CRESCIMENTO ECONÔMICO E GRAU DE ABERTURA

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CRESCIMENTO ECONÔMICO E GRAU DE ABERTURA: UM ESTUDO DE CASO
PARA O ESTADO DO PARANÁ NO PERÍODO DE 2000 A 2010
Rubens Vansan – Economista, Unioeste, [email protected]
Hugo Chu – Professor Assistente, Unioeste, [email protected]
Fernanda Mendes Bezerra – Professora Adjunta, Unioeste, [email protected]
Resumo
Acredita-se que as políticas comerciais sempre tiveram papel fundamental na determinação da renda e, por
conseqüência, do padrão de vida da população dos países. O tema é estudado desde a primeira obra que
sintetizou o conhecimento em economia, “Uma Investigação Sobre as Causas e as Riquezas das Nações”, de
Adam Smith, em 1776. Atualmente, boa parte dos economistas profissionais, acadêmicos e não acadêmicos,
policy makers e as instituições multilaterais como o Banco Mundial, o Fundo Monetário Internacional e a
Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico defendem uma economia aberta a transações
com outros países como condição primordial para o desenvolvimento, seja no seu aspecto comercial ou
financeiro. A mesma ideia é válida para os estados ou províncias de países com dimensões continentais como os
EUA, Brasil, China e Rússia. Este trabalho tem dois objetivos. Primeiro, medir o grau de correlação entre o grau
de abertura econômica do Paraná e o produto interno bruto do estado para os anos 2000 à 2010. Segundo,
estimar uma regressão linear simples entre a variável explicada exportação e a variável explicativa renda para
verificar se existe a endogeneidade da relação no período citado. Os resultados encontrados são consistentes com
a previsão da literatura econômica sobre comércio e desenvolvimento. Especificamente, não existe uma relação
inequívoca entre maior abertura econômica e o PIB do estado ou país. Diversos trabalhos levantam justamente as
dificuldades empíricas de provar o contrário. Além disso, a evidência da endogeneidade mostra que o estado
transaciona mais com o exterior à medida que a renda aumenta.
Palavras-Chaves: Crescimento Econômico, Volume de Comércio, Barreiras Comerciais
Abstract
It has always been believed that trade policies had a fundamental role in determining the income and, as
consequence, the standard of living of the people in a country. The issue was first studied in the very first book
that synthesized the economic knowledge, The Wealth of Nations, by Adam Smith, in 1776. Nowadays, great
part of the economics profession, academic or not, policy makers and multilateral institutions defend an open
economy to international transaction as a primordial condition to development, either commercially or
financially. The same idea is valid to state or provinces of continental-size countries such as the USA, Brazil,
China and Russia. This paper has two objectives. First, to gauge the degree of correlation between the degree of
openness of the state of Parana and its GDP for the years 2000-2010. Second, to estimate whether there exists
endogeneity between trade and income in the period aforementioned. The results found are consistent with the
economic literature on trade and development. Specifically, there is not an unequivocal relationship between
openness and state GDP. Many researches raised exactly the empirical difficulty in proving otherwise.
Furthermore, the evidence on endogeneity shows that the higher the state income the higher its trade with other
economies.
Keywords: Economic Growth, trade share, trade barriers
ÁREA 11: Economia e Relações Internacionais
JEL: 010; 011; 018
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CRESCIMENTO ECONÔMICO E GRAU DE ABERTURA: UM ESTUDO DE CASO
PARA O ESTADO DO PARANÁ NO PERÍODO DE 2000 A 2010
Resumo
Acredita-se que as políticas comerciais sempre tiveram papel fundamental na determinação da renda e, por
conseqüência, do padrão de vida da população dos países. O tema é estudado desde a primeira obra que
sintetizou o conhecimento em economia, “Uma Investigação Sobre as Causas e as Riquezas das Nações”, de
Adam Smith, em 1776. Atualmente, boa parte dos economistas profissionais, acadêmicos e não acadêmicos,
policy makers e as instituições multilaterais como o Banco Mundial, o Fundo Monetário Internacional e a
Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico defendem uma economia aberta a transações
com outros países como condição primordial para o desenvolvimento, seja no seu aspecto comercial ou
financeiro. A mesma ideia é válida para os estados ou províncias de países com dimensões continentais como os
EUA, Brasil, China e Rússia. Este trabalho tem dois objetivos. Primeiro, medir o grau de correlação entre o grau
de abertura econômica do Paraná e o produto interno bruto do estado para os anos 2000 à 2010. Segundo,
estimar uma regressão linear simples entre a variável explicada exportação e a variável explicativa renda para
verificar se existe a endogeneidade da relação no período citado. Os resultados encontrados são consistentes com
a previsão da literatura econômica sobre comércio e desenvolvimento. Especificamente, não existe uma relação
inequívoca entre maior abertura econômica e o PIB do estado ou país. Diversos trabalhos levantam justamente as
dificuldades empíricas de provar o contrário. Além disso, a evidência da endogeneidade mostra que o estado
transaciona mais com o exterior à medida que a renda aumenta.
Abstract
It has always been believed that trade policies had a fundamental role in determining the income and, as
consequence, the standard of living of the people in a country. The issue was first studied in the very first book
that synthesized the economic knowledge, An Inquiry into the Causes of The Wealth of Nations, by Adam
Smith, in 1776. Nowadays, great part of the economics profession, academic or not academic, policy makers and
multilateral institutions such as The World Bank, The International Monetary Fundo and The Organization for
Economic Cooperation and Development defend an open economy to international transaction as a primordial
condition to development, either commercially or financially. The same idea is valid to state or provinces of
continental-size countries such as the USA, Brazil, China and Russia. This paper has two objectives. First, to
gauge the degree of correlation between the degree of openness of the state of Parana and its GDP for the years
2000-2010. Second, to estimate whether there exists endogeneity between trade and income in the period
aforementioned. The results found are consistent with the economic literature on trade and development.
Specifically, there is not an unequivocal relationship between openness and state GDP. Many researches raised
exactly the empirical difficulty in proving otherwise. Furthermore, the evidence on endogeneity shows that the
higher the state income the higher its trade with other economies.
Keywords: Economic Growth, trade share, trade barriers
ÁREA 11: Economia e Relações Internacionais
JEL: 010; 011; 018
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1. INTRODUÇÃO
A relação entre o crescimento econômico e as políticas econômicas internacionais dos
países é analisada desde a obra clássica, “A Riqueza das Nações”, de 1776. Adam Smith
observou um claro efeito do tamanho do mercado sobre a produtividade, ou seja, o aumento
deste por meio da divisão do trabalho significaria, necessariamente, a busca por novos
mercados para a produção adicional, ultrapassando a ideia de uma economia fechada. No
século XX, com os programas de substituições de importações das décadas de 50 e 60,
incentivado pela CEPAL, e adotado em países latino-americanos, ocorreram intensos debates
acerca dos méritos pró-crescimento da política. Nas décadas de 80 e 90 novos estudos foram
publicados com os desenvolvimento das chamadas teorias do crescimento econômico
endógeno e das técnicas econométricas de séries de tempo.
Diversos artigos publicados nesse último período mostram o que parecem ser
resultados convincentes quanto aos benefícios trazidos pela abertura econômica. Instituições
multilaterais, como a organização para cooperação e desenvolvimento econômico (OECD), o
banco mundial (BM) e o fundo monetário internacional (FMI), sob a influência daqueles
artigos, passaram a promulgar em seus próprios estudos a crença na qual países com maiores
grau de abertura econômica tendem, por conseqüência, gerar resultados positivos previsíveis
sobre as suas taxas de crescimento.
Cabe ressaltar, no entanto, que divergências ainda persistem quanto à natureza dessa
relação e é importante distinguir duas abordagens na literatura econômica que trata o tema do
comércio e seus impactos no crescimento. Tendo como variável explicada a taxa de
crescimento do PIB em ambas as abordagens, a primeira concentra os esforço no fator volume
de comércio como a variável explicativa, enquanto que a segunda se concentra nas políticas
ou barreiras comerciais adotadas pelos países. O maior grau de abertura significa maior
volume de comércio com outros países, na primeira abordagem, e políticas comerciais menos
restritivas, como menores impostos sobre as importações, na segunda abordagem.
Este trabalho tem dois objetivos. Primeiro, calcular a correlação entre as taxas de
crescimento e a abertura econômica no Paraná para o período de 2000 a 2010. Em outras
palavras, o estudo buscará responder se o estado do Paraná teve ganhos econômicos na década
de 2000. Nesse ponto, a noção de abertura econômica será tratada sob a abordagem do
volume de comércio. Segundo, sob o prisma da literatura sobre comércio e desenvolvimento,
verificar se, para a economia paranaense, há a endogeneidade do comércio, ou seja, se a
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economia passou a transacionar mais com o exterior como resultado do crescimento da renda
e não, como é possível de se supor, o contrário.
Afora esta introdução, o artigo está organizado da seguinte maneira: na seção 2
discutir-se-á as duas abordagens do grau de abertura mais usadas na literatura enfatizando, no
entanto, a ótica do volume de comércio (trade share), pois, servirá de base para a primeira
parte empírica do trabalho. Para a segunda parte empírica do trabalho discutir-se-á
brevemente os estudos que tratam da endogeneidade do comércio como resultado do
crescimento da renda. Na seção 3, far-se-á uma discussão da economia paranaense, à partir da
década de 70, principalmente no que tange à questão da abertura econômica. Na seção 4,
providenciar-se-á a metodologia, as fontes de dados e os testes de correlação e econométrico.
Na seção 5, discutir-se-á alguns resultados da pesquisa e futuros caminhos de investigação.
2. CRESCIMENTO ECONÔMICO, GRAU DE ABERTURA E A QUESTÃO DA
ENDOGENEIDADE DO COMÉRCIO: TEORIAS E EVIDÊNCIAS
2.1 O Grau De Abertura Econômica Sob A Ótica Do Volume De Comércio
Poucas questões na história do pensamento econômico tem sido tão debatido, e
nenhuma mais importante na literatura do comércio e desenvolvimento, quanto aquela que
trata da liberalização do comércio (RODRIGUEZ E RODRIK, 2001, p. 1). Existem duas
abordagens concernentes ao significado de grau de abertura econômica (doravante, GAE) e é
importante distingui-las (YANIKKAYA, 2003). A primeira calcula o GAE através do volume
de comércio, ou seja, a razão entre exportações e PIB, importações e PIB e corrente de
comércio e PIB, também denominado de intensidade do comércio (SQUALLI E WILSON,
2006; KARSKI, 2001). A segunda calcula o GAE através de proxies que procuram capturar
as diversas políticas ou barreiras comercias dos países (BALDWIN, 2003; FRANKEL E
ROMER, 1999; RODRIGUEZ E RODRIK, 2000).
Para RODRIGUEZ E RODRIK (2001, p. 3), a questão de se países com baixas
barreiras comerciais crescem mais rápido, uma vez controlado outras variáveis, difere,
conceitualmente, de outra que pergunta se o volume de comércio internacional afeta as taxas
de crescimento. Para YANIKKAYA (2003, p. 59), embora os conceitos sejam muito
próximos, os seus efeitos sobre o crescimento pode diferir consideravelmente, uma vez que
existem outros fatores importantes que afetam o comércio externo de um país como os fatores
geográficos, o tamanho do país e o próprio nível da renda, o que geraria o problema da
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endogeneidade a ser discutido abaixo (ver, por exemplo, FRANKEL E ROMER, 1999;
KARSI, 2001).
Diversos trabalhos empíricos foram conduzidos com o objetivo de medir tanto os
efeitos das políticas comerciais quanto os efeitos do volume de comércio sobre o crescimento.
No entanto, para ambas as abordagens, os resultados não ficaram imune às controvérsias
(YANIKKAYA, 2003). Sobre a medida de barreiras comerciais, RODRIGUEZ E RODRIK
(2001) revisitam inúmeros artigos publicados à partir do trabalho de EDWARDS (1993) e
levantam vários erros tanto empíricos quanto conceituais. No que tange à medida do volume
de comércio, SQUALLI E WILSON (2006) mostram que, pelo cálculo da intensidade do
comércio, as economias dos Estados Unidos, Japão, Alemanha e China seriam classificadas
como fechadas, o que seria considerado um contra-senso, uma vez que tais países respondem
por boa parte do comércio internacional.
Apesar da inconsistência levantada por SQUALLI e WILSON (2006), os autores
admitem que centenas de trabalhos já foram publicados usando a metodologia. HARRISON
(1996), por exemplo, revisa diversos desses trabalhos e encontra uma relação positiva e forte
do trade share com o crescimento. Em trabalhos mais recentes, como FRANKEL e ROMER
(1999), fatores geográficos são usados como variáveis instrumentais correlacionado com o
volume de comércio. Ademais, uma vantagem em se usar a intensidade do comércio como
medida de abertura é que a mesma não se restringe em serem binárias arbitrárias, ou seja, em
que 1 represente uma economia aberta e 0 uma economia fechada e, nesse sentido, é possível
fazer comparações dos diferentes grau de abertura dos países.
No Brasil, diversos estudos se propuseram a estudar a relação entre abertura
econômica e o crescimento econômico (AZEVEDO E PORTUGAL, 1998; FERREIRA E
ROSSI, 2003; MAGALHÃES et al, 2007 e FEITOSA, 2009). Na linha dos efeitos do volume
de comércio é possível citar os trabalhos de SOUZA (2003) e CAMPOS, PRANDO E
VIDIGAL (2006). O primeiro trabalho usa a mesma abordagem para estudar os diferentes
grau de abertura dos estados brasileiros e as suas respectivas correlações com as taxas de
crescimento e conclui que a maioria dos estados possui alta correlação entre as exportações,
importações e o PIB. O segundo trabalho aplica a metodologia especificamente para o estado
do Paraná e encontra igualmente uma correlação positiva.
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2.2 A Endogeneidade do Comércio
A performance econômica de alguns países denominados “tigres asiáticos”, composto
por Hong Kong, Japão, Singapura, Coréia do Sul e Taiwan, durante as três décadas de 1960 a
1980, incentivou a publicação de diversos trabalhos investigando esta experiência de
desenvolvimento. O objetivo central daqueles estudos foi investigar as taxas de crescimento
econômicos desses países tendo como causa principal as suas exportações. Como observado
anteriormente, muitos desses trabalhos tiveram sucesso em provar essa direção de
causalidade.
Porém, de acordo com BRADFORD e CHAKWIN (1993, p. 10): “Despite the
extensive literature, it has not been clear whether exports have been the causal variables to
output growth”. Em outras palavras, a causalidade parecia ir no sentido de um maior
crescimento da renda per capita para uma maior transação comercial com o exterior e não o
contrário, como supôs inicialmente a literatura. Os autores acima sustentam a hipótese na qual
a exportação é uma variável endógena passiva que responde a mudanças do nível corrente e
esperado da renda.
Na interpretação de FRANKEL e ROMER (1999, p. 379): “(…) country whose income
are high for reasons other than trade may trade more.” Para IRWIN e TERVIO (2002), o
pressuposto básico, na qual o comércio permite um país alcançar uma renda real maior, é
difícil de ser testado em parte porque o método dos mínimos quadrado ordinário (MQO) entre
renda e comércio negligencia a endogeneidade do comércio e, portanto, falha na identificação
do seu real efeito sobre a renda.
A solução encontrado tanto por FRANKEL e ROMER (1999) quanto por IRWING e
TERVIO (2002) foi a construção de uma variável instrumental hábil na capturação das
características geográficas dos países, como distância e tamanho, correlacionado com o
volume de comércio, mas não correlacionado com a renda. Ambos os trabalhos encontram
causalidade positiva do comércio sobre a renda per capita dos países.
3. A economia paranaense de 1970 a 2010: Período de intensificação da abertura
comercial.
Na década de 70, com o crescimento da economia brasileira, e com as variações na
divisão do trabalho, advindos do processo de desconcentração da estrutura produtiva
brasileira, teve início o processo de questionamentos sobre novas possibilidades de
desenvolvimento de novos processos de produção, deixando mais evidente esta necessidade
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com a constatação de que o Estado era um grande comprador de produtos manufaturados, e
um vendedor de alimentos e produtos primários.
Ainda durante a década de 1970 a agricultura passou por um processo de
diversificação de culturas, passando a produzir também soja e trigo, substituindo em grande
parte seus métodos de produção rudimentar, para métodos mais modernos e eficientes de
produção, ficando menos dependente do mercado doméstico e se inserindo no mercado
nacional na forma de um sistema único e integrado em 1985 (TRINTIN, apud, CAMPOS,
PRANDO E VIDIGAL, 2008).
No decorrer da década de 1980, o processo de desconcentração da economia nacional
ficou mais lento, devido à perda de capacidade do setor público em fazer investimentos no
setor produtivo, da crise da dívida externa, do aumento da inflação, e problemas financeiros
no Estado do Paraná, o que implicou em políticas econômicas voltadas para estratégias de
curto prazo, principalmente direcionadas para a solução de problemas da dívida externa e
controle da inflação, sem se preocupar com políticas de longo prazo, em beneficio da
indústria e sua modernização.
Devido à crise, entre os anos de 1981 e 1983, o Brasil apresentou taxas de crescimento
do produto interno bruto da indústria de transformação negativos, com valores de (8,8) e (5,9)
respectivamente. E após apresentar crescimento na produção entre 1984 e 1986, apresentou
novo declínio, que durou até o final da década (TRINTIN, 2005).
Já a economia paranaense que ainda sentia os benefícios dos investimentos realizados
na década anterior, sentiu o forte impacto da desaceleração da economia nacional em 1981,
quando as taxas de crescimento do estado caíram fortemente, se tornando negativas em 1982,
apresentando recuperação somente a partir de 1985, quando apresentou uma taxa de
crescimento de 11,5%, mantendo a taxa de crescimento positiva até o final da década
(TRINTIN, 2005). Porém, o estado do Paraná apresentou um efeito diferenciado do resto país
no período, de acordo com TRINTIN (2005, p. 9-10):
Se no Brasil os efeitos da desaceleração do ritmo de crescimento pesaram fortemente sobre o
setor industrial, no Paraná se mostrou bastante diferenciado ao longo do período, pois
apresentou um crescimento superior ao observado para o conjunto da economia brasileira. Isso
se deve principalmente à base produtiva da indústria paranaense ser fortemente atrelada ao
complexo agroindustrial e, devido ao seu bom desempenho, acabou puxando as taxas para
cima e compensando as perdas deste setor, principalmente comandadas pelo gênero químico e
de alimentos.
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Deve-se considerar ainda as mudanças na inserção na economia nacional no que diz
respeito à indústria, já que o setor passa a depender mais da economia nacional para realizar
suas vendas, fazendo com que o mercado doméstico perca sua importância. Outro ponto que
apresentou mudanças e abandonou o mercado doméstico, foram as compras da indústria, que
passaram a negociar com o mercado nacional e internacional, permitindo ao setor criar
vínculos mais fortes com o mercado internacional (TRINTIN, 2005).
De 1985 a 1998, a indústria paranaense foi beneficiada pelo crescimento da economia
nacional, e pela implantação do plano real em julho de 1994, que atraiu um volume
considerável de capitais externos para o país, tanto na forma de investimentos, como em
capital de curto prazo, que pode ser relacionada com a privatização de algumas estatais,
acordos firmados com o MERCOSUL (Mercado comum do Sul), e a estabilidade econômica
nacional na época (CAMPOS, PRANDO e VIDIGAL, 2008).
Outro ponto a favor do desenvolvimento da economia paranaense pode ser apontado
no processo de abertura econômica do governo Collor, e aos auxílios fiscais fornecidos pelo
Estado, buscando atrair novos produtores para o setor industrial do Estado, o que atraiu
grandes empresas como a Volvo S/A, Volkswagen/Audi, Chrysler e Renault, fortalecendo a
indústria de materiais de transporte com produtos de maior grau tecnológico, ao mesmo
tempo em que o setor agrícola continuava a se modernizar e aumentando sua inserção no
mercado nacional (CAMPOS, PRANDO e VIDIGAL, 2008).
De acordo com Souza (2007), a transmissão do crescimento econômico depende, além
do tamanho da base exportadora, da extensão da cadeia produtiva e sua diversificação, e
também de seu ritmo de crescimento.
Nas exportações paranaenses destaca-se a passagem para mercados com menor
concentração de relações comerciais, como África e Europa Oriental, tendo como mercados
de maior expressão União Européia, Estados Unidos, MERCOSUL, Ásia e Oriente Médio,
onde de 1990-2001 a União Européia foi o principal destino das exportações do Paraná,
porém com taxas decrescentes, passando de 49,97% para 35,56%, deixando os Estados
Unidos a cargo de absorver a maior parte dessas exportações. Quanto às importações, a União
Européia se manteve como principal mercado no período, apresentando queda em 1994 e
1996, quando atingiu o menor percentual de exportações para o Brasil, o MERCOSUL,
segundo maior mercado exportador, e os Estados Unidos e Porto Rico como o terceiro.
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4. METODOLOGIA
4.1.1 Dados
Para o cálculo do grau de abertura do Paraná e para o teste da endogeneidade do
comércio no estado, para o período de 2000 a 2010, foram retirados os seguintes dados e
fontes: os dados de exportações e importações foram obtidas no site da Secretaria de Estado
da Indústria, do Comércio e Assuntos do MERCOSUL (SEIM). O PIB do Paraná para o
período foi calculado pelos autores com base nas informações da sua participação no PIB
nacional obtida no site do instituto paranaense de desenvolvimento econômico e social –
IPARDES. O PIB do Brasil no período foi retirado do site do BM (banco mundial).
4.1.2 Coeficiente de correlação
Um instrumento estatístico amplamente utilizado para medir a correlação entre duas
variáveis é o coeficiente de correlação de Pearson. Tal coeficiente tem como objetivo medir a
força de associação linear entre duas variáveis, tratando-as de forma simétrica, não fazendo
distinção entre variável explanatória ou dependente. No presente trabalho, o coeficiente de
Pearson será usado para medir a correlação entre a taxa de crescimento econômico do Paraná
e o seu grau de abertura medido pelo volume de comércio.
O Coeficiente de Pearson é compreendido entre -1 e 1, ou seja, -1 ≤ ρ ≤ 1,
sendo que 1 representa a perfeita correlação direta entre as varáveis, e -1 representa a perfeita
correlação inversa, dado pela seguinte equação:

cov (x, y)

Var(x).Var (y)
n  XY  ( X ).( Y )
[n  X ²  ( X )²][n  Y ²  ( Y )²]
em que:
 representa o coeficiente de correlação linear de Pearson;
n é número de elementos da amostra;

é somatório das variáveis indicadas na forma descrita;
X é a taxa de crescimento do PIB do Paraná;
(1)
10
Y é o grau de abertura econômico (GAE) do Paraná.
A correlação positiva para um par de variáveis significa que ambas mudam
proporcionalmente. Inversamente, a correlação negativa significa que enquanto uma variável
aumenta, a outra varia de forma inversa. Logo, uma correlação positiva entre o crescimento e
o GAE do Paraná significa que existe uma associação linear entre elas: o aumento do PIB do
estado é acompanhado pelo aumento de volume transacionado com o exterior. Conforme dito
anteriormente, como a correlação não sugere direção de causalidade, é possível também
afirmar que o volume transacionado com o exterior é acompanhado do crescimento do PIB
estadual.
4.1.3 Modelo de Regressão Simples Linear
O modelo de regressão linear simples tem o objetivo de testar a hipótese da
endogeneidade prevista na literatura do comércio e desenvolvimento. BRADFORD e
CHAKWIN (2003, p.18-19) estimam um sistema de quatro variáveis em que uma destas é a
quantidade exportada pelo país. Para a estimação da causalidade da renda sobre o volume de
exportações, o trabalho seguirá o seguinte modelo:
X i   0  1Yi  u i
(2)
em que:
X é a variável explicada ou exportações do estado;
Y é a variável explicativa ou o PIB do estado.
Ainda de acordo BRADFORD E CHAKWIN (ibid), a estimação de modelos com as
exportações como a variável explicada e o nível de renda como a variável explicativa é
denominado de formulação growth-led export.
11
4.1.4 Grau de Abertura
Conforme proposto pela abordagem do volume de comércio, o GAE é obtido da
seguinte forma:
GA 
X M
Y
(3)
em que:
GA é o grau de abertura;
X é a exportação;
M é a importação;
Y é a taxa de crescimento do Estado.
4.1.5 Exportações, Importações, GAE e Correlação com o Crescimento
Após a mudança no regime cambial em 1999, e à maior atenção as relações de trocas
com o exterior, é possível perceber a tendência crescente nas exportações de 2000 a 2010.
Com forte queda em 2009, período no qual a economia mundial sofreu com a forte crise
impulsionada pelo setor imobiliário dos Estados Unidos, essas variações podem ser
acompanhadas na Figura 01.
Figura 01: Exportações paranaenses de 2000 a 2010 em mil US$ (FOB).
FONTE: Elaboração própria a partir de dados da SEIM.
12
As importações apresentaram aumento devido à maior inserção da economia paranaense
no mercado mundial, e a necessidade de importação de bens primários para transformação
dado o desenvolvimento industrial e a maior estabilidade econômica. É possível observar uma
queda acentuada em 2009. Sua evolução pode ser acompanhada na Figura 02.
Figura 02: Importações paranaenses de 2000 a 2010 em mil US$ (FOB).
FONTE: Elaboração própria a partir de dados da SEIM.
Ao analisar a economia paranaense no período de 2000 a 2010, seu Produto Interno
Bruto (PIB) apresentou um crescimento satisfatório, tendo uma leve queda somente em 2009,
momento da crise mundial, podendo ser acompanhado pela Figura 03.
Figura 03: Evolução do PIB do Paraná 2000 a 2010.
FONTE: Elaboração própria a partir de dados do Banco Mundial.
Como pode ser visto na Figura 04, mesmo considerando o crescimento constante do
PIB, das importações e exportações, houve uma pequena redução no grau de abertura da
economia paranaense, apresentando os seguintes valores entre 2000 e 2010: 0,023865;
13
0,031373; 0,029861; 0,03009; 0,032099; 0,027954; 0,025302; 0,025648; 0,03058; 0,022156;
0,022457
Figura 04: Grau de abertura da economia paranaense de 2000 a 2010
FONTE: Elaboração própria.
O índice de correlação de Pearson para o grau de abertura da economia e o PIB do
Paraná praticamente é nulo, igual a P = 0,000000000073872546, e de acordo com a Figura
05, não há correlação entre as variáveis.
Figura 05: Correlação entre PIB e Grau de abertura do Paraná entre 2000 e
2010.
FONTE: Elaboração própria.
14
4.1.6 A Questão da Endogeneidade do Comércio no Caso Paranaense
Uma regressão foi realizada para testar a hipótese da endogeneidade do comércio
paranaense usando como variável explicada as exportações para o período de 10 anos
analisados. A matriz de resultado, no apêndice 1, mostra a seguinte equação estimada:
^
X  0,289  0,0777Y
(4)
A equação (4) mostra que para cada aumento do PIB estadual da ordem de 1 bilhão de reais,
haverá elevação das exportações no valor 0,07 bilhão, ou seja, 70 milhões de reais. A
estatística t no valor de 4,41 mostra que o resultado é significante ao nível de 95% de
intervalo de confiança.
15
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
O presente trabalho procurou responder a dois objetivos. Primeiro, medir a correlação
entre o PIB do estado do Paraná e uma medida de grau de abertura econômica específica.
Segundo, estimar, através de um modelo de regressão linear simples, se a hipótese da
endogeneidade do comércio e renda é válido para o estado.
Para alcançar o primeiro objetivo, foi escolhido como medida de abertura econômica a
variável intensidade do comércio, ou seja, a razão entre a somatória das exportações e das
importações e o produto interno bruto corrente do estado. No teste de correlação de Pearson,
foi corroborado a hipótese prevista na literatura, isto é, baixo nível de associação linear entre
comércio exterior e o crescimento da economia. Especificamente, o coeficiente  obtido foi
praticamente nulo.
O segundo objetivo do trabalho testou a hipótese prevista na literatura do comércio e
desenvolvimento na qual o comércio não possui causalidade significativa sobre a renda. A
razão é que existe nessa relação uma inversão de causalidade: países ou estados com renda
maiores tendem a transacionar mais com o exterior. Na estimação do modelo de regressão
linear simples, usando o mínimo quadrado ordinário como estimador dos parâmetros, o nível
de renda do estado do Paraná se mostrou significativo no seu impacto sobre a quantidade ou
volume de exportações do estado.
Vários caminhos de pesquisas podem ser seguidos a partir daqui. Em primeiro lugar,
realizar novos testes de correlação e estimação com um número maior da amostra para
verificar se o resultado permanece similar àqueles encontrados aqui. Em segundo lugar, no
sentido de fazer novos testes para corroborar a questão da endogeneidade, estimar outros
modelos em que a variável explicada seja, por exemplo, a importação ou, também, a
intensidade do comércio. Em terceiro lugar, na linha do modelo proposto por FRANKEL e
ROMER (1999), usar medidas de aberturas econômicas que sejam proxies de características
geográficas ou, na linha pesquisada por YANIKKAYA (2003), em que a autora usa medidas
de intensidade de comércio desagregadas.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA
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Importações. Nova Economia, v. 8, p. 37-63, 1998.
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18
ANEXO 1
RESUMO DOS RESULTADOS
Estatística de regressão
R múltiplo
0,8131924
R-Quadrado
0,6612818
R-quadrado
ajustado
0,62741
Erro padrão
3,0225084
Observações
12
ANOVA
F de
gl
Regressão
SQ
MQ
F
1
178,354
178,354 19,52307
Resíduo
10
91,3556
9,13556
Total
11
269,71
Erro
Coeficientes
padrão
significação
0,00129715
95%
Stat t
valor-P
inferiores
Interseção
-0,289039
2,43321
-0,11879 0,907795
-5,71057015
Variável X 1
0,0777274
0,01759
4,41849 0,001297
0,03853137
RESULTADOS DE RESÍDUOS
Resíduos
Observação
Y previsto
Resíduos
padrão
1
4,638026 -0,70803
-0,24568
2
5,084337 -0,68434
-0,23746
3
5,6503483 -0,34035
-0,1181
19
4
6,5826112 -0,88261
-0,30627
5
8,2189294 -1,01893
-0,35357
6
9,227443
0,17256
0,05988
7
9,5572405
0,46276
0,16058
8
10,329696
-0,3197
-0,11093
9
12,270317
8,07968
2,80365
10
13,644616
1,60238
0,55603
11
14,478554 -3,25655
-1,13002
12
17,282882 -3,10688
-1,07809
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