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Macro Visão
28 de novembro de 2016
Estimativas de taxas de câmbio sustentáveis na América
Latina
•
Estimamos para os principais países da América Latina qual é o nível da taxa de câmbio consistente com
déficits em conta corrente sustentáveis no longo prazo, que utilizamos como um conceito de câmbio de
equilíbrio.
•
Para cada país, assumimos que o déficit em conta corrente sustentável seja o equivalente à média dos
últimos 20 anos. Sob essa métrica, o real e o sol peruano ao longo de novembro deste ano estão próximos
aos seus respectivos valores de equilíbrio. Por outro lado, o peso colombiano, o peso chileno e o peso
argentino estão mais apreciados do que os seus respectivos níveis de equilíbrio. Finalmente, o peso
mexicano está substancialmente depreciado.
A taxa de câmbio é determinada a partir da quantidade de recursos disponíveis para financiar o déficit em conta
corrente. Uma redução (aumento) na disponibilidade de financiamento externo (em razão de mudanças no
cenário internacional ou doméstico) faz com que o déficit em conta corrente precise diminuir (aumentar). Para
isso, a taxa de câmbio deprecia (aprecia), de forma a gerar o resultado em conta corrente consistente com as
novas condições de financiamento externo.
Definimos como a taxa de câmbio de equilíbrio aquela que gera um déficit em conta corrente compatível com
um volume de financiamento externo sustentável no longo prazo (isto é, que não gera uma acumulação
excessiva de passivos externos, e tampouco resulta em uma importação insuficiente de poupança). Note-se
que, como a maioria dos países da América Latina têm sido importadores líquidos de capital, não
consideramos que o equilíbrio estrito da conta corrente (isto é, a necessidade de gerar superávits futuros para
amortizar o passivo externo líquido) seja um critério relevante para a avaliação dos patamares da taxa de
câmbio.
Metodologia
De forma a determinar a taxa de câmbio de equilíbrio dos diferentes países da região, começamos estimando
uma relação anual entre o saldo em conta corrente e a taxa de câmbio real, controlando-a para o nível dos
1,2
termos de troca e da atividade econômica .
Quanto mais depreciado o câmbio, maior será o saldo em conta corrente. O mesmo vale para os termos de
troca: quanto maior a razão entre os preços de exportação e importação, maior será o saldo em conta corrente.
Por outro lado, quanto mais aquecida a economia, maior será a demanda por importações de bens e serviços
e, portanto, menor o saldo em conta corrente.
1
Como variável de atividade econômica usamos o Nível de Utilização da Capacidade Instalada (Nuci, divulgado pela FGV)
para o Brasil, a taxa de desemprego para Colômbia e Chile e o hiato da demanda interna (calculado com base em um filtro
HP) para México, Peru e Argentina.
2
No caso da Argentina, os termos de troca não são significativos na regressão estimada.
A última página deste relatório contém informações importantes sobre o seu conteúdo. Os investidores não devem considerar este relatório como fator
único ao tomarem suas decisões de investimento.
Macro Visão – 28 de novembro de 2016
Os gráficos abaixo mostram a comparação entre os saldos em conta corrente observados e os projetados para
cada um dos países. Com exceção do México, o poder explicativo das regressões (medido pelos R2 ajustados
de cada equação estimada) é elevado, ou seja, as variáveis utilizadas capturam uma parte relevante da
dinâmica da conta corrente.
Colômbia
Brasil
3,0
2,0
Saldo em conta corrente, % PIB
2,0
1,0
1,0
0,0
Saldo em conta corrente, % PIB
R2 ajustado = 0,87
R2 ajustado = 0,64
0,0
-1,0
-1,0
-2,0
-2,0
-3,0
-3,0
-4,0
-4,0
-5,0
Realizado
Projetado
-5,0
Realizado
Projetado
-6,0
1996
1997
1998
1999
2000
2001
2002
2003
2004
2005
2006
2007
2008
2009
2010
2011
2012
2013
2014
2015
1996
1997
1998
1999
2000
2001
2002
2003
2004
2005
2006
2007
2008
2009
2010
2011
2012
2013
2014
2015
-7,0
-6,0
Fonte: Haver, Itaú
Fonte: BCB, Itaú
Chile
6,0
México
0,0
Saldo em conta corrente, % PIB
Saldo em conta corrente, % PIB
-0,5
4,0
2,0
-1,0
R2 ajustado = 0,90
-1,5
0,0
-2,0
R2 ajustado = 0,46
-2,0
-2,5
-4,0
Realizado
Projetado
Realizado
Projetado
-3,0
-6,0
1995
1996
1997
1998
1999
2000
2001
2002
2003
2004
2005
2006
2007
2008
2009
2010
2011
2012
2013
2014
2015
1996
1997
1998
1999
2000
2001
2002
2003
2004
2005
2006
2007
2008
2009
2010
2011
2012
2013
2014
2015
-3,5
Fonte: Haver, Itaú
Fonte: Haver, Itaú
Peru
4,0
Argentina
10,0
Saldo em conta
corrente % PIB
8,0
2,0
R2 ajustado = 0,71
6,0
0,0
Saldo em conta
corrente % PIB
R2 ajustado = 0,85
4,0
-2,0
2,0
0,0
-4,0
-2,0
Realizado
Projetado
-4,0
1996
1997
1998
1999
2000
2001
2002
2003
2004
2005
2006
2007
2008
2009
2010
2011
2012
2013
2014
2015
-8,0
Realizado
Projetado
-6,0
Fonte: Haver, Itaú
1996
1997
1998
1999
2000
2001
2002
2003
2004
2005
2006
2007
2008
2009
2010
2011
2012
2013
2014
2015
-6,0
Fonte: Haver, Itaú
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Macro Visão – 28 de novembro de 2016
A partir dos coeficientes estimados (por meio da equação 1, abaixo), obtemos a equação (2), que mostra a taxa
de câmbio em função do déficit em conta corrente, termos de troca e o nível da atividade econômica.
(1)
(2)
Para um determinado nível dos termos de troca, dizemos que a taxa de câmbio estará em seu equilíbrio
quando o déficit em conta corrente e a economia também estiverem. Isto é, quando o déficit em conta corrente
estiver em um nível consistente com o financiamento externo sustentável e, ao mesmo tempo, a economia não
estiver operando com excessiva ociosidade, e nem sobreaquecida.
Determinação da taxa de câmbio de equilíbrio
Uma dificuldade da nossa abordagem para determinação do câmbio de equilíbrio é definir o déficit em conta
corrente sustentável. Por simplicidade, vamos chamar a taxa de câmbio de equilíbrio como aquela que leva o
déficit em conta corrente para a média dos últimos 20 anos (período suficientemente longo para incluir fases de
recessão e crescimento, e momentos com termos de troca elevados e reduzidos). Os resultados são
apresentados na tabela abaixo:
Brasil
Colômbia
Chile
México
Peru
Argentina
Déficit em conta corrente
médio nos últimos 20 anos
Taxa de câmbio de
equilíbrio
Apreciação (-) / Depreciação (+)
necessária para atingir o déficit em
conta corrente médio*
2,10%
2,60%
0,80%
1,60%
2,80%
0,00%
3,30
3635
715
16,30
3,32
19,05
-0,5%
17,5%
7,7%
-18,2%
-2,3%
24,8%
*Média de novembro em relação ao equilíbrio
É importante notar que a taxa de câmbio de equilíbrio foi calculada com base no nível atual dos termos de
troca. Caso ocorra um choque positivo (negativo) nos termos de troca, a taxa de câmbio de equilíbrio será mais
apreciada (depreciada).
Com base nessa metodologia, a cotação média do real e do sol peruano ao longo de novembro deste ano está
próxima aos seus respectivos valores de equilíbrio. Por outro lado, o peso colombiano, o peso chileno e o peso
argentino estão mais apreciados do que os seus respectivos níveis de equilíbrio. Finalmente, o peso mexicano
está substancialmente depreciado.
O resultado obtido para o peso mexicano (subvalorização expressiva da moeda) e para o peso colombiano
(sobrevalorização da moeda) é consistente com outras metodologias para o cálculo de câmbio de equilíbrio que
3
apresentamos em publicações anteriores . O peso mexicano vem sendo penalizado pelas incertezas sobre a
política econômica dos EUA. Esperamos que, à medida que o risco de protecionismo diminua, a moeda tenha
uma apreciação. Já o déficit em conta corrente da Colômbia continua muito elevado (5,8% do PIB, no ano
encerrado no 2T16) e ainda é visto como uma importante vulnerabilidade do país.
3
Ver (Itau Macro Vision: Assessing the Undervaluation of the Mexican Peso - September 27, 2016) e (Itau Macro Vision:
COLOMBIA - How much depreciation is necessary for a faster current-account deficit adjustment? - August 24, 2016).
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Macro Visão – 28 de novembro de 2016
Em relação ao peso argentino e ao peso chileno, notamos que o valor médio de déficit em conta corrente
obtido nos últimos vinte anos pode não ser um bom indicador para o nível sustentável no longo prazo, dadas as
condições atuais e as perspectivas de rupturas de padrões históricos recentes.
De fato, a Argentina passou boa parte da última década com pouco acesso a mercados financeiro e de capital
internacionais e com fuga de capital de residentes. Com as políticas pró-mercado do governo atual, já há uma
recuperação do acesso do país ao financiamento externo. Se supusermos que a Argentina conseguirá conviver
com um déficit em conta corrente de 2% do PIB (déficit médio dos demais cinco países nos últimos 20 anos), a
taxa de câmbio seria 13,75 pesos por dólar (a preços de outubro de 2016). Em suma, se vale o padrão
histórico, o peso argentino está valorizado. Mas, se a ruptura com o passado recente for, de fato, duradoura,
então poderia haver espaço para uma valorização adicional.
Já o Chile elevou sua poupança substancialmente durante o período de boom das commodities, em grande
parte através do arcabouço fiscal anticíclico (em 2006, o superávit nominal do governo central atingiu 7,1% do
PIB, e a poupança doméstica, 35%). Com a queda no preço do cobre observada nos últimos anos, a poupança
já está em níveis bem mais baixos. Considerando um período mais longo, de 30 anos, o saldo médio da conta
corrente equivale a -1,6% do PIB, o que sugeriria que a taxa de câmbio estaria atualmente em patamar
sustentável.
Assim, acreditamos que o Chile provavelmente vá conseguir conviver com déficits em conta corrente maiores
dos que temos observado recentemente. Quanto à Argentina, a taxa de câmbio sustentável parece estar
fortemente relacionada à continuidade das políticas econômicas atuais.
Julia Gottlieb
João Pedro Bumachar
Pesquisa macroeconômica – Itaú
Mario Mesquita – Economista-Chefe
Para acessar nossas publicações e projeções visite nosso site:
http://www.itau.com.br/itaubba-pt/analises-economicas/publicacoes/
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Macro Visão – 28 de novembro de 2016
Informações relevantes
1.
Este relatório foi preparado e publicado pelo Departamento de Pesquisa Macroeconômica do Banco Itaú Unibanco S.A. (“Itaú Unibanco”). Este relatório não é um produto do
Departamento de Análise de Ações do Itaú Unibanco ou da Itaú Corretora de Valores S.A. e não deve ser considerado um relatório de análise para os fins do artigo 1º da Instrução CVM n.º
483, de 6 de Julho de 2010.
2.
Este relatório tem como objetivo único fornecer informações macroêconomicas, e não constitui e nem deve ser interpretado como sendo uma oferta de compra ou venda ou como uma
solicitação de uma oferta de compra ou venda de qualquer instrumento financeiro, ou de participação em uma determinada estratégia de negócios em qualquer jurisdição. As informações
contidas neste relatório foram consideradas razoáveis na data em que o relatório foi divulgado e foram obtidas de fontes públicas consideradas confiáveis. O Grupo Itaú Unibanco não dá
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uma relação completa ou resumida dos mercados ou desdobramentos nele abordados. As opiniões, estimativas e projeções expressas neste relatório refletem a opinião atual do analista
responsável pelo conteúdo deste relatório na data de sua divulgação e estão, portanto, sujeitas a alterações sem aviso prévio.] O Grupo Itaú Unibanco não tem obrigação de atualizar,
modificar ou alterar este relatório e de informar o leitor.
3.
O analista responsável pela elaboração deste relatório, destacado em negrito, certifica, por meio desta que as opiniões expressas neste relatório refletem, de forma precisa, única e
exclusiva, suas visões e opiniões pessoais, e foram produzidas de forma independente e autônoma, inclusive em relação ao Itaú Unibanco, à Itaú Corretora de Valores S.A. e demais
empresas do Grupo.
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