CC Marcos Valle M. da Silva - Escola de Guerra Naval

Propaganda
ESCOLA DE GUERRA NAVAL
Curso de Estado-Maior para Oficiais Superiores
Ensaio
Área de Estudo
: III – Política e Estratégia
Disciplina
: III-C-2 – Estratégia
Tema
: A estratégia de Atenas na Guerra do Peloponeso.
Título
: O fim do breve império ateniense.
Apresentado por
:
Marcos Valle Machado da Silva
Capitão-de-Corveta (CA)
RIO DE JANEIRO
2003
ESCOLA DE GUERRA NAVAL
Curso de Estado-Maior para Oficiais Superiores
Ensaio
Área de Estudo
: III – Política e Estratégia
Disciplina
: III-C-2 – Estratégia
Tema
: A estratégia de Atenas na Guerra do Peloponeso.
Título
: O fim do breve império ateniense.
Apresentado por
:
“ENSAIO/2003”
RIO DE JANEIRO
2003
MARINHA DO BRASIL
ESCOLA DE GUERRA NAVAL
- O FIM DO BREVE IMPÉRIO ATENIENSE -
“ENSAIO/2003”
2003
ii
MARINHA DO BRASIL
ESCOLA DE GUERRA NAVAL
- O FIM DO BREVE IMPÉRIO ATENIENSE -
Marcos Valle Machado da Silva
Capitão-de-Corveta (CA)
2003
ii
O FIM DO BREVE IMPÉRIO ATENIENSE
“Não há, na história, notícia de um
país que se tenha beneficiado com
uma guerra prolongada”.
(Sun Tzu in “A arte da guerra”)
INTRODUÇÃO
A Guerra do Peloponeso, cuja história Tucídides1 escreveu, durou vinte e sete anos
(431-404 a.C.) e envolveu, direta ou indiretamente, todo o mundo helênico. Teve
características distintas das anteriores guerras entre os gregos, por sua duração inaudita,
pelo número de cidades envolvidas e pelo papel decisivo desempenhado pelo poder
naval ao longo de toda a guerra.
Foi uma guerra entre duas coalizões. De um lado, os atenienses, há várias décadas
controlando a Liga de Delos, uma confederação marítima que reunia cerca de uma
centena e meia de cidades, do outro lado Esparta e seus aliados, reunidos na chamada
Liga do Peloponeso, uma aliança de cunho estritamente militar2 (6:64).
O propósito deste ensaio é abordar de forma sucinta a estratégia3 de Atenas na
Guerra do Peloponeso, à luz do confronto entre a maritimidade e a continentalidade,
naquele contexto histórico.
1
Historiador ateniense famoso por sua obra “A História da Guerra do Peloponeso”. Inovou o método
histórico pela objetividade e o cuidado na aferição da realidade. Qualifica-se como fonte histórica por ter
participado e vivido durante o conflito. A morte o impediu de concluir a obra, cujo relato sobre a guerra
termina em 411 a.C. (9:40).
2
O anexo A apresenta um mapa com a extensão das respectivas alianças, em 435 a.C.
3
A palavra estratégia usada pelo autor deste ensaio refere-se à “grande estratégia”, conceituada por
Liddell Hart como aquela que tem o papel de coordenar e dirigir todos os recursos de uma nação, para
consecução do objeto político, visado com a guerra, que é definido pela política (4:406).
PROTAGONISTAS
Atenas e a Liga de Delos
Situada na Ática, em uma região de possibilidades agrícolas limitadas, Atenas fez do
comércio marítimo sua principal fonte de recursos econômicos. Ao longo do
desenvolvimento das suas atividades marítimas, os atenienses fundaram numerosas
colônias no Mediterrâneo, que atuavam como “válvulas de escape” para as tensões
sociais existentes, relacionadas à posse da terra e ao crescimento da população. Eram
estabelecimentos agrícolas independentes, mas que mantinham laços culturais e
econômicos com Atenas (6:81).
No século V a.C., os persas atuaram como catalisadores do desenvolvimento do
poder naval ateniense4. Em 480 a.C., tentaram, pela segunda vez, invadir a Grécia. Os
navios gregos, na maioria atenienses, derrotaram os invasores na batalha de Salamina,
contribuindo, decisivamente, para o fracasso da invasão persa. Assim, consolidando-se
como a maior potência naval grega, Atenas procurou formar uma confederação de
estados marítimos. Na ilha de Delos, em 477 a.C., aliou-se às cidades-estado da Jônia5 e
das ilhas do Egeu, com o objetivo de manter os persas distantes. Com esse propósito foi
criada a Liga de Delos. Nos primeiros doze anos de existência, suas forças travaram
vários e bem sucedidos combates contra os persas ao longo do litoral da Ásia Menor,
proporcionando aos seus membros o controle marítimo do Egeu (3:73).
Com o desaparecimento da ameaça persa, os membros da Liga passaram a questionar
a necessidade da sua existência, uma vez que as contribuições monetárias eram elevadas
e o domínio ateniense tornava-se incômodo. Entretanto, as defecções não eram aceitas
4
Em 490 a.C., o rei Dario foi derrotado pelos atenienses em Maratona. Após essa vitória terrestre, Atenas
utilizou os recursos das minas de prata de Laurium, para construir uma forte esquadra, a fim de fazer
frente, no mar, a futuras invasões persas (5:54).
5
Colônias gregas na Ásia Menor (6:49).
por Atenas, sendo duramente reprimidas. A Liga de Delos, inicialmente uma
confederação de iguais, tornava-se gradativamente um império marítimo ateniense
(3:76).
Esparta – O Mito da Sociedade Guerreira
Localizada na Lacônia, uma região do Peloponeso, Esparta monopolizava as
melhores terras daquela região. No século VII a.C., os espartanos iniciaram a conquista
da vizinha planície da Messênia, anexando essa região aos seus domínios e reduzindo
seus habitantes à condição de hilotas6. A partir desta conquista, a sociedade espartana
fechou-se progressivamente ao exterior e implantou um rígido sistema de educação
militar. A estrutura social espartana foi moldada para a formação de um exército
indiscutivelmente superior, uma vez que a população de hilotas superava em muito a de
seus conquistadores. Contudo, Esparta tinha um grave problema social traduzido pelo
reduzido crescimento demográfico. A taxa de natalidade era baixa, por ser o casamento
um vínculo social secundário7. Paralelamente, a taxa de mortalidade era alta,
principalmente durante a Guerra do Peloponeso (6:40-42).
A partir do fim do século VI a.C., Esparta empenhou-se em formar alianças de
cunho militar com outras cidades gregas, dando origem à Liga do Peloponeso. O
propósito da política externa espartana era evitar que o seu precioso exército fosse
utilizado desnecessariamente, uma vez que a sua maior preocupação militar era
relacionada a possíveis revoltas dos hilotas. O militarismo de Esparta visava,
prioritariamente, a segurança interna e não os empreendimentos de conquista (6:47).
6
Escravos pertencentes ao Estado que cultivavam a terra para alimentar os cidadãos de Esparta. Eram
tratados duramente e, com freqüência, revoltavam-se tentando libertar-se do jugo espartano (6:40).
7
Aos sete anos de idade as crianças passavam a ser educadas pelo Estado, iniciando sua formação militar.
O casamento só era permitido após os vinte anos, sendo que somente depois dos trinta anos de idade os
homens casados poderiam deixar o aquartelamento, para viver com suas esposas (6:42).
AS TRÊS FASES DA GUERRA
A desconfiança espartana em relação à crescente expansão ateniense, associada ao
envolvimento direto de Atenas em incidentes militares com cidades pertencentes à Liga
do Peloponeso, desencadeou o conflito (8:29).
Para melhor identificação da estratégia ateniense, será feita uma divisão da guerra
em três fases e uma análise sucinta de cada uma delas.
Primeira Fase – A liderança de Péricles
Iniciado o conflito, Péricles8 concebeu um plano em que a batalha terrestre seria
evitada, enquanto a vontade de lutar de Esparta e seus aliados seria desgastada, por meio
de incursões contra o litoral do Peloponeso, realizadas pelos navios atenienses. Foi um
planejamento estratégico coerente tanto com seu fator de força - a esquadra ateniense9 –
quanto com seu fator de fraqueza traduzido pela inferioridade do exército ateniense
frente ao espartano. Liddell Hart considera o plano de Péricles como de “grande
estratégia”, visto que procurava desgastar gradualmente a resistência do inimigo, a fim
de convencê-lo de que lhe seria impossível uma decisão favorável (4:34).
Péricles supunha que os espartanos fossem devastar os campos agrícolas atenienses.
No entanto, os cereais vindos das cidades da Trácia e do Ponto (mar Negro) garantiriam
os víveres necessários à cidade durante a guerra. Assim, os habitantes do campo foram
levados para dentro de Atenas, que em breve ficou superlotada (3:82).
Conforme esperado, os espartanos invadiram a Ática e iniciaram a devastação dos
campos agrícolas atenienses, esperando atraí-los para uma batalha terrestre entre
8
Estadista ateniense eleito “estratego”, repetidas vezes, pela Assembléia de cidadãos. Na prática, os
“estrategos”, em número de dez, exerciam grande influência no governo da cidade, uma vez que não só
comandavam as forças militares, como também interferiam na economia e na política externa (6:81-82).
9
Para compreensão da superioridade naval ateniense foi elaborado o anexo B, que apresenta as principais
táticas navais empregadas pelos beligerantes, durante o conflito.
hoplitas10. Paralelamente, as trirremes atenienses atacavam os aliados de Esparta ao
longo do litoral do Peloponeso. Os eventos sucediam-se conforme esperado pelos
atenienses. Contudo, em 430 a.C., Atenas foi assolada por uma terrível epidemia que
vitimou parte da sua população. Os espartanos e seus aliados abandonaram a Ática com
medo da praga, proporcionando, assim, uma oportunidade para os atenienses se
recuperarem. Seguiu-se um impasse, com Atenas mantendo o controle marítimo e
Esparta, o terrestre (3:83).
A estratégia de Péricles, vitimado pela peste, deu lugar à ação direta defendida pelos
membros da Assembléia – Cleon e Demóstenes – que estavam convictos de que os
espartanos poderiam ser derrotados em um combate terrestre entre hoplitas.
Surpreendentemente, em Esfactéria11, Atenas obteve uma vitória terrestre sobre os
espartanos, a qual reforçou o moral da população para a continuidade da guerra (4:34).
No entanto, esse êxito tático foi efêmero, uma vez que em 424 a.C., o general
espartano Brásidas anulou toda a vantagem conquistada por Atenas até aquele momento.
Os espartanos atravessaram a Grécia, em direção ao norte, para atacar a Calcídia - região
da Trácia de onde provinha parte do trigo necessário à Atenas. Nesta área de operações,
os atenienses foram derrotados em Anfípolis, 421 a.C., em um confronto direto com os
hoplitas espartanos, perdendo assim uma importante fonte de alimentos. A ação direta
revelou-se desfavorável para Atenas que vendo-se em nítida desvantagem, celebrou um
tratado de paz com Esparta, válido por 50 anos e que previa a reversão à situação
anterior ao início do conflito (4:34-35).
10
Infantaria que consistia na força principal dos exércitos gregos. Combatiam em formações denominadas
falanges, buscando o choque direto. Devem seu nome ao “Hoplon” – escudo grande e circular, feito de
madeira e bronze (6:30).
11
Em 425 a.C., as forças atenienses bloquearam a ilha de Pilos e invadiram a ilha de Esfactéria, onde os
espartanos possuíam uma forte guarnição. Cleon afirmou na Assembléia que se estivesse em Esfactéria,
tomaria a posição inimiga em vinte dias. Recebeu o comando das forças atenienses e obteve uma vitória
inusitada, uma vez que os hoplitas espartanos se renderam, fato sem precedentes na história grega (9:53).
Segunda Fase – Siracusa, o declínio de Atenas
Em 419 a.C., sob o pretexto de que Esparta não havia cumprido o previsto no tratado
de paz, Atenas empreendeu uma ofensiva contra os peloponésios. O ápice dessa
campanha ocorreu em 418 a.C. Neste ano, o apoio ateniense às cidades que se
rebelavam contra Esparta, levou-os a um confronto de hoplitas em Mantinéia. O
resultado foi a derrota ateniense, confirmando a superioridade terrestre espartana
(1:129).
Convencendo-se de que Esparta não poderia ser derrotada em um confronto terrestre
direto, a liderança ateniense concebeu uma ação indireta, cujo objetivo seria Siracusa,
na Sicília, principal fonte de alimentos do Peloponeso. Em 415 a.C, uma expedição foi
cuidadosamente preparada e enviada contra esse objetivo. Como deixa claro Liddell
Hart, os atenienses cometeram um erro na ação indireta da “grande estratégia”, ao
investir não contra os verdadeiros aliados do inimigo, mas sim contra seus parceiros
comerciais, atraindo novos beligerantes para o lado espartano (4:35).
Em 413 a.C., após dois anos de campanha na Sicília, os atenienses e seus aliados
foram vencidos no mar e posteriormente em terra. O empreendimento revelou as
limitações do poder naval ateniense, centrado nas trirremes que não eram apropriadas
para expedições longínquas, sem muitas bases de apoio entre o ponto de origem e a área
de operações. Acima de tudo, enfraqueceu decisivamente os atenienses, uma vez que
resultou na morte ou captura da quase totalidade dos seus soldados envolvidos na
expedição (6:66).
Ainda em 413 a.C., os espartanos conquistaram uma posição fortificada em Decéleia,
uma pequena aldeia da Ática, a somente vinte e três quilômetros de Atenas. Isto
permitiu aos lacedemônios assolar, ininterruptamente, os campos da Ática e não só no
verão, como antes (6:66).
Entretanto, Atenas ainda possuía um sólido poder marítimo. Navios novos foram
construídos e suas tripulações adestradas, assegurando a chegada dos cereais
provenientes dos portos do mar Negro. Porém, três fatores selaram o destino ateniense.
O primeiro, no período de 412-411 a.C., foi a defecção para o lado espartano de muitos
membros da Liga de Delos. O segundo foi a aliança entre Esparta e a Pérsia, o que
proporcionou amplos recursos financeiros aos lacedemônios. O terceiro foi a decisão
espartana de construir, com os recursos persas, uma esquadra capaz de se opor
decisivamente aos atenienses (1:130).
Esparta foi a primeira potência nitidamente terrestre que percebeu a importância de
desenvolver uma forte marinha para derrotar um inimigo, cuja principal fonte de poder
estava no mar. Os espartanos haviam identificado o Centro de Gravidade ateniense,
traduzido pelo seu poder naval. Contudo, até que Esparta, juntamente com seus aliados,
pudesse formar uma esquadra capaz de enfrentar os atenienses, o equilíbrio seria
mantido.
Terceira fase - Egos Potamos, ocaso ateniense
A terceira e decisiva fase da guerra consistiu na tentativa ateniense de obter uma paz
vantajosa e a restauração do seu império.
Em 406 a.C., Atenas obteve uma significativa vitória, contra Esparta, na batalha
naval de Arginussae. Após esta derrota no mar, os espartanos só poderiam continuar a
guerra com maciça ajuda financeira dos persas. Além disso, as perdas humanas ao longo
do conflito abalavam sua frágil estrutura demográfica. Assim, ofereceram a paz aos
atenienses, propondo que ambos os lados mantivessem o que possuíam naquele
momento. Como atrativo, ofereceram Decéleia, seu estratégico posto fortificado na
Ática. Atenas também precisava da paz, uma vez que muitos de seus aliados rebelavamse e os meios para conter essa onda de rebeliões escasseavam. Atenas e Esparta, assim
como seus respectivos aliados, estavam exauridos pela longa duração do conflito. Mas,
a contra–oferta ateniense exigia a restituição de todas as cidades capturadas pelos
espartanos. Não se chegou a um acordo e Esparta renovou seu tratado com os persas,
obtendo recursos financeiros para a construção de novos navios (5:190).
Em 405 a.C., Esparta posicionou sua nova esquadra no Helesponto de onde passou a
atacar os navios provenientes do mar Negro, que transportavam alimentos para Atenas.
Os atenienses enviaram todos os seus meios navais disponíveis para enfrentar essa
ameaça. Os beligerantes desejavam um combate decisivo e as condições para isso
estavam presentes. O confronto ocorreu em Egos Potamos, onde os espartanos e seus
aliados conseguiram capturar a esquadra ateniense12, passando a controlar o Egeu (4:36).
Para Atenas, a perda do seu centro de gravidade teve como conseqüência direta a
interrupção do suprimento de trigo, vital para que a cidade pudesse continuar a lutar.
A ameaça da fome e a escassez de meios para prosseguir com a guerra fizeram com
que os atenienses se rendessem em 404 a.C. Pelas condições impostas, Atenas perdeu
todas as suas possessões, entregou seus navios remanescentes aos espartanos e demoliu
suas muralhas. Desta vez não havia recursos oriundos da Liga de Delos para reconstruir
o poderio ateniense. Seu breve império chegava ao fim (1:130).
12
O anexo C apresenta uma sinopse da batalha, mostrando a singular circunstância em que a esquadra
ateniense foi capturada.
CONCLUSÃO
Nos estágios iniciais da guerra o plano de Péricles, concebido em consonância com a
“grande estratégia” era coerente com os fatores de força e fraqueza atenienses. A
mudança para a ação direta contra os hoplitas espartanos revelou-se desfavorável para
Atenas.
A ação indireta, traduzida pela expedição contra a Sicília, foi conceitualmente
errônea em termos da “grande estratégia”, uma vez que atraiu novos contingentes à
aliança espartana. A derrota naval e terrestre em Siracusa enfraqueceu decisivamente os
atenienses.
A recusa da oferta de paz, em 406 a.C., conduziu ao desastre em Egos Potamos. A
maritimidade representada por Atenas foi derrotada porque, não conseguindo igualar-se
a Esparta em termos de poder terrestre, passou a ser confrontada por um poder naval
equivalente e habilmente empregado pelos espartanos e seus aliados. A destruição do
centro de gravidade ateniense em Egos Potamos, com a conseqüente interrupção dos
alimentos provenientes das cidades do Ponto, juntamente com a exaustão econômica,
levaram à derrota total frente aos espartanos.
ANEXO A
MAPAS
A LIGA DE DELOS E A LIGA DO PELOPONESO
O mapa abaixo apresenta a extensão das duas alianças, em 435 a.C., quatro anos
antes do início da Guerra do Peloponeso (7).
.
ANEXO B
TÁTICAS NAVAIS
No século V a.C., duas táticas básicas influenciaram, decisivamente, o desenho dos
navios de guerra. A primeira estava associada ao uso do esporão, que implicava em um
navio construído para levar o maior número possível de remadores. A segunda era a
abordagem que redundava em transportar o maior número de soldados.
Os atenienses por não possuírem soldados suficientes para equipar sua crescente
marinha, dedicaram-se ao uso do esporão. O seu uso ofensivo era implementado por
duas manobras táticas o diekplus e o periplus. A defensiva consistia no posicionamento
circular denominado Kyklos (9:30-31).
Será efetuada uma breve descrição dessas três manobras táticas, empregadas durante
a Guerra do Peloponeso.
O Kyclos
Era a tática adotada pela força que se encontrava em desvantagem numérica. Os
navios eram posicionados em círculo, com os esporões apontando para fora, ameaçando
qualquer navio inimigo que se aproximasse (8:30).
O Diekplus
Esta manobra era adotada pela força que dispunha de maior velocidade, exigindo
grande habilidade para a sua execução. As ilustrações a seguir ajudam a compreender o
procedimento adotado.
1. Os navios vermelhos aproximam-se, em coluna, da força inimiga azul, na maior
velocidade possível.
2. Quando próximo do navio azul escolhido, o navio testa vermelho guina para cima
do alvo. O impacto inicial incide sobre os remos do adversário, avariando-o e
restringindo sua capacidade de manobra.
3. O navio líder dirige-se para o próximo alvo, deixando sua vítima inicial para o
navio seguinte da coluna vermelha. Qualquer navio azul que guinasse para socorrer o
alvo, exibiria seu costado para o navio seguinte da coluna vermelha.
A defesa contra o diekplus era o emprego de duas linhas de frente, o que fazia esta
manobra tornar-se uma desvantagem para o atacante. Porém, isto deixava a força
defensora susceptível ao envolvimento pela próxima manobra a ser descrita, o periplus
(8:31).
O periplus
Esta manobra era adotada, basicamente, quanto se dispunha de superioridade
numérica, envolvendo o inimigo pelos flancos. A figura a seguir, elucida o
procedimento adotado.
A esquadra vermelha rema para ré, mantendo seus esporões aproados ao inimigo, ao
passo que seus alas executam o ataque sobre os flancos de azul. Em seguida os demais
navios vermelhos passam a remar para vante, em direção aos oponentes, atingindo
aqueles que tentam socorrer os navios atacados (8:31).
Durante anos os atenienses foram hegemônicos no emprego das duas manobras
ofensivas acima descritas, mantendo-se como primeira potência naval grega até a perda
da sua esquadra em Egos Potamos, 405 a.C.
ANEXO C
SINOPSE DA BATALHA DE EGOS POTAMOS
Em 405 A.C., Esparta enviou seu competente almirante, Lisandro, ao Egeu para
comandar a nova esquadra construída com os recursos provenientes do império persa.
Os navios peloponésios foram posicionados Helesponto13, ameaçando os navios
atenienses que transportavam alimentos dos portos do mar Negro para Atenas.
13
O mapa deste anexo, apresenta a área de operações onde atuaram as duas esquadras (5:178).
Ao tomar conhecimento desta ameaça, Atenas enviou todos os seu navios
disponíveis para aquela região. Posicionaram-se na região da foz do rio Egos Potamos,
na margem oposta à Lampsacus, recém capturada pelos espartanos. Um detalhe, em
Lampsacus os espartanos desfrutavam de facilidades logísticas para abastecimento de
víveres, ao passo que na margem oposta os atenienses não dispunham de igual
vantagem, uma vez que a sua base mais próxima situava-se em Sestos, milhas ao sul.
Durante cinco dias, os navios de ambos os lados foram guarnecidos para o combate,
sem que houvesse uma batalha. Ao final do quinto dia, após as esquadras retornarem
aos seus respectivos pontos de apoio logístico, Lisandro enviou navios que certificaram
que os atenienses estavam com os navios abicados14 e as tripulações em terra,
recolhendo víveres. Nesse momento Lisandro ordenou o ataque, pois seus navios ainda
estavam guarnecidos e prontos para a ação. Os atenienses foram completamente
surpreendidos, e exceto nove navios, todos os demais foram capturados. Além disso,
foram desembarcados hoplitas que arrasaram o acampamento ateniense (5:191).
Egos Potamos, dada à singular circunstância em que ocorreu, é conhecida como uma
das “batalhas navais travadas em terra”. De qualquer forma, foi um batalha decisiva. O
poder naval ateniense foi destruído e Esparta passou a ter o domínio do mar Egeu.
14
Por causa do seu fundo chato e de sua pouca resistência aos temporais os navios de guerra não
fundeavam como os mercantes; eram puxados para terra, ficando em seco (1:13).
ANEXO D
BIBLIOGRAFIA
1. BOWRA, C. M. Grécia clássica. Rio de Janeiro: José Olympio, 1969.
2. BRASIL. Diretoria de Portos e costas. Fatos da história naval. Rio de Janeiro,
1971.
3. A ELEVAÇÃO do espírito: 600 - 400 a.C. Rio de Janeiro: Cidade Cultural, 1989.
4. LIDDELL HART, B. H. As grandes guerras da história. 4. ed. São Paulo:
Instituição Brasileira de Difusão Cultural, 1991.
5. RODGERS, Willian Ledyard. Greek and roman naval warfare. Annapolis: Naval
Institute Press, 1964.
6. SOUZA, Marcos Alvito Pereira de. A guerra na Grécia antiga. São Paulo: Ática,
1988.
7. THE UNIVERSITY OF OREGON. Osshe Historical & Cultural Atlas Resource.
Europe Map Archive. Athenian League & Peloponnesian War. Disponível em:
<http://www.uoregon.edu/~atlas/europe/maps.html>. Acesso em: 3 ago. 2003.
8. TUCÍDIDES. História da guerra do Peloponeso. Brasília: Universidade de
Brasília, 1982.
9. WARRY, John. Warfare in the classical world. London: University of Oklahoma
Press, 1995.
Download