A VIOLÊNCIA NA LITERATURA INFANTOJUVENIL – CRITÉRIOS PARA ESCOLHA DO LIVRO Por meio da literatura, temos possibilidade de resgatar o humano, a sensibilidade e as relações humanizadoras numa sociedade que caminha cada vez mais para a massificação e para dessensibilização do ser humano. Finalizando, o último aspecto que estudaremos frente à Literatura Infanto-Juvenil nesse novo mundo informatizado e globalizado é a violência que permeia a vida da criança: literatura, cinema, televisão, jogos, relações. “Neste momento de transformações dos valores de base de nossa sociedade, quando a criança passou a ser nossa principal meta (a fim de que o futuro seja o que o presente não é...), a Literatura Infantil assume uma importância chave.” (Nelly Novaes Coelho, 1982) Texto para reflexão: “Parte da produção de livros destinados à juventude vem sendo orientada para temas de violência e crueldade. Nesse particular, são demasiado conhecidas as influências negativas dos meios de comunicação em que se destaca a televisão. (....) Os procedimentos em uso, utilizados sob o falso signo da “modernidade”, vem agindo como extensão e reforço aos objetivos de propaganda de guerra. Visam a dessensibilizar os espíritos com seus programas de crimes e exemplos catastróficos de destruição e desvalorização da vida humana. O alvo é, evidentemente, a juventude, que, sob forma direta ou subliminar, sofre a influência dessa propaganda perniciosa.” Dessa forma, fica a pergunta: deverá a Literatura Infantojuvenil compactuar com práticas nocivas à formação mental e moral da juventude brasileira? Será que toda essa violência, a que estamos expostos, quando de alguma maneira é veiculada à criança, acrescenta algo à sua sensibilidade ou propicia a ”banalização” da vida e do sexo em nossa sociedade? Vivemos, a cada dia mais, num mundo virtual, parece que as pessoas estão perdendo o senso do que é real e do que é virtual. De acordo com MORAES (1991:85), “Toda violência e pornoviolência que invadem as telas de cinema e de televisão, invadem a vida social, invadem as páginas das revistas e revistinhas infantis, invadem, agora, insidiosamente a literatura infantil e juvenil com a aprovação dos pais, a cumplicidade de muitos professores...” Ainda, para autora, “É preciso não esquecer que a criança não é um adulto; o adolescente não é, também, um adulto. Sobretudo é preciso considerar que o ser humano é um ser social, como lembra o grande pensador, médico e psicólogo francês Henri Wallon. A leitura, com temas de crueldade e violência, cria uma espécie de vício. Vício como doença da afetividade que torna a criança, tanto quanto o adulto, dependente de emoção violenta; o mesmo que acontece com as pessoas que se tornam dependentes do mesmo vício. O lamentável, no caso, é que tais pessoas se tornam incapacitadas de usufruir os valores artísticos da grande literatura.” A criança, que vive num lar desestruturado e enfrenta sérios problemas sociais, exposta a livros cuja temática é a violência e a desmoralização dos valores humanos está mais sujeita às tensões do dia-a-dia, o que será agravado pelas tribulações que a vida lhe impõe. Nesse sentido, pais, professores e todo aquele que lida com a educação de crianças e adolescentes deveriam prestar mais atenção em conteúdos que exaltam gratuitamente a violência e a exploração mórbida de crimes. Essas idéias levam-nos à seguinte reflexão: será possível existir algum nexo de causalidade entre cenas de violência e sexo transmitidas pela TV e a violência praticada no mundo real? Segundo o professor Carlos Alberto, “Na verdade, a grande maioria das pesquisas científicas realizadas nos últimos anos acerca dos efeitos dos meios de comunicação social sobre as pessoas, especialmente sobre as crianças e os adolescentes, comprova que a exposição à violência e à pornografia no vídeo, longe de ser neutra ou de ter qualquer efeito supostamente catártico, aumenta dramaticamente tanto a quantidade de atos agressivos quanto a sua intensidade. Ao se referir ao binômio erotismo-violência, ele cita o sociólogo francês Philipe SaintMarc: “... na realidade não existe uma substituição da violência latente, mas a aprendizagem da crueldade, o incitamento à imitação, à reprodução na vida cotidiana de atos de degradação ou de destruição que impressionaram a imaginação do espectador. O professor termina o artigo com as palavras que se podem aplicar tanto para a televisão como para os livros de literatura infanto-juvenil: “Na verdade, o bombardeio de sexo e violência acaba gerando uma autêntica moral da delinqüência.” (apud MORAES, 1991: 91). Para MORAES (1991), alinhando tal permissividade a exemplos das literaturas clássicas da literatura infantil (Andersen, Grimm, Perrault) sobre suas histórias macabras e terrificantes (sem explicar as razões histórico-sociais da época), elas não objetivavam, conscientemente, justificar a crueldade e a violência, e menos ainda, manifestações contra a vida afetiva da criança, mas tinham, sobretudo, um fundamento moral. Para finalizar, precisamos tomar cuidado com os livros que adotamos e indicamos para nossos alunos. Vivemos, hoje, numa sociedade em transição, fundamentalmente, transição de valores. Estamos num mundo globalizado, informatizado, em que as relações ficam a cada dia mais virtuais. A crueldade, a maldade, a violência, a banalização do sexo tomam conta de nossas crianças que aprendem, desde muito cedo, essa nova linguagem para enfrentar o mundo: a agressividade. Lembrar: Enquanto educadores, temos o dever de trabalhar com temas que tratem das relações humanizadoras, das relações interpessoais para que possamos ter um mundo mais equilibrado emocionalmente, onde as crianças – pessoas de amanhã possam ser melhores e mais sensíveis à vida. Caro aluno, esperamos que os itens abaixo tenham sido compreendidos e respondidos, porque são fundamentais ao trabalho com a Literatura Infanto-Juvenil: • O que é Literatura Infanto-Juvenil? • O que é livro de história com valor literário e valor pedagógico? • Qual a literatura mais adequada às diferentes faixas etárias da criança e do jovem, frente ao seu desenvolvimento psicológico? • Como trabalhar com gêneros literários diversificados: contos, teatro, poesia, crônicas etc? • Por meio da literatura infanto-juvenil, quais trabalhos desenvolver com as crianças? • Como trabalhar por meio da literatura infanto-juvenil a importância da autoria e da criatividade – enquanto processo de construção de leitura e escrita? • Como despertar na criança e no jovem a importância da leitura, da pesquisa, da autoria? Critérios de avaliação da obra literária: estrutura da história, tema, mensagem, valores, consciência de mundo, reflexos de violência, ilustração. Para que o professor possa desenvolver esses aspectos, precisa, ele próprio, vivenciar a experiência da literatura, da autoria e da criatividade. BIBLIOGRAFIA ANGELINI, Rossana Ap. V. Maia. O Processo Criador em Literatura Infantil. São Paulo: Letras e Letras, 1991. COELHO, Nelly Novaes. A Literatura Infantil. São Paulo: Quíron / Global, 1982. (ou relançamento pela editora Moderna no ano 2000). COELHO, Nelly Novaes. O Conto de Fadas. São Paulo: Ática, 1991. CUNHA, Maria Antonieta Antunes. Literatura Infantil – teoria e prática. São Paulo: Ática, 2004. MORAES, Antonieta Dias de Moraes. Reflexos da Violência na Literatura InfantoJuvenil. São Paulo: Letras e Letras, 1991. MOREIRA, Ana Angélica Albano. O Espaço do Desenho: A Educação do Educador. 7ª ed. São Paulo: Edições Loyola, 1997. PIMENTA, Arlindo C. Sonhar, Brincar, Criar, Interpretar. São Paulo: Ática, 1986. ZILBERMAN, Regina. A Literatura Infantil na Escola. 5ª ed. São Paulo: Global Editora, 1985.