PROTOCOLO INTERMITENTE DE ENRIQUECIMENTO AMBIENTAL NÃO INTERFERE NA MEMÓRIA DE RECONHECIMENTO DE ANIMAIS EXPOSTOS AO LPS EM PERÍODO PRÉ-NATAL Tainã Paulo Zanata Trombetta1,3,4 ([email protected]); Tamires Mateus Gomes1,3,4 ([email protected]), Laís Soares Boing1,3,4 ([email protected]); Ana Olívia Martins Laurentino1,3,5 ([email protected]); Marina Goulart da Silva1,3,6 ([email protected]); Diego Anacleto de Souza1,2,3 ([email protected]); Guilherme Darós1,3,4 ([email protected]); Fabiana Durante de Medeiros1,2,3 ([email protected]); Jucélia Jeremias Fortunato, Dr.1,2,3 ([email protected]) (orientadora) 1 Universidade do Sul de Santa Catarina, 2Programa de Pós-Graduação em Ciências da Saúde; 3Grupo de Pesquisa de Neurobiologia de Processos Infamatórios e Metabólicos; 4Curso de Medicina, 5Curso de Ciências Biológicas; 6 Curso de Farmácia INTRODUÇÃO: O Transtorno do Espectro Autista (TEA) é um distúrbio do desenvolvimento neuropsiquiátrico que se desenvolve nos três primeiros anos de vida. É caracterizado por déficits nas dimensões sócio comunicativas e comportamentais. O diagnóstico de TEA permanece baseado unicamente na observação clínica e requer a presença de distúrbios em dois domínios: interação social e interesses restritos/padrões estereotipados de comportamento.1 Devido à grande variabilidade de manifestações sintomatológicas, justamente por isso considerado um espectro clínico, até os dias atuais, não foi possível determinar com exatidão qualquer aspecto biológico, ambiental, ou fruto da interação dentre ambos que contribua de forma massiva para o desenvolvimento da doença e para a manifestação dos sintomas.2 Entretanto, novas pesquisas tem demonstrado que infecções maternas durante o período pré-natal parecem ter ampla influência sobre o potencial risco de desenvolvimento do autismo. No campo da pesquisa experimental, o tratamento com o chamado LPS, um componente lipopolissacarídeo da parede celular de bactérias gram-negativas obtido por extração fenólica a partir de Escherichia coli, sorotipo 0127:B83 (Sigma®), é capaz de mimetizar a infecção bacteriana, em nível da gestação das ratas, levando a redução do comportamento de brincar nos filhotes e grave prejuízo de interação social em ratos adultos. Desta forma, uma das características do TEA, identificada pela diminuição da interação social, tornou-se o foco de muitos laboratórios para avaliar a presença deste transtorno em modelos animais. Um modelo experimental bem estabelecido para avaliação de comportamento de interação social em roedores é o Enriquecimento Ambiental. Por definição, o enriquecimento ambiental é um modelo de moradia que consiste em uma associação de exercícios físicos, interação social e estímulos sensoriais, motores e cognitivos. Tais estímulos podem causar modificações comportamentais e morfofuncionais neurais, estimulando mecanismos de plasticidade dependentes de experiência, como aumento de sinapses e neurogênese hipocampal.4 De maneira geral, quando os animais experimentais são colocados em um ambiente enriquecido, eles vivenciam uma mudança que é extremamente abrangente, em todos os níveis do sistema nervoso central, impactante desde aspectos moleculares até o seu comportamento.Considerando o marcado e permanente prejuízo na interação social e padrões limitados de comportamentos encontrado no TEA, sugerimos que o estímulo de experiências precoces a partir da exposição a diferentes tipos de enriquecimento ambiental possa contribuir para a melhora de processos cognitivos no modelo experimental proposto.5 Palavras-chave: Transtorno do Espectro Autista. Enriquecimento Ambiental. Infecção Prénatal. METODOLOGIA: Aspectos Éticos: Este estudo foi aprovado pela Comissão de Ética no uso de Animais, sob o protocolo n. 14.024.201.V. Modelo Experimental de Autismo: O modelo experimental de autismo foi conduzido a partir da administração de única injeção de lipopolissacarídeo (LPS), obtido por extração fenólica a partir de Escherichia coli, sorotipo 0127:B8 (Sigma®), na dose de 100 µg/kg diluída em 50 µg/ml de NaCl 0,9%, no 9,5 dia gestacional de ratas Wistar, conforme descrição prévia de Kristen e colaboradores (2012). Grupos Experimentais: A prole foi dividida em dois grupos experimentais constituídos por ratos machos originários das matrizes que receberam LPS (GA) ou solução salina (GnA). Protocolo de Enriquecimento Ambiental: Para o enriquecimento ambiental foram utilizados brinquedos como chocalhos, bolas, sinos, tubos e canos, materiais de ninhos e tocas e rodas de correr. Os animais foram submetidos ao ambiente enriquecido a partir do 21º dia pós-natal após serem subdivididos em 4 grupos (n=8-10):(1) Ambiente Padrão/GnA;(2) Ambiente Padrão/GA;(3) Ambiente Enriquecido/GnA;(4) Ambiente Enriquecido/GA. Os animais foram expostos ao ambiente enriquecido durante sessões de 1 hora, três vezes na semana, em dias intercalados, durante 9 semanas. Testes Comportamentais:Os testes comportamentais foram realizados 24 horas após a última exposição ao ambiente enriquecido. Os parâmetros comportamentais avaliados foram: interação social recíproca e estereotipia. Para avaliar se o protocolo de enriquecimento ambiental interfere em mecanismos envolvidos na formação de memórias declarativas, os animais foram submetidos ao Teste de Reconhecimento de Objetos, conforme descrito previamente por Ennaceur e Delacour (1988). Análise Estatística: Os resultados foram expressos com média ± erro padrão da média e submetidos à análise de variância de uma via, onde foram comparados os grupos expostos ao LPS em período pré-natal com os animais do grupo controle submetidos ao ambiente enriquecido ou ao ambiente padrão, seguido pelo post hoc de Tukey. Um nível de significância menor de 5% foi utilizado em todas as análises comportamental realizadas individualmente (p<0,05). RESULTADOS E DISCUSSÃO A interferência no ambiente intra-uterino pode trazer conseqüências importantes para o desenvolvimento do sistema nervoso central, especialmente aquelas relacionadas aos processos de aprendizagem e memória. O protocolo de enriquecimento ambiental tem sido utilizado como uma ferramenta importante para regular plasticidade e sobrevivência neuronal. Os resultados deste estudo mostraram que o protocolo intermitente de enriquecimento ambiental não foi capaz de alterar o tempo de exploração entre os objetos familiares e novos em nenhum dos grupos estudados (Figura 1) e submetidos ao Teste de Reconhecimento de Objetos. O tempo de exploração dos objetos familiares e novos foram realizados em dois períodos após pré-teste. As Figuras 1A e 1B mostram que os animais expostos ao ambiente enriquecido apresentaram uma razão de discriminação semelhante àquela apresentada pelos animais que foram mantidos em ambiente padrão, especialmente no teste realizado 24 horas após o pré-teste. Além disso, o LPS não interferiu na memória de reconhecimento dos grupos estudados. Figura 1: Efeitos do enriquecimento ambiental sobre a memória de reconhecimento de objetos. A memória de curta duração foi avaliada 1,5h após o pré-teste (A) e a memória de longa duração foi avaliada 24 horas após o pré-teste (B). Os resultados apresentados representam a média + erro padrão (n=8-10). CONCLUSÃO: A memória de reconhecimento não foi alterada de forma significativa em animais expostos ao LPS em período pré-natal e a exposição ao protocolo intermitente de enriquecimento ambiental não provocou nenhuma alteração significativa nos grupos estudados. REFERÊNCIAS: 1. Uddin LQ, Superkar K, Menon V. Front Hum Neurosci. 2013 (7):458 2. American Psychiatric Association. Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-V), 5 ed. Artes Médicas. Porto Alegre: 2013 3. Smalley SL. Am J Hum Genet 1997; 6:1276-82 4. Teixeira MCTV, Mecca TP, Velloso RI, et al. Rev Assoc Med Bras. 2010; 56 (5): 60714 5. Schneider T, Przewlocki R. Neuropsychopharmacology. 2005; 30(1):80-9. FOMENTO: O presente trabalho teve a concessão de Bolsa pelo Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (PIBIC), do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).