Serpentes & Cia "Elas não tem veneno para uma segunda mordida" Exupéry Com sua picada fatal, passaporte dramático para que o Pequeno Príncipe pudesse voltar para seu lar, o asteróide 612-B, felizmente os acidentes fatais com serpentes são raros. Nenhuma serpente brasileira é agressiva e só ataca se for tocada primeiro. Os botes das serpentes atingem uma distância equivalente a um terço de seu próprio comprimento, o que chega no máximo a 50cm. Por uma série de fatores relacionados ao comportamento das serpentes e do próprio homem, é difícil prevenir os acidentes ofídicos. No entanto, algumas medidas básicas de prevenção podem ser adotadas: 1) Deve-se evitar, na medida do possível, andar descalço. O uso de botas de cano alto ou, na falta destas, perneiras de couro, pode evitar entre 50 a 70% dos acidentes, uma vez que os pés e as pernas são os locais mais atingidos pelas picadas. 2) Deve-se ter atenção redobrada ao andar por matas, capinzais e pomares com muitas árvores, além de caminhos habitualmente percorridos. Nesses casos, ao se passar de um local claro para um escuro, é aconselhável esperar alguns instantes para a visão se acostumar à mudança de claridade e poder-se então perceber a presença de serpentes. 3) Deve-se ter especial atenção ao subir em árvores para colher frutos, pois existem serpentes que habitam nelas. Isso é comprovado pelo registro de 5% de acidentes ofídicos com picadas na cabeça, rosto, ombros e antebraços. 4) O uso de luvas para a capina e limpeza de terrenos é importantíssimo, uma vez que, em 20% dos acidentes ofídicos, são atingidas as mãos e os antebraços. 5) Introduzir a mão desprotegida em buracos na terra e cupinzeiros ou revirar montes de terra e lenha pode representar grande perigo, uma vez que esses locais são bastante habitados por serpentes venenosas. 6) É importante manter sempre limpa a área ao redor das barracas, evitando o acúmulo de madeiras, de tijolos ou de pedras. Deixar a entrada da barraca sempre fechada. 7) Deve-se evitar acampar próximo a plantações, pastos ou matas. Nos momentos de lazer, quando se estiver à margem dos rios e lagoas, e necessário ficar alerta. Esses locais, principalmente os barrancos de rios, são o habitat usual das serpentes, 8) As serpentes venenosas alimentam-se habitualmente à noite. Nesse período devem-se evitar as caminhadas nas proximidades de gramados e jardins. 9) Uma prevenção simples e eficaz é criar galinhas, gansos e outras aves soltas no terreno, pois elas afugentam as cobras. As emas, seriemas, corujas e gaviões são inimigos naturais das serpentes, Preservar a vida dessas aves e os locais onde elas habitam representa grande proteção ao homem e ao equilíbrio ecológico. Para capturar serpentes Para produzir o soro antiofídico, utiliza-se o próprio veneno das serpentes; injetado em cavalos, em quantidade diminuta, ele cria os anticorpos necessários para a sua produção. Se for impossível capturar a serpente, deve-se matá-la com uma estocada no meio do corpo, para arrebentar alguma de suas articulações, o que a imobilizará. Para capturá-las, o Instituto Butantã dispõe de um kit contendo um laço de Lutz e uma caixa de madeira para transporte com as devidas instruções. jamais se deve tentar capturar as serpentes e transportá-las por outros meios que não os indicados pelos "cobras" do assunto. SORO ANTIVENENO A obtenção do soro antiveneno antes era centralizada e produzida somente pelos institutos Butantã, Fundação Ezequiel Dias e Instituto Vital Brasil. Agora está distribuída entre as Unidades da Federação, para que o soro possa estar mais próximo do acidentado, não importando em que região do país seja ele picado. O soro é distribuído gratuitamente. VENENOSAS Cabeça chata, triangular, bem destacada do corpo coberta de escamas pequenas, semelhantes às do corpo. Olhos pequenos, com pupila em fenda vertical fosseta, lacrimal entre os olhos e as narinas. Escarnas do corpo alongadas, pontudas, imbricadas, com carenas medianas, dando ao tato uma impressão de aspereza. Cauda curta, afinada bruscamente. Quando perseguida, toma atitude de ataque, enrodilhando-se. Hábitos noturnos. Movimentos vagarosos Ovovivíparas: dão à luz filhotes vivos NÃO VENENOSAS Cabeça estreita, alongada. mal destaca do corpo, com placas poligonais em vez de escamas. Olhos grandes, com pupila circular; fosseta lacrimal ausente Escamas achatadas, sem carena, dando ao tato uma impressão de liso, escorregadio. Cauda longa, afinado-se gradualmente. Quando perseguida, foge. Movimentos rápidos. Ovíparas: põem ovos para incubar. OFÍDIOS NO BRASIL Existem quatro tipos de venenos ofídicos no Brasil: das cascáveis, que é o mais perigoso: o das jararacas; o das surucucus, das corais. Caso se tenha matado a serpente após a picada, é fácil identificá-la: as cascavéis têm o guizo na ponta da cauda (cujo número representa os anos de vida da serpente). Os sintomas de envenenamento permitem saber de modo seguro o tipo da serpente. Cascavel (crotálico) Quase não se vê o sinal da picada. AIgumas horas após acidente, o paciente sente dificuldade em abrir os olhos e passa queixar-se visão dupla. Ele fica com cara de bêbado. Outro sinal é o escurecimento da urina após 6 a 12 horas da picada, que fica da cor da coca-cola. Aplicação intravenosa do soro anticrotálico. Habitat As cascavéis, responsáveis por 7% dos acidentes, habitam as regiões quentes e secas dos cerrados, sendo impossível encontrálas nas regiões de grandes matas e selvas. Jararaca (botrópico) Nas primeiras horas após o acidente o local da picada incha. Pode ocorrer hemorragia pelos pontos da picada pela gengiva etc. Se o tratamento por soro for muito retardado, pode ocorrer gangrena. Aplicação intravenosa do soro antibotrópico. Habitat A jararaca, responsável por 70% dos acidentes, tem seu habitat tanto nos cerrados quanto nos mangues e florestas, espalhando-se por todo o país. Surucucu (laquésico) Pelos poucos dados disponíveis, as pessoas picadas por surucucu apresentam os mesmos sintomas das picadas por jararaca: inchaço local e hemorragia. Aplicação intravenosa do soro antilaquésico. Habitat A surucucu, responsável por 2,5% dos acidentes, tem por habitat as zonas das grandes matas e selvas densas. Coral (elapídico) Aparece pequena reação no local da picada. Após poucas horas, a pessoa reclama de visão dupla, associada à queda das pálpebras (cara de bêbado). Outro sinal de envenenamento é a falta de ar, que pode causar a morte do paciente em poucas horas. As corais dificilmente mordem, pois possuem presas curtas e fixas. A não ser que você se disponha a brincar com uma coral, dificilmente será picado. Aplicação intravenosa do soro antielapídico. Habitat As corais, responsáveis por apenas 0,5% dos acidentes, têm seu habitat espalhado por todo o território nacional, como as jararacas. Osy-Osya-Osy O pensador francês Michel Foucauld nos relata, em um estudo aprofundado, uma passagem do almanaque no qual está escrito que a serpente, ao escutar as palavras mágicas Osy-Osya-Osy, fica imobilizada, "... sem ferir ninguém com sua picada venenosa". Assim, vamos decorá-las para utilizá-las em caso de perigo! Cuidados imediatos Imediatamente após o acidente, manter o paciente em repouso, evitando deambular ou correr, caso contrário, a absorção do veneno pode ser favorecida e agravadas as lesões no local da picada. Não fazer o garroteamento do membro afetado, o que agravará as lesões locais. A remoção do acidentado para centros de tratamento deve ser efetuada no menor tempo possível. Aplicar o soro específico. Coletar sangue para exames laboratoriais antes da soroterapia, desde que esta não seja retardada. Administrar analgésicos e tranqüilizar o paciente, bem como evitar o uso de drogas depressoras. Manter o membro afetado elevado. Controlar os sinais vitais (pulsação, batimentos cardíacos etc.) e o volume urinário do paciente. Limpar cuidadosamente o local, da picada. Aranhas Só no Brasil, são mais de 800 espécies conhecidas de aranhas, sendo a maior a caranguejeira, venenosa e atingindo até 20cm Segundo os indígenas brasileiros, as teias de aranha possuem propriedades hemostáticas, sendo por vezes usadas para estancar o sangue de pequenos ferimentos, o que não é aconselhado por este guia, por falta de amparo médico. Tratamento Nos casos graves, soro aracnídeo, achado nos locais de distribuição de soro antiofídico. Se não forem muito graves, dar ao paciente comprimidos anti-histamínicos (Fenergan, Benadril). Mergulhar a parte ferida em água quente, colocar curativo, pomada antiqueimadura e merthiolate. Escorpiões Os escorpiões, primos-irmãos das aranhas, também pertencem à classe dos aracnídeos e, no Brasil, dois tipos são mais comuns: o preto e o amarelo (ambos venenosos). Os acidentes por escorpiões são pouco freqüentes, pois eles não são animais agressivos. Fazem seu habitat em pilhas de madeira, cercas, sob pedras, cupinzeiros e adaptam-se bem ao ambiente doméstico, Tratamento Nos casos graves, procurar o soro antiescorpiônico nos locais de distribuição de soro antiofídico. Nos casos menos graves, fazer infiltração local com anestésicos do tipo xilocaína. Nota A picada infecciosa do escorpião pode acontecer mais de uma vez. Mosquitos / Pernilongos / Borrachudos Bom método para evitar picadas de mosquitos de qualquer espécie, mesmo do terrível do alto Tocantins, é tomar uma ou duas pastilhas de "Complexo B" todos os dias, desde uns cinco antes de viajar até uns dois antes de retornar, O cheiro exalado pelo corpo impregnado dessa vitamina espanta esses insetos com extrema eficácia. Só há contra-indicação para os casos de portadores de Mal de Parkinson ou por aqueles que sofrem de distúrbios renais. Portanto, se você se encontra em nenhum desses casos, tome as pastilhas e dê um adeus para a amolação desses pestinhas. Para evitar a entrada de cobras e insetos Nada mais fácil! para evitar de forma eficaz a entrada de insetos rasteiros, e de cobras. na barraca, do que espalhar uma talco no chão ao longo das entradas. Os insetos e as cobras evitam passar por cima dele!