Caso Clínico Luana Silva Bessa Guimarães Identificação • Id: sexo masculino, 31 anos, natural e procedente de Fortaleza, pardo, católico, auxiliar de produção. Queixa Principal • “Cansaço e inchaço nas pernas" História da Doença Atual • Há 6 meses, paciente refere que vem sentindo dispnéia, após libação alcoólica. Há 3 meses passou a ter piora do quadro dispnéico aos esforços, e progressivamente até mínimos esforços (como falar), sem relação com bebida. Na mesma época iniciou edema maleolar, simétrico, ascendente progressivamente. Refere tosse seca apenas durante dispnéia intensa e refere discreta dor em MMII ao deambular. No inicio do quadro, refere também febre vespertina, não mensurada por duas semanas, cedendo espontaneamente (SIC). Nega sincope, dor precordial, náuseas e vômitos. História Patológica Pregressa • Etilismo desde 16 anos: cerca de 1 litro de cachaça por dia (chegava a 4 ou 5 litros em alguns dias), mas parou há 3 meses com o início do quadro. Extabagista (3-4 cigarros/ dia desde os 16 anos. Parou há 7 anos). Refere ter feito uso de drogas ilícitas até 1 ano atrás (crack, cocaína, maconha). Nega uso de drogas injetáveis. Interrogatório por Órgãos e Aparelhos • Geral: refere sonolência, nega febre • TGU: refere urina "mais amarelada" e "urina presa", não espumosa. • TGI: Nega icterícia, dor abdominal, alteração em fezes ou hematêmese. • Cardíaco: Nega palpitações. Refere ortopnéia e DPN (DPN diariamente há 1 mês). Exame Físico • PA = 130x90mmHG, FC: 116bpm, FR: 41irpm. Paciente em anasarca. • EGC, afebril, acianótico, anictérico, normocorado, com cateter de O2 nasal • AC fisiológica • AP: MVU com "sibilos inspiratórios" em ápices principalmente à direita, MV abolido em base direita. • Abdome globoso, tenso, com edema de parede, dor à palpação profunda (paciente não deita porque tem ortopnéia) • Extremidades: edema de MMII (++++/4+), algo endurecido, cacifo positivo, indolor à palpação. Edema de MMSS (++/4+) Exames complementares • Sumário de Urina limpo. Raros piócitos. • Hemograma Completo: Hb 14,9g/dL Ht 46,2% Leucócitos 8670 cel/uL Plaquetas 341 k/uL • Glicemia 82mg/dL Uréia 26mg/dL Creatinina 0,7mg/dL Ac. Úrico 4,5 mg/dL TGO 10mg/dL TGP 8mg/dL • GGT 139mg/dL FA 310 mg/dL • Gasometria Arterial: Alcalose respiratória sem compensação metabólica, o que indica que é um processo agudo (3-5 dias). • T4 livre=102,2nanog/dl TSH=8,79mUI/mL • D-dímero: 2852,6 (até 494) Exames Complementares • ECG Exames Complementares • Laudo do ECG: Hipovoltagem Taquicardia sinusal Onda QR em V1 Exames de Imagem • Ultra som abdominal: Congestão passiva do fígado em grau leve, com dilatação discreta de veias supra-hepáticas, bem como Veia Cava Superior; Pequeno derrame pleural bilateral Ascite discreta Exames de Imagem • Raio X de Tórax Exames de Imagem • Laudo do Raio-X de tórax Tórax mal expandido (por dispnéia), congestão pulmonar, aumento de área cardíaca e derrame pleural. Exames de Imagem • Ecocardiograma Exames de Imagem • Laudo do ECO: Função sistólica normal (FE=73%) Hipertrofia de VD PSAP=68mmHg Derrame pericárdico moderado, sem sinais de tamponamento. Exames de Imagem • TC de tórax com contraste E agora, pessoal? Exames de Imagem • Laudo da TC de tórax Oligemia bilateral, mas principalmente à esquerda (sugerindo que há trombo na Artéria Pulmonar Direita); Padrão mosaico do interstício; Trombo visualizado na Artéria Pulmonar Esquerda; Derrame pericárdico; Derrame pleural bilateral; Ascite leve. Diagnóstico • Tromboembolismo Pulmonar (TEP). O que é TEP? • O Trombo Embolismo Pulmonar é uma relativamente comum emergência cardiovascular (23 em 100.000 habitantes - Ann Intern Med 1991;151:933-938), dados americanos. • Ocorre a oclusão da artéria pulmonar, que pode levar a uma falência do ventrículo direito aguda, porém reversível! É necessário, portando o diagnóstico e tratamento precoce. • TEP é um diagnóstico difícil por não ter apresentações específicas. Quais os Principais Sintomas? • Os sintomas são inespecíficos. Entretanto a instalação súbita (que não ocorreu ao nosso paciente) de alguns sintomas, como dispnéia, dor torácica e tosse, deve nos fazer pensar nessa hipótese diagnóstica e iniciar a condução da investigação diagnóstica. Quais os principais achados no exame físico? • O principal sinal no exame físico é a taquipnéia. Outros sinais são descritos em menor freqüência. Quais as principais apresentações clínicas? • Dispnéia aguda O quadro é muito inespecífico e exige grande suspeição clínica para o diagnóstico, pois a lista de diagnósticos possíveis é extensa. Os dados mais característicos são dispnéia e taquipnéia de instalação aguda. Os demais sintomas e sinais podem ocorrer em maior ou menor freqüência. As presenças de trombose venosa profunda clinicamente manifesta ou de fatores de risco para eventos tromboembólicos devem ser consideradas para reforçar a possibilidade diagnóstica. • Infarto pulmonar O indivíduo geralmente apresenta dispnéia e taquipnéia, dor torácica pleurítica e tosse com hemoptise. O exame físico do tórax pode revelar discretos estertores, sibilos ou sinais de pequeno derrame pleural. • Cor pulmonale agudo (TEP maciço) É a apresentação mais grave da TEP, manifestando-se sob a forma de choque cardiogênico. Ocorre quando há obstrução de 65-75% da circulação pulmonar, ou mesmo em níveis menores em pacientes com doença cárdio-pulmonar prévia. O paciente apresenta-se com taquicardia, hipotensão, palidez e sudorese fria, turgência jugular, terceira bulha, hiperfonese de P2. Pode haver síncope ou mesmo morte súbita. Quais os principais achados radiográficos? • • • • • • • • Alargamento da artéria pulmonar descendente direita, que pode passar despercebida quando a hipótese de TEP não foi previamente aventada. Guarda uma relação direta com o número de segmentos pulmonares embolizados (quanto maior esse número , maior o alargamento vascular); Elevação do diafragma, cujo reconhecimento pode ser prejudicado quando a elevação é bilateral; Alargamento da borda cardíaca direita, que também pode ter seu reconhecimento prejudicado quando há elevação diafragmática concomitante, em radiografias realizadas com o paciente na posição supina, no leito, e em pacientes com alterações prévias da área cardíaca; Atelectasias laminares, mais freqüentemente localizadas nas bases, sobre os diafragmas; consolidações pulmonares, que correspondem ao infarto pulmonar e ocorrem em torno de 14% dos pacientes com TEP. Podem apresentar-se sob a forma de cone, localizando-se junto ao diafragma, quando são classicamente denominadas de sinal de Humpton (não são freqüentes); Áreas de oligoemia, ou seja, áreas radioluscentes, por diminuição da circulação pulmonar de determinada região. É o sinal mais característico de TEP, embora pouco comum (encontrado em 16% dos pacientes), sendo denominado sinal de Westermark; Derrame pleural, mais freqüentemente unilateral e de pequeno volume; Outras alterações: alargamento da veia ázigos, edema intersticial ou alveolar. Obrigada!! Obrigada!