obstáculos comuns da deliberação moral

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OBSTÁCULOS COMUNS DA DELIBERAÇÃO MORAL
FELIX FLORES PINHEIRO ([email protected]) / UFSM, Santa maria -RS
Palavras-Chave:
FILOSOFIA; ÉTICA; CONSISTÊNCIA MORAL; SUBJETIVISMO MORAL;
Muitas vezes questionamos sobre como devemos agir, qual a melhor saída para uma situação e o que
devemos querer como finalidade das nossas ações. Refletir sobre estas questões caracteriza uma reflexão
moral, pois correspondem a um pensamento sobre as nossas ações que objetiva prescrever as melhores
atitudes. Na procura por uma resposta a essas questões podemos nos confundir e chegar a conclusões
precipitadas e errôneas. Quando discutimos sobre uma questão moral com alguém, e discordamos sobre a
conclusão da discussão, muitas vezes para terminar a discussão, afirmamos que a moralidade é apenas uma
questão de opinião, e sendo assim, ninguém está certo ou errado.
Muitas vezes em conversas cotidianas a discussão chega num ponto onde alguém se obriga a dizer “bem,
em todo caso, é apenas uma questão de opinião” e termina o assunto. Parece-me que só se acredita nisso,
pois é útil para acabar de vez com o debate, já se está cansado de apresentar razões que não convencem o
ouvinte. Entretanto as implicações de aceitar essa conclusão são problemáticas porque ela sugere que como
as posições morais são apenas opiniões individuais e não se pode compará-las, ambas estão certas ou
ambas estão erradas, ou ainda não se pode atribuir certo ou errado a elas. Isso sugere que não podemos
criticar ou investigar racionalmente nossas opiniões morais, não podendo fazer uma investigação já que
qualquer conclusão que utilize um conceito moral também será opinião.
Mesmo que existam varias maneiras de justificar um juízo moral podemos dentre delas detectar maneiras
deficientes de justificar nossos juízos e maneiras mais eficazes de julgar as nossas ações. Um juízo moral é
deficiente se utiliza na sua justificação fatos irrelevantes para a questão, informações distorcidas, ou falsos
princípios morais. Não se pode negar que a afirmação “matar crianças até dois anos é moralmente correto
porque aviões decolam, planam e pousam” apoia um julgamento moral em um fato que não é nem ao menos
relevante para a questão, afinal o que tem a ver que aviões voam e por isso podemos matar crianças?
Usar informações distorcidas também sugere que a afirmação não é plausível, como na frase “é correto
beber e dirigir, pois a bebida não altera as percepções do motorista”. Podemos ainda utilizar falsos princípios
morais, como por exemplo, “se a maioria decidir que escravizar pessoas com o cabelo azul é correto, então é
correto escravizar pessoas com o cabelo azul”. Sustentar que a maioria está sempre certa é um falso
principio moral, pois como vimos no exemplo não é por causa da aceitação de todos que uma ação é correta
ou não, pois as pessoas podem estar enganadas ou raciocinando de forma incorreta sobre o assunto.
Podemos então chegar a partir disso a conclusão de que juízos morais podem estar apoiados em erros do
pensamento, e sendo assim não são todos infalíveis.
A partir disso, será que podemos dizer que todos os juízos morais são falíveis? Acredito que também não, ou
pelo menos, podemos afirmar de alguma maneira que um juízo moral está mais bem formulado, melhor
pensado, do que outro. Um juízo moral bem articulado, bem fundamentado logicamente, baseado em
informação correta e que posto a sérias discussões sobrevive, é mais plausível do que um juízo moral que
não implique essas características. Nem sempre sabemos como agir, discordamos sobre o que devemos
fazer, mas isto não implica que seja tudo uma questão de opinião e não podemos analisá-las, nem que todas
as opiniões sobre a moralidade são iguais.
Aproximamo-nos de uma verdade em ética quando utilizamos métodos adequados na investigação. Mas que
métodos são esses? Será que existem princípios que guiariam a investigação? O primeiro passo é não cair
em tentação e acabar afirmando que é tudo questão de opinião, devemos também utilizar as informações de
modo adequado, sendo relevantes para a questão e coerentes com a realidade. Alguém pode ainda cometer
o erro de abandonar a investigação pensando que todas as decisões éticas são confusas e difíceis de tomar.
Mas existem questões morais tão simples que nem ao menos pensamos sobre elas, por exemplo, não há
duvida de que é imoral matar crianças inocentes por pura diversão.
Notar isso é fundamental para pensar de forma consistente sobre o assunto. Podemos usar princípios éticos
de forma inconsistente aplicando um principio em uma determinada situação, mas não em outra que implica
a mesma coisa. Por exemplo, defender que o aborto é imoral porque é uma espécie de assassinato tem que
se defender também que o assassinato é imoral. Ser inconsistente é uma falha que acontece por não
compreendermos muito sobre o que estamos pensando e se tratando de questões morais, saber do que se
está falando e o que isso implica é fundamental para o sucesso da deliberação.
REFERÊNCIAS:
James Rachels; Elementos de filosofia moral; lisboa; gradiva; 2004.
Ernst Tugendhat; Lições sobre ética; petrópolis; vozes; 2009.
Hugh LaFollette; The Truth in Ethical Relativism; Journal of Social Philosophy ; 20; 146-54; 1991.
Hugh LaFollette ; Ethics in practice; londres; Blackwell; 2001.
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