AS ABORDAGENS/TENDÊNCIAS METODOLÓGICAS DE ENSINO NAS DIRETRIZES CURRICULARES DE CIÊNCIAS, BIOLOGIA, FÍSICA, QUÍMICA E MATEMÁTICA DO ESTADO DO PARANÁ Heloisy Florran Semprebom (PIBIC/CNPq), Lucken Bueno Lucas (Orientador), e-mail: [email protected]. Universidade Estadual do Norte do Paraná/Campus Cornélio Procópio. Área e subárea do conhecimento: Multidisciplinar; Ensino; Ensino de Biologia. Palavras-chave: Diretrizes Curriculares Orientadoras da Educação Básica para a rede estadual de ensino do Paraná (DCE), Abordagens/tendências metodológicas de ensino, Análise documental. Resumo Este trabalho apresenta os resultados de uma investigação qualitativa segundo uma análise documental realizada nas Diretrizes Curriculares Orientadoras da Educação Básica para a Rede Estadual de Ensino” (DCE) do Paraná, quanto ao escopo das “metodologias/tendências de ensino” apresentadas nesses documentos. Os resultados mostraram que há uma polissemia terminológica nas explicações das abordagens/tendências metodológicas de ensino nas DCE, visto que enquanto algumas apresentam claramente as possíveis abordagens/tendências que os professores poderão valer-se para ensinar os conteúdos científicos, outras apresentam tão somente elementos, componentes e enfoques didático-metodológicos que devem ser considerados na prática docente. Introdução No Estado do Paraná, desde 2008, documentos denominados “Diretrizes Curriculares Orientadoras da Educação Básica para a Rede Estadual de Ensino” (DCE) foram publicados pela Secretaria de Estado da Educação, com o objetivo de estabelecer uma concepção curricular balizadora para a Educação Básica. Tais diretrizes, entre outras coisas, abordam os aspectos metodológicos do ensino para as diferentes disciplinas curriculares. No entanto, debates promovidos pelo Grupo de Pesquisa e Ensino e Formação Profissional (GPFOP1), da Universidade Estadual do Norte do Paraná (UENP), têm evidenciado divergências na compreensão das abordagens metodológicas de ensino (ou tendências de ensino) presentes nessas Diretrizes, em diferentes disciplinas. Foram detectadas polissemias em relação a terminologias como: estratégias de ensino, abordagens de ensino, metodologias, e tendências, entre outros. Assim, por meio deste estudo foi investigado o conteúdo metodológico de ensino desses documentos (DCE) de modo a evidenciar as convergências e/ou divergências semânticas de seu escopo metodológico (voltado ao ensino), visando contribuir com o debate interdisciplinar das diferentes áreas de conhecimentos (e seu ensino) implicadas nas referidas diretrizes. Foram elencados como objetivos os seguintes: a) Pesquisar em literatura pertinente diversas abordagens metodológicas de ensino utilizadas nas disciplinas de Ciências, Biologia, Matemática, Física e Química da Educação Básica do Estado do Paraná; b) Evidenciar o papel das abordagens metodológicas de ensino nos processos de ensino e de aprendizagem escolar; c) Investigar o conteúdo teórico-metodológico das Diretrizes Curriculares da Educação Básica do 1 Endereço para acessar a página do grupo no diretório do CNPq: dgp.cnpq.br/dgp/espelhogrupo/3345995435404954 Paraná (das disciplinas de Ciências, Biologia, Matemática, Física e Química) para evidenciar possíveis convergências e/ou divergências semânticas (e terminológicas), relativas à compreensão das abordagens metodológicas de ensino; d) Elaborar análises crítico-reflexivas das perspectivas metodológicas de ensino evidenciadas nas Diretrizes Curriculares da Educação Básica do Paraná investigadas neste trabalho. Material e métodos Na perspectiva da pesquisa qualitativa (BOGDAN; BIKLEN, 1994) realizamos um levantamento bibliográfico na literatura da área de Ensino que trata da questão metodológica do ensino; e uma análise documental nas DCE do Paraná, conforme os encaminhamentos sugeridos por Lüdke e André, 1986. Resultados e Discussão A partir de leituras reflexivas das DCE do Paraná, para as disciplinas de Ciências, Biologia, Física, Química e Matemática, foi possível elaborar uma síntese das mesmas de modo a apresentar as informações gerais contidas nesses documentos quanto à perspectiva metodológica de ensino: I- Diretrizes Curriculares da Educação Básica – Matemática: os conteúdos estruturantes das Diretrizes Curriculares da Educação Básica da disciplina de Matemática apresentam “tendências metodológicas” que se dividem em: Resolução de problemas; Modelagem matemática; Mídias tecnológicas; Etnomatemática; História da matemática; e Investigações matemáticas. Nas Diretrizes essas tendências são apresentadas juntamente com explicações de modo que as mesmas sejam aplicadas nas aulas de Matemática. As Diretrizes também evidenciam como essas tendências se complementam umas com as outras. II- Diretrizes Curriculares da Educação Básica – Ciências: propõem um ensino dos conteúdos a partir da perspectiva da pluralidade metodológica, justificando que a utilização de uma única abordagem será insuficiente para que os processos de ensino e de aprendizagem se efetivem diariamente nas escolas. Assim, dada a diversidade de assuntos, abordagens, estratégias, entre outros, os docentes da disciplina de Ciências são orientados a usar diferente abordagens de ensino em sua prática diária. Então, apresentam três “aspectos essenciais” que devem ser considerados na prática pedagógica dos professores, mas, também, na formação deles. Esses aspectos, que devem complementar-se e relacionar-se, são: História da Ciência; Divulgação Científica e Atividade Experimental. Considerando as variáveis que podem interferir nos processos de ensino e de aprendizagem dos conteúdos de Ciências, como as concepções alternativas, as apropriações cultuais, a concepção de ciência dos professores, o uso de recursos e espaços, as Diretrizes dessa área de conhecimento apresenta alguns “elementos da prática pedagógica” que devem ser considerados no ensino de Ciências, sendo eles: Abordagem problematizadoras; Relação contextual; Pesquisa; Leitura científica; Atividade em grupo; Observação; Atividade Experimental; Recursos Instrucionais; e o Lúdico. III- Diretrizes Curriculares da Educação Básica – Química: a partir do conhecimento prévio dos estudantes, seus costumes e tradições, as Diretrizes de Química propõem aos docentes considerar essas perspectivas quando do ensino de conteúdos químicos. Essa bagagem que os alunos trazem consigo, segundo o documento, inviabiliza a utilização de uma abordagem única para o ensino de Química. Nesse sentido, são apresentados três encaminhamentos metodológicos a serem adotados: Modelos e o Ensino de Química; Experimentação no Ensino de Química; e Leitura Científica no Ensino de Química. IV- Diretrizes Curriculares da Educação Básica – Biologia: a partir dos quatro paradigmas metodológicos da Biologia que compõem o marco conceitual epistemológico dessa ciência, sendo eles, o descritivo, o mecanicista, o evolutivo e o da manipulação genética, propõe-se a partir de conteúdos estruturantes e específicos que se relacionam, apresentar uma visão histórica do conhecimento biológico sem desprezar seus determinantes políticos, culturais, sociais e ideológicos. Nesse sentido, os conteúdos de Biologia devem ser apresentados aos alunos como construção humana, com as controvérsias que marcaram sua constituição, convivendo com explicações de outras naturezas, como as teológicas e artísticas. Para o ensino de Biologia vale considerar, também, o respeito à diversidade cultural, social e as ideias prévias dos alunos. Conhecer e considerar essas dimensões é importante para que se possa melhor ensinar o conteúdo VIDA, e os debates bem conduzidos são vistos como aliados desse processo. As Diretrizes de Biologia também consideram que o ensino de conteúdos específicos pode ser efetivado segundo a perspectiva da Pedagogia Histórico-Crítica. Sugere encaminhamentos para o ensino dos conteúdos estruturantes (organização dos seres vivos, mecanismos biológicos, diversidade e manipulação genética) a partir da problematização, de leituras críticas, estratégias de ensino como aulas dialogadas e atividades experimentais, visando suscitar nos alunos a interpretação, a percepção e a produção de novos significados. O estudo do meio é outra estratégia a ser considerada, envolvendo a visitação e o estudo do/em locais como museus de ciências, zoológicos, parques, praças, aterros sanitários, fábricas e unidades de conservação. Outra estratégia indicada para o ensino de Biologia envolve o uso dos jogos como elementos que podem auxiliar os docentes no cumprimento de seus objetivos de aprendizagem. V- Diretrizes Curriculares da Educação Básica – Física: sugere que o ensino dessa Ciência considere os conhecimentos prévios dos estudantes, incluindo concepções alternativas e espontâneas seja qual for a metodologia de ensino adotada, de modo que seja possível promover uma aprendizagem significativa dos conceitos físicos. Nesse sentido, o professor deve mostrar que a ciência é um processo inacabado, com verdades transitórias e que deve ser sempre superada. Também sugere que sejam feitas avaliações que possam, inclusive, sugerir a mudança de abordagens metodológicas. As Diretrizes de Física também discutem o papel dos livros didáticos no ensino dessa ciência (suas contribuições e limitações), bem como o uso apropriado de modelos científicos no ensino. Na perspectiva dos modelos, apresentam a resolução de problemas em Física, não problemas matemáticos somente, mas, que extrapolam quantificações e possibilitam aprendizagem de conceitos físicos. A História da Ciência também é apresentada como elemento didático útil para a formação de professores e para o ensino de conteúdos de Física, dadas as características desse aporte metodológico de ensino já apresentadas em Diretrizes anteriores. Por se tratar de uma ciência natural, as atividades experimentais são evidenciadas como contributivas à compreensão dos fenômenos físicos, desde que bem conduzidas por docentes capacitados e com objetivos didático-pedagógicos bem definidos. Nesse sentido, as atividades não são meramente certificatórias, mas, possibilitam a criatividade, a elaboração de hipóteses, a pesquisa e a reelaboração de conhecimentos. As leituras científicas e as tecnologias (sobretudo a informática com uso de internet) também são citadas como aportes metodológicos úteis ao ensino de Física, sempre bem conduzidos, segundo cuidados metodológicos próprios e pertinência didática. Conclusões A partir da análise do conteúdo metodológico (de ensino) apresentado nas Diretrizes Curriculares de Ciências, Biologia, Física, Química e Matemática do estado do Paraná, foi possível evidenciar a existência de uma diversidade de terminologias empregadas nas explicações das abordagens/tendências metodológicas de ensino presentes nesses documentos. As Diretrizes de Matemática, por exemplo, utilizam a expressão “tendências metodológicas” e apresenta seis dessas tendências, de forma bem definida (Modelagem matemática; Mídias tecnológicas; Etnomatemática; História da Matemática; e Investigações matemáticas), indicando aos professores de Matemática ao menos seis maneiras de se conduzir as aulas dessa disciplina. Também evidencia as contribuições de cada uma dessas tendências, suas limitações, complementaridade e as diferenças estabelecidas entre elas. As Diretrizes de Ciências esclarecem aos docentes dessa disciplina à necessidade da utilização de diferentes metodologias de ensino – pluralidade metodológica. Apresentam alguns “aspectos essenciais” que devem ser considerados na prática pedagógica dos professores de Ciências, mas, também, na formação dos mesmos. Esses aspectos, que devem complementar-se e relacionar-se, compreendem: a História da Ciência, a Divulgação científica e a Atividade experimental. Ainda no escopo metodológico, as Diretrizes de Ciências ponderam que ao considerar as variáveis que podem interferir nos processos de ensino e de aprendizagem, alguns “elementos da prática pedagógica” devem ser observados nas aulas, sendo eles: Abordagem problematizadoras; Relação contextual; Relação interdisciplinar; Pesquisa; Leitura Científica; Atividades em grupo; Observação; Atividade experimental; Recursos instrucionais, e o Lúdico. As Diretrizes de Química, por seu turno, apresentam três “encaminhamentos metodológicos” a serem adotados nas aulas, que são: Os Modelos e o ensino de Química; A experimentação no ensino de Química (é citada como uma “metodologia de ensino”); e a Leitura Científica no Ensino de Química. Já as Diretrizes de Biologia, a partir de seus quatro paradigmas metodológicos científicos (descritivo, mecanicista, evolutivo e manipulação genética), apresentam de modo generalista alguns aportes para as aulas dessa disciplina, como o ensino segundo a perspectiva da Pedagogia Históricocrítica (para conteúdos específicos); a Problematização como “abordagem metodológica de ensino” para conteúdos estruturantes; a Leitura crítica como “recurso pedagógico”. As Diretrizes elencam, ainda, algumas “estratégias de ensino”, como as aulas dialogadas, a escrita, a leitura, as atividades experimentais, os jogos e a visitação de locais como museus de ciências, zoológicos, parques, praças, aterros sanitários, fábricas, unidades de conservação. As Diretrizes de Física também apresentam de forma geral os encaminhamentos metodológicos a serem usados pelos docentes dessa área, envolvendo a utilização de modelos científicos, a resolução de problemas em Física, a História da Ciência no ensino de Física, as atividades experimentais, as leituras científicas e as tecnologias (informática, por exemplo), como aportes metodológicos úteis à prática docente bem como à aprendizagem dos conteúdos físicos. Como pode ser observado, algumas Diretrizes apresentam claramente as possíveis abordagens ou tendências metodológicas de ensino que os docentes poderão valer-se para ensinar os conteúdos científicos. Outras, no entanto, apresentam elementos, componentes e enfoques didáticometodológicos que devem ser considerados durante a prática de ensino. Nesse sentido, para Geraldo (2009, p. 114-115) “Os métodos educacionais [...] referem-se ao ‘como’ do processo educativo escolar e implicam uma ação planejada e sistematizada tanto do professor, que dirige o processo de ensino, como do aluno, que realiza as ações de aprendizagem”. Entretanto, notamos que esse “como” do processo educativo destacado pelo autor, encontra-se fragmentado na maioria das Diretrizes analisadas, incluindo inúmeras possibilidades e recomendações aos docentes, mas, sem encaminhamentos mais definidores e exemplares de aplicação que ilustrem a esses profissionais “como/de que maneira” deverão proceder em aulas com determinados enfoques metodológicos. Ainda que autores como Danilov e Skatkin (1984), entre outros, tenham há muitos anos esclarecido que os métodos de ensino devem ser compreendidos como sistemas de ações pedagógicas dos professores, sistematizadas, com objetivos educacionais e que visem a aprendizagem de determinados conteúdos por parte dos estudantes, notamos que os documentos analisados (Diretrizes) demandam maior esclarecimento da perspectiva metodológica de ensino. Isso inclui, também, as demandas de propostas de ensino que ordinariamente ou intencionalmente suscitam discussões e práticas interdisciplinares para as quais diferentes abordagens ou tendências metodológicas poderão ser utilizadas. Conforme Geraldo (2009), compreendemos que os métodos de investigação científica não podem ser confundidos com os métodos ou abordagens metodológicas de ensino, mas, compreendemos, também, que eles guardam certas semelhanças entre si. Todavia, conforme a polissemia observada e destacada neste trabalho, entendemos que algumas definições e exemplificações poderiam estar presentes nas Diretrizes Curriculares de modo a melhor instrumentalizar os professores para o exercício da docência. Embora saibamos que essa condição polissêmica possa refletir o próprio amadurecimento da perspectiva do ensino das áreas pesquisadas (Ciências, Biologia, Matemática, Física e Química), notamos que são diversificadas as publicações científicas realizadas nos últimos anos (de períodos que antecedem a publicações das Diretrizes analisadas) e que poderiam contribuir no preenchimento das lacunas destacadas evidenciadas trabalho. Como desdobramento da presente pesquisa, pensamos serem possíveis e necessários estudos que disseminem diferentes abordagens metodológicas de ensino desenvolvidas em áreas determinadas, mas que poderiam ser adaptadas e aplicadas em outras áreas, com contribuições aos processos de ensino e de aprendizagem em diferentes níveis educacionais. Tanto quanto esses estudos, sustentamos a necessidade de Diretrizes Interdisciplinares ou temáticas (contendo especificamente abordagens ou tendências metodológicas de ensino ou outros elementos constituintes da prática docente) para que os profissionais das diferentes áreas de conhecimento possam enriquecer seus saberes docentes, variando e articulando as abordagens de ensino em função dos conteúdos e dos objetivos pedagógicos elencados. Finalmente, em nossa visão, iniciativas desse tipo poderão melhorar o desenvolvimento didático das aulas, tornando-as diversificadas e não engessadas, em detrimento de aulas que por ausências de enfoques metodológicos diferenciados, são repetidas diariamente “da mesma maneira”, ou seja, sem aportes metodológicos de ensino específicos que poderiam contribuir efetivamente seja para o ensino seja para a aprendizagem dos conteúdos científicos. Agradecimentos: Ao CNPq pela bolsa concedida. Referências BOGDAN, R.; BIKLEN, S. Investigação qualitativa em educação: uma introdução à teoria e aos métodos. Portugal: Porto, 1994. DANILOV, M. A.; SKATKIN, M. N. Didáctica de la escuela media. Havana, Ed. Pueblo e Educación, 1984. GERALDO, A. C. H. Didática de Ciências Naturais na perspectiva histórico-crítica. Campinas: Autores Associados, 2009. LÜDKE, M.; ANDRÉ, M. E. D. A. Pesquisa em Educação: abordagens qualitativas. São Paulo: EPU, 1996. PARANÁ, Secretaria de Estado da Educação. Diretrizes Curriculares de Ciências para a Educação Básica. Curitiba, 2008. ______. Diretrizes Curriculares de Biologia para a Educação Básica. Curitiba, 2008. ______. Diretrizes Curriculares de Química para a Educação Básica. Curitiba, 2008. ______. Diretrizes Curriculares de Física para a Educação Básica. Curitiba, 2008. ______. Diretrizes Curriculares de Matemática para a Educação Básica. Curitiba, 2008.