A OPINIÃO PÚBLICA CRÍTICA A PARTIR DE SITUAÇÕES

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A FILOSOFIA E TECNOLOGIAS: FORMAÇÃO E OPINIÃO PÚBLICA
CRÍTICA
Elvio de Carvalho
Graduado em Filosofia pela UFSM/RS. Membro do projeto Formação Cultural.
[email protected]
Valmir da Silva
Acadêmico curso de Pedagogia da UFSM/RS. Membro do projeto Formação Cultural.
[email protected]
Amarildo Luiz Trevisan
Professor Doutor do Programa de Pós-Graduação em Educação da UFSM/RS
[email protected]
Resumo: Este trabalho tem como objetivo apresentar uma proposta sobre a opinião
pública crítica a partir de situações filosóficas. Para isso, vou me deter em Habermas
por entender a sua relevância no agir comunicativo por uma base formativa da opinião
pública crítica. Os princípios hermenêuticos de Habermas se confrontam com a
criticidade dogmática devido à imposição de sua doxa. Nessa perspectiva, a geração de
uma racionalidade autocrítica se faz necessária na ótica intersubjetiva da compreensão,
conectada a uma interpretação das imagens cotidianas. Primeiramente, para desenvolver
a temática, devemos dar os seguintes passos: 1 explicar o que é uma situação filosófica;
2 apresentar critérios para desenvolver uma aula a partir de situações filosóficas; 3
mostrar como essa proposta se relaciona com as abordagens existentes; 4 apresentar a
racionalidade comunicativa e a opinião pública crítica segundo Hebermas. Isso é,
resumidamente, o que pretendemos apresentar neste trabalho.
Palavras-chave: opinião pública crítica, ensino, educação, filosofia
Vamos supor que estejamos numa escola: esta escola situa-se numa sociedade
determinada com regras pré-estabelecidas. Neste ambiente escolar encontra-se um
professor e um conjunto de pessoas que estão querendo aprender algo significante em
suas vidas. Neste contexto insere-se as situações filosóficas que possibilitam uma
reflexão em conjunto mediante uma opinião pública crítica. Cabe então, enquanto
professores de filosofia, captar as situações filosóficas em aula e aplica-las. Porém, é
preciso saber o que fazer? Esta pergunta é problemática, pois em realidade envolve
problemas. Primeiro, ela expressa uma incerteza sobre a temática tratada em aula.
Entretanto, há casos em que o conteúdo programático é pré-estabelecido, por outro lado,
devemos também satisfazer aos anseios dos alunos. Mas também, devemos ser
suficientemente autônomos aponto de podermos determinar outros rumos para o ensino,
se necessário.
Antes de adentrar na opinião pública crítica, se faz necessário apresentar alguns critérios
que abordem as situações filosóficas.
Penso que uma relevante proposta de ensino parte necessariamente a partir de
instituições básicas, é aí, que se inicia o processo formativo do aluno junto com sua
opinião. É preciso levar em conta o contexto escolar, a realidade em que os alunos estão
inseridos; e ser coerente com a proposta de estudo com os tempos atuais.
O critério contextual são todas as variáveis relevantes para o ensino e para a
aprendizagem. Desse modo, deve-se observar, por exemplo, a faixa etária dos alunos, o
seu ambiente cultural, quais as suas preferências, quais as exigências da escola, da
comunidade em que a escola situa-se, mas também quais são os anseios do próprio
professor.
A partir desses dois critérios acima, me parecem ser bastante confiáveis já que a
proposta a ser trabalhada requer uma análise adequada.
Quando recordamos os diálogos de Platão, Sócrates apresenta geralmente perguntas que
te forma: O que é isso? Nesse sentido, a filosofia passa a ser pensada que fazer pergunta
desse tipo, seja um procedimento correto. No entanto, penso que não é um modo
adequado de fazer pergunta de modo direto, ou seja, em que o aluno não é levado a
conduzir o seu pensamento a tal pergunta. Desse modo, não haverá um diálogo
satisfatório entre professor-aluno que leve a uma interação crítica.
Em Logik, ein Handbuch zu Vorlesungen no parágrafo 119, Kant comenta que existem
dois métodos para ensinar uma ciência: acromático e erotemático. No primeiro, o
professor unicamente ensina, isto é, apenas expõe o conteúdo; no segundo, além de
ensinar ele também interroga. O método erotemático, por sua vez, Kant o divide em
diálogo ou socrático e em catequético, conforme a direção de perguntas: no primeiro o
intelecto, no segundo, a memória. Nesse sentido, Kant ainda observa que só pode levar
ensino pelo método erotemático ser for pelo diálogo socrático no qual o professor e
aluno devem mutuamente interrogar e responder, pois mediante o método catequético
comum pode-se apenas indagar sobre o que foi acromaticamente ensinado. Dessa
forma, Kant conclui:
o método catequético vale tão somente para os conhecimentos
empíricos e históricos, ao passo que o diálogo vale, ao oposto,
para os racionais (KANT, 2003, 297).
Kant considera que “o conhecimento filosófico é conhecido racional por conceitos”
(KANT, 2001, B741), assim podemos concluir que o ensino de filosofia deveria dar-se
pelo método erotemático, em particular, pelo diálogo socrático. Ou seja, Kant estaria
concordado com a proposta de ensino socrático que é o ideal para o ensino de filosofia.
As situações filosóficas são as ações cotidianas de cada ser humano em interação com a
realidade. Pensemos um pouco sobre a realidade de vida em que os mestres da filosofia
viviam. Por exemplo, o mestre Platão em geral encontravam-se em situações
corriqueiras, depara-se com algum amigo, eles começam a conversar e, de repente,
surgem algumas dúvidas muitos diferentes das que fazem diariamente, na seqüência eles
procuram soluciona-las, porém jamais conseguem uma resposta definitiva.
A filosofia ensinada nas escolas em geral, não consideram uma pré-aprendizagem dos
problemas que compõem as disciplinas filosóficas. Ou seja, cada campo de ensino
possui seu campo de atuação e sua situação peculiar. Desse modo, penso ser necessário
ensinar filosofia a partir de uma pré-compreensão do que ela é. Além disso, é
importante fazer com que os alunos sejam inseridos em situações filosóficas para que
despertem o valor do saber filosófico.
Partir das situações filosóficas é necessária para que os alunos tenham uma maior
aceitabilidade dos conteúdos filosóficos. Entretanto, isso só não é suficiente, é
importante que os alunos junto com o professor, sejam sujeitos atuantes em que
busquem diálogos reflexivos e críticos.
Para se ter uma maior compreensão da opinião pública, enquanto processo formativo do
aluno, penso ser possível recorrer a racionalidade comunicativa de Habermas.
A racionalidade comunicativa habermasiana busca fundamentos necessários ao
enfrentamento da cientificidade moderna. Em meios possíveis ao confronto com o
pensamento moderno, a opinião pública crítica poderá capacitar os indivíduos mediante
uma razão pensante e atuante. Nesse sentido, a razão pós-metafísica com o caráter de
telos deverá criar possibilidades na discursividade entre o sujeito e objeto. Desse modo,
a agir comunicativo, compreendido num desenvolvimento circular, possibilita o sujeito
a ser uma dualista. Também, começa suas ações imputáveis e paralelamente produto das
tradições em seu meio. Com isso, a finalidade da ação informativa pelo sujeito é
proclamar a veracidade ou legitimar a razão teórica. Assim, a teoria comunicativa
buscará instrumentos analíticos que poderá conduzir ao discurso idealizado pelos
sujeitos autônomos. Por outro lado, os sujeitos informatizados, através de uma
moralidade educada, tentam uma opinião pública diferenciada da trivialidade mundana.
Em outro ponto, entende-se que a opinião pública foi gerada a partir de uma
comunicação pública articulado pela vontade geral da população. Para isso, Habermas
utiliza o uso público da razão na tentativa de estabilizar a política. Sendo assim, a teoria
discursiva democrática tenta harmonizar as liberdades públicas com as privadas,
priorizando a essência de cada uma. Assim, o agir comunicativo ressuscita o uso da
racionalidade prática visando uma intersubjetividade compreensiva pelos sujeitos
engajados.
Atualmente, os processos de comunicação são influenciados pela cultura de massa.
Assim, os protagonistas de opinião são sujeitos especializados e capacitados ao medir
racionalmente seu logos.
Acerca da temática, a decodificação do espírito, ou seja, uma espécie de cultura de
informação necessita de uma reissificação que re-estabeleça o predomínio do sujeito
frente ao objeto. Em contrapartida, o pensador contemporâneo está preocupado em
passar informações ou ensinar o aluno a pensar pela sua razão e aí torna o sujeito de seu
próprio ato. Nesse sentido, o sujeito preparado para o pensamento calcado pela
hermenêutica gera uma sociedade de sujeitos responsáveis que, mesmo ainda em
conjuntos se alinham numa reação determinada, e se dirigem para uma decisão cujo
posicionamento não necessariamente seja unânime. Tendo em vista, o mundo
cientificista de hoje marcado por grandes descobertas tecnológicas, tornam os sujeitos
robotizados e passivos.
A educação estética poderá contribuir para o crescimento crítico na formação da opinião
pública crítica. A proposta de Habermas é reconstruir as alternativas viáveis na
construção de um modelo estritamente racional que tenha a finalidade emancipatória do
sujeito, enquanto inserido no processo formativo coletivo da opinião pública crítica. Em
meio as possíveis alternativas, a saída do sujeito de sua menoridade para uma práxis
discursiva possibilita o seu desempenho empreendedor. Sendo assim, a validade
objetiva, enquanto agir comunicativa é determinada necessariamente por vontades
subjetivas enquanto sujeitos críticos conscientes. Com isso, a teoria de Habermas
tentará re-estabelecer a credenciamento do poder crítico referente a exclusividade
racional-humanizada, mediante uma ação pedagógica transformadora e libertadora.
Além disso, é primordial saber de onde parte o ensino de filosofia para que a
metodologia tenha um efeito eficaz. Também, há de ser em vista que não podemos
saber a priori que estratégia de ensino terá mais sucesso. Isso é uma questão empírica, e
só a prática poderá decidir sobre qual a melhor estratégia de ensino de filosofia que
possibilita uma opinião pública crítica. O que podemos dizer de antemão é que existem
propostas que são plausíveis do que outras.
Contudo, sem uma preparação adequada dos profissionais da educação e dos métodos
eficazes, ficaremos à mercê da cultura mediática. Em contrapartida, Habermas salienta
que os sujeitos educadores fundamentados num agir comunicativo, possibilitarão um
desenvolvimento no processo intelectual e humano, na medida do uso reflexivo racional
enquanto opinião pública crítica participativa e coletiva.
BIBLIOGRAFIA
HABERMAS, J. Consciência Moral e Agir Comunicativo. Rio de Janeiro: Tempo
Brasileiro Ltda, 1989.
___. Ciência e Técnica como Ideologia. Madrid: Tecnos, 1997.
KANT, Immanuel. Manual dos Cursos de Lógica Geral. Tradução: Fausto Castilho.
2ª ed. Campinas: Editora da Unicamp, 2003.
___.Crítica da Razão Pura. Tradução: Alexandre Fradique Morijão e Manuela Pinto
dos Santos. 5ª ed. Lisba: Fundação Calouste Gulbenkian, 2001.
___. Pedagogia. Madrid: Akal, 1983.
LIMA, Luiz Costa. Teoria da Cultura de Massa. Rio de Janeiro: Saga, 1969.
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