UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ FACULDADE DE CIÊNCIAS

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ
FACULDADE DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS
CURSO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS
PLANO DE TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO
Discente: Rubens Dias
Orientadora: Profa. Dra. Danielly Brito de Oliveira
Linha de Pesquisa: Ecologia de crustáceos
Temática: Caracterização socioeconômica da atividade pesqueira do Caranguejo-uçá
Ucides cordatus no município de Santarém Novo, Pará
Levantamento preliminar de dados para a realização do estudo:
- Fotos do local (manguezais onde os coletores costumam atuar mais intensamente no
município de Santarém Novo, dos coletores e as fieiras de caranguejos capturadas, das
feiras e mercados onde os caranguejos são comercializados, etc.);
- Levantamento de informações sobre os coletores do município de Santarém Novo:

Quantas fieiras cada coletor costuma capturar por dia?

Qual o tamanho médio dos caranguejos capturados?

São capturados apenas machos? Ou machos e fêmeas?

Em que período do ano os coletores capturam uma maior quantidade de
caranguejos?

Qual o valor médio de comercialização do caranguejo nas feiras e
mercados municipais de Santarém Novo?
INTRODUÇÃO
Os manguezais são ecossistemas costeiros situados em zonas tropicais que
apresentam uma combinação complexa de aspectos bioecológicos (NASCIMENTO et
al., 2011). Uma grande diversidade de espécies utiliza esses ambientes como áreas de
alimentação e reprodução, sendo essenciais em seu ciclo de vida, por exemplo,
crustáceos e peixes (RONNBACK et al., 1999). Estima-se que aproximadamente dois
terços da população pesqueira do mundo ocupem áreas de manguezais, que contribuem
para a geração de empregos e renda dessas comunidades (CANESTRI e RIUZ, 1973).
Estes ecossistemas estão entre os ambientes mais produtivos do mundo,
beneficiando direta ou indiretamente os hábitats adjacentes, bem como as comunidades
a que eles utilizam, pois eles fornecem recursos (como por exemplo, madeiras,
fármacos, tinturas; além de fonte protéica, como peixes, crustáceos e moluscos; entre
outros serviços ambientais ao homem) (CANESTRI e RIUZ, 1973). Em virtude da
intensa pressão antrópica pelo constante aumento da exploração de seus recursos, a
criação de Unidades de Conservação aparece como uma estratégia que visa a minimizar
os diversos impactos decorrentes dessa exploração (MENEZES; MEHLIG, 2009).
No Brasil, os manguezais são categorizados como área de preservação
permanente, incluído em diversos dispositivos constitucionais (Federal e Estadual) e
infraconstitucionais
(leis,
decretos,
resoluções,
convenções)
(SCHAEFFER-
NOVELLI,1994). O município de Santarém Novo possui grandes áreas de manguezais
que são utilizados pelos moradores de varias forma, sobretudo pela extração e
comercialização de seus recursos. Os manguezais são monitorados pelo Instituto Chico
Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBIO), através da criação da Reserva
Extrativista Marinha Chocoaré-Mato Grosso, constituída a partir do Decreto publicado
em 13 de dezembro de 2002 (BRASIL, 2002).
De acordo com Santos e Coelho (2000), dentre as espécies bentônicas que vivem
nos manguezais, os crustáceos estão bem representados, sendo o grupo animal mais
abundante nos ambientes estuarinos, podendo ser encontrados em bancos de ostras,
associados às raízes, em alagadiços de água salobra e em superfícies sombreadas ou
ensolaradas. Os caranguejos destacam-se pela elevada abundância e importantes
funções ecológicas desempenhadas nesses ambientes, como a oxigenação e drenagem
do solo (SANTOS e COELHO, 2000).
Ucides cordatus (Linnaeus, 1973) é um caranguejo semi-terrestre pertencente à
família Ocypodidade conhecido popularmente como caranguejo-uçá, castanhal ou
caranguejo verdadeiro (Figura 2), que vivem entocados em galerias individuais com
aproximadamente 1m de profundidade em ambientes pantanosos de água salobra, entre
as raízes de mangue (MELO, 1996). Esta espécie desempenha importante papel
ecológico na cadeia alimentar, na oxigenação e drenagem dos sedimentos e nos ciclos
biogeoquímicos de diferentes elementos (FARIAS, 2012), além de atuar no
processamento da serapilheira (NORDHAUS et al., 2006).
Ao construírem as suas galerias, contribuem para o revolvimento e oxigenação
dos sedimentos, além da distribuição dos nutrientes, que serão posteriormente levados
para o mar com as cheias e vazantes das marés (DIELE, 2000). Esta espécie se alimenta
das folhas que caem das árvores dos mangues, ricas em compostos fenólicos, ao final de
sua digestão, devolvem para o ambiente matéria orgânica rica em nutrientes,
sustentando uma intricada teia trófica. Além disso, ao estocar as folhas nas galerias,
mantêm a matéria orgânica retida no manguezal, evitando a sua deportação imediata
pelo ciclo de marés (KOCH, 1999).
Os espécimes adultos possuem poucos predadores naturais, tais como macacos,
guaxinins, garças e falcões (KOCH, 1999), sendo a captura para o consumo sem dúvida
a mais importante forma de pressão e predação sobre a espécie (DIELE, 2000). A
captura do caranguejo-uçá provavelmente consiste em uma das atividades extrativistas
mais antigas realizadas em manguezais do Brasil (JABLONSKI, 2010; PINHEIRO e
FISCARELI, 2001), ocorrendo em grandes escalas no Pará, Maranhão, Piauí, Rio
Grande do Norte, Sergipe, Bahia e também em volumes menores nos estados do
Espírito Santo, Rio de janeiro, São Paulo, Paraná e Santa Catarina; proporcionando
importante fonte de alimento e renda para uma grande parcela da população que se
ocupa da sua extração e comercialização (IBAMA, 1994; GLASER e DIELE, 2004;
PASSOS e Di BENEDITO, 2005).
Segundo Melo (1996), U. cordatus distribui-se no litoral da América Ocidental,
na Florida, Golfo do México, América Central, Antilhas, Norte da America do Pará ate
o estado de Santa Catarina.
No estado do Pará, a comercialização e a captura do caranguejo-uçá U. cordatus
(Linnaeus, 1763) está entre as principais atividades extrativistas realizadas em áreas de
manguezais, representando importante fonte de renda para uma significativa parcela da
população (citação?). Sua carne apresenta elevador valor proteico (72%), bem como
reduzido teor de gordura (1%) (BLANKENSTEYN et al., 1997).
O município de Santarém Novo/PA abrange grande diversidade ecológica de
diferentes espécies, com destaque para o caranguejo-uçá, que tem grande relevância e
valor socioeconômico para a população local. No município, a captura do caranguejo
representa a fonte principal ou complementar da renda de muitas famílias (citação?). No
entanto, a sua captura vem ocasionando um desequilíbrio na espécie devido a varias
formas de captura que são feitas por catadores desinformados na região. Devido à
grande importância socioeconômica do caranguejo-uçá, associada ao aumento do
esforço de pesca sobre o recurso, é crescente o interesse de vários segmentos da
sociedade na proteção, no gerenciamento pesqueiro e no extrativismo sustentável que
possa promover um ciclo de reprodução da espécie sem que haja danos ao mesmo,
possibilitando homem x natureza coexistirem em equilíbrio harmonioso.
Figura 2: Exemplar de Ucides cordatus (Linnaeus, 1973). Fonte: Arquivo pessoal de
Caranguejo-uçá (Esta foto é sua? Se sim, coloque o seu nome na fonte no seguinte
formato => Foto: Rubens Dias, ano).
Informações sobre a biologia do caranguejo-uçá quanto aos componentes
bióticos e abióticos que integram o ecossistema nos quais vivem associadas aos
conhecimentos empíricos das populações ribeirinhas, poderão fornecer subsídios para o
aprimoramento da regulamentação da captura da espécie, permitindo a elaboração de
planos de gerenciamento de seus estoques naturais. De acordo com Nordi (1994) e
Poizat e Barau (1997), este tipo de conhecimento pode ser usado como um estágio
preliminar da investigação ecológica, o saber popular (tradicional) pode, desta forma,
subsidiar planos de manejo, visando a uma exploração sustentável, sobretudo daqueles
recursos mais fortemente explorados.
Os manguezais do município de Santarém Novo ocupam uma área de
aproximadamente ------- , sendo constituídos por espécies vegetais de Laguncularia,
Rhizophora e Avicennia. As maiores áreas de manguezais estão situadas nas
comunidades que fazem parte da RESEX Marinha Chocoaré-Mato Grosso, ás margens
do Rio Maracanã, que deságua no Oceano Atlântico.
As Reservas Extrativistas são áreas de domínio público e dependem de uma
Concessão Real de Uso do Território destinado à reserva que é outorgada à comunidade,
tendo em vista os interesses da coletividade. A comunidade outorgada passa a ser
responsável pelo gerenciamento do território em conjunto com o IBAMA/ ICMBIO
(citação?). De acordo com o Conselho Nacional das Populações Extrativistas (CRS),
foram criadas até o ano de 2009 cinquenta e três RESEX federais na Amazônia, sendo
vinte delas só no estado do Pará, das quais, nove são reservas marinhas, ou seja, espaço
onde as atividades estão voltadas predominantemente para a pesca (MEIRELES, 2011),
com destaque para os catadores de caranguejos.
Apesar da atividade extrativista do caranguejo ser uma das mais antigas na costa
do Brasil, os coletores de caranguejo geralmente ficam à margem na participação em
organizações e associações de produtores e pescadores, sendo que a maioria dos
coletores não possui registro e documentação (IBAMA, 1995; IVO et al., 1999; ALVES
e NISHIDA, 2002). Os catadores são caracteristicamente pessoas simples, de baixo
poder aquisitivo, cuja sobrevivência depende majoritariamente dessa atividade; seja por
tradição, por serem filhos e netos de coletores; ou por falta de oportunidade, atuando
temporariamente nessa área, até conseguirem empregar-se em outras atividades
(VASCONCELOS e COUTO 2001).
A captura do caranguejo-uçá pode ser realizada de diversas maneiras, sendo
algumas delas prejudiciais ao meio ambiente. Muitos catadores utilizam os mesmos
locais para captura, e os principais materiais utilizados para sua extração são o gancho,
o laço e captura manual (braceamento) (citação?). A exploração do caranguejo-uçá de
forma inapropriada prejudica os manguezais do Município de Santarém Novo. Na
tentativa de minimizar os impactos, foi criada a Reserva Extrativista Chocoaré-Mato
Grosso, que é constituída de terras de propriedades do Governo Federal, através do
decreto S/N, de 13.12.2002, para assegurar o uso sustentável e a conservação dos
recursos naturais da unidade, protegendo os meios de vida e a cultura da população
extrativista local, de aproximadamente 4.500 pessoas (citação?).
Para a conservação da biodiversidade, principalmente em unidades de
conservação, são necessários objetivos básicos de manejo, entre os quais: preservar e/ou
restaurar amostras dos diversos ecossistemas naturais; proteger espécies raras,
endêmicas, vulneráveis ou em perigo de extinção; propiciar o fluxo genético entre áreas
protegidas; preservar e manejar recursos de flora/fauna; proteger paisagens e belezas
cênicas notáveis; proporcionar a educação ambiental; incentivar a pesquisa cientifica e
estudos; preservar provisoriamente áreas para uso futuro (MILANO, 2007). A ausência
de regulamentação da captura de caranguejo pode influenciar no tamanho ideal da
espécie no município de Santarém Novo, propiciando uma diminuição no seu estoque, e
sendo cada vez mais comercializado, e atraindo para a região coletores que
desconhecem os aspectos ideais para a captura da espécie, provocando grandes danos ao
ecossistema daquele lugar.
Segundo Ostrensk (2001), o tamanho comercial do caranguejo (largura da
carapaça superior a 05 cm) é atingido após o quinto ano de vida. Para que o caranguejouçá alcance um bom tamanho comercial ele demora em torno de dez anos, o que pode
inviabilizar em alguns anos a captura destes indivíduos (NASCIMENTO, 1993). De
acordo com Pinheiro e Fiscareli (2001), a “andada” ocorre nos meses de maior
fotoperíodo, temperatura e precipitação, manifestando-se poucos dias após a mudança
na fase da lua. A “andada” pode ocorrer de dezembro a abril, com uma maior
intensidade nas luas cheias; neste período, a captura do caranguejo-uçá é uma pratica
fácil e proibida, já que esta fase é uma das mais importantes do ciclo de vida da espécie
(PINHEIRO e FISCARELI, 2001).
De acordo com Pinheiro e Fiscarelli (2001), o caranguejo U. cordatus apresenta
reprodução sazonal, pois as fêmeas ovígeras ocorrem em apenas cinco meses do ano
(novembro a março). Pinheiro (2001) relatou que o desenvolvimento embrionário pode
levar em média 18 dias quando mantida a uma temperatura constante de 27°C.
O objetivo do presente trabalho foi realizar o levantamento do perfil
socioeconômico da atividade pesqueira na extração do caranguejo-uçá Ucides cordatus
(Linnaeus, 1973) no município de Santarém Novo, bem como os possíveis efeitos das
atividades antrópicas na espécie. Para tanto, será verificado o processo de coleta
(catação) dos caranguejos pelos catadores da região que atuam na RESEX Marinha
Chocoaré-Mato Grosso, analisando se um percentual significativo das famílias de
famílias de caranguejeiros extraem os crustáceos dentro das normas previstas pelo
IBAMA/ ICMBIO.
MATERIAL e MÉTODOS
O município de Santarém Novo está localizado na região Nordeste do estado do
Pará latitude “00º55'44" sul, longitude "47º23'49" oeste, estando a uma altitude de 30
metros (Fonte?).
Figura 1: Localização do Município de Santarém Novo/PA, Brasil (Fonte: IBGE, ano?).
Os dados serão levantados através de questionários semi-estruturados, que serão
aplicados aos caranguejeiros e também às suas famílias, adotando o critério de
entrevistar as famílias residentes no interior da reserva.
A cadeia produtiva do caranguejo-uçá inclui os catadores que vivem da captura
do caranguejo para o sustento das suas famílias e que vendem a produção para pequenos
comerciantes locais, além de restaurantes e feiras livres; e também a os atravessadores,
que comercializam o produto nos grandes centros, sendo estes últimos os que mais
lucram com o processo (citação?).
Essa pressão, sobre sai através da pesca uma (captura acima do nível de
produção), que ao longo dos anos, pode interferir no tamanho máximo alcançado pela
espécie na região durante a sua época de reprodução quando são predados, além de
provocar diminuição no estoque natural a médio/longo prazo, levando ao aumento do
esforço de pesca, para manter a média de produção. Que pode provocar uma redução,
estar pode sendo ser causada tanto pelos coletores locais considerados como
“tradicionais”, como também através da inclusão de coletores novos vindos de outras
localidades. Grande parte destes fixa residência no local, competindo pelo recurso, há
ainda os coletores temporários, ou quando estão desempregados. Estes últimos são
chamados “caranguejeiros oportunistas”, uma vez que entram no manguezal quando
precisam complementar sua renda e por não terem conhecimento da área de captura e
dos ciclos locais enfrentam dificuldades na captura e causam ainda mais danos ao
ecossistema.
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