Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto – USP José Eduardo Bueno Lucas José Bazzo Menon Análises Laboratoriais Para Avaliação Da Função Renal Ribeirão Preto 2008 Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto – USP José Eduardo Bueno Lucas José Bazzo Menon Análises Laboratoriais Para Avaliação Da Função Renal Monografia apresentada ao programa de aprimoramento profissional/ SES elaborada no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto/USP/ Departamento de Apoio Médico Área: Análises Clínicas Orientador: Gilmar Humberto Bueno Ribeirão Preto 2008 AGRADECIMENTO Agradecemos primeiramente a Deus, que ao nosso lado guiou-nos com sabedoria para realização de um sonho que hoje se concretiza; Aos nossos pais, através da confiança a nós concedida, apoio e carinho; Aos nossos amigos, principalmente aos demais aprimorandos de análises clínicas pela amizade concedida nestes anos... Aos funcionários do Laboratório central do Hospital das Clinicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto-USP, pela oportunidade do amadurecimento profissional, pelo ambiente familiar concedido que sempre nos deram o suporte certo para nossa adaptação e aprimoramento prático; E especialmente ao Biologista responsável, Gilmar Humberto Bueno por sua dedicação e amizade, sempre se sacrificando em prol dos Aprimorandos; O nosso eterno, “MUITO OBRIGADO” Resumo O presente trabalho tem como objetivo avaliar estatisticamente a retrospectiva da demanda de exames do Laboratório de Nefrologia do Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto-USP e apresentar de forma clara e didática informações a respeito dos exames da avaliação da função renal. Apresenta também, noções a respeito da fisiopatologia dos distúrbios freqüentes do sistema renal. Sumário 1- Introdução.............................................................................................. 6 2- Objetivo................................................................................................. 7 3- Materiais e Procedimentos metodológicos............................................ 8 3.1- Tipo de estudo................................................................................... 8 3.2- O Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo...........................................................8 4- Revisão bibliográfica............................................................................ 11 4.1- Aspectos morfofuncionais do sistema renal............................. 12 4.1.1- Aspectos anatômicos.............................................................. 12 4.1.2- Aspectos fisiológicos............................................................. 16 5- Exames da avaliação da função renal.................................................... 21 5.1- Dismorfismo eritrocitário.......................................................... 21 5.1.2- Fisiopatologia da Hematúria.................................................. 23 5.1.3- Fatores pré-analíticos e coleta urinária.................................. 24 5.1.4- Método Laboratorial.............................................................. 25 5.1.5- Valores de Referência............................................................ 26 5.2- Depuração da Creatinina........................................................... 27 5.3- Microalbuminúria..................................................................... 28 5.4- Avaliação laboratorial da Nefrolitíase...................................... 30 5.4.1- Oxalato de Cálcio................................................................... 32 5.4.2- Fosfato de Cálcio................................................................... 32 5.4.3- Fosfato de amônio-Magnésio................................................. 32 5.4.4- Ácido Úrico........................................................................... 32 5.4.5- Cistina.................................................................................... 32 5.4.6- Testes Laboratoriais Urinários na Investigação da formação de Cálculos............................................................................................ 32 6- Resultados e Discussão......................................................................... 33 7- Conclusão.............................................................................................. 39 8- Referências Bibliográficas.................................................................... 40 1.- Introdução A nefrologia é uma área médica sempre em transformação Inovações terapêuticas e disponibilidade de recursos tecnológicos vem em auxilio do acompanhamento do nefropata, assim como na avaliação rotineira de pacientes assintomáticos. Muitas vezes silenciosa, a doença renal se estabelece de várias formas e a necessidade de uma área de apoio ao clínico se torna necessário. O laboratório clínico especializado na área de nefrologia permite ao clínico obter resultados mais específicos e de forma mais completa quanto ao quadro do paciente, permitindo uma avaliação segura do paciente. 6 2.-Objetivo -Fazer um estudo estatístico dos exames realizados no Laboratório de Nefrologia do Hospital das Clinicas de Ribeirão Preto-USP. -Observar quais exames são mais solicitados e observar o crescimento da demanda de exames no Laboratório de Nefrologia do Hospital. 7 3.-Materiais e Procedimentos Metodológicos Materiais Para esta monografia não são muitos os materiais: - Banco de dados do Laboratório de Nefrologia do Hospital das Clinicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto; - Referencias bibliográficas citadas; Método -Fazer uma revisão literária sobre o conteúdo; -Analisar o banco de dados do Laboratório de Nefrologia do HCFMRP; -Fazer as conclusões necessárias para obter os resultados requeridos no objetivo. 3.1-Tipo de estudo O presente trabalho trata-se de um estudo de avaliação, analítico, descritivo e retrospectivo a partir de análise de documentos que registraram o processo laboratorial de exames solicitados na nefrologia do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo – Unidade Campus. 3.2-O Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo O Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (HCFMRP-USP) é uma entidade autárquica, com características de hospital- 8 escola e integrada ao Sistema Único de Saúde–SUS, em nível terciário, tendo como objetivos básicos: ensino, pesquisa e assistência. Sua estrutura organizacional e atividades obedecem aos preceitos do Decreto Estadual nº 13297, de 05/03/1979. Para o desempenho de suas atividades institucionais, dispõe de duas unidades: uma situada na área central da cidade de Ribeirão Preto, denominada Unidade de Emergência (UE) e outra situada no Campus Universitário (Unidade Campus), além do Centro Regional de Hemoterapia – Hemocentro (também no Campus). O Hospital é composto por: ambulatórios, unidades de internação, laboratórios, administração, unidades de apoio, etc, e é estruturado de forma a proporcionar ensino e treinamento a estudantes dos cursos de graduação e pósgraduação da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da USP, Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto – USP, bem como aperfeiçoamento para profissionais relacionados com a assistência médico-hospitalar. A área de atuação do Hospital concentra-se, basicamente, no município de Ribeirão Preto, entretanto, ante as suas características de “Hospital Regional”, são atendidos pacientes de várias cidades da região, chegando inclusive, a ultrapassar as divisas e/ou limites do Estado de São Paulo e até mesmo do país. Segundo dados de 2003 o Hospital das Clínicas dispõe de 847 leitos, sendo 685 na Unidade Campus. Possui 16 salas cirúrgicas no Campus. Na área de apoio diagnóstico dispõem de laboratórios nas mais diversas especialidades e oferece, também, procedimentos de tecnologia de ponta, tais como: Lithotripsia, Cirurgia de Epilepsia, Transplante de Rim, Transplante de Córnea, Transplante de Fígado, Transplante de Medula Óssea, Fertilização Assistida, Diagnóstico por Tomografia Computadorizada e Ressonância magnética, Serviço de Cardiologia e Seção de Pneumologia. O ambulatório do Campus conta com, aproximadamente, 300 salas para atendimento a pacientes, congregando consultórios médicos, salas de enfermagem/orientação, pequenas cirurgias, curativos, Serviço Social, além de salas de medicação/repouso, coleta de material para exames laboratoriais, 9 vacinas, Radiologia, Central de Quimioterapia, Farmácia Ambulatorial e outros. Durante o ano de 2003 foram realizados 582.949 consultas e procedimentos, 32.806 internações e 29.397 cirurgias (HCFMRP-USP, 2003). 10 4.-Revisão Bibliográfica Todo alimento digerido pelo nosso sistema digestório é transportado através do sangue e da linfa para todas as células do nosso corpo, assim como o oxigênio. Depois que os tecidos utilizem os nutrientes e o oxigênio necessário para a sua manutenção, os detritos devem ser eliminados, para que não comprometam o funcionamento do organismo com substâncias tóxicas (AIRES, 1999). O aparelho excretor tem justamente a função de eliminar todos os detritos do organismo, bem como as substâncias em excesso, usando como via principal os rins. Entre as funções do rim, cinco se destacam por suas importâncias: -Manutenção do equilíbrio hídrico: função pela quais os rins mantêm constante a quantidade de água do organismo. -Manutenção do equilíbrio eletrolítico: papel mantido dentro de uma faixa estreita de normalidade a concentração de diversos eletrólitos. -Manutenção do equilíbrio ácido-básico: junto com os pulmões, os rins são responsáveis pela manutenção do pH do liquido extracelular dentro de valores muito estreitos. -Excreção de catabólitos: é a função mais elementar dos rins sendo responsável pela eliminação de uma serie de substancias resultantes do catabolismo orgânicos de proteínas, lipídios e carboidratos. -Função reguladora hormonal: os rins secretam diversas substâncias que agem como hormônios reguladores do funcionamento do organismo. 11 Quando há insuficiência renal, a perda destas funções desencadeia sérios problemas para o paciente. Entretanto, na maioria das vezes, a tempo de ocorrerem adaptações sistemáticas pelo tecido renal ainda não lesado. Tendo em vista a importância do sistema renal para o equilíbrio do meio interno, este trabalho enfocará as principais estruturas anatômicas, macroscópicas e microscópicas, bem como também as principais funções do sistema a fim de garantir o pleno funcionamento do nosso organismo. (GUYTON, 2002). 4.1-Aspectos morfofuncionais do sistema renal 4.1.1-Aspectos Anatômicos O Sistema renal é formado por dois órgãos denominados de rins, os quais realizam a maior parte das funções de excreção, filtrando o sangue e recolhendo deste os resíduos metabólicos de todas as células do nosso corpo. Este órgão é dotado de um sistema de tubos condutores do produto final deste filtrado, os quais chamam de vias urinárias, que são compostas por: pelve renal, ureteres, bexiga urinária e uretra. A urina produzida pelos rins, é o veículo no qual este aparelho controla a eliminação de água ,sais minerais,íons,resíduos metabólicos, enfim, substâncias que em excesso causam um desequilíbrio fisiológico em nosso organismo. (DI DIO, 1999). Os rins são estruturas retro-peritoniais, localizados na região abdominal, ao lado da coluna vertebral, entre as duas ultimas vértebras torácicas e as três primeiras vértebras lombares. São recobertos pelo peritônio e circundados por um tecido areolar frouxo, que é uma delaminação especial da fáscia subserosa denominada fáscia renal (anterior e posterior) e por uma massa de tecido adiposo denominada gordura perirrenal. O rim direito é um pouco mais caudal que o esquerdo, provavelmente devido a sua relação superior com o fígado. Sua 12 coloração é um marrom escuro; possui um formato de grão de feijão; mede aproximadamente 12 cm de altura, de 5 a 7,5 cm de largura e 2,5 cm de espessura; seu peso varia entre 125 a 170 gramas no homem adulto, e 115 a 155 gramas na mulher adulta GRAY, 1988). Apresenta um ápice, uma base, faces e margens distintas, sendo uma lateral convexa e outra medial côncava. Nesta ultima encontramos uma profunda fissura longitudinal denominada de hilo renal, região esta que permite a entrada e saída de estruturas dos rins (veias, artérias, nervos, ureteres) denominada de pedículo renal. Superficialmente o rim é revestido por uma túnica fibrosa denominada cápsula fibrosa, que confere uma proteção firme e lisa ao órgão. Embora os rins constituam menos de 0,5 % do total da massa do corpo, recebem de 20 a 25 % do débito cardíaco em repouso, por meio das artérias renais (direita e esquerda), que são dois grandes troncos que se originam da artéria aorta abdominal, ao nível do disco intervertebral entre a primeira e a segunda vértebra lombares. A artéria renal direita é mais longa que a esquerda devido à posição da artéria aorta e seguem dorsalmente as veias renais.Antes de atingir o hilo renal, cada artéria se divide 5 ramos, denominadas de artérias segmentares, que suprem segmentos diferentes do órgão. O segmento superior do rim é irrigado pela artéria segmentar superior, os segmentos anteriores são nutridos pelas artérias segmentares ântero-superiores e antero-inferiores, o segmento inferior do rim é nutrido pela artéria segmentar inferior e o segmento posterior do rim é irrigado pela artéria segmentar posterior. Ao penetrarem no seio renal cada artéria do segmento da origem a diversos ramos que entram no parênquima entre as colunas e os lobos renais, as denominadas artérias interlobares, que seguem em direção as bases das pirâmides renais em formato de arco, entre o córtex e medula renal, passando então a serem chamadas de artérias arqueadas. Daí segue em direção ao córtex renal, entre os lóbulos renais, formando as artérias interlobulares, que dão origem as arteríolas aferentes, que se divide em uma rede capilar enovelada denominada 13 glomérulo, que é a porção vascular do néfron, que será discutido adiante. Estes capilares glomerulares se reúnem para formar a arteríola eferente, que após divisões formam a rede de capilares peritubulares que circundam as partes tubulares do néfron no córtex renal e as arteríolas retas que suprem as partes tubulares do néfron na medula renal. As redes de capilares peritubulares se reúnem para formarem as vênulas peritubulares e em seguida as veias interlobulares, que drenam o sangue para as veias arqueadas, que correm em direção as colunas renais como veias interlobares que se une no seio renal formando as veias comunicantes, que deixam o rim por meio das veias renais (direita e esquerda) sendo que a veia renal direita é menor que a esquerda, devido à posição da veia cava inferior, onde o sangue venoso é levado à circulação sistêmica (DÂNGELO; FATTINI, 2006) Se fizermos um corte longitudinal em um rim, passando pelas suas bordas, iremos observar as estruturas macroscópicas internas do rim. Ao observarmos uma de suas faces, veremos uma camada fibrosa externa, apresentada em forma de casca, na qual denominamos de córtex renal. Em direção a face medial, encontraremos a medula renal, estrutura avermelhada escura em um formato triangular, com a sua base voltada para o córtex e seu vértice voltado para o seu interior, denominada de pirâmide renal, intercalada por estruturas em forma de colunas, na qual denominamos de colunas renais (DI DIO, 1999). No ápice destas pirâmides encontramos a papila renal, estrutura com várias perfurações (como chuveiro), denominada de área crivosa, que lança sua excreta em um sistema de cálices renais (maiores e menores) que se unem formando a pelve renal, conjunto de tubos também conhecido por sistema cálico-piélico, que apresenta continuidade em um tubo fino chamado de ureter. Este sistema, juntamente com os vasos e nervos que tem acesso ao rim, encontramse em uma expansão do hilo renal denominada seio renal. O ureter mede aproximadamente 25 a 34 cm de comprimento, é composto de três camadas distintas: a mais externa é túnica adventícia, composta por tecido conjuntivo, sendo parcialmente revestida de serosa nas 14 regiões onde o ureter está em contato com o peritônio; a túnica média composta por musculatura lisa; e a túnica interna é composta por camada mucosa. Segue seu trajeto retroperitonealmente até um saco musculomembranoso localizada na cavidade pélvica denominada de bexiga urinária, um órgão especializado em armazenar urina, e quando esta se encontra totalmente cheia, com as suas fibras musculares estiradas (músculo detrussor), estas se contraem eliminando a urina armazenada por um outro tubo chamado de uretra, que se estende do óstio interno da uretra no fundo da bexiga, até o óstio externo da uretra na glande do pênis no sexo masculino, e no vestíbulo da vagina no sexo feminino (DI DIO, 1999; GARDNER, 1998). A bexiga urinária masculina se diferencia em muito da feminina, devido à presença da próstata, inferiormente, e das vesículas seminais e ductos deferentes, lateralmente. Já a bexiga urinária feminina ao invés de se relacionar posteriormente com o reto, como faz a masculina, relaciona-se com o útero. A uretra masculina também se diferencia da feminina em relação ao seu comprimento, sendo a feminina menor medindo cerca de 4 cm, e a masculina maior e variando seu comprimento entre 17,5 a 20 cm, sofrendo denominações específicas devido ao órgão que atravessa. A porção da uretra masculina que atravessa a próstata denomina-se uretra prostática; a porção da uretra que atravessa o soalho da pelve e músculo esfíncter externo da bexiga denomina-se uretra membranácea e finalmente a porção da uretra que penetra no bulbo do pênis, onde se encontra o corpo esponjoso do pênis, denomina-se uretra esponjosa. Outra diferença da uretra masculina para a feminina, é que na primeira além de servir como via para eliminação de urina, também serve como via para eliminação de gametas espermatozóides (MOORE, 2007) Anatomicamente também é muito importante a relação da porção final do sistema digestório (ânus), com o pudendo feminino (óstio da vagina e óstio externo da uretra) para os estudos das patologias urinárias, pois esta proximidade é uma das principais causas das 15 infecções urinárias do sexo feminino, devido à higienização feita de forma incorreta nestes órgãos. 4.1.2- Aspectos fisiológicos O rim desenvolve um papel exócrino, que é em si a formação de urina, ora mais, ora menos diluída, e também desenvolve suas funções endócrinas, através de células secretoras específicas, das quais muitas ainda não são bem definidas; contudo a função homeostática do Meio interno, sendo a função principal do rim, é a efetuada pela formação de urina na unidade funcional básica do rim que é o néfron, um conjunto de estruturas vasculares e renais que visam à formação de urina de acordo com o papel homeostático do qual o rim está incumbido (GUYTON, 2002). Como descrito anteriormente, a unidade morfofuncional básica do rim é o néfron. Toda a urina resulta da filtragem do sangue que passa por estes néfrons, no qual se calcula que existam cerca de 6 a 12x10 5 néfrons. Isto não significa que todos são funcionantes, variando justamente de acordo com a ritmicidade da função renal, existindo néfrons ativos e de repouso, o que significa uma reserva funcional para o rim, que provavelmente serão utilizados em uma situação de sobrecarga renal (AIRES, 1999) A unidade nefrônica urinária está constituída por diferentes elementos que desenvolvem também papeis funcionais diferentes na formação da urina. Esta se inicia pela cápsula de Bowman, na qual existem duas lâminas ou membranas, uma parietal mais externa e outra interna, da qual está separada por um espaço capsular, onde se acumula o filtrado glomerular (GUYTON, 2002). A camada interior se adere firmemente à estrutura capilar vascular, o glomérulo, através da membrana basal, de modo que o endotélio vascular, o epitélio da cápsula e a 16 mesma membrana basal formam o glomérulo renal. Este glomérulo renal se origina a partir da artéria renal, proveniente a artéria aorta abdominal, de modo que após várias ramificações deste vaso, como descrevemos anteriormente, forma-se a arteríola aferente, de diâmetro relativamente largo e de grande quantidade de musculatura lisa desenvolvida, originando uma estrutura secretora denominada de polkissen ou aparelho justa glomerular, sensível às variações de fluxo sanguíneo e uma das estruturas responsáveis pela secreção de renina. Logo após esta arteríola se introduz a cápsula de Bowman e dá lugar a uma profusa rede de capilares, de aspecto enovelado, os glomérulos renais, que possui uma elevada pressão hidrostática nestes capilares glomerulares, cerca de 60 mm Hg, o que resulta na rápida velocidade de filtração, o que diferencia grandemente com a pressão hidrostática da rede capilar peritubular, que varia em cerca de 13 mm Hg, o que facilita grandemente na rápida absorção de líquidos (AIRES, 1999) Assim como a maioria dos capilares, os capilares glomerulares são relativamente impermeáveis às proteínas, de modo que o filtrado glomerular é essencialmente desprovido de proteínas e de elementos celulares, inclusive eritrócitos, sendo assim, as concentrações do filtrado glomerular presente nos túbulos do néfron, incluindo as moléculas orgânicas e os sais, assemelham-se às concentrações encontradas no plasma sanguíneo. Na saída do glomérulo, ao invés de formar uma vênula, esta rede forma uma outra arteríola denominada arteríola eferente, de diâmetro relativamente menor que a aferente, também com musculatura lisa desenvolvida, porém com propriedade de se contrair sob influência de substancias vaso-ativas ou sobre ação do sistema nervoso. Da arteríola eferente surgem capilares pós-glomerulares envolvendo o néfron, que podem ser corticais ou justamedulares. No caso de néfrons corticais, os capilares pós glomerulares vão se dispor de maneira a formar uma rede capilar peritubular, envolvendo os túbulos contornado proximal e distal. Caso sejam néfrons justamedulares, os capilares 17 formaram os chamados vasa recta, que como o nome diz, são vasos que se dirigem paralelamente aos túbulos contornados. Só depois deste trajeto é que estes capilares organizam-se em vênulas, que se confluem formando o sistema venoso renal, chegando à veia renal que se desemboca na veia cava inferior (GUYTON, 2002). Como foi comentado acima, existe um sistema de túbulos que se formam a partir do estreitamento da cápsula de Bowman na qual denominamos de túbulo contornado proximal e túbulo contornado distal. O túbulo contornado proximal é um túbulo de formato irregular, situado totalmente no córtex renal, formado por células cilíndricas e prismáticas, exibindo em seu pólo apical microvilosidades, as bordas de escova, aumentando a área e superfície tubular, e com isto aumentando também a sua capacidade absorção, pois além de possuírem células epiteliais com grande quantidade de mitocôndrias para sustentar os vigorosos processos de transporte ativo, também possuem nas bordas de escova moléculas protéicas transportadoras, que possibilitam o mecanismo de co-transporte de sódio ligado a múltiplos nutrientes orgânicos, por exemplo, os aminoácidos e a glicose, e o mecanismo de contra transporte, que reabsorvem sódio dos túbulos renais e secretam na luz do túbulo íons de hidrogênio e de potássio. Os túbulos contornados proximais fazem a reabsorção maciça do filtrado glomerular, liberando para a porção descendente da alça de Henle 40 % do volume que penetrou na cápsula de Bowman. Este túbulo se aprofunda em direção a medula, terminando seu trajeto na porção descendente da alça de Henle, um tubo em forma de “U”, que pode ter uma alça curta se esta pertencer a um néfron cortical, ou uma alça mais profunda se esta pertencer a um néfron justa medular, que neste ultimo caso pode ser tão profundo que a alça se aproxima da papila renal (AIRES, 1999). No ramo descendente da alça de Henle, a membrana é bastante permeável à água e aos íons de sódio e cloro. Já o mesmo não ocorre com relação à membrana do ramo ascendente, 18 que é impermeável à água e, além disso, apresenta um sistema de transporte ativo que promove um bombeamento constante de íons sódio do interior para o exterior da alça, carregando consigo íons cloreto. Devido a estas características, enquanto o filtrado glomerular flui através do ramo ascendente da alça de Henle, uma grande quantidade de íons sódio é bombeada ativamente do interior para o exterior da alça, carregando consigo íons cloreto. Este fenômeno provoca um acúmulo de íons de sódio e de cloro no interstício medular renal, aumentando assim sua concentração, e com isto a sua osmolaridade também é aumentada, quando comparada aos outros compartimentos corporais. Essa osmolaridade elevada faz com que uma considerável quantidade de água constantemente flua do interior para o exterior do ramo descendente da alça de Henle, enquanto que, ao mesmo tempo, os íons de sódio e de cloro fluem em sentido contrário, no mesmo ramo. Sendo assim a função da porção ascendente da alça de Henle está relacionada com a reabsorção de sais, diluindo assim o fluído luminal, pois o epitélio é impermeável à água (GUYTON, 2002). O ramo ascendente da alça de Henle se dirige ao córtex e dá origem ao túbulo contornado distal, de localização exclusiva cortical, com células cilíndricas basais sem a presença da borda de escovas encontradas nos túbulos contornados proximais, ou na nova nomenclatura, porção convoluta do túbulo distal. Nas células epiteliais do túbulo contornado distal, forma-se a mácula densa estrutura também capaz de secretar renina, que por razões anatômicas, aproximam a sua localização ao glomérulo, porém diferentemente do aparelho justaglomerular, a mácula densa é sensível às reduções de sódio, de modo que ao chegar menos sódio pelo fluído tubular, esta condição excitaria a secreção de renina nas células que interagem a mácula densa. A partir daí, mácula densa e aparelho justa glomerular, formariam o chamado sistema justaglomerular, responsáveis pela secreção de renina que, devido a sua ação peptidásica, permite a sua cisão ao angiotensionogênio hepático, formando assim a Angiotensina I, que oferece efeitos cardio- 19 depressores fracos, talvez decorrentes do efeito que reduz o fluxo sanguíneo coronário, este sim, um efeito vigoroso exercido pela Angiotensina I. Porém sobre efeito do E.C. A (Enzima Conversora de Angiotensina) a Angiotensina I transforma-se em Angiotensina II, de amplas ações fisiológicas como: ação vasoconstritora, que é de grande importância sua ação sobre a arteríola eferente; ação estimulante direta na reabsorção de sódio na célula tubular proximal e distal, significando assim retenção isosmótica de água e aumento do volume de líquido extracelular; ação estimulante da secreção de Aldosterona, (mineralocorticóide) na zona glomerular do córtex da glândula supra–renal, que reforça fortemente o efeito anti-nautriurético do rim, principalmente no túbulo contornado distal, excretando pela urina mais potássio e íons H+, decorrente da excessiva troca de sódio por estes íons; ação sobre as células mesangiais do glomérulo, que passa e contrai diminuindo a área de filtração glomerular e a taxa de filtração glomerular; estimula a sensação de sede no hipotálamo (núcleo sub-fornicial). Foi descrito que preparados de rins hidronefróticos, que permitem a visualização in vivo da microcirculação renal, mostraram que a infusão de Angiotensina II exerce ação constritora tanto nas arteríolas aferentes quanto nas eferentes, e que a perfusão in vitro dos néfrons justamedulares demonstrou a ação preferencial deste agonista nas arteríolas aferentes. Nos trabalhos realizados por Feitosa e Carvalho (2000), foram observados que estudos prospectivos e randomizados demonstram que o uso dos inibidores da enzima conversora de Angiotensina (IECA) reduzem, de forma significativa, a morbimortalidade tanto nas formas assintomáticas, como principalmente, nas formas mais severas de disfunção ventricular esquerda, pois com esta inibição diminui-se a liberação das catecolaminas nas terminações nervosas simpáticas. Porém no sabe-se que a IECA inibe somente formação da Angiotensina II circulante, porém há evidencias da produção autócrina e parácrina da angiotensina II nos tecidos, o chamado sistema renina-Angiotensina tecidual, especialmente o muscular cardíaco, 20 e esta produção não é bloqueada. (AIRES, 1999). 5.- Exames da avaliação da função renal 5.1-Dismorfismo eritrocitário Hematúria é definida na literatura como a eliminação de um número anormal de hemácias na urina e, devido à sua complexidade, apresenta diversas propostas de classificação. Quanto à sua localização, as hematúrias podem ser classificadas em glomerulares, de origem nefrológica, ou não-glomerulares, de origem urológica. (KESSON, 1978). Quanto à intensidade do sangramento, são identificadas como macroscópicas, quando a coloração da urina sugere a presença de sangue, ou microscópicas, quando as hemácias são detectadas somente pelos sedimentos copia urinária. Quanto à freqüência, podem se apresentar de forma permanente presença constante de hemácias nas discussões na literatura sobre a validade de sua investigação, bem como a adoção de uma propedêutica mais adequada para a localização desses sangramentos (PENIDO, 1995). A investigação de hematúria requer anamnese e exame físico detalhados, bem como utilização de exames complementares adequados, sejam laboratoriais ou de imagem, evitando procedimentos agressivos, onerosos e muitas vezes desnecessários. A hemorragia glomerular é classicamente caracterizada pela presença de proteinúria e cilindros hemáticos. Entretanto, nem todos os pacientes portadores de glomerulonefrite apresentam tais alterações. Atualmente, têm-se valorizado outros achados na sedimentoscopia urinária, principalmente aqueles baseados na morfologia das hemácias, indicando com maior precisão o local do sangramento: se glomerular ou não-glomerular (BRICH, 1983). Nessa revisão, os autores avaliam a validade do estudo do dismorfismo eritrocitário pela análise da sedimentoscopia urinária, enfatizando principalmente a definição, a fisiopatologia, os métodos e os valores de referência adotados na literatura. 21 (As limitações de seu uso e comparações com demais marcadores de hemorragia glomerular também foram sedimento urinário), isolada (episódio único de hematúria), ou recorrente, quando há períodos de remissão do episódio hematúrico, com intervalos variáveis de meses até anos. Finalmente, quanto à repercussão clínica, são referidas ainda como sintomáticas ou assintomáticas (BASTOS, 1998). As hematúrias isoladas e assintomáticas merecem especial atenção pela freqüência cada vez maior entre os diagnósticos clínicos, causando grande ansiedade no paciente e em seus familiares. Na prática diária, elas aparecem como a segunda causa de consultas nefrológicas entre crianças e adolescentes. Vehaskari et a (1979) encontraram prevalência entre 0,5% e 4% em crianças. Nos adultos, foi de 20%, segundo estudos de Messing et al. (1995). Outros autores encontraram prevalência de hematúria microscópica assintomática, na população geral, entre 0,5% e 22%, dependendo da idade da população estudada e do número de hemácias considerado normal. O achado de hemácias na urina ocorre freqüentemente de maneira ocasional, principalmente quando se utiliza o exame físico-químico por fitas reagentes para detecção de hemácias (hemoglobina) em exames de rotina. No entanto, isso não traduz necessariamente um estado de doença. (BASTOS, 1998). No final da década de 1970, Birch e Fairley (1979), analisando o sedimento urinário em microscopia de contraste de fase, demonstraram uma possibilidade de distinção entre hematúrias glomerulares e não-glomerulares, baseando-se não apenas no encontro de proteinúria e cilindrúria, mas também na diferenciação morfológica das diversas populações de hemácia na urina. Segundo esses autores, a hematúria não-glomerular caracterizar-se-ia por hemácias urinárias isomórficas, com tamanho uniforme e morfologia semelhante às encontradas na circulação sangüínea. Por outro lado, na hematúria glomerular, as hemácias se 22 apresentariam dismórficas, com alterações em forma, cor, volume e conteúdo de hemoglobina, podendo-se encontrar diversas projeções em suas membranas celulares, bem como heterogeneidade citoplasmática e forma bicôncava ou esférica. 5.1.1- Fisiopatologia da Hematúria Muitos estudos tentaram explicar o mecanismo de surgimento de eritrócitos na urina, com destaque para a lesão glomerular e as alterações na permeabilidade dos túbulos, ductos e trato urinário restante. Geralmente, quando não-glomerulares, também chamadas de pósglomerulares ou extra glomerulares, as hemácias são provenientes dos túbulos, ductos ou de todo o trato urinário restante, apresentando-se na forma isomórfica. (KESSON, 1978) Quando se originam nos glomérulos, também chamadas de hemorragias glomerulares, as hemácias variam em forma, dimensão e conteúdo de hemoglobina, apresentando-se dismórficas (FASSET, 1982). Entretanto, há mais de duas décadas a literatura vem procurando explicações para as alterações dismórficas dos eritrócitos de origem glomerular. Inicialmente, procuraram-se explicações com base na lesão osmótica e química dos eritrócitos. Essa teoria fundamentava-se em danos na membrana celular das hemácias e na perda de hemoglobina ao tramitarem pelos diversos segmentos do néfron, juntamente com constantes mudanças de soluções de diversas concentrações iônicas e osmolaridades (JONES 1991). Posteriormente, sugeriu-se ser o traumatismo mecânico o possível causador do dismorfismo (KUBOTA, 1988). Ao atravessarem a membrana basal glomerular pelos hiatos existentes entre seus capilares, os eritrócitos urinários sofreriam uma compressão importante, com conseqüente deformação de sua membrana celular e redução de volume. Essas alterações 23 foram reproduzidas por Kubota et al. (1988), fazendo ensaios em que hemácias atravessavam poros de 3µm sob pressão. A liberação de mediadores químicos e de enzimas digestivas, após lesão celular, na vigência de quadros infecciosos ou de processos inflamatórios glomerulares e as eritrofagocitoses, pelas células tubulares renais, também foram apontadas como possíveis fatores de deformidade das hemácias. Embora a teoria mecânica venha sendo mais aceita atualmente na literatura, seria mais prudente acreditar na miscelânea de todos os fatores acima como determinantes das alterações do dismorfismo eritrocitário (KINCAID-SMITH, 1982) 5.1.2- Fatores pré-analíticos e coleta urinária Devido à importância de se realizar uma coleta adequada para garantir a representatividade da amostra, vários estudos na literatura relacionaram alguns fatores préanalíticos capazes de interferir na avaliação do dismorfismo eritrocitário. Após assepsia da região genital, coletar preferencialmente o jato médio da primeira urina da manhã, ou de qualquer outra hora, desde que se respeite estase vesical de pelo menos 2 a 4 horas. Alguns autores relatam uma preferência pela primeira urina da manhã, que, por ser mais ácida e mais concentrada, preservaria os cilindros, os elementos celulares e todos os demais componentes do sedimento urinário. Forçar a diurese por ingestão de grande quantidade de líquido não é aconselhado, segundo trabalho de Schuetz et al. (1985), pois as hemácias seriam facilmente lisadas em urinas diluídas (densidade < 1.006). Embora não seja critério de exclusão, a prática de exercícios físicos intensos prévios à coleta também seria desaconselhada por alguns autores, pois a relação entre exercício físico e hematúria, descrita por Collier desde 1907 (citado por Kesson et al. (30)), é confirmada por vários estudos na 24 literatura. Em casos de períodos menstruais ou trauma do trato urinário, sugere-se aguardar alguns dias para a realização do exame (PENIDO, 1995). Ainda se discute se o tempo entre a coleta da amostra e a realização do ensaio laboratorial seria capaz de alterar a morfologia das hemácias. Stapleton et al. (1987) aconselharam a realização do teste no máximo até 60 minutos após a coleta. Por outro lado, existem trabalhos, como o de Rizzoni et al. (1983), que não encontraram mudanças nos padrões dismórficos dos eritrócitos relacionadas com o horário da coleta e o tempo entre esta e a análise. Mohammad et al. (1993), avaliando lâminas a fresco após 16 horas e lâminas fixadas após 12 dias, observaram que a proporção de células dismórficas se manteve inalterada. Embora controverso, recomenda-se um tempo máximo de 2 a 4 horas entre a coleta e o exame urinário, para não ocorrer interferência por alcalinização, proliferação bacteriana ou outros fatores que possam alterar a morfologia das hemácias (PENIDO, 1995). 5.1.3- Método laboratorial A microscopia por contraste de fase parece ser o melhor método de análise do sedimento urinário, principalmente para o estudo do dismorfismo eritrocitário, dispensando o uso de colorações especiais (TOMITA, 1992). As etapas de sua realização mostram-se semelhantes entre as várias metodologias empregadas em trabalhos da literatura(ZAMAN et al, 2000). Após a coleta, centrifugam-se 10ml de urina durante 5-10 minutos, numa velocidade de 400g ou a 1.500rpm. Posteriormente, removem-se 9,5ml do líquido sobrenadante gentilmente ressuspende-se o sedimento naquele 0,5ml de urina restante, de onde se retira pequena alíquota para exame microscópico. Nessa alíquota identificam-se as 25 populações celulares, sendo necessária análise de pelo menos cem eritrócitos para avaliação do dismorfismo (COHEN, 2003) 5.1.4- Valores de referência Os valores laboratoriais utilizados para a definição de hematúria ainda são controversos. Alguns autores consideram hematúria a presença de cinco ou mais hemácias por campo microscópico de grande aumento (400x), após centrifugação da amostra urinária, em pelo menos dois exames de urina distintos. Outros consideram hematúria um número superior a dez hemácias por campo 400x. Existem trabalhos que preferem avaliar a presença de hemácias por mililitro (ml) de urina após centrifugação, considerando hematúria valores acima de 8 mil hemácias/ml de urina e hematúria macroscópica >106 hemácias/ml de urina.(BASTOS 1998). Habitualmente, o valor de 5 mil hemácias/ml de urina vem sendo adotado como limite superior da normalidade por muitos laboratórios. Na definição de dismorfismo eritrocitário, Birch e Fairley (1979) consideraram o limite para caracterização de hemorragia glomerular a presença de quatro ou mais diferentes populações de hemácias. Mesmo não definindo um valor percentual de dismorfismo limítrofe de normalidade, esses autores já haviam observado que, quanto maior fosse esse percentual, maior seria a probabilidade de lesão glomerular. Vários trabalhos procuraram determinar esse valor de referência: alguns autores adotam a presença de, no mínimo, 20% de dismorfismo como indicativo de hematúria glomerular, tanto para crianças quanto para adultos. Outros encontraram bons resultados utilizando um limite de 10%. Entretanto, outros artigos, como o de De Santo et al. (1987), visando a aumentar a sensibilidade do teste, propõem elevação do valor de corte para 80%, o 26 mesmo recomendado pela Associação Americana de Urologia. Diante do exposto, fica claro que ainda não existe um consenso na literatura sobre qual porcentagem de dismorfismo eritrocitário deve ser adotada e se deve ser adotado algum percentual para definir hematúria glomerular.(DINDA, 1997). Quanto ao valor limítrofe para o encontro de acantócitos, Kohler et al. (1991) relataram especificidade de 98% e sensibilidade de 52% para hematúria glomerular, Considerando uma presença de pelo menos > 5% na urina. Recentemente, Catala et al (2002), adotando esse mesmo limite, também evidenciaram bom resultados, com sensibilidade de 88% e especificidade de 100%. Para as células G1, os estudos iniciais de Tomita et al. (1992) obtiveram sensibilidade de 89% e especificidade de 95% para lesão glomerular, considerando o limite de > 1%. Kitamoto et al. (1993) e Lettgen e Wohlmuth (1995), propondo limite > 5%, obtiveram 100% de especificidade. Embora exista uma variação de 1% a 35% para o limite de normalidade a maioria dos autores prefere adotar o valor de ≥ 5% de acantócitos ou de células G1 como referência para caracterização da hematúria de origem glomerular, obtendo melhores resultados em relação ao percentual de 80% de dismorfismo adotado por estudos simpatizantes ao de Birch e Fairley (1979) 5.2-. Depuração de creatinina A capacidade de filtração glomerular é a avaliada pela depuração de uma substância. Essa função exprime o volume de plasma que passa pelos glomérulos, tornando-o isento dessa substância, por unidade de tempo. Ela é expressa pelas unidades de volume (ml) e tempo (minuto). A creatinina não possui todas as características para ser considerada substância ideal para a avaliação da filtração glomerular, mas apresenta algumas qualidades, como a de ser 27 uma substância endógena, não precisando ser infundida. Sua concentração plasmática é constante. Possui uma estabilidade plasmática e urinária. Habitualmente, considera-se de 70 a 120 mL/minuto/1,73m² o intervalo de referência.(ANDRIOLO, 2006). 5.3-Microalbuminúria A albumina é excretada na urina em quantidade contínua, e encontra-se aumentada em alguns pacientes com diabetes mellitus. Foi verificado que, nesses pacientes, existe um período latente entre o início da lesão renal e a doença renal manifesta. Durante essa fase, a lesão glomerular se expressa por meio da excreção aumentada da albumina. Entretanto, essas quantidades são muito pequenas para serem detectadas pelos testes laboratoriais padrões e mesmo nas investigações de proteinúria nas 24 horas. Por isso, a imunoturbidimetria/nefelometria, método mais sensível, é preferível para proceder à investigação, visto que os testes tradicionais só resultam positivos em níveis de 150 a 200mg/L. A microalbuminúria pode ser definida como uma persistente elevação da albumina urinária, acima de 20 µg por minuto. Aparece antes da manifestação clínica da proteinúria, detectável pelos métodos tradicionais, e tem se mostrado um marcador preditivo do aumento de falência renal e mortalidade precoce dos pacientes diabéticos, em muitos e diferentes estudos detalhados e rigorosos. Estudos relatam a manifestação da microalbuminúria 5 anos antes da manifestação clínica clássica do quadro de diabetes mellitus. Outros sugerem sua utilização na monitoração do aparecimento de lesão renal em pacientes com hipertensão, lúpus eritematoso sistêmico e durante a gravidez nas suspeitas de quadros de pré-eclâmpsia. (ONER, 1991) 28 A excreção de albumina é mais alta em fumantes do que em não-fumantes e diminui 30-50% durante a noite, possivelmente devido à pressão sangüínea e a taxas de filtração glomerular mais baixas à noite. Devem ser dosadas, no mínimo, 3 amostras em datas variadas no período de 1 mês, e pelo menos 2 devem ser positivas para a confirmação do diagnóstico de microalbuminúria. A coleta de múltiplas amostras se faz necessária, visto que a excreção pode variar de um dia para o outro. A variação biológica entre as amostras, durante um período de 1 mês, segundo a literatura, pode ser de 20 a 40%. Fatores interferentes incluem exercício, infecção urinária, doença aguda e qualquer outro fator que leve a resultados falso-positivos de proteína na urina. Alguns autores sugerem que a coleta deve ser realizada à noite (urina nas 12 horas noturnas) para que ocorra em repouso, evitando a interferência do exercício nos valores da albumina urinária. A presença de microalbuminúria identifica os pacientes com maior risco de desenvolvimento de nefropatia diabética. A incidência de nefropatia diabética é de aproximadamente 30% para pacientes com diabetes mellitus insulino-dependente (DMID) e varia entre 25% e 60% entre pacientes com diabetes mellitus Tipo II não-insulino-dependente (RAMAN, 1996). Pacientes com DMID, a microalbuminúria prediz o desenvolvimento de proteinúria persistente em 80% e grave lesão renal subseqüente. Em contraste, a maioria dos pacientes com excreção de albumina urinária menor do que 30 mg/dia permanece saudável. O risco de progressão para doença renal em pacientes com microalbuminúria é 20 vezes mais alto do que nos pacientes com excreção normal. A hipertensão é o principal fator preditivo para o desenvolvimento de microalbuminúria. Recentes estudos acompanharam pacientes que cursavam com microalbuminúria, hipertensão, resistência periférica à insulina e hipertrofia renal e cardíaca. 29 O risco de macroalbuminúria (>300 mg/24 h) e de declínio da taxa de filtração glomerular é de 80% em 10 anos, em comparação aos 5% de risco desse tipo de evolução verificados nos pacientes que cursam com normoalbuminúria. Já nos pacientes diabéticos com microalbuminúria, normotensos ou em tratamento precoce com anti-hipertensivos com inibidores da enzima angiotensina convertase, observa-se um retardo no início da macroalbuminúria e na diminuição da taxa de filtração glomerular. 5.4- Avaliação laboratorial da nefrolitíase Litíase renal é uma doença manifestada pela formação de cálculo renal. A presença de cálculos nos rins, ureteres ou bexiga, além de causar forte dor pode infringir sérios danos teciduais. Cálculos são precipitações como agregados de vários componentes de baixa solubilidade normais da urina. Podem ser formadas pela combinação de bactérias, células epiteliais, sais minerais em uma matriz protéica e muco. Muitas vezes a precipitação de compostos relativamente insolúveis é iniciada ou agravada por infecção, desidratação, excessiva ingestão ou produção de compostos, obstrução urinária e outros fatores. A maioria dos cálculos consiste de oxalato de cálcio (30 % do total), fosfato de cálcio (10% do total) ou numa mistura deles (25% do total). O fosfato amônio magnesiano contribui com 25 por cento de todos os cálculos, sendo que o ácido úrico com 5 por cento e a cistina com 2 por cento. Uma vez formado, o cálculo tende a crescer por agregação, a menos que seja desalojado e desça através do trato urinário para ser excretado. Os cálculos maiores podem permanecer no rim ou obstruir um ureter do qual deve ser removido por cirurgia.(ÂNGULO, 1999). 30 A passagem de cálculo para baixo dos ureteres produz dor excruciante aguda do tipo em cólica, localizada no flanco e irradiando-se para a virilha. A hematúria macroscópica é um achado urinário comum quando os sintomas de cálculos estão presentes. Se os cálculos obstruírem a pelve renal ou o ureter, resultará em hidronefrose. Várias investigações mostraram que uma matriz orgânica parece ser componente essencial a todos os cálculos urinários. Esta matriz mucóide contém 69 por cento de proteínas, 14 por cento de carboidratos, 12 por cento de componentes inorgânicos e 10 por cento de água. O precursor da matriz é uma proteína encontrada em pequenas quantidades na urina humana, a uromucóide. O mecanismo exato de como a uromucóide é transformada em matriz e como agrega compostos orgânicos e inorgânicos para a formação do cálculo, é desconhecido. Certas deficiências nutricionais e vários estados patológicas parecem desencadear este mecanismo. A recorrência de cálculos provavelmente envolve muitos fatores, tais como Ingestão reduzida de líquidos (fluxo de urina), excreção de quantidades excessivas de substâncias relativamente insolúveis (cálcio, ácido úrico, cistina ou xantina), ausência de uma substância na urina,que sob condições normais inibe a precipitação de alguns destes compostos insolúveis. Vários tipos de cálculos estão associados com desordens específicas. São conhecidos vários tipos de cálculos segundo a composição: 5.4.1- Oxalato de cálcio São provocados por urina concentrada, hipercalciúria, intoxicação pela vitamina D, hiperparatireoidismo, sarcoidose), síndrome do leite-álcali, câncer, osteoporose, acidose tubular renal, hipocitratúria, hiperuricosúria e hiperoxalúria. 5.4.2- Fosfato de cálcio 31 Ocorrem em urinas alcalinas na acidose tubular renal, ingestão de álcalis e infecção por bactérias desdobradoras de uréia (ex.: Proteus). 5.4.3- Fosfato de amônio-magnésio (estruvita) As infecções do trato urinário tratados com vários antibióticos são as principias causas de formação de cálculos fosfato amônio -magnésio. 5.4.4- Ácido úrico Estão associados à hiperuricosúria (hiperuricemia, gota, dieta rica em purinas), desidratação e hiperacidez urinária (pH < 5,0). 5.4.5-Cistina. São encontrados na hipercistinúria e formam-s e em pacientes com deficiência inata de transporte de cistina pelas células dos túbulos renais. 5.4.6- Testes Laboratoriais urinários na Investigação da Formação De Cálculos Exame qualitativo de urina (EQU) onde é comum o a presença de hematúria macroscópica, pesquisa de cistina e urocultura. Dosagens em urina de 24 h de: sódio, cálcio, fósforo, ácido úrico, oxalatos e depuração de creatinina. pH urinário é útil, pois urinas ácidas tendem a favorecer a formação de cálculos de ácido úrico enquanto urinas alcalinas dissolveos. De modo oposto, os cálculos fosfato amônio–magnésio ocorrem em pacientes com infecções recorrentes do trato urinário ou com urinas alcalinas persistentes. 32 6.- Resultados e Discussão Os resultados são uma analise de dados de janeiro, fevereiro e março de 2008 de exames realizados no Laboratório de Nefrologia do Hospital das Clinicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto-USP. 450 393 400 421 350 exames 300 254 250 200 150 100 50 0 janeiro f evereiro março Série1 Gráfico I – Quantidade de exames realizados no laboratório de nefrologia 33 total de exames(janeiro, fevereiro e março) analise do calculo renal clearence de creatinina 7 clearence de fosforo 23 20 84 7 creatinina liq. 7 creatinina urina dismorfismo urinariio 272 9 fena 73 glicose liq. microalbuminuria 67 2 10 32 56 osmolalidade diversos osmolalidade serica osmolalidade urinaria ph urinario 81 284 3 31 potassio liq. potassio urinario sodio liq. sodio urinario Gráfico II - Quais exames realizados no laboratório de nefrologia 34 clearence de creatinina 120 99 101 f evereiro março 100 80 72 60 40 20 0 janeiro Gráfico III – valores referentes aos exames de Clearence de Creatinina 35 microalbuminuria 140 124 120 97 exam es 100 80 63 60 40 20 0 janeiro fevereiro março Gráfico IV – valores referente aos exames de Microalbuminúria 36 exam es externos 2 ribeirao preto barrinha 2 cassia dos coqueiros 7 serra azul serrana 1 0 cajuru 1 Gráfico V – valores de exames realizados para fora do HC 37 ocorrencias aparelho quebrado 4 exame não realizado no soro 1 6 1 material mal colhido 5 solicitamos novo material 2 8 não recebemos este material falta reativo 0 2 4 6 8 Gráfico VI – referente a ocorrências no laboratório de nefrologia 38 7- CONCUSÃO Com este trabalho conclui-se que o Laboratório de Nefrologia do Hospital das Clinicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto-USP tem uma demanda crescente, e que no mesmo são realizados exames de grande importância para a complementação diagnostica, principalmente pelo fato deste órgão institucional terciário ser de referencia nacional na área de nefrologia. 39 8.- Referências Bibliográficas 1- AIRES, MARGARIDA DE MELLO. 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