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Recredenciamento
Portaria MEC 347, de 05.04.2012 - D.O.U. 10.04.2012.
O perigo pode estar próximo: uma discussão sobre a
pedofilia
Daniela Baptista Neves Santos1, Rosangela Maria
Corneli de Oliveira2, Dra. Débora S. de Oliveira3
Resumo: O artigo tem como objetivo apresentar apontamentos da literatura a respeito da
pedofilia, ilustrados com passagens do filme Secretos de Família. Ao estudar esse tipo
de transtorno sexual, pode-se apontar que a maioria dos pedófilos possui não somente
uma alteração na sua psique conforme (DSM-IV-TR), como também em suas estruturas
cerebrais, comprometendo assim suas vidas significativamente. Há a necessidade de
mais pesquisas na área e atenção dos profissionais da saúde para intervenções mais
adequadas a esses indivíduos para que seja possível reduzir o número de abusos sexuais
vitimados contra crianças e adolescentes.
Palavra chave: Pedofilia, Cinema, Parafilia
1
2
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Acadêmico do Curso de Psicologia do Cesuca-Faculdade Inedi.
Acadêmico do Curso de Psicologia do Cesuca-Faculdade Inedi.
Professora do Curso de Psicologia do Cesuca-Faculdade Inedi.
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Introdução
Esse artigo busca discutir, através de uma pesquisa teórica, um tema polêmico
que é a pedofilia, articulando-a com o cinema. Discutir o tema torna-se de grande
relevância não só científica, mas também social visto que mobiliza não somente a ação
da mídia como também o necessário encorajamento de denúncias por parte das vítimas.
Na antiguidade, ter relações sexuais com crianças era considerado tolerável ou
até mesmo admirável por algumas culturas. Atualmente, tal ato é considerado crime em
nossa sociedade, mas isso não impede que situações como essas ainda aconteçam. Dessa
forma, compreender a respeito das causas que levam indivíduos a realizarem tais atos e
a dinâmica da pedofilia enquanto transtorno sexual torna-se importante (Costa, 2013).
Segundo o Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais (APA, 2002),
a pedofilia é uma parafilia classificada como um subtipo de transtornos sexuais e
consiste em:
...em fantasias, anseios sexuais e sexualmente excitantes, em geral envolvendo
1) objetos não humanos; 2) sofrimento ou humilhação, próprio ou do seu
parceiro; ou 3) crianças ou outras pessoas sem o seu consentimento, ocorrendo
durante um período mínimo de 6 meses (Critério A) Para Pedofilia,
Voyeurismo, Exibicionismo e Frotteurismo, o diagnóstico é feito se a pessoa
realizou estes desejos ou se os desejos ou fantasias sexuais causaram acentuado
sofrimento ou dificuldades interpessoais. Para as parafilias restantes, o
diagnóstico é feito se o comportamento, os anseios sexuais ou as fantasias
causam sofrimento clinicamente significativo ou dificuldade no funcionamento
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social, ocupacional ou em outras áreas importantes da vida do indivíduo
(Critério B) (p 538-539).
Indivíduos que apresentam esse quadro de transtorno sexual podem ter sua
rotina afetada significativamente. Quando associada a casos obsessivos, pode ainda
chegar ao nível de os indivíduos não conseguirem ter uma relação sexual normal, sem a
utilização de meios estimuladores para obterem prazer, alterando significativamente
suas relações interpessoais e sociais (APA, 2002).
As principais parafilias são: exibicionismo (exposição dos genitais), fetichismo
(uso de objetos inanimados), frotteurismo (tocar e esfregar-se em uma pessoa sem o seu
consentimento), pedofilia (foco em crianças pré-púberes), masoquismo sexual (ser
humilhado ou sofrer), sadismo sexual (infligir humilhação ou sofrimento), fetichismo
transvéstico (vestir-se com roupas do sexo oposto), voyeurismo (observar atividades
sexuais) e sem outras especificações (APA, 2002; Muribeca, 2009).
O foco do presente estudo é a pedofilia. Considera-se que as ações dos pedófilos
podem ser as mais perigosas. Sem que muitas vezes se perceba, um pedófilo pode estar
próximo (Muribeca, 2009). Geralmente, o agressor possui laços afetivos com a família
da vítima, tendo comportamentos manipuladores e de sedução para com a vítima com o
objetivo de chegar até seu objetivo (Williams, 2009).
É comum também de o abuso sexual ocorrer dentro do próprio contexto familiar,
no qual a criança ou o adolescente é dependente e subordinado (Williams, 2009). O
estresse familiar e a ausência de carinho que permeiam o contexto de violência de uma
família são fatores que contribuem para a perpetuação da violência. A esse respeito
Fishman (1996) aponta que cada geração aprende a ser violenta na medida em que
vivencia e reproduz a violência. Braun citado por Costa (2013, p.139) também refere
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que “Por ser cometido às escuras e, muitas vezes, sem deixar qualquer tipo de vestígio
físico, o abuso sexual produz uma série de problemas no desenvolvimento da criança;
podendo estas vir a ser adultos abusadores”.
A dinâmica do abuso sexual também provoca inúmeras outras consequências
emocionais para as vítimas, tais como: regressão emocional, amadurecimento sexual
precoce, doenças psicossomáticas, fobias, depressão, entre outros (Williams, 2009).
Tendo em vista esses aspectos, busca-se através desse artigo conhecer os critérios
diagnósticos da pedofilia, conforme descrito pelo DSM-IV-TR, ilustrados a partir de
trechos do filme Secretos de Família.
Secretos de Família: o filme
Secretos de Família é um drama Mexicano, produzido em 2009, por Paco del
Toro, tendo como seus principais personagens Manuel Ojeda, Vanesa Ciangherotti,
Diana Golden, Fernando Carrillo, Ramiro Huerta, produzido por Armagedon
Producciones.
A obra narra a história de uma menina de sete anos chamada Paulina, filha de
um casal influente na sociedade, mas que não disponibiliza de tempo para ela. Na trama,
surge o tio chamado de Manuel, que é um psicólogo especialista em educação infantil,
que passa alguns dias na casa com a família.
No início, Paulina se maravilha com seu tio que lhe dispõe de atenção e de
carinho, diferentemente de seus pais que trabalhavam muito. Ao transmitir confiança a
seus pais, esses o solicitam que ficasse de tutor da menina durante suas viagens de
negócio. Com a presença do tio, os pais sentiram-se mais tranquilos de deixar a filha a
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trabalho, e inúmeras viagens foram feitas naquele período em que o tio estava na casa
de Paulina.
Todo o enredo ocorre quando Paulina já adulta e casada relembra os
acontecimentos traumáticos da infância. Ao olhar para sua filha, que se encontrava com
a mesma idade que tinha quando fora abusada, traz à tona todo o pesadelo vivenciado e
que havia reprimido durante todos aqueles anos. A idade da filha e o medo de que essa
vivesse a sua mesma experiência de uma infância difícil e sofrida em função do abuso
sexual, fez com que Paulina revivesse suas lembranças e seus traumas.
O filme inicia com uma cena em que Paulina, já adulta, chega a casa e recebe
uma surpresa de seu esposo e filha. Essa estava vestida de bailarina como Paulina
quando tinha a mesma idade. Ao ver a filha, Paulina resgatou lembranças e viu fotos de
sua infância. Assim que as viu, suas lembranças a remeteram ao momento em que reviu
seu tio Manuel, o qual era mais velho.
Embora no filme não tenha sido possível identificar exatamente a diferença de
idade entre Manuel e Paulina, pode-se pensar que essa estava condizente com um dos
critérios diagnóstico da pedofilia. Conforme o critério C do DSM-IV-TR (APA, 2002),
“O indivíduo tem no mínimo 16 anos e é pelo menos cinco anos mais velho que a
criança ou crianças” (p.544).
O tio Manuel chega à casa de seu pai Júlio e comenta estar impressionado com
seu crescimento. Em seguida, diz ser seu príncipe, já que ela estava vestida de princesa
bailarina. A aproximação do tio em relação à sobrinha demonstra a empatia e a
habilidade com crianças. Os pais, convencidos de que Manuel realmente tinha
habilidades para cuidá-la, deixam-no de tutor de sua filha e viajavam a trabalho. Manuel
então acaba ficando na casa de Paulina por algum tempo
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Na primeira noite em que fica sozinho com a menina, Manuel se embriaga ao
lembrar o que lhe havia ocorrido em sua infância. Quando criança, Manuel fora abusado
por seu próprio pai. Ao lembrar-se dessas vivências, fica claramente conturbado e
mobilizado.
O sofrimento emocional revivido lhe impulsiona a dirigir-se ao quarto de
Paulina, a qual dormia. Começou a acariciá-la da mesma forma como seu pai o fizera
anos atrás. Inicia-se naquele momento do drama, uma série de abusos de Manuel contra
Paulina. Acredita-se que pelo fato de estar sob o efeito do álcool tenha tido a iniciativa
de encaminhar-se para o quarto de Paulina e de tocá-la da mesma forma como havia
sido vítima.
Essa cena está condizente com o critério A, descrito no Manual Diagnóstico e
Estatístico de Transtornos Mentais (APA, 2002):
A. Ao longo de um período mínimo de 6 meses, fantasias sexualmente
excitantes, recorrentes e intensas, impulsos sexuais ou comportamentos
envolvendo atividade sexual com uma (ou mais de uma) criança pré-púbere
(geralmente com idade inferior a 13 anos) (p.543).
Apesar do personagem não apresentar sintomas que fechem os critérios para
alcoolismo, é importante ressaltar a relação do uso de drogas e os abusos sexuais.
Conforme Marsden (2009), há a hipótese de que a pedofilia possa ser entendida como
transtornos do comportamento tóxico dependente. Tanto pedófilos quanto usuários de
substâncias apresentem grau considerável de psicopatologia, e a tóxico dependência
pode ser definida como uma condição caracterizada por falência recorrente em controlar
um comportamento que, embora altamente recompensador a princípio, resulta em
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prejuízo significativo, o que também parece ocorrer relativamente a comportamentos
sexuais desviantes.
De acordo com Taborda, Abdalla-Filho e Chalub (2012), o início da parafilia, do
subtipo pedofilia, costuma acontecer na adolescência e pode flutuar de acordo com o
estresse psicossocial. A pesquisa desses autores aponta que apesar de o comportamento
pedófilo ter seu início na adolescência, alguns indivíduos relataram não terem sentido
atração por crianças até a meia-idade. No filme em questão, não fica claro quando o
personagem Manuel iniciou seu comportamento pedofílico.
Segundo Taborda (2012), o comportamento do pedófilo pode se restringir tanto
aos próprios filhos, a filhos adotivos, a crianças da família ou extrafamiliares. São
hábeis e ótimos criadores de técnicas sofisticadas para obter acesso às crianças. Uma
frequente característica é a sedução e a obtenção da confiança da mãe. Particularmente
os perpetradores habituais, costumam até mesmo casar-se com mulheres que tenham
crianças como filhas a fim de seduzi-la e envolvê-la no abuso sexual. Esse grupo de
pedófilo, segundo o autor, pode inclusive traficar, adolar ou raptar as crianças.
É muito comum que a criança vítima de abuso sexual apresente mudança de
comportamento (Williams, 2009). No filme, uma funcionária que trabalha na casa
desconfia de algo, devido a algumas mudanças comportamentais que ocorrem em
Paulina. Contudo, o silêncio pairava no ar, já que faz parte da dinâmica do abuso sexual
a síndrome do segredo (Dobke, 2009; Taborda, 2012). Mesmo que insistisse em
perguntar, a menina não comentava nada, por medo das ameaças do tio que deixava
bem claro de que se contasse, jamais veria sua família novamente.
No decorrer do filme, Paulina é acometida por sucessivos momentos de abuso
sexual, com isso a menina tem uma regressão em seus comportamentos, tais como:
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voltar a chupar o dedo, fazer xixi nas calças e na cama, ter pesadelos no qual acordava
em gritos dizendo: “não quero” repetidas vezes.
Em outros momentos, é agressiva com a mãe e na escola demonstrando atraso
no aprendizado, e caracterizando início dos prejuízos em seu desenvolvimento. Em
uma das cenas, a professora ficou preocupada ao ver um desenho que fez, onde havia
uma menina deitada na cama e um homem em pé ao lado. A escola ligou para a casa de
Paulina para explicar suas preocupações. Porém o tio atendeu a ligação e foi até a
escola, mentindo que a mesma estava muito chateada pelo fato dos pais estarem sempre
ausentes, manipulando também as professoras, que acreditaram nele, uma vez que se
apresentou como psicólogo.
Na última cena em que aparece Paulina pequena, é quando o tio está indo
embora de sua casa. Ele a chama e a abraça, diz que a amava e que sentiria saudades.
Antes de afastar-se, relembra-a do “segredo” compartilhado, e novamente a ameaça de
morte, caso contasse algo.
Em
várias
outras
cenas,
Paulina,
já
adulta,
revive
lembranças
de
comportamentos assustadores e doentios, causando grande sofrimento psíquico,
emocional, cognitivo, levando-a, inclusive à tentativa de suicídio. Tal aspecto mostra o
quanto os sintomas e os prejuízos causados pelo abuso sexual podem repercutir para
toda a vida da vítima (Dobke, 2009).
Concomitante as essas cenas, aparece um senhor chamado Guilhermo (também
apresentando critérios para pedofilia) que abusava do menino Antônio. Quando esse
dizia que iria contar para o pai, o homem oferecia dinheiro e o menino aceitava pelo
fato de serem muito pobres. Manipulando a família por sua situação financeira, os pais
rendem-se e permitem que o filho fique sozinho na casa do estranho. Embora, no filme
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não fique claro se realmente esses pais não sabiam do abuso sexual, faz pensar na
negligência e/ou conivência com a situação imposta pelo atrativo do dinheiro.
Esse mesmo senhor, num outro momento contratou uma menina de 11 anos de
idade para trabalhar em sua casa, com a intenção de ajudar financeiramente a família.
Ele instalou câmeras e ficava observando a menina. Em um momento oportuno, abusou
dela e ainda acusava-lhe de ter se oferecido para ele, mostrando filmagens dela. Além
disso, ameaçava-a caso contasse para alguém, dizendo que se ela dissesse, ele diria que
teria se oferecido para ele. Através do filme, foi possível perceber que Guilhermo
também sentia atração sexual por crianças tanto do gênero masculino quanto o
feminino. De acordo com Taborda, (2012), tal fato não parece muito comum. Para o
autor, geralmente, indivíduos que apresentem comportamento pedofílico costumam ter
atração por crianças de uma determinada faixa etária. O curso dessa parafilia costuma
ser crônico, especialmente em pedófilos atraídos por meninos. O autor ainda afirma que
a taxa de recidiva é quase o dobro da verificada nos que têm preferência por crianças
meninas.
No final da trama, depois de se restabelecer da tentativa de suicídio, Paulina
resolve procurar uma nova escola para a sua filha e quando lá chega, se depara com
Manuel acariciando uma aluna, da mesma forma que fazia com ela. Paulina sai correndo
da escola e retorna dias depois com um revólver pensando em matá-lo, porém não o faz
por se lembrar de sua filha e esposo.
Na ocasião, Paulina é presa, mas logo sai para responder em liberdade. Paulina
nesse momento rompe a Síndrome do segredo e revela os abusos sofridos. No filme,
tanto Manuel quanto Guilhermo são denunciados e respondem processo judicial por
abuso sexual infantil.
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Ao longo do filme, se pode também observar o prejuízo no funcionamento social
e ocupacional dos abusadores pedófilos, fechando critério diagnóstico, conforme o
DSM-IV-TR (APA, 2002, critério B):
B. As fantasias, impulsos sexuais ou comportamentos causam sofrimento
clinicamente significativo ou prejuízo no funcionamento social ou ocupacional
ou em outras áreas importantes da vida do indivíduo (2002, p.543).
Cabe ressaltar, que em casos de abuso sexual não ocorre o consentimento ao ato
sexual, ocorridos inúmeras vezes em relações fieis de amizade, atualmente feitas através
internet. Watson, citado por Costa (2013), sugere três pontos que servem para distinguir
atos abusivos dos não abusivos, e que são de suma importância para a prática do
profissional da psicologia:
1) o abusador possui um poder hierárquico superior, exercendo controle sobre a
vítima que não compreende o que se passa;
2) o agressor deve possuir uma diferença na idade cronológica ou avanço no
desenvolvimento social-cognitivo; 3) o agressor busca ou obtém uma
gratificação e satisfação, sendo que um possível prazer da vítima é acidental ou
de interesse de quem abusa (p.4).
Em função da pedofilia se tratar de uma alteração psíquica grave, que pode ter
origem orgânica ou traumática (Monteiro, 2012), se torna importante entender que os
prejuízos vão além dos psíquicos, sociais e ocupacionais. Taborda (2012) cita Cantor,
referindo que existem estudos nos quais apontam que homens pedófilos possuem um
quociente de inteligência inferior, são predominantemente canhotos, e apresentam certo
número de alterações nas estruturas cerebrais. Esses estudos da área da psiquiatria
forense demonstraram variações visualizadas por meio de ressonâncias magnéticas
nucleares e funcionais. A respeito desses estudos Taborda aponta que ao se ter ciência a
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respeito de tais características os profissionais podem se munir de mais uma ferramenta
para a identificação de problemas físicos de indivíduos com esse transtorno.
O autor defende ainda a importância dessa compreensão para um tratamento
mais adequado aos pedófilos que cometem agressão. Isso porque pouca é a adesão de
tratamento por parte dessa população.
Assim, a partir dessa discussão, entende-se que o tratamento desses indivíduos
deve possuir dois pilares, tanto das psicoterapias quanto da farmacoterapia. Acredita-se
que não somente o foco em antidepressivos, ansiolíticos ou inibidores seja importante,
mas também a utilização de exames aprofundados de neuroimagem, bem como a
psicoterapia tanto individual quanto de grupo possam auxiliar no tratamento do pedófilo
(Taborda, 2012).
O mesmo autor ainda afirma:
Diferentes estratégias voltadas para o tratamento das parafilias que configuram
crimes sexuais têm sido desenvolvidas, porém, a literatura referente ao assunto
ainda diverge quanto a sua eficácia [itálico adicionado]... Apesar de algumas
terapias medicinais para o controle do desejo sexual serem alvo de muitas
críticas, a incorretamente chamada castração química é um método de controle
que tem mostrado bons resultados... tende a diminuir o impulso sexual,
possibilitando melhor autocontrole e menores taxas de reincidência entre os
infratores sexuais (2012, p. 408).
Por se tratarem de abusadores, percebem-se ainda, na maioria das vezes,
preconceitos em relação a esse assunto. Há poucas pesquisas na área e pouco crédito
dado ao relato das vítimas (Dobke, 2009). Nesse sentido, considera-se de suma
importância a pesquisa e discussão a respeito do tema no campo profissional da saúde,
especialmente na graduação em psicologia.
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Considerações Finais
Ao longo desse estudo compreende-se que a Pedofilia é um transtorno sexual,
classificado como parafilia, que é uma desordem psicológica, tendo por preferência
sexual crianças pré-púberes. Segundo o DSM-IV-TR (APA, 2002), pode ser dirigido
exclusivamente a crianças (geralmente com idade inferior a 13 anos), e pode se
manifestar tanto a partir de fantasias sexualmente excitantes, recorrentes e intensas,
quanto de impulsos sexuais ou comportamentos envolvendo atividade sexual.
Há ainda contradição nas pesquisas em relação as causas do transtorno, porém
algumas são discutidas, tais como: ter sido o abusador molestado em sua infância, estar
vivenciando um momento de estresse psicossocial, apresentar um quociente de
inteligência baixo, bem como diferenças nas estruturas cerebrais. Assim, reforça-se a
necessidade de mais pesquisas na área.
Não se tem, com esse estudo, o intuito de esgotar a discussão a respeito dessa
temática. Mas de estimular outras discussões a respeito da dinâmica do abuso sexual,
dos tratamentos mais eficazes para os profissionais da saúde que trabalham com esses
casos e para o sistema legal que condena esses sujeitos. Acredita-se que estudar a
temática a partir da análise de um personagem de um filme propiciou a integração da
teoria com a prática e favoreceu a compreensão de um comportamento psicopatológico.
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