TCC1 PROF. DRA.LOANA ALUNO: LUIS CLAUDIO FERREIRA DOS SANTOS RELATÓRIO PARCIAL 2.COMPENSAÇÃO DE REATIVOS EM SISTEMAS ELÉTRICOS DE POTÊNCIA 2.1ASPECTOS GERAIS Os primeiros sistemas elétricos de potência (SEP’s) que surgiram no mundo apresentavam uma característica muito particular e que, nos dias de hoje, é cada vez mais difícil de ser encontrada – a geração localizava-se junto à sua própria carga. E, mesmo nesta situação, já se pôde verificar que a manutenção de uma razoável constância na tensão dos pontos de entrega aos consumidores era de suma importância. Desde então, iniciou-se a busca de métodos eficazes para o real controle da tensão nos SEP’s. Deve-se ressaltar que, devido ao pequeno porte destes primeiros sistemas, o mecanismo básico de controle consistia apenas na regulação do nível de tensão nos terminais das máquinas geradoras, bem como na regulação de sua capacidade de fornecer a necessária energia aos consumidores. É importante notar que, desde tais tempos, muitas modificações surgiram. Com o aparecimento de grandes consumidores industriais, que já utilizavam sofisticados processos produtivos, a manutenção da tensão de suprimento, e também da freqüência, dentro de estreitos limites de variação tornou-se importante meta a ser perseguida pelos operadores dos SEP’s. Além disto, com o crescimento dos grandes centros consumidores e escasseamento das fontes de energia locais, houve necessidade de distanciar a geração das cargas. E foi então que novas soluções para o controle de tensão tiveram que surgir, pois a simples regulação dos geradores já não se fazia tão eficiente. Num crescer quase que geométrico, as necessidades de energia elétrica das sociedades vieram se avolumando. Obrigando os planejadores procurarem fontes cada vez mais distantes e, o que é mais importante, a interligar várias fontes para atender a seus consumidores. Com isto, novos e mais complexos problemas surgiram, forçando a estudos e soluções mais e mais elaborados. Esta mesma sociedade crescente passou a exigir ainda melhor qualidade e constância em seu suprimento, o que só veio a aumentar a carga de responsabilidade dos fornecedores. Para fazer frente a estas exigências, começaram a surgir órgãos de normalização e fiscalização das companhias fornecedoras de energia elétrica, como é o caso do Departamento Nacional de Águas e Energia Elétrica (DNAEE), hoje Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL) no Brasil. Estes órgãos fixam metas a serem perseguidas quando do Planejamento e Operação dos SEP’s, visando garantir a necessária qualidade no suprimento aos consumidores, bem como uma aplicação econômica e rentável dos recursos da área energética. Com relação aos níveis de tensão de suprimento, uma série de normas são especificadas. Em primeiro lugar, apenas uma pequena variação na tensão média da barra do consumidor é permitida com relação ao valor nominal préestabelecido. No caso do Brasil, este desvio é de +5% e –7% em média tensão. (1) Por outro lado, caso existam flutuações menores, mas que se repitam com freqüência, elas deverão ser evitadas mesmo não ultrapassando os 3% acima citados. Por exemplo, variações de tensão da ordem de 0,20 a 0,30%, mas que se verifiquem 5 ou 6 vezes por segundo, provocam na iluminação desagradáveis variações comumente conhecidas como flickers, e que proporcionam uma má qualidade de fornecimento. Por isto mesmo, elas deverão ser reduzidas, de alguma forma, pelo supridor, para que não cheguem aos consumidores. Entretanto, o controle de tensão não tem sua importância restrita ao fornecimento de energia com qualidade, muito pelo contrário, é através de um adequado controle dos níveis de tensão de um sistema de transmissão que se consegue mantê-lo em funcionamento sob certas condições de contingências de linhas e equipamentos. Além disto, para se conseguir um máximo aproveitamento das grandes linhas de transmissão, a fim de que elas possam transportar o máximo de potência ativa possível, controles de tensão estrategicamente colocados tornam-se sumamente necessários. Por último, destaca-se ainda mais a premência de controles de tensão, lembrando que as cargas dos SEP’s são extremamente diversificadas e dinâmicas. Isto significa que, a cada instante, a demanda requerida pelos consumidores, tanto no que se refere à potência ativa quanto à reativa, varia, forçando a uma constante readaptação por parte dos fornecedores. E parte desta readaptação consiste justamente em exercer um adequado controle na tensão de suprimento, pois caso contrário os limites anteriormente citados seriam freqüentemente violados. Em linhas gerais, as técnicas de compensação dos sistemas elétricos de potência são explanadas neste capítulo, onde também são apresentados alguns dos equipamentos, de acordo com suas evoluções que compõem o conjunto necessário à implementação das mesmas.(1) 2.2 COMPENSAÇÃO DE REATIVOS OBJETIVOS A compensação de cargas elétricas se faz com base em três principais objetivos [38]: (a) Balanceamento de cargas desequilibradas; (b) Correção do fator de potência; (c) Melhoramento da regulação de tensão. A correção do fator de potência usualmente significa, na prática, a possível geração de potência reativa para a carga de acordo com a solicitação da mesma, suprida por uma fonte de alimentação distante. Cargas industriais apresentando fator de potência atrasado, ou seja, absorvendo potência reativa, fazem com que as correntes de carga sejam bem maiores do que as requeridas pela fonte, caso somente potência ativa fosse exigida. Tarifas de alimentação para consumidores industriais quase sempre penalizam cargas com baixo fator de potência por muito tempo, e o resultado tem sido um extenso esforço para correção do fator de potência em instalações industriais. A regulação de tensão torna-se importante e às vezes um procedimento imprescindível na presença de cargas que variam muito suas demandas de potência reativa. Todas as cargas se apresentam com variação na demanda da potência reativa, entretanto elas diferem bastante no valor e na taxa de variação. Em todos os casos, a variação dessa potência causa variação na tensão no ponto de alimentação, que poderá interferir na operação eficiente das instalações conectadas nesse ponto. Para proteção contra este fato, as concessionárias estabelecem normas para manter a tensão de alimentação dentro de limites definidos. Estes limites podem variar tipicamente dentro do valor médio de +5% e –7% em média tensão em curtos períodos de poucos minutos ou horas, sendo que, para muitos casos, são colocadas as mais severas imposições, onde grandes cargas que variam rapidamente provocam variações incertas de tensões para a operação de equipamentos de proteção, ou o efeito visual denominado na literatura técnica de flicker. Portanto, dispositivos de compensação deverão apresentar um vital papel de manter as tensões de alimentação dentro de limites pretendidos. Uma solução naturalmente encontrada para melhorar a regulação da tensão seria reforçar o sistema aumentando o porte e o número de unidades geradoras e fazendo a interligação dos sistemas. Esta solução, no entanto é antieconômica, introduzindo problemas associados aos altos níveis de curto-circuito, e assim, aumentando as capacidades dos disjuntores utilizados. Outro objetivo da compensação da carga é o balanceamento. Os sistemas de potência são dimensionados para operações balanceadas, uma vez que a operação desbalanceada provoca o aumento de corrente representando para certas fases uma sobrecarga e a origem das componentes de sequência negativa e zero. Tais componentes podem ter efeitos indesejáveis, tais como, perdas adicionais em motores e unidades geradoras, conjugados oscilantes em motores de corrente alternada, aumento da ondulação em retificadores, mau funcionamento de vários tipos de equipamentos, saturação em transformadores, e correntes excessivas para o neutro. Neste sentido, a operação de um dado compensador, dentro dos princípios a serem postulados, deve eliminar ou reduzir o grau de desequilíbrio introduzido pelas cargas. 2.3 CARGAS QUE REQUEREM COMPENSAÇÃO Cargas que causam flutuações na tensão de alimentação podem ser compensadas não somente para o fator de potência, mas também para a regulação de tensão. O grau da variação da tensão é avaliado no “ponto de acoplamento comum” (P.A.C.), que é usualmente o ponto na rede onde a área de responsabilidade entre o consumidor e a concessionária termina. Este ponto seria, por exemplo, o lado de alta tensão do transformador de distribuição alimentando uma instalação particular. As cargas típicas que requerem compensação são: fornos à arco, fornos de indução, soldas a arco, minas de carvão, grandes motores (particularmente aqueles que partem e param freqüentemente), escavadeiras, serrarias, experiências físicas de alta energia (por exemplo, o Ciclotron), etc. Estas cargas podem ser classificadas como aquelas que apresentam operações inerentemente não lineares, e que causam distúrbios ao serem ligadas e desligadas freqüentemente. Cargas não lineares normalmente geram harmônicos, assim como variações da tensão. Em muitos casos, oscilações de tensão causadas por partidas de motores são evitadas através de transformador ajustável ou outros equipamentos, ou por dispositivos eletrônicos de partida gradual. 2.4 PADRÕES ACEITÁVEIS PARA QUALIDADE DE FORNECIMENTO Um dos principais efeitos desagradáveis das variações de tensão de alimentação nos sistemas de distribuição é o distúrbio no nível de alimentação produzido no filamento de tungstênio das lâmpadas incandescente. O grau para o qual estas variações são desagradáveis, depende não somente da intensidade da variação da luz, mas também de suas frequências ou valor de variação, devido às características da sensibilidade do olho humano. Baixas variações de tensão em torno de 3% são toleráveis, enquanto que variações rápidas causadas por fornos a arco ou solda elétrica podem coincidir com a máxima sensibilidade visual (entre 1 e 25 Hz) que deve ser limitada à intensidade de 0,25% ou menos. Vários outros tipos de cargas são sensíveis às variações da tensão de alimentação, especialmente computadores, certos tipos de relés empregados no controle e proteção, motores de indução e lâmpadas de descarga ou fluorescentes. A tabela 2.1 [31] é representativa dos padrões que poderão ser prescritos para o comportamento do sistema com um tipo de carga que provoca distúrbios. No caso de instalações com soldas elétricas, a variação de tensão permitida é inversamente relacionada com a sensibilidade do olho humano para leves flutuações como uma função da frequência 2.5. AS CARACTERÍSTICAS DE OPERAÇÃO DOS SISTEMAS ELÉTRICOS DE POTÊNCIA A maioria dos sistemas elétricos de potência atuais são controlados mecanicamente [26], ou seja, operam com compensações de reativos fixas ou chaveadas mecanicamente, juntamente com transformadores defasadores e reguladores de tensão, a fim de otimizar a impedância da linha, minimizar as variações de tensão em regime permanente ou em condições de lentas variações de carga. A fim de melhor visualizar a necessidade da compensação, veja a linha de transmissão teórica da figura 2.1. O fluxo de potência através dessa linha, desprezando-se a resistência, é dado em função do ângulo de carga, da magnitude das tensões nos terminais e da impedância da linha, como mostra a equação (2.1). onde: P – Potência que flui da barra “s” para a barra “r”; Vs – Magnitude da tensão na barra “s”; Vr – Magnitude da tensão na barra “r”; δ sr – Ângulo de carga ( θ s – θ r); θ s – Ângulo de fase da tensão Vs; θ r – Ângulo de fase da tensão Vr XL – Impedância da linha. Verifica-se então que, não havendo controle algum sobre tais parâmetros, o comportamento da potência elétrica que flui da barra “s” para a barra “r” em função do ângulo de carga δ sr obedece a curva apresentada na figura 2.2. Da figura 2.2 observa-se que a máxima potência está associada ao ângulo de carga de 90º, e uma elevação desse ângulo, causada pelo aumento do carregamento da linha, implica na instabilidade do sistema de transmissão. Portanto, constata-se a necessidade de uma alteração nos parâmetros, e conseqüentemente na operação, dos circuitos de transmissão, a fim de se obter um melhor aproveitamento dos mesmos. Devido a isso, a tecnologia de compensação torna-se necessária, uma vez que o seu emprego proporciona alguns benefícios como: • maior controle do fluxo de potência; • menor impacto ambiental, comparado com outras técnicas alternativas de expansão do sistema de transmissão; • carregamento das linhas de transmissão, que podem atingir níveis próximos de seus limites térmicos de operação; • maior habilidade em transferir potência entre redes interligadas, podendo então diminuir a margem de reserva de geração, que é tipicamente em torno de 18%, passando a 15% ou menos; • amortecimento das oscilações dos sistemas de potência, que podem causar danos a equipamentos e/ou limitar a capacidade de transmissão do sistema. Para atingir tais metas, os equipamentos compensadores empregam técnicas de compensação paralela e/ou série para o controle do fluxo de potência, cujos princípios básicos de funcionamento são explanados a seguir. 2.6 PRINCÍPIOS DE OPERAÇÃO DOS COMPENSADORES NO CONTROLE DO FLUXO DE POTÊNCIA Como visto anteriormente, o fluxo de potência estabelecido em uma linha de transmissão (equação (2.1)) é função dos seguintes parâmetros: • impedância equivalente; • magnitude das tensões nos terminais da linha de transmissão; • ângulo de fase entre as tensões nos terminais da LT. Assim, para se controlar o fluxo de potência, são empregados os dispositivos baseados na tecnologia dos compensadores estáticos, que atuam no sentido de alterar os parâmetros supracitados, de acordo com uma necessidade predeterminada. A operação de tais dispositivos é baseada nos princípios de compensação paralela e série e de controle do ângulo de fase [26], as quais são apresentadas, de forma ideal, a seguir. (a) O Compensador Paralelo Ideal Com finalidade de explanar o princípio básico de operação de um compensador paralelo, é utilizado um sistema CA simplificado, composto por duas máquinas ideais interligadas por uma linha de transmissão cujas perdas são desprezadas, como mostra a figura 2.3. Para a presente análise, é assumido que as tensões Vs e Vr possuem a mesma magnitude (V) e estão defasadas por um ângulo δ sr. Na figura 2.3, observa-se que no meio da linha encontra-se conectada uma fonte de tensão paralela controlada, cujo objetivo é ajustar o fluxo de potência em um valor préestabelecido. Nessas condições, o diagrama fasorial referente ao sistema em estudo é apresentado na figura 2.4, considerando ainda que, a tensão Vm tem a mesma magnitude que Vs e Vr . Baseando-se na figura 2.4, é possível concluir que, quando a diferença angular entre as tensões Vs e Vmé δsr/2, o fasor da corrente de linha está em quadratura com a queda de tensão na reatância de cada semi-trecho de linha. Em conseqüência disso, não existe fluxo de potência ativa através da fonte de tensão controlada. Neste caso, a potência transmitida da barra “s” para a barra “r” é determinada pela equação (2.2), Onde: V-Magnitude das tensões Vs, Vr e Vm. Para efeito de comparação, as características P versus δ sr do sistema de duas barras sem compensação, ditada pela equação (2.1), e com compensação, descrita pela equação (2.2), são traçadas na figura 2.5. Observando-se o gráfico, é possível verificar que, com a presença da fonte de tensão ideal controlada como meio de compensação paralela, há um incremento tanto na margem de estabilidade do sistema, bem como na máxima potência transmitida pela linha de transmissão. (b) Compensador série ideal Da mesma forma que na seção anterior, neste caso é utilizado um sistema CA simplificado, para a análise do princípio básico de operação de um compensador série, o qual é mostrado na figura 2.6. O sistema da figura 2.6 é composto por duas máquinas interligadas por uma linha de transmissão, onde está conectado um compensador série ideal representado pela fonte de tensão Vc . Este último tem por meta controlar o fluxo de potência na linha, através da variação da reatância equivalente da mesma. Nesta análise, as mesmas condições de contorno foram adotadas, ou seja, as perdas são desprezadas, as tensões Vs e Vr possuem a mesma magnitude (V) e estão defasadas por um ângulo de carga δ sr. Com isso, o diagrama fasorial referente ao sistema da figura 2.6 é apresentado na figura 2.7. Para a situação ilustrada no diagrama anterior, assume-se que a fonte de tensão Vc esteja realizando compensação capacitiva e, com isso, a corrente de linha encontra-se adiantada em 90º da mesma. Isso caracteriza, também, a ausência de potência ativa, fornecida ou absorvida pela referida fonte. Ainda, com relação a figura 2.6, a potência através da linha de transmissão é dada pela equação (2.3). onde: s – Taxa de compensação imposta ao sistema através dos compensadores série definida por: A equação (2.3) permite concluir que a máxima potência transferida pode ser elevada consideravelmente, com a compensação série, o que é visto, também, através da figura 2.8. Da figura 2.8, observa-se que, o ângulo para o qual ocorre a máxima potência transmissível é de 90º, independente do valor adotado para “s” e, conseqüentemente, do valor máximo de P. Deve-se ressaltar que, quando o valor de “s” é zero, a curva característica corresponde, exatamente, àquela do sistema sem compensação. (c) O controlador do Ângulo de Fase Ideal O controlador do ângulo da fase pode ser considerado como uma variante do compensador série. Isso porque, através do mesmo tipo de conexão com o sistema (série), proporciona a alteração da defasagem angular das tensões nos terminais das linhas. Assim, com vistas a discutir a atuação destes controladores, é considerado o sistema apresentado na figura 2.9, o qual é composto por duas máquinas interligadas por uma linha de transmissão. Além disso, encontra-se conectada junto à barra “s”, uma fonte de tensão controlada que tem por objetivo alterar o ângulo de fase no referido terminal, acarretando, portanto, em uma variação na diferença angular entre as barras “s” e “r” e, consequentemente, no controle do fluxo de potência correspondente. Novamente, desprezando-se as perdas no sistema da figura 2.9 e considerando que as tensões Vs , Vs1 e Vr possuem a mesma magnitude (V), o respectivo diagrama fasorial é apresentado na figura 2.10. A figura 2.10 mostra o fasor Vpq, produzido pelo controlador, que pode ter uma magnitude e ângulo de fase variados em relação à corrente de linha I, possibilitando, assim, a absorção ou o fornecimento de potência tanto ativa quanto reativa. Além disso, na mesma figura pode-se verificar que, o ângulo de carga entre os terminais da linha de transmissão é dado por ( δ sr − α ), em que o controle do fluxo de potência é efetuado através da variação do ângulo α . Isso é constatado, também, através da seguinte expressão: onde: α – Ângulo de controle. Baseando-se na equação (2.5), pode-se traçar a característica P versus δ sr, do sistema compensado pelo controlador de ângulo de fase, mostrada na figura 2.11. Com base na equação (2.5) e na figura 2.11 pode-se dizer que, mantendo-se a diferença ( δ sr − α ) próxima de 90º é possível transportar a máxima potência através da linha, para valores de δ sr acima de 90º sem comprometer a estabilidade do sistema. Tal constância na diferença ( δ sr − α ) é obtida variando-se o ângulo α à medida que ocorre uma alteração do δ sr. Obviamente que, o limite dessa variação do ângulo α é que determina a potência do equipamento [27]. Ainda, da figura 2.11 ressalta-se que, quando o valor de “ α ” é zero, a curva característica corresponde, exatamente, àquela do sistema sem compensação. (d) Comparação entre os controladores Ideais de Fluxo de Potência A figura 2.12 mostra uma comparação entre as características P versus δ sr, geradas através das compensações efetuadas com os três tipos de controladores ideais apresentados nas subseções anteriores, juntamente com aquela obtida sem compensação alguma. Da figura anterior pode-se constatar que a melhor estratégia de compensação depende do propósito do controle do fluxo de potência em um determinado sistema, ou seja: • para que a capacidade de transmissão de uma linha seja elevada, a compensação série, através do controle da impedância equivalente do ramo, é a melhor escolha; • já, a opção mais indicada para aumentar a margem de estabilidade do sistema é a compensação paralela; • por outro lado, no caso de interligação de sistemas onde ocorrem excessivas variações dos ângulos de fase, a adoção de um controle de fluxo de potência através de defasadores se mostra a melhor alternativa. 2.5 EQUIPAMENTOS UTILIZADOS NA COMPENSAÇÃO DOS SISTEMAS ELÉTRICOS DE POTÊNCIA Como já dito anteriormente, os equipamentos utilizados na compensação são destinados a controlar o fluxo de potência de um sistema através dos seguintes parâmetros: tensão, ângulo de fase e impedância. Diante disso, tais dispositivos são agrupados em três categorias, de acordo com as suas finalidades e conexão ao sistema, sejam elas: • equipamentos para compensação paralela; • equipamentos para compensação série; • equipamentos defasadores. Além disso, o universo dos compensadores engloba equipamentos que empregam elementos semicondutores tais como tiristores, GTOs, IGBTs, MOSFETs, entre outros. Dessa forma, um outro critério adotado para classificação de tais dispositivos, é quanto ao tipo de chave utilizada e, consequentemente, quanto à filosofia de operação dos mesmos. Nesse contexto, tal classificação é dada por: • compensadores Síncronos; • compensadores Estáticos baseados em tiristores convencionais; • compensadores Estáticos a Reator à Núcleo Saturado; • compensadores Estáticos avançados. Face a isto, as seguir são apresentados alguns dos principais dispositivos compensadores, de acordo com as categorias em que estes se enquadram. 2.5.1 Compensadores baseados em tiristores convencionais Atualmente, a maioria dos compensadores estáticos utilizados, ou propostos, empregam tiristores convencionais (os quais não possuem capacidade intrínseca de bloqueio) nos arranjos de compensação envolvendo capacitores, indutores e defasadores. Isso porque, quando comparados com os meiosmecânicos para o chaveamento, os tiristores apresentam uma resposta bem mais rápida e, ainda, são operados através de sofisticados controles, que se traduz em maior precisão. Todos os equipamentos, com exceção dos defasadores, que adotam esta filosofia possuem a característica comum de que a potência reativa necessária à compensação é gerada ou absorvida por bancos de capacitores e/ou reatores tradicionais. Nesse caso, os tiristores são utilizados, apenas, para o controle da impedância representativa de tais equipamentos no contexto do sistema, quando submetidos a um determinado valor de tensão. A seguir são comentados, alguns dos equipamentos enquadrados nesta categoria, de acordo com o tipo de compensação. 2.5.1.1 EQUIPAMENTOS PARA COMPENSAÇÃO PARALELA (a) Compensador Síncrono Os compensadores síncronos [1] são motores síncronos de construção especial. Seu funcionamento baseia-se na capacidade natural que os motores síncronos têm de fornecer ou absorver energia reativa do sistema ao qual estão ligados, dependendo do seu grau de excitação. A característica da potência como função da corrente de excitação de uma máquina síncrona é mostrada na figura 2.13. Nesta figura, o segmento 0A é o valor da corrente de excitação para o funcionamento da máquina à vazio, quando a mesma absorve exclusivamente potência ativa para cobrir suas perdas internas. Aumentando-se a excitação, a máquina passa a fornecer energia reativa que vem a possuir em excesso. Nestas condições ela se comporta como se fosse um capacitor, donde a denominação usual de condensador síncrono. Ao reduzirmos a excitação a um valor menor do que 0A, a energia magnética torna-se insuficiente para o seu funcionamento epassará a absorver da rede a diferença de energia necessária, comportando-se como um indutor. Desta forma, ajustando-se a corrente de excitação da máquina através de um sistema de controle podemos regular o fluxo de potência reativa de acordo com as necessidades do sistema. A máquina síncrona possui outra importante propriedade que é a auto regulação. Suponha-se que a máquina esteja operando com a excitação 0B e V2 e que a tensão seja reduzida para 0,9V2. Imediatamente o compensador passa a fornecer uma potência reativa BC', o que provoca uma redução na queda de tensão da linha e um aumento na tensão terminal da máquina, reduzindo novamente a potência reativa, vindo a se estabelecer o equilíbrio entre BC e BC'. Também se a máquina estiver funcionando com a excitação OD, ela estará absorvendo a potência reativa DE. Se a tensão diminuir para 0,9 V2 passa a absorver DE', haverá redução na queda de tensão, o que virá aumentar novamente a tensão nos terminais da máquina, encontrando-se um ponto de equilíbrio, com a potência reativa entre DE e DE'. O controle da excitação é feito através de um sistema especial com alta velocidade de resposta. Para cargas com variações de frequência superiores a 4 Hz e desequilibradas o uso do compensador síncrono poderá acarretar sobre tensões nas fases menos carregadas, pois o mesmo só pode gerar componentes de sequência positiva. As constantes de tempo do campo e da inércia mecânica constituem sérias limitações na velocidade de resposta. Na ausência dos controles de excitação os compensadores síncronos operam em uma característica com inclinação proporcional às suas reatâncias transitórias (0,2 p.u. na base da máquina). A correção da inclinação é obtida através do controle da excitação, que fica restrito ao atraso da constante de tempo do campo. (b) Reator Controlado a Tiristor (RCT) A figura 2.14 mostra um esquema básico de um RCT, o qual tem por objetivo controlar o perfil de tensão na barra onde se encontra conectado, via maior ou menor absorção de reativos. Tal controle de reativos é feito através do ângulo de disparo (α) dos dois tiristores conectados em anti-paralelo e em série com o reator, que determina a passagem de maior ou menor quantidade de corrente pelo mesmo. Este procedimento acarreta em um elevado conteúdo harmônico na corrente drenada pelo RCT, para um ângulo de disparo diferente de 90º [28]. A fim de se minimizar o impacto de tal poluição, têm sido utilizados transformadores estrela-delta para conexão dos RCTs ao sistema, bem como filtros passivos [26]. (c) Capacitor Chaveado a Tiristores (CCT) Na figura 2.15 é ilustrado um arranjo da conexão de um CCT a um barramento CA o qual, também, compreende 2 (dois) tiristores em anti-paralelo em série com um banco de capacitores. Na figura 2.15, os tiristores são ligados somente quando o sinal da tensão no barramento CA passa por zero. Portanto, as únicas condições em que o banco de capacitores se apresenta ao sistema são: ligado ou desligado, ou seja, condução plena ou corrente nula. Com isso, a corrente circulante através do CCT se apresenta com características senoidais [27]. (d) Compensador Estático de Reativos (CE) A utilização de um dos equipamentos abordados anteriormente, nos itens (A) e (B), permite apenas a compensação capacitiva ou reativa. Contudo, na maioria das aplicações, ambas as estratégias são requeridas, dependendo da situação do sistema em um determinado instante. Devido a essa necessidade, surgiu o Compensador Estático de Reativos (CE), ou SVC (Static Var Compensator), cujo circuito básico é mostrado na figura 2.16. Da figura 2.16 tem-se que, o arranjo de um SVC consiste da conexão de um RCT em paralelo com um banco de capacitores fixo, ou chaveado a tiristores, cuja potência é definida em função do máximo de reativos a ser suprido. (e) Compensador Estático tipo Reator à Núcleo Saturado (CERNS) Este tipo de compensador estático, que será analisado em detalhes no decorrer desta tese, se diferencia bastante dos tipos de compensadores baseados na tecnologia dos tiristores e dos avançados, pois não emprega tiristores ou mesmo qualquer sistema de controle a fim de exercer sua função básica [7], [29]. O reator saturado tem o seu núcleo de forma fechada como o de um transformador, sem enrolamento de potência no secundário. Os reatores de núcleo saturado são projetados para atingirem a saturação na tensão de operação, por isso suportam correntes de magnetização bem elevadas. É claro que, como se trata de um reator, quando opera isolado como um compensador estático, o reator de núcleo saturado só tem condições de absorver potência reativa, não podendo por si mesmo suprir necessidades de reativo, transitórios ou permanentes, que o sistema venha a apresentar. O reator de núcleo saturado tem condições de exercer uma ação contínua de controle, variando sua absorção de reativos de maneira uniforme, conforme as necessidades encontradas. Historicamente, o reator a núcleo saturado é o mais antigo dos meios de compensação estático controlável utilizado, pois sua tecnologia foi dominada muito antes do aparecimentos dos sistemas de controle a estado sólido. No aspecto construtivo, o reator de núcleo saturado utiliza em seu núcleo, um material que apresenta as seguintes características: • alta permeabilidade magnética na região não saturada; • efeito desprezível de histerese; • baixa permeabilidade na região saturada. Normalmente usa-se o aço-silício de grãos orientados laminado a frio para este fim. A não linearidade da curva B x H do material constituinte do núcleo magnético do reator é que rege a operação do mesmo. Antes de ser atingida a saturação, a indutância apresentada pelo reator é alta e a corrente é baixa. Após a saturação, a indutância cai, permitindo o aumento da corrente. Se o reator é submetido a uma alta tensão, e está operando na região saturada, a força magnetomotriz aumenta levando o núcleo a ter um comportamento semelhante ao de núcleo de ar. Por isto, uma pequena variação de tensão nesta região provoca uma grande variação de corrente. Como já mencionado, o reator de núcleo saturado serve para compensar elevações de tensão onde não se exige um controle bastante rígido (é um consumidor natural de energia reativa). Entretanto, com a inclusão de um capacitor em paralelo implicando na reatância capacitiva (XCP) como mostra afigura 2.17, o conjunto assim formado pode também compensar quedas de tensão. Com a instalação de um capacitor série, também mostrado na figura 2.17, em cada fase do reator, pode-se melhorar a inclinação de sua curva característica, devido às tensões em oposição de fase que se verificam em ambos. Escolhem-se valores convenientes de forma a ter-se uma inclinação que mantenha as oscilações de tensão dentro de limites bastante rígidos. Na figura 2.17 tem-se: V0(t) – Tensão do sistema CA no ponto de acoplamento do CERNS; i(t) – Corrente no ramo entre o CERNS e o sistema CA; v(t) – Tensão nos terminais trifásicos do CERNS; vR(t) – Tensão nos terminais do reator; iC(t) – Corrente no ramo do capacitor shunt; vCS(t) – Tensão nos terminais do capacitor colocado em série com o reator à núcleo saturado; XR – Reatância do reator à núcleo saturado; iR(t) – Corrente no reator à núcleo saturado; XCP – Reatância do capacitor em paralelo para aumentar a flexibilidade de operação do compensador, proporcionando a característica de manutenção de tensão constante quando houver queda de tensão; XCS – Reatância do capacitor série para melhorar a inclinação da curva característica do reator. É um compensador bastante simples, com tempo de resposta inferior aos compensadores a tiristores. Contudo, deve-se ter cuidados na aplicação dos capacitores série, que podem causar problemas de instabilidade harmônica (principalmente em sistemas fracos) que originam oscilações sub-harmônicas nas correntes de excitação e também provocam atraso no tempo de resposta do compensador. Às vezes, é necessária a inclusão de filtros para reduzir as harmônicas do reator, provocadas por cargas desequilibradas. 2.5.2 EQUIPAMENTOS PARA COMPENSAÇÃO SÉRIE (a) Capacitor Série Chaveado a Tiristores (TSSC) O controle da reatância série de uma linha de transmissão pode ser obtido através da utilização de um TSSC, que é constituído por conjunto de capacitores (conectados entre si em série e/ou paralelo) chaveados por dois tiristores em anti-paralelo, como mostra a figura 2.18 [29]. Nos sistemas apresentados na figura 2.18, quando os tiristores estão bloqueados, o TSSC é visto pelo sistema como um capacitor série convencional. Uma vez disparadas tais chaves semi-condutoras, os capacitores correspondentes são curto-circuitados. Este método de compensação possui a vantagem de ser muito simples. Entretanto, tal modo de operação, que compreende apenas dois níveis de condução dos capacitores, não permite um controle contínuo do fluxo de potência, mesmo quando são utilizadas várias unidades capacitivas, como mostrado na figura 2.18. (b) Capacitor Série Controlado a Tiristores(TCSC) A figura 2.19 apresenta o esquema básico de um TCSC, que consiste de um capacitor de valor fixo ligado a um Reator Controlado a Tiristor (RCT). Este tipo de compensador, ao contrário do TSSC, permite um controle contínuo da impedância equivalente formada entre o capacitor e o reator, através do ângulo de disparo dos tiristores em anti-paralelo. Assim, quando as chaves estão bloqueadas (α = 180º), o TCSC se comporta como um capacitor série convencional. Por outro lado, com os tiristores conduzindo completamente (α = 90º), o TCSC se comporta como uma indutância de pequeno valor. 2.5.3 EQUIPAMENTOS DEFASADORES Estes equipamentos atuam no sentido de alterar o defasamento angular das tensões entre as barras às quais estão conectados. Um diagrama simplificado de um dispositivo defasador típico é mostrado na figura 2.20. Como mostra a figura anterior, o controle do ângulo de fase é obtido através do disparo de um conjunto de tiristores, que proporciona a injeção de uma tensão Vpq em série com a linha de transmissão. Tal tensão, em quadratura com aquela do barramento controlado VS, tem sua magnitude variada de acordo com a necessidade de avanço ou atraso do referido ângulo [29]. 2.5.4 COMPENSADORES ESTÁTICOS AVANÇADOS A evolução dos dispositivos semicondutores com comutação forçada para altas potências, como GTOs e IGBTs, tem permitido o desenvolvimento de conversores (VSI), como mostrado na figura 2.21, para aplicação aos sistemas CA. Assim, quando comparada aos métodos tradicionais de compensação baseados em tiristores, a presente filosofia de compensadores estáticos apresenta características de desempenho bastante elevadas. Além disso, os compensadores estáticos avançados oferecem um potencial único de troca de potência ativa como sistema CA, simultânea e independentemente do processo de compensação reativa [30], desde que conectados a algum armazenador de energia. Dentre os equipamentos empregados nesta concepção, encontramse as versões avançadas dos compensadores paralelo, série e defasadores, abordados anteriormente, os quais são comentados a seguir. (a) Compensador Estático Avançado (ASVC) Nos compensadores estáticos de reativos convencionais (CE ou SVC), descritos na seção anterior, os tiristores funcionam simplesmente como elementos de controle. A variação do ângulo de disparo de tais dispositivos altera a potência reativa gerada ou absorvida por elementos passivos, sejam eles capacitores e reatores, respectivamente. Os ASVC’s (Advanced Static Var Compensators), são também equipamentos que proporcionam o intercâmbio de potência reativa, entretanto, fazem uso de uma fonte de tensão controlada, baseada em pontes inversoras a GTO, como aquela mostrada na figura 2.21, conectada em paralelo com o sistema CA como mostra a figura 2.22. O ASVC gera, na sua saída, uma tensão trifásica еp com amplitude e ângulo de fase controláveis, de forma análoga a um compensador síncrono rotativo, dando origem a uma corrente ip, injetada no sistema para prover a compensação determinada pelo controle. Os modos de operação do compensador série avançado possibilitam um intercâmbio, tanto de potência ativa quanto reativa, entre o mesmo e o sistema CA, dependendo do defasamento entre a tensão série injetada e a corrente na linha de transmissão. (c) Defasadores e compensadores de funções múltiplas avançados (UPFC) Os transformadores defasadores controlados a tiristores convencionais provêm da variação do ângulo da tensão na barra controlada através da injeção de uma tensão em quadratura com a mesma, cuja magnitude varia de uma forma discreta, através da variação dos taps no transformador. Com isso, uma vez quea relação angular entre tal tensão e a corrente de linha é arbitrária, o defasador deve estar apto a trocar (fornecer ou absorver) tanto potência ativa como reativa com o sistema CA. Entretanto, como tal transformador não possui essa capacidade interna, qualquer necessidade de fornecimento de potência por parte do defasador para o sistema, a fim de gerar a tensão injetada, deve ser atendida pelo próprio sistema. O mesmo raciocínio se aplica para o caso do defasador precisar absorver alguma potência. Assim, para evitar as variações de tensão, associadas a tais situações, este tipo de defasador requer o suporte de tensão proporcionado por uma fonte de reativos controlável, tal como um ASVC. Do exposto se conclui que, o controle do ângulo de fase através de dispositivos avançados do tipo fonte de tensão controlável (VSI), se mostra uma estratégia fundamentalmente diferente das vistas até o momento. Assim, o princípio básico para o controle da referida grandeza é fundamentado na união dos compensadores avançados paralelo (ASVC) e série (ASC). O equipamento resultante de tal construção é denominado Controlador de Fluxo de Potência Unificado ou UPFC (Unified Power Flow Controller), cujo esquema de conexão com o sistema CA é mostrado na figura 2.24. Como pode ser visto na figura anterior, o UPFC é constituído por dois conversores do tipo VSI, alimentados a partir da mesma fonte de correntecontínua. Desse modo, o conversor 1 (paralelo) fornece a potência ativa requerida pelo conversor 2 (série) e além disso, provê a compensação paralela de reativos. Já o Conversor 2 (série) gera, por si só, a potência reativa necessária à compensação série. Face a isso, torna-se evidente que, além de controlar o ângulo de fase, o UPFC desempenha as mesmas funções executadas pelos ASVCs e ASCs separadamente, o que caracteriza uma das suas principais vantagens. 3 REATOR A NÚCLEO SATURADO 3.1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS De um modo geral, a implantação de compensadores estáticos a reator à núcleo saturado (CERNS) em um sistema de potência deve ser precedida por estudos e avaliações computacionais, para que o equipamento seja dimensionado e ajustado corretamente. Para tanto, faz-se necessário o conhecimento detalhado dos seus princípios físicos de funcionamento e a tradução destes em modelos matemáticos os quais, na sequência, geram rotinas nos programas computacionais. Inicialmente, vale lembrar que, em contraste com o reator linear, o reator saturado tem seu núcleo de forma fechada como o de um transformador (podendo mesmo ter sido um deles originalmente) sem enrolamento de potência no secundário. A diferença é que os transformadores não saturam à tensão de operação e têm corrente de magnetização muito pequena em relação à corrente nominal. Por outro lado, os reatores saturados são projetados para atingirem a saturação na tensão de operação, tendo, portanto, que suportar correntes de magnetização bem mais elevadas. A não linearidade da curva B x H do material constituinte do núcleo magnético do reator é que determina a operação do mesmo. Enquanto a saturação não é atingida, a indutância apresentada pelo reator é alta e a corrente é baixa. Após a saturação a indutância cai, permitindo o aumento da corrente. Devido a nãolinearidade fortemente presente na operação de núcleos magnéticos, nas análises de operação dos reatores saturados, monofásicos e trifásicos, será demonstrado que o alto conteúdo harmônico das suas correntes de alimentação restringem a sua aplicabilidade em sistemas de potência. No entanto, através do aumento do número de unidades magnéticas e da interconexão dessas unidades com enrolamentos especiais de bobinas, é possível cancelar determinadas ordens harmônicas. 3.2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 3.2.1 REATOR MONOFÁSICO A título de simplificação, a não-linearidade de um material magnético pode ser idealizada na forma de uma curva de saturação que se faz representar por um par de linhas retas. A figura 3.1(a) ilustra esta consideração. Isto faz com que as duas regiões de correntes sejam equivalentes às duas inclinações. Admitindo ainda uma outra hipótese simplificadora, a qual se fundamenta no fato que, abaixo do ponto onde se inicia a saturação, a impedância do reator é suposta como infinita, então a curva de saturação será aproximada pela curva (1) indicada na figura 3.1(b). Nestas condições a forma de onda da corrente relacionada com o funcionamento do reator se fará na forma de pulsos, os quais iniciam sua formação tão logo se atinja o ponto de saturação e encerram quando o funcionamento determina uma magnetização abaixo do referido ponto[24]. Se um circuito série simples, como o mostrado na figura 3.2(a), é usado, a corrente, terá a forma de pulsos negativos e positivos discretos, com amplitude e forma determinadas pela tensão de linha e(t) e pela impedância externa. 3.2.2 REATORES TRIFÁSICOS Um reator saturado monofásico, embora capaz de promover a compensação de reativos e controlar a tensão, tem como forte propriedade a desvantagem de introduzir apreciáveis níveis de correntes harmônicas de ordem impar (3,5,7,9,11,13,.....) no sistema ao qual se encontra conectado. Objetivando atenuar tais efeitos negativos, neste item são descritas várias configurações de dispositivos trifásicos, visando reduzir o conteúdo harmônico das correntes. O dispositivo trifásico mais simples consiste de 3 (três) reatores saturados monofásicos conectados em estrela e com o ponto comum ligado ao neutro, conforme mostra a figura 3.6(a). Neste caso o arranjo pode ser visto como 3 (três) circuitos básicos independentes e, a corrente em cada fase obedece ao anteriormente estabelecido para o reator monofásico. Nestas circunstâncias, as mesmas componentes ímpares se manifestam nas formas de onda para cada fase, não trazendo, pois qualquer ganho em relação à meta almejada. Todavia, a mera desconexão do neutro do reator (ou terra) do sistema resulta em expressivos ganhos. Esta configuração está atrelada ao arranjo da figura 6(b). Utilizando-se o diagrama do circuito da figura 3.6(b), isto é, o ponto comum-estrela não é conectado ao neutro, os harmônicos triplos são excluídos pelo sistema trifásico. Cada unidade opera sobre as mesmas leis físicas, como uma unidade isolada, mas restritas por condições de limite. A tensão trifásica fornecida, para fins das análises e constatações feitas a seguir, deve ser considerada equilibrada e com valor suficiente para levar as unidades à saturação. Dentro destas hipóteses, as unidades do reator não são saturadas, a cada vez, por um período de 180º / 3 = 60º, o qual ocorre 2 (duas) vezes em cada ciclo da freqüência de linha, mas são saturadas no restante do ciclo. O grupo assim formado provocará correntes polifásicas com harmônicas da ordem n= (6K ± 1) = 5, 7, 11, 13, ... A operação na metade do ciclo da freqüência de linha é ilustrada de forma simplificada na figura 3.7. Os intervalos têm duração de 60°. No intervalo (I), o núcleo A não está saturado, não existindo, portanto qualquer corrente. Contudo, neste mesmo período existirá corrente através dos enrolamentos dos núcleos saturados B e C. A corrente é limitada somente pela indutância do sistema. Durante o intervalo (II), os núcleos A e B estão saturados e experimentam corrente, enquanto que o núcleo C não está saturado. No intervalo (III), no núcleo A continua a passar corrente, mas a trajetória de retorno transfere-se para o núcleo C, agora saturado. E assim por diante... A figura 3.8 mostra as formas de onda da corrente e tensão em um ciclo da freqüência de linha, que correspondem aos intervalos mostrados na figura 3.7. Durante o intervalo (I), os núcleos B e C estão saturados, enquanto que o núcleo A não está saturado. A tensão fase-fase VBC é aplicada sobre a indutância do sistema das fases B e C, de modo que o ponto comum-estrela x do reator assume o potencial médio de VBN e VCN, como mostrado nas figuras 3.7 e 3.8. O núcleo A não está saturado e assim absorve a tensão aplicada entre o terminal da fase A e o ponto comum-estrela x para o intervalo. Sendo limitada pela indutância do sistema, a corrente flui do terminal C para o B como ilustrado na figura 3.7 com a forma de onda mostrada na figura 3.8. No final do intervalo (I), o núcleo A satura enquanto que o núcleo C fica não saturado. A corrente transfere-se do enrolamento do núcleo C para o núcleo A, enquanto a corrente permanece no enrolamento do núcleo B. Durante o intervalo (II), o núcleo C absorve a tensão aplicada entre o terminal da fase C e o ponto comum-estrela x, enquanto a tensão VAB impulsiona a corrente iA através das indutâncias das fases A e B do sistema. A operação cíclica continua através de seis intervalos de 60° graus para o ciclo de freqüência da linha. 3.2.3 REATORES DE SEIS UNIDADES Conforme destacado anteriormente, um dos principais problemas associados com a operação dos reatores saturados está no elevado conteúdo harmônico da sua corrente. Por este motivo, a busca por soluções que venham a reduzir os níveis das distorções harmônicas constitui-se em um tema de extrema relevância para o domínio desta tecnologia. Em consonância com as experiências passadas, reportadas em artigos próprios à área, reconhecese que um reator de 6 (seis) unidades (ou colunas magnéticas), formado por dois arranjos físicos de reatores trifásicos, constitui-se numa boa medida para se atingir a estas metas. Estas duas estruturas físicas podem, ainda, serem conectadas em série ou paralelo, com cada unidade operando sob as mesmas leis físicas que uma unidade isolada, respeitadas suas condições de limite, as quais dependerão das disposições dos enrolamentos de cada unidade e do tipo de conexão usado. No entanto, é certo dizer que o fluxo em cada unidade e, consequentemente, a fem em cada enrolamento, para todas as unidades, serão portadoras de componentes harmônicas de ordem (6K ± 1) = 5, 7, 11, 13, 17, ..., Esta situação, como se sabe, assume que o ponto comum estrela ou os pontos do reator não são conectados ao neutro do sistema de suprimento, e que, a tensão aplicada é elevada o suficiente para levar os núcleos à saturação. Fixando como meta a eliminação ou redução das componentes harmônicas de linha de ordem 5° e 7°, pode-se, à princípio, imaginar duas soluções. Para o caso da conexão em série a solução consiste em eliminar tais componentes em cada um dos reatores trifásicos que perfazem o conjunto de 6(seis) unidades. Para o caso da conexão em paralelo, a estratégia consiste em manter as harmônicas em cada uma das unidades trifásicas individuais e processar o cancelamento quando da interligação das mesmas, fato este que se dera através de um mecanismo de defasagem angular entre os equipamentos. 3.2.4 CONEXÕES SÉRIE E PARALELA Objetivando atender aos propósitos supra mencionados, pode-se reconhecer várias possibilidades de disposições de enrolamentos que asseguram a operação simétrica das unidades. Uma delas consiste no uso de dois enrolamentos zig-zag com ângulo de 30° entre eles, conectados em série ou paralelo, como ilustrado na figura 3.9. A técnica da compensação angular encontra forte sustentação nas soluções clássicas empregadas pela eletrônica de potência para a obtenção de sistemas retificadores de 12 pulsos, quando são exigidas duas unidades retificadoras supridas através de transformadores defasados de 30°. De modo a proporcionar a almejada defasagem de 30°, os enrolamentos são projetados de acordo com o diagrama fasorial da figura 3.10(a), ou seja, com uma razão de espiras 2 1 N = 0,366 N , assegurando assim uma família de 6 (seis) ondas das fmm’s (forças magnetomotrizes) deslocadas de 30° uma da outra, utilizando um conjunto de correntes trifásicas equilibradas. A fmm em cada núcleo é a soma das fmm’s nos enrolamentos daquele núcleo. Assim sendo, F1 será, por exemplo, dado pela soma de 1 A N .I , em fase com a corrente na fase A, com 2 C N .I, em oposição de fase com a corrente na fase C. O diagrama fasorial dos fluxos é exatamente o mesmo, mas atrasado de 90°, como mostra a figura 3.10(b). A componente fundamental, assim como os componentes harmônicos de ordem 5º e 7º da tensão entre a fase A e o ponto comum-estrela (ou pontos) são mostrados na figura 3.10(c) e (d) para as conexões série e paralela, respectivamente. Para a conexão série, por exemplo, a tensão VAX é a soma das fmm’s ( ) da forma d N dt ϕ nos enrolamentos a, b, c, e d indicados na figura 3.9(a). Considerando a corrente IA como referência, a componente fundamental da tensão 1 a1 dV = N dt ϕ está adiantada de 90° de Φ 1, por conseguinte, em fase com F1 e atrasada 15° de IA. O 5º e o 7º harmônico desta tensão estão atrasados de IA por 15° x 5 = 75° e 15° x 7 = 105° de IA, respectivamente. A componente fundamental da tensão 2 b2 dV = N dt ϕ está em oposição fase com F2 e por conseguinte adiantada de 45° de IA e o 5º e o 7º harmônicos estão adiantados de 45° x 5 = 225° e 45° x 7 = 315° de IA, respectivamente. O mesmo procedimento pode ser aplicado às outras tensões. Do exposto segue que o 5º e o 7º harmônico de tensão são nulos na conexão série, e o mesmo ocorrendo com as correntes no reator e nas linhas. Na conexão paralela as tensões do reator apresentam o 5º e o 7º harmônico, sendo que um desempenho similar se observa para as correntes do reator. No entanto, estes harmônicos estão em oposição fase em cada zig-zag, e, por conseguinte, cancelam-se na interligação. As correntes de linha não apresentam, portanto, o 5º e o 7º harmônico. 3.3 REATOR TWIN-TRIPLER O termo Twin-tripler corresponde ao nome dado comercialmente para o reator de 6 (seis) unidades, composto por 2 (dois) enrolamentos zig-zag, com ângulo de 30° entre eles e, conectados em série. O arranjo físico para esta versão de reator saturado e o correspondente diagrama fasorial das forças magnetomotrizes foram mostradas nas figuras 3.9 (a) e 3.10 (a). Uma outra forma para a visualização de sua operação pode ser feita através do circuito mostrado na figura 3.11. Nesta, XS representa a indutância do sistema supridor, por fase. Considerando que a tensão trifásica está equilibrada e elevada o suficiente para levar as unidades do reator à saturação, durante meio ciclo da freqüência de linha, o reator twin-tripler passa por uma seqüência operativa através da qual cada unidade passa por estágios seqüências de nãosaturação e saturação. No período de uma metade do ciclo, todos os fluxos nos núcleos deslocam-se de -ΦS para +ΦS, pois os núcleos ficam não saturados. Durante a metade do ciclo seguinte, os núcleos não são saturados em seqüência e os fluxos deslocam-se de +ΦS para -ΦS para restaurar o estado inicial. Durante o tempo em que o núcleo está saturado, isto ocorre para qualquer das duas condições +ΦS ou -ΦS, pelas correntes nos seus enrolamentos e sua indutância é nula. Os modos operativos do reator saturado nos 6 (seis) intervalos de meio ciclo são mostrados nos circuitos equivalentes na figura 3.12. A unidade não saturada, em cada intervalo, deve absorver a maior parte da tensão da fonte trifásica nesse intervalo. O restante da tensão é absorvido como queda de tensão na indutância do sistema. Como todas as unidades têm 2 (dois) enrolamentos, as forças magnetomotrizes criadas pelas 2 (duas) correntes no período não saturado produzem fmm’s equilibradas em zero. Durante o intervalo I a Unidade 1 não está saturada para 30°. As correntes não têm valor igual a zero, mas devem satisfazer a condição N1.iA = N2.iC, ou seja, iA = 0,366 iC, para produzir zero ampére-espiras no núcleo da Unidade 1. Portanto, iB = -1,366 iC durante o intervalo. Se os 2 (dois) enrolamentos da Unidade 1 não são iguais, tensões proporcionais ao número de espiras devem aparecer nos enrolamentos com respeito aos pontos de polaridade. As tensões são mostradas pelas áreas marcadas na figura 3.13. O enrolamento na fase A absorve a área superior limitada por VA, enquanto que o enrolamento da fase C absorve a área inferior limitada pela tensão VC. A linha que separa as 2 (duas) áreas representa a tensão entre o ponto comum-estrela x e o neutro do sistema. Esta, corresponde a parte da tensão da forma -a cos ( ω t – 15º), considerando ω t = 0 o início do intervalo I, e atinge a tensão VB em ω t = 15º. A corrente iB é determinada pela tensão VBX, a qual é mostrada na figura 3.13 e é a parte da tensão da forma -b sen ( ω t – 15º). O efeito desta na indutância do sistema é de produzir o pulso unidirecional da corrente da forma () os b - cos ωt - 15 X . As correntes iA e iC são então, respectivamente, -0,3661,366 e -11,366 de iB. Os intervalos subseqüentes seguem a seqüência das correntes e formas de onda mostradas, respectivamente, nas figuras 3.12 e 3.13; cada unidade usa intervalos de tempo próprios para absorver a maior parte da tensão da fonte trifásica e estabelecer a distribuição de corrente de seu intervalo. As correntes aproximam-se de um conjunto trifásico com harmônicos de ordens mais altas. 3.4 REATOR TREBLE-TRIPLER O reator treble-tripler constitui-se numa concepção mais avançada do que o twintripler. Este arranjo apresenta vantagens adicionais, em relação à sua versão anterior, pelo fato que proporciona uma compensação ainda melhor das distorções harmônicas das correntes produzidas pelo equipamento. O trebletripler, devido ao fato de produzir um cancelamento quase total das componentes harmônicas até a ordem 35, oferece uma corrente muito próxima da senoidal. Conforme ilustrado na figura 3.15, o treble-tripler é constituído por um conjunto de 9 (nove) núcleos sendo que 3 (três) destes núcleos têm 2 (dois) enrolamentos e os núcleos restantes possuem 3 (três) enrolamentos [24]. Por este motivo a solução é mais onerosa e limitada a aplicações onde a questão de harmônicos é crucial. Os números de espiras dos enrolamentos primários (N1, N2 e N3) são determinados de modo a haver um intervalo de tempo na passagem por zero de duas fmm’s consecutivas de 20°, fato este que determina a compensação harmônica necessária. Além dos enrolamentos primários há ainda os enrolamentos secundários (NS) que são fechados em delta e alimentam um reator saturado auxiliar. Este arranjo tem por finalidade minimizar as harmônicas características de ordem 18K ±1, ou seja, de ordem 17ª, 19ª, 35ª, 37ª, etc.