a opinião pública crítica a partir de situações filosóficas

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A OPINIÃO PÚBLICA CRÍTICA A PARTIR DE SITUAÇÕES
FILOSÓFICAS EM SALA DE AULA
Elvio de Carvalho1
Resumo:
Este trabalho tem como objetivo apresentar uma proposta sobre a opinião pública crítica a partir
de situações filosóficas. Para isso, vou-me deter em Habermas pôr entender a sua relevância no
agir comunicativo por uma base formativa da opinião pública crítica. Os princípios
hermenêuticos de Habermas se confrontam com a criticidade dogmática devido à imposição de
sua doxa. Nessa perspectiva, a geração de uma racionalidade autocrítica se faz necessária na ótica
intersubjetiva da compreensão, conectada a uma interpretação das imagens cotidianas.
Primeiramente, para desenvolver a temática, devemos dar os seguintes passos: 1) explicitar o que
é uma situação filosófica; 2) apresentar critérios para desenvolver uma aula a partir de situações
filosóficas; 3) mostrar como essa proposta se relaciona com as abordagens existentes; 4)
apresentar a racionalidade comunicativa e a opinião pública crítica segundo Habermas. Isso é,
resumidamente, o que pretendemos apresentar neste trabalho.
Palavras-chave: Opinião pública crítica. Ensino. Filosofia.
Vamos supor que estejamos numa escola: esta escola situa-se numa sociedade
determinada com regras pré-estabelecidas. Neste ambiente escolar encontra-se um professor e um
conjunto de pessoas que estão querendo aprender algo significante em suas vidas. Neste contexto
insere-se as situações filosóficas que possibilitam uma reflexão em conjunto mediante uma
opinião pública crítica. Cabe então, enquanto professores de filosofia, captar as situações
filosóficas em aula e aplicá-las. Porém, é preciso saber o que fazer? Esta pergunta é problemática,
pois em realidade envolve problemas. Primeiro, ela expressa uma incerteza sobre a temática
tratada em aula. Entretanto, há casos em que o conteúdo programático é pré-estabelecido, por
outro lado, devemos também satisfazer aos anseios dos alunos. Mas também, devemos ser
suficientemente autônomos aponto de podermos determinar outros rumos para o ensino, se
necessário.
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Graduando do 6ª Semestre do Curso de Filosofia pela UFSM. E-mail: [email protected].
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Antes de adentrar na opinião pública crítica, se faz necessário apresentar alguns critérios
que abordem as situações filosóficas.
Penso que uma relevante proposta de ensino parte necessariamente a partir de instituições
básicas, é aí, que se inicia o processo formativo do aluno junto com a sua opinião. É preciso levar
em conta o contexto escolar, a realidade em que os alunos estão inseridos; e ser coerente com a
proposta de estudo nos tempos atuais.
O critério contextual são todas as variáveis relevantes para o ensino e para a
aprendizagem. Desse modo, deve-se observar, por exemplo, a faixa etária dos alunos, o seu
ambiente cultural, quais as suas preferências, quais as exigências da escola, da comunidade em
que a escola situa-se, mas também quais são os anseios do próprio professor.
O critério de compreensão é o critério que estabelece que uma metodologia de ensino não
pode estar desligada do desenvolvimento da filosofia na atualidade.
A partir desses dois critérios acima, me parecem ser bastante confiáveis já que a proposta
a ser trabalhada requer uma análise adequada.
Quando recordamos os diálogos de Platão, Sócrates apresenta geralmente perguntas que
têm a forma: O que é isto? Nesse sentido, a filosofia passa a ser pensada que fazer pergunta desse
tipo, seja um procedimento correto. No entanto, penso que não é um modo adequado de fazer
pergunta de modo direto, ou seja, em que o aluno não é levado a conduzir o seu pensamento a tal
pergunta. Desse modo, não haverá um diálogo satisfatório entre professor-aluno que leve a uma
interação crítica.
Em Logik, ein Handbuch zu Vorlesungen no parágrafo 119, Kant comenta que existem
dois métodos para se ensinar uma ciência: acromático e erotemático. No primeiro, o professor
unicamente ensina, isto é, apenas expõe o conteúdo; no segundo, além de ensinar ele também
interroga. O método erotemático, por sua vez, Kant o divide em diálogo ou socrático e em
catequético, conforme a direção das perguntas: no primeiro, ao intelecto, no segundo, a memória.
Nesse sentido, Kant ainda observa que só pode levar ensino pelo método erotemático se for pelo
diálogo socrático no qual o professor e aluno devem mutualmente interrogar e responder, pois
mediante o método catequético comum pode-se apenas indagar sobre o que foi acromaticamente
ensinado. Dessa forma, Kant conclui:
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o método catequético vale tão somente para os conhecimentos empíricos
e históricos, ao passo que o diálogo vale, ao oposto, para os racionais.
(Kant, 2003, p.297).
Kant considera que "o conhecimento filosófico é conhecimento racional por conceitos"
(Kant, 2001, B741), assim podemos concluir que o ensino de filosofia deveria dar-se pelo método
erotemático, em particular, pelo diálogo socrático. Ou seja, Kant estaria concordando com a
proposta de ensino socrático que é o ideal para o ensino de filosofia.
As situações filosóficas são as ações cotidianas de cada ser humano em interação com a
realidade. Pensemos um pouco sobre a realidade de vida em que os mestres da filosofia viviam.
Por exemplo, o mestre Platão em geral encontravam-se em situações corriqueiras, depara-se com
algum amigo, eles começam a conversar e, de repente, surgem algumas dúvidas muitos diferentes
das que fazem diariamente, na seqüência eles procuram solucioná-las, porém jamais conseguem
uma resposta definitiva.
A filosofia ensinada nas escolas em geral, não consideram uma pré-aprendizagem dos
problemas que compõem as disciplinas filosóficas. Ou seja, cada campo de ensino possui seu
campo de atuação e sua situação peculiar. Desse modo, penso ser necessário ensinar filosofia a
partir de uma pré-compreensão do que ela é. Além disso, é importante fazer com que os alunos
sejam inseridos em situações filosóficas para que despertem o valor do saber filosófico.
Partir das situações filosóficas é necessária para que os alunos tenham uma maior
aceitabilidade dos conteúdos filosóficos. Entretanto, isso só não é suficiente, é importante que os
alunos, junto com o professor, sejam sujeitos atuantes em que busquem diálogos reflexivos e
críticos.
Para se ter uma maior compreensão da opinião pública, enquanto processo formativo do
aluno, penso ser plausível recorrer a racionalidade comunicativa de Habermas.
A racionalidade comunicativa habermasiana busca fundamentos necessários ao
enfrentamento da cientificidade moderna. Em meios possíveis ao confronto com o pensamento
moderno, a opinião pública crítica poderá capacitar os indivíduos mediante uma razão pensante e
atuante. Nesse sentido, a razão pós-metafísica com o caráter de telos deverá criar possibilidades
na discursividade entre o sujeito e o objeto. Desse modo, a agir comunicativo, compreendido num
desenvolvimento circular, possibilita o sujeito a ser um dualista. Também, começa suas ações
imputáveis e paralelamente produto das tradições em seu meio. Com isso, a finalidade da ação
informativa pelo sujeito é proclamar a veracidade ou legitimar a razão teórica. Assim, a teoria
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comunicativa buscará instrumentos analíticos que poderá conduzir ao discurso idealizado pelos
sujeitos autônomos. Por outro lado, os sujeitos informatizados, através de uma moralidade
educada, tentam uma opinião pública diferenciada da trivialidade mundana. Em outro ponto,
entende-se que a opinião pública foi gerada a partir de uma comunicação pública articulado pela
vontade geral da população. Para isso, Habermas utiliza o uso público da razão na tentativa de
estabilizar a política. Sendo assim, a teoria discursiva democrática tenta harmonizar as liberdades
públicas com as privadas, priorizando a essência de cada uma. Assim, o agir comunicativo
ressuscita o uso da racionalidade prática visando uma intersubjetividade compreensiva pelos
sujeitos engajados.
Atualmente, os processos de comunicação são influenciados pela cultura de massa.
Assim, os protagonistas de opinião são sujeitos especializados e capacitados ao medir
racionalmente seu logos.
Acerca da temática, a decodificação de espírito, ou seja, uma espécie de cultura de
informação necessita de uma reissificação que re-estabeleça o predomínio do sujeito frente ao
objeto. Em contrapartida, o pensador contemporâneo está preocupado em passar informações ou
ensinar o aluno a pensar pela sua razão e aí torna o sujeito de seu próprio ato. Nesse sentido, o
sujeito preparado para o pensamento calcado pela hermenêutica gera uma sociedade de sujeitos
responsáveis que, mesmo ainda em conjuntos se alinham numa reação determinada, e se dirigem
para uma decisão cujo posicionamento não necessariamente seja unânime. Tendo em vista, o
mundo cientifista de hoje marcado por grandes descobertas tecnológicas, tornam os sujeitos
robotizados e passivos.
A educação estética poderá contribuir para o crescimento crítico na formação da opinião
pública crítica. A proposta de Habermas é reconstruir as alternativas viáveis na construção de um
modelo estritamente racional que tenha a finalidade emancipatória do sujeito, enquanto inserido
no processo formativo coletivo da opinião pública crítica. Em meios as possíveis alternativas, a
saída do sujeito de sua menoridade para uma práxis discursiva possibilita o seu desempenho
empreendedor. Sendo assim, a validade objetiva, enquanto agir comunicativo é determinada
necessariamente por vontades subjetivas enquanto sujeitos críticos conscientes. Com isso, a teoria
de Habermas tentará re-estabelecer o credenciamento do poder crítico referente á exclusividade
racional-humanizada, mediante uma ação pedagógica transformadora e libertadora.
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Além disso, é primordial saber de onde parte o ensino de filosofia para que a metodologia
tenha um efeito eficaz. Também, há de se ter em vista que não podemos saber a priori que
estratégia de ensino terá mais sucesso. Isso é uma questão empírica, e só a prática poderá decidir
sobre qual a melhor estratégia de ensino de filosofia que possibilita uma opinião pública crítica.
O que podemos dizer de antemão é que existem propostas que são plausíveis do que outras.
Contudo, sem uma preparação adequada dos profissionais da educação e dos métodos
eficazes, ficaremos á mercê da cultura midiática. Em contrapartida, Habermas salienta que os
sujeitos educadores fundamentados num agir comunicativo, possibilitarão um desenvolvimento
no processo intelectual e humano, na medida do uso reflexivo racional enquanto opinião pública
crítica participativa e coletiva.
Referências bibliográficas
KANT, Immanuel. Manual dos Cursos de Lógica Geral. Tradução: Fausto Castilho. 2. ed.
Campinas: Editora da Unicamp, 2003.
KANT, Immanuel. Crítica da Razão Pura. Tradução: Alexandre Fradique Morujão e Manuela
Pinto dos Santos. 5. ed. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2001.
HABERMAS, J. Consciência Moral e Agir Comunicativo. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro
Ltda, 1989.
LIMA, Luiz Costa. Teoria da Cultura de Massa. Rio de Janeiro: Saga, 1969.
KANT, Immanuel. Pedagogia. Madrid: Akal, 1983.
HABERMAS, J. Ciência e Técnica como Ideologia. Madrid: Tecnos, 1997.
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