Faculdade de Medicina da Universidade do Porto Regulação e Amplificação da reacção imunológica : – Citocinas e Quimiocinas 16 -11- 06 Imunologia 2006/2007 8 páginas Citocinas: características gerais Citocinas – pequenas moléculas proteicas (<30kDa), produzidas por leucócitos e células estruturais, envolvidas na diferenciação das células imunocompetentes e na regulação dos mecanismos efectores das respostas imune e inflamatória. Têm, em regra, uma semivida plasmática curta o que condiciona a sua acção a uma distância curta, contudo, esta acção pode se fazer sentir por via autócrina, parácrina e até endócrina. O efeito de uma dada citocina resulta de uma cascata biológica de acontecimentos: Estimulo Produção da citocina Efeito Biológico Activação/Bloqueio de genes Interacção com o receptor na célula-alvo Transdução do sinal Características das citocinas: – Pleiotropia – uma mesma citocina pode ter várias acções em contextos biológicos diferentes – Redundância – várias citocinas podem exercer a mesma acção – Sinergismo – várias citocinas podem cooperar para uma acção final comum – Antagonismo – a acção de uma citocina pode anular e contrariar o efeito de outra 1/8 Classificação estrutural das citocinas: 4 famílias – Classe I – família das hematopoietinas (ex: IL-4) – Classe II – família do interferão – Classe III – famíla do factor de necrose tumoral (TNF) – Classe IV – família das quimiocinas Receptores das citocinas: 5 famílias – Receptores da Superfamília das imunoglobulinas – apresentam 4 domínios conservados de cisteína e um domínio sxws-triptofano-serina – figura 1A – Receptores da Classe I (hematopoietinas) – figura 1B – Receptores da Classe II (interferão) – figura 1C – Receptores da Classe III (TNF) – figura 1D – Receptores das quimiocinas – ligados a proteínas G A) B) C) D) Figura 1 – receptores das citocinas Dentro dos receptores das citocinas da classe I, encontramos várias subfamílias: – Subfamília GM-CSF – apresentam uma cadeia β comum, responsável pela transdução do sinal, e uma cadeia α diferente, responsável pela interacção com a molécula. – Subfamília IL-6r – possuem uma unidade glicoproteica gp130. – Subfamília IL-2r – apresentam uma cadeia γ comum. Os receptores das citocinas apresentam sempre duas cadeias de domínios citoplasmáticos, cada uma das quais ligada a uma Janus Kinase (figura 2A). A ligação da citocina ao receptor provoca a sua dimerização, o que leva à junção das duas janus kinases (JAKs); estas vão-se activar reciprocamente e fosforilar o receptor (figura 2B). Os factores de transcrição (STATs) ligam- 2/8 se ao receptor dimerizado e fosforilado sendo, também eles, fosforilados pelas JAKs (figura 2C). Os STATs fosforilados dimerizam e são translocados para o núcleo onde vão induzir a transcrição de dados genes (figura 2D). A) B) C) D) Figura 2 – transdução do sinal Classificação funcional das citocinas: Funcionalmente, as citocinas são classificadas consoante a sua participação na imunidade inata (ex. IL-1; IL-6; IFN-β) ou na imunidade adaptativa (ex. IL-2; IL-4; IL-5; IFN-γ). Quimiocinas: características gerais Quimiocinas – superfamília de pequenas moléculas proteicas (8-16kDa) com elevada homologia, que controlam selectiva e especificamente a adesão, quimiotaxia e activação leucocitária, estando, por isso, envolvidas quer na inflamação, quer na homeostasia e desenvolvimento orgânico. São as responsáveis pela regulação de todo o processo dinâmico de trânsito celular. As quimiocinas são produzuidas essencialmente por monócitos e macrófagos, e também por células estruturais, células endoteliais e fibroblastos. Classificação das quimiocinas: Estruturalmente, as quimiocinas possuem, no meio da molécula, ligações dissulfuradas, que fazem ponte entre dois pares de cisteínas. A classificação é feita tendo em conta o número de aminoácidos existentes no 1º e no 2º resíduos de cisteína; assim estão definidas quatro subfamílias: 3/8 – Subfamília α ou CXC– 1 aminoácido – a maioria são pró-inflamatórias e a quimiotaxia depende dos receptores a que se ligam. – Subfamília β ou CC– nenhum aminoácido – a maioria são próinflamatórias e, tipicamente, induzem inflamação crónica e inflamação alérgica. – Subfamília δ ou CX3C– 3 aminoácidos - representada pela fractalcina, quimiotáctica para mononucleares. – Subfamília γ ou XC– 2 aminoácidos – representada pela linfotactina, quimiotáctica para linfócitos T e células dendríticas. Receptores das quimiocinas: 4 famílias Os receptores das quimiocinas pertencem à superfamília dos receptores de sinalização intracelular acoplados a proteínas G (GTP-binding), com 7 domínios transmembranares ligados por 3 ansas intracitoplasmáticas e 3 ansas extracitoplasmáticas. Os receptores das quimiocinas partilham até 90% da sequência de aminoácidos e dividem-se em quatro famílias (figura 3): Figura 3 – subfamílias das quimiocinas (x representa os aminoácidos entre os dois resíduos de cisteína) e seus receptores – Receptores da família α ou CXCR – são 5 subtipos (CXCR1-5), e estão envolvidos em funções diferentes – CXCR1-3 estão envolvidos na resposta inflamatória, enquanto CXCR4-5 ; dentro da família α das quimiocinas encontramos subtipos que se vão ligar aos diferentes CXCRs: 4/8 – As CXC ELR+ (IL-8, GRO, NAP-2) ligam-se aos CXCR1 e CXCR2, expressos nos polimorfonucleares; tipicamente, induzem a inflamação aguda – chamada de leucócitos. – As CXC ELR- (IP-10, Mig, I-TAC – proteínas induzidas pelo interferão) ligam-se ao CXCR3, expresso em linfócitos T activados, monócitos e NK; tipicamente, induzem a inflamação crónica. – Os receptores CXCR4 e CXCR5 são ligandos para factores derivados do estroma, responsáveis por guiar as células B até ao gânglio linfático. – Receptores da família β ou CCR – são 9 subtipos (CCR1-9), e estão envolvidos essencialmente na inflamação (CCR1,2,3,5,8) e na regulação do trânsito celular (CCR4,6,7,9). – Receptores da família δ ou CX3CR – actuam na ancoragem dos leucócitos ao endotélio. – Receptores da família γ ou XCR – actua na chamada de células T. A expressão dos receptores das quimiocinas podem ser constitutiva ou induzida e o mesmo receptor pode ligar-se a várias quimiocinas (figura 4). Figura 4 – redundância dos receptores das quimiocinas A ligação das quimiocinas aos receptores é uma ligação de alta afinidade e, da activação das proteínas G resulta o desenrolar de cascatas de segundos mensageiros intracelulares, culminando na entrada de cálcio, na mobilização de microtúbulos e na activação celular (figura 5). 5/8 Figura 5 – funcionamento dos receptores das quimiocinas Quimiocina e a doença (alguns exemplos) – Os agonistas do CCR5 estão envolvidos na imunidade TH1 – alterações disfuncionais do CCR5 condicionam doenças auto-imunes. – Os agonistas do CCR8 estão envolvidos na imunidade TH2 – alterações disfuncionais do CCR8 condicionam doenças alérgicas. – Os ligandos para a IL-8 podem estar envolvidos em fenómenos de sépsis. – Os ligandos do CXCR3 estão envolvidos na inflamação crónica e na regeição aos transplantes. Figura 6: associações entre quimiocinas, seus receptores e doenças 6/8 HIV: O receptor CXC-R4 é expresso nas células T naive, onde funciona como co-receptor para o HIV nas células CD4+ permitindo a sua infecção. O CC-R5 (receptor para as quimiocinas β) é expresso na linhagem macrofágica (as β quimiocinas actuam no recrutamento de monócitos e macrófagos) e funciona também como co-receptor para o HIV, mas para os macrófagos, que, neste caso, agem como reservatórios de vírus, permitindo a sua difusão pelo organismo. Indivíduos com polimorfismos CC-R5 (figura 7) que alteram a funcionalidade deste receptor apresentam uma extraordinária resistência à infecção por HIV e à progressão da doença. Figura 7: polimorfismos CC-R5 e resistência ao HIV Asma: A migração eosinofílica pulmonar característica da asma alérgica ocorre, essencialmente, à custa de quimiocinas produzidas pelas células epiteliais e pelos macrófagos (estas induzidas pelo interferão). A invasão por células TH2 deves-se à expressão de ligandos para os receptores CCR3,4,8 e CXCR4, levando a uma perpetuação da resposta inflamatória – resposta inflamatória crónica. A IL-3 encontra-se no centro de um conjunto de eventos relacionados na asma alérgica (figura 8), através da actuação: – sobre as células epiteliais aumentando a produção de muco e levando a produção de eotoxina, quimiotática para eosinófilos; 7/8 – sobre os fibroblastos, induzindo a produção de fibronectina; – sobre o músculo liso, induzindo broncoconstrição. IL-3 Figura 8 – fisiopatologia da asma Esclerose Múltipla: A chamada de macrófagos e de células T depende igualmente da expressão de diversas quimiocinas. E pronto, já está!! Não foi assim tão difícil.... não é das coisas mais agradáveis do mundo mas também não é nenhum bicho de sete cabeças...... Espero que a aula te seja útil e que, já agora, te inscrevas para desgravar outra!! E, de preferência, fá-lo rapidamente!! Beijos grandes e boa sorte a todos, Ana Isabel Penas 8/8