O conhecimento da equipe de enfermagem de um serviço de

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O conhecimento da equipe de enfermagem de um serviço de oncologia, a
respeito do cateter totalmente implantado.
CTI:enfermagem de um serviço de oncologia
Andressa Hoffmann Pinto
Enfermeira Especialista em Oncologia Mestranda do Programa de Pós Graduação da
Faculdade de Enfermagem da Universidade Federal de Pelotas
Pelotas-RS, Brasil, [email protected]
Celmira Lange
Professora Doutora em Enfermagem da Faculdade de Enfermagem da Universidade
Federal de Pelotas
Pelotas-RS, Brasil, [email protected]
Rosani Manfrin Muniz
Professora Doutora em Enfermagem da Faculdade de Enfermagem da Universidade
Federal de Pelotas
Pelotas-RS, Brasil, [email protected]
Norlai Alves de Azevedo
Professora Doutora em Enfermagem da Faculdade de Enfermagem da Universidade
Federal de Pelotas
Pelotas-RS, Brasil, [email protected]
Niviane Genz
Enfermeira Especialista em Oncologia Mestranda do Programa de Pós Graduação da
Faculdade de Enfermagem da Universidade Federal de Pelotas
Pelotas-RS, Brasil, [email protected]
Natalia Leal Duarte de Almeida
Enfermeira Especialista em Oncologia
Pelotas-RS, Brasil, [email protected]
INTRODUÇÃO
No Brasil o câncer está entre as doenças que mais matam, as estimativas de 2012
também válidas para 2013 apontam a ocorrência de aproximadamente 518.510 casos
novos de câncer e ao incluir os casos de câncer de pele não melanoma a dimensão do
problema se torna ainda maior.¹
Apesar do avanço na área oncológica o tratamento dessa patologia é basicamente
pautado em: cirurgia, radioterapia e quimioterapia.²
No manejo do paciente oncológico é de suma importância possuir um acesso
venoso confiável, pois ele permitirá que a droga seja administrada de maneira segura. A
rede venosa desses pacientes é constantemente utilizada seja para aplicação da
quimioterapia, soro, antibiótico, sangue e derivados e na coleta destinada a realização de
exames laboratoriais. Desse modo, em virtude da fragilidade vascular que se desenvolve
ou pelo tempo prolongado de tratamento à essas pessoas a inserção de um cateter
totalmente implantado (CTI) é indicado.³ O CTI consiste em um reservatório
subcutâneo feito de silicone ou titânio geralmente implantado na região infraclavicular.
O manuseio desse acesso vascular central totalmente implantado exige da equipe
conhecimentos técnicos e científicos.4
O presente trabalho foi idealizado, após as experiências vividas ao longo de um
ano de assistência à pacientes em tratamento quimioterápico. Foi possível observar
algumas limitações por parte dos profissionais de enfermagem das unidades de
internação em manejar o CTI. Em muitas ocasiões os mesmos negaram-se a manipular o
CTI, sendo a equipe da quimioterapia requisitada. Essa por sua vez, supria a demanda,
mas sem a existência de um protocolo havendo discrepâncias nos passos a serem
seguidos.
Associado a essa inquietação vivida na prática, as bases de dados LILACS e
PUBMED foram consultadas, utilizando os DeCS conjugados (implantable catheter
totally, oncological nursing e team nursing), foram encontrados 79 e 4 artigos
respectivamente, ficando evidente a lacuna existente nessa área. A abordagem das
pesquisas focavam, principalmente, nas complicações que o dispositivo possa a vir
apresentar ou a importância da enfermagem na prevenção das mesmas, sendo
encontrado apenas um estudo o de Lima e Martins publicado no ano de 1998 que tinha
como objetivo identificar o conhecimento dos auxiliares de enfermagem sobre o manejo
do cateter de Broviac e Hickmann.5
Desse modo, o objetivo desse estudo foi identificar o conhecimento de uma
equipe de enfermagem sobre o CTI, e após criar um momento de reflexão sobre esse
conhecimento, incentivando a construção de um novo saber pautado na associação da
prática realizada com a literatura. Esse tipo de estudo é de suma relevância, uma vez
que a enfermagem é responsável pela utilização e conservação da permeabilidade do
cateter. Assim, ao identificar como uma equipe de enfermagem maneja um CTI
permitirá que a assistência se torne cada vez mais eficaz e de qualidade, evitando
acidentes e efeitos adversos na administração das drogas. A partir desses pontos
levantados surgiu o questionamento: qual o conhecimento da equipe de enfermagem
sobre CTI?
REVISÃO LITERÁRIA
Durante muito tempo o câncer foi visto como uma doença incurável, vinculado a
sofrimento e morte. Porém, com o avanço da biotecnologia e o estudo genético das
alterações que as células, ditas malignas sofrem, é possível atualmente vislumbrarem
qualidade de vida à quem tem câncer e em alguns casos se obter a remissão completa da
doença.2
A quimioterapia antineoplásica foi apontada como uma das mais promissoras
formas de tratamento do câncer. Ela consiste em um tratamento sistêmico em que a
droga age nas células do paciente, sejam elas normais ou cancerosas, gerando efeitos
colaterais muitas vezes desagradáveis. As drogas antineoplásicas preferencialmente são
administradas por via intravenosa (IV), mas também tem as usadas por vias subcutânea,
tópica, intramuscular, intratecal e intravesical. A via endovenosa por ser a mais utilizada
exige cautela na escolha das veias, as veias esclerosadas ou frágeis, ou membros que
estejam com dificuldade circulatória e linfática devem ser evitados. 6 Nos casos em que
os pacientes são submetidos a terapia endovenosa com altas doses da medicação, tempo
prolongado ou que será realizado transplante de células sanguíneas, nutrição parenteral,
entre outros, o acesso venoso central é recomendado.7
O avanço tecnológico na área médica e, em especial, na terapia via endovenosa,
propiciou o uso de materiais como o CTI. Esse tipo de cateter foi um dos últimos
dispositivos de acesso vascular introduzidos no mercado com o intuito de diminuir a
ocorrência de infecções. Ele exigiu dos profissionais de enfermagem a apropriação de
conhecimento específico para sua utilização. Entretanto, percebe-se que o uso de
recursos tecnológicos tende à valorização dos procedimentos técnicos em detrimento do
saber.
Uma das estratégias utilizadas na tentativa de diminuir a incidência de
complicações no manejo dos CTI é a formulação de protocolos de manejo dos
dispositivos de acesso venoso. Esses guias possibilitam o desenvolvimento de rotinas
baseadas em métodos e práticas de acordo com a população atendida. Além disso,
devem ser revisados e atualizados continuamente de acordo com a literatura. 8-9
MÉTODO
Trata-se de uma pesquisa convergente assistencial que se caracteriza pela
articulação com a prática assistencial. O local de desenvolvimento da pesquisa foi uma
unidade de quimioterapia, de um hospital escola localizada no sul do estado do Rio
Grande do Sul, nos meses de julho a agosto de 2012. Os sujeitos do estudo foram os
componentes da equipe de enfermagem que trabalhavam nessa unidade, (oito técnicos e
dois enfermeiros), desses, nove participaram do estudo, pois uma estava de licença
saúde. Todo o estudo foi baseado nos princípios éticos preconizados nas pesquisas que
envolvem seres humanos.10
A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética da FAMED/UFPEL sob o
protocolo de n°75/12, após os convites e o fornecimento do Termo de Consentimento
Livre e Esclarecido assinado, a primeira etapa a ser realizada foi a de observação. O
período de observação foi de 3 semanas, totalizando 6
observados e 21 observações, os
sujeitos observados foram aqueles que nesse período manipularam os CTI. Ao sujeito
observado tão logo fosse possível foi aplicado o questionário semi estruturado e
requisitado que o entrevistado fizesse um recordatório dos passos realizados no manejo
do CTI. Caso, ele fosse observado mais de uma vez, apenas em um único momento o
questionário era aplicado e o recordatório requisitado. Os dados gerados nessas
observações foram organizados e analisados, sendo o observado identificado pela letra O
(observação) seguido do número de (1-6). Já as falas registradas nas entrevistas, os sujeitos
foram identificados pela sigla E (entrevistado) ,seguido do número (1-9) correspondente
as ordens das mesmas.
Após esse período de observação iniciou-se a aplicação do questionário semi
estruturado aos demais participantes, eles eram comunicados previamente sobre a
aplicação do instrumento, sendo a ordem das entrevistas conforme disponibilidade dos
mesmos. Todas as entrevistas foram realizadas em local privado e gravadas em áudio,
aproximadamente 120 minutos de gravação.
Ao final dessa etapa os dados obtidos foram compilados e analisados, sendo
utilizados os quatro passos genéricos da pesquisa qualitativa, os processos
que
consistem em apreensão, síntese, teorização e recontextualização, os quais ocorrem de
maneira mais ou menos seqüencial.11 Após a análise, foi realizado um encontro com os
entrevistados em sala e horário previamente agendados, quando foram apresentados os
dados da primeira etapa já confrontados com a literatura existente sobre o tema. Nesse
momento, embasados na literatura foi criado um espaço de discussão, reflexão e
participação dos sujeitos acerca das semelhanças e divergências da prática desenvolvida
no setor.
RESULTADOS E DISCUSSÕES
Foram entrevistados 9 profissionais, sendo 8 pessoas do sexo feminino divididos
em duas equipes, dois tinham graduação a nível superior e sete a nível técnico. Após a
transcrição e análise dos dados verificou-se que a média de tempo de serviço dos
participantes foi de 18,77 anos na enfermagem, e que a média de ação no serviço de
oncologia era de 7,22 anos.
Os dados obtidos das entrevistas semi estruturadas e das observações foram
analisados e organizados em três categorias: conhecimento geral sobre cateter
totalmente implantado, técnica de manejo do cateter totalmente implantado e
orientações/cuidados com o cateter totalmente implantado.
Conhecimento geral sobre cateter totalmente implantado
Nessa categoria foram agrupadas as questões sobre o conceito de CTI, vantagens
e desvantagens da inserção do mesmo e aspectos sobre a agulha de Hubber. Ficou
evidente após a análise dos dados que os participantes sabem o que é um cateter, mas
em alguns momentos o conceito se confunde com a função:
O dispositivo que todos os pacientes que se submetem a quimioterapia
deveriam portar[...] (E 04).
[...] cateter implantado no subcutâneo do paciente, onde eles utilizam
um acesso mais profundo, calibroso, que te dá mais segurança pra
transfundir algumas medicações[...] (E 07).
Os CTI são tubos flexíveis radiopacos feitos de silicone, poliuretano ou de teflon.
Possuem uma câmara de titânio em uma das extremidades. A parte central dessa câmara
é uma membrana de silicone chamada septo, na qual são realizadas as punções para
acesso ao dispositivo. São chamados de totalmente implantados por não apresentarem
nenhuma parte exteriorizada após sua instalação.²
Ressalta-se que a questão da técnica de implantação do CTI ainda não se faz bem
clara para dois entrevistados, sendo evidente nas seguintes falas:
É uma veia periférica, onde a pessoa fica isenta de ficar usando os
braços, as mãos e tudo [...] (E 09)
[...] eu nem sabia aonde é que colocava, onde ele era instalado
realmente [...] (E03)
O CTI é inserido por meio de técnica cirúrgica estritamente séptica, o port é
colocado através de uma incisão no tecido subcutâneo. Geralmente posicionado na
região do antebraço ou da parede superior do tórax. Após a veia desejada é puncionada
e o cateter pode ser introduzido, assegurando que sua ponta esteja posicionada na veia
cava superior ou átrio direito.12
A respeito da agulha de Hubber observa-se que os participantes têm noção do
que se trata, porém, devido ao fato de não a utilizaram nas punções realizadas no setor,
algumas dúvidas e incertezas persistem, como:
[...] sei, não. Só assim o nome eu ouvi, ah não sei o que [...] (E03).
[...] só sei que ele é bem mais prática, a Hubber já é para ficar mais tempo
[...] (E02)
As falas vão ao encontro do que a literatura nos diz, a agulha de Hubber é
conceituada como agulha não cortante, especialmente desenvolvidas para punção dos
CTI. Geralmente as agulhas possuem um bisel na sua ponta que no momento da punção
“cortam” o septo do port, ao contrário as de Hubber tem um pertuito lateral que impede
esse efeito de “corte”. Um estudo recente não demonstrou vantagens do uso da Hubber
em relação as agulhas comuns, em situações como o refluxo de medicação pelo septo.
Porém, alertam para a necessidade de se testar esse tipo de situação em setores de
quimioterapia, já que mundialmente é recomendado nesses locais o uso da agulha de
Hubber.13
Outro ponto relevante apontado nas falas é a questão do conforto que a agulha
proporciona:
[...] é como um escalpe, só que ela é mais adequado , porque ela fica numa
posição cômoda pro paciente[...] (E05)
[...] .é uma agulha que se usa para o portocath ... tem uma aderência
melhor à pele e não fica esse desconforto, e o risco de perder esse acesso
[...] (E 06)
Em casos de infusão de quimioterapia por um período de tempo mais prolongado,
a agulha de Hubber de 90° deve ser a escolhida, uma vez que permite melhor adaptação
ao corpo do paciente e o uso de curativos.13
Nas questões que abordavam vantagens e desvantagens do CTI, os participantes
apontaram como vantagens dois aspectos, segurança, tanto ao paciente quanto ao
profissional, e o conforto. Isso pode ser evidenciado nas seguintes falas:
[...] uma das grandes vantagens (de se ter um CTI) é não ter que passar
pelo desconforto de ser picado tantas vezes até conseguir um acesso
periférico [...] (E 01)
[...] evitar o sofrimento do paciente[...] (E08)
Toda, eu acho assim pro paciente os riscos que ele deixa de correr,
pra um extravasamento. eu acho que pra segurança do paciente e pra nossa
enquanto profissional. (E04)
Em um estudo desenvolvido sobre a percepção do paciente portador de CTI, foi
observado que as conseqüências positivas relatadas pelos pacientes foram: maior
liberdade de movimentação, menor interferência em executar as atividades da vida
diária, e também a menor dependência da equipe de enfermagem, quando o cateter está
em uso, diminuindo a ansiedade de receber o tratamento quimioterápico. As percepções
desses participantes e as falas dos entrevistados desse estudo são ratificadas em um
guideline americano, em que os CTI tem apresentado recentemente maior segurança e
efetividade na administração repetida de quimioterápicos. Além disso, tem permitido
um acesso venoso mais seguro, a redução do desconforto e ansiedade em relação as
repetidas punções e o aumento da qualidade de vida do paciente. 3-13
Ao serem questionados sobre as desvantagens, se fez necessário acrescentar a
palavra intercorrências para melhor compreensão, alguns participantes são bem claros
ao citarem a infecção, rejeição, obstrução e o deslocamento como alterações da inserção
do CTI:
Claro ele tem as desvantagens: pode ter uma rejeição, pode ter uma
infecção[...] [...] A obstrução também. (E07).
[...] Já, de infecção vi numa paciente de aspirar e vir pus[...] Ví
casos também dele (cateter) ter se virado[...] (E09).
Certas complicações surgem tais como: infecção, obstrução, infiltração,
extravasamento, deslocamento e embolia .4
Apesar, de um entrevistado não perceber complicações no uso do CTI, se
expressando da seguinte forma:
[...] Acho que não tem nada, só tem vantagens, desvantagens acho
que não tem [...] (E03).
As complicações existem e exigem dos profissionais que manipulam o cateter
conhecimento para manejar. As imediatas como hematomas, alterações do ritmo
cardíaco, lesão venosa, embolia gasosa, complicações decorrentes do ato anestésico,
tamponamento cardíaco e intolerância ao cateter. Além das tardias, como a estenose ou
trombose da veia jugular interna, infecção, obstrução do cateter, desconexão do cateter
do receptáculo, com extravasamento de líquidos e migração do cateter, além de sua
exteriorização, ruptura ou fratura do sistema, com conseqüente extravasamento de
líquidos.
14
Elas são pouco incidentes, em um total de 4215 cateteres analisados no
período de 1998 a 2008, apenas 225 apresentaram infecção, seguidos de 89 trombose e
75 obstrução.15
Isso vai ao encontro do que a entrevistada abaixo mencionou:
[...] Desvantagens creio que são poucos a não ser que haja
raramente uma rejeição... acontece mais é raro o cateter se virar o
contrario [...] (E 01).
O CTI proporciona segurança e conforto ao paciente, mas como qualquer outro
procedimento invasivo pode gerar injúrias, percebe-se que os entrevistados tem noção a
respeito dessas possíveis complicações e inclusive alguns até presenciaram algumas
situações. Mas, em contrapartida não é dada a devida importância a esse tipo de
complicação, pois, apesar da literatura corroborar que são baixas as taxas de incidência
de complicações, cabe aos profissionais estarem atentos e possuírem conhecimento para
manejar caso isso se desenvolva.
Manejo do Cateter Totalmente Implantado
Essa categoria abordou as questões acerca dos passos propriamente ditos,
aspectos relacionados à obstrução do cateter e conduta ao término da infusão. Em
relação aos passos realizados, além da questão realizada na entrevista, utilizou-se a
observação como ferramenta de controle de qualidade. Os dados obtidos na entrevista
associados à observação são explicitados claramente nas seguintes falas:
[...] Preparo uma bandeja, ponho luvas... eu uso estéril, um pacote
de gaze, álcool, no nosso caso o buterfly, uma seringa com água[...] (E02)
[...] o material da punção estava em cima da bandeja, pacote com
gaze, álcool, um par de luvas estéreis, seringa com soro fisiológico. (O03)
[...] tu tem que visualizar, palpar, assepsia, e a inserção..... quando
eu aprendi a puncionar nos tínhamos o costume no setor usar tudo estéril,
conforme o tempo isso foi caindo, conforme os cursos que se foi fazendo
[...] (E04)
[...] bandeja de rotina do setor (material de punção mais bureta),
foi acrescentado gaze, álcool e escalpe. Calça luva de procedimento,
assepsia cinco vezes com gaze, punciona, reflui e aspira 4 ml de sangue [...]
(O01)
Percebe-se
claramente
a
existência
de
controvérsias
nas
condutas,
principalmente quanto ao uso de luvas estéreis ou não. Os achados são corroborados
com a literatura que diz que ainda há muitas controvérsias em questões ao redor da
manutenção dos CTI, e que os procedimentos atuais muitos são feitos baseados no que o
fabricante do dispositivo orienta do que em estudos randomizados. A lavagem das
mãos antes e depois da realização do procedimento é de fundamental importância à
prevenção de infecções e o uso de luvas estéreis ou não, ainda não foi bem estudado,
porém recomenda-se o uso de todo equipamento estéril para o acesso dos cateteres.8
Em um guideline no tópico “técnica séptica” é relatado que ainda há muitas
controvérsias em torno da manipulação dos cateteres. A evidência é de natureza
conflitante e ainda não se tem estatisticamente achados significantes que mostrem que a
técnica “ não toque” é a mais adequada na prevenção de infecções.12 Esse tipo de
técnica foi trazido por um dos entrevistados como algo já estabelecido:
[...] faço uma assepsia com alquinho e uso aquele método não toque, passei
ali, eu vou introduzir a agulha [...] (E 08).
[...] expõe a região do cateter, realiza assepsia com algodão embebido no
álcool, punciona com escalpe, sem utilizar luvas [...]O05
Na situação de obstrução do CTI as controvérsias persistem e de forma mais
intensa, alguns mostram a tendência de tentar desobstruir com ações de força ou uso de
anticoagulante, como o relatado nas falas abaixo:
[...] às vezes a gente pode colocar um pouquinho de nada de
heparina, dá uma puxadinha[...](E01)
[...] CTI apresentando obstrução, foi tentada lavar várias vezes sem
sucesso, injetado 1 ml de heparina sódica sem diluição, ainda sem
sucesso[...](O03)
[...] vou tentar um acesso periférico, chamar o enfermeiro... Eu ia tentar
empurrar, ia pegar uma solução fisiológico e tentar empurrar[...](E08)
Enquanto outros são mais cautelosos, como os entrevistados a seguir:
A conduta é avisar o médico assistente ou o oncologista, e tentar
um acesso periférico para que não seja interrompido o tratamento[...]
(E 06)
[...] eu primeiramente vou chamar a enfermeira, que certamente vai
procurar o médico, procuro não usar aquilo ali (CTI)[...](E09)
A desobstrução recomendada pela literatura é realizada com solução fisiológica
0,9%, fazendo movimentos de aspiração, utilizando uma seringa de 10 ml com
movimentos leves, repetidas vezes, para que não ocorra a ruptura do cateter. Em caso de
não desobstrução, realiza-se a mesma técnica com ácido ascórbico. Se sem sucesso,
solicitar avaliação médica para possível indicação de utilização da solução de
Streptoquinase com a sua supervisão.²
O artigo de Denise Macklin traz algumas dicas em caso de obstrução, orienta a
parar caso haja alguma resistência, nunca deve ser aplicada mais força,o paciente deve
ser reposicionado, requisitado que respire fundo e novamente deve-se tentar infundir a
solução pelo CTI. Caso isso não seja efetivo a “ raiz” do problema dever pesquisada.18
Fica evidente que a equipe realiza as ações de desobstrução conforme seu
próprio entendimento, inexistindo uma conduta padrão que respalde a mesma, caso
ocorra alguma intercorrência. Quanto a heparinização não houve diversidades, a equipe
se mostrou coerente nas condutas:
[..].heparina com a dilução, é 1 pra 9,... Boto algodãozinho com
micropore, porque as vezes pode sangrar[...] (E03)
A conduta é lavar esse pertuito com a solução de 6 ml de heparina
[...]E06
O protocolo britânico recomenda que a concentração de heparina deve ser de
500/unidades por ml , infundindo de 2-3 ml da solução.12
No Brasil o protocolo de referência também orienta a concentração de 500 UI/ml,
sendo que são aspirados 1 ml de heparina sódica (frasco 25.000 UI), diluída em 10 ml
de solução fisiológica 0,9% e instilado 2 ml dessa solução para heparinização dos
cateteres totalmente ou semiimplantado. Já um dos fabricantes de CTI recomenda a
concentração de 100UI/ml, sendo infundido 5ml. 2-16
No local estudado, recomendado no manual de normas e rotinas desenvolvido na
unidade no ano de 2007, a concentração é três vezes maior, sendo administrado 6 ml da
concentração de 555/unidades de heparina totalizando a infusão de 3500 unidades.
Orientações/cuidados com o cateter totalmente implantado.
Outro ponto relevante em relação a heparinização foi a questão da freqüência
que o cateter deve ser heparinado, sendo identificado por meio das falas uma variação
de 30 a 60 dias nas orientações:
Geralmente se orienta esse paciente sobre o procedimento , sobre a
necessidade de lavar esse cateter de 41 em 41 dias,é aproximadamente de
30 a 40 dias[...](E06).
[...] de 30 em 30 dias, agora os estudos já demonstram que pode ser um
período maior de 45 a 60 dias[...](E04).
A inexistência de um tempo padrão para o retorno de manutenção de perviedade
do cateter, baseado na literatura, coloca em risco sua funcionabilidade. A literatura
pesquisada preconiza o período de trinta dias.16
As orientações ao paciente e aos familiares devem ser fornecidas ainda mesmo
antes da inserção do cateter, incluindo questões relacionadas ao que é o cateter, forma
de implantação, cuidados necessários para manutenção e possíveis complicações como
infecção, inflamação, dor e presença de secreção no sítio de inserção.4
Em relação as orientações prestadas ao paciente e familiar, percebe-se uma
tendência a focar na questão de manutenção da perviedade do cateter, esquecendo
outras dimensões envolvidas, a fala a seguir exemplifica essa situação:
A menos que eles perguntem, o que eu oriento é vir para fazer a
limpeza a cada 45 dias, 35 por aí que eles tem[..](E02)
Observa-se uma tendência da equipe em passar algumas responsabilidades
sobre questões de orientação a outros profissionais:
[...] Conforme vão surgindo dúvidas nós vamos esclarecendo , não que seja
uma rotina , o nosso serviço de enfermagem não tem o costume de orientar,
na verdade eles já vêm previamente orientados[...] (E 08).
Geralmente os médicos oncologistas que orientam que o cateter é só
pra quimioterapia[...] (E07)
[..] nenhum tipo de orientação sobre cuidados com o CTI foi
transmitida[...] (O02)(O03)(O05)
As orientações técnicas ficaram relegadas ao médico, que também deve orientar
o paciente aliviando tensões e transmitindo informações acerca da implantação, porém
sabe-se da importância da enfermagem na educação em saúde. A educação em saúde
está dentro do cotidiano do enfermeiro, considerando a recuperação, prevenção e as
necessidades de ensino do paciente. Essa situação também ocorre no ambiente
hospitalar, local em que o enfermeiro é incitado a reconstruir sua prática de cuidado
direto, para um modelo mais abrangente, em que a educação faz parte da assistência.
Assim, o enfermeiro hospitalar deve desfocar da doença, para contemplar o ser humano
de forma integral.17
CONCLUSÃO
A equipe de enfermagem da unidade de quimioterapia apresentou um tempo
relativamente longo de ação na prática em quimioterápicos, isso faz com que a mesma
tenha características específicas e bem definida nas suas ações. Muitos dos entrevistados
são profissionais com uma formação mais tradicional e arraigados em certas rotinas.
Propor mudanças de condutas exige paciência, habilidade e conhecimento a respeito do
que se está abordando.
Observou-se por meio das entrevistas e observações que a equipe demonstrou
conhecimento geral sobre o CTI, havendo déficits em alguns pontos bem específicos,
como por exemplo: confundir o conceito com a função, saber que a agulha de Hubber é
a ideal para puncionar o CTI, porém desconhecer como e porquê.
Quanto ao manejo do CTI pela equipe foi possível identificar muitas
divergências nas condutas, questões como o uso de luva estéril ou não, assepsia,
limpeza após a infusão de medicamentos, e principalmente em relação à obstrução. Essa
última gerou grande inquietação, já que dependendo da conduta escolhida as
conseqüências podem causar danos irreversíveis ao paciente, como uma hemorragia de
difícil controle por exemplo.
Acredita-se que a pesquisa cumpriu os seus objetivos iniciais, uma vez que os
dados obtidos da primeira etapa, configuração do cenário estudado por meio das
observações e entrevistas, foram devolvidos aos participantes proporcionando um
ambiente de discussão e reflexão a respeito do que é feito na assistência. Ao longo do
estudo foi possível observar que alguns mudaram suas condutas, optando pela utilização
de material estéril e orientando os pacientes de forma padronizada. Foi encontrado o
Manual de Normas e Rotinas da Unidade desenvolvido no ano de 2007 e que deveria ter
sido revisado em 2011, ele foi discutido e analisado pelos funcionários, ficando
decidido que em outro momento ele fosse reestruturado a partir dos achados do presente
estudo.
A pesquisa, além, de gerar dados foi uma ferramenta capaz de mudar condutas
em curto prazo no ambiente em que se desenvolve, pois o objetivo maior de qualquer
profissional da saúde é promover conforto e qualidade na assistência prestada ao seu
usuário, permitindo que o mesmo se cure da moléstia ou tenha qualidade de vida dentro
de suas limitações. A equipe necessita refletir a respeito do que faz, baseando-se na
literatura para que essa ação seja consciente permitindo maior confiança e qualidade no
cuidado prestado.
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câncer
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Rio
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17 Rigon AG, Neves ET. Educação em saúde e a atuação de enfermagem no contexto
de unidades de internação hospitalar: o que tem sido ou há para ser dito? Texto
contexto-enferm. 2011 out-dez; 20(4): 812-7.
18 Macklin D. Catheter Mangement. Seminars in Oncology Nursing. 2010 mai; 26(2):
113-120.
RESUMO
O objetivo desse estudo foi identificar o conhecimento da equipe de enfermagem sobre
o CTI, e após criar um momento de reflexão, incentivando a construção de um novo
saber pautado na associação da prática realizada com a literatura. Trata-se de uma
pesquisa convergente assistencial, desenvolvida em uma unidade de quimioterapia, de
um hospital escola no período de 5 semanas, nos meses de julho/agosto, de 2012.Os
sujeitos foram 9 profissionais de enfermagem da unidade de quimioterapia que
apresentaram a média de 18 anos de prática, demonstraram conhecimento geral sobre o
CTI, havendo déficits em pontos bem específicos, como no uso de luvas estéreis ou não,
diluição da heparinização, tempo de manutenção e orientações prestadas. Os dados
foram devolvidos aos participantes proporcionando um ambiente de discussão e
reflexão, após foi observado que os pesquisados adotaram algumas medidas mais
adequadas de acordo com a literatura discutida.
The aim of this study was to identify the knowledge of nursing staff on the TIC, and
after creating a moment of reflection, encouraging the construction of new knowledge
guided practice held in association with the literature. This is a convergent analysis,
developed in a chemotherapy unit of a teaching hospital in the period of 5 weeks in July
/ August, 2012.Os subjects were nine nurses unit chemotherapy showed that the average
of 18 years of practice, demonstrated general knowledge about the TIC, with deficits in
specific points, such as the use of sterile gloves or not, dilution of heparin, maintenance
time and guidance provided. Data were returned to participants providing an
environment for discussion and reflection, after it was observed that the respondents
adopted some measures best suited according to the literature discussed.
El objetivo de este estudio fue identificar el conocimiento del personal de enfermería de
la UCI, y después de crear un momento de reflexión, alentando la construcción de
nuevos conocimientos, práctica guiada a cabo en asociación con la literatura. Este es un
análisis convergente, desarrollado en una unidad de quimioterapia de un hospital
universitário durante un período de 5 semanas en julio / agosto del 2012. Los sujetos
fueron 9 enfermeras de la unidad de quimioterapia, que tenían un promedio de 18 años
de práctica. Demonstraron conocimiento general acerca de la CTI, con deficiencias en
puntos muy específicos, tales como el uso de guantes estériles o no, la dilución de la
heparina, el tiempo de mantenimiento y la orientación proporcionada. Los datos fueron
devueltos a los participantes proporcionando un entorno para el debate y reflexión,
después se observó que los encuestados adoptaron las medidas más adecuadas de
acuerdo con la literatura discutida.
DECS
Cateteres de demora
Catheters
Catéteres de Permanencia
Conhecimento
Conocimiento
Knowledge
Educação em Enfermagem
Educación em Enfermería
Education, Nursing
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