OFICINA DE REANIMAÇÃO NEONATAL Instrutor Coordenador: Professor Marcos Parolin Ceccatto Instrutoras: Dra Ana Lúcia Figueiredo Sarquis e Professora Paulyne Stadler Venzon O nascimento representa um momento de grandes alterações na fisiologia do ser humano, as quais ocorrem em um curtíssimo período de tempo, por isso requer acompanhamento criterioso. Cerca de 90% dos bebês que acabaram de nascer fazem a transição da vida intra-uterina para extra-uterina sem dificuldade. Eles precisam de pouca ou nenhuma assistência para iniciar as respirações espontâneas e regulares e completar a transição do padrão cardiovascular fetal para o neonatal. No entanto, aproximadamente, 10% dos recém-nascidos precisam de alguma assistência para começar a respirar logo após o nascimento e 1% necessita de medidas de reanimação agressivas para sobreviver. Considerando-se a freqüência de neonatos que precisam de algum procedimento de reanimação e a rapidez com que tais manobras devem ser iniciadas, é fundamental que pelo menos um profissional capaz de iniciar de forma adequada a reanimação neonatal esteja presente em todo parto. Quando se antecipa o nascimento de um neonato de alto risco, devem estar presentes na sala de parto no mínimo dois profissionais treinados e capacitados a reanimar o recém-nascido de maneira rápida e efetiva. No caso do nascimento de produtos de gestação múltipla, deve-se dispor de material e equipe para cada um dos conceptos. Todos os procedimentos realizados durante a reanimação neonatal levam em conta os seguintes preceitos básicos: • A (airways) - manter as vias aéreas pérvias por meio do posicionamento adequado da cabeça e pescoço; da aspiração da boca, nariz e, se necessário, da traquéia. • B (breathing) - garantir a respiração por meio da ventilação com pressão positiva. • C (circulation) - manter a circulação com a massagem cardíaca e o uso de medicações ou fluidos. O fluxograma da reanimação neonatal inicia-se ao nascimento, avaliando quatro questões relativas à idade gestacional, aspecto do líquido amniótico, padrão respiratório do recém-nascido e seu tônus muscular. Nos casos de líquido meconial prematuridade, respiração irregular ou apnéia e/ou hipotonia, passos iniciais de reanimação devem ser iniciados. A presença de líquido meconial associada à vitalidade inadequada requer, além da colocação do recém-nascido em fonte de calor radiante e posicionamento adequado da cabeça, a visualização da glote e aspiração traqueal; antes que o bebê seja estimulado e ventilado. Nas demais situações (prematuridade, respiração irregular ou ausente, hipotonia), os passos iniciais compreendem colocar o recém-nascido em fonte de calor radiante, posicionar a cabeça em leve extensão, aspirar a boca e narinas, secar, remover os campos, estimular e reposicionar. Em seguida, é avaliada a respiração, frequência cardíaca e cor. A presença de cianose central, mas com respiração regular e frequência cardíaca superior a 100 batimentos cardíacos por minuto, é manejada com oxigênio (O2) inalatório. A persistência de cianose central além de 30 segundos após o uso de O 2, determina a indicação de ventilação com pressão positiva com balão e máscara. Nas circunstâncias em que ocorre respiração irregular, apnéia ou frequência cardíaca inferior a 100 batimentos cardíacos por minuto, é preconizado iniciar a ventilação com pressão positiva com balão e máscara. Com relação a intubação traqueal, pode-se citar algumas de suas indicações: ventilação com pressão positiva ineficaz ou prolongada, presença de líquido amniótico meconial e vitalidade inadequada, necessidade de massagem cardíaca, prematuridade extrema e hérnia diafragmática congênita. A massagem cardíaca é indicada quando a frequência cardíaca está abaixo de 60 batimentos por minuto; deve ser realizada no terço inferior do esterno (abaixo da linha intermamilar e acima do apêndice xifóide). As técnicas utilizadas são a dos ¨dois dedos¨ ou a dos ¨dois polegares¨, preferindo essa última por ser menos cansativa e mais efetiva. Se após 30 segundos de massagem cardíaca, a frequência permanecer abaixo de 60 batimentos por minuto, está indicado o uso de drogas. A medicação primeiramente usada é a adrenalina, sendo que a primeira dose pode ser feita endotraqueal e as demais, se necessárias, endovenosas (veia umbilical, de preferência, ou intra-óssea). O uso de expansor de volume também pode ser indicado, o bicarbonato de sódio deve ser prescrito criteriosamente e o naloxone, apenas quando houver uso materno de opióide há menos de quatro horas do parto. O ponto central da reanimação neonatal é o estabelecimento da adequada ventilação pulmonar, sendo para isso, necessário que as vias aéreas estejam permeáveis. Esforços de reanimação neonatal que não priorizem a aeração adequada dos pulmões do recém-nascido, enquanto ocorre a transição do padrão cardiovascular do tipo fetal para o adulto, serão fúteis. A indicação dos diferentes passos da reanimação depende da avaliação de três sinais: respiração, freqüência cardíaca e cor. Os procedimentos em sala de parto são ditados pela avaliação integrada desses sinais. A freqüência cardíaca é o principal determinante da decisão de indicar as diversas manobras de reanimação. As condutas relativas à reanimação do recém- nascido na sala de parto abordadas neste resumo se baseiam nas recomendações do Consenso Internacional de Reanimação Neonatal, feitas pelo ILCOR (International Liaison Committee on Resuscitation) em 2005, e nas diretrizes publicadas pela Academia Americana de Pediatria em 2006 e foram adotadas pelo Programa de Reanimação Neonatal da Sociedade Brasileira de Pediatria a partir de 2006, tendo como relatoras Professora Doutora Ruth Guinsburg e Professora Doutora Maria Fernanda Branco de Almeida. Bibliografia • International Liaison Committee on Resuscitation. Part 7: Neonatal resuscitation. Resuscitation 2005; 67:293-303. • Kattwinkel J. Manual de Reanimação Neonatal. Organização, tradução e revisão técnica do manual Ruth Guinsburg, Maria Fernanda Branco de Almenida; organização do manual, tradução e revisão técnica das ilustrações Milton Harumi Miyoshi. 5ª. ed. UNIFESP, 2009 FLUXOGRAMA DE REANIMAÇÃO NEONATAL Tempo aproximado NASCIMENTO • Gestação a termo? • Ausência de mecônio? • Respirando ou chorando? Não 30 segundos • Prover calor • Posicionar a cabeça e aspirar vias aéreas* • AVALIAR respiração, frequência cardiaca e cor Respirando, FC > 100 e cianose central 30 segundos Apnéia ou FC < 100 Considerar O2 inalatório Cianose central persistente • Ventilar com pressão positiva* FC < 60 30 segundos • FC > 60 Ventilar com pressão positiva (INTUBADO) • Iniciar massagem cardíaca FC < 60 Administrar adrenalina *Considerar intubação traqueal nos vários passos. FC < 60 Reavaliar a efetividade da: ventilação massagem cardíaca intubação adrenalina Considerar a possibilidade de: hipovolemia Manual de Reanimação Neonatal, 5ª ed, American Academy of Pediatrics & American Heart Association, UNIFESP 2006