laudo médico pericial

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Prof. Oscar Cirne Neto
Perícias Judiciais
Pareceres Médico-Legais
1
LAUDO MÉDICO PERICIAL.
Preâmbulo.
Ao primeiro dia do mês de junho do ano de 2009, o Perito
Dr. OSCAR LUIZ DE LIMA E CIRNE NETO, designado pelo MM Juiz
de Direito da 3.ª Vara Cível Regional do Méier, para proceder ao
exame pericial em VERA LUCIA NUNES, nos Autos do processo N.º:
2004.208.200420.8, onde consta como Réu Clinica Radiológica
Rio Sul Ltda., descrevendo com verdade e com todas as
circunstâncias, o que vir, descobrir e observar, bem como responder
aos quesitos das partes. Esteve presente ao evento Pericial, o Ilustre
Assistente Técnico do Réu Dr. Paulo Leão Marinho CRM 52651324
e-mail: paulo@pauloleãomarinho.com.br. Em conseqüência, passa
ao exame pericial solicitado, as investigações que julgou necessárias,
as quais findas, passa a declarar:
Identificação.
Vera Lucia Nunes, brasileira, casada, nascida no dia
09/05/1962, natural do Rio de Janeiro portadora da C.I. N.º RG
048971958 IFP, vivendo e residindo a Rua Dois de Fevereiro nº2486,
casa 201, Engenho do Roçado, Rio de Janeiro, RJ; de profissão:
Funcionária Pública.
Histórico.
São as seguintes, as declarações da paciente:
No final de 2003 foi fazer seu controle anual de saúde.
Procurou a médica da Policia para fazer um check-up, inclusive
porque estava perdendo cabelo. Procurou o posto médico da polícia
Civil onde a médica solicitou diversos exames dentre os quais a
densitometria óssea.
Avaliando os seus exame e principalmente a
densitometria óssea a médica identificou a existência de osteoporose
grave da coluna lombar e iniciou tratamento específico.
Tal notícia repercutiu mal sobre ela que viu a sua
carreira na polícia ir por água abaixo, inclusive porque qualquer
atividade física repercutiria sobre a coluna possibilitando fraturas.
Em face disso começo intenso tratamento com a
psicóloga Vânia que era muito caro para ela. Sentia-se como alguém
que a qualquer momento teria uma fratura de coluna.
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Por sugestão da psicóloga procurou outra clínica que
demonstrou que refez o exame e demonstrou que ela não tinha nada
disso.
Não tomou medicação e não tomou remédios para
depressão e não chegou a se afastar do trabalho como policial, mas
chagou a pensar em se matar.
Fez
mais
duas
densitometrias
que
se
mostraram
normais.
Exame Físico.
A paciente ao exame é uma mulher branca, que deu
entrada caminhando por seus próprios meios e sem o auxílio de
aparelhos; está em bom estado físico, bom estado de nutrição e
aparenta uma idade física compatível com a idade cronológica.
Está lúcida, orientada, no tempo e no espaço, o
pensamento tem forma, curso e conteúdo normal, a memória está
presente e preservada, o humor igualmente presente e adequado às
situações propostas. Não notamos a presença de delírios ou
alucinações.
O exame físico é irrelevante para o que se discute.
Discussão.
O Réu, afirma que o diagnóstico de osteoporose grave não
existe, que o seu equipamento é certificado, e que se a médica
prescreveu é que entendeu como válido os exames e qo quadro
clínico e laboratorial, optando pelo resultado da coluna e
desprezando o resultado femoral.
Afirma que os gases intestinais atrapalham este exame e
que isto pode ser provado por fita VHS, ressaltando que existe uma
ultrassonografia transvaginal nos Autos, que pode cocorrer
transitoriamente.
Aduz que a conduta correta frente a discrepância dos
achados em coluna e colo femoral seria prosseguir em investigação
ou entrara em contato com o emissor do laudo.
Questiona o fato de a psicóloga ter solicitado um novo
exame e que este exame ao ser apresentado também a um novo
médico este, solicitou radiografias simples, que ao analisar o
conjunto de exames disse que o segundo exame era o correto e que o
primeiro exame era errado.
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Trata-se de um processo de Responsabilidade Civil, por
alegado erro diagnóstico em densitometria óssea, estando a Autora
na condição de paciente.
Antes de enfrentarmos o cerne da questão
interessante
que
abordássemos
alguns
conceitos
fundamentarão as conclusões do presente parecer.
seria
que
A atual definição de osteoporose engloba uma diminuição
da massa óssea ou osteopenia, associada à desorganização da
microarquitetura óssea e ao aumento do risco de fraturas.
Os locais do esqueleto mais importantes para serem
estudados são aqueles que apresentam o maior índice de fraturas
por fragilidade óssea, ou seja, a coluna vertebral dorso-lombar, o
terço proximal do fêmur, além de mais dois que só são
investigados em situações especiais: o terço distal do rádio e o terço
proximal do úmero.
A radiografia simples é de baixa sensibilidade para o
diagnóstico, só evidenciando a perda de massa óssea ou osteopenia
da osteoporose, quando esta for superior a 30% até 50%.
Durante os últimos 20 anos, algumas técnicas de
imagem têm sido desenvolvidas para quantificar, de maneira
sensível a massa óssea.
São elas:
a tomografia computadorizada quantitativa;
absorciometria por fóton único (SPA);
a absorciometria por fóton duplo (DPA);
a absorciometria por raios-X de dupla energia (DEXA);
a ultra-sonometria óssea.
Sobres estes não vamos nos aprofundar em virtude das
particularidades e objetivos desta avaliação.
Ao analisarmos os resultados das medidas de massa
óssea realizadas pelos diferentes métodos de imagem, devemos levar
em consideração a variabilidade intra e inter-paciente, intra e interoperador e intra e inter-equipamento.
A densitometria por absorção de raios-X de dupla energia
(DEXA), é atualmente considerada a técnica padrão-ouro para a
medida da massa óssea, em função da sua precisão, duração,
segurança e custo.
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Mas como é do conhecimento de todos, os exames só
devem ser interpretados frente às queixas do paciente e, todos eles
tem precisas indicações clínicas.
As indicações definidas pela National Osteoporosis
Foundation1 para a densitometria óssea compreendem:
1- Mulheres em fase peri ou pós-menopausa
recente;
2- Alterações vertebrais radiográficas sugestivas de
osteopenia;
3- Terapêutica prolongada com glicocorticóides;
4- Hiperparatireoidismo primário assintomático.
Desta forma entendemos que o exame embora precoce,
estaria em tese indicado até para funcionar como marcador da
massa óssea para as alterações que com o progredir da idade se
avizinhavam.
As regiões padronizadas para o exame são a coluna
lombar, o fêmur proximal, o rádio distal e o corpo total. Enquanto a
mensuração da densidade óssea da coluna lombar seria mais
indicada na faixa etária perimenopausa, o fêmur proximal o seria na
faixa senil, o rádio distal na suspeita de hiperparatireoidismo e o
corpo total no esqueleto em desenvolvimento da faixa infantojuvenil.
Os resultados são expressos em valores absolutos ou
gramas por cm2 de densidade mineral óssea (DENSIDADE MINERAL
ÓSSEA), e em valores relativos ou desvios-padrão (DP) e
porcentagem.
Tais valores relativos são expressos pelos índices T e Z,
que significam:
índice T = perda de massa óssea em relação a média da DENSIDADE
MINERAL ÓSSEA de adultos jovens no pico de massa óssea do
mesmo sexo, raça e peso corporal;
índice Z = perda de massa óssea em relação a média da DENSIDADE
MINERAL ÓSSEA de controles normais da mesma idade, sexo, raça
e peso corporal.
A atual classificação densitométrica de perda de massa
óssea aceita pela Organização Mundial de Saúde, foi preconizada por
Kanis 2 em 1994, baseia-se no índice T e compreende:
1
Johnston CC, Melton LJ, Lindsay R, et al. Clinical indications for bone mass measurements. A report from the
Scientific Advisory Board of the National Osteoporosis Foundation. J Bone Miner Res 1989;4:l-28.
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1- Normal = DENSIDADE MINERAL ÓSSEA até 1 desvio-padrão (DP)
abaixo do pico de massa óssea;
2- Osteopenia = DENSIDADE MINERAL ÓSSEA entre 1 e 2,5 DP
abaixo do pico de massa óssea;
3- Osteoporose = DENSIDADE MINERAL ÓSSEA acima de 2,5 DP
abaixo do pico de massa óssea;
4- Osteoporose estabelecida = idem acima na presença de 1 ou mais
fraturas por fragilidade óssea.
A acurácia e a precisão da densitometria óssea estão
relacionadas com o periódico controle de qualidade e calibração do
aparelho utilizado. Por outro lado, a sua sensibilidade diagnóstica
na coluna lombar pode estar diminuída pela presença de artefatos
esqueléticos (osteófitos da osteoartrose) ou extra-esqueléticos
(calcificação da aorta e litíase renal).
A alta frequência de osteófitos artrósicos em indivíduos
idosos, falsamente hipervalorizam a densidade mineral óssea da
coluna lombar, diminuindo, portanto a sensibilidade do método
nestas circunstâncias, pela elevação dos resultados falso-negativos,
ou seja negando a osteoporose.
A melhor correlação dos valores de densidade óssea,
entre diferentes regiões analisadas, é encontrada entre a coluna
lombar e o colo femoral, sendo da ordem de 0,5. A taxa normal de
perda de massa óssea gira em torno de 0,5% ao ano, podendo
aumentar até 3% ao ano na fase do metabolismo hormonal
relacionado à menopausa.
Taxas anuais de perda de massa óssea maiores que 3%
até 5% estão associadas aos perdedores lentos, enquanto que taxas
anuais maiores que 5% revelam perdedores rápidos de massa óssea.
A validade e credibilidade da densitometria e, por
exemplo comparando à ultrassonometria óssea estão diretamente
relacionadas às suas taxas de sensibilidade e especificidade
diagnostica, à padronização nacional ou regional de um banco de
dados de referência composto por indivíduos controles normais
brasileiros e à padronização mundial da tecnologia e das medidas
empregadas pelos diferentes fabricantes de equipamentos.
Com o objetivo de padronizar e de estabelecer critérios
diagnósticos precoces, a Organização Mundial de Saúde (OMS),
propôs que o diagnóstico presuntivo da osteoporose fosse realizado
2
Kanis JA, Melton LJ, Christiansen C, Johnston CC, Khaltaev N. The diagnosis of osteoporosis. J Bone Miner
Res 1994;9:1137-41
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através da medida da densidade mineral óssea3. A densidade
mineral óssea não é o único fator envolvido na etiologia das
fraturas associadas à osteoporose entretanto, a densidade mineral
óssea apresenta um dos melhores índices preditivos disponíveis
atualmente.
Apesar de existir correlação entre as medidas da
densidade óssea e os vários sítios ósseos, existem peculiaridades de
cada sítio. Como já dito acima densidade óssea em coluna lombar
pode ser influenciada pela presença de alterações degenerativas do
tipo osteófitos, deformidades vertebrais (p.e. acunhamento) ou
calcificações vasculares em grandes vasos.
Assim, para o diagnóstico de osteoporose/ osteopenia,
alguns autores sugerem a adoção da medida femoral4. Entretanto,
sabe-se que a prevalência de osteoporose varia de acordo com a área
estudada, assim como é proporcional ao número de sítios avaliados),
isto é, quanto mais sítios avaliados maior a chance de detecção
de uma área abaixo dos limites da normalidade e consequente
diagnóstico de osteoporose/ osteopenia (7,16).
Utilizando o critério de estudo alterado no colo do fêmur
ou na coluna lombar, para classificação densitométrica, a ocorrência
de osteopenia chegou a 46,7% e de osteoporose a 5,7%. Como era
de se esperar, classificando os pacientes nessas categorias
somente quando os dois sítios estivessem simultaneamente
alterados, a frequência de osteopenia diminuiu para menos da
metade e a de osteoporose para menos de 2%.
Um trabalho realizado estudando a população da cidade
de São Leopoldo no Rio Grande do Sul, com o objetivo de avaliar
diferenças extremas de classificação entre os diferentes sítios, os
percentuais de exames com diagnóstico de osteoporose no fêmur
(colo e total) e diagnóstico de normal na coluna lombar foram
tabulados. Da mesma forma, os estudos com diagnóstico de
osteoporose na coluna lombar e diagnóstico de normal no fêmur
foram avaliados.
Isto demonstra que discrepâncias na avaliação deste
sítios ocorre com certa frequência e não podem ser interpretados
como um “erro de diagnose”.
Entre o grupo de pacientes com idade inferior a 50 anos,
nenhuma paciente classificada como portadora de osteoporose pelo
3
Assessment of fracture risk and its application to screening for postmenopausal osteoporosis. Report of a
WHO Study Group. World Health Organ Tech Rep Ser 1994;843:1-129
4
Kanis JA. An update on the diagnosis of osteoporosis. Curr Rheumatol Rep 2000;2:62-6
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critério do colo de fêmur ou fêmur total foi classificada como normal
na coluna lombar.
Nove pacientes foram classificadas como tendo
osteoporose pelo critério de coluna lombar. Destas, uma apresentou
valores de densidade óssea normal no colo do fêmur e no fêmur
total. No grupo de mulheres acima dos 50 anos de idade, poucas
apresentaram exames dentro da normalidade na coluna lombar e
osteoporose pelos critérios do fêmur proximal ou fêmur total (1,8% e
0%). Entre as pacientes com osteoporose na coluna lombar,
entretanto, 10% apresentaram estudos de colo e de fêmur total
dentro dos limites da normalidade.
Pra ilustração dos operadores de direito, trouxemos na
íntegra a tabela do trabalho consultado ressaltando que o numeral
da tabela foi mantido como no original.
A avaliação do impacto do sítio ósseo estudado merece
algumas considerações. Primeiro, quanto mais sítios ósseos
avaliados, maior a chance de detecção de osteoporose/osteopenia 5,6
Todos os sítios ósseos apresentam bom valor preditivo
para fraturas osteoporóticas em geral. Entretanto, cada local é o
melhor preditivo para fraturas neste mesmo sítio, isto é, a densidade
óssea do rádio distal pode predizer fraturas de colo de fêmur,
entretanto, o melhor local para avaliação do risco de fratura do colo
do fêmur é o próprio colo femoral.
Uma maneira de se analisar o conflito gerado pela
informação dos vários sítios é através da avaliação dos estudos
discordantes nos seus extremos. Isto é, pacientes que em um sítio
5
Abrahamsen B, Hansen TB, Jensen LB, Hermann AP, Eiken P. Site of osteodensitometry in perimenopausal
women: correlation and limits of agreement between anatomic regions. J Bone Miner Res 1997;12:1471-9
6
Consensus development conference: diagnosis, prophylaxis, and treatment of osteoporosis. Am J
Med 1993;94:646-50.
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ósseo foram classificados como normais e em outro sítio como
portadores de osteoporose.
Nas mulheres abaixo dos 50 anos de idade essa avaliação
é difícil pelo pequeno número de casos de osteoporose. Entre as
pacientes acima de 50 anos este erro de classificação é pequeno
quando considerado como referência o fêmur (<3%), entretanto é em
torno de 10% quando a classificação é de osteoporose pela coluna
lombar.
Estes achados contrastam com os de Arlot e cols., onde
5% das pacientes classificadas como osteoporóticas pela coluna
lombar apresentavam estudo do colo do fêmur normal, e 8,2%
das vezes que a classificação de osteoporose era feita pelo estudo do
colo do fêmur, a coluna lombar estava dentro da normalidade.
Phillipov e cols7. Estudando um grande número de pacientes
encaminhadas para avaliação de osteoporose (n= 7050),
encontraram que menos de 3% dos casos de osteoporose
diagnosticados pelo colo femoral ou pela coluna eram normais no
outro sítio.
Outra maneira de avaliar diferenças de classificação não
consiste na tabulação das diferenças extremas, mas sim em
dicotomizar a classificação em paciente em risco aumentado de
fratura óssea (< -1,0 DP) ou sem risco de fraturas osteoporóticas (> 1,0 DP). Esta abordagem é interessante, uma vez que a identificação
de risco aumentado pode levar a uma intervenção, farmacológica ou
não, e a ausência de risco deixa inerente a não necessidade de
intervenção.
Vinte e seis por cento dos pacientes classificados
como em risco aumentado de fratura pela coluna lombar foram
classificados como normais no estudo do colo do fêmur.
Dezesseis por cento dos exames considerados alterados de coluna
foram normais no colo do fêmur. Dois estudos avaliaram este
aspecto. Ambos com pequeno número de pacientes (n < 90).
Pouilles e cols. encontraram que 45% dos pacientes
classificados como de risco para fratura na coluna lombar
apresentavam valores de normalidade no colo de fêmur e 32%
dos com risco aumentado no colo do fêmur apresentavam como
normais na coluna lombar. Lai e cols. encontraram que 36,8% dos
pacientes em risco pelo estudo do colo do fêmur eram normais na
coluna, mas somente 6,4% dos em risco pela coluna apresentavam
7
Phillipov G, Phillips PJ. Skeletal site bone mineral density heterogeneity in women and men. Osteoporos Int
2001;12:362-5.
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valores compatíveis com o normal no colo do fêmur. Essas grandes
discordâncias nos resultados não são fáceis de conciliar, mas podem
ser secundárias ao pequeno número de pacientes em cada estudo ou
podem ser secundárias a diferenças metodológicas.
Os estudos diferiram nos critérios de inclusão/exclusão
dos pacientes, na seleção do grupo de referência e no densitômetro
utilizado (Lunar vs. Hologic).
Os dados apresentados mostram que diferentes
resultados serão obtidos de acordo com o sítio escolhido para análise
e isto deve estar claro na interpretação clínica dos resultados da
densidade óssea.
O triângulo de Ward é o local isolado com maior
frequência de estudos alterados e o colo e o fêmur total apresentam
resultados semelhantes entre si. Por fim, este estudo não é um
seguimento prospectivo que possa estabelecer qual o melhor sítio a
ser escolhido, mas sugere que, para a correta determinação e risco
para fratura óssea em mulheres pós-menopáusicas, a avaliação
combinada de dois locais, coluna lombar e fêmur proximal (colo ou
total), deve ser feita.
Segundo a sociedade Brasileira de Densitometria Clinica,
o ar (não consta a palavra gases) pode alterar a sensibilidade do
exame. Mas de qualquer forma, do ponto de vista estritamente
pericial, não se pode considerar que a paciente que tinha excesso de
gases no dia da ultrassonografia também permanecesse com a
mesma condição seis dias depois.
Considerar tal fato como prova pericial seria uma ilação
do Perito desprovida de fundamentação fática.
Mas uma coisa é certa: pelo que consta dos autos se o
diagnóstico de osteoporose foi realmente feito, este não seguiu
critério técnico par ser estabelecido.
Primeiro não existe uma osteoporose lombar, que não
seja seguida de osteoporose em outros sítios do corpo pois
osteoporose é uma doença sistêmica e não uma doença localizada.
Segundo porque como já vimos às escâncaras acima, a
literatura esta prenhe de trabalhos que demonstram existência de
discrepâncias entre a densitometria óssea lombar e femoral,
concluindo que esta discrepância ocorrência conhecido e que na
presença desta discrepância não se pode estabelecer diagnóstico
algum.
Isto foi exatamente o que aconteceu.
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A coluna lombar mostrou alterações neste exame e a
avaliação do colo do fêmur não. A conduta correta seria prosseguir
na investigação, ou encaminhar o paciente ao especialista para que
este o fizesse.
Outros exames de imagens que não a densitometria,
exames de laboratório e etc. deveriam ser avaliados e solicitados na
presença um exame discrepante, fato pelo que se viu que muitas das
vezes acontece.
Não temos nos autos a data em que a paciente terminou
o tratamento psicoterápico que ter-se-ia iniciado em 31 de março de
2004 segundo a declaração de fls. 36, da qual não consta nem o
diagnóstico e nem a data em que foi emitida, porém já em 21 de
junho entende-se que a Autora estivesse recuperada em 21 de junho
04 em face da declaração de fls. 42.
Conclusão.
Em face da análise dos autos entendemos que o
exame de fls. 30-33, por si só não é suficiente para que seja
firmado o diagnóstico de osteoporose e iniciado qualquer
espécie de tratamento, muito menos restrição de atividade
física.
Em face aos achados que este exame demonstrou
seria obrigatória o prosseguimento na investigação diagnóstica
segundo os critérios clínicos internacionais que apontam para
repetição do exame, outros exames de imagens e exames de
laboratório.
Os dados em conjunto também sugerem que a
paciente foi acometida de um transtorno de ordem psicológica,
que não chegou a inviabilizar a prática do trabalho e que
iniciando-se em 31 de março já havia entrado em remissão em
21 de junho de 2004.
Ressaltamos que é entendimento pacífico na classe
médica que diagnóstico é um conjunto de procedimentos
médicos e que incluem vários parâmetros, dos quais os exames
complementares, como óbvio são um complemento.
a) Das incapacidades.
Não houve incapacidade gerada pelo stress psicológico, pois a
paciente não deixou de trabalhar.
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b) Dos tratamentos.
O tratamento psicológico foi completado não havendo
uma data precisa de cessação.
c) Das despesas.
A Autora não comprovou despesas com tratamento
psicoterápico no valor de R$ 490,00, ou seja, 1,89 salários
mínimos.
d) Dos ganhos.
A Autora não comprovou ganhos exatos no ano de 2004
sendo sua declaração de renda referente ao ano base de 2003.
e) Do dano estético.
Não há dano estético a ser apurado.
f) Do dano moral.
Sendo o dano moral de discussão no foro exclusivo do
Direito, entendemos seja a sua avaliação e possível quantificação,
melhor apreciada pelo sempre prudente arbítrio do MM Julgador.
De todos os elementos acostados aos Autos, destacamos
os seguintes trechos e documentos de real interesse para a perícia.
Fls. 03, Peça Exordial: “... é funcionária pública,
exercendo a atividade de Inspetora de Policia... No
final do ano de 2003... controle anual de saúde...
Densitometria Óssea... Em fevereiro de 2004 efetuou
os exames... tendo sido encaminhada... para a Ré...
diagnosticou Osteoporose na coluna lombar da
Autora... com base nos resultados do Exame de
Densitometria Óssea efetuada pela Ré... a Dra.
Nadja concluiu que a Autora era portadora de
Osteoporose Grave na coluna Lombar...”;
Fls. 04, Peça Exordial: “... o diagnostico se mostrou
de tal gravidade... não poderia mais exercer sua
atividade nem continuar com seus treinamentos
físicos... pois corria o risco de ter fratura na coluna
vertebral... indo procurar auxílio terapêutico...
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inicio em 31 de março de 2004... No dia 25 de maio
do corrente ano... procurou o Hospital da policia
Civil, sendo atendida pelo Dr. Luiz Gomes da
Silva... concluiu que a saúde da Autora estava
normal... não era portadora e osteoporose...
efetuado pela Ré estava incorreto...”
Fls. 06, Peça Exordial: Dos Pedidos, requer: “…
Danos Matérias… Dano Moral...”;
Fls. 17, Solicitação de exames em Receituário
Médico do Serviço Público Estadual, em nome da
Autora, datado de 13/11/03, onde consta: … D.O –
fêmur proximal – coluna lombar L2-L4... controle
anual...”;
Fls. 30-33, Laudo de Densitometria Óssea em
impresso do Grupo IRAM – Riachuelo - Taquara,
em nome da Autora datado de 11/02/04 onde
consta: “... Osteoporose Densiometrica no segmento
Lombar L2-L4... normalidade Densiometrica no Colo
Femural...” assinado pelo Dr. Edson Bernardo;
Fls. 34, Receituário Médico em impresso do Serviço
Público Estadual em nome da Autora, datado de
25/03/04,
onde
consta:
“...
Risedronato...
Carbonato de cálcio... Vitamina D3... Nitrato de
Mg...” assinado pela Dra. Gabriela Trajano;
Fls. 35, Receituário Médico em impresso do Serviço
Público Estadual, em nome da Autora, datado de
26/03/04, onde consta: “... gamaline V...” assinado
pela Dra. Gabriela Trajano;
Fls. 36, Atestado Psicológico em impresso de Vânia
Buriorior Psicóloga em nome da Autora, sem data,
onde consta: “…está sendo atendida por mim, desde
31 de março de 2004. O motivo que justifica sua
entrada no processo psicoterápico relaciona-se ao
resultado comprometedor de exames de saúde que
esclarecem que a mesma encontra-se debilitada. A
cliente permanece em atendimento, visto que
emocionalmente seu estado denota fragilidade...”
Assinado Vânia de Brito Buriorior;
Fls. 37-40, Laudo de Densitometria Óssea em
impresso da SCAN em nome da Autora, datado de
15/05/04, onde consta: “... Coluna Lombar:
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normalidade densitométrica...” assinado pelo Dr.
Anderson Savino;
Fls. 41, Laudo de Exame Radiológico da Coluna
Lombo-Sacra, em impresso do Bronstein Medicina
Diagnóstica em nome da Autora datado de
05/06/04, onde consta: “... Osteófitos marginais
incipientes nos corpos de L1 e L2...” assinado pela
Dra. Claudia Sobral;
Fls. 42, Atestado Médico em impresso do Hospital
da Polícia Civil, em nome da Autora, datado de
21/06/04, onde consta: “… goza no momento de
boa saúde, podendo praticar atividades físicas sob
supervisão...” assinado pelo Dr. Luiz Palmier;
Fls. 44, Atestado Médico em impresso do
INTERCOR, em nome da Autora, data 17/05/04
onde consta: “... encontra-se na presente data apta
ilegível executar at. Física de moderada a intensa
ilegível...” assinado pela Dra. Gabriela;
Fls. 46, Nota Fiscal da SCAN em nome da Autora,
datado
de
20/05/04,
onde
consta:
“…
Densitometria Óssea… Coluna e fêmur… no valor
total de R$ 100,00...”;
Fls. 47, Recibo em impresso Vânia de Brito
Butrucci Psicóloga em nome da Autora, datado de
23/06/04, onde consta: “… recebi... “Quatrocentos
e noventa reais”... Atendimento Psicoterápico,
referente a 14 sessões no valor de R$ 490,00...”
assinado Vânia Buriorior;
Fls. 48, Recibo em impresso da Bronstein, em nome
da Autora datado de 05/06/04, onde consta:
…referente a RX da Coluna Lombo Sacra no valor
total de R$ 37,00,
Fls. 49, Atestado em impresso Vânia Buriorior
Psicóloga em nome da Autora datado de 04/11/04,
onde consta: “… está sendo atendida por mim,
desde de 31 março de 2004... relaciona-se ao
resultado comprometedor de exames de saúde, que
esclarecem que a mesma encontra-se debilitada. A
cliente permanece em atendimento, visto que
emocionalmente seu estado denota fragilidade...;
assinado Vânia Buriorior;
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Fls. 50, Recibo em impresso Vânia Buriorior
Psicóloga em nome da Autora datada de 04/11/04,
onde consta: “… Quatrocentos reais... referente a 10
sessões de atendimento psicoterapico...”;
Fls. 51, Recibo em impresso do Bronstein, em nome
da Autora datado de 11/11/04, onde consta: “…
Densitometria Óssea… coluna no valor de R$
240,00...”;
Fls. 52-58, Laudo de Densitometria Óssea em
impresso do CRL Centro Radiológico da Lagoa
Méier em nome da Autora datado de 11/11/04,
onde consta: “... DENSIDADE MINERAL ÓSSEA
normal no segmento lombar... colo do fêmur”;
Fls. 59-63, Laudo Médico em impresso do Hospital
da Policia Civil, em nome da Autora datado de
30/11/04, onde consta: “... por cota de queda de
cabelos acentuada... desenvolveu quadro de
ansiedade/depressão em função de natureza
crônica de sua doença e impossibilidade financeira
de trata-la... incorreu um erro diagnóstico...”
assinatura ilegível;
Fls.68, Comprovante de Pagamento da secretaria de
estado de Administração e Reestruturação em
nome da Autora onde consta: “… Dezembro/2004...
Inspetor Polícia... o valor total de ganhos R$
2.299,65...”;
Fls. 192-196, Quesitos do Réu;
Documento arrecadado no dia da perícia
Laudo de Densitometria Óssea em impresso da
Célula em nome da Autora datado de 19/05/09
onde consta: “... Coluna Lombar... Massa óssea
acima da média para a região... Fêmur Proximal
direito normalidade densitométrica…”
Resposta aos quesitos:
A Autora não apresentou quesitos.
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Quesitos do Réu. (fls. 192-196).
1) Queira o senhor perito informar qual a definição de exames
complementares na Medicina?
R: São exames que complementam uma hipótese diagnóstica e devem
ser escolhido de acordo com critérios técnicos determinados para cada
exame e cada especialidade influenciando no tipo do exame a ser
requisitado a faixa etária, o sexo e, como é lógico o quadro clínico;
2) Queira o senhor perito se o exame de densitometria óssea se
enquadra nos chamados exames complementares? Caso negativo,
justifique citando bibliografia.
R: Sim;
3) Queira o senhor perito informar se a densitometria óssea é um
exame patognômonica para o diagnóstico de osteoporose?
R: Não, mas é considerado o padrão ouro na pesquisa desta
patologia;
4) Queira o senhor perito informar qual a porcentagem de
resultados falsos positivos e falsos negativos que os exames
complementares realizados por programa de computador, como a
densitometria óssea que compara o exame a uma média podem
ocorrer?
R: Vide discussão do Laudo;
5) Queira o senhor perito informar se a reclamante se encontra no
período do climatério e ou menopausa?
R: Pela faixa etária pode ser considerada uma paciente em climatério;
6) Queira o senhor perito informar se a densitometria óssea não
costuma ser solicitada após o climatério e ou menopausa? Caso
negativo justifique e cite bibliografia.
R: Entendo que o exame poderia ser indicado nesta faixa, vide
Discussão;
7) Queira o senhor perito informar se somente um achado na
densitometria óssea de osteoporose no segmento lombar com um
achado de densidade óssea mineral no fêmur normal, apesar do
exame físico normal da paciente, sem queixas álgicas, sem
limitação para atividade física, já que a própria reclamante cita de
fratura óssea prévia é suficiente para se diagnosticar
OSTEOPOROSE, numa paciente de 42 anos? Justifique em caso
positivo e cite bibliografia.
R: Não, vide Discussão;
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8) A reclamante informa na inicial que sua médica prescreveu
medicação para a mesma, porem não cita que nesta mesma
consulta no dia 25/03/04(pagina 34 e 19) a sua doutora solicitou
dosagem urinaria de NTX peptídeo e no sangue CTX peptídeo.
Gostaria que o senhor informasse se esses marcadores de
reabsorção e formação óssea são solicitados quando se há dúvida
no quadro clínico comparado ao parâmetro radiológico? Justifique
em caso negativo.
R: Vide Discussão;
9) Na página 60 há um laudo que indica que a reclamante não
possui condições financeiras de realizar esses exames (NTX E
CTX peptídeo), cujo valor se encontra no próprio pedido Total de
R$ 393,00 reais, porém na pagina 41 há um recibo a qual há
reclamante paga por somente quatorze sessões psicológicas o
valor de R$ 490,00 reais, levando-se em conta que a reclamante
levou nove meses de tratamento psicológico para “superar” esse
trauma, não seria de extrema importância realizar esses exames
para
realmente
poder
se
avaliar
todos
os
exames
complementares, junto com o quadro clínico e então poder chegar
a um diagnóstico?
R: Prejudicado, não se trata da questão médica;
10) Queira o senhor perito informar se a osteoporose é uma
patologia que se diagnostica exclusivamente pelo exame da
densitometria óssea ou se o médico tem que levar em conta o
exame físico, história patológica pregressa, o exame clínico e
exames complementares?
R: Não; Vide discussão;
11) Qual a área médica que é especializada no diagnóstico e
tratamento da Osteoporose primaria e ou pós-menopausa?
R: Reumatologia, porem, clínicos, ginecologistas ortopedistas dentre
outros, estão em tese capacitados para investigação preliminar;
12) Queira o senhor perito informar se o tratamento da
Osteoporose é indicado ao paciente para que esse NÃO realize
atividade laboral e ou atividade física?
R: Prejudicado foge ao objeto da discussão;
13) Queira o senhor perito informar se há alguma orientação
médica que impeça a paciente de praticar suas atividades de vida
diária?
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R: Nos Autos não;
14) Queira o senhor perito informar se o meteorismo abdominal
não é uma das causas que pode interferir no exame de
densitometria óssea lombar? Em caso negativo justifique e cite
bibliografia.
R: Vide discussão;
15) Queira o senhor perito informar se a reclamante realizou seis
dias antes de sua densitometria óssea em questão um exame de
ultra-sonografia transvaginal que colocava como observação
meteorismo acentuado?
R: Sim;
16) Conforme o exame, o resultado do laudo densitométrico do
fêmur (t-score: -0,82 DP e Z-score: -0,42 DP) é considerado
normal pelos critérios da OMS? No caso de ser considerado
normal pode a médica assistente considerar apenas o valor da
coluna? O exame da densitometria óssea não se caracteriza como
uma média para se ver a qualidade óssea do corpo todo?
R: Vide discussão e Conclusão;
17) Queira o senhor perito informar por que a reclamante priorizou
o resultado da densitometria da coluna em vez do resultado
fêmur, sabendo-se que a da coluna tem mais causas de falso –
positivo informação facilmente achado em vários sites de
informações médicas? Não terá havido uma somatização por
parte da paciente neste fato, ocasionado por outros motivos
pessoais?
R: Vide Discussão;
18) A reclamante no dia 25/03/04 foi atendida pela médica
assistente e solicitada exames mais completos para avaliar a sua
possível patologia (osteoporose), foi medicado por um mês porem
não há mais qualquer relato de prescrição médica e ou consulta
nos próximos três meses, sendo que se a médica solicitou exames
e a receitou com medicação para um mês por que a reclamante
não retornou a médica assistente, deveria estar ter olvida a
consulta médica por próprio interesse?
R: Desculpe não alcancei a inteligência da pergunta;
19) Queira o senhor perito informar se a mesma passava por
dificuldade financeira, psicológica e /ou amorosa neste perito o
que pode ter ocasionado sua perturbação psicológica?
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R: Prejudicado;
20) Qual o motivo da paciente procurar atendimento com um
endocrinologista, visto que a mesma segundo consta em sua
inicial, somente queria fazer uns exames de “rotina”? Teria a
reclamante suspeita de algum distúrbio hormonal, e ou outra
patologia para ter ido se consultar com uma endocrinologista?
R: Não há dados nos Autos que permita uma resposta adequada;
21) Queira o senhor perito informar quaisquer outras informações
que achar necessário para o deslinde da controvérsia.
R: Veja o inteiro teor do Laudo;
É o relatório.
________________________________________
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