Lançamento Oblíquo Um projétil é lançado com velocidade inicial v0 = 16 m/s, num ângulo de 30˚ com a direção horizontal. Determine: a) A altura máxima do projétil b) O alcance do projétil c) O instante de tempo no qual o projétil está a uma altura 3m do chão. Esse é o enunciado típico de praticamente qualquer exercício de lançamento oblíquo. Talvez esteja escrito de uma forma diferente: “um canhão dispara; um jogador de futebol dá um chute; um professor de física insano arremessa um giz” ou qualquer coisa do tipo. Não importa, todos esses exercícios se encaixam em lançamento oblíquo. Mas o que quer dizer isso? Diz-se lançamento oblíquo porque algo (uma bola, um giz, um porco) está sendo arremessado numa direção que não é nem horizontal nem vertical, isto é, uma direção oblíqua. E porque estudar esse exemplo? Bem, esse exemplo resume quase tudo que se estuda na cinemática, nele estudamos tanto o MRU (Movimento Retilíneo Uniforme), quanto o MRUV (Movimento Retilíneo Uniformemente Variado), além da composição de movimentos. Composição de Movimentos Entender a composição de movimentos é o ponto chave para resolver problemas de lançamento de projéteis. Pode parecer muito complicado estudar o movimento de um objeto lançado, mas podemos simplificá-lo ao separar o movimento em duas direções: Vertical e Horizontal. E porque podemos fazer isso? Porque só há uma força atuando no objeto durante todo o movimento, a força gravitacional. Ela atua somente na vertical, portanto o movimento na horizontal não é afetado. Na vertical, como há uma força constante atuando, o movimento é retilíneo uniformemente variado. Isso quer dizer que a velocidade do objeto irá variar com o tempo. Na horizontal, o movimento é retilíneo uniforme, portanto a velocidade do objeto será constante. Movimento vertical: Para resolver o movimento horizontal utilizamos três equações fundamentais: A equação horário do movimento, que tem o nome de “horária” pois é uma função do tempo, isso quer dizer que determinamos o valor de y dependendo dos valores de t: 𝑦 = 𝑦𝑜 + 𝑣𝑜𝑦 𝑡 + 𝑎𝑡² 2 y = a posição do objeto em um determinado instante de tempo yo = posição inicial do objeto 𝑣𝑜𝑦 = é a velocidade inicial do objeto a = aceleração do objeto t = instante de tempo. A equação da velocidade: 𝑣𝑦 = 𝑣𝑜𝑦 + 𝑎𝑡 E ainda podemos deduzir uma terceira equação a partir dessas duas. Para isso basta isolar o tempo na equação da velocidade e substituir na equação horária do movimento. A álgebra dessa operação fica um pouco cansativa, por isso vamos direto ao resultado: 𝑣𝑦 ² = 𝑣𝑜𝑦 ² + 2𝑎(𝑦 − 𝑦𝑜 ) Ou ainda: 𝑣𝑦 ² = 𝑣𝑜𝑦 ² + 2𝑎∆𝑦 Onde ∆𝑦 é a variação da posição do objeto. Veremos como utilizar essas três equações durante a resolução do exercício. Movimento horizontal: Esse caso é mais simples, pois a aceleração é nula e, como consequência, a velocidade é constante. Temos apenas uma equação: 𝑥 = 𝑥𝑜 + 𝑣𝑜 𝑡 Resolução do exercício: Agora que já temos as ferramentas necessárias, vamos voltar ao problema. O primeiro passo é interpretar o que o problema está dizendo. Isso quer dizer que devemos extrair do enunciado as informações que são dadas e entender que informação devemos obter. “Um projétil é lançado com velocidade inicial v0 = 16 m/s, num ângulo de 30˚ com a direção horizontal.” Em destaque estão todas as informações necessárias para resolvermos o problema. Os enunciados podem ser muito confusos às vezes, e por isso é bom prestar bastante atenção na leitura deles. Algumas vezes tem somente uma ou duas informações fundamentais. O próximo passo é decompor o movimento, dividi-lo no eixo x (horizontal) e no eixo y (vertical). Para isso, precisamos decompor a velocidade. Utilizaremos para tal a trigonometria, vejamos como. Primeiramente, vamos desenhar o nosso vetor velocidade, com o ângulo de 30 graus. Agora ficou mais fácil visualizar o que devemos fazer. No que consiste essa tal de decomposição dos vetores? Consiste em calcular a projeção do vetor nos eixos x e y. É mais ou menos como “medir a sombra do vetor” nos eixos. Se somarmos Vx e Vy vetorialmente (isto é, colocar “o rabo” de um na ponta do outro) teremos novamente o vetor V. E como fazemos para determinar o valor de Vx e Vy? Basta usar as relações trigonométricas de seno e cosseno. Se estivermos medindo a componente adjacente ao ângulo (isto é, colada no ângulo), usamos o cosseno. No desenho acima, usaríamos o cosseno para determinar a componente Vx do vetor V. Se medirmos a componente oposta ao ângulo, utilizamos o seno. No caso do vetor V acima, utilizaríamos o seno para medir a componente Vy. Vamos tentar com a velocidade que foi nos dada nesse problema: V0 = 16 m/s, como o ângulo mede 30˚ com a horizontal, vamos precisar dos valores de sen 30˚ e cos 30˚. Esses valores são tabelados e nesse caso valem: sen 30˚ = 1/2 e cos 30˚ = A componente Vx está adjacente ao ângulo (igual na figura), portanto vale: 𝑣𝑥 = 𝑣0 cos 30° 𝑣𝑥 = 16 ∙ cos 30° √3 . 2 𝑣𝑥 = 16 ∙ √3 2 𝑣𝑥 = 16 ∙ √3 2 𝑣𝑥 = 8√3 Como √3 ≅ 1,73 (≅ significa aproximadamente) 𝑣𝑥 = 13,85 ≅ 14 Agora devemos calcular a componente y da velocidade, seguindo o mesmo procedimento: 𝑣𝑦 = 𝑣0 sen 30° 𝑣y = 16 ∙ sen 30° 𝑣𝑦 = 16 ∙ 1 2 𝑣𝑦 = 16 ∙ 1 2 𝑣𝑦 = 8 Agora já possuímos as velocidades nos dois eixos, vamos determinar as equações de movimento do projétil: No eixo X: 𝑥 = 𝑥0 + 𝑣0𝑥 𝑡 Como o exercício não diz a partir de qual posição o objeto foi lançado, podemos utilizar x0 = 0. Caso o problema nos dissesse a posição inicial, deveríamos utilizá-la aqui. Lembrando sempre que o eixo X, no nosso caso, está relacionado ao movimento vertical. A velocidade que devemos utilizar é 𝑣𝑥 : 𝑥 = 0 + 14𝑡 𝑥 = 14𝑡 Essa é a equação do movimento na direção horizontal. Para a vertical temos: 𝑦 = 𝑦𝑜 + 𝑣𝑜𝑦 𝑡 + 𝑎𝑡² 2 O problema não nos diz a partir de qual altura o objeto foi lançado, portanto podemos considerar 𝑦𝑜 = 0. Para 𝑣𝑜𝑦 utilizaremos a velocidade da componente y que calculamos e para 𝑎 utilizaremos 𝑔 = −10 𝑚/𝑠², pois a única aceleração é a gravitacional. Aqui colocamos um sinal negativo pois o eixo de coordenadas está definindo que no sentido para cima os vetores são positivos. Se olharmos a figura 2, notamos que o vetor g está apontando para baixo, nesse caso, no sentido contrário ao que definimos como positivo. Portanto, utilizamos um sinal de menos para indicar. 𝑦 = 0 + 8𝑡 + (−10)𝑡² 2 𝑦 = 8𝑡 − 5t² Essa é a equação do movimento vertical. Ainda podemos determinar a equação para a velocidade: 𝑣𝑦 = 𝑣𝑜𝑦 + 𝑎𝑡 Utilizando as mesmas informações para 𝑣𝑜𝑦 e 𝑎, teremos: 𝑣𝑦 = 8 − 10𝑡 Vamos enfim, responder às questões do problema: a) Altura máxima do projétil: Vamos analisar o movimento do projétil. A altura máxima está relacionada ao movimento na vertical, portanto é essa parte que nos interessa. O movimento é bastante simples: - O projétil sobe - Para no ar - E cai. Num primeiro momento o projétil está subindo, portanto sua velocidade será positiva. Lembrando que a velocidade é a variação da posição com o tempo, portanto, se ela é positiva, quer dizer que a posição que estamos medindo está aumentando. No caso do nosso referencial, é o mesmo que dizer que a altura do projétil está aumentando, portanto, ele está subindo. Como a aceleração é negativa, a velocidade do projétil diminuirá até se tornar zero. Nesse momento, ele para no ar. Isso quer dizer que sua velocidade é igual a zero, e a aceleração negativa. No momento seguinte, sua velocidade começa a se tornar negativa. Isso quer dizer que a altura que estamos medindo está diminuindo, portanto o objeto está caindo. O que concluímos disso? Concluímos que a altura máxima é atingida no ponto em que a velocidade do objeto se torna zero, pois logo após isso o objeto começará a cair. Vamos então calcular a altura máxima do projétil, primeiro devemos determinar o instante de tempo t em que a velocidade se torna zero. 0 = 8 − 10𝑡 Isolando t: 10t = 8 t=8s O que acabamos de calcular é o tempo de subida do projétil. Após 1,4 segundos ele terá atingido sua altura máxima. Para determinar o valor dessa altura basta substituir 1,4 na equação do movimento vertical: 𝑦 = 8𝑡 − 5t² 𝑦 = 8 ∙ 0,8 − 5 ∙ (0,8)² 𝑦 = 6,4 − 5 ∙ (0,64) 𝑦 = 6,4 − 3,2 = 3,2 m Portanto a altura máxima que o projétil atinge é 3,2m e está respondida a primeira parte da questão. b) O alcance do projétil. O alcance se refere à distância horizontal que o projétil percorre. Se considerarmos que o chão é plano, ele atingirá o chão novamente quando a altura for zero, isto é, y = 0. Vamos calcular então o tempo que ele demora para voltar ao chão: 𝑦 = 8t − 5t² 0 = 8t − 5t² Ou, reescrevendo: 5t² − 8t = 0 Temos uma equação de segundo grau. Podemos resolvê-la utilizando a forma de Bhaskara. t= −𝑏 ± √𝑏 2 − 4𝑎𝑐 2𝑎 Na nossa equação: a = 5; b = 8; e c = 0 t= −(−8) ± √(−8)² − 4 ∙ (5) ∙ (0) 2 ∙ (5) t= 8 ± √64) 10 t= 8±8 10 São, portanto, dois resultados possíveis: t1 = 0 t2 = 16 = 1,6 𝑠 10 Mas o que quer dizer termos dois resultados para o tempo? Quer dizer que o projétil estará nessa altura, nesse caso, altura zero, em dois instantes diferentes de tempo. Um deles é o instante de tempo t= 0 que é imediatamente antes do objeto ser lançado. Portanto não é esse o instante de tempo que nos interessa. Eliminando a alternativa t = 0, sabemos que o tempo de voo do objeto é de 1,6 s. Certo, e como usar isso para determinar o alcance do objeto? Como foi dito, o alcance está relacionado ao movimento horizontal, portanto devemos utilizar a equação do movimento horizontal: 𝑥 = 14𝑡 Substituindo t = 1,6 𝑥 = 14 ∙ 1,6 𝑥 = 22,4 𝑚 c) O instante de tempo no qual o projétil está a uma altura 3m do chão. A diferença desse caso para os anteriores é que a informação que é nos dada agora é a altura, portanto um valor de y. O que nos é pedido é um instante de tempo, portanto, t. Basta substituir o valor de y na equação do movimento e determinarmos t. 𝑦 = 8𝑡 − 5t² 3 = 8𝑡 − 5t² 5t² − 8t + 3 = 0 Novamente temos uma equação de segundo grau. Resolvendo: t= t= −𝑏 ± √𝑏 2 − 4𝑎𝑐 2𝑎 −(−8) ± √(−8)2 − 4 ∙ (5) ∙ (3) 2 ∙ (5) t= 8 ± √64 − 60 10 t= 8 ± √4 8 ± 2 = 10 10 Novamente temos dois valores para t: t1 = t2 = 8 + 2 10 = =1s 10 10 8−2 6 = = 0,6 𝑠 10 10 Nesse caso, qual dos valores está correto? A resposta é os dois. Um deles, t = 0,6 s é referente à subida do projétil. Enquanto sobe ele atinge y = 3m. Após isso ele continua subindo, atinge 3,2m de altura e começa a cair. No movimento de queda, ele novamente passa pela altura y = 3m.