IX Encontro Nacional de Diagnóstico Veterinário 241 157. Silva S.M.M.S., Souza F.A.L., Costa E.A., Sousa M.E.C. & Santos R.L. 2016. Caracterização molecular dos agentes causadores de rinite micótica em ovinos do Piauí. Pesquisa Veterinária Brasileira 36(Supl.2):241-242. Setor de Patologia Animal, Universidade Federal do Piauí, Centro de Ciências Agrárias, Av. Universitária s/n, Ininga, Teresina, PI 64049-550, Brasil. E-mail: [email protected] Projeto realizado com auxílio do CNPq a Silva S.M.M.S. (Proc. 478328/2009-5). Introdução: No Brasil, as enfermidades micóticas que acometem a cavidade nasal de ovinos podem causar prejuízos econômicos aos rebanhos de várias regiões, destacando-se no país a conidiobolomicose, causada por fungos do gênero Conidiobolus spp., também conhecida como forma nasofaringeana e que provoca dispneia, respiração ruidosa, corrimento nasal serossanguinolento, assimetria craniofacial, exoftalmia e ceratite (Morris et al. 2001, Silva et al. 2007a, Portela et al. 2010); e a pitiose rinofacial, também chamada de “nariz de touro”, que tem como agente etiológico o oomiceto Pythium insidiosum e causa corrimento nasal serossanguinolento, aumento de volume das narinas, vestíbulo nasal e lábio superior; mucosa nasal e palatos ulcerados e narinas parcialmente obstruídas (Riet-Correa et al. 2008, Santurio et al. 2006). No Piauí estas enfermidades já vem a alguns anos acometendo os ovinos na maior parte do Estado, afetando a cavidade nasal desses animais e chamando atenção dos criadores, veterinários de campo e pesquisadores. Ainda existem dúvidas quanto ao agente etiológico dessas enfermidades, pois estas formas podem aparecem em surtos isolados, porém podem apresentar-se juntas, gerando confusão, já que possuem características clínicas semelhantes (Portela et al. 2010, Vilela et al. 2010). Alguns trabalhos tem sido realizados na tentativa de identiicar a etiologia das duas formas clínicas de rinite micótica em ovinos, porém baseados apenas em critérios morfológicos e histoquímicos (Ubiali et al. 2013), ou caracterizando uma das formas isoladamente (Vilela et al. 2010), havendo a necessidade de um estudo aprofundado na área molecular, já que atualmente dispomos dessa importante ferramenta como meio de diagnóstico. Dessa forma, este trabalho tem como objetivo caracterizar e identi icar por meio da Reação em Cadeia da Polimerase (PCR) os agentes etiológicos das duas formas clínicas de rinite micótica de ovinos do Piauí. Material e Métodos: O estudo foi realizado no período de 2009 a 2012, com 6 ovinos que deram entrada no Setor de Patologia Animal da Universidade Federal do Piauí apresentando características clínicas das duas formas de rinite micótica (três animais de cada). A caracterização molecular dos agentes etiológicos foi realizada por meio da PCR e sequenciamento, a partir da extração de DNA dos isolados dos fungos cultivados em ágar batata dextrose (BDA) obtidos das lesões de ambas formas. Para a forma nasofaringeana as hifas foram trituradas em nitrogênio líquido, tratadas com dodecil sulfato de sódio e proteinase K e o DNA extraído com fenol-clorofórmio-álcool isoamilico. A subunidade do gene 18S do DNA ribossomal foi ampli icada utilizando os iniciadores universais descritos por Gargas & De Priest (1996). Já para a forma rinofacial, o DNA dos cultivos foi extraído seguindo-se a técnica utilizada por De Hoog et al. (2003), e os iniciadores utilizados foram desenhados a partir de sequências de Pythium insidiosum depositadas no GenBank. Os produtos da PCR foram analisados em um gel de agarose a 1% corado com brometo de etídio. Os produtos ampli icados foram puri icados a partir do gel usando kit de extração comercial, seguido pelo sequenciamento de ácidos nucléicos. As sequências obtidas foram analisadas e comparadas com as disponíveis no GenBank usando BLAST (http://www.ncbi.nlm. nih.gov/BLAST) para procurar por prováveis identi icações das espécies de fungo causadora das duas formas de rinite. A análise ilogenética foi realizada utilizando o software MEGA5 (Kumar et al. 2011), pelo método Neighbor-Joining. Resultados: Após a PCR e os sequenciamentos dos seus produtos, foi con irmado para a forma nasofaringeana a presença do fungo Conidiobolus lamprauges, pertencente a classe Zygomicetes e ordem Entomophtorales, sendo que as sequências obtidas dos isolados avaliados possuem de 92 a 99% de identidade para o gene 18S rDNA de C. lamprauges (nºs GenBank AF296754 e AF113420), seguido por C. osmodes (90% de identidade, GenBank AF368510), C. thromboides (90% de identidade, GenBank AF052401) e outros membros relacionados com Entomophtorales. As três sequências de DNA de C. lamprauges isolados de ovinos do Piauí e as duas sequências isoladas do ambiente disponíveis e agrupadas no banco de dados formaram um forte táxon mono ilético. O táxon C. lamprauges está ligado por um longo ramo à C. osmodes, C. thromboides, C. pumilus e C. rhysosporus, que, por sua vez, são próximos das demais sequências de Conidiobolus neste estudo. O restante das sequências foram agrupadas em dois pequenos, bem suportados e próximos grupos. Para a forma rinofacial, a partir dos isolados estudados proveniente de três animais com as características clínicas da enfermidade foi identi icado o fungo Pythium insidiosum, pertencente à classe Oomycetes e ordem Phitiales, sendo que as sequências possuem forte identidade (100%) para o gene 18S rRNA de P. insidiosum isolados de estudos no Canadá (HQ643568), Tailândia (GQ643568) e Brasil (EF666084), que na árvore ilogenética formam um forte táxon mono ilético; seguidos por outras cepas isoladas e sequenciadas de P. insidiosum que variaram de 94 a 98% de identidade. Discussão: Metodologias moleculares têm-se revelado uma ferramenta valiosa na identi icação de isolados clínicos de uma variedade de agentes etiológicos diretamente de tecidos infectados ou a partir de cultivos destes (De Paula et al. 2010, Vilela et al. 2010). Tem se observado que em relatos de rinites micóticas em ovinos por C. coronatus (Silva et al. 2007a), C. incongruus (Carrigan et al. 1992, Ketterer et al. 1992) e P. insidiosum (Tabosa et al. 2004, Riet-Correa et al. 2008, Santúrio et al. 2008) os sinais clínicos são semelhantes sugerindo múltiplas etiologias, o que proporcionou o presente estudo e favoreceu a caracterização desses agentes, como pode-se observar neste trabalho. O uso da ferramenta de biologia molecular tem crescido anualmente, mesmo assim, estudos de caracterização molecular dos agentes envolvidos nas rinites micóticas de ovinos são escassos e os que existem caracterizam apenas a forma Pesq. Vet. Bras. 36(Supl.2), outubro 2016 242 IX Encontro Nacional de Diagnóstico Veterinário nasofaringeana, con irmando-se como agente etiológico o C. lamprauges (De Paula et al. 2010, Vilela et al. 2010, Silveira et al. 2013), assim como observado nos isolados dos animais estudados. Este é o primeiro trabalho que isolou e identi icou por meio de técnicas moleculares de sequenciamento o agente etiológico da forma rinofacial (“nariz de touro”) no Brasil, sendo o P. insidiosum o responsável por essa enfermidade. Além disso, a similaridade e aproximação ilogenética com isolados de outras partes do mundo comprova a presença do mesmo nas rinites rinofacial de ovinos. Todos os casos de rinite rinofacial no Brasil até o momento sugerem e caracterizam este fungo apenas morfologicamente (Santúrio et al. 2008, Riet-Correa et al. 2008). No Brasil o Conidiobolus spp. são considerados importantes patógenos causadores de zigomicose ovina (De Paula et al. 2010), tendo sido relatado em nosso estado (Silva et al. 2007b), Paraíba (Riet-Correa et al. 2008), Santa Catarina (Furlan et al. 2010) e Mato Grosso (De Paula et al. 2010), porém na grande maioria este agente é caracterizado somente por meio de achados histopatológicos e microbiológicos. Conclusão: O presente estudo caracterizou, pela primeira vez, através de sequenciamento genético e ilogenia, as duas formas clínicas de rinite micótica que acometem ovinos no Piauí, identi icando como causador da zigomicose rinofaringeal o C. lamprauges e como causador da pitiose rinofacial o P. insidiosum, con irmando que estas enfermidades são provocadas por agentes etiológicos diferentes, mas que podem ocorrer isoladas ou simultaneamente. Referências: Carrigan M., Small A. & Perry G. 1992. Ovine nasal zygomycosis caused by Conidiobolus incongruus. Aust. Vet. J. 69:237-240. - De Hoog G.S., Vicente V., Caligiorne R.B., Kantarcioglu S., Tintelnot K., Gerrits Van den Ende A.H.G. & Haase G. 2003. Species diversity and polymorphism in the Exophiala spinifera Clade containing opportunistic black yeast-like fungi. J. Clin. Microbiol. 41:4767-4778. - De Paula D.A.J, Oliveira Filho J.X., Silva M.C., Colodel E.M., Broetto L., Pinto P.M., Schrank A., Nakazato L. & Dutra V. 2010. Molecular characterization of ovine zygomycosis in central western Brazil. J. Vet. Diagn Invest. 22:274-277. - Furlan F.H., Lucioli J., Veronezi L.O., Fonteque J.H., Traverso S.D., Nakazato L. & Gava A. 2010. Conidiobolomicose causada por Conidiobolus lamprauges em ovinos no Estado de Santa Catarina. Pesq. Vet. Bras. 30:529-532. - Gargas A. & DePriest P.T. 1996. A nomenclature for fungal PCR primers with examples from intron-containing SSU rDNA. Mycologia 88:745-748. - Ketterer P., Kelly M., Connole M. & Ajello L. 1992. Rhinocerebral and nasal zygomycosis in sheep caused by Conidiobolus incongruus. Aust. Vet. J. 69:85-87. - Kumar S., Tamura K. & Nei M. 2010. MEGA 5 Integrated software for molecular evolutionary genetics analysis and sequence alignment. Brief. Bioinformat. 5:150-163. - Morris M., Ngeleka M., Adogwa A.O., Lalla G., St-Germain G. & Higgins R. 2001. Rhinocerebral zygomycosis in a sheep. Can. Vet. 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Pathol. 149(2/3):137-145. - Vilela R., Silva S.M.S., Riet-Correa F., Dominguez E. & Mendoza L. 2010. Morphologic and phylogenetic characterization of Conidiobolus lamprauges recovered from infected sheep. J. Clin. Microbiol. 48:427-432. TERMOS DE INDEXAÇÃO: Conidiobolus lamprageus, Pythium insidiosum, doenças fúngicas, sequenciamento, PCR. 158. Souza F.A.L., Ribeiro D.P., Lopes M.G., Beserra E.E.A., Braga J.F.V., Bernardi J.C.M., Pires L.V. & Silva S.M.M.S. 2016. Soroprevalência da diarreia viral bovina em rebanhos leiteiros da microrregião Litoral Piauiense. Pesquisa Veterinária Brasileira 36(Supl.2):242244. Departamento de Morfologia e Fisiologia Animal, Universidade Federal Rural de Pernambuco, Rua Dom Manoel de Medeiros s/n, Dois Irmãos, Recife, PE 52171-900, Brasil. E-mail: [email protected] Introdução: O vírus da Diarreia Viral Bovina (BVDV) é um dos principais patógenos responsáveis por perdas econômicas signi icativas na indústria pecuária bovina de corte e leite (Fino et al. 2012). É um vírus RNA, da família Flaviviridae e gênero Pestivirus (Francki 1991) e tem distribuição mundial, sendo que no Brasil a disseminação na população bovina foi comprovada por meio de isolamentos e inquéritos epidemiológicos (Vidor et al. 1974, Castro et al. 1993, Dias & Samara 2003, Quincozes et al. 2007, Brito et al. 2010, Chaves et al. 2012, Lucena & Tenório 2015). Uma característica marcante do vírus é a grande diversidade antigênica e a existência de dois genótipos genética e antigenicamente distintos: BVDV tipos 1 e 2 (Loneragan et al. 2005). A infecção por BVDV é responsável por amPesq. Vet. Bras. 36(Supl.2), outubro 2016 pla variedade de manifestações clínicas, que variam de infecções inaparentes ou subclínicas até doença aguda e, às vezes, fatal (Fino et al. 2012), relacionadas com doença reprodutiva, digestiva, respiratória, síndrome hemorrágica, doença das mucosas e imunodepressão (Dias & Samara 2003, Quincozes et al. 2007). O diagnóstico da doença pode ser dado pelo exame clínico, achados de necropsia e exames laboratoriais, como isolamento do vírus em cultivo celular, identi icação de anticorpos por técnicas sorológicas e pela Reação em Cadeia da Polimerase (PCR) (Dias & Samara 2003, Pilz et al. 2005). Os estudos dessa enfermidade no Nordeste são escassos, tendo relatos apenas na Bahia, Pernambuco, Sergipe e Maranhão. No Piauí, informações sobre a BVDV só foram relatadas até o momento, por Luce-