DesenvolvimentoeAprendizagem

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Psicologia do Desenvolvimento e Aprendizagem 1
Profª. Ms. Poliana S. A. S. Camargo
Desenvolvimento e Aprendizagem
Quando se fala em crescimento, todo mundo se lembra facilmente do aumento de estatura, de peso e
outras mudanças tanto estruturais como orgânicas que ocorrem na constituição física. O termo
desenvolvimento, porém, é muito mais amplo e complexo. Ele define o processo ordenado e contínuo que
principia com a própria vida, no ato da concepção, abrange todas as modificações que ocorrem no
organismo e na personalidade. Inclusive os comportamentos mais sofisticados, resultantes do crescimento e
amadurecimento físicos e da estimulação variada do ambiente.
A psicologia do desenvolvimento estuda o ser humano em todos os seus aspectos: físico-motor,
intelectual, afetivo-emocional e social – desde o nascimento até a idade adulta, isto é, a idade em que todos
estes aspectos atingem o seu mais completo grau de maturidade e estabilidade.
De acordo com a psicologia, a hereditariedade e o ambiente, a maturação e a aprendizagem são
fatores do desenvolvimento. Isto significa que, para determinar o processo de desenvolvimento em todas as
suas faces, as condições estruturais e orgânicas atuam simultaneamente com os estímulos ambientais.
É imprescindível que o educador tenha sempre em mente os princípios gerais do desenvolvimento é
um processo contínuo, procede das atividades gerais para as específicas, cada parte do corpo se desenvolve
com velocidade própria, acontece de maneira unificada e segue duas direções:
. céfalo-caudal – da cabeça para os pés,
. próximo-distal – das partes mais próximas do centro para as mais distantes.
Estudar o desenvolvimento humano significa conhecer as características comuns de uma faixa etária,
permitindo-nos reconhecer as individualidades, o que nos torna mais aptos para a observação e interpretação
dos comportamentos. É também descobrir que ele é determinado pela interação de vários fatores
indissociados e em permanente interação que afetam todos os aspectos do desenvolvimento. São eles:
Hereditariedade: a carga genética estabelece o potencial do indivíduo, que pode ou não desenvolver-se.
Existem pesquisas que comprovam os aspectos genéticos da inteligência. No entanto, a inteligência pode
desenvolver-se aquém ou além do seu potencial, dependendo das condições do meio que encontra.
Crescimento orgânico: refere-se ao aspecto físico. O aumento de altura e a estabilização do esqueleto
permitem ao indivíduo comportamentos e um domínio do mundo que antes não existiam. Pense nas
possibilidades de descobertas de uma criança, quando começa a engatinhar e depois a andar, em relação a
quando esta criança estava no berço com alguns dias de vida.
Maturação neurofisiológica: é o que torna possível determinado padrão de comportamento. A alfabetização
das crianças, por exemplo, depende dessa maturação. Para segurar o lápis e manejá-lo como nós, é
necessário um desenvolvimento neurológico que a criança de 2, 3 anos não tem. Observe como ela segura o
lápis.
Meio: o conjunto de influências e estimulações ambientais que alteram os padrões de comportamento do
indivíduo. Por exemplo, se a estimulação verbal for muito intensa, uma criança de 3 anos pode ter um
repertório verbal muito maior do que a média das crianças de sua idade, mas, ao mesmo tempo, pode não
subir e descer com facilidade uma escada, porque esta situação pode não ter feito parte de sua experiência de
vida.
O desenvolvimento humano deve ser entendido como uma globalidade, mas, para efeito de estudo,
tem sido abordado a partir de quatro aspectos básicos:
Aspecto físico-motor – refere-se ao crescimento orgânico, à maturação neurofisiológica, à capacidade de
manipulação de objetos e de exercício do próprio corpo.
Aspecto intelectual – é a capacidade de pensamento, raciocínio.
Aspecto afetivo-emocional – é o modo particular de o indivíduo integrar as suas experiências. É o sentir. A
sexualidade faz parte desse aspecto.
Aspecto social – é a maneira como o indivíduo reage diante das situações que envolvem outras pessoas.
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Se analisarmos melhor cada um desses exemplos, vamos descobrir que todos os outros aspectos
estão presentes em cada um dos casos. E é sempre assim. Não é possível encontrar um exemplo “puro”,
porque todos esses aspectos relacionam-se permanentemente. Por exemplo, uma criança tem dificuldades de
aprendizagem, repete o ano, vai se tornando cada vez mais “tímida” ou “agressiva”, com poucos amigos e,
um dia, descobre-se que as dificuldades tinham origem em uma deficiência auditiva. Quando isso é
corrigido, todo o quadro reverte-se. A história pode, também, não ter um final feliz, se os danos forem
graves.
Todas as teorias do desenvolvimento humano partem do pressuposto de que esses quatro aspectos
são indissociados, mas elas podem enfatizar aspectos diferentes, isto é, estudar o desenvolvimento global a
partir da ênfase em um dos aspectos. No processo global, o desenvolvimento inclui dois outros processos
complementares: a maturação e a aprendizagem.
Maturação
É o desenvolvimento das estruturas corporais, neurológicas e orgânicas. Abrange padrões de
comportamento resultantes da atuação de algum mecanismo interno. A maturação conduz ao
desenvolvimento do potencial do organismo e independente de treino ou estimulação ambiental. Caracterizase por mudanças estruturais influenciadas pela heteditariedade, que ocorrem em dado momento, envolvendo
a coordenação de numerosas partes do sistema nervoso.
É por isso que é ineficaz, por exemplo, ensinar uma criança a andar aos 5 meses, ou a ler e escrever
precocemente. Como Gesell afirma, “a aprendizagem nunca pode transcender a maturação.” Isto é, para que
a aprendizagem se processe, é necessário que o organismo esteja suficientemente maduro para recebê-la.
Toda a atividade humana depende da maturação. Desde o mais simples comportamento, como segurar um
objeto, até as abstrações e raciocínios mais complexos.
Aprendizagem
É o resultado da estimulação do ambiente sobre o indivíduo já maturo, que se expressa, diante de
uma situação-problema, sob a forma de uma mudança de comportamento em função da experiência. É
comum as pessoas restringirem o conceito de aprendizagem somente aos fenômenos que ocorrem na escola,
como resultado do ensino. Entretanto, o termo tem um sentido muito amplo: abrange os hábitos que
formamos, os aspectos de nossa vida afetiva e a assimilação de valores culturais. Enfim, a aprendizagem se
refere a aspectos funcionais e resulta de toda estimulação ambiental recebida pelo indivíduo no decorrer da
vida.
Aprendizagem Significativa
Para que a aprendizagem provoque uma afetiva mudança de comportamento e amplie cada vez mais
o potencial do educando, é necessário que ele perceba a relação entre o que está aprendendo e a sua vida. O
aluno precisa ser capaz de reconhecer as situação em que aplicará o novo conhecimento ou habilidade. Tanto
quanto possível, aquilo que é aprendido precisa ser significativo para ele. Uma aprendizagem mecânica, que
não vai além da simples retenção, não tem significado para o aluno.
Autoconceito
O autoconceito é a atitude valorativa que um indivíduo tem sobre si mesmo, sobre sua própria
pessoa. Trata-se da estima, dos sentimentos, experiências ou atitudes que o indivíduo desenvolve sobre o seu
próprio eu.
A estima que um indivíduo sente por sua própria pessoa é de suma importância para sua experiência
e seu desenvolvimento vital, para sua saúde psíquica, sua atitude para consigo mesmo e para com os outros.
O conceito de si mesmo tem uma influência decisiva em como percebe os acontecimentos, os objetos e as
outras pessoas em seu meio ambiente. O autoconceito influi de forma considerável, portanto, no
comportamento e nas vivências do indivíduo.
A criança desenvolve seu autoconceito; ela cria sua auto-imagem, ou seja, a criança não nasce com
um conceito próprio determinado. Autores clássicos no estudo do autoconceito afirmam que as crianças
recebem informações sobre si mesmas dos adultos significativos em sua vida, como os pais, irmãos,
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professores ou colegas. Se o reflexo for positivo, desenvolvem uma avaliação positiva. Se a imagem for
negativa, deduzem e passam a acreditar que têm pouco valor. Assim, auto-estima é a atitude valorativa
emocional que uma pessoa tem de si mesma, ou seja, a percepção do próprio valor pessoal, proveniente da
experiência do meio ambiente e do contato com os outros.
Interação e Interdependência
O desenvolvimento da criança se dá por áreas e em determinado momento a criança pode estar em
diferentes níveis de desenvolvimento físico e mental. Ou seja, certas funções estão mais amadurecidas que
outras. De acordo com Vygotsky, psicólogo russo, tudo se passa como em uma roseira: os botões se abrem
em momentos diferentes. A capacidade de florescer depende da maturação, dos estímulos dados pelo
ambiente e também dos olhos humanos, capazes de presenciar sua beleza.
As imagens que utilizamos quando falamos em desenvolvimento são freqüentemente inspiradas nos
processos de crescimento das plantas e também dos animais. “Saltamos de galho em galho”, quando
passamos por fases e temos um ciclo de vida evolutivo que se inicia da indiferenciação e se encaminha para a
individuação.
Na base de todas essas imagens está uma visão naturalista do desenvolvimento, ligadas aos padrões
do crescimento biológico. Desenvolver-se é amadurecer, como uma fruta que cresce, amadurece e cai. Tudo
tem uma função, neste caso, a reprodução do ciclo da vida. Os órgãos do corpo também seguem um roteiro
funcional. Eles servem para o movimento, a fala, o pensamento e a emoção. O fato de os músculos da
criança estarem maduros, prontos para cumprir sua função de força e movimento, é o estímulo para que ela
comece a andar. Dessa necessidade nasce o impulso que vai tentar satisfazer ou não o movimento.
Mas ao mesmo tempo em que a criança sente esse impulso interno, biológico, ela é atraída por
estímulos externos, presentes no ambiente social em que vive. Com músculos firmes e algum equilíbrio,
sentimento de confiança e afeto, a criança é impulsionada a andar em direção a um objeto, que pode ser a
mãe. A relação entre as diversas áreas do desenvolvimento é complexa. Se ficarmos apenas com a
abordagem naturalista, segundo a qual o comportamento depende exclusivamente da maturação do
organismo, estamos reduzindo o fenômeno a dados quantitativos. Mas as diferentes experiências que a
criança adquire provocam mudanças qualitativas fundamentais. Como o amadurecimento se dá de modo
desigual, as partes do organismo ajudam-se umas às outras com vistas ao comportamento final.
Por exemplo, quando uma criança não alcança um objeto por falta de controle motor suficiente, ela
diz “me dá”, completando o que deseja pela utilização da linguagem já adquirida. Como o impulso para agir
é maior que o controle que ela tem sobre o movimento corporal, ela utiliza a fala para completar a ação.
Além disso, ela se vale da imaginação, do afeto e da presença do outro para completar a ação. O desempenho
vai se tornando mais complexo e muda de qualidade cada vez que passa a iniciar o gesto, a fala, a relação
afetiva e social com o objeto.
A presença do outro passa a fazer parte da constituição de cada ser. É um orientador, uma sentinela,
um juiz mas também um facilitador para que a criança tenha confiança em conseguir o que deseja. A
presença do outro é estímulo para que sinta confiança em experimentar a vida, desenvolvendo-se como ser
integral e integrand-se ao meio social. Nesse sentido, os familiares deixam de ser elementos externos,
constituindo uma parte da consciência da criança.
O desenvolvimento é um contínuo processo de formação e destruição que parte do mais simples
ciclo biológico para o mais complexo mundo de significações. O homem não é,então, um agente passivo de
mudanças trazidas pelo desenvolvimento. Ele intervém através dos instrumentos culturais do ambiente em
que vive. Os objetos, as pessoas e a linguagem constituem o sujeito, direcionando sua consciência para um
sentimento de integração social.
Ao mesmo tempo em que a criança e o adolescente se desenvolvem, há uma transformação de tudo o
que está ao seu redor. Eles aprendem e ensinam. Antes de assimilarem crenças, valores, conhecimento
científico ou artístico, fazem seu questionamento através do comportamento, obrigando a sociedade a refletir
sobre si mesma a cada geração. Através do comportamento contestador, o adolescente revela sua vocação de
revisor do processo educacional e social. O comportamento que consideramos desviante muitas vezes pode
ser a denúncia de que alguma coisa está errada.
Costumamos dizer que as crianças de hoje aprendem mais cedo os fatos da vida e freqüentemente
surpreendem os pais com observações e condutas “que ninguém ensinou”. Cada geração tem um avanço
significativo, que contrasta com o da anterior. As características das mudanças atuais dependem de muitos
fatores da vida moderna que estimulam a aprendizagem e o desenvolvimento. A família, que controlava de
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perto a vida das crianças, deixou de ser sua única fonte de informação. Com a abertura da família para o
mercado de trabalho, as crianças e os adolescentes recebem muitas informações, vindas dos meios de
comunicação, especialmente da televisão.
A ausência dos pais, em grande parte substituídos por outras influências, deixa a criança sem
referencial. As crianças passam a imitar os comportamentos veiculados pelos meios de comunicação como
adequados para a vida moderna, tais como atitudes, gestos, linguagem e modo de ser e de se vestir. O grau de
informação é muito maior que antes, mas o que é aprendido nem sempre é inteiramente assimilado. Há um
problema com os significados, que só serão absorvidos depois que a criança tiver condições suficientes para
abstrair e formar categorias a partir da experiência intelectual. Esses processos são decisivos para a formação
do pensamento lógico, capaz de dar um sentido aos fragmentos de informação que captamos por todos os
lados.
Pais, Filhos e o Aprender
O início da aprendizagem se dá em casa. Quando a criança vai para a escola, ela já aprendeu aquilo
que a torna apta para iniciar o tipo de aprendizagem mais sistematizada que a escola propõe. As primeiras
noções de tamanho, quantidade, os primeiros exercícios com operações aritméticas, a aprendizagem de
nomes, juntam-se às habilidades de andar, falar, vestir, comer, já aprendidas em casa e importantes para a
freqüência à escola.
Essa aprendizagem realizada em casa depende da confiança que a criança tem na aceitação e na
proteção dos pais. Somente assim ela vai poder experimentar as possibilidades do amadurecimento, livre da
ansiedade ou do medo que inibem sua ação. Sabemos que para aprender é necessário ir além dos limites
conhecidos. Em casa, os pais devem servir de salva-vidas psicológicos e até físicos, para eventuais socorros.
Pais adequados cumprem esse papel como observadores cuidadosos, mas pais inseguros exageram nos
limites, inibindo tentativas, gerando insegurança e culpa, impedindo a iniciativa. Há também o caso dos pais
que simplesmente se omitem. Como os critérios de avaliação familiar têm forte apelo emocional, existe nos
pais a tendência de preferir os comportamentos que se conformam com a imagem que a família tem de si
mesma. Os filhos são “bem-educados” quando se submetem aos padrões e “mal-educados”, no momento de
transgressão das regras impostas.
Família, Escola e Aprendizagem
É a família quem primeiro proporciona experiências educacionais à criança, no sentido de orientá-la
e dirigi-la. Tais experiências resumem-se num treino que, algumas vezes, é realizado no nível consciente,
mas que, na maior parte das vezes, acontece sem que os pais tenham consciência de que estão tentando
influenciar o comportamento dos filhos.
Como afirma Lindgren, “este tipo de aprendizagem e ensino em diferentes níveis de consciência dáse durante todo o tempo, dentro ou fora da escola. Os pais e professores estão sempre ensinando
simultaneamente em diferentes níveis de consciência, e as crianças estão sempre aprendendo em diferentes
níveis. As coisas ensinadas ou aprendidas conscientemente podem ou não ser importantes e podem ou não
fixar-se.”
Ainda segundo esse autor, “o que é ensinado e aprendido inconscientemente tem mais probabilidade
de permanecer.” No exemplo citado por ele, um estudante pode esquecer muitas das noções que aprendeu
com alguns professores, mas lembra o tipo de pessoas que eram e as atitudes que tinham em relação a ele.
Na família ocorre o mesmo. A criança retém definitivamente os sentimentos que seus pais têm em
relação a ela e à vida em geral. Esses sentimentos serão a base para o conceito que ela formará de si própria
(autoconceito) e do mundo. Uma criança que é desprezada aprende a desprezar-se; uma criança que é amada
e aceita, tenderá a desenvolver atitudes positivas para a formação de seu autoconceito.
Segundo Gagné, “dizem que a experiência é o maior dos mestres; isto significa que os
acontecimentos vividos pelo indivíduo em desenvolvimento – em sua casa, em seu meio geográfico, na
escola e em seus vários ambientes sociais – determinarão o que ele vai aprender e, também, em grande parte,
a espécie de pessoa que se tornará.”
Diferentemente da educação familiar, a escola tem critérios mais objetivos na avaliação do
desempenho, sem deixar de lado a questão dos afetos. Ela dá ênfase ao pensamento formal, que prepara para
o conhecimento científico em um contexto social de cooperação. É através de conteúdos escolhidos, tarefas
específicas e atividades programadas que a escola constrói uma metodologia e realiza seu objetivo. O projeto
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educacional leva em conta a capacidade dos alunos para atingir seus objetivos com relação a uma
aprendizagem que seja significativa e integrada no desenvolvimento do indivíduo e da sociedade em que está
inserido.
Na escola, o professor deve estar sempre atento às etapas do desenvolvimento do aluno, colocandose na posição de facilitador da aprendizagem e calcando seu trabalho no respeito mútuo, na confiança e no
afeto. Como afirma Rogers, “ele deverá estabelecer com seus alunos uma relação de ajuda, atento para as
atitudes de quem ajuda e para a percepção de quem é ajudado”.
É de suma importância, portanto, que o professor conheça o processo da aprendizagem e esteja
interessado nas crianças e jovens como seres humanos em desenvolvimento. Ele precisa saber o que seus
alunos são fora da escola e como são suas famílias.
Quando um educador respeita a dignidade do aluno, trata-o com compreensão e ajuda construtiva,
ele desenvolve na criança a capacidade de procurar dentro de si mesma as respostas para os seus problemas,
tornando-a responsável e, conseqüentemente, agente do seu próprio processo de aprendizagem.
Aprendizagem e Desenvolvimento: diferentes olhares
A abordagem que ultrapassa os aspectos puramente inatos do naturalismo é baseada na interação
destes com os aspectos ambientais e sociais. A visão interacionista de Vygotsky nega a existência de estágios
de desenvolvimento universais válidos para todas as crianças. São as condições ambientais, históricas ou
familiares que determinam as oportunidades para o desenvolvimento de cada indivíduo. A aprendizagem e
desenvolvimento são processos integrados. As metodologias escolares costumam dar maior ênfase a um ou a
outro processo, acreditando ser mais eficaz para os seus objetivos.
Vygotsky descreve três abordagens teóricas que privilegiam a aprendizagem ou o desenvolvimento
como prioritário para a ação escolar: o construtivismo psicogenético de Piaget, o comportamentalismo
behaviorista e o sócio-interacionismo proposto por ele.
A teoria do desenvolvimento de Jean Piaget, pesquisador suíço, defende a idéia de que o
desenvolvimento tem base genética, caráter universal e é independente da aprendizagem. Para aprender, a
criança deve estar pronta, isto é, ter uma maturação biológica e uma condição psicológica para a aquisição de
informações de acordo com essa prontidão. A criança que não estiver pronta não tem repertório para
aprender questões além do estágio cognitivo em que se situa. A criança pequena, por exemplo, responde
apenas as questões que envolvem um pensamento concreto.
Para Piaget, a lógica abstrata só se desenvolve mais tarde, já na idade escolar. Exigir sua utilização
antes disso seria inútil e até prejudicial. É tarefa do educador perceber quando uma criança está preparada
para aprender.
O processo de aprendizagem é interligado ao desenvolvimento para o behaviorismo. Os
pesquisadores das teorias do condicionamento a partir dos reflexos (comportamentalismo ou behaviorismo)
dizem que aprendizagem e desenvolvimento são simultâneos: a partir de uma resposta inata, podem-se
instalar comportamentos aprendidos por condicionamento. Se uma criança consegue fazer um movimento
adequado, pode-se fixar esse comportamento dando reforço para que ele se repita sempre, estabelecendo o
hábito. Com a aprendizagem, há o desenvolvimento.
Posição do Sociointeracionismo
A tendência de várias teorias mais recentes é de reconhecer que, quando há visões tão extremas sobre
os mesmos assuntos, é preciso um equilíbrio entre elas. Dizer que as duas perspectivas opostas são
independentes ou simplesmente paralelas, priorizando uma em detrimento da outra, parece exagero. O
esforço de provar que uma delas é correta e a outra, insatisfatória, só comprova a importância de ambas;
nenhuma delas pode ser descartada. A aprendizagem e o desenvolvimento são, no mínimo, interrelacionados.
Vygotsky discute a questão combinando dois pontos de vista históricos. Concorda que a diferença
entre eles demonstra que ambos são necessários para a compreensão do que ocorre. O processo maturacional
prepara as condições para a aprendizagem. Nesse caso, o fator aprendizagem ajuda a estimular a maturação.
Há interdependência entre esses fatores, e um não existe sem o outro. Mas o aprendizado é mais decisivo no
desenvolvimento que a simples estimulação. Há unidade entre os processos, mas eles não são idênticos. Eles
se compõem e até se transformam um no outro.
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Na verdade, o processo de desenvolvimento é um pano de fundo para a aprendizagem. Mas esta deve
antecipar e provocar as capacidades existentes e ainda adormecidas. A aprendizagem provoca capacidades
internas que se estabeleceram pela maturação mas que dependem de estímulos externos para despertarem. O
meio social é decisivo para que a criança consiga internalizar os processos de desenvolvimento adquiridos e
passe a assumir como seus os dados da realidade apreendidos pela aprendizagem.
Referências:
BOCK, Ana M. B. FURTADO, Odair. TEIXEIRA, Maria de Lourdes T. Psicologias: uma introdução ao
estudo da psicologia. 8. ed. São Paulo: Saraiva, 1995.
DELDIME, Roger. VERMEULLEN, Sônia. O desenvolvimento psicológico da criança. Tradução Maria
Elena Ortiz Assumpção. Bauru: EDUSC, 1999. (Educar)
JOSÉ, Elisabete Da Assunção. COELHO, Maria Teresa. Problemas de aprendizagem. 5. ed. São Paulo:
Ática, 1993.
MOREIRA, Paulo Roberto. Psicologia da educação: interação e identidade. 2. ed. São Paulo: FTD, 1996.
SÁNCHEZ, Aurélio Villa. ESCRIBANO, Elena Auzmendi. Mediação do autoconceito. Tradução Cristina
Murachco. Bauru: EDUSC, 1999.
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