Uncaria tomentosa (Cat`s claw): uma potencial estratégia

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de Souza AL, Cimerman S • Uncaria tomentosa (Cat’s claw): uma potencial estratégia...
ARTÍCULO DE REVISIÓN/ARTIGO DE REVISÃO
Uncaria tomentosa (Cat’s claw): uma potencial
estratégia terapêutica para herpes labial
Uncaria tomentosa (Cat’s claw): a potential therapeutic strategy
for herpes labialis
Alexandre Leite de Souza1
Sergio Cimerman2*
Médico e Infectologista pelo Instituto de Infectologia Emílio Ribas (IIER), Pós-Graduando
da Faculdade de Medicina da Universidade de
São Paulo (FMUSP).
2
Professor de Infectologia da Faculdade de
Medicina da Universidade de Mogi das Cruzes,
Instituto de Infectologia Emílio Ribas.
1
Rev Panam Infectol 2010;12(2):51-57.
Conflicto de intereses: ninguno
Resumo
Uncaria tomentosa, uma planta medicinal das florestas da América Central e região Amazônica, tem sido empregada terapeuticamente
por populações indígenas desde tempos remotos e cientificamente
revelou atividades imunomoduladora, anti-inflamatória e antiviral.
Globalmente, as enfermidades virais, incluindo vírus emergentes
e crônicos, representam uma crescente preocupação de saúde
pública. De fato, uma elevada percentagem da população mundial
está infectada pelo vírus Herpes simplex tipo I (HSV-1). Como consequência, a descoberta de novos agentes antivirais provenientes
de plantas medicinais tornou-se mais urgente do que antes. Este
artigo de revisão explora a composição química, as propriedades
farmacológicas, pesquisas atuais, emprego clínico, assim como a
ação antiviral, anti-inflamatória e imunomoduladora da U. tomentosa.
Palavras-chave: Fitoterapia, Uncaria tomentosa, unha-de-gato,
herpes labial, herpes genital.
Abstract
Uncaria tomentosa, a medicinal plant from the Amazon and
Central American rainforests has been used medicinally by indigenous peoples since ancient times and has scientifically proven
immunomodulating, anti-inflammatory, and antiviral activities.
Viral diseases, including emerging and chronic viruses, are an
increasing worldwide health concern. In fact, a high percentage
of the world’s population is infected with herpes simplex virus
type 1 (HSV-1). As a consequence, the discovery of new antiviral
agents from medicinal plants has assumed more urgency than in
the past. This review article explores the chemical composition,
pharmacological properties, current research, clinical use, as well
as potential antiviral, antiinflammatory and immunomodulating
activity of U. tomentosa.
Key words: Phytotherapy, Uncaria tomentosa, Cat’s claw, herpes
labialis, genital herpes.
Recibido en 11/5/2010.
Aceptado para publicación en 10/6/2010.
Introdução
Historicamente, os extratos de Uncaria tomentosa são
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habitualmente empregados por comunidades indígenas
das Américas Central e do Sul há 2.000 anos.(1) A U.
tomentosa é coloquialmente conhecida como “unhade-gato” (Cat’s claw na literatura inglesa), uma planta
autóctone da região Amazônica e florestas tropicais
da América Central.(2) Notavelmente, a unha-de-gato
apresenta uma ampla gama de propriedades medicinais,
sendo tradicionalmente empregada para gastrite, úlcera
péptica, artrite, asma, assim como anti-inflamatório,
antiviral e ativador do sistema imunológico.(1-4) Este
artigo objetiva explorar as críticas ações imunológicas
e anti-inflamatórias evocadas pela U. tomentosa na fisiologia humana, assim como seu potencial antiviral, a
fim de justificar racionalmente o emprego dessa planta
medicinal como opção terapêutica para o herpes labial.
Contudo, o conhecimento científico dos mecanismos
moleculares e celulares envolvidos na fisiopatologia
do herpes labial é crucial para podermos entender o
verdadeiro papel terapêutico dessa planta medicinal.
Assim, a interface entre as propriedades medicinais da
U. tomentosa e a fisiopatologia clínica do herpes labial
será explorada neste artigo, a fim de justificar o uso dessa planta medicinal para o tratamento do herpes labial.
Herpes labial
Globalmente, as infecções evocadas pelos vírus
Herpes simplex (HSV) permanecem como um significativo desafio para a esfera de saúde pública, médicos e
pesquisadores.(5-7) Historicamente, desde as descrições
de algumas enfermidades cutâneas por Hipócrates na
clássica Grécia Antiga, o HSV (membro da família Herpesviridae) tem sido suspeito de causar infecções em
seres humanos.(8) De fato, a própria palavra herpes deriva
do grego e significa “rastejar” (como uma serpente)
em função das características morfológicas das lesões
cutâneas. No fim da década de 1960 observaram-se
diferenças antigênicas e biológicas bem definidas entre
os vírus Herpes simplex tipo I (HSV-1) e o vírus Herpes
simplex tipo 2 (HSV-2).(8) A família Herpesviridae inclui
outros vírus além dos vírus HSV-1 e HSV-2, tais como
os seguintes: citomegalovírus (CMV), vírus Epstein-Barr
(EBV), vírus varicela-zóster (VZV) e Herpesvirus hominis
6, 7 e 8 (HVH-6, HVH-7 e HVH-8). Universalmente, o
HSV-1 está associado a infecções orais e faciais (estomatite herpética, faringite herpética e herpes labial),
pois apresenta maior tropismo pela mucosa oral, enquanto o HSV-2 induz lesões principalmente em sítios
genitais.(7,9,10) Contudo, a infecção pelo HSV-2 também
pode induzir herpes labial, a qual raramente apresenta
reativação no futuro.(10)
Aspectos epidemiológicos
Epidemiologicamente, o HSV é um agente infeccioso de ampla distribuição mundial, sendo o ser humano
52
o único reservatório natural conhecido. O cenário clínico do herpes labial ostenta uma taxa de incidência
anual igual a 1,6 por 1.000 indivíduos e uma taxa de
prevalência anual igual a 2,5 por 1.000 indivíduos.(11)
O HSV é altamente contagioso para indivíduos que não
tiveram contato prévio com o vírus ou para aquelas
pessoas cujo sistema imunológico está debilitado, tais
como transplantados, portadores do vírus HIV com
substancial redução do CD4 (< 200 células/microL),
hepatopatas ou portadores de neoplasias.
Tipicamente, a infecção primária pelo HSV-1 é assintomática e incide antes dos 20 anos de idade.(11) De
fato, anticorpos contra o HSV-1 podem estar presentes
em até 80% dos adolescentes.(11) Em geral, 20 a 40%
da população adulta desenvolve reativação da enfermidade.(12) Um estudo realizado nos Estados Unidos
demonstrou que 57% a 80% da população apresenta
sorologia positiva para o HVS-1, especialmente as
camadas da população cujo status socioeconômico
é desfavorável.(9) Caracteristicamente, o número de
reativações da doença apresenta um decréscimo após
os 35 anos de idade.(11) É importante enfatizar que o
quadro de herpes labial pode induzir herpes genital,
quando há prática de sexo oral durante a doença.(13)
Espectro clínico
Clinicamente, os vírus HSV-1 e HSV-2 podem aflorar no ser humano através de múltiplas enfermidades,
dependendo do status imunológico do hospedeiro, da
via de entrada ou se é uma infecção primária ou uma
reativação do vírus.(7,10) O quadro clínico do herpes
labial apresenta as seguintes etapas e características:
· Comumente, a doença emerge clinicamente
entre o primeiro (1°) e o vigésimo sexto (26°) dia após
a inoculação ou invasão do hospedeiro suscetível;(9)
· Primeiramente, há prurido e ardor no sítio onde
irão emergir as lesões cutâneas;
· Subsequentemente, múltiplas vesículas afloram
sobre uma superfície eritematosa e edemaciada da
pele, configurando um padrão de cacho ou buquê;
· Posteriormente, as vesículas evoluem para
bolhas e se rompem, resultando na liberação de um
líquido com elevada concentração de vírus e formação
de uma superfície ulcerada. É uma fase altamente
contagiosa;
· Finalmente, a superfície lesada evolui para
crostas e inicia-se o processo de cicatrização;
· Em geral, a duração do quadro clínico de herpes labial primário compreende entre 10 e 14 dias,
enquanto o quadro de reativação persiste em média
por cinco dias;(9)
· Contrastando com os episódios de recidiva
ou reativação, a infecção primária está comumente
associada a fenômenos sistêmicos, tais como febre,
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cefaleia, mialgia, anorexia e astenia.(9) Além disso, há
casos dramáticos de herpes labial que podem interferir
com a ingestão de água e alimentos, o que resulta em
desidratação.(9) Enquanto a linfoadenopatia-satélite
advém tanto na infecção primária quanto na recidiva;
· Embora os sintomas possam ser significativos
como os descritos acima, a infecção primária pelo
HSV-1 é peculiarmente assintomática. De fato, um
estudo retrospectivo demonstrou que apenas 25% dos
indivíduos com sorologia positiva para HSV-1 apresentavam histórico prévio de herpes labial.(14)
Além dos quadros clássicos de herpes labial e
genital, o HSV pode induzir os seguintes fenômenos
clínicos: estomatite herpética, faringite herpética,
ceratite herpética, infecções cutâneas, assim como
afecções esofágicas, gástricas e intestinais.(14-20) Há
também quadros dramáticos e potencialmente fatais,
como encefalite herpética, eritema multiforme, hepatite, sepse, pneumonia, eczema herpeticum, herpes
neonatal e herpes disseminada.(7,20-25) Notavelmente,
há estudos recentes que sugerem o envolvimento do
HSV-1 com a doença de Alzheimer.(20)
Aspectos fisiopatológicos
As alterações histopatológicas induzidas pela replicação do HSV são similares tanto na infecção primária
quanto na recidiva. Em função do status imunológico
do hospedeiro podem se suceder viremia e invasão de
outros tecidos, incluindo tecido hepático e sistema
nervoso central.(20,25) Fisiopatologicamente, um fator
crítico para a transmissão do HSV é o contato íntimo
entre uma pessoa portadora do vírus e um hospedeiro
suscetível. Subsequente à inoculação do vírus através
do tecido cutâneo ou mucosa oral, o HSV deflagra
um processo de replicação viral dentro das células
epiteliais. À medida que o processo de replicação viral
evolui, advêm lise celular e inflamação local, resultando no florescimento de vesículas sobre uma superfície
cutânea eritematosa e edemaciada. As vesículas são
preenchidas por um líquido claro, o qual contém uma
alta densidade de vírus. Posteriormente, o líquido vesicular se torna purulento devido à presença de células
inflamatórias em seu interior. Os vasos linfáticos e
linfonodos regionais sofrem expansão de seus volumes
como reflexo do incremento do número de linfócitos e
drenagem das secreções virais. Finalmente, as bolhas
com conteúdo purulento evoluem para crostas e iniciase o processo de cicatrização epitelial.
Uma característica notável do HSV é tornar-se
inativo por períodos de tempo variáveis e então, subitamente, ativar novamente seu mecanismo de replicação.
O estado de latência advém quando o HSV alcança os
gânglios das raízes nervosas (núcleo do nervo trigêmeo)
após migrar retrogradamente através dos axônios das
células nervosas sensoriais.(7,20) A reativação do HSV
é um fenômeno biológico bem conhecido, porém os
fatores moleculares e celulares envolvidos neste processo ainda não foram completamente decifrados.(20)
Os fatores potencialmente relacionados com a reativação do HSV são os seguintes: estresse emocional,
menstruação e exposição aos raios ultravioleta.(7)
Estratégias terapêuticas tradicionais
Atualmente, os principais tratamentos tópicos
para o herpes labial são representados pelo aciclovir
e penciclovir creme. Já as estratégias terapêuticas
fundamentais por via oral são o aciclovir, o valaciclovir
e o fanciclovir.(12) Contudo, além do tratamento tópico
exigir múltiplas aplicações ao longo de vários dias, os
resultados dos estudos clínicos demonstraram eficácia
limitada nesta modalidade terapêutica, enquanto as
drogas sistêmicas (via oral) revelaram maior efetividade
com menor número de doses.(6,9,11,12)
O efeito do aciclovir creme (cinco vezes ao dia
durante cinco dias) foi adequadamente avaliado em 10
estudos (o número de pacientes por estudo variou entre
30 e 673).(26-35) Em todos os estudos, o tratamento foi
iniciado assim que emergiram os primeiros sintomas,
porém nenhum dos estudos demonstrou decréscimo na
duração ou severidade da dor. Contudo, em oito estudos houve decréscimo na duração das lesões, variando
entre 0,5 e 2,5 dias.(26,27) Os resultados envolvendo o
penciclovir creme foram semelhantes.(36)
Nos quadros clínicos severos ou moderados de herpes labial primário é comumente recomendada a terapêutica oral.(9) Em um estudo controlado e randomizado
com crianças, o aciclovir suspensão oral (15 mg/kg, cinco vezes ao dia por sete dias) reduziu significativamente
a duração da doença e o período de transmissibilidade
do vírus.(37) No grupo tratado, o tempo médio de duração das lesões labiais foi igual a quatro dias, enquanto
no grupo placebo foi igual a nove dias.(37) Valaciclovir
(1 g de 12/12 horas por sete dias) e fanciclovir (500 mg
12/12 horas por sete dias) constituem opções terapêuticas para herpes labial primário, embora não tenham
sido realizados estudos controlados e randomizados.(9)
É importante enfatizar que a terapêutica alcança maior
efetividade quando iniciada precocemente, embora não
exerça influência nas taxas de recorrência.(9)
Nas infecções recorrentes, os agentes virais sistêmicos também são efetivos quando introduzidos nas
primeiras 48 horas após o início dos sintomas.(9) Estudos randomizados e controlados demonstraram que o
aciclovir oral (400 mg cinco vezes ao dia por cinco dias)
reduz o tempo da doença, assim como o período de
transmissibilidade do vírus, além de atenuar os sintomas de desconforto quando iniciado precocemente.(38-39)
Dois estudos randomizados e controlados mostraram
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que a administração de valaciclovir em apenas um dia
(2 g de 12/12 horas) reduziu significativamente a duração do episódio de herpes labial, incluindo tempo de
cura das lesões e tempo de duração do desconforto.(9)
Em um estudo controlado e randomizado, o fanciclovir
reduziu o tempo de doença e proporcionou alívio dos
sintomas, tanto em dose única de 1.500 mg quanto
na dose de 750 mg de 12/12 horas por um dia.(40)
Uncaria tomentosa (unha-de-gato)
Historicamente, a U. tomentosa é considerada uma
planta com características sagradas e medicinais há
2.000 anos.(1) A tribo indígena Asháninka, localizada na
região central do Peru, apresenta os relatos históricos
mais antigos sobre o uso dessa planta. Coloquialmente,
a U. tomentosa é conhecida como “unha-de-gato”, uma
planta indígena da região Amazônica e florestas tropicais
da América Central.(2) Na verdade, a unha-de-gato é uma
vinha de madeira larga e seu nome é proveniente dos
espinhos em forma de gancho que crescem ao longo da
vinha e envolvem a planta. Embora essa planta seja empiricamente utilizada há milênios pelas comunidades indígenas, o seu conhecimento científico emergiu apenas
na década de 1970, através dos estudos pioneiros de
Klaus Keplinger (jornalista e etnologista austríaco).(41) O
trabalho de Keplinger nos anos 70 e 80 levou os diversos
extratos da unha-de-gato a serem vendidos na Áustria
e Alemanha como fitoterápicos. Subsequentemente,
inúmeros estudos foram publicados na Europa e Estados Unidos, explorando o significativo valor medicinal
da unha-de-gato. O crescente interesse de laboratórios
internacionais pelo produto resultou no registro de seus
extratos, os quais foram amplamente comercializados
para uso oral (C-MED-100® e Krallendom®) como um
poderoso estimulante do sistema imunológico. Notavelmente, atribuem-se à unha-de-gato múltiplas propriedades medicinais, sendo empregada para gastrite, úlcera
péptica, artrite, câncer, hemorragias, irregularidade
menstrual, infecção urinária, asma, assim como antiinflamatório e ativador do sistema imunológico.(1-4,42-48)
A seguir destacamos os principais estudos clínicos e
fitoquímicos envolvendo a U. tomentosa:
· Estudos fitoquímicos
James Duke descreveu 29 elementos químicos
presentes na unha-de-gado e posteriormente outras
substâncias foram isoladas, incluindo 17 diferentes
alcaloides, glicosídeos do ácido quinóvico, taninos,
flavonoides, frações de esterol (sitosterol, sigmasterol
e capesterol) e triterpenos.(1,3,4, 42-50)
· Estudos de farmacologia pré-clínica
Os compostos mais estudados da unha-de-gato são
os alcaloides oxindólicos pentacíclicos em função de
suas características anti-inflamatórias, imunomodula-
54
doras, antioxidantes e citoprotetoras.(1-4) Os glicosídeos
do ácido quinóvico presentes na U. tomentosa foram
avalizados em culturas de células, apresentando ação
antiviral e anti-inflamatória.(2,44) O potencial mutagênico e antimutagênico da U. tomentosa foi estudado por
Rizzi e colaboradores, revelando ação antimutagênica
em sistemas fotomutagênicos in vitro e ausência de
efeito mutagênico em Salmonella typhimurium.(51) Similarmente, a unha-de-gato apresentou efeito protetor
contra a citotoxicidade induzida por raios UV.(52,53)
Experimentalmente, a unha-de-gato apresentou
ação protetora contra múltiplas forças oxidativas, incluindo o peroxinitrito, envolvido na fisiopatologia da
artrite e inúmeras enfermidades de natureza inflamatória
crônica.(3,52,53) Hoje, sabemos que a cascata inflamatória, subjacente a diversas patologias humanas, envolve
uma complexa rede de moléculas e células, onde cada
molécula e célula representa um elo crucial dentro de
uma extensa e delicada cadeia de eventos.(54) Os extratos
de U. tomentosa já demonstraram agir em vários pontos
estratégicos dessa cadeia de eventos inflamatórios,
incluindo via inibição da síntese de uma importante
citocina conhecida como fator de necrose tumoral-alfa
(TNF-a).(2,52,53,55) De fato, a unha-de-gato demonstrou
tanto em estudos in vitro quanto in vivo inibir a produção de TNF-a.(2,52,53,55) Citocinas, a exemplo do TNF-a,
são mensageiros moleculares estratégicos e constituem
um elo fundamental da cascata inflamatória.(54) Outro
mensageiro central envolvido na cascata inflamatória é o
fator nuclear kappa beta (FN-kb), que desempenha um
papel crítico na transcrição de diversos genes ligados à
síntese de citocinas.(54) Notavelmente, Sandoval-Chacón
e colaboradores demonstraram em 1998 que o FN-kb
é substancialmente reduzido in vitro por extratos de
unha-de-gato.(56) Posteriormente, esses achados foram
explorados e reforçados por Akesson e colaboradores,
que conseguiram evidências diretas da inibição do
FN-kb em culturas de linfócitos submetidas a ação da
U. tomentosa.(57) Desta forma, como o FN-kb ostenta um
papel central na ativação de diversos genes envolvidos
com a síntese de citocinas,(54) a poderosa ação anti-inflamatória atribuída à unha-de-gato relaciona-se à inibição
deste fator de transcrição.(1,57) Concomitantemente, a
U. tomentosa apresentou um efeito modulador sobre o
sistema imunológico, incluindo incremento do potencial
de divisão dos linfócitos e da atividade fagocítica.(58)
· Toxicidade pré-clínica
Em células CHO e células bacterianas, a toxicidade
dos extratos de U. tomentosa foi estudada in vitro, sendo
a toxicidade analisada em função de quatro sistemas:
ensaio do vermelho neutro (neutral red assay), conteúdo
proteico total (KB), ensaio do tetrazólio (MTT) e teste
Microtox. Os resultados não revelaram toxicidade in
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vitro em concentrações de até 100 mg/ml.(59) Keplinger
e colaboradores avaliaram a toxicidade da unha-de-gato
em cobaias, as quais receberam via sonda orogástrica
extratos de U. tomentosa contendo 35 mg de alcaloides
por grama de extrato (em dose única). Não foi observada
toxicidade com a dose empregada.(41)
· Ensaios clínicos (toxicologia e farmacologia clínica)
Um estudo clínico duplo-cego e controlado por
placebo, conduzido por Piscoya e colaboradores, envolvendo 45 pacientes com artrite de joelho, apontou que
a U. tomentosa apresentou uma ação anti-inflamatória
clinicamente efetiva, caracterizada pela redução do
edema e dos sintomas dolorosos. A dose empregada foi
de 100 mg/dia por via oral, durante quatro semanas, resultando em ausência de alterações hepáticas ou hematológicas. Notavelmente, a incidência e a frequência de
efeitos adversos neste estudo foram iguais às do grupo
placebo.(55) Além disso, outro relevante estudo clínico,
duplo-cego, randomizado e controlado por placebo, conduzido por Mur e colaboradores, utilizou extratos de U.
tomentosa como terapêutica para artrite reumatoide.(60)
s
Este estudo clínico envolveu 40 pacientes e revelou
considerável segurança dos extratos de unha-de-gato,
embora a resposta clínica tenha sido limitada.(60)
· Ensaios preliminares com o produto Imunomax Gel
O Imunomax Gel é um produto fitoterápico de uso
tópico que contém o extrato de unha-de-gato na formulação de 50 mg/grama, usualmente indicado para o tratamento de herpes simples, assim como anti-inflamatório
e analgésico.(61) Esse produto foi empregado em ensaios
de toxicologia pré-clínica para avaliar seu potencial
de irritabilidade dérmica em coelhos, assim como de
irritabilidade na mucosa vaginal em ratas.(61) Em ambos
os testes, o Imunomax não revelou atividade irritante
dérmica ou da mucosa vaginal.(61) Em outro estudo de
farmacologia pré-clínica, avaliando o efeito analgésico
e anti-inflamatório do Imunomax em camundongos, os
autores do Departamento de Farmácia da Universidade
Federal de Santa Catarina concluíram que o produto
demonstrou um significativo potencial analgésico na
dor causada por mecanismos inflamatórios.(61)
Em um estudo clínico piloto e controlado por placebo,
envolvendo 49 pacientes (19 homens e 30 mulheres; faixa
etária variando de 18 a 78 anos, média igual a 36,9 anos)
do Hospital do Clindacta II (Curitiba, PR), o Imunomax Gel
demonstrou ser bem tolerado clinicamente e não houve
relato de efeitos adversos pelos pacientes.(61) Havia 43
pacientes com diagnóstico clínico de herpes labial e seis
pacientes com diagnóstico de herpes genital. A eficácia
clínica foi avaliada como boa por 44 pacientes e excelente
por cinco pacientes.(61) Os pacientes foram orientados a
utilizar topicamente o Imunomax ao menos 3 vezes ao dia.
Além disso, o fitoterápico Imunomax apresentou
uma margem de segurança sete vezes superior à recomendada pela ANVISA, quando se considerou uma
situação hipotética na qual uma criança de 15 kg
empregaria de três a seis doses do fitoterápico durante
quatro semanas.(61) O cálculo foi realizado através da
seguinte fórmula: MS = NOAEL/dose. MS significa
“Margem de Segurança” e NOAEL é definido como o
nível de dose na qual nenhum efeito adverso é observado, após a ingestão oral diária por quatro semanas
consecutivas. O medicamento tópico é considerado
seguro quando sua MS é igual ou superior a 100.
· Estudo clínico (duplo-cego e randomizado)
Um estudo clínico duplo-cego e randomizado foi
realizado com o propósito primário de avaliar a segurança
e a efetividade do Imunomax Gel para o tratamento de
herpes labial. O estudo foi prospectivo, aleatório, comparativo e de caráter duplo-cego. A metodologia empregada seguiu os mesmos parâmetros de outros estudos
publicados sobre a eficácia de preparações tópicas para
o tratamento de herpes labial, assim como aqueles estabelecidos pela legislação vigente.(61) O estudo selecionou
54 voluntários, incluindo ambos os sexos (sete homens e
47 mulheres), na faixa etária compreendida entre 18 e
53 anos e história natural de herpes labial de repetição.
O estudo foi composto por dois grupos: Grupo 1 (Imunomax) e Grupo 2 (Zovirax). Os pacientes foram clínica
e laboratorialmente analisados antes, durante e após o
fim do estudo.(61) A avaliação laboratorial e cardiológica
incluiu os seguintes exames: eletrocardiograma de 12
derivações, hemograma completo, bioquímica do sangue
(glicemia, ureia, creatinina, ácido úrico, sódio, potássio,
CPK, triglicerídeos, colesterol total, TGO, TGP, gamaGT)
e o exame de urina tipo I. Os pacientes foram orientados
a aplicar o gel sobre as lesões, friccionando suavemente,
no mínimo quatro vezes por dia.(61) A análise estatística
dos resultados revelou que o tempo de duração do episódio, prurido, ardência, dor, eritema, edema, formação
de vesículas e crostas foi similar no Grupo 1 (Imunomax)
e Grupo 2 (Zovirax).(61) Ambos os medicamentos foram
bem tolerados e não houve registro de efeitos adversos.(61)
Fisiopatologicamente, os potenciais benefícios
do Imunomax sobre o quadro clínico de herpes labial
estariam especialmente ligados a três propriedades
da U. tomentosa:
1.Atividade antiviral: os glicosídeos do ácido quinóvico obtidos dos extratos de U. tomentosa revelaram
relevante atividade antiviral em testes in vitro.(1,2,4,48)
2.Modulador do sistema imunológico humano:
os alcaloides oxindólicos obtidos dos extratos de U.
tomentosa demonstraram elevar substancialmente a
ação fagocítica in vitro.(1,2,4,48,58) Notavelmente, um
estudo clínico envolvendo 13 indivíduos HIV positivos,
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os quais se recusaram a utilizar terapia antirretroviral
convencional, receberam 20 mg por dia via oral de
extratos de U. tomentosa (contendo 12 mg de alcaloide oxindólico pentacíclico por grama de extrato) por
um período de até cinco meses. Comparando com os
valores pré-tratamento, o número total de leucócitos
não mudou, mas a contagem relativa e absoluta de
linfócitos aumentou substancialmente.(62)
3.Ação anti-inflamatória: os extratos de unhade-gato, conforme discutido previamente neste texto,
revelaram prevenir a ativação de um crítico mensageiro
da rede inflamatória, o FN-kb, conferindo notável poder
anti-inflamatório a esta planta.(1,3,44,48,52,53,55-57,60)
Conclusão
Globalmente, as infecções evocadas pelos HSV
permanecem como um significativo desafio para a
esfera de saúde pública, médicos e pesquisadores.
Nas últimas décadas, houve um explosivo crescimento
sobre o entendimento dos mecanismos fisiopatológicos
envolvidos no cenário do herpes labial, permitindo
explorar estratégias terapêuticas alternativas que
são seguras e eficazes, tais como os extratos de U.
tomentosa. Os numerosos estudos realizados até o
presente momento multiplicaram os potenciais alvos
terapêuticos da unha-de-gato, encorajando seu emprego especialmente como anti-inflamatório, modulador
do sistema imunológico e antiviral.
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Correspondência:
Dr. Sergio Cimerman
R. Zacarias de Góis, 966 - apto 41
CEP 04610-002 - São Paulo, SP, Brasil.
e-mail: [email protected]
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