INFORME ECONÔMICO Ano 17 ● Número 35 ● 31 de agosto de 2015 A conta da recessão já custou 2,1% de queda no PIB em 2015 Resultado da produção brasileira refletiu a piora dos dados econômicos registrados até junho, e não há perspectivas de melhora até o final do ano. Podemos ter a recessão mais longa dos últimos 23 anos A recessão atual já dura 5 trimestres e pode ser a mais longa desde 1992. FEDERAÇÃO DAS INDÚSTRIAS DO RIO GRANDE DO SUL Av. Assis Brasil, 8787 Fone: (051) 3347.8731 Fax: (051) 3347.8795 UNIDADE DE ESTUDOS ECONÔMICOS www.fiergs.org.br/economia As opiniões emitidas nesta publicação são de exclusiva e inteira responsabilidade dos autores, não exprimindo, necessariamente, o ponto de vista desta Federação. É permitida a reprodução deste texto e dos dados contidos, desde que citada a fonte. Reproduções para fins comerciais são proibidas. A conta da recessão já custou 2,1% de queda no PIB em 2015 Resultado da produção brasileira refletiu a piora dos dados econômicos registrados até junho, e não há perspectivas de melhora até o final do ano. F I E R G S PIB a preços de mercado – Brasil – 2º Tri. 2015 PRODUÇÃO E C O N Ô M I C O Dentre as atividades que mais contribuíram para o resultado desse segmento estão Veículos automotores, reboques e carrocerias (-2 p.p.) , Equipamentos de informática, produtos eletrônicos e ópticos (-0,8 p.p.), Coque, derivados de petróleo e biocombustíveis (-0,7 p.p.), Máquinas e equipamentos (-0,6 p.p.) e Alimentos (-0,5 p.p.). A análise dos componentes da Despesa mostra a extensão do quadro recessivo. Apenas duas contas apresentaram crescimento na comparação trimestral: Consumo do Governo (+0,7%) e Exportações (+3,4%). Contudo, o resultado das Importações compensaram essa expansão com forte queda (-8,8%) nessa base de comparação. Por fim, o resultado do Consumo das Famílias manteve-se em queda (-2,1%), sendo esse o segundo trimestre consecutivo nessa comparação – algo que não ocorria desde os últimos dois trimestres de 2002. Pelo lado da Produção, o desempenho dessa variável foi acompanhado pela queda do segmento de Comércio (3,3%) dentro do setor terciário. Os dados de Investimento, por sua vez, mantém a preocupação de que a economia brasileira terá pouco espaço para expansão nos próximos meses. A queda de 8,1% foi a oitava seguida nessa medição, e reduziu a Taxa de Investimento de nossa economia para 17,8% do produto no trimestre, a menor para esse período desde 2006. Os resultados do PIB mostram que o custo das decisões equivocadas de política econômica do passado recente não são desprezíveis. Não só isso, o desempenho dos Investimentos segue aquém do necessário para entrarmos em uma trajetória de crescimento sustentável, dificultando a saída, no curto prazo, não só da recessão em termos de produção, como também da recessão econômica como um todo. DESPESA I N F O R M E Os resultados das Contas Nacionais Trimestrais apontaram para uma recessão em termos de produção no Brasil. Conforme o IBGE, o PIB do país caiu 1,9% no 2º trimestre em comparação ao 1º trimestre do ano – livre de efeitos sazonais. Na comparação com igual período do ano anterior o desempenho foi ainda mais negativo: -2,6%, contribuindo para uma queda acumulada em 2015 que já atinge 2,1%. Pela ótica Produção, o quadro não se altera quanto à direção da variação trimestral na comparação entre os três setores econômicos. Tanto a Agropecuária (-2,7%), a Indústria (-4,3%) e os Serviços (-0,7%) apresentaram quedas frente ao primeiro trimestre. No acumulado de 2015 o quadro só se altera para o setor primário (+3,0%) influenciado pela contabilização da safra agrícola, enquanto os demais seguem negativos (-4,1% e -1,3%, respectivamente). Considerando o setor industrial e seus segmentos, apenas a Indústria Extrativa apresentou desempenho positivo na comparação trimestral (+0,3%) e no acumulado do ano (+10,4%). Esse resultado destoa bastante dos demais segmentos do setor pela influência da extração de minério de ferro (+12,3%) e produção barris de petróleo (+11,9%, na média diária) em 2015. Na Indústria de Transformação o cenário de queda completou seu oitavo trimestre consecutivo (-3,7% na comparação com período imediatamente anterior), contribuindo para reduzir o crescimento acumulado em 12 meses do segmento para -6,1%. Considerando apenas 2015, o segmento já acumula queda real de 7,6% no produto. A Construção Civil e a produção industrial de Energia e Saneamento (também denominados Serviços Industriais de Utilidade Pública) caíram na comparação trimestral (-1,5% e -8,4%, respectivamente), demonstrando que a contração da produção foi disseminada em quase toda a Indústria. Ainda que o PIB não permita abertura em atividades industriais sem seus microdados, é possível inferir as principais contribuições para essa queda através dos dados da produção industrial. No acumulado do primeiro semestre, considerando o desempenho e os pesos de cada atividade, a produção da indústria extrativista foi positiva em 1,1% no acumulado de 2015 - em linha com os resultados do PIB. Na Transformação, contudo, a queda de 7,3% nessa medição foi bastante disseminada, uma vez que apenas duas das 25 atividades não tiveram desempenho negativo – sendo que a de maior crescimento (Produtos diversos) apresentou apenas contribuição positiva em 0,1 ponto percentual (p.p.) na mesma base. Variação (em % ) Trim. Trim. ano Acum. Acum. anterior anterior ano 4 trim. Agropecuária -2,7 1,8 3,0 1,6 Indústria -4,3 -5,2 -4,1 -2,9 Extrativa 0,3 8,1 10,4 10,4 Transformação -3,7 -8,3 -7,6 -6,1 Const. Civil -1,5 -4,7 -8,5 -7,4 Energia e saneamento -8,4 -8,2 -5,5 -4,6 Serviços -0,7 -1,4 -1,3 -0,5 PIB -1,9 -2,6 -2,1 -1,2 Consumo -2,1 -2,7 -1,8 -0,6 Governo 0,7 -1,1 -1,3 -0,3 Investimento -8,1 -11,9 -9,8 -7,9 Exportações 3,4 7,5 5,6 1,0 Importações -8,8 -11,7 -8,2 -4,7 Fonte: IBGE. Unidade de Estudos Econômicos – FIERGS www.fiergs.org.br/economia Podemos ter a recessão mais longa dos últimos 23 anos A recessão atual já dura 5 trimestres e pode ser a mais longa desde 1992. I N F O R M E E C O N Ô M I C O F I E R G S Popularmente se considera uma recessão técnica quando ocorrem dois trimestres consecutivos de queda no PIB. Nesse caso, entramos em recessão apenas no segundo trimestre de 2015, apesar das quedas no emprego, nas concessões de crédito, nos investimentos e no mercado de capitais já apresentarem retração desde o ano passado. Levando em conta outras variáveis além do PIB, é possível fazer uma abordagem mais ampla com relação aos ciclos da economia e a data de início e término das recessões. Para isso, em diversos países há instituições que realizam a datação dos ciclos econômicos com uma abordagem multidimensional. No Brasil, há o Comitê de Datação de Ciclos Econômicos (CODACE – IBRE/FGV), que busca fazer a identificação dos períodos de recessão e expansão econômica. Segundo o CODACE, a recessão econômica brasileira já dura mais tempo do que os dois trimestres de queda que aponta os dados das contas nacionais. A recessão atual começou no segundo trimestre de 2014 e persiste há 5 trimestres. Nesse período, a economia brasileira encolheu 3,5%. Esta pode ser a recessão mais longa dos últimos 23 anos. A recessão mais longa antes dessa ocorreu entre o 3º trimestre de 1988 e o 1º de 1992, quando o ritmo do PIB foi em média -1,2% ao trimestre. A atual recessão tem previsão de durar, conforme as previsões do Boletim Focus do Banco Central, 8 trimestres, ou seja ele iniciou no 2º trimestre de 2014 e deve acabar, na melhor das hipóteses, apenas no primeiro trimestre de 2016. O crescimento médio da economia brasileira entre 1996 e 2014 foi de 3% ao ano, mas pode ser divido em três período distintos. Entre 1996 e 2003, o crescimento da nossa economia foi de 2,3% ao ano. Durante esse período o país passou por uma reformulação econômica profunda, o que preparou para o ciclo de crescimento seguinte. Entre 2004 e 2010 a média de crescimento subiu para 4,4% ao ano. No período seguinte, 2011 a 2015, o crescimento caiu para 2,1% ao ano e deve ser menor, caso se realizem as previsões para 2016. Com exceção do período 2004-2010, a história econômica recente mostra que o Brasil cresce pouco e a expectativa é que teremos o período de menor crescimento desde a estabilização econômica. A crise atual tende a ser longa, pois decorre de fatores estruturais da economia brasileira e não apenas de uma conjuntura desfavorável. Esse crise difere daqueles ocorridas a partir dos anos 90 e durante os anos 2000, em que havia um elemento desencadeador externo e bem identificável. Esses foram os casos das crises dos tigres asiáticos, da sucessão presidencial de 2002 e da crise financeira de 2008. Essas recessões tiveram duração de cerca de 2,8 trimestres e um queda anualizada de 2,8% no PIB. A economia conseguia se recuperar relativamente rápido, pois uma ligeira correção de rota foi suficiente. Atualmente, a expectativa de uma recessão prolongada traz alguns elementos que lembram aquelas crises que enfrentamos nos anos 80. O cenário atual decorre da necessidade de mudanças mais profundas nos fundamentos da economia e a taxa de sacrifício tende a ser maior. Sair de uma crise que nós mesmos geramos requer um reconhecimento da necessidade de correção que ainda não tomamos consciência. As crises dos anos 80 tiveram recessões que duraram em média de 8,3 trimestres e queda -1,1% do PIB ao trimestre. O ponto mais negativo desse processo é que parece que optamos por um tratamento com alguns elementos que também lembram os anos 80. Submeter um orçamento para 2016 deficitário foi a prova mais recente de que o País se nega a realizar os ajustes necessários. As consequências dessas políticas também tem um sabor de anos 80 e são bem conhecidas: inflação, desemprego e empobrecimento relativo ao resto do mundo. PIB – Brasil (var. % real acum. 4 trim.) Fonte: CODACE. IBGE Unidade de Estudos Econômicos – FIERGS www.fiergs.org.br/economia