Impactos socioambientais da Energia Eólica: é possível falar em sustentabilidade? Resumo: Este trabalho encontra-se circunscrito no campo de estudo Os Sentidos do Desenvolvimento e o Meio Ambiente e tem por objetivo problematizar e correlacionar o conceito de sustentabilidade à forma na qual as companhias de energia eólica atualmente desenvolvem seus projetos, identificando e enfatizando os impactos socioambientais da instalação de tais empresas a partir do estudo de caso da implantação de um parque eólico no interior baiano. Atualmente, a Bahia é o segundo maior produtor de energia eólica no país, o que justifica a escolha deste universo como objeto de estudo. Para consecução do objetivo proposto, o método de pesquisa está fundamentado em dois momentos distintos, porém complementares. Inicialmente, a proposta é uma retomada sociohistórica conceitual, por intermédio de pesquisa documental e bibliográfica, até a emergência da concepção de desenvolvimento sustentável tal como é conhecida hoje. Depois, para correlacionar o conceito à forma de atuação das empresas eólicas, a metodologia se fundamenta no estudo de caso da implantação de um parque no sertão baiano, enfatizando a forma na qual a companhia eólica estabelece seu relacionamento com as comunidades de seu entorno, bem como as comunidades se percebem e são pelo empreendimento impactadas. Os dados utilizados para composição deste estudo foram levantados no âmbito de um programa condicionante para o licenciamento ambiental da empresa analisada, o Programa de Monitoramento de Indicadores Socioeconômicos. Este é um programa que prevê a coleta de dados (quanti-qualitativa) semestralmente, tendo se iniciado em março de 2015. Tem-se, portanto, dados referentes à março e setembro de 2015 e abril de 2016, o que possibilita a comparação e a análise longitudinal da atuação da empresa e seus respectivos impactos sobre as comunidades do seu entorno. A autorização para utilização dos dados foi concedida sob a condição de que a identidade da empresa, comunidades e demais atores envolvidos no processo seja preservada. Desta forma, o que se pode concluir a partir deste estudo é que embora seja uma relação quase automática e proporcional ao senso comum, o vínculo entre sustentabilidade e produção de energia eólica é um desafio para o Brasil, sobretudo no que tange ao relacionamento das empresas com as comunidades impactadas. Apesar do alto investimento corporativo em comunicação e relacionamento, estas estratégias demonstram ser falhas e carecer de novas abordagens, sobretudo pois as comunidades não se sentem pertencentes ao projeto, não existe empoderamento comunitário, ficando o território e aqueles que o compõem marginalizados no processo de instalação dos parques. De maneira geral, os atingidos pelo empreendimento desconhecem as fases do projeto, suas nomenclaturas e respectivos impactos, o que evidencia o (natural) desconhecimento inicial dos impactos e a baixa propensão das empresas em os informarem, uma vez que mesmo depois de instalados os parques, os moradores das comunidades permanecem afirmando que pouco conhecem acerca da nova atividade na região. Importante ressaltar que o envolvimento “empresa x comunidade” apresentou baixos indicadores, apontando para o distanciamento entre as partes, sobretudo no que tange à procura dos moradores pela empresa, dificultada pela distância em relação ao escritório da companhia, localizado na sede do município. Outro importante aspecto identificado é que na construção de estradas de acesso, a empresa tem a obrigação de sinalizá-las – condicionante imposta pelo órgão ambiental licenciador. Porém, o presente estudo aponta que, com o passar dos meses, as placas de sinalização passaram a ser roubadas ou deterioradas pelo tempo. A despeito, a empresa não vem demonstrando pressa pela reposição dos sinalizadores, o que pode ser entendido como um déficit considerável no relacionamento, e mesmo no comprometimento, entre a companhia e as comunidades, uma vez que a postura relapsa por parte da corporação coloca em risco a segurança local. Ademais, constatou-se que o período de maior comunicação entre empresa e comunidades é na fase de obras, onde são informadas sobre fluxo de veículos, barulho e poeira. No entanto, estes são impactos efêmeros. Já os impactos permanentes, que inclusive são citados pelas comunidades como decorrentes da instalação dos aerogeradores (visuais, sonoros e ambientais), são pouco ou nada abordados. Desta forma, conclui-se que falar em sustentabilidade mediante o status do progresso é mais complexo do que se imagina, e que os ventos do desenvolvimento sustentável provenientes da instalação das empresas eólicas pouco têm chegado àqueles que de fato deles deveriam se beneficiar. Palavras-chave: Sustentabilidade, Energia Eólica, Impactos Socioambientais. Autores: - José Dias Neto Bacharel em Ciências Sociais pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC Minas), com aperfeiçoamento em Educação Ambiental pela Universidade Federal de Minas Gerais. Pós-graduando em Elaboração, Gestão e Avaliação de Projetos Sociais em Áreas Urbanas pelo Departamento de Sociologia da Universidade Federal de Minas Gerais. Consultor em avaliação de impactos socioambientais, mediação social e sustentabilidade. Email: [email protected] - André Colombo Pimenta Bacharel em Ciências Socioambientais pela Universidade Federal de Minas Gerais. Pós-graduando em Elaboração, Gestão e Avaliação de Projetos Sociais em Áreas Urbanas pelo Departamento de Sociologia da Universidade Federal de Minas Gerais. Consultor em avaliação de impactos socioambientais, mediação social e sustentabilidade. Email: [email protected]