Bens culturais contam a história das missões jesuítas na América do Sul Sítios históricos no Brasil e na Argentina representam relações culturais europeus. entre povos nativos e missionários Divulgação/Iphan As Missões Jesuítico-Guarani são um conjunto de bens culturais localizados na fronteira entre o Brasil e a Argentina. São compostas por um conjunto de cinco remanescentes dos povoados implantados em território originalmente ocupado por indígenas, durante o processo de evangelização promovido pela Companhia de Jesus nas colônias da coroa espanhola na América, durante os séculos XVII e XVIII. Representam importante testemunho da ocupação sistematizada do território, e das relações culturais que se estabeleceram entre os povos nativos, na maioria do grupo étnico Guarani, e missionários jesuítas europeus. Esses bens expressam a experiência da Companhia de Jesus no território americano, produzida na chamada Província Jesuítica do Paraguai. Essa Província Jesuítica era um sistema de relações espaciais, econômicas, sociais e culturais singulares, conformada à época por 30 povoados, chamados de reduções, que incluía ainda estâncias, ervais, redes de caminhos e vias fluviais estendidas pela bacia do Rio Uruguai e de seus afluentes. Essa experiência, produzida durante os séculos XVII e XVIII, abrangia uma extensa área da América Meridional, correspondente, nos dias atuais, a regiões do Paraguai, Argentina, Uruguai e Brasil. Na maioria dos conjuntos, todos os componentes visíveis estão incluídos dentro dos limites das zonas designadas. No entanto, a presença de relíquias e sítios arqueológicos fora desses limites não pode ser descartada, pois é impossível resgatar todas as áreas com vestígios dessa cultura em território tão vasto. As diferentes Missões Jesuítico-Guarani contêm, com graus variados, fragmentos de muros que faziam parte de seus núcleos monumentais (igreja, residência, oficinas, hortas). No entanto, eles perderam suas originais funções religiosas, residencial, educacional e cultural. Estes locais são atualmente considerados monumentos históricos, com uma finalidade cultural e turística expressiva, e são altamente significativos para o desenvolvimento local das comunidades envolvidas. Como exceção, esses sítios são usados para eventos religiosos ou recreativos. Divulgação/Governo do Rio Grande do Sul Os elementos integrantes do conjunto declarado não se encontram ameaçados, sendo preservados pela atuação direta da ação governamental principalmente, tanto na Argentina como no Brasil. No caso brasileiro, os vestígios materiais existentes do sítio – São Miguel Arcanjo – permitem expressar este singular modelo de ocupação territorial permeado pela interação e troca cultural entre os povos nativos e os missionários europeus. Vestígios como o corpo principal da igreja, campanário e sacristia, partes das construções conventuais, fundações e bases das habitações indígenas, praça, horto, canalizações pluviais, objetos sacros, entre outros. O modelo reducional, presente nos sítios declarados em maior ou menor medida, caracteriza-se pela articulação de duas tipologias básicas: de um lado a conventual europeia com igreja principal, residência e colégio; e por outro, a criação de um setor destinado principalmente à população indígena, ocupado pelos espaços adjacentes dos três lados restantes da praça. Nesse modelo, também se verificam estruturas e construções de menor volume, destinadas a atividades de apoio às funções básicas do povoado; todos estes elementos, vinculados a um território produtivo, com distintos potenciais e de caráter complementar entre os diferentes povoados e as outras províncias jesuíticas da região, promovem a realização dessa leitura que cada sítio oferece, de modo único, em suas especificidades. Em São Miguel das Missões, a legibilidade e o entendimento da configuração espacial do sítio, capaz de expressar o cotidiano da redução, podem ser atestados por documentos que descrevem sua implantação e organização. A sua autenticidade física está mantida pelos materiais e técnicas construtivas originais. As intervenções ocorridas ao longo dos anos datadas desde a época de funcionamento da redução foram executadas para manter a estabilidade estrutural do bem. Tais intervenções estão identificadas e mapeadas. A construção da igreja de São Miguel durou dez anos. Seu projeto foi inspirado na Igreja de Gesú em Roma – principal templo jesuítico – atribuído ao arquiteto jesuíta Gian Battista Primolli. A igreja foi concluída em 1745, no final do período barroco. O requinte dessa concepção arquitetônica pode ser evidenciado pelas ondulações côncavas da fachada principal e também pela leve inclinação dos planos externos que, por meio da correção da perspectiva, tinha o propósito de enfatizar o caráter monumental da obra. O edifício foi erigido com pedra de cantaria, branqueada com um tipo de argila chamada tabatinga. Diferentemente das demais construções missioneiras da época, a estrutura era definida por paredes de pedra, ao invés dos comuns esqueletos de madeira. Na falta da cal, não disponível na região, o barro constituía o material ligante das alvenarias. Seguindo a tradição da época, a Igreja de São Miguel possuía uma rica e colorida ornamentação interna, integrada por entalhes e por pinturas e esculturas com motivos sacros. Algumas das imagens, feitas em arenito, integram hoje o Museu das Missões. Além dos saques ocorridos durante a Campanha Cisplatina em 1828, a igreja foi vítima da ação dos aventureiros que, em busca do tesouro dos jesuítas, retiraram muitos materiais para uso em outras construções. Os maus-tratos causaram, em 1886, a ruína dos telhados e o desabamento do pórtico. O longo período de abandono levou ao crescimento de grandes árvores no interior da nave. Em 1937, com a criação do Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (SPHAN), o arquiteto Lúcio Costa foi enviado ao Rio Grande do Sul para analisar os remanescentes dos Sete Povos das Missões e propor providências. Como resultado dessa visita, em 1938, esses remanescentes foram tombados como Patrimônio Nacional. Dois anos depois, foi criado o Museu das Missões, destinado ao recolhimento e à guarda da estatuária da Igreja de São Miguel. Além disso, entre 1938 e 1940, o arquiteto Lucas Mayerhofer dirigiu as obras de estabilização da igreja e a construção do prédio do Museu, cujo projeto original foi elaborado por Lúcio Costa. Em 9 de dezembro de 1983, juntamente com as Missões localizadas em território argentino de San Ignacio Mini, Santa Ana, Nuestra Señora de Loreto e Santa María La Mayor, São Miguel das Missões foi declarada patrimônio cultural mundial pela Unesco. Fonte: Portal Brasil