24 Sábado AÇORIANO ORIENTAL SÁBADO, 16 DE AGOSTO DE 2014 COORDENAÇÃO HUGO GONÇALVES, JOÃO CORDEIRO E LÁZARO RAPOSO O humor e a música juntos em Mamonas Assassinas DIREITOS RESERVADOS A banda brasileira teve uma carreira curta mas estrondosa. Conseguiu juntar o melhor humor à melhor música LÁZARO RAPOSO [email protected] Passado um mundial de futebol que trouxe surpresas, dissabores e… alegrias (sim, os alemães devem estar felizes), recordo uma banda daquelas paragens que, não sendo o meu tipo de escuta atual, devo reconhecer a sua importância para a minha ligação à música. Falo dos Mamonas Assassinas. Lembro-me que a minha primeira impressão da banda foi de me rir com o que eles diziam. Tinha à volta de 13 ou 14 anos e música, na altura, - como dizê-lo? “não era a minha cena”. O seu sentido humorístico foi o que me chamou em primeiro lugar, não fosse isso e talvez não tivesse olhado duas vezes para a banda, mas rapidamente comecei a “ouvir com outros olhos” os seus temas. Ultrapassados os mais Capa do álbum que popularizou os Mamonas Assassinas no Brasil e em Portugal popularuscos “Vira-Vira” e “Sabão crá-crá”, apercebi-me de que havia mais profundidade na sua música como em “1406”, “Cabeça de Bagre II”, “Uma Arlinda Mulher” ou “Débil Metal”. Fui crescendo e fui tomando consciência de que lado a lado com aquele humor adolescente havia um humor bem mais refinado, que na altura não compreendia a 100%. E musicalmente? Bem, uma escuta atenta e mais informada permite identificar a técnica, o domínio sobre vários estilos musicais, com excelentes pormenores, grandes solos de guitarra mas que solos! (ver no Youtube es- petáculos ao vivo para mais fascinação) -, os ‘slaps’ do baixo, aquele “batera” energético e mais regular que a economia alemã (”get it?”). Juntando a isso a capacidade de interpretação vocal de Dinho, não admira que tenham conseguido “Rockar” a partir de pagode (”Lá Vem o Alemão”), for- Das ‘covers’ ao maior sucesso do Brasil Antes de serem os Mamonas Assassinas, chamavam-se Utopia e tocavam ‘covers’ de Rush, Legião Urbana, Barão Vermelho, entre outros. Chegaram mesmo a lançar um disco homónimo, que não teve muito sucesso. Com uma tiragem de mil exemplares, a banda vendeu pouco mais de 1 unidades. Curiosamente, o teclista original veio a afastar-se da música por esta não ser “rentável” e dedicar-se aos estudos. Quando ocorreu a transformação em Mamonas Assassinas, já era Julio Rasec nos teclados. ró ( “Jumento Celestino”) ou brega (”Bois Don’t Cry”). No seu auge, a banda dava 8 (?!) concertos por semana, além de serem presença assídua em ‘talk shows’, sendo convidados recorrentes do “Faustão”. E foi nesse registo que a banda decidiu dar um último concerto para despedida antes de vir para Portugal, de acordo com um deles para “confirmar se as mulheres tinham bigode”. Infelizmente, deu-se o trágico acidente de avião que assim privou o mundo, do maior sucesso musical do brasil. Há bandas humoristas com grandes músicos, mas com humor um pouco brejeiro, há outras com ‘finnesse’ na piada, mas que deixam um pouco a desejar musicalmente. Os Mamonas Assassinas foram a combinação perfeita dos dois mundos. Cinco jovens que realizaram a sua utopia. DIREITOS RESERVADOS Born a Lion de regresso com rock cru e duro como devia ser sempre HUGO GONÇALVES [email protected] Formados em 2006 provindos da Marinha Grande, os Born A Lion serão a esta altura desconhecidos apenas para os mais desatentos. Desde cedo que a banda não se mostrou rogada e muito menos tiveram alguma problema em assumir as influências por detrás do som do power-trio. Black Sabbath, Led Zeppelin, Deep Purple ou Cream são algumas das fontes de inspiração adotadas pelo coletivo e, igualmente, aquelas que se fazem ouvir de forma mais proeminente. Com referências desta qualidade já se tem um bom ponto de partida para se ficar pelo menos com vontade em conhecer melhor o coletivo e a música que pratica. A caminhada do trio começou em 2006 com o lançamento de “John Captain” ao que se seguiu “Bluezebu”, em 2009. De um álbum para o outro manteve-se uma espécie de matriz blues em torno da qual orbitam a maioria dos temas e assistiu-se, igualmente, a um aumento da intensidade dos mesmos para que não restassem dúvidas que é o rock quem dita as leis. III é, como o próprio título indica, o terceiro longa-duração do trio composto por Rodriguez (baterista-vocalista), Nunez (baixo) e Melquiadez (guitar- ra). É também o disco mais direto e intenso da banda. Aqui não há espaço para baladas, grandes demonstrações de técnica ou arranjos complexos. Goste-se ou não, em III é-nos servido rock. Cru e duro como devia ser sempre. É impossível ficar indiferente à pujança e ao ritmo contagiante incutido ao longo de todo o disco. Os ingredientes são muito simples: guitarras distorcidas, sujas e ensurdecedoras, voz aguerrida, riffs com toneladas de peso e um groove que nos agarra do primeiro ao último instante. São edições como esta que provam que o rock n’ roll está, de facto, vivo e de muita boa saúde. III, como o nome indica, é o terceiro álbum dos Born a Lion