compreensão da patogênese de espécies
bacterianas se faz necessário a caracterização dos fatores de virulência
expressos em resposta a certos estímulos. Os lipídios de superfície de C.
pseudotuberculosis têm sido descritos como fatores importantes que contribuem
para a patogênese (CARNE et al. 1956; HARD 1972; HARD 1975). Uma
avaliação da toxicidade de material lipídico foi realizada através da indução de
necrose em cobaias após injeção intradérmica. Logo após foi analisado o fluido
peritoneal dessas cobaias infectadas e foram encontrados macrófagos
suscetíveis à ação necrosante de lipídeos de superfície do C.pseudotuberculosis.
No entanto, a infecção com C. pseudotuberculosis em cobaias progride até a
morte, invariavelmente, enquanto os macrófagos de cobaias não são sensíveis
à ação citotóxica dos lipídios bacterianos (HARD 1975).
O produto secretado de C. pseudotuberculosis foi avaliado pela primeira vez
por BRAITHWAITE et al. (1993). Neste estudo extraíram-se proteínas a partir
de um sobrenadante de cultura com sulfato de amônio, no qual foram
encontradas sete proteínas com pesos moleculares entre 14 e 64 kDa. Destas
apenas
cinco
reagiram
com
soros
de
cabras
infectadas
com
C.
pseudotuberculosis.
2.7 C. pseudotuberculosis: estudos de genômica e proteômica
Com o início dos estudos de genômica uma informação relativa a uma
proteína imunogênica, por exemplo, pode ser rastreada através do seu
genoma. Várias espécies de Actinobacteria têm sido objeto de análise genômica
incluindo Mycobacterium avium, Mycobacterium tuberculosis, Rhodococcus equi e
Corynebacterium diphtheriae (LATCHUMANAN et al. 2005). Muitos genes que
foram identificados podem desempenhar um papel importante em todo ciclo
biológico do C. pseudotuberculosis, e são promissores para o desenvolvimento de
vacinas.
Já
foram
sequenciados
genomas
de
15
linhagens
do
C.
pseudotuberculosis dentre elas a FRC41, 3/99-5,1/06A, 258, 267, 31, 316, 42/02A,
25
C231, CIP 52.97, CP162, I19, P54B96, PAT10 e 1002 (TROST et al. 2010;
SILVA et al. 2011; CERDEIRA et al. 2011a; CERDEIRA et al. 2011b; LOPES et
al. 2012; RAMOS et al. 2012; SILVA et al. 2012; SOARES et al. 2012; HASSAN
et al. 2012a; PETHICK et al. 2012a; HASSAN et al. 2012b; PETHICK et al.
2012b; SILVA et al. 2013a).
Várias informações podem ser obtidas através dos dados genômicos
das espécies sequenciadas. Por exemplo, a cepa 1002 de C. pseudotuberculosis
apresenta um genoma de 2.34 Mb (megabases), 2.203 genes que podem
expressar provavelmente 2.090 proteínas. Além disso, apresentam um
conteúdo de G+C de 52,2% (RESENDE et al. 2011).
Em um estudo realizado por Silva et al.( 2013b) foi possível demonstrar
a presença de 11 proteínas que não foram previamente detectadas). Duas
linhagens de C. pseudotuberculosis foram avaliadas utilizando a técnica LC-MSE
(Cromatografia líquida acoplada com espectrometria de massas) que
apresentou vantagens em relação com o 2D – PAGE. A predominância das
proteínas detectadas em cada proteoma extracelular foi compartilhada, o que
permitiu observar um total de 93 proteínas extracelulares diferentes das quais
45 foram compartilhadas entre duas linhagens isoladas de C. pseudotuberculosis
cepas 1002 e C231 de hospedeiros distintos. Dessas 11 proteínas
identificadas, três têm funções desconhecidas (hipotéticas) e oito estão
relacionadas às funções fisiológicas e a fatores de virulência.
Em outro estudo abordado por Silva et al. (2013a) foi realizada uma
análise de exoproteômica de linhagens diferentes de C. pseudotuberculosis. A
linhagem 1002 isolada de isolados de cabra, e a C231 referente a isolados de
ovelha. Foram identificadas 17 proteínas com funções biológicas diversas tais
como envelope celular, metabolismo proteômico e proteólise. Esta análise
proteômica revelou exoproteínas de cepas específicas, embora cada gene
correspondente foi encontrado em ambos os genomas das cepas.
Estudos de proteômica são de grande importância para a compreensão dos
elementos vitais para a manutenção de determinado patógeno em um
ambiente. Em um estudo empregando um gene repórter (TnFuZ) para
26
identificar genes que codificam proteínas extracelulares, foi observada uma
grande diversidade de proteínas, incluindo uma subunidade fimbrial, outra
relacionada com a absorção de ferro, adesinas e proteínas envolvidas no
transporte, bem como proteínas hipotéticas e duas proteínas desconhecidas
(DORELLA et al. 2006a). Uma serino protease secretada, a corynebacterial
protease (CP40) foi encontrada em sobrenadante
de cultura de C.
pseudotuberculosis confirmando que provavelmente é secretada por esta bactéria.
Em um estudo descrito por Trost et al. (2010) foi realizado o sequenciamento
de uma linhagem isolada de um granuloma de uma menina de 12 anos onde se
verificou que a corynebacterial protease (CP40) juntamente com a PLD, os
quais são fatores de virulência codificados no genoma deste isolado.
2.8 CP0369 uma possível Fosfoesterase
Diversas
linhagens
de
C.
pseudotuberculosis
foram
sequenciadas
fornecendo dados genômicos sobre este microrganismo (SILVA et al. 2011;
PINTO et al. 2012; SOARES et al. 2012; PETHICK et al. 2012b). Com o
resultado do sequenciamento e da análise proteômica complementar foram
identificados vários alvos, dentre eles pode-se citar o gene cp1002_0369, que
codifica para uma proteína secretada sendo esta provavelmente uma
fosfoesterase que apresenta 300 aminoácidos, grande densidade celular, é
potencialmente imunogênica podendo com isso vir a ser utilizada no
desenvolvimento de vacinas recombinantes, ou mesmo em diagnóstico. Esses
dados foram avaliados a partir de um estudo descrito por Santos et al.( 2012)
onde foi realizada uma análise de pan-genômica com cinco cepas de C.
pseudotuberculosis 1002, C231, I19, FRC41 e PAT10 produzindo 306, 59 e 12
conjuntos de genes. Destes conjuntos, 150 genes provavelmente codificam
proteínas secretadas e 227 codificam proteínas de superfície. Essa avaliação in
silico permitiu definir vários candidatos vacinais a partir da análise e dos
genomas completos dessas cinco linhagens de C. pseudotuberculosis. Além disso,
também foi possível definir in silico as proteínas exportadas indispensáveis
27
dessa bactéria evidenciando com isso futuros experimentos na área de
vacinas, diagnóstico e de drogas para LC.
2.9 Diagnóstico
Mesmo
sendo
uma
doença
de
grande
importância
para
a
ovinocaprinocultura mundial, não existem diagnósticos, tratamentos e vacinas
totalmente eficazes para combater a LC. Atualmente o diagnóstico utilizado é a
cultura bacteriológica retirada de material purulento dos abcessos superficiais
dos animais, com posterior análise através do teste bioquímico API Coryne
system (API-bioMérieux, Inc., La Balme les Grottes, France), o qual consiste
em 21 testes bioquímicos e pode ser realizado entre 24 e 48 horas.
Ao longo de décadas de estudo uma variedade de testes sorológicos
foram desenvolvidos na tentativa de superar o problema dos animais com
casos assintomáticos da LC, incluindo o teste de soro aglutinação (AWAD
1960), a imunodifusão em gel, inibição da hemólise (BURREL 1980;
ANDERSON AND NAIRN 1984), e diferentes ensaios de ELISA, como ELISAs
indiretos utilizando varias preparações da célula bacteriana, proteínas
secretadas e a toxina (PLD) de C. pseudotuberculosis (DERCKSEN et al. 2000;
PAULE et al. 2003; BINNS et al. 2007), ELISA sanduiche com PLD (TER LAAK
et al. 1992; DERCKSEN et al. 2000) e ELISA para detectar interferon gama
(IFN-γ) como um marcador de imunidade mediada por células contra C.
pseudotuberculosis (PRESCOTT et al. 2002; MENZIES et al. 2004).
Atualmente, o teste ELISA tem sido utilizado com muita frequência para
diagnosticar a LC em rebanhos em todo mundo, pois tem a capacidade de
detectar animais infectados subclinicamente, além de apresentar altos níveis
de sensibilidade e especificidade (DERCKSEN et al. 2000; GUIMARAES et al.
2009).
Um ELISA indireto foi utilizado para detecção de imunoglobulinas
específicas totais para antígenos secretados de C. pseudotuberculosis e
alcançaram 98,5% de especificidade e 93,5% de sensibilidade (SEYFFERT et
al. 2010).
28
A maioria destes de ELISAs ainda não são comercialmente disponíveis e
aqueles que estão disponíveis ainda apresentam um custo relativamente
elevado (DERCKSEN et al. 2000; KABA et al. 2001; BINNS et al. 2007). A
sensibilidade e especificidade são elementos importantes que devem ser
considerados ao selecionar um teste de diagnóstico para um programa de
rastreamento. Uma abordagem alternativa para o imunodiagnóstico da LC pode
ser a análise combinada dos testes in vitro da resposta imune celular aos
antígenos de C. pseudotuberculosis com testes de ELISA simultâneos (BASTOS et
al. 2011).
Outro método de diagnóstico é a detecção do DNA do C.
pseudotuberculosis. Uma análise baseada na reação de PCR multiplex (mPCR)
para amplificar simultaneamente três sequencias de genes específicos, como:
16S rDNA, gene de escolha no estudo de taxonomia bacteriana;
rpoB
(subunidade beta da RNA polimerase), amplamente usado para análises
filogenéticas; e PLD (fosfolipase D), que codifica uma exotoxina associada com
a virulência de C. pseudotuberculosis, C. ulcerans e Arcanobacterium haemolyticum. Este
teste se mostrou tão especifico quanto a cultura bacteriana seguida de testes
bioquímicos. Apesar disso, este método não foi capaz de identificar
microrganismos em amostras biológicas (CETINKAYA et al. 2002; PACHECO
et al. 2007).
2.10 Vacinas
Várias estratégias vacinais contra a LC foram avaliadas, havendo
vacinas comerciais já disponíveis no mercado, porém nenhuma alcançou uma
proteção adequada. Apenas algumas vacinas licenciadas para ovinos têm a
mesma eficiência para caprinos. Geralmente se faz necessário ajustar o
programa de vacinação a cada caso (WILLIAMSON 2001b). O potencial de
vacinação para prevenir o LC tem sido explorado há décadas e introduziu a
aplicação de vacinas de toxóides disponíveis comercialmente (BAIRD AND
FONTAINE 2007). Mesmo assim, existem outras abordagens utilizadas para o
desenvolvimento de vacinas.
29
O processo de imunização é deficiente e pode também ser associado ao
uso incorreto das vacinas pelos criadores dos rebanhos. No Brasil, existem
algumas vacinas disponíveis para utilização, como a vacina viva atenuada
produzida a partir da cepa 1002 da C. pseudotuberculosis, desenvolvida pela
Empresa Baiana de Desenvolvimento Agrícola S.A (EBDA). Outra vacina
baseada em toxóide é produzida pela Embrapa Caprinos, e uma outra, já
comercialmente no mercado, contém toxóides purificados de Clostridium septicum,
agente etiológico do edema maligno, C. novyi Tipo B (hepatite necrótica), C. tetani
(tétano), C. perfringens tipo D (enterotoxemia) e culturas inativadas de C. chauvoei
(carbúnculo sintomático), uma fração do C. pseudotuberculosis (LC) e um antihelmíntico (moxidectina) (DORELLA et al. 2009).
As vacinas de bacterina, que consistem em células inteiras de C.
pseudotuberculosis inativadas (mortas), demonstraram proteger ovinos contra os
efeitos letais da doença, porém, não evitou a formação de lesões de uma
infecção crônica (CAMERON et al. 1972). Em um estudo realizado por Menzies
et al, 1991, em um teste de campo em caprinos e ovinos, foi avaliada uma
vacina baseada em bacterina a partir de células inteiras e, a qual demonstrou
uma diminuição significatica da incidência de LC em ovinos, sugerindo um
efeito similar em caprinos. Em outra investigação realizada por MENZIES, et al.
(1991) foi realizada uma imunização em ovinos com a bacterina de C.
pseudotuberculosis virulenta
associada ao adjuvante hidróxido de alumínio,
demonstrandouma proteção significativa contra desafio homólogo.
A proteína CP40 de C. pseudotuberculosis é considerada como um antígeno
protetor contra LC em ovinos. Em um estudo realizado por (WILSON et al.
1995) essa proteína foi superexpressa na forma recombinante em E. coli.
Neste trabalho foi descrita a clonagem molecular, sequenciamento, expressão,
além de análises bioquímicas das formas nativa e recombinante dessa
proteína. Esta análise demonstrou uma atividade proteolítica associada,
classificando-a como uma serino-protease através da utilização de inibidores
específicos. Mesmo não sabendo ao certo a função da CP40 e que as
respostas imunológicas desenvolvidas pelos animais vacinados não foram
30
caracterizadas, sabe-se que ela afeta indiretamente o crescimento da bactéria,
podendo até levá-la morte.
Em outra abordagem no desenvolvimento de vacinas contra a linfadenite
caseosa, Dorella et al.(2009), utilizando mutagênese aleatória com o TnFuZ na
linhagem T1 produziu 34 linhagens recombinantes de C. pseudotuberculosis, em
21 loci diferentes. Estes 21 mutantes foram utilizados em ensaios de
imunização visando a busca por novas alternativas vacinais contra a LC. Das
21 linhagens testadas, as linhagens vivas atenuadas denominadas de CP13
(proteína secretada ligada ao sistema de transporte de ferro) e CP09
(subunidade fimbrial) mostraram os melhores níveis de proteção sendo de 80 e
60% em camundongos, respectivamente. Camundongos imunizados com o
mutante CP09 apresentaram 60% de proteção contra o desafio, o mesmo
resultado observado no grupo de camundongos imunizados com a vacina
comercial Glanvac™3.
Já em relação a vacinas recombinantes para linfadenite caseosa,
poucos são os trabalho descritos. A proteína Hsp60 de C. pseudotuberculosis foi
utilizada na sua forma recombinante como vacina associada ao adjuvante
Hidróxido de Alumínio em camundongos. Esse teste vacinal não conferiu
proteção contra desafio (PINHO et al. 2009). Em outra abordagem realizada
por Costa et al. (2011) o gene hsp60 de C. pseudotuberculosis foi caracterizado
como potencial imunogênico como vacina de DNAHsp60 em experimentos com
camundongos. Esta vacina induziu uma resposta imune celular, porém falhou
ao conferir proteção contra desafio.
Um mutante atenuado da linhagem C231 de C. pseudotuberculosis,
denominado aromático aroQ, demonstrou ter um potencial de ação com vetor
vacinal. Esse mutante demonstrou ser bastante eficiente em experimentos com
modelo murino em que foi avaliada a importância do INF-gama na infecção
primária pelo C. pseudotuberculosis (SIMMONS et al. 1997). Uma vacina que
completamente eficaz deve ser capaz de induzir uma resposta humoral e
celular contra a LC. Vários estudos estão sendo realizados na busca e
avaliação de novos alvos capazes de estimular uma resposta imunológica
efetiva para combater a doença.
31
2.11 Adjuvantes
Os adjuvantes vacinais são substâncias naturais ou sintéticas
associadas a antígenos que podem atuar potencializando a resposta imune
(CHIN & SAN GIL, 1998). Eles podem proporcionar o desenvolvimento de uma
resposta imune mais duradoura ou de uma instalação mais precoce (GUPTA
&SIBER, 1995).
O adjuvante é responsável pela modificação da resposta imunológica
devido à capacidade de suscitar inflamação no local onde foi administrado o
antígeno aumentando a possibilidade de atração das células do sistema imune
para a área inflamada além de promover a liberação gradual e prolongada do
antígeno, favorecendo a interação com os macrófagos (FLAMINIO, et al.,
2000).
O hidróxido de alumínio é um adjuvante utilizado há várias décadas e
com resultados positivos, todavia, é considerado um adjuvante que induz
principalmente resposta imune humoral e não tem capacidade de estimular
imunidade celular, causando ainda reações locais como eritremas, nódulos
subcutâneos e reações de hipersensibilidade (GUPTA et al., 1998; CLEMENTS
et al. 2002; BAYLOR et al. 2002).
A xantana é um polissacarídeo derivado de bactérias do gênero
Xanthomonas, as quais causam doenças em vegetais. A goma xantana
apresenta como propriedades a viscosidade, sendo amplamente utilizado como
espessante ou viscosificante e estabilizante nas indústrias alimentícia e não
alimentícia (SUTHERLAND et al., 1998; BECKER et al., 1998; CHIOU et al.,
2009). A utilização da goma xantana como adjuvante foi caracterizada com um
ativador de linfócitos e originalmente descrita em 1980 (ISHIZAKA et al., 1983).
Dessa maneira uma cultura in vitro de macrófagos estimulada por X.
campestris produziu interleucina-12 (IL-12) e fator de necrose tumoral alfa
(TNF-α) em resposta a este estímulo. Além disso, formulações vacinais
associadas à xantana bioadesiva na imunização intranasal com o vírus
influenza foram avaliadas com de sucesso (BERTRAM et al., 2010).
32
3. OBJETIVOS
3.1.Objetivo Geral
 Desenvolver vacinas recombinantes e um teste de ELISA diagnóstico
para controle da linfadenite caseosa utilizando a proteína recombinante
CP0369 de Corynebacterium pseudotuberculosis.
3.2. Objetivos Específicos
 Amplificar o gene cp1002_0369 e clonar nos vetores pTARGET e pAE;
 Expressar e purificar a proteína recombinante (rCP0369) através de
cromatografia de afinidade;
 Purificar em larga escala da vacina de DNA pTARGET/ Cp1002_0369 e
transfecção in vitro de células CHO (ovary hamster chinese);
 Inocular camundongos com a rCP0369 purificada e produzir soro
policlonal;

Imunizar camundongos com as vacinas recombinantes e desafiar com a
cepa virulenta de C. pseudotuberculosis Mic6;

Desenvolver um teste de ELISA utilizando a proteína recombinante
CP0369 com soros de ovinos.
33
4. MANUSCRITO 1
Fosfoesterase recombinante (Cp1002_0369): avaliação como vacina de
subunidade para controle da Linfadenite Caseosa
(Conforme normas do periódico Veterinary Microbiology)
34
Fosfoesterase recombinante (Cp1002_0369): avaliação como vacina de
subunidade para Linfadenite Caseosa
Andréa de Fátima Silva Rezende1; Alexandre Antunes Brum1, Henrique Ramos
Angelo1; Drielly Cristina Braite1; Gizele Lima de Sá2; Claudia Pinho Hartleben2;
Helena Trurow3; Fabiana K. Seixas3; Vasco Azevedo4; Sibele Borsuk1*
1
Laboratório de Pesquisa em Doenças Infecciosas, Centro de Desenvolvimento Tecnológico,
Biotecnologia, UFPel.
2
Laboratório de Imunodiagnóstico, Centro de Desenvolvimento Tecnológico, Biotecnologia,
UFPel.
3
Laboratório de Genômica Funcional, Centro de Desenvolvimento Tecnológico, Biotecnologia,
UFPel.
4
Laboratório de Laboratório de Genética Celular e Molecular, Departamento de Biologia Geral,
UFMG.
*Correspondência do autor: Laboratório de Pesquisa em Doenças Infecciosas, Centro de
Desenvolvimento Tecnológico, Biotecnologia, UFPel. Telefone: (53) 3275 7350. Mail:
[email protected]
35
Resumo
O Corynebacterium pseudotuberculosis é o agente causador da
linfadenite caseosa, doença que acomete principalmente pequenos ruminantes
causando perdas econômicas em todo o mundo. Através de sequenciamento e
da análise proteômica complementar foram identificados vários alvos, dentre
eles o gene cp1002_0369, que codifica para uma proteína secretada sendo
esta descrita como uma provável fosfoesterase, potencialmente antigênica, a
qual pode vir a ser utilizada no desenvolvimento de vacinas recombinantes. A
antigenicidade da rCP0369 foi observada em Western Blotting ao reagir com
soros de ovinos infectados naturalmente pela LC. A rCP0369 foi avaliada como
vacina recombinante de subunidade e de DNA e o potencial imunoprotetor foi
avaliado em modelo murino através de desafio com a 10 4 UFC da cepa Mic6
de
C.
pseudotuberculosis
em
4
grupos
vacinais(pTARGET/0369,
r0369/Xantana, r0369/Al(OH)3 e prime-boost) e 3 grupos controle negativos
(pTARGET, Xantana e Al(OH)3 ) e 2 grupos controles positivos. A indução de
anticorpos foi verificada apesar de as vacinas não conferirem proteção contra o
desafio; contudo, a formulação vacinal que aumentou a taxa de sobrevida dos
animais após o desafio foi o grupo contendo a proteína recombinante
(rCP0369) associada ao hidróxido de alumínio. Novas estratégias vacinas
empregando a rCP0369 serão avaliadas para melhorar a eficácia da vacina.
Palavras chave: linfadenite caseosa, vacinas recombinantes, CP0369.
36
1. Introdução
A Linfadenite Caseosa (LC) é uma doença crônica, infectocontagiosa, que
acomete pequenos ruminantes como ovinos e caprinos, acarretando sérias
perdas econômicas.(D'Afonseca et al. 2008). A LC é causada por C.
pseudotuberculosis,
pleomórfica
e
uma
anaeróbica
bactéria
gram-positiva,
facultativa
(D'Afonseca
intracelular
et
al.
facultativa
2010).
Este
microrganismo é cosmopolita, e encontrado predominantemente no solo, na
pele, ou mucosas dos animais. As lesões causadas por esta bactéria nos
animais são caracterizadas por abcessos em linfonodos superficiais e viscerais
(Seyffert et al., 2010). A presença de C. pseudotuberculosis é diagnosticada a
partir de sinais clínicos e isolamento dessa bactéria dosabcessos. Técnicas
moleculares, tais como sequenciamento de 16S rDNA (Cetinkaya et al. 2002;
Paule et al. 2003) e amplificação por PCR de sequências conhecidas além de
métodos de tipagem molecular como ERIC-PCR podem ser utilizados para
diagnóstico e para a identificação do C. pseudotuberculosis (Guimaraes et al.
2011a; Guimaraes et al. 2011b; Huerta et al. 2013; Pavan et al. 2012).
A forma mais comum de infecção por C. pseudotuberculosis em animais
de produção é representada pela contaminação de água, alimentos e feridas
por descargas purulentas resultantes da fistulação dos abscessos (Sting et al.
1998). As afecções causadas por essa bactéria nesses animais geram
prejuízos, que incluem a depreciação da pele e lã, redução na produção de
carne e leite em ruminantes, indisponibilidade para o exercício ou treinamento
em equinos e morte ocasional de animais com disseminação sistêmica do
organismo (Paule et al. 2003), incluindo o Brasil (Seyffert et al. 2010; Sting et
al. 1998).
A vacinologia reversa permite a identificação de determinantes moleculares
presentes no genoma da bactéria C. pseudotuberculosis (D'Afonseca et al.
2008) para formulação de novas estratégias vacinais, as quais podem
possibilitar um controle mais efetivo da LC nos rebanhos. Alguns antígenos
como a proteína de choque térmico HSP60 (Costa et al. 2011), uma serino
protease secretada, a CP40, um mutante aromático aroQ, bastante eficiente
em modelo murino como vacina, (Simmons et al. 1997), um mutante PLD
37
negativo, atenuando assim a bactéria, (Hodgson et al. 1992) já foram avaliados
nesta abordagem.
Várias linhagens de C. pseudotuberculosis foram sequenciadas fornecendo
dados genômicos sobre este microrganismo (Pethick et al. 2012; Pinto et al.
2012; Silva et al. 2011; Soares et al. 2012). Com o resultado do
sequenciamento e da análise proteômica complementar foram identificados
vários alvos, dentre eles pode-se citar o gene cp1002_0369, que codifica para
uma proteína secretada sendo esta provavelmente uma fosfoesterase (Santos
et al. 2012), potencialmente antigênica, a qual pode vir a ser utilizada no
desenvolvimento de vacinas recombinantes.
Assim, o objetivo desse estudo foi desenvolver e avaliar vacinas
recombinantes de DNA e de subunidade utilizando uma provável fosfoesterase
de C. pseudotuberculosis, com a finalidade de avaliar o potencial imunológico
destas em modelo murino.
2. Material e Métodos
2.1 Cepas e condições de cultivo
Neste estudo foram utilizadas as cepas de C. pseudotuberculois 1002
(cedida pelo Dr. Roberto Meyer, UFBA) e Mic- 6 (cedida pelo Dr. Vasco
Azevedo, UFMG) e Escherichia coli TOP10 e E. coli BL21 Star.
C.
pseudotuberculois foram cultivadas em meio “Brain Heart Infusion” (BHI)
suplementado com 0,5 % de Tween 80, a 37 °C por 72 h sob agitação. Para as
culturas em meio sólido, 1,5 % de ágar bacteriológico foram adicionados ao
meio de cultura. As cepas de E. coli foram cultivadas em meio Luria Bertani
(LB) ou LB contendo 1,5 % de ágar bacteriológico por 16 h a 37 °C. Quando
necessário o meio LB foi acrescido com 100 µg/mL de ampicilina.
2.2 Expressão da Proteína recombinante CP0369 em E. coli
A amplificação do gene cp1002_0369 foi realizada utilizando os primers
F-5’CGG GGA TCC CAG CCA GTG CTT CAG GTC 3’ e R-5’CCC AAG CTT
38
TTA TTT TTG TAC CGC TTG CTC 3’. Para a PCR foram utilizados 50 ng de
DNA genômico de C. pseudotuberculosis, além de 10 μM de cada primer e
Mastermix (Promega) num volume final de 50 μL. O Produto da PCR foi
visualizado em gel de agarose 1 % corado com Blue Green (LGC
Biotecnologia). O gene cp1002_0369 foi clonado no nos sítios BamHI e HindIII
do vetor de expressão pAE (Ramos et al., 2004),. Para isso, ambos (pAE e
cp1002_0369) foram digeridos com as enzimas de restrição BamHI e HindIII
(FERMENTAS, EUA) e posteriormente, ligados com auxilio da enzima T4 DNA
ligase (FERMENTAS). O produto da ligação foi transformado por eletroporação
em células de E. coli TOP 10 competentes, e cultivado em meio LB com 100
µg/mL de ampilicina por 16 h a 37 °C. Uma triagem rápida por lise de colônia
com fenol clomormio (v/v), seguida de digestão com enzimas e restrição foram
realizadas para caracterização dos clones recombinantes.
Para a expressão da proteína CP0369 recombinante, o vetor pAE/0369
foi transformado por choque térmico na linhagem de expressão E. coli BL21
Star. A indução da expressão se deu pela adição de 1 mM de IPTG ao cultivo
mantido sob agitação orbital a 37 °C por 3 h. A expressão das proteínas
recombinantes foi confirmada através da técnica de Western blotting
(Sambrook; Russell, 2001) utilizando anticorpo monoclonal anti-6xhistag
conjugado
com
peroxidase
(Sigma).
A
purificação
foi
realizada
por
cromatografia de afinidade em coluna de sepharose (HisTrap™; GE
Healthcare), carregada com níquel. A pureza das mesmas foi determinada
através de um SDS-PAGE 12 % e a concentração determinada pelo kit BCA
(Pierce).
2.3 Western blot
A proteína recombinante CP0369 foi utilizada para Western blot para
avaliação da antigenicidade utilizando soros de ovinos clinicamente positivos e
negativos para LC.
Para isso, as amostras contendo rCP0369 foram
misturadas com tampão (100-mM Tris-HCl at pH= 6.8, 100 mM βmercaptoetanol, 4 % SDS, 0,2 % azul de bromofenol, 20 % glicerol) sob
condições redutoras e aquecidas a 100 °C durante 10 min e em seguida
submetidas à eletroforese em gel SDS-PAGE 12 %. Após as proteínas do gel
39
foram transferidas eletricamente para uma membrana de nitrocelulose (GE
Healthcare). A membrana foi bloqueada com PBS contendo 5 % de leite
desnatado durante 1 h a 37 °C incubando-se, em seguida, com os soros de
ovinos na diluição de 1:100 em `PBS-T a 37 °C durante 1 h. A membrana foi
lavada três vezes com PBS tween 0,05 % (PBS-T), durante 5 min cada
incubou-se
em seguida anti-IgG ovino conjugado com peroxidase, diluídos
1:4000 e 1:6000, respectivamente em PBS-T, e incubados a 37 °C durante 1 h.
As bandas reativas foram reveladas utilizando 3,3 '-tetrahidrocloreto (DAB) e
H2O2.
2.4 Construção da vacina de DNA
O gene cp1002_0369 amplificado no PCR foi clonado no vetor
pTARGET utilizando o kit de clonagem pTARGET™ Mammalian Expression
Vector System (Promega, USA) segundo instruções do fabricante. O produto
da ligação foi usado para transformar E. coli TOP10 por eletroporação, o qual
foi cultivado em meio LB contendo ampicilina (100 µg/mL) e X-gal (40 µ/mL).
As colônias brancas foram selecionadas e cultivadas em meio LB líquido
contendo ampicilina (100µg/mL) por 16 h a 37° C. Após foi realizada a extração
de DNA plasmidial e, a confirmação dos clones recombinantes foi caracterizada
enzimaticamente através da digestão com a enzima de restrição EcoRI. Um
clone (pTARGET/0369) foi cultivado em um volume de 200 mL de LB, e
submetido à extração de DNA usando o kit Perfectprep Plasmid Maxi
(Eppendorf, Alemanha).
2.5 Transfecção in vitro de células CHO com o plasmídio
pTARGET/0369
Células CHO (chinese hamster ovary) foram cultivadas em placas de
poliestireno de 96 cavidades. Após confluência de 80 %, estas células foram
transfectadas
com
1µg
do
vetor
pTARGET/0369
utilizando
lipofectamine™2000 (Invitrogen) a fim de verificar a expressão da proteína in
vitro. Após 48 h de incubação, a expressão da proteína CP0369 foi avaliada
por reação de imunofluorescência indireta (RIFI) utilizando os anticorpos
40
policlonais produzidos em camundongos anti-CP0369 e anticorpo policlonal
anti- camundongo conjugado com Fitc (Millipore).
2.6 Determinação da Dose Letal 50 (DL50)
A cepa patogênica Mic-6 de C. pseudotuberculosis foi utilizada para a
determinação da dose mínima requerida para indução da infecção letal em 50
% dos animais (DL50). A DL50 foi determinada pela inoculação de doses
seriadas segundo protocolo descrito por Simmons et al. (1997). Para o cálculo
da
dose
letal,
grupos
de
quatro
camundongos
foram
infectados
intraperitonealmente com doses seriadas variando de 10 6 a 101 unidades
formadoras de colônia (UFC). A DL50 foi determinada como a quantidade de
UFC que levou 50% dos camundongos a óbito de acordo com o método de
Reed e Muench (1938). A DL50 foi utilizada nos experimentos de imunização
para o desafio.
2.7 Imunização e desafio
Nos ensaios de imunização foram utilizados camundongos BALB/c
fêmeas de seis a oito semanas de idade, susceptíveis à infecção por C.
pseudotuberculosis. Os animais foram fornecidos pelo Biotério Central da
Universidade Federal de Pelotas. Foram realizadas três imunizações com
intervalo de 15 dias cada, os animais foram divididos em 9 grupos com 8
animais cada conforme tabela 1. Grupos controle positivo como a vacina
comercial (Linfovac, VENCOFARMA) e bacterina obtida a partir da inativação
de cultivo de C. pseudotuberculosis cepa Mic6 foram utilizados. Os grupos
controle negativo (pTARGET, xantana e hidróxido de alumínio) receberam
somente o adjuvante. Uma concentração de 50 µg da proteína rCP0369
associada aos adjuvantes xantana (0,3%/dose) e hidróxido de alumínio
(15%/dose) foi utilizada. A via utilizada em todos os grupos foi a intramuscular
com exceção dos grupos controle positivo. As coletas de sangue foram
realizadas nos dias 0, 15, 30 e 45 a partir da primeira imunização e estocado a
–20 °C até a dosagem de anticorpos específicos por ELISA.
41
O desafio foi realizado 21 dias após a última dose da vacinação. Para
isso, 104 UFC da cepa Mic-6 de C.pseudotuberculosis foram inoculadas
intraperitonealmente nos animais, os quais foram observados até 28 dias após
o desafio.
2.8 Avaliação da resposta imune
A resposta imune humoral foi determina por ELISA indireto. Placas de 96
cavidades de fundo chato (Maxisorp-Nunc) foram sensibilizadas com 0,5 µg/mL
da proteína rCP0369 em tampão carbonato bicarbonato pH=9,8 e incubadas a
4 °C por 16 h. Após, as placas foram lavadas três vezes com PBS-T (PBS 1X
pH= 7.4; 0,1 % de Tween 20) e bloqueadas com 100 μL/cavidade de leite em
pó desnatado 5 % diluído em por 1 h à 37 °C. Após, a placa foi lavada três
vezes com PBS-T. Em seguida foram adicionados 100 μL/cavidade das
amostras dos soros de camundongos, na diluição de 1:50, em duplicata. Após
uma hora de incubação a 37 ºC e três lavagens com PBS-T, foram adicionados
100 μl/cavidade do anti-IgG de camundongo conjugado com peroxidase
(Sigma) na diluição de 1:6000. Após uma hora de incubação a 37 ºC e três
lavagens com PBS-T, 100 μL/cavidade de solução reveladora (200 moles
ortofenilenodiamina [OPD, Sigma] diluído em 10 mL de tampão citrato-fosfato
pH=7,6 e 10 µL de H2O2) foram adicionados. A absorbância foi medida a 450
nm utilizando um leitor de placas de ELISA (Mindray)
2.9 Análise Estatística
O teste-T foi utilizado para determinar as diferenças significativas nos
testes sorológicos. O teste de Fisher e teste da soma de log-rank foram
utilizados para determinar diferenças significativas para mortalidade e
sobrevivência, respectivamente, entre os grupos imunizados com as vacinas
recombinantes e os grupos controles negativos. As diferenças foram
consideradas significativas para P ≤ 0,05.
42
3.Resultados
3.1 Obtenção da proteína recombinante CP0369 e da vacina de DNA
A proteína rCP0369 foi expressa na forma insolúvel por E. coli BL21 Star
Assim,
esta foi solubilizada em 8M de uréia,
ao final do processo de
purificação o rendimento obtido foi de 10,4 mg.L-1. A identidade da proteína
rCP0369 foi caracterizada mediante Western blot com anticorpo monoclonal
(Mab) anti-6xHis (Figura 1).A proteína CP0369 foi expressa em células CHO
(chinese hamster ovary), a expressão foi detectada através do método de
reação de imunofluorescência indireta (RIFI). (Figura 2)
3.2 Avaliação da antigenicidade da proteína rCP0369
A antigenicidade da proteína rCP0369 foi avaliada através de Western
blot
utilizando
soros
de
ovinos
infectados
naturalmente
por
C.
pseudotuberculosis (Figura3). Foram utilizadas 11 amostras de soros de ovinos,
que foram capazes de reconhecer a proteína rCP0369 expressa na forma
recombinante, demonstrando que as características estruturais e antigênicas
foram mantidas.
3.3 Ensaio de Desafio
Os camundongos BALB/c foram imunizados com três doses a cada
quinze dias e desafiados vinte e um dias após a terceira dose com a linhagem
selvagem virulenta Mic-6 de C. pseudotuberculosis. Após o desafio pode-se
observar que nenhuma das vacinas testadas conferiu proteção significativa.
Os animais vieram a óbito no dia 9 pós-desafio e até o dia 20 pós-desafio nos
grupos A (vacina de DNA- pTARGET/0369), B (rCP0369/hidróxido de
alumínio), D (duas doses da vacina de DNA e uma dose da formulação vacinal
r0360/Al(OH)3 -Prime Boost), e nos grupos controles negativos G (pTARGET),
H (Xantana) e I (hidróxido de alumínio). No entanto uma sobrevida maior foi
observada no grupo dos animais vacinados com a vacina recombinante
composta pela proteína rCP0369 associada ao hidróxido de alumínio (grupo C).
Os animais vacinados com a bacterina (grupo E) tiveram uma taxa de
sobrevivência de 100%, e os animais imunizados com a vacina comercial
(grupo F) tiveram uma taxa de sobrevivência de 60 % (Figura 4). Além disso,
43
durante o experimento, principalmente nos dias que compreendem a primeira e
a segunda doses vacinais foram observados alguns sintomas como febre,
prostração, ferimento no local da vacinação nos animais do grupo F que é o
grupo que recebeu a vacina comercial. Tais reações observadas nos
camundongos foram transitórias e permaneceram visíveis por uma a três
semanas.
3.4 Avaliação da Resposta Imune Humoral
Os soros dos animais imunizados com as diferentes formulações
vacinais foram avaliados através de ELISA indireto para a determinação da
resposta imune humoral. Níveis significativos (P≤0,05) de anticorpos foram
detectados nos grupos B (rCP0369/Xantana) e C (rCP0369/Hidróxido de
Alumínio), D (Prime-Boost), E (Bacterina) e F (vacina comercial). Já nos animais
vacinados com a vacina do grupo A (vacina de DNA) não foi detectada produção
de anticorpos específicos, o mesmo foi observados nos grupos controles
negativos (G-pTARGET, H-xantana e I-hidróxido de alumínio) (Figura 6).
4. Discussão
A LC é uma doença de grande importância mundial devido à alta
prevalência e prejuízos econômicos acometendo principalmente pequenos
ruminantes como caprinos e ovinos. É causada por uma bactéria gram-positiva,
intracelular facultativa pleomórfica e anaeróbica facultativa denominada C.
pseudotuberculosis (D'Afonseca et al. 2008).
Devido a ineficácia dos métodos de diagnóstico da doença, a
imunização é a medida profilática que apresenta melhor custo-benefício contra
a LC. Atualmente não existe no mercado uma vacina que forneça uma
proteção de longa duração, sem provocar reações adversas, e que permita a
diferenciação entre animais vacinados e infectados (Dorella et al. 2009). Muitas
estratégias vacinais têm sido testadas no combate a LC tais como vacinas de
DNA (Costa et al. 2011), vacinas de subunidade recombinantes (Fontaine et al.
2006), uma mistura de componentes celulares e sobrenadantes (Braga 2007;
El-Enbaawy et al. 2005) e vacinas compostas de bactérias atenuadas e
44
inativadas (Simmons et al. 1998; Simmons et al. 1997). Geralmente os
candidatos indicados para o desenvolvimento de vacinas são expressos
durante a infecção, pois estão envolvidos nos mecanismos de virulência da
bactéria (Soares et al. 2012).
Em vista disso expressamos a proteína recombinante rCP0369 de C.
pseudotuberculosis caracterizada como uma possível fosfoesterase, com
potencial imunogênico descrito através de análise de exoproteoma in silico
(Santos et al. 2012) a fim de desenvolvermos uma vacina eficaz contra a LC.
Neste trabalho foram realizadas diferentes abordagens vacinais para avaliar o
potencial imunogênico da vacina de DNA (pTARGET/0369) e da vacina de
subunidade recombinante rCP0369 associada aos adjuvantes Xantana e
Hidróxido de Alumínio.
Através do ELISA, pode-se observar uma produção crescente dos níveis
de IgG do dia 0 ao dia 45 nos grupos B, C, D, E
imunogenicidade
da
proteína
recombinante.
e
F confirmando a
Em um
camundongos vacinados com rHsp60 (heat shock protein)
níveis significativos
estudo
anterior,
desenvolveram
de IgG total em relação ao grupo controle, o que se
manteve durante todo o experimento, confirmando assim, que essa proteína
recombinante estimulou a produção de IgG total (Pinho et al.,2009), no entanto
esses níveis de anticorpos não foram sufucientes para induzirem proteção aso
desafio.
Em relação à vacina de DNA (pTARGET/0369) houve uma baixa
produção de IgG total , assim como já descrito por Costa et al. (2011) em que
a vacina de DNA Hsp60 também apresentou um baixo nível de IgG quando
comparada ao controle utilizando somente o vetor, não conferindo proteção.
Três semanas após a última imunização os camundongos BALB/c foram
desafiados
coma
a
cepa
virulenta
Mic-6
de
C.
pseudotuberculosis.
Posteriormente ao desafio, os animais foram acompanhados diariamente e, ao
longo de 3 semanas, o número de animais que vieram a óbito foi contabilizado.
Os sinais clínicos da LC foram perceptíveis tanto nos vacinados como nos
grupos controle. Como pode ser observado na figura 4, os animais vacinados e
os controles negativos foram a óbito no decorrer de três semanas após desafio.
Um total de 100% dos animais do grupo E (bacterina) e de 60% do F (vacina
45
comercial) permaneceram vivos até o final do experimento. O grupo vacinal
composto da proteína recombinante CP0369 associada ao hidróxido de
alumínio (grupo C) proporcionou um aumento na taxa de sobrevida dos
animais, esses vieram a óbito no dia 24 pós-desafio, enquanto que os demais
grupos vacinais (grupo A, C e B) bem como os controles negativos (grupo G, H
e I) vieram á óbito no dia 20 pós-desafio.
Em um estudo anterior, Pinho et al. (2009)
avaliou a taxa
de
sobrevivência dos animais imunizados com a rHsp60 e concluiu que mesmo
não apresentando proteção, esta vacina aumentou a sobrevida dos animais
imunizados. O mesmo ocorreu com a rCP0369, pois apesar de os animais
imunizados com a proteína recombinante, associada com o hidróxido de
alumínio (grupo B), aprestarem uma taxa de sobrevivência maior devido a
vacina ser imunogênica, esta não conferiu proteção contra LC.
Outra proteína recombinante foi testada num estudo realizado, a rPLD
(fosfolipase D), a qual também não conferiu proteção significatica apesar de
apresentar títulos de anticorpos consideráveis (Fontaine et al,.2006).
A proteína CP0369 é descrita como potencialmente antigênica por ter
sido identificada num estudo de secretoma (Santos et al, 2012). Embora não se
tenha obtido um grau de proteção significativo nos animais imunizados com a
proteína recombinante, a mesma é um alvo em potencial. Outras estratégias
vacinais utilizando essa proteína podem ser avaliadas, uma dela é a utilização
de vacinas vetorizadas, e nesse contexto o Mycobacterium bovis BCG é um
bom
candidato,
pois
apresenta
similaridades
antigênicas
ao
C.
psedotuberculosis. Além disso, é um vetor vacinal que expressando antígenos
heterólogos já conferiu proteção contra várias doenças (Bastos et al. 2009;
Santos et al. 2012).
Assim, pode-se concluir que uma das formulações vacinas em nosso
estudo (rCP0369+ hidróxido de alumínio) aumentou a taxa de sobrevida dos
animais após desafio. Novas estratégias vacinas empregando a proteína
CP0369 serão avaliadas.
46
5. Agradecimentos
Este trabalho teve apoio financeiro da Fundação de Amparo à
Pesquisa do Estado do Rio Grande do Sul (FAPERGS) através do projeto nº
11/1894-0.
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50
Rezende et al.Tabela 1.
Tabela 1: Grupos e preparações vacinais utilizadas no experimento.
Vacinas
Vias
Imunizações
Desafio
Dias
0
15
30
51
A (pTARGET/0369)
I.M
50µg
50µg
50µg
104 UFCMic-6
B (rCP0369/Xantana)
I.M
50µg
50µg
50µg
10 UFCMic-6
C (rCP0369/(Al(OH)3)
I.M
50µg
50µg
50µg
104 UFCMic-6
D (pTARGET/0369+rCP0369/Al(OH)3
I.M
50µg
50µg
50µg
104 UFCMic-6
E (Bacterina)
I.P
104 UFC
104 UFC
104 UFC
104 UFCMic-6
F (Vacina Comercial)
I.P
50µL
50µL
50µL
104 UFCMic-6
G (pTARGET)
I.M
50µg
50µg
50µg
104 UFCMic-6
H (Xantana)
I.M
50µg
50µg
50µg
104 UFCMic-6
I (Al(OH)3)
I.M
50µg
50µg
50µg
104 UFCMic-6
4
51
Rezende et al. Fig. 1
1
2
35KDa
Figura 1: Western Blotting utilizando anticorpo monoclonal anti- 6Xhis Tag
(Sigma). (1): Marcador de peso molecular pré-corado (Invitrogen) (2): Proteína
recombinante rCP0369 purificada (aproximadamente 35 kDa).
52
Rezende et al. Fig. 2
Figura 2: Avaliação da transfecção de células CHO (chinese hamster ovary)
com o DNA do vetor pTARGET/0369 e pTARGET por Imunoflurorescência
Indireta (RIFI). A: controle negativo (pTARGET). B: transfecção de células
CHO com pTARGET/0369.
53
Rezende et al.Fig. 3
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
11
Figura 3: Avaliação da antigenicidade da proteína rCP0369 através de
Western Blotting utilizando soros de ovinos positivos e negativos para LC. (1)
Soro ovino negativo c (2) a 11 soros ovinos clinicamente positivos para LC.
54
Rezende et al. Fig. 4
%
Dias pós-desafio
Figura 5: Curva de sobrevivência dos animais imunizados com as diferentes
formulações vacinais após desafio com 104 UFC da cepa Mic6 de C.
pseudotuberculosis.
55
Rezende et al.Fig. 5
(A)
(B)
IgGTotal
IgGTotal
0.3
A- Vacina de DNA
D-Prime-Boost
G-pTARGET
*
C-r0369+ Al(OH)3
D-Prime-Boost
I- Al(OH)3
*
0.3
Abs
*
0.1
*
*
0.2
*
0.1
0.0
10
20
30
40
50
0.0
0
Vacinação
-0.1
10
20
30
40
50
Vacinação
(C)
(D)
IgGTotal
IgGTotal
0.5
0.5
E-Bacterina
F-Vacina Comercial
B- r0369+Xantana
C-r0369+ Al(OH)3
*
0.4
*
0.3
0.2
B- r0369+Xantana
C-r0369+ Al(OH)3
H-Xantana
I- Al(OH)3
*
*
0.4
0.3
Abs
Abs
Abs
0.2
0.4
0.2
0.1
0.1
0.0
0.0
0
10
20
30
40
50
Vacinação
10
-0.1
20
30
40
50
Vacinação
Figura 5: Determinação do nível de IgG total através de ELISA indireto
utilizando a proteína recombinante rCP0369 nos grupos experimentais pósimunização. (A) Vacina de DNA demonstra maior nível de IgG total em relação
ao prime-boost e ao controle negativo. (B) Formulação vacinal C (rCP0369+
Al(OH)3) demonstra um crescente nível de produção de IgG total bem como o
prime-boost em relação ao controle negativo que não demonstra alteração.(C)
As
formulações
vacinais
contendo
a
proteína
recombinante
B
(rCP0369+xantana) e C (rCP0369+ Al(OH)3) demonstram um crescente nível
56
de produção de IgG total em relação aos grupos controle positivo que também
demonstram alteração crescente nos níveis de IgG, porém não significantes.(D)
As
formulações
vacinais
contendo
a
proteína
recombinante
B
(rCP0369+xantana) e C (r0369+ Al(OH)3) demonstram um crescente nível de
produção de IgG total
em relação aos seus respectivos grupos controle
negativo. * grupos onde houve diferença estatistica (P≤0,05) entre o grupo
vacinal e o grupo controle.
57
5. MANUSCRITO 2
Desenvolvimento
recombinante
de
CP0369
um
de
ELISA
indireto
Corynebacterium
utilizando
a
proteína
pseudotuberculosis
diagnóstico de linfadenite caseosa em ovinos
(Conforme normas do periódico Veterinary Microbiology)
para
58
Desenvolvimento de um ELISA indireto
recombinante CP0369 de Corynebacterium
diagnóstico de linfadenite caseosa em ovinos
utilizando a proteína
pseudotuberculosis para
Andréa de Fátima Silva Rezende1; Alexandre Antunes Brum1, Carlos Guilherme
Reis1; Alex Rodrigues1; Karen Leal1; Simone Simionatto2; Vasco Azevedo3;
Sibele Borsuk1*
1
Laboratório de Pesquisa em Doenças Infecciosas, Centro de Desenvolvimento Tecnológico,
Biotecnologia, UFPel
2
Laboratório de Biologia Molecular, Faculdade de Ciências Ambientais, UFGD.
3
Laboratório de Laboratório de Genética Celular e Molecular, Departamento de Biologia Geral,
UFMG.
*Correspondência do autor: Laboratório de Pesquisa em Doenças Infecciosas, Centro de
Desenvolvimento Tecnológico, Biotecnologia, UFPel. Telefone: (53) 3275 7350. Mail:
[email protected]
59
Resumo
A
linfadenite
caseosa
é
uma
doença
causada
pela
bactéria
Corynebacterium pseudotuberculosis que atinge principalmente pequenos
ruminantes e tem causado perdas econômicas importantes em todo o mundo.
No Brasil a prevalência clínica da LC apresenta está em torno de 30% em
ovinos. O diagnóstico clínico da LC não é muito eficaz, pois os sinais e
sintomas não são perceptíveis de imediato. Assim, inúmeros testes sorológicos
estão sendo desenvolvidos com a finalidade de detectar a doença nos animais
precocemente, principalmente nos assintomáticos. A proteína CP0369 foi
identificada em um estudo de exosecretoma e por isso apresenta potencial
para uso em diagnóstico. Esta proteína foi utilizada na forma recombinante
para o desenvolvimento de um teste de diagnóstico baseado em ELISA. Para
isso o gene cp1002_0369 foi clonado no vetor de expressão pAE, e a proteína
CP0369 recombinante purificada foi avaliada em um ELISA indireto com 182
soros de ovinos. O ELISA utilizando a proteína rCP0369 foi comparado ao
ELISA baseado em antígenos secretados de C. psudotuberculosis. Os dados
dos ELISAs foram avaliados através da análise ROC revelando uma
sensibilidade e a especificidade de 90 % e 75,6 %, respectivamente. O formato
de ELISA (ELISA-rCP0369) descrito nesse trabalho pode ser utilizado no
diagnóstico de LC em rebanhos ovinos com bom índice de sensibilidade.
Palavras chave: linfadenite caseosa, ELISA indireto, CP0369.
60
1. Introdução
A Linfadenite Caseosa (LC) é uma doença causada por uma bactéria
gram-positiva, pleomórfica, intracelular facultativa, que não esporula, o
Corynebacterium pseudotuberculosis, que acomete principalmente pequenos
ruminantes (Dorella et al. 2006). Sua transmissão é facilitada devido ao fato
deste patógeno sobreviver no ambiente por um longo período de tempo
contribuindo assim para a sua disseminação no rebanho (Baird and Fontaine
2007). Além disso, a ampla disseminação da doença também resulta da
incapacidade dos antibióticos em atingir essas bactérias devido à formação da
cápsula e dos abscessos que se formam ao redor desses microrganismos
(Costa et al. 2011).
A LC é reconhecida como uma doença de grande importância mundial
por apresentar uma alta prevalência e prejuízos econômicos nos rebanhos
ovinos e caprinos (D'Afonseca et al. 2008). Além disso, a LC é caracterizada
pela formação de abscessos em linfonodos superficiais e viscerais, porém
estirpes de isolados desses hospedeiros têm se mostrado bastante difíceis de
serem identificados pelos métodos diagnósticos já existentes (Guimarães et al.
2011).
A prevalência da LC é alta em muitas regiões do mundo apresentando
no Brasil 78% de soroprevalência em caprinos (Pavan et al. 2012; Seyffert et
al. 2010). Isto ocorre devido ao fato da bactéria ser altamente resistente a
baixas temperaturas e a lugares úmidos e de apresentar um grande potencial
de invasão nos animais através de lesões de pele.Além disso, a forma visceral
da doença normalmente é detectada apenas quando o animal é submetido ao
abate, o que contribui para a baixa taxa de detecção da LC (Soares et al.
2012).
Os dados genômicos sobre C. pseudotuberculosis foram obtidos a partir
do sequenciamento de várias linhagens deste microorganismo (Pethick et al.,
2012;Pinto et al., 2012;Silva et al., 2011;Soares et al., 2012b). Através destes
dados de sequenciamento e da análise proteômica complementar foram
identificados vários alvos importantes, dos quais pode-se citar o gene
61
cp1002_0369, que codifica para uma proteína secretada sendo esta
provavelmente uma fosfoesterase (Santos, et al., 2012) potencialmente
antigênica, a qual pode vir a ser utilizada no desenvolvimento de um teste de
diagnóstico baseado em ELISA. A dinâmica da resposta imunológica à infecção
só pode ser compreendida se houver a caracterização das proteínas
bacterianas responsáveis pela indução da resposta imune no hospedeiro
(Costa et al. 2011). O desempenho e aplicabilidade dos ensaios sorológicos
dependem
da
seleção
do
antígeno
que
deve
ser
principalmente
imunodominante, e, portanto reconhecido pela vasta maioria infectada pelo C.
pseudotuberculosis (Huerta et al. 2013).
O diagnóstico padrão da LC não é muito eficaz, pois os sinais e
sintomas não são perceptíveis de imediato, mesmo assim, inúmeros testes
sorológicos foram desenvolvidos com a finalidade de detectar a doença nos
animais assintomáticos, incluindo o teste de soro aglutinação (AWAD 1960) a
imunodifusão em gel (Anderson and Nairn 1984) a inibição da hemólise (Burrel
1980) e diversos ensaios de ELISA, como ELISAs indiretos utilizando várias
preparações do C. pseudotuberculosis, proteínas secretadas e a toxina de C.
pseudotuberculosis (Binns et al. 2007; Dercksen et al. 2000; Paule et al. 2003)
e ELISA sanduiche com PLD (Dercksen et al. 2000; ter Laak et al. 1992). Ainda
assim, a maioria destes testes não são totalmente eficazes, pois não possuem
sensibilidade e especificidade adequadas para distinguir, principalmente, os
animais infectados e os vacinados.
Assim, o objetivo deste trabalho foi de desenvolver um ELISA indireto
utilizando a proteína recombinante CP0369 de C. pseudotuberculosis e avaliar
a aplicabilidade para diagnóstico de linfadenite caseosa em ovinos comparando
com o ELISA padrão utilizando proteínas secretadas de C. pseudotuberculosis.
2. Material e Métodos
2.1 Cepas e condições de cultivo
Foram utilizadas as cepas de C. pseudotuberculois 1002 (cedida pelo
Dr. Roberto Meyer, UFBA), Escherichia coli TOP10 e E. coli BL21 Star
62
(Invitrogen). C. pseudotuberculosis foi cultivada em meio “Brain Heart Infusion”
(BHI) suplementado com 0,5 % de Tween 80, a 37 °C por 72 h sob agitação.
Foram adicionados 1,5 % de ágar bacteriológico ao meio para as culturas em
meio sólido. As cepas de E. coli foram cultivadas em meio Luria Bertani (LB) ou
LB Ágar 1,5 %, por 16 h a 37 °C. Quando necessário o meio LB foi acrescido
com 100 µg/mL de ampicilina.
2.2 Soros
Um total de 182 soros foi utilizado nesse estudo, 152 foram coletados de
ovinos do estado do Rio Grande do Sul em 2011, e 30 soros negativos,
provenientes de ovinos que habitam áreas não endêmicas para linfadenite
caseosa. Os soros negativos serviram como padrão para avaliação do ponto de
corte que foi realizado no ELISA utilizando proteínas secretadas (Seyffert et al.
2010). O cálculo do ponto de corte foi baseado nas médias das absorbâncias
dos 30 soros negativos de ovinos, acrescido de três desvios padrões.
2.3. Expressão da proteína recombinante Cp1002_ 0369 em E. coli
Foi realizada a amplificação do gene cp1002_0369 utilizando primers
F5’CGG GGA TCC CAG CCA GTG CTT CAG GTC 3’ e R5’CCC AAG CTT
TTA TTT TTG TAC CGC TTG CTC 3’. Para a PCR foram utilizados 50 ng de
DNA genômico de C. pseudotuberculois, além de 10 μM de cada primer e
Mastermix (Promega) num volume final de 50 μL. O Produto da PCR foi
visualizado em gel de agarose 1 % corado Blue Green (LGC Biotecnologia). O
gene cp1002_0369 foi clonado nos sítios BamHI e HindIII do vetor de
expressão pAE (Ramos et al. 2004). Para isso, ambos foram digeridos com as
enzimas de restrição BamHI e HindIII (Fermentas, EUA).
Os clones
recombinantes (pAE/0369) foram caracterizados enzimaticamente e por
sequenciamento de DNA. A transformação do vetor pAE/0369
por choque
térmico foi realizada na linhagem de expressão E. coli BL21 Star. Adicionou-se
1 mM de IPTG para a indução da expressão ao cultivo que foi incubado em
agitador orbital a 37 °C por 3 h.
A purificação foi realizada por cromatografia
63
de afinidade em coluna de sepharose (HisTrap™), carregada com níquel. A
pureza das mesmas foi determinada através de um SDS-PAGE 12 % e a
concentração determinada pelo kit BCA (Pierce).
2.4.
Western blot
Para determinar a identidade da proteína recombinante CP0369 foi
realizado um Western blot utilizando anticorpo monoclonal anti-6Xhistag. Para
isso, as amostras contendo rCP0369 foram misturadas com tampão (100 mM
Tris-HCl pH= 6,8, 100 mM β-mercaptoethanol, 4 % SDS, 0,2 % azul de
bromofenol, 20 % glicerol) sob condições redutoras e aquecidas a 100 °C
durante 10 min e em seguida submetidas à eletroforese em gel SDS-PAGE
12%. Após as proteínas do gel foram transferidas eletricamente para uma
membrana de nitrocelulose (GE Healthcare). Para bloquear a membrana foi
utilizado PBS contendo 5 % de leite desnatado durante 1 h a 37 °C. A
membrana foi lavada três vezes com PBS tween 0,05 % (PBS-T), durante 5
min cada e em seguida incubou-se com o anticorpo monoclonal anti-6X-his
(Sigma) por 1 h a 37°C. Após três lavagens com PBS-T adicionou-se anti-IgG
de camundongo conjugado com peroxidase (Sigma), diluídos 1:4000 em PBS T incubando por a 37°C durante 1 h. As bandas reativas foram reveladas
utilizando 3,3 '-tetrahidrocloreto (DAB) e peróxido de hidrogênio (H2O2).
2.5.ELISAs
2.5.1 ELISA com proteínas secretadas de C.pseudotuberculosis
Um ELISA indireto, utilizando proteínas secretadas a partir de um cultivo
de C. pseudotuberculosis foi utilizado como teste padrão para definir se os
soros eram positivos ou negativos. Este ELISA foi previamente descrito por
(Seyffert et al. 2010) com algumas modificações. Os antígenos secretados
foram obtidos a partir de culturas de C. pseudotuberculosis cepa 1002 após 48
h de cultivo em meio BHI.
Para o ELISA, placas de poliestireno de 96
64
cavidades de fundo chato (Maxisorp-Nunc) foram sensibilizadas por 16 h a 4 °C
com 100 μl/cavidade de proteínas secretadas diluídas 100 vezes em tampão
carbonato-bicarbonato 0,05 (pH= 9,6). Em seguida, as placas foram lavadas
três vezes com PBS-T (PBS 1X pH 7,4; 0,1% de Tween 20) e bloqueadas com
100 μl/poço de leite desnatado 5 % diluído em tampão PBS por uma hora, a 37
°C. Após o bloqueio, a placa foi lavada três vezes com PBS-T. Amostras de
soros de ovinos, controles positivos e negativos, todos em duplicata, foram
diluídos 1:100 em PBS-T. Após uma hora de incubação a 37 ºC e três lavagens
com PBS-T, foram adicionados 100 μL/poço do anticorpo anti-ovino conjugado
com peroxidase (Sigma) diluído 1:6000 em PBS-T. Após uma hora de
incubação a 37 ºC e cinco lavagens com PBS-T, 100 μL/poço de solução
reveladora (ortofenilenodiamina [OPD, Sigma] diluído em 10 mL de tampão
citrato-fosfato pH=5,0 e 0,05% H2O2) foram adicionados. As placas foram
incubadas a temperatura ambiente no escuro por 15 min. A absorbância foi
medida a 450 nm utilizando um leitor de placas de ELISA (Mindray Microplate
Reader MR-96A).
2.5.2 ELISA utilizando a r0369 (ELISA-r0369)
Placas de poliestireno de 96 cavidades de fundo chato (Maxisorp-Nunc)
foram sensibilizadas com 100 µL da proteína rCP0369 em uma concentração
de 1 µg/mL em tampão Carbonato Bicarbonato pH=9,8. As placas foram então
incubadas a 4 °C por 16 h. Em seguida, as placas foram lavadas três vezes
com PBS-T (PBS 1X pH 7,4; 0,05% de Tween 20) e bloqueadas com 100
μL/cavidade com de leite desnatado 5 % diluído em PBS-T por 1 h a 37 °C.
Após o bloqueio, a placa foi lavada três vezes com PBS-T. Amostras de soros
de ovinos, controles positivos e negativos, todos em duplicata, foram diluídos
1:100 em PBS-T e em seguida foram adicionados 100 μL/cavidade. Após uma
hora de incubação a 37 ºC e três lavagens com PBS-T foram adicionados 100
μL/cavidade do anticorpo anti-ovino conjugado com peroxidase (Sigma) na
diluição de 1:6000 em PBS-T. Após uma hora de incubação a 37 ºC e três
lavagens com PBS-T, 100 μL/cavidade de solução reveladora (200 moles
ortofenilenodiamina [OPD, Sigma] diluído em 10 mL de tampão citrato-fosfato
65
pH= 5 e 0,05 % H2O2) foram adicionados. A absorbância foi medida a 450 nm
utilizando um leitor de placas de ELISA (Mindray Microplate Reader MR-96A).
2.6 Análise Estatística
Para uma avaliação da especificidade, sensibilidade, valor preditivo e
ponto de corte, os resultados dos 182 soros foram analisados sendo
submetidos ao Receiver Operating Characteristic (ROC) utilizando o MedCalc
estatística (versão 10.3.0). Esta análise traça devidamente os verdadeiros
positivos dos verdadeiros negativos a fim de estipular o ponto de corte. Para
avaliarmos a sensibilidade e a especificidade utilizamos o teste de ELISA com
proteínas secretadas como padrão e, dessa forma, analisamos o teste de
ELISA utilizando a proteína recombinante rCP0369.
3. Resultados
3.1 Obtenção da proteína recombinante rCP0369
A proteína rCP0369 foi expressa na forma insolúvel por E.coli BL21 Star
apresentando o tamanho esperado de aproximadamente 35 kDa (Figura 1). A
proteína recombinante foi solubilizada em uréia.
3.2 ELISA
Os 182 soros de ovinos, sendo 30 soros de ovinos negativos, foram
avaliados por ELISA utilizando a proteína rCP0369 recombinante. Dos 152
soros avaliados pelo ELISA padrão utilizando as proteínas secretadas, 55
foram negativos e 97 positivos. A correlação entre os dois métodos de
diagnóstico (ELISA- antígenos secretados e ELISA-rCP0369) foi avaliada pela
análise ROC. A figura 2A mostra a distribuição dos soros negativos e positivos
pelo ELISA utilizando proteínas secretadas de C. pseudotuberculosis. Baseado
na análise ROC, uma média de absorbância DO de 0,076 foi escolhida como
ponto de corte para distinguir entre os soros positivos e negativos pelo ELISArCP0369, apresentando uma sensibilidade 90 % e especificidade de 75,6 %
66
(figura 2B). Utilizando o ponto de corte (DO= 0,076), o valor preditivo positivo
variou de 29 % (para 10% de prevalência de LC) a 97 % (para 90 % de
prevalência de LC), enquanto que o valor preditivo negativo variou de 98,5 % a
45,6 %, dependendo da prevalência da doença em uma área particular (Figura
3).
4. Discussão
O C. pseudotuberculosis é o agente etiológico da LC, doença que tem
causado perdas econômicas importantes no setor da ovinocaprinocultura
brasileira. Segundo o Plano Nacional de Sanidade de Caprinos e Ovinos –
PNSCO- (2004), algumas doenças infecciosas, como a LC, interferem na
produtividade desses animais trazendo sérios prejuízos aos produtores. Tais
perdas econômicas estão diretamente relacionadas à produção de leite, perda
de peso, produção de lã e condenação das carcaças e lã (Windsor 2011).
O desenvolvimento de um método diagnóstico rápido e preciso que
auxilie nas medidas de prevenção e controle é extremamente necessário. A LC
é caracterizada pela formação de abscessos em linfonodos superficiais
(cutânea) e em órgãos internos (visceral). Neste ultimo caso a detecção da
doença é dificultada, aumentando assim, o número de animais portadores
assintomáticos nos rebanhos (Fontaine et al. 2006).
Testes de diagnóstico baseado em ELISA têm sido desenvolvidos com o
objetivo de detectar de maneira eficaz a LC, principalmente nos casos
assintomáticos. Muitos desses testes geralmente utilizam vários antígenos da
bactéria como componentes da parede celular, exotoxina (PLD) e exotoxina
recombinante (Chirino- Zárraga et al. 2009; Menzies et al. 1994).
Neste trabalho utilizou-se a CP0369 identificada em estudo de proteoma,
a qual foi reconhecida por soros de ovinos positivos para LC (Santos et al.
2012). Esta proteína foi expressa e purificada a partir de E. coli e utilizada no
desenvolvimento de um teste de ELISA indireto, sendo este comparado ao
ELISA que utiliza antígenos secretados. O ELISA-rCP0369 apresentou uma
sensibilidade 90 % e especificidade de 75,6 % em soros de ovinos (figura 2B).
67
Outros testes de diagnóstico baseado em ELISA foram desenvolvidos
utilizando antígenos secretados e 93,5 % de sensibilidade e 98,5 % de
especificidade foram reportados (Seyffert et al. 2010). Outro ELISA utilizando
antígenos de C. pseudotuberculosis obtidos por sonicação do cultivo
apresentou uma especificidade de 71 % e uma sensibilidade de 83 % (Binns et
al. 2007). Poucos trabalhos utilizam proteínas recombinantes em ELISA para
diagnóstico de LC. Nessa abordagem a proteína recombinante fosfolipase D
(rPLD) foi utilizada para avaliar a soroprevalência de C. pseudotuberculosis em
caprinos infectados. Nesta avaliação foram correlacionados dois testes de
ELISA (ELISA- com antígenos de células inteiras e ELISA- com rPLD), os quais
conferiram uma sensibilidade de 81 % e 97 % e especificidade de 98 % e 99 %,
respectivamente (Sting et al. 2012). Parâmetros fundamentais para um teste
diagnóstico como a sensibilidade e especificidade demonstram uma avaliação
mais relevante da técnica. Dessa maneira, quanto maior a sensibilidade do
teste, menor o número de falsos negativos; porém quanto maior a
especificidade do teste, menor o número de falsos positivos. Em nosso trabalho
o teste de ELISA-rCP0369 desenvolvido apresentou um índice de sensibilidade
maior do que a especificidade, isso significa que é possível detectar os casos
verdadeiramente positivos de LC. Em vista disso práticas de manejo mais
adequadas poderão ser implementadas através da remoção dos animais
positivos do rebanho para se evitar o contágio dos demais animais saudáveis.
A média da prevalência clínica da LC no Brasil é em torno de 30%,
podendo-se ter regiões com até 80 % de prevalência (Seyffert et al. 2010).
Considerando um ponto de corte no ELISA OD= 0,076, obtêm-se 90% e
75,6% de sensibilidade e especificidade, respectivamente, esses valores
conferem um valor preditivo positivo e negativo de 61,2 e 96,7,
respectivamente com índices de prevalência de LC de 30%. A habilidade de
um teste de identificar os verdadeiros negativos é importante para qualquer
teste de diagnostico para LC, para possibilitar um manejo adequado.
O formato do ELISA desenvolvido nesse estudo pode ser utilizado em
investigações soroepidemiológicas de LC em rebanhos ovinos, já que conferiu
valores satisfatórios de sensibilidade. Além disso, estamos testando outras
68
proteínas como antígeno para avaliar a aplicabilidade das mesmas no aumento
da especificidade do teste de ELISA empregando antígenos recombinantes.
5. Agradecimentos
Este trabalho teve apoio financeiro da Fundação de Amparo à
Pesquisa do Estado do Rio Grande do Sul (FAPERGS) através do projeto nº
11/1894-0.
6. Referências
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Nacional
de
Sanidade
dos
Caprinos
e
Ovinos.
2004.In:<http://www.agricultura.gov.br/PNSCO>Acesso em: 16 de maio.
2013.
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Rezende et al. Fig. 1
1
2
Figura 1: Western Blotting utilizando anticorpo monoclonal anti- 6Xhis Tag
(Sigma). (1) Marcador de peso molecular pré-corado (Invitrogen).(2). Proteína
recombinante CP0369 purificada. A banda reativa mostra a identidade da
proteína recombinante no tamanho de aproximadamente 35 kDa.
74
Rezende et al. Fig. 2
A
B
ELISA_0369
ELISA_0369
100
0,25
80
Sensitivity
0,20
0,15
60
40
0,10
>0,079
Sens: 88,0
Spec: 85,4
0,05
20
0
1
0
EXTRATO
0
20
40
60
80
100
100-Specif icity
Figura 2. Análise do ELISA-rCP0369 através do Receiver Operating
Characteristic (ROC) usando 182 amostras. (A) O gráfico demonstra a
distribuição da frequência de soros confirmados positivos (1) e soros
confirmados negativos (0). As amostras foram consideradas positivas quando o
ponto de corte considerado está no valor maior ou igual a 0,076 que são os
valores médios de absorbância do ELISA. (B) ROC plot. Área sobre a curva =
0.908 (0.022); Intervalo de confiança a 95% entre 0.857 e 0.946.
75
Rezende et al. Fig. 3
Figura 3. Valor preditivo positivo e negativo associado ao ELISA-rCP0369 em
vários níveis de prevalência de linfadenite caseosa. Os Valores são
determinados pela análise baseada na curva ROC utilizando um valor de ponto
de corte de 0,076 de absorbância no ELISA-rCP0369.
76
6. CONCLUSÕES
•
A proteína CP0369 foi expressa em células CHO.
•
As vacinas recombinantes de subunidade (rCP0369+ hidróxido de
alumínio e rCP0369+ Xantana) induziram altos níveis de IgG total.
•
Apesar dos altos níveis de IgG total nenhuma formulação vacinal
utilizando a proteína rCP0369 conferiu proteção após desafio.
•
Apenas a formulação vacinal contendo a proteína recombinante
associada ao adjuvante hidróxido de alumínio (rCP0369+ hidróxido de
alumínio) aumentou a taxa de sobrevida dos animais em cinco dias
após desafio.
•
O ELISA utilizando a proteína recombinante rCP0369 pode ser utilizado
em investigações soroepidemiológicas de linfadenite caseosa em
rebanhos ovinos, já que conferiu valores satisfatórios de sensibilidade.
•
Novas estratégias vacinais empregando a proteína CP0369 serão
testadas.
•
Outras proteínas recombinantes serão utilizadas como antígeno para
avaliar a aplicabilidade das mesmas no aumento da especificidade e
sensibilidade do teste de ELISA.
77
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