universidade federal rural do semi-árido campus angicos

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UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO SEMI-ÁRIDO
CAMPUS ANGICOS
DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS EXATAS, TECNOLOGICAS E
HUMANAS
CURSO DE CIÊNCIAS E TECNOLOGIA
ANDRÉA GARCIA DE MEDEIROS
TECNOLOGIAS DE APROVEITAMENTO DO XISTO RETORTADO
ANGICOS-RN
2013
ANDRÉA GARCIA DE MEDEIROS
TECNOLOGIAS DE APROVEITAMENTO DO XISTO RETORTADO
Trabalho de Conclusão de Curso
apresentado a Universidade Federal
Rural do Semi-Árido – UFERSA,
Campus Angicos para a obtenção do
título de Bacharel em Ciência e
Tecnologia.
Orientador (a): Profª. Dra. Patrícia
Mendonça Pimentel - UFERSA
ANGICOS-RN
2013
ANDRÉA GARCIA DE MEDEIROS
TECNOLOGIAS DE APROVEITAMENTO DO XISTO RETORTADO
Trabalho de Conclusão de Curso
apresentado a Universidade Federal
Rural do Semi-Árido – UFERSA,
Campus Angicos para a obtenção do
título de Bacharel em Ciência e
Tecnologia.
Orientador (a): Profª. Dra. Patrícia
Mendonça Pimentel - UFERSA
APROVADO EM:___/___/____
BANCA EXAMINADORA
_____________________________________________
Profª. Dra. Patrícia Mendonça Pimentel
Presidente
______________________________________________
Msc. Rodrigo César Santiago
_______________________________________________
Msc. Francisco Leonardo Gomes de Menezes
Dedico este trabalho aos meus pais
João Batista Medeiros de Oliveira
e Francisca Garcia de Freitas
Medeiros, exemplos maior de vida e
que sempre estiveram ao meu lado,
mostrando-me o caminho certo para
seguir.
AGRADECIMENTOS
A Deus por ter me dado Jesus, no qual além de ser minha rocha, Senhor e
Salvador, é também minha fonte de força, esperança, paz e sabedoria. Pela
oportunidade de terminar mais uma etapa da minha vida. Por ter me dado
coragem para perseverar e mostrando-me caminhos e saídas em todos os
momentos difíceis.
Aos meus pais, João Batista Medeiros de Oliveira e Francisca Garcia de
Freitas Medeiros, pelo apoio, pelos conselhos e pelos esforços em me dar
sempre uma educação de qualidade. Vocês são minhas fontes de inspiração.
Aos meus avós, Maria Mascena e Jacinto Noberto, pelo incentivo e pela
confiança depositada em mim, proporcionando o sentimento mais singelo e
verdadeiro.
Á minha irmã Andressa Garcia de Medeiros, pelo carinho e companheirismo.
Aos meus amigos, Nathália e Arthur, irmãos que Deus colocou na minha vida e
que sou muito grata por isso, por que sei que com eles posso contar! Amizade
inquestionável, que sempre me ajudam a atravessar as dificuldades surgidas
pelo curso, vocês levarei para sempre!!!
Á minha orientadora Profª. Patrícia Mendonça Pimentel, por acreditar no meu
potencial, pela imensa ajuda, paciência, prontidão e disponibilidade. Obrigada
pela ajuda e amizade durante todo esse tempo.
Á todos os meus amigos de Angicos, Jessyca, Izabelly, Ítalo, Rossana, Marília,
Ailton e Otacília, obrigada por todos os ensinamentos compartilhados com
vocês e os momentos de descontrações, que serão sempre lembrados.
Enfim, a todos que direta ou indiretamente contribuíram para realização deste
trabalho. O meu muito obrigada!
Ao que lhe respondeu JESUS: Se
podes! Tudo é possível aquele
que CRÊ.
(Marcos 9:23)
Posso, tudo posso naquele que
me
fortalece. Nada e ninguém
no mundo vai me fazer desistir.
Quero, tudo quero, sem medo
entregar meus projetos. Deixar-me
guiar nos caminhos que Deus
desejou para mim e ali está.
(Padre Fábio de Melo).
RESUMO
Diante a história da sociedade e o acervo de uma unidade de informação, este
trabalho tem como objetivo principal realizar uma pesquisa sobre as
tecnologias que estão sendo desenvolvidas no Brasil e no mundo para o
aproveitamento do xisto retortado, visando avaliar suas potencialidades e
ampliar as perspectivas de desenvolvimento de novos materiais ligados a sua
área de abrangência. Dentre as possíveis aplicações do xisto retortado, o
estudo apontou o mesmo como potencial adsorvente para compostos
orgânicos e inorgânicos. As reservas de xisto existentes são extremamente
abundantes e estima-se que a quantidade de óleo é muitas vezes superior à
obtida em alguns poços de petróleo. A Unidade de Negócio da Industrialização
do Xisto brasileira pertence à Petrobrás e está localizada em São Mateus do
Sul (Paraná). Denominada de SIX, a unidade está sobre uma das maiores
reservas mundiais de xisto: a Formação Irati, da qual podem ser extraídos 700
milhões de barris de óleo, 9 milhões de toneladas de GLP, 25 bilhões de m³ de
gás de xisto e 18 milhões de toneladas de enxofre. Foi por meio da Unidade de
Xisto da Petrobrás, hoje patenteada como Petrosix, que o país desenvolveu
tecnologia própria e auto-sustentável para o processamento do xisto, além de
ser reconhecido mundialmente como o detentor do processo mais avançado no
aproveitamento industrial desse minério. A unidade ocupa uma área de 7
milhões de m² e é considerada uma das mais importantes do mundo na
exploração mineral.
Palavras-chave: Aproveitamento. Industrialização. Petrosix. Xisto.
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 – Amostra de xisto (folhelho) pirobetuminoso. ................................... 15
Figura 2 – As maiores reservas mundiais de rochas oleíferas ......................... 16
Figura 3 – Localização no território Brasileiro: 1) Ocorrência de Xisto; 2) Estado
do Paraná e 3) São Mateus do Sul .................................................................. 17
Figura 4 – Seção típica da Formação Irati em São Mateus do Sul do Paraná . 19
Figura 5 – Esquema de mineração de xisto utilizado na Usina Protótipo de Irati,
PETROBRÁS/UN-SIX ) .................................................................................... 21
Figura 6 – Composição de uma rocha sedimentar. .......................................... 22
Figura 7 – Difratogramas de raios X do xisto cru e retortado ........................... 24
Figura 8 – Imagem MEV do xisto retortado com um aumento de 2665x. ......... 25
Figura 9 – Imagem MEV do xisto retortado com um aumento de 1328x. ......... 26
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 – Análise química de várias amostras de xisto retortado ................. 23
Tabela 2 – Concentrações dos elementos presentes nas amostras de águas
produzidas antes e após tratamento com xisto retortado ................................. 31
Tabela 3 – Capacidade máxima de adsorção do adsorvente xisto ................ 34
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
ANP – Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural
CEPA – Centro de Ensino e Pesquisa Aplicada
CENPES – Centro de Pesquisa da Petrobrás
CX – Cal Xisto
FX – Fino do Xisto
IAP – Instituto Ambiental do Paraná
IBAMA – Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais
Renováveis
REPAR – Refinaria Presidente Getúlio Vargas
RX – Xisto Retortado
SIX – Unidade de Negócio e Biocombustíveis da Industrialização do Xisto
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 12
2 REVISÃO DA LITERATURA ................................................................................. 14
2.1 XISTO RETORTADO ................................................................................................ 14
2.1.1 Definição ................................................................................................. 14
2.1.2 Tipos de Xisto ......................................................................................... 15
2.2 OCORRÊNCIA DO XISTO NO MUNDO E NO BRASIL ............................................ 16
2.3 PROCESSAMENTO E MINERAÇÃO DO XISTO ...................................................... 18
2.4 CARACTERIZAÇÃO DO XISTO ............................................................................... 22
2.4.1 Composições químicas do xisto ........................................................... 22
3 METODOLOGIA .................................................................................................... 27
4 RESULTADOS E DISCUSSÕES ........................................................................... 28
4.1 USO DO XISTO NA PRODUÇÃO DE MATERIAS VITREOS. ................................... 28
4.2 USO DO XISTO COMO ADSORVENTE PARA REMOÇÃO DE POLUENTES
INORGÂNICOS............................................................................................................... 29
4.3 USO DO XISTO COMO ADSORVENTE PARA REMOÇÃO DE POLUENTES
ORGÂNICOS .................................................................................................................. 32
4.4 UTILIZAÇÃO DO XISTO COMO MATÉRIA PRIMA PARA SÍNTESE DE
ZEÓLITAS....................................................................................................................... 35
5 CONCLUSÃO ....................................................................................................... 37
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ......................................................................... 38
12
1 INTRODUÇÃO
O desenvolvimento das chamadas tecnologias verdes, ou seja, tecnologias
que se preocupam em extinguir ou pelo menos minimizar os impactos ambientais de
diversos processos têm ganhado força nas últimas décadas. Diante deste cenário,
algumas pesquisas vêm sendo desenvolvidas visando o aproveitamento de
resíduos. Dentre as agências e empresas financiadoras, o Centro de pesquisa da
Petrobrás (CENPES) está incentivando vários grupos de pesquisas no Brasil a
desenvolver uma tecnologia específica para o aproveitamento dos resíduos do xisto
betuminoso, mais especificamente o xisto retortado, visando minimizar os efeitos
deletérios produzidos pelo retorno desse material a mina e também agregar valor a
esses rejeitos industriais.
O xisto, ou folhelho pirobetuminoso são rochas resultantes da decomposição
de materiais minerais e orgânicos no fundo de grande lagos ou mares interiores. Os
agentes químicos e microorganismos transformam, ao longo de milhões de anos, a
matéria orgânica presente nessas rochas em um complexo orgânico de composição
indefinida,
denominado
querogênio
(gerador
de
cera),
que,
quando
convenientemente aquecido, produz um óleo semelhante ao petróleo (PIMENTEL,
2005).
O volume de óleo contido no xisto compreende cerca de 7% do volume da
rocha. Esse óleo não é facilmente separado e extraído pelos solventes comuns, os
métodos mais utilizados para separá-lo são retortagem, combustão ou liquefação.
Os recursos de xisto existente são extremamente abundantes, estima-se que a
quantidade de óleo, como reserva potencial, é muitas vezes superior à convencional
obtida em poços de petróleo (FONSECA, 1983).
O interesse pela potencialidade do xisto é antigo, já no final do século XVIII,
nos Estados Unidos, cerca de 200 instalações extraíam querosene e óleo desta
rocha; no Brasil, a primeira extração aconteceu em 1884 na Bahia (SOUZA;
SANTOS, 2002). Atualmente, apenas quatro países no mundo (Brasil, Austrália,
China e Estônia) possuem em atividade unidades que fazem o aproveitamento
comercial dos recursos do xisto para obtenção de óleo e produção de energia
através de termoelétricas. Dentre esses países, o Brasil dispõe da segunda maior
reserva mundial de xisto e se destaca como detentor da tecnologia mais avançada
13
(processo PETROSIX) no que diz respeito à exploração e aproveitamento comercial
desse material (PETRO & QUIMICA, 2004). A Unidade de Negócios da
Industrialização do Xisto brasileira pertence à PETROBRAS e está localizada em
São Mateus do Sul (PR). Chamada de SIX, a unidade está sob a maior reserva
brasileira de xisto, a Formação Irati, e busca consolidar o uso do xisto como
alternativa energética produzindo combustíveis e produtos sulfurosos (PEREIRA et
al, 2004). Devido aos grandes avanços tecnológicos e conseqüentemente à geração
de resíduos e o seu lançamento indiscriminado no meio ambiente sem tratamento
prévio adequado, causando a contaminação do solo e da água do nosso planeta,
faz-se necessárias inovadoras linhas de pesquisa para o tratamento desses
resíduos, intensificando os estudos relativos ao tratamento desses agentes
poluidores e ao desenvolvimento de tecnologias “limpas”.
O presente trabalho visa apresentar o resultado de várias pesquisas que
foram realizadas, visando o aproveitamento tecnológico do xisto retortado. O
aproveitamento tecnológico desse rejeito é de grande interesse, não apenas pelo
aspecto econômico, mas principalmente porque possibilita eliminação de problemas
ambientais relativos à liberação de dióxido de enxofre proveniente do retorno do
xisto a mina.
14
2 REVISÃO DA LITERATURA
2.1. XISTO RETORTADO
2.1.1. Definição
A
palavra
xisto,
ainda
que
geologicamente
inadequado,
é
usado
generalizadamente para designar as rochas oleígenas no Brasil, ou seja, rochas
sedimentares que apresentam um conteúdo apreciável de hidrocarbonetos
disseminados em seu meio mineral. O termo mais exato para esse tipo de rocha
seria "folhelhos", que são rochas resultantes da decomposição de materiais minerais
e orgânicos no fundo de grande lagos ou mares interiores.
O Xisto, Figura 1, recebe o nome de “Xisto betuminoso” ou “folhelho
pirobetuminoso” por ser uma rocha sedimentar do tipo oleígena, normalmente
argilosa, que contém betume e querogênio, um complexo orgânico que se
decompõe termicamente e produz óleo e gás. Seu processamento gera inúmeros
produtos, subprodutos e rejeitos e suas características dependem do tipo de matéria
orgânica e inorgânica que possuem, devido ao solo onde foram formados. O
querogênio pode ser descrito ainda, como uma macromolécula muito complexa que
através da degradação térmica “craking” é possível determinar a sua composição
subdividindo-o em classes de compostos dependendo da quantidade de carbono na
cadeia (C1, C2-C5, C6-C15, C15+, etc), (SILVERSTEIN e Colaboradores, 1994).
O xisto origina-se pela deposição conjunta de sedimentos e matéria orgânica
em ambientes anaeróbicos de águas estagnadas. Isto acontece devido à existência
de fauna abundante que consome o oxigênio que se descobre dissolvido nas águas.
Durante o soterramento das camadas, a matéria orgânica contida nestas rochas é
convertida, através de processos bacterianos e químicos num complexo molecular
orgânico (SPEIGHT, 1999). O querogênio não é dissolvido em água e não pode ser
extraído por solventes comuns do petróleo, mas pode ser transformado em óleo e
gás quando a rocha é submetida à temperatura relativamente elevada (~500ºC) Este
aquecimento é conhecido por pirólise ou retortagem. (SCOUTEN, 1990; LEE, 1991;
SPEIGHT; ÖZÜM, 2002).
15
Figura 1 – Amostra de xisto (folhelho) pirobetuminoso
Fonte: Pimentel (2005).
2.1.2. Tipos de Xisto
Os principais tipos de xisto (folhelhos) são o betuminoso e o pirobetuminoso,
cujas características são as seguintes:

No xisto betuminoso: a matéria orgânica (betume) disseminada em seu meio é
quase fluida, sendo facilmente extraída por solvente.

No xisto pirobetuminoso: a matéria orgânica (querogênio) é sólida à
temperatura ambiente e quando submetido a temperaturas elevadas, decompõese em óleo, gás, água, enxofre e um resíduo sólido chamado xisto processado,
gasto ou retortado (SOONE, 2001). Assim, através de sua transformação, é
possível produzir uma série de subprodutos (gás, nafta, gasolina, querosene,
óleo diesel e combustíveis pesados).
16
2.2. OCORRÊNCIA DO XISTO NO MUNDO E NO BRASIL
Atualmente, apenas quatro países no mundo possuem em atividade unidades
que fazem o aproveitamento comercial dos recursos do xisto para obtenção de óleo
e produção de energia. A figura 3 mostra os países que contêm as maiores reservas
de óleo. Dentre esses países, o Brasil se destaca como detentor da tecnologia mais
avançada (PIMENTEL, 2005).
Figura 2 – As maiores reservas mundiais de rochas oleíferas
Fonte: Petrobras (2006)
Os depósitos de folhelho pirobetuminoso estão distribuídos em diversas partes
do planeta. Eles apresentam idades geológicas que se estendem desde o
aparecimento da terra até os anos atuais e podem ocorrer como pequenos depósitos
com pouco ou nenhum valor econômico ou depósitos gigantes, cuja quantidade de
óleo é muitas vezes superior à obtida em alguns poços de petróleo (USGS, 2006;
PIMENTEL, 2005).
Ocorrências de xistos de diferentes composições minerais e idades forma
encontradas em várias partes do mundo, com o total da reserva mundial de xisto
estimada em cerca de 2,6 trilhões de barris, sendo a maior existente nos Estados
Unidos, com 1.158. Ainda que os depósitos de xisto sejam vastamente distribuídos,
17
encontra-se em atividade, unidades para aproveitamento comercial dos seus
recursos para obtenção de óleo ou produção de energia (PIMENTEL, 2005).
No Brasil, o xisto predominante é do tipo pirobetuminoso e ocorre nas
seguintes formações:
• Xisto Permiano de Irati abrange os estados de São Paulo, Paraná, Santa Catarina,
Rio Grande do Sul e Goiás;
• Xisto Terciário do Vale do Paraíba, em São Paulo;
• Xisto Cretáceo de Maraú na Bahia;
• Xisto Permiano de Santa Brígida na Bahia;
• Xisto Cretáceo de Alagoas;
• Xisto Cretáceo do Ceará;
• Xisto Cretáceo de Codó no Maranhão;
• Xisto Devoniano do Pará, Amazonas e Amapá
A figura 3, apresenta o mapa do Brasil com a localização do minério Xisto, a
localização da cidade de São Mateus do Sul (Paraná), onde está localizada a porção
da Formação Irati.
Figura 3 – Localização no território Brasileiro: 1) Ocorrência de Xisto; 2) Estado do
Paraná e 3) São Mateus do Sul
Fonte: Cogo (2008).
18
No Brasil, há ocorrência de xisto com diferentes idades geológicas. Destes
depósitos, os que têm recebido maior destaque são: a Formação do Vale do
Paraíba, que apresenta sua origem no Terciário e está localizada no nordeste no
estado de São Paulo; e a Formação Iratí, com origem no Permiano e que
compreende os estados brasileiros de São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio
Grande do Sul, chegando até o Uruguai. A Formação Iratí é a segunda maior
reserva do xisto conhecida no mundo e a maior do Brasil (CHAVES;
VASCONCELOS, 2006; PIMENTEL, 2005). Além disto, esta formação é a que
apresenta as condições mais favoráveis ao aproveitamento econômico dos seus
recursos devido a sua acessibilidade e distribuição (USGS, 2006).
2.3. PROCESSAMENTO E MINERAÇÃO DO XISTO
O Xisto retortado que é um subproduto natural do beneficiamento do xisto
betuminoso é considerado o principal problema para a indústria de beneficiamento
do minério. Tendo em sua composição, elevado teor de silício (57%) dentre outros
elementos, como fósforo, cálcio, magnésio e enxofre. Ele é rico em micronutrientes e
possui cadeias carbônicas fossilizadas, tratando-se de um material quelatizado
naturalmente.
Como o Xisto é uma rocha sedimentar que contém querogênio, um complexo
orgânico que se decompõe termicamente e produz óleo, água e gás, a composição
do querogênio da estrutura do Xisto é o resultado da interação de uma série de
fatores como o tipo de matéria orgânica, as características físico-químicas do
ambiente de posicional, processo da formação da bacia e outros. Os subprodutos e
rejeito do Xisto, são os seguintes:
Cal Xisto (CX), rocha carbonatada, denominada marga dolomítica, obtida após a
mineração. O alto poder de carbonatos impede sua utilização na indústria de tijolos,
pois o cálcio contido nos carbonatos não reage com a sílica, ele vem sendo
atualmente utilizado para corrigir a acidez do solo, (PETROBRAS, 2006).
Separando-se o calcário (ou dolomito) do folhelho poder-se-ia utilizá-los.
Fino do Xisto (FX), também obtido após a mineração, pedras de diâmetros
inferiores a 6 mm, sendo hoje utilizado como combustível ou ainda matéria prima de
cerâmicas, (PETROBRAS, 2006 & SOUZA SANTOS, 1975).
19
Xisto retortado (RX), obtido após o processo de retortagem (Petrosix). O complexo
orgânico (betume e querogênio) do qual o Xisto é constituído, se decompõem pela
ação do calor. Nesse processo, sendo que uma grande parte vaporiza da rocha–
mãe na forma de hidrocarboneto gasoso (inclusive o gás hidrogênio) e a outra parte
(XR) é o resíduo sólido que ainda contém uma fração da matéria orgânica (carbono
residual), que pode ser aproveitado por meio da combustão, pelo alto poder
energético, (PETROBRAS, 2006).
Na região de São Mateus do Sul existem duas camadas de xisto: uma
superior com 6,4 m de espessura e 6,4 % em teor de óleo, e outra inferior com 3,2 m
de espessura e teor de óleo de 9,1%. As duas camadas são intercaladas por um
depósito rico em carbonatos de cálcio e magnésio, conforme ilustra a figura abaixo
(PIMENTEL, 2005).
Figura 4 – Seção típica da Formação Irati em São Mateus do Sul do Paraná
Fonte: Cepa (1999).
20
Uma vez que a extração do querogênio não é obtida facilmente, os métodos
mais utilizados para separá-lo da rocha são a retortagem, a combustão ou a
liquefação (PIMENTEL, 2005). Embora ele possa retornar à mina para recuperação
da área minerada, a disposição final do xisto retortado é considerada o principal
problema para a indústria de beneficiamento do minério (PRADO et al, 2008). Isto
porque, no processo de retortagem de xisto para a produção de óleo, há um
aumento no volume do rejeito, fazendo com que ainda haja necessidade de maior
superfície para a disposição (EASAC, 2007). Além disso, os poluentes contidos no
xisto retortado podem lixiviar e contaminar os recursos hídricos superficiais e
subterrâneos. A figura 5 mostra o processamento da mineração do xisto.
O método de mineração do xisto se processa com a rocha minerada a céu
aberto e transportada para um britador, que reduz os blocos extraídos das primeiras
e segundas camadas a tamanhos que variam de 6 a 80 milímetros (FONSECA et al.,
1989). Tanto o capeamento, quanto a camada intermediária são consideradas
estéreis ou rejeitos dessa etapa e são utilizados para recobrir o xisto retortado,
quando o seu retorno à mina (FONSECA, 1990). Então, os fragmentos são levados
continuamente por uma correia a um reator cilíndrico verticalmente conhecido como
retorta para serem pirolisados a uma temperatura de aproximadamente 500°C em
atmosfera inerte.
O xisto libera a matéria orgânica nelas contida sob a forma de óleo, gás e
água (SOONE, 2001). Em seguida, o xisto passa por outra etapa, desta vez de
resfriamento, que resulta na condensação dos vapores de óleo na forma de
gotículas, que são transportadas para fora da retorta pelos gases. Essas gotículas,
coletadas, constituem o óleo pesado. Após a retirada desse óleo, os gases do xisto
passam por outro processo de limpeza para obtenção do óleo leve. O restante é
encaminhado para a unidade de tratamento de gases, onde são produzidos gás
combustível e GLP, e onde também é feita a recuperação de enxofre (ANP, 2003) É
importante citar que, após a retortagem, o xisto sofre uma dilatação ou expansão,
tanto pela quebra da sua adequação natural durante a mineração, como pela
alteração térmica do seu fragmento orgânico não destilado, não sendo, portanto
possível, recolocá-lo preenchendo o mesmo volume ocupado anteriormente
(FONSECA, 1990).
21
Figura 5 – Esquema de mineração de xisto utilizado na Usina Protótipo de Irati,
PETROBRÁS/UN-SIX )
Fonte: Petrobrás (2006).
No Brasil, a extração comercial deste complexo é realizada através da pirólise
do folhelho, ou seja, do aquecimento no intervalo 200-500 ºC em atmosfera inerte
(sem oxigênio). Este processo gera uma massa de gás e vapor - que é separada por
condensação, resultando em uma solução aquosa (água de xisto), óleo combustível,
nafta, gás combustível, gás liquefeito e enxofre – e subprodutos, dos quais se
destaca um resíduo sólido contendo carbono conhecido como xisto retortado
(PIMENTEL, 2005; COGO, 2008). Este resíduo pode retornar à mina para
recuperação da área minerada, sendo utilizado na reposição topográfica seguida
pelo recobrimento com argila e solo vegetal original (FERREIRA, 2001).
22
2.4. CARACTERIZAÇÃO DO XISTO
2.4.1. Composições químicas do xisto
A composição de uma rocha sedimentar, como é o caso do Xisto, possui uma
parte mineral e outra orgânica.
apresenta
aluminossilicatos
Assim como a rocha original, o xisto retortado
(argilominerais),
como
principais
constituintes
(PIMENTEL 2005). Além do elevado teor de silício (57%) apresenta ainda elementos
como fósforo, cálcio, magnésio e enxofre (PRADO, 2008). O xisto da formação Irati é
composto principalmente por folhelhos e carbonatos ricos em matéria orgânica
(REVISTA PETRO & QUIMICA, 2004 apud BAGGIO, 2007). Segundo (VARISCO,
1975), o xisto retortado obtido apresenta homogeneidade aceitável para ser
considerado como matéria prima.
Figura 6 – Composição de uma rocha sedimentar.
Fonte: Cogo (2008).
Vários trabalhos têm apresentado a composição química do xisto retortado,
um resumo destas composições é mostrado na tabela 1. Assim, a matriz do xisto é
composta principalmente por silício (na forma de óxidos), matéria orgânica, ferro e
23
alumínio (na forma de óxidos). Outros constituintes presentes no xisto são da ordem
de miligramas, mas não foram mostrados na tabela abaixo.
Tabela 1 – Análise química de várias amostras de xisto retortado.
Componente
SiO2
Composição
(%)
Amostra
1
50,8
Amostra
2
55,6
Amostra
3
247,0
Amostra
4
56,09
Amostra
5
51,94
Al2O3
12,6
11,4
24,8
13,01
16,9
Fe2O3
6,49
8,60
46,1
8,50
6,05
TiO2
0,56
0,60
-
0,35
0,38
MgO
1,92
1,80
9,6
1,55
1,72
MnO
-
-
-
-
-
CaO
1,42
3,50
14,5
1,50
0,08
K2O
2,22
2,80
17,0
1,95
1,97
Na2O
1,12
1,60
-
1,23
1,73
TOTAL
77,13
85,9
359,0
84,18
80,77
Carbono total
6,98
6,70
-
-
6,00
Fonte: Autoria própria.
Amostra 1: SOUZA SANTOS,(1975). Amostra 2: COSTA NET et al. (1981). Amostra 3: PEREIRA,
H.S. e VITTI, G.C.,2004. Amostra 4: SILVA, R. C.; PIANARO, S. A. (2003). Amostra 5: PIMENTEL,
(2005).
Conforme esperado, os elementos silício e alumínio são os principais
constituintes, enquanto os outros elementos estão presentes em quantidades
menores. PIMENTEL, 2005 usando a técnica de fluorescência de raios-X identificou,
além dos óxidos apresentados nas quantidades menos significantes como MnO,
V2O5, SrO, CuO, ZnO, ZrO2 e NiO.
PIMENTEL e Colaboradores, (2006) descreveram algumas propriedades
físicas do xisto; em relação à área superficial, o xisto retortado apresenta um valor
2
-1
relativamente baixo (65 m g ) quando comparado aos encontrados em alguns
aluminossilicatos utilizados como adsorventes para remoção de metais pesados,
2
-1
2
-1
como, por exemplo: montmorilonita (150-180 m g ) e zeólita 300-800 (m g ).
24
Em relação à análise mineralógica, difratogramas de raios-X tem revelado a
presença dos seguintes minerais: quartzo (Q), pirita (P), feldspato plagioclásio (F),
gipsita (G), argilominerais de camada mista (2:1 CM) como ilita (I) e montmorilonita
(M). Segundo PIMENTEL, (2005) o fato dos referentes ao quartzo 20,93 e 26,7 θ
(4,24 e 3,34 Å) serem mais intensos quando comparados com as outras reflexões,
indica uma quantidade considerável de sílica nas amostras de xisto, o que corrobora
com os teores mensurados pela análise química por diversos autores. Uma
observação interessante a respeito dos difratogramas de DRX é que não ocorrem
mudanças qualitativas significantes na fração inorgânica após a retortagem do xisto
no processo PETROSIX. Visto que foram identificados basicamente os mesmos
minerais, nas amostras do xisto cru (xisto que não foi submetido ao processo de
retortagem) e do xisto retortado.
Figura 7 – Difratogramas de raios X do xisto cru e retortado
Fonte: (Pimentel 2005)
Vários autores estudaram o comportamento térmico do xisto retortado da
Formação Irati (FONSECA, 1990; CUNHA & SOUZA SANTOS, 1984; COSTA NETO
et al, 1981; SCOFIELD, 1977) identificaram perdas correspondentes à queima do
carbono residual e da pirita, perda de água estrutural, desidroxilação de
argilominerais e decomposição de carbonatos. Pimentel, (2005), submeteu amostras
do xisto cru e retortao ao aquecimento a tempertura de 1000 °C e observou que as
perdas de massa até essa temperatura foi de 20,03 e 16,63 % para os xisto cru e
25
retortado, respectivamente. Basicamente, tem-se até 240 °C a perda de água
relativa à umidade e água intercalada entre as camadas 2:1 e mistas das frações
dos argilominerais presentes nas amostras.
A partir de 400 °C acontecem tanto à queima do rejeito orgânico
remanescente do xisto retortado como a queima da pirita (FeS 2); e a partir de 550
°C, acontece desidroxilação da fração dos argilominerais. A perca de massa total
que acontece nestas amostras aquecidas até aproximadamente 1000 °C é de 20,03
e 16,63 % para os xisto cru e retortado. O autor ainda observou que existe um
conteúdo apreciável de matéria orgânica (querogênio) no xisto retortado em relação
ao xisto cru, o que indica que o processo de retortagem não é tão efetivo para a
remoção do querogênio.
Imagens obtidas por microscopia eletrônica de varredura são mostradas na
figura 8 e revelam além das placas lamelares características dos argilominerais
presença de formas cúbicas características de cristais de pirita (FeS2) como mostra
a figura Figura 9. As áreas circuladas ressaltam algumas regiões porosas e lamelas,
provavelmente de ilita e sericita, argilominerais predominantes em xistos
pirobetuminosos. A imagem revela ainda o caráter poroso do material, tais regiões
porosas são favoráveis a utilização do xisto como adsorvente, além de ser um
indicativo de área superficial considerável. (PIMENTEL, 2006).
Figura 8 – Imagem MEV do xisto retortado com um aumento de 2665x
Fonte: Pimentel (2005)
26
Figura 9 – Imagem MEV do xisto retortado com um aumento de 1328x
Fonte: Pimentel (2005)
27
3 METODOLOGIA
Na presente monografia, optou-se como metodologia a pesquisa bibliográfica,
buscando o assunto em tese, dissertações, artigos e páginas na internet. Como
técnica, a pesquisa bibliográfica compreendeu leitura, seleção e resumo dos tópicos
de interesse para a pesquisa, com vistas a conhecer as contribuições científicas que
se efetuaram sobre o assunto em pauta. A leitura direcionada dos referidos textos
facilitou o alcance do objetivo proposto. Na leitura e análise das publicações,
procurou-se abordar as questões relativas à definição, ocorrência, processamento e
caracterização do xisto retortado, além de um levantamento sobre as pesquisas que
estão sendo realizadas com o objetivo de aplicar e, consequentemente, agregar
valor a um rejeito da exploração do xisto. Expondo dessa forma resultados de vários
pesquisadores.
28
4 RESULTADOS E DISCUSSÕES
4.1. USO DO XISTO NA PRODUÇÃO DE MATERIAS VITREOS
As primeiras alternativas propostas para utilização do xisto retortado foram
discutidas por SOUZA SANTOS, (1975); COSTA NETO et al, (1978). Segundo
esses autores, os usos prováveis visando à utilização desse rejeito seria na
fabricação de agregados leve para blocos de concreto, carga de borracha
vulcanizada, concreto asfáltico, fluido de perfuração de rochas, entre outros.
FONSECA et al.,(1989) sugeriram o uso desse rejeito como materiais cerâmicos,
aglomerados pozolânico, compósitos de propileno e catalisadores para a redução de
SO2. (FONSECA, 1990) utilizou xisto retortado para fabricação de materiais vítreos e
mais recentemente, SILVA & PIANARO, (2003), estudaram a utilização dos rejeitos
de xisto para síntese de vidrados transparentes e opacos.
Os rejeitos da industrialização do xisto produzidos pela PETROBRAS S.A. UN-SIX apresentam composição química que permitem seu reaproveitamento em
diversos seguimentos industriais. Dentre as possíveis aplicações desses rejeitos
tem-se a produção dos vidrados, onde é possível a produção de materiais que
melhorem as propriedades da cerâmica a um baixo custo.
O xisto retortado é um rejeito que pode ser aplicado em formulações para
ciclos de queima com baixo ou elevado patamar de temperatura, por ser fonte de
sílica (SiO2), principal formador de fase vítrea nos vidrados, e alumina que atua
como modificador e formador do retículo. Além disso, a alumina (Al2O3) melhora
propriedades como resistência química e dureza. Apesar desse fator favorável, a
proporção de alumina utilizada deve ser limitada, já que esse óxido eleva a
temperatura de fusão e a tensão superficial do vidrado. Os óxidos alcalinos
presentes favorecem a fusão e diminuem a viscosidade do vidrado fundido. O óxido
de ferro, Fe2O3, encontrado em grande proporção em sua composição química
permite obter colorações com tonalidades tendendo ao vermelho.
Outro rejeito da
industrialização do xisto que apresenta composição química adequada para a
produção de vidrados é o calxisto, fonte de MgO e CaO, o que permite sua aplicação
para vidrados destinados a cerâmicas processadas a temperaturas superiores a
1050 °C.
29
FONSECA e SHELESTAK, (1978) produziram vidrados a partir da fusão de
xisto retortado em temperaturas superiores a 1400°C e posterior tratamento térmico
a temperaturas que variavam entre 650 e 750°C. Através da inclusão de matériasprimas fundentes utilizadas comumente na fabricação de vidrados e fritas industriais
é possível a obtenção de vidrados sem que seja necessário atingir temperaturas tão
elevadas para que ocorra a fusão e posterior formação de fase vítrea, o que resulta
em economia em seu processamento.
A utilização do calxisto em formulações destinadas a ciclos de queima
inferiores a 1040 oC torna-se limitada, pois esse material eleva em excesso a
proporção de óxido de magnésio, o que dificulta a fusão do vidrado. Já em
temperaturas mais elevadas, torna-se uma matéria-prima adequada, por possuir em
sua composição o óxido de cálcio, que passa a atuar como fundente. Atualmente, o
processo da PETROBRAS S.A. - UN-SIX disponibiliza 6600 toneladas de xisto
retortado e 8000 toneladas de calxisto por dia. Assim, têm-se matérias-primas
abundantes para utilização desses rejeitos em escala industrial.
4.2. USO DO XISTO COMO ADSORVENTE PARA REMOÇÃO DE POLUENTES
INORGÂNICOS
A adsorção é um processo de transferência de um ou mais constituintes de
uma fase fluida para superfície de uma fase sólida. Embora alguns problemas
associados com a adsorção tenham sido conhecidos em tempos antigos, as
primeiras observações quantitativas, relatam alguns experimentos de remoção de
gases por carvão ativado e argila (SCHEELE, 1773; FONTANA, 1777). A palavra
adsorção designa o fenômeno de condensação de gases em superfície o diferencia
do fenômeno de absorção, o qual é atribuído ao processo de difusão de espécies
químicas dentro de uma fase sólida.
A adsorção é atualmente definida como um fenômeno de superfície no qual
uma concentração finita de moléculas de um fluido, por afinidade, adere a uma
superfície devido a um não balanceamento das forças. Os principais elementos da
adsorção são o fluido (adsortivo), a superfície na qual o fenômeno ocorre
(adsorvente) e os componentes retidos pela superfície (adsorbato). O termo sorção
junto com os termos sorvente, sorbato e sortivo é também usado para denotar
30
ambas as adsorção e absorção, quando ambos ocorrem simultaneamente ou não
podem ser distinguidos. Se o processo de adsorção de uma ou várias espécies
iônicas é acompanhado pela simultânea dissorção de uma quantidade equivalente
de espécies iônicas, este processo é considerado como troca iônica (PIMENTEL,
2005).
Os ensaios de adsorção foram realizados em batelada (método banho finito) e
foram conduzidos em diferentes temperaturas e concentração inicial dos íons
metálicos. Os resultados mostraram que o material exibe boa capacidade de
adsorção e que os pontos experimentais se ajustam aos que atualmente se têm
estudado. A utilização do xisto retortado pode ser viável como um material sorvente
não convencional e de baixo custo para remoção de metais pesados. A investigação
do desempenho do material sorvente é fundamental para sua aplicação industrial e
para o projeto de equipamentos. Portanto, para o emprego eficiente desses
materiais na purificação de águas e recuperação de metais, torna-se importante a
compreensão da interação desses com o metal (CETINKAYA et al., 1999).
GHARAIBECH e Colaboradores, (1998) estudaram a utilização do xisto
pirolizado para a remoção de metais pesados de soluções aquosas. Os autores
verificaram que, para os metais pesados estudados (cádmio (Cd), cobre (Cu), zinco
(Zn), cromo (Cr) e níquel (Ni), somente houve adsorção dos metais cádmio, cobre e
zinco, com capacidade máxima de adsorção iguais a 1,19 mg.g-1 , 37,96 mg.g
-1
e
11,41 mg.g -1 respectivamente, avaliados pela constante de Freundlich.
PIMENTEL, (2005) estudou a remoção dos íons cromo, cobre e chumbo em
soluções sintéticas utilizando xisto retortado como adsorvente/modelos de Langmuir
e Freundlich. De acordo com o autor, a capacidade de adsorção, como também os
valores das constantes de velocidade são comparáveis com adsorventes nãoconvencionais citados na literatura (argila, diatomita), em ensaios utilizando
condições similares as utilizadas por ele. Os parâmetros cinéticos mostraram melhor
correlação com a equação de velocidade de pseudo-segunda ordem e os
parâmetros termodinâmicos indicaram natureza espontânea e endotérmica do
sistema de adsorção estudado.
PIMENTEL, (2005) também avaliou a adsorção de íons metálicos presentes
na água produzida (águas que são trazidas à superfície durante a produção de
petróleo e gás natural) utilizando xisto retortado como adsorvente. Os ensaios foram
31
realizados pelo método banho finito às temperaturas de 30, 40 e 50 oC, pH 5,5 e
tempo de 5 horas.
A Tabela 2 mostra as concentrações dos elementos presentes em amostras
de águas produzidas antes e após tratamento com xisto retortado. Em termos de
percentuais, a adsorção variou na faixa de 40 a 70 % para as espécies de Cr, Fe,
Co, Ni, Cu e Zn e acima de 80 % para Hg e Pb. A adsorção foi mais eficiente nos
ensaios realizados a 50
o
C, confirmando os ensaios realizados em soluções
sintéticas, nos quais a adsorção foi favorecida com o aumento da temperatura.
Tabela 2 – Concentrações dos elementos presentes nas amostras de águas
produzidas antes e após tratamento com xisto retortado
Concentração (g L-1)
Metais
Água antes do
tratamento
Temperatura da
Ref*
Água tratada
30°C
40°C
50°C
Cromo
24,38
10,09 9,340 7,480
Cr total 50
Ferro
977,0
273,6 229,6 197,3
300
Cobalto
67,64
37,32 32,47 29,11
-
Níquel
58,40
35,62 34,45 25,11
25
Cobre
38,11
19,10 15,07 13,50
5
Zinco
233,0
144,0 127,6 111,2
90
Mercúrio
17,64
3,800 2,360 1,200
0,2
Chumbo
108,7
8,826 5,761 3,420
10
(*) resolução CONAMA 357/2005 – Águas salinas
Fonte: Pimentel (2005).
PRADO e Colaboradores, (2008) avaliaram o desempenho do xisto retortado
para remover arsênio de um efluente real de uma unidade de beneficiamento de
Minério de xisto, através de sistemas de batelada e coluna. Os resultados
32
mostraram que o xisto pode ser utilizado como excelente adsorvente para esse
metaloide, e as isotermas de adsorção, nas condições experimentais usadas pelos
referidos autores, também se ajustaram com o modelo de Langmuir.
4.3. USO DO XISTO COMO ADSORVENTE PARA REMOÇÃO DE POLUENTES
ORGÂNICOS
O xisto retortado, apresenta diversos aspectos de naturezas variadas, quando
em contato com apenas um componente a ser adsorvido, fenol, por exemplo, terá
toda a sua capacidade de adsorção (sítios químicos, poros, sítios de troca iônica,
adsorção em multicamadas), disponível para permitir a transferência de massa entre
as fases líquida e sólida.
ZHU et al., (2001) utilizaram as cinzas de xisto como material adsorvente para
o estudo do sistema de adsorção do composto orgânico quinolina em pH básico. O
objetivo foi determinar grau de interferência de sais no processo de adsorção. Os
autores concluíram que os cátions sódio (Na+), cálcio (Ca+2), magnésio (Mg+2),
potássio (K+) e amônio (NH4+) têm um efeito significativo no sistema de adsorção,
enquanto que os ânions mostram pouco efeito.
CHARLESWORTH, (1986) aplicou as cinzas de xisto (ativado com ácidos
minerais) como material adsorvente para a remoção dos compostos orgânicos
nitrogenados (piridina, quinolina e 2,6-dimetilpiridina) de óleo extraído do próprio
xisto. O estudo demonstrou em seus melhores resultados uma redução de até 90%
dos compostos citados, com uso de 0,1 a 4 g.g
-1
adsorvente, adsorvato). O xisto
também foi utilizado para remover piridina por ESSINGTON et al (1992), mas a
redução da concentração do adsorvato ficou abaixo de 10 mg .L
-1
em uma
concentração inicial de 100 mg.L -1.
DARWISH e Colaboradores, (1996) E COLOBORADORES nos seus estudos
demonstraram a utilização do xisto sem qualquer tratamento prévio como
adsorvente para remoção de fenóis de soluções aquosas. Os autores determinaram
o efeito do pH da solução e da presença dos sais cloreto de sódio (NaCl), cloreto de
potássio (KCl) e iodeto de potássio (KI) no processo de adsorção. Os resultados
obtidos mostram que em soluções muito ácidas (pH = 3), a presença destes sais não
tem influência na capacidade de adsorção, no entanto, acelera o equilíbrio do
processo de adsorção. Em soluções muito básicas (pH = 11) a presença destes sais
33
reduz o efeito adsortivo do xisto. A capacidade máxima de adsorção foi de 0,005
mg.g -1 com a constante de Langmuir e 0,011 mg.g -1 para a constante de Freundlich,
ambos avaliados a 30ºC.
AL-ASHEH e Colaboradores, (2003) empregaram o xisto pirolizado como
material adsorvente para remoção de compostos fenólicos de efluentes líquidos. Os
autores utilizaram a ativação física, por meio do dióxido de carbono (CO 2) e ativação
química, através do cloreto de zinco (ZnCl2) e avaliaram a influência de sais no
processo de adsorção. Os estudos demonstraram que a ativação química teve
melhores resultados.
BAGGIO, (2007) utilizou o xisto retortado do processo PETROSIX para avaliar
a sorção de fenóis em soluções preparadas, com adição de fenol padrão, e no
subproduto líquido do processo de industrialização do xisto. Os estudos
desenvolvidos no trabalho, mostraram que o subproduto sólido é capaz de remover
cerca de 40% do fenol presente em soluções sintéticas com concentrações em torno
de 300 ppm, sendo passivo de dissorção cerca de 15% do fenol adsorvido.
SANTIAGO, (2009) relatou sobre o comportamento ativo do xisto retortado
para adsorvente de compostos orgânicos presentes na água produzida usando-se o
fenol como componente referência. O xisto retortado apresentou uma capacidade de
adsorção de fenóis baixa (1,3mg/g), quando relacionada a de outros adsorventes
convencionais,
porém
suficiente
para
a
remoção
desses
compostos
em
concentrações apresentadas na água produzida num projeto BR. Os ensaios de
dinâmica de adsorção em campo mostraram que a concentração de fenóis no
efluente foi nula até atingir sua ruptura (58 horas). Os resultados revelaram a
possibilidade do uso do rejeito para remoção de fenóis em operações finais do
processo de tratamento, removendo também, de forma satisfatória, a cor e turbidez
da água produzida, com remoção superior a 90%.
STACHIW, (2008) empregou xisto (finos de xisto, xisto retortado e xisto
retortado com pneus) e o catalisador exaurido de FCC, após o processo industrial,
sem qualquer tipo de ativação, para a remoção de fenol e corantes de efluentes
sintéticos e industriais. Os ensaios de adsorção realizados mostraram que existe
potencial de aplicação dos subprodutos industriais de xisto na remoção de
compostos orgânicos (corantes, fenóis e COT) desses efluentes. O autor comparou
os valores da capacidade máxima de adsorção qm do xisto em fenol comum
34
(hidroxibenzeno), com outros adsorventes encontrados na literatura. Os resultados
são mostrados na Tabela 3.
Tabela 3 – Capacidade máxima de adsorção qm do adsorvente xisto
Adsorvente
qm (mg.g-1)
Carvão ativado em pó
Filtrasorb 400a
206
Nó de pinho
200
Cascas de caroço de 32-120
frutas
Polímeros
Ambersorb XE-340b
90
c
Amberlite XAD-2
40
Argilas
Bentonitad
1,7
e
Esmectita + HDTMA
99
e
Bentonita + HDTMA
87
Temperatura
(°C)
Autores
TA
20
TA
Mckay e Bino (1985)
Seidelet al. (1985)
Daifullah e Sirgis
(1998)
TA
TA
Vliet et al. (1980)
Vliet et al. (1980)
25
20
NI
Banat et al. (2000)
Mortland et al. (1986)
Richards e Bouazza
(2007)
Mortland et al. (1986)
Richards e Bouazza
(2007)
Richards e Bouazza
(2007)
Esmectita + HDPyf
Bentonita + TMPAg
109
143
20
NI
Basáltica + TMPAg
41
NI
Xisto
XistoRetortadoh
Xisto Retortadoi
Xisto
Retortado
i
Pneus
Penas de Frango
0,005
0,13j
com 0,10j
19.5
30
25
25
Darwishet al. (1996)
Stachiwet al. (2007)
Stachiwet al. (2007)
20
Banat e
(2000)
Fonte: Stachiw (2008).
a : Marca registrada da Calgon Carbon Corporation, origem betuminosa;
b : Grânulos de resinas carbonizadas hidrofóbicas;
c : Resina do copolímero do estireno-divenilbenzeno;
d : Argila vulcânica;
e : Argila modificada com hexadeciltrimetrilamonio (HDTMA);
f : Argila modificada com hexadecilpiridina (HDPy);
g : Argila modificada com feniltrimetilamônio (TMPA)
Al-Asheh
35
h : Origem Jordaniana;
i : Origem Brasileira, Formação Irati.
j : Capacidade máxima de adsorção obtida com o modelo de Freundlich
TA = Temperatura Ambiente; NI = Não Informado.
GONÇALVES JR, (2006) usou xisto retortado para remover óleo de água
produzidas. Os experimentos mostraram que o material exibe boa capacidade de
adsorção e que os dados se correlacionaram bem aos modelos de Langmuir e
Freundlich. Alguns fatores que influenciam o processo de adsorção também foram
estudados, tais como o efeito da quantidade de adsorvente, efeito da adição de sais
e pH. Os estudos cinéticos revelaram que a adsorção de óleo disperso se
correlacionou bem com o modelo cinético de pseudo-segunda ordem. Os estudos de
adsorção em coluna e filtração mostraram que o xisto retortado tem boa
aplicabilidade em virtude das grandes quantidades de óleo disperso removido da
água produzida.
4.4. UTILIZAÇÃO DO XISTO COMO MATÉRIA PRIMA PARA SÍNTESE DE
ZEÓLITAS
Zeólitas são estruturas microporosas cristalinas formadas por tetraedros de
SiO4 e AlO4, que contem cátions trocáveis para balancear a carga negativa
resultante dos tetraedros de alumínio na estrutura. Elas podem ser encontradas em
depósitos naturais ou podem ser sintetizadas a partir de uma grande variedade de
materiais de partida com elevado teor de Si e Al. As zeólitas são aplicadas em
reações catalíticas, troca iônica e processos de adsorção (MIOTTO; MACHADO,
2006).
MIOTTO e MACHADO, (2006) utilizaram xisto retortado do processo Petrosix,
como matéria-prima para síntese de materiais zeolíticos. O procedimento de síntese
adotado foi a fusão alcalina seguida de refluxo, utilizando-se três composições de
mistura reagente. Dois produtos foram selecionados e analisados quimicamente,
estruturalmente e morfologicamente. O composto (1) foi obtido a partir da
composição 3SiO2.Al2O3.5,7Na2O.228H2O após 2h30min de refluxo, apresentando a
maior cristalinidade quanto a zeólita X, enquanto o composto (2), produzido com a
composição 3SiO2.Al2O3.10,5Na2O.325H2O após 30min de refluxo, obteve o maior
36
teor de zeólita A. Os resultados mostraram que todo o silício e alumínio presentes
nos materiais zeóliticos estão sob a forma cristalina, e as micrografias indicaram a
presença dos cristais cúbicos das estruturas das zeólitas A e X sintetizadas.
37
5 CONCLUSÃO
O presente trabalho apresentou resultados de várias pesquisas realizadas
buscando o aproveitamento dos resíduos de xisto, o xisto retortado, visando
minimizar os efeitos deletérios produzidos pelo retorno desse material a mina e
também agregar valor a esses rejeitos industriais. Diante do exposto, conclui-se que
as características físico-químicas do xisto favorecem sua utilização como um
potencial adsorvente para remoção de compostos orgânicos (fenol e seus derivados)
e compostos inorgânicos (íons metálicos). A utilização desse material como
adsorvente tende a reduzir o custo em processos de tratamento de efluentes
industriais.
O xisto pode ainda ser utilizado na produção de vidrados, cerâmicas
vermelhas, além de ser ótima matéria-prima na produção de argila expandida,
empregada em concretos estruturais e isolantes. Ressalta-se ainda que o xisto
produz uma infinidade de subprodutos e rejeitos que também, podem ser
aproveitados pelos mais diversos segmentos industriais.
Estas considerações só fortalecem o incentivo às pesquisas na área
ambiental, principalmente aquelas que priorizem soluções para os resíduos
industriais, como reciclagem/reuso ou novas aplicações para esses resíduos.
38
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