9. Recomendações para Tratamento da Anemia no Paciente Pediátrico Clotilde Druck Garcia e Maria de Fátima Santos Bandeira RECOMENDAÇÃO 9.1. DIAGNÓSTICO DE ANEMIA RECOMENDAÇÃO 9.3. SUPLEMENTAÇÃO DE FERRO 9.1.1. O diagnóstico de anemia na população pediátrica com DRC, independente do estágio da doença, deve obedecer aos critérios diagnósticos recomendados para a população pediátrica geral (Evidência B). 9.1.2. Início de investigação para diagnóstico e tratamento da anemia em crianças e adolescentes com DRC: • Níveis de hemoglobina menor que 11,0g/dL em crianças e adolescentes em qualquer estágio da DRC (Evidência B). • Níveis de hemoglobina menor que 12,0g/dL em crianças nos primeiros anos de vida (Opinião). 9.1.3. Em todos os pacientes com DRC, outras causas de anemia devem ser investigadas sempre que não houver compatibilidade dos índices hematimétricos e a taxa de filtração glomerular (Evidência B). 9.3.1. Pacientes com DRC estágios 1 e 2 deverão receber suplementação de ferro para manter os níveis de ferritina sérica e saturação de transferrina dentro dos valores da população geral. 9.3.2. Pacientes com DRC estágios 3 e 4: • com hemoglobina maior que 11g/dL, deverão receber suplementação de ferro para manter os níveis de ferritina sérica maior que 100ng/mL e saturação de transferrina maior que 20%. • com hemoglobina menor que 11g/dL, deverão receber suplementação de ferro para manter os níveis de ferritina sérica maior que 200ng/mL e saturação de transferrina maior que 20%. 9.3.3. Pacientes com DRC em estágio 5 (em tratamento conservador ou em programa de diálise peritoneal e hemodiálise) deverão receber ferro para manter os níveis de ferritina sérica maior que 200ng/mL e saturação de transferrina maior que 20%. 9.3.4. A administração de ferro deverá ser interrompida quando ferritina sérica maior que 500ng/mL e saturação de transferrina maior que 40% (Opinião). • Pacientes que apresentem deficiência funcional de ferro (ferritina maior que 500ng/mL e saturação de transferrina menor que 20%) e resposta inadequada aos MEEs poderão receber ferro intravenoso em doses pequenas e fracionadas (Evidência B). 9.3.5. Via de administração do ferro: • Os pacientes com DRC em estágios 1 e 2 com ferritina e saturação de transferrina abaixo dos valores da normalidade poderão receber inicialmente suplementação de ferro por via oral. • Nos pacientes com DRC em estágios 3 a 5, incluindo pacientes em diálise peritoneal, com ferritina menor que 100 ng/mL e saturação de transferrina menor que 20%, a reposição de ferro deverá ser feita preferencialmente por via intravenosa. • Pacientes com DRC em programa de hemodiálise deverão receber suplementação de ferro por via intravenosa (Evidência A). RECOMENDAÇÃO 9.2. MONITORIZAÇÃO DOS PARÂMETROS HEMATIMÉTRICOS A monitorização da concentração de hemoglobina e do “perfil” de ferro deverá ser feita em todo paciente com DRC (Evidência B). 9.2.1. Os pacientes que não estejam em tratamento para anemia devem ser avaliados, no mínimo, semestralmente (Opinião). 9.2.2. Os pacientes que estejam recebendo MEEs e/ou suplementação de ferro devem ser avaliados quanto à hemoglobina mensalmente e ao perfil de ferro trimestralmente (Opinião). 9.2.3. A amostra de sangue para avaliação do perfil de ferro deve ser coletada preferencialmente após uma semana da administração de ferro. 9.2.4. Uma avaliação completa da anemia deve ser feita sempre que ocorrer uma queda inesperada da concentração de hemoglobina (Opinião). 28 9.3.6. A administração intravenosa de ferro deverá ser feita sob supervisão médica, em ambiente adequado devido à possibilidade de reação de hipersensibilidade. 9.3.7. A infusão intravenosa de ferro poderá ser feita em “bolus”, lentamente, para aqueles em hemodiálise. 9.3.8. A infusão intravenosa deverá ser feita na diluição adequada e em velocidade tanto mais lenta quanto maior a dose administrada por aplicação. RECOMENDAÇÃO 9.4. USO DE MEDICAMENTOS ESTIMULADORES DA ERITROPOIESE 9.4.1. Os MEEs devem ser considerados em todos os casos de pacientes com DRC que apresentem hemoglobina abaixo de 11g/dL, quando outras causas de anemia foram excluídas e os estoques de ferro estiverem adequados (Evidência A). 9.4.2. A dose e a freqüência de uso dos MEEs devem ser determinadas pela hemoglobina inicial do paciente, pela velocidade de aumento da hemoglobina, características clínicas do paciente e classe do medicamento (Tabela 1). 9.4.3. A via preferencial de administração de MEE é a subcutânea, sendo que a via intravenosa favorece por conveniência os pacientes em hemodiálise (Evidência A). 9.4.4. A pressão arterial, o acesso vascular e a adequação da diálise devem ser atentamente avaliados em pacientes em uso de MEE, principalmente até que a hemoglobina alvo seja atingida (Evidência B). 9.4.5 Crianças com cistinose ou oxalose devem receber MEEs objetivando redução da necessidade transfusional (Opinião). RECOMENDAÇÃO 9.5. FAIXA IDEAL DE HEMOGLOBINA 9.5.1 O nível alvo de hemoglobina para crianças e adolescentes em tratamento com MEEs deve ser entre 11 e 12g/dL em qualquer estágio da DRC (Recomendação). Tabela 1. Distribuição dos valores médios de hemoglobina (desvio-padrão) em adolescentes segundo sexo e estágio de maturação sexual. Maturidade sexual Masculino Feminino I + II 11,96 (0,28) 12,17 (0,18) III 12,91 (0,31) 12,57 (0,17) IV+V 13,35 (0,24) 12,47 (0,17) Total 12,79 (1,72) 12,43 (1,23) Fonte: Rev. Bras. Epidemiologia, 2006; 9(4): 454-61) 9. Recomendações para Tratamento da Anemia no Paciente Pediátrico 9.5.2. Os níveis de hemoglobina não devem ultrapassar 13g/dL (opinião) 9.5.3. Pacientes com anemia falciforme devem manter hemoglobina entre 7 e 9g/dL. RECOMENDAÇÃO 9.6. TERAPÊUTICA ADJUVANTE 9.6.1. A suplementação de vitamina C, Vitamina E, Vitamina B6, carnitina, andrógeno, estatina e pentoxifilina não deve ser feita como adjuvante a MEE e ferro para o tratamento da anemia na DRC. 9.6.2. A reposição com ácido fólico e vitamina B12 é recomendada apenas em casos de deficiências destas substâncias (Evidência B). RECOMENDAÇÃO 9.7. TRANSFUSÃO 9.7.1. A transfusão deve ser considerada quando à hemoglobina é inferior a 7g/dL ou na dependência do quadro clínico (Opinião) 9.7.2. O volume a ser transfundido deve ser de 10ml/kg. RECOMENDAÇÃO 9.8. ANEMIA PÓS-TRANSPLANTE 9.8.1 O diagnóstico de anemia após o transplante deve seguir os critérios considerados em pacientes com DRC 9.8.2. Todo paciente transplantado renal sem recuperação da concentração de hemoglobina nas primeiras oito semanas ou com queda dos valores de hemoglobina deve ser investigado (Evidência B). 9.8.3. No paciente transplantado, uma avaliação clínico-laboratorial da anemia deve ser realizada antes de iniciar o tratamento com MEE. Além do estoque de ferro e da função renal, fatores específicos do transplante devem ser considerados (Evidência C). 9.8.4. O tratamento da anemia com suplementação de ferro e uso de MEE deve seguir a diretriz de tratamento da anemia na DRC (Opinião). JUSTIFICATIVA A anemia é a principal anormalidade hematológica da insuficiência renal e representa papel importante na J Bras Nefrol Volume 29 - nº 4 - Supl. 4 - Dezembro de 2007 morbidade de crianças renais crônicas. Em adultos, ela se desenvolve quando a taxa de filtração glomerular atinge 60ml/min/1,73m2 1.Em crianças, a relação entre o grau de anemia e a progressão da DRC é pouco estabelecida. A anemia pode ocorrer em 31% dos pacientes em estágio 1 a 93% daqueles em estágio 4 e 5, acometendo, de forma moderada ou grave, a quase totalidade das crianças com DRC2,3. Na doença renal crônica, a perda progressiva da massa renal resulta em menor produção de eritropoetina e conseqüente falta de estímulo para a medula óssea, determinando a anemia hipoproliferativa. A Eritropoetina Recombinante Humana (ERHu) representou um sucesso terapêutico inconteste na correção da anemia da DRC 4,5,6, embora um grande percentual de pacientes ainda não usufrua a totalidade dos benefícios desta medicação7,8. A Organização Mundial de Saúde define anemia como hemoglobina menor que 11g/dL em crianças entre 6 meses e 6 anos e menor que 12g/dL em crianças de 6 a 14 anos9. Valores médios de hemoglobina um pouco maiores são observados na Tabela 210. O NKF - DOQI sugere que haja a investigação e tratamento da anemia quando valores de hemoglobina forem inferiores ao percentil 5 da tabela da National Health and Nutrition Examination Survey III (NHANES)11. A quantificação da anemia deverá ser feita preferencialmente através da hemoglobina e não do hematócrito, uma vez que este depende do Volume Corpuscular Médio (VCM) e da contagem total de eritrócitos e está mais sujeito a erros. As amostras sanguíneas, estocadas por mais de oito horas, resultam em edema das hemácias, aumentando falsamente o hematócrito, enquanto a hemoglobina, nas mesmas condições, permanece constante. O momento para o início do tratamento da anemia não deve ser definido somente pelos níveis de hemoglobina, mas devem ser considerados os potenciais benefícios na melhora da qualidade de vida, performance escolar e desenvolvimento neurocognitivo11. Ao contrário da população adulta, as crianças e adolescentes apresentam variadas necessidades metabólicas, de crescimento e desenvolvimento de acordo com o sexo e faixa etária. Tabela 2. Distribuição dos valores médios de hemoglobina (e faixa de variação) em crianças Faixa etária Níveis médios Faixa de de Hb (g/dL) 0-3 meses 12 9.5 6m a 6 anos 12 10.5 7 a 12 anos 13 11 (Adaptada de BEHRMAM e KLIEGMAN, 2000). variação 14.5 14 16 29 A avaliação clinica e laboratorial da anemia inclui a busca diagnóstica e tratamento prévio de todos os fatores coadjuvantes na sua fisiopatogenia que vão representar impedimentos à resposta plena a MEE, como: deficiência de ferro, estados inflamatórios, infecções agudas, perdas sanguíneas, hiperparatireoidismo, deficiência de folato e intoxicação pelo alumínio. Para aqueles em tratamento dialítico, a dose de diálise adequada pode melhorar a anemia e favorecer a resposta ao MEE. A deficiência de ferro pode resultar de carência nutricional, má-absorção pelo trato gastrintestinal ou de perdas sanguíneas continuadas. À medida que a doença renal avança, os níveis séricos de eritropoetina diminuem e o ferro, liberado do ciclo de sobrevida da hemácia, se acumula no sistema reticuloendotelial, compensando uma possível deficiência de ferro causada pela anorexia. Quando o paciente inicia tratamento hemodialítico, as constantes perdas sanguíneas excedem a capacidade de absorção do ferro e a anemia ferropriva se sobrepõe, agravando aquela já existente. Uma deficiência funcional de ferro ocorre em estados inflamatórios agudos ou crônicos, em que há um bloqueio na liberação do ferro do sistema reticuloendotelial e no transporte pela transferrina, resultando em diminuição da eritropoiese. Nestes casos, o ferro sérico e a saturação da transferrina diminuem, porém a ferritina sérica aumenta. Este bloqueio só é corrigido com a reversão do estado inflamatório15. A avaliação laboratorial dos estoques de ferro precede e acompanha todo o tratamento com MEE. Estoques adequados de ferro são pré-requisitos para uma eritropoiese efetiva. A suplementação de ferro, via parenteral, é fundamental para crianças em hemodiálise16, enquanto a via oral pode ser utilizada naquelas em estágios DRC 3 e 4 e em diálise peritoneal. O ferro parenteral pode ser necessário para aquelas em diálise peritoneal quando os estoques de ferro baixos são causa de resposta inadequada a MEE (Opinião). A recomendação para uso de ferro oral é de 6mg/kg/d, com, no máximo, 150 a 300mg de ferro elementar ao dia, dividido em duas a três tomadas17,18 2 horas antes ou 1 hora após quelantes de cálcio e alimento para maximizar a absorção gastrointestinal11,19. Em situações nas quais a ferritina encontra-se elevada, maior que 800ng/mL, porém com saturação de transferrina inferior a 25%, há deficiência funcional de ferro (mobilização inadequada do ferro em estoque). A conduta em aplicar ferro venoso nesta situação pode resultar em pronto aumento da hemoglobina20. A avaliação de estados inflamatórios, através de marcadores como a Proteína C Reativa (PCR), pode diagnosticar uma deficiência funcional de ferro. 30 Atenção especial, no nosso meio, é acompanhar os períodos em que há interrupção do fornecimento de ERHu e suspender a administração de ferro, evitando sobrecarga. A definição da hemoglobina objetivada na população pediátrica, em tratamento com MEEs, deve levar em consideração os benefícios como melhora na atividade física, na qualidade de vida, no rendimento escolar e no desenvolvimento neurocognitivo. A faixa ideal da hemoglobina para pacientes em tratamento com MEEs, na maioria das recomendações mundiais, deve ser entre 11 e 12g/dl11,21,22. Os pacientes com anemia falciforme devem manter hemoglobina entre 7- 9g/dL. Na população adulta a hemoglobina não deve ultrapassar 13g/dL pela evidência de aumento do risco cardiovascular (Diretriz 5). Embora em crianças não haja estudos semelhantes, o grupo de trabalho do KDOQI recomenda manter a hemoglobina máxima de 13g/dL. O tratamento com MEE está disponível em todo o país, através de fornecimento pelos órgãos competentes, para a totalidade dos pacientes em diálise com indicação deste tratamento. É fundamental atentarmos para as recomendações publicadas, com o objetivo de obter as melhores respostas proporcionando aos pacientes os benefícios da correção da anemia. Critérios regionais possibilitam a distribuição para os pacientes em estágios 3 e 4. Todos os esforços possíveis devem ser feitos para que as crianças em tratamento conservador possam receber MEE, minimizando assim os danos da anemia na função cardíaca e no crescimento. Vários estudos de farmacocinética evidenciaram uma maior duração da ação dos MEEs, utilizando a via subcutânea e mesma eficiência, com doses 30%-50% menores que as intravenosas23,24. Outros estudos não demonstraram diferenças significativas entre as duas vias, especialmente quando a suplementação de ferro foi amplamente usada23. Embora a via subcutânea seja preferencial para pacientes em diálise peritoneal e em fase pré-diálise, a intravenosa é a mais confortável para aqueles em hemodiálise11,25,26. A administração subcutânea deve ser feita na região da coxa e no braço. A via intraperitoneal não é recomendada25. A freqüência de administração é variável dependendo da farmacocinética do MEE. A administração de eritropoetina para pacientes em hemodiálise deve ser duas a três vezes/semana e uma a duas vezes / semana para aqueles em diálise peritoneal. Em crianças em diálise peritoneal ambulatorial contínua ou automática, a dose total semanal pode ser feita em uma única aplicação com resultados semelhantes. Doses únicas semanais ou a cada dez dias em crianças em pré-diálise, ou naquelas com falência crônica do enxerto, estão associadas à correção da anemia. Quando a hemoglobina objetivada for alcançada e 9. Recomendações para Tratamento da Anemia no Paciente Pediátrico mantida, os intervalos de administração devem ser aumentados. As crianças necessitam de doses maiores de MEE que adultos para o mesmo grau de anemia, uma vez que a depuração da droga é maior neste grupo etário. Esquemas variados de doses semanais foram publicados, abrangendo valores entre 50 e 300U/kg/semana, reportadas em crianças em hemodiálise e em diálise peritoneal. A maioria responde a doses entre 100 e 200U/kg/semana e aquelas com menos de 5 anos de idade recebem doses maiores que 300U/kg /semana29 . A Darbepoetina alfa é análogo da ERHu com atividade biológica três vezes maior, pela duração da ação nos agentes estimuladores da eritropoiese. Trabalhos em crianças demonstram que a aplicação a intervalos quinzenais produz efeitos semelhantes aos da ERHu com doses entre 0,25-0,75microg/kg/semana30,31. Doses superiores a 300U/Kg de peso por semana podem ser necessárias em algumas crianças portadoras de oxalose e cistinose. A necessidade de doses mais altas de ERHu para obter resposta eritropoética desejada impõe a investigação de outras causas como hiperparatireoidismo, diálise inadequada ou processos inflamatórios crônicos. O aumento do PTH é uma complicação freqüente na insuficiência renal crônica. O hiperparatireoidismo tem sido associado à anemia em pessoas com função renal normal e pode agravar a existente em pacientes renais crônicos. A fibrose da medula óssea reduz o compartimento precursor eritróide, interferindo na eritropoiese e bloqueando a ação da ERHu. Alguns trabalhos têm demonstrado melhora da anemia após paratireoidectomia ou após tratamento com análogos da vitamina D. Rao e col, utilizando histomorfometria óssea, comprovaram a maior necessidade de ERHu, na dependência da gravidade do hiperparatireoidismo, da extensão da fibrose medular, do volume osteóide e da superfície ocupada por osteoclastos35. A diálise inadequada é outra causa de diminuição da resposta à ERHu. A prescrição da diálise deve ser revista, procurando atingir os marcadores de qualidade já citados anteriormente. Outras modalidades dialíticas que melhoram a anemia, como diálise prolongada ou diálise diária, devem ser cogitadas. Os processos infecciosos agudos e crônicos, estados inflamatórios, doenças autoimunes e neoplásicas interferem na resposta à ERHu, por alterações no metabolismo do ferro (mobilização inadequada do ferro ligado à ferritina) e pelo aumento das citoquinas pró-inflamatórias: fator de necrose tumoral e interleucina-1 na medula óssea. Essas citocinas liberam interferon alfa e beta que inibem a eritropoiese in vivo e in vitro 36. Sitter e colaboradores estudaram dois grupos de pacientes adultos em diálise peritoneal, utilizando solução de J Bras Nefrol Volume 29 - nº 4 - Supl. 4 - Dezembro de 2007 diálise ultrapura e com 100UFC/mL e mediram níveis de interleucina-6, PCR e doses de ERHu. Os níveis de interleucina-6 e PCR eram iguais no início do estudo, porém, ao final de três, seis e 12 meses, ambos aumentavam no grupo com solução de diálise com 100UFC/mL. A dose de ERHu foi significativamente maior também neste grupo, comprovando o papel da inflamação crônica na resposta inadequada à ERHu37. A PCR é um marcador de doença inflamatória e deve ser incluída entre testes rotineiros para detectar precocemente uma resposta inadequada à ERHu. Pacientes que apresentam PCR superior a 20mg/L necessitam de doses de MEE maiores38. As peritonites e infecções de cateteres representam as mais freqüentes causas de infecção em crianças em diálise. Estes eventos são acompanhados por diminuição da hemoglobina até resolução do processo infeccioso. Os procedimentos cirúrgicos também são acompanhados de redução da hemoglobina no período pós-operatório e recomendamos aumentar a dose de MEE e a hemoglobina na fase pré-operatória para evitar transfusões sanguíneas. Algumas drogas têm sido implicadas na diminuição da resposta ao MEE: inibidores da ECA e agentes imunossupressores. Os inibidores da ECA diminuem a síntese de eritropoetina em pacientes com DRC provavelmente devido ao aumento do fluxo sanguíneo renal, melhora da oxigenação e redução da produção de eritropoetina. A ciclosporina parece reduzir a secreção de eritropoetina e a azatioprina destrói eritrócitos recém-formados dentro da medula óssea antes de sua maturação. A azatioprina e o micofenolato mofetil podem causar anemia associada à leucopenia e trombocitopenia39. As crianças com idade inferior a 5 anos que fazem uso de micofenolato mofetil apresentam mais anemia que escolares e adolescentes40. Estas interferências, entretanto, têm pouca repercussão na resposta clínica, sendo compensadas por aumento das doses do MEE. As crianças com oxalose e cistinose apresentam anemia resistente aos MEEs e podem receber doses superiores a 12.000U/sem com o objetivo paliativo de reduzir a necessidade transfusional. As portadoras de cistinose apresentam depósitos de cistina na medula óssea, ocupando compartimento eritróide e respondem mal o MEE. O tratamento com cisteamine reduz os níveis intracelulares de cistina e deve ser iniciado antes de dois anos de idade para evitar a perda de função renal41. Outras causas que podem influir na resposta ao MEE incluem: desnutrição, deficiência de vitaminas (B6, B12), folato e de carnitina. Alguns trabalhos têm demonstrado a associação entre albumina baixa e má resposta aos MEEs. As crianças em diálise, freqüentemente, apresentam graus variados de desnutrição, especialmente aquelas 31 Tabela 3. Níveis de PTH de acordo com o estágio da DRC Estágio da DRC 2 3 4 5 TFG* (ml/min/1,73m2) Nível sérico de PTH 60-89 30-59 15-29 <15 ou diálise 35-70 (opinião) 35-70 (opinião) 70-110 (opinião) 200-300 (evidência) em diálise peritoneal. A anorexia causada pela doença crônica, as alterações do paladar e estados depressivos contribuem para isso. Lactentes podem precisar de gastrostomia para suplementações alimentares. A deficiência de vitaminas ocorre em crianças renais crônicas pelas dietas inadequadas, absorção prejudicada por outras medicações e pelas perdas na diálise. A vitamina B6 está envolvida na biosíntese do heme e pode estar deficiente no eritrócito, mesmo com níveis plasmáticos normais. Nestes casos, a suplementação, via oral, de 100-150mg/sem é necessária. A deficiência de vitamina B12 é rara e decorre de perdas pela diálise, em longo prazo, especialmente em pacientes que usam membranas de alto fluxo. A deficiência de folato como resistência ao MEE foi examinada em um estudo em que se observou que crianças e adolescentes que receberam acido fólico apresentaram melhor resposta do MEE42. A deficiência de carnitina é observada em adultos e crianças renais crônicas e parece estar relacionada ao tempo em tratamento dialítico. Doses orais de L- carnitina não demonstram benefícios como tratamento adjuvante da anemia43. REFERÊNCIAS 1. Levin A, Thompson CR, Ethier J et al: Left ventricular mass index increase in early renal disease: impact of decline in hemoglobin. Am J Kidney Dis 1999;34:125-34. 2. Neu AM, Ho PL, McDonald RA et al. Chronic dialysis in children and adolescents. The 2001 NAPRTCS annual report. Pediatr Nephrol 2002; 17: 656-63. 3. 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