Detecção do Lettuce mosaic virus em sementes de alface (Lactuca sativa L.) Amanda Roberta da Silva Dissertação apresentada ao Instituto Biológico, da Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios, para obtenção do título de Mestre em Sanidade, Segurança Alimentar e Ambiental no Agronegócio. Área de Concentração: Sanidade Vegetal, Segurança Alimentar e Meio Ambiente. Orientador (a): Addolorata Colariccio São Paulo 2010 SECRETARIA DE AGRICULTURA E ABASTECIMENTO AGÊNCIA PAULISTA DE TECNOLOGIA DOS AGRONEGÓCIOS INSTITUTO BIOLÓGICO Pós-Graduação Av. Cons. Rodrigues Alves 1252 CEP 04014-002 - São Paulo – SP [email protected] FOLHA DE APROVAÇÃO Nome do candidato Título: Detecção do Lettuce mosaic virus em sementes de alface (Lactuca sativa L.) Orientador(a): Addolorata Colariccio Dissertação apresentada ao Instituto Biológico da Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios para obtenção do título de Mestre em Sanidade, Segurança Alimentar e Ambiental no Agronegócio. Área de Concentração: Sanidade Vegetal, Segurança Alimentar e Meio Ambiente. Aprovada em: Banca Examinadora Assinatura: Prof. (a) Dr.(a): Instituição: Assinatura: Prof. (a) Dr.(a): Instituição: Assinatura: Prof. (a) Dr.(a): Instituição: i Dedico aos meus pais, Antonio Roberto e Maria Prisca, ao meu Noivo Jean Cesar e aos meus irmãos Ariana e Arthur. OBRIGADA, DE CORAÇÃO, PELA CONFIANÇA E INCENTIVO . ii AGRADECIMENTOS Meu mais profundo agradecimento e reconhecimento a todas as pessoas que, direta ou indiretamente, possibilitaram a execução deste trabalho. Ao Instituto Biológico, pela oportunidade oferecida para o meu aperfeiçoamento e aprimoramento profissional. A Dra. Addolorata Colariccio, pela amizade, confiança e orientação durante esses anos. Ao Dr. Alexandre e ao Dr. Joaquim, pelo apoio, sugestões em diferentes etapas do desenvolvimento deste trabalho e pela valiosa colaboração. Aos demais professores do Curso de Pós-Graduação, pelos inúmeros ensinamentos transmitidos. Ao amigo Ricardo Lombardi, grande amigo, sincero e solícito, a quem agradeço pela força e estímulo oferecidos no decorrer do curso. Aos funcionários do Instituto Biológico, pela ajuda na condução dos ensaios de campo. À coordenação e aos colegas do laboratório de fisiopatologia e fitovirologia, pela colaboração nos trabalhos de laboratório. Aos Colegas do Curso de Pós-Graduação, pelo companheirismo e amizade demonstrada. Enfim, a todos que, de alguma maneira, contribuíram para o êxito deste trabalho. O meu mais sincero, Muito Obrigada!!!! iii RESUMO SILVA, A.R. Detecção do Lettuce mosaic virus em sementes de alface (Lactuca sativa L.). Dissertação (mestrado em sanidade vegetal, segurança alimentar e o meio ambiente)Instituto Biológico. São Paulo, 2010. O trabalho teve como objetivo a detecção e identificação do LMV em sementes de alface de variedades comerciais e de linhagens experimentais do banco de germoplasma do IAC/apta, visando à comparação dos métodos de diagnóstico biológicos e sorológicos para avaliar a presença do LMV nessas sementes. Os extratos das sementes foram inoculados em plantas de Chenopodium amaranticolor e utilizados no teste de PTA-ELISA, para avaliar se as sementes estavam ou não infectadas pelo LMV. Nos lotes de sementes das variedades comerciais não foi possível detectar a presença do vírus. Entretanto, entre as linhagens experimentais a C13 manifestou sintomas de anéis cloróticos e mosaico sistêmico na planta indicadora. Para caracterizar o LMV, folhas de C. amaranticolor inoculadas com a linhagem experimental C13 e dois isolados do LMV pertencentes á Coleção de Fitovírus Karl Silberschmidt empregados como controle foram submetidas a RT-PCR e digestão enzimática com a enzima ECO-RI. A digestão enzimática possibilitou a identificação do subgrupo LMV-Common nas três amostras avaliadas, resultado que está em concordância com os dados da literatura. A taxa de transmissão pela semente do subgrupo LMV-Most é bastante elevada, chegando a 16,5% em cultivares de alface onde os genes de resistência estão ausentes, e a 1,9% em genótipos contendo os alelos mo11 e mo12, enquanto que o subgrupo LMV-Common não infecta genótipos contendo os alelos de resistência recessivos. Os resultados foram negativos, para todas as amostras avaliadas em PTA-ELISA, o que pode indicar que a analise realizada diretamente, a partir de sementes influi nos resultados, uma vez que a concentração do LMV nas sementes é baixa. Nas amostras avaliadas com resultado positivo para o LMV-Common é possível que a linhagem experimental C13, o isolado CoFiKS 18/1998 (alface Verônica) e o isolado CoFiKS 20/1998 (alface americana), não possuam o gene Mo2 ou que a resistência por ele conferida tenha sido contornada. PALAVRAS CHAVE: ALFACE, Lettuce mosaic virus, SUBGRUPO, TRANSMISSÃO, SEMENTES, DETECÇÂO. iv ABSTRACT SILVA, A.R. Detection of Lettuce mosaic virus in lettuce seeds (Lactuca sativa L.). Dissertação (mestrado em sanidade vegetal, segurança alimentar e o meio ambiente)Instituto Biológico. São Paulo, 2010. The work aimed at the detection and identification of LMV in lettuce seeds of commercial varieties and experimental lines of the germplasm bank of IAC / apta in order to compare methods of biological and serological diagnosis to assess the presence of LMV in these seeds. The extracts of the seeds were inoculated in Chenopodium amaranticolor and used in PTA-ELISA test, to assess whether the seeds were either not infected by LMV. In seed lots of commercial varieties has not been possible to detect the presence of the virus. However, among the experimental lines C13 showed symptoms of systemic mosaic and clorotic rings in the control plant. To characterize the LMV, leaves of C. amaranticolor inoculated with the experimental strain C13 and two LMV isolates belonging to the Collection the of phytovirus Karl Silberschmidt used as control were subjected to RT-PCR and enzymatic digestion with the enzyme Eco-RI. Enzymatic digestion allowed the identification of subgroup LMVCommon in all three samples, a result that is consistent with the literature data. The transmission rate for the seed subgroup of LMV-Most is quite high, reaching 16.5% in lettuce cultivars where resistance genes are missing, and 1.9% in genotypes containing the alleles and mo11 mo12, whereas the LMV-Common subgroup does not infect genotypes containing the recessive resistance alleles. The results were negative for all samples in PTA-ELISA, which may indicate that the analysis performed directly from seed influences the results, since the concentration of LMV in seeds is low. In the samples with positive result for the LMV-Common is possible that the experimental strain C13, the isolated CoFiKS 18/1998 (lettuce Veronica) and isolated CoFiKS 20/1998 (lettuce Americana), do not possess the gene, or Mo2 that resistance by he has been given circumvented. KEYWORDS: Lettuce mosaic virus, SEED, TRANSMISSION, LETTUCE, SUBGROUP, DETECTION. v LISTA DE FIGURAS Figura 1: Genealogia da série Brasil do IAC/apta.................................................................17 Figura 2: Genealogia do cultivar 'Regina'..............................................................................18 Figura 3: C. amaranticolor inoculado com a linhagem C13, sintomas localizados de anéis cloróticos e mosaico...............................................................................................................23 Figura 4: C. amaranticolor inoculado com o isolado LMV CoFiKS 18/1998, com sintoma de mosaico sistêmico..................................................................................................................23 Figura 5: C. amaranticolor inoculado com o isolado LMV CoFiKS 20/1998, com sintomas de mosaico sistêmico..................................................................................................................24 Figura 6: Perfil eletroforético dos produtos da RT-PCR. Observou-se a presença de bandas de aproximadamente 280pb nas colunas 1 (linhagem C13), 2 (isolado CoFiKS 20/1998) e 3 (isolado CoFiKS18/1998). Na coluna 4 (controle negativo) não se observou a presença de bandas....................................................................................................................................26 vi vii LISTA DE TABELAS Tabela 1: Variedades comerciais e linhagens utilizadas no trabalho...................................16 Tabela 2: Isolados do Lettuce mosaic virus utilizados no trabalho.......................................16 Tabela 3: Oligonucleotídeos utilizados para amplificação dos vírus nas análises de RTPCR........................................................................................................................................21 viii SUMÁRIO RESUMO ................................................................................................................................iii ABSTRACT ............................................................................................................................iv LISTA DE FIGURAS ...............................................................................................................v LISTA DE TABELAS ..............................................................................................................vi 1. INTRODUÇÃO.......................................................................................................1 2. OBJETIVOS...........................................................................................................4 2.1 OBJETIVOS ESPECÍFICOS...........................................................................4 3. REVISÃO DE LITERATURA..................................................................................5 3.1 A cultura da alface.........................................................................................5 3.2 Principais vírus que afetam a cultura da alface..........................................6 3.3 A família Potyviridae......................................................................................7 3.4 O vírus do mosaico da alface Lettuce mosaic virus (LMV)........................8 3.5 Transmissão de vírus de plantas pela semente........................................10 3.6 Principais medidas empregadas para a comercialização de sementes......................................................................................................12 4. MATERIAL E MÉTODOS.....................................................................................15 4.1 Local de realização dos experimentos......................................................15 4.2 Material vegetal............................................................................................15 4.3 Obtenção da planta indicadora de C. amaranticolor para o teste biológico.......................................................................................................18 4.4 Detecção do LMV em sementes por teste biológico................................18 4.5 Detecção do LMV em sementes por PTA-ELISA......................................19 4.6 Testes moleculares......................................................................................20 4.6.1. Extração do RNA total.......................................................................20 4.6.2. Reação de transcriptase reversa seguida de reação em cadeia de polimerase (RT-PCR)............................................................................20 4.6.3. Digestão dos produtos da RT-PCR.................................................21 5. RESULTADOS E DISCUSSÃO...........................................................................22 5.1 Transmissão mecânica e avaliação dos sintomas..................................22 5.2 Teste sorológico.........................................................................................24 5.3 Testes moleculares.....................................................................................25 6. CONCLUSÃO......................................................................................................29 7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS...................................................................30 1 1. INTRODUÇÃO A alface é uma das hortaliças de maior importância econômica no mundo (DINANT & LOT, 1992). Na América do Sul, o Brasil se destaca como o maior produtor desta hortaliça, sendo o estado de São Paulo o maior produtor nacional, com uma produção de 21587 toneladas em 2007 (AGRIANUAL, 2007). Seu cultivo abrange 6570,20 hectares com uma produção de 4.097.697 engradados, com capacidade para 9 dúzias (IEA, 2007). No Brasil foram comercializadas, no ano de 2007, 17 toneladas de sementes nuas e 34 toneladas de sementes peletizadas (ABCSEM, 2007). Por se tratar de uma cultura que exige um processo produtivo intensivo, pela acirrada concorrência comercial e pela perecibilidade do produto, o que impõe aos produtores, rígidas exigências quanto à produção e comercialização, principalmente quanto há necessidade de se manter a quantidade, a qualidade e a regularidade de oferta do produto. A ocorrência de fitoviroses, em várias regiões produtoras tem sido apontada como a principal responsável por frustrações de safra, prejuízos financeiros, infidelidade da clientela e desabastecimento (BORGES, 2006). Dependendo das condições ambientais e dos cuidados dispensados à cultura, as fitoviroses podem ser responsáveis por grandes perdas de produção (RESENDE & CUPERTINO, 1995). A alface pode ser infectada por diversos vírus, o mais importante é o Lettuce mosaic virus (LMV), pertencente à família Potyviridae, gênero Potyvirus, com ocorrência generalizada em todas as regiões produtoras de alface do Brasil (ZERBINI, 1995). O LMV apresenta uma ampla gama de hospedeiros, infectando 121 espécies vegetais pertencentes a 60 gêneros e 17 famílias botânicas (DINANT & LOT, 1992). A maioria das espécies hospedeiras desse vírus encontra-se na família Asteraceae, a qual pertence à alface e chicória além de algumas centenas de espécies de plantas invasoras que podem ser reservatórios naturais, como o Erigeron bonariensis (CHAVES et al., 2007). O LMV é transmitido por pelo menos 25 espécies de afídeos de forma não persistente, ou seja, durante a picada de prova e também pelas sementes de plantas de alface infectadas (ZERBINI & MACIEL-ZAMBOLIM, 1999). O primeiro relato de transmissão do LMV pela semente foi feito por NEWBALL (1923), que verificou uma diferença na taxa de transmissão que variou tanto entre cultivares e como dentro dos mesmos, indicando uma possibilidade de uma seleção de genótipos de alface com baixa ou nenhuma transmissão do vírus via semente. No Brasil e em muitos países europeus o LMV tem sido controlado por meio do uso de cultivares resistentes. Já nos Estados Unidos, o controle é feito pelo uso de sementes indexadas, associado ao manejo de plantas daninhas e períodos de vazio sanitário (ZERBINI et al., 1995). Em regiões primárias de plantio, onde ainda não há 2 ocorrência do vírus, a utilização de sementes sadias pode retardar o estabelecimento da doença (ZERBINI et al., 1995). Para o manejo do LMV, observa-se a necessidade da procura de novos genes que confiram resistência múltipla ou específica, uma vez que existem isolados de LMV, que apresentam características biológicas e moleculares divergentes. A classificação de isolados de LMV em patótipos foi proposta com base na capacidade dos isolados em infectar cultivares contendo diferentes genes de resistência (PINK et al., 1992a). Isolados pertencentes ao patótipo I infectam apenas cultivares que não possuem os genes de resistência. Isolados pertencentes ao patótipo II (incluindo a estirpe típica) são capazes de infectar cultivares que possuem o gene Mo2, mas não aqueles com os alelos mo11 e mo12. Isolados pertencentes ao patótipo III superam a resistência conferida pelo gene Mo2 e pelo alelo mo11. Porém, há relatos na Europa, Oriente Médio e Brasil de isolados que causam sintomas de mosaico em plantas com os genes Mo2 e pelos alelos mo11 e mo12 classificados no patótipo IV, (REVERS et al., 1997; KRAUSE-SAKATE et al., 2002). Considerando a identificação desses isolados de LMV que não são capazes de contornar a resistência dos alelos mo11 e mo12 e de isolados que contornam a resistência dos mesmos e, que podem ser transmitidos pelas sementes e por afídeos em cultivares portadoras destes genes, foi proposta uma nova classificação para os isolados de LMV, em dois subgrupos: LMV-Common e LMV-Most, respectivamente (KRAUSE-SAKATE et al., 2004). Em estudos comparativos do comportamento das cultivares de alface, plantadas no Brasil, frente a isolados pertencentes ao patótipo II e patótipo IV atualmente classificados respectivamente, no subgrupo LMV-Common e LMV-Most, foi relatada a habilidade do patótipo IV atual LMV-Most, em contornar os genes que conferem resistência, infectando sementes de genótipos suscetíveis e tolerantes (JADÃO et al., 2002). Além disso, os mesmos autores verificaram que a taxa de transmissão pela semente desse subgrupo é bastante elevada, chegando a 16,5% em cultivares de alface onde os genes de resistência estão ausentes, e a 1,9% em genótipos contendo os alelos mo11 e mo12 (JADÃO et al., 2002). Novas perspectivas se abriram para o estudo da epidemiologia do LMV, desde que isolados provenientes de alface apresentando recombinação entre os subgrupos LMVMost e LMV-Common foram descritos em condições naturais no Brasil (KRAUSE-SAKATE et al., 2004). O que torna importante os estudos para avaliar a presença do LMV em sementes de alface, bem como da diferença da taxa de transmissão pelas sementes dos diferentes 3 isolados do vírus, tanto em variedades comerciais, quanto nas linhagens de alface desenvolvidas visando à incorporação de genes de resistência. 4 2. OBJETIVOS Avaliar a transmissão do LMV pelas sementes das variedades comerciais de alface, enviadas ao Instituto Biológico pelo Ministério da Agricultura e das linhagens pertencentes ao banco de germoplasma do Programa de Melhoramento de Alface do IAC/APTA, obtidas em campo aberto na região de Monte Alegre do Sul. 2.1 OBJETIVOS ESPECÍFICOS 1. Detectar a presença do LMV nas sementes de diferentes variedades comerciais e linhagens de alface utilizando testes biológicos de transmissão mecânica para planta indicadora; 2. Detectar a presença do LMV nas sementes das diferentes variedades comerciais e linhagens de alface por intermédio da técnica de PTA-ELISA com antissoro policlonal; 3. Identificar o subgrupo do LMV, do isolado estudado, utilizando biologia molecular. 5 3. REVISÃO DE LITERATURA 3.1 A cultura da Alface A alface pertence à classe Magnoliopsida, ordem Asterales, família Asteraceae, subfamília Cichorioideae, tribo Lactuceae, gênero Lactuca (WIKISPECIES, 2006). Originária da região do mediterrâneo, a alface já era utilizada como planta medicinal há 4500 a.C. Como hortaliça está registrada a sua utilização desde 2500 a.C. A planta foi trazida para o Brasil pelos portugueses. As espécies silvestres trazidas na época ainda podem ser encontradas em regiões de clima temperado, no sul da Europa e na Ásia Ocidental (GOTO; TIVELLI, 1998). Esta hortaliça apresenta um caule diminuto, não ramificado, ao qual se prendem as folhas, relativamente grandes, lisas ou crespas, fechando-se ou não na forma de uma “cabeça” (FILGUEIRA, 1982). As raízes são do tipo pivotante, com finas ramificações, explorando apenas os primeiros 25 cm de solo (LIMA, 1986). É considerada uma cultura de raízes densas e relativamente pouco profundas. FILGUEIRA (1982) cita que a alface é, entre as hortaliças folhosas, a de maior consumo e importância econômica, no Brasil. Entre os grupos mais consumidos no país, os de folhas crespas vêm crescendo consideravelmente nos últimos anos, correspondendo a 46,43% do volume comercializado de 27.423 toneladas, no ano de 2006, pela CEAGESP (AGRIANUAL, 2008). Seu cultivo abrange 6570,20 hectares com uma produção de 4.097.697 engradados, com capacidade para 9 dúzias (IEA, 2007). No Brasil foram comercializadas, no ano de 2007, 17 toneladas de sementes nuas e 34 toneladas de sementes peletizadas (ABCSEM, 2007). Por ser uma cultura originária de clima ameno, a alface não se desenvolve bem em condições de altas temperaturas (CÁSSERES, 1980). Dias longos associados a temperaturas elevadas aceleram o processo de pendoamento, o qual também depende da cultivar (NAGAI & LISBÃO, 1980; MALUF, 1994). A tendência ao pendoamento mais rápido ou lento caracteriza as cultivares como de inverno ou de verão. As cultivares de inverno, quando cultivadas nessa época, normalmente formam cabeça ou roseta de folhas. Porém, quando cultivadas no verão, emitem pendão floral precocemente, tornando-se impróprias para o consumo, devido ao acúmulo de látex em suas folhas. Já as cultivares de verão formam cabeça ou roseta de folhas normais, quando cultivadas tanto no inverno quanto no verão (MALUF, 1994). A cultura da alface é afetada por diversas doenças que causam prejuízos aos produtores, dentre estas muitas são causadas por vírus. 6 3.2 Principais vírus que afetam a cultura da alface A alface (Lactuca sativa L.) está entre as hortaliças de maior importância econômica no Brasil. As viroses, atualmente, podem ser consideradas como o maior problema fitossanitário da cultura da alface e, dependendo das condições ambientais e dos tratos culturais dispensados, podem ser responsáveis por perdas de até 100% (RESENDE E CUPERTINO, 1995). No Brasil, desde a década de 1940, foram relatados diferentes vírus infectando a cultura da alface, que causaram quebra de produção. Tais ocorrências foram primeiramente descritas nos arredores da capital de São Paulo, em áreas intensamente cultivadas. As viroses descritas, até então eram transmitidas principalmente por sementes e afídeos (KRAMER et al., 1945). KITAJIMA (1986, 1993) compilou os vírus e enfermidades de plantas registradas no Brasil a partir de 1911. Os vírus que ocorrem em alface, tendo por base este levantamento, são: “Lettuce mottle sequivirus” – (LeMoV), “Lettuce mosaic potyvirus” – (LMV), “Bidens mottle potyvirus” – (BiMoV), “Bidens mosaic potyvirus” – (BiMV), “Cucumber mosaic cucumovirus” – (CMV), “Lettuce necrotic yellow cytorhabdovirus” – (LNYV) e o “Tomato spotted wilt tospovírus” - (TSWV). No Brasil, o vírus que causa maior dano econômico à cultura de alface e que justifica a adoção de medidas de controle é o LMV (ZERBINI, 1995), sendo que se a semente utilizada para plantio estiver infectada e as condições climáticas forem favoráveis à presença de afídeos, as perdas podem chegar a 100% (ZERBINI, 1995). Assim, o controle desta fitovirose reside principalmente na utilização de sementes isentas de vírus e utilização de variedades tolerantes, com a ressalva de já existirem isolados capazes de causar sintomas em alfaces tolerantes (JADÃO, 2001). No Estado de São Paulo a ocorrência do Tomato chlorotic spot virus – TCSV (Tospovirus) também é um vírus limitante para a cultura da alface (COLARICCIO et al., 2002). 7 3.3 A família Potyviridae A família Potyviridae constitui, do ponto de vista econômico, o maior e mais importante grupo de vírus de plantas cultivadas, com cerca de 16% das espécies de vírus de plantas descritas até o momento (FAUQUET, et al.,2005). A família é dividida em seis gêneros (Potyvirus, Bymovirus, Rymovirus, Ipomovirus, Macluravirus e Tritimovirus), de acordo com a transmissão por vetor, sendo que a classificação em espécies é feita pela organização do genoma (FAUQUET, et al., 2005). Os Potyviridae são encontrados em todo o mundo e podem infectar mais de 2000 espécies de plantas. Todos os membros da família induzem a formação de corpos de inclusões cilíndricas no citoplasma de células infectadas, também denominadas “cata-ventos”, sendo esta uma característica que foi utilizada no passado para classificar os potyvírus em quatro grupos de acordo com o tipo de inclusão induzida (EDWARDSON et. al, 1984). Membros dessa família são facilmente transmitidos mecanicamente de plantas infectadas para plantas sadias, pela inoculação do extrato vegetal infectado ou por preparações virais purificadas (BERGER et al.,2005). O gênero Potyvírus é o mais numeroso, com mais de 100 espécies descritas (FAUQUET, et al.,2005). Em conjunto, essas espécies infectam uma ampla gama de hospedeiros em diferentes regiões climáticas, causando grandes danos econômicos em várias culturas. As espécies pertencentes a este gênero são transmitidas por afídeos de modo não persistente (BOCK e CONTI, 1974; DIPIERO et al., 2006; FAUQUET et al.,2005). As partículas virais são alongadas, flexuosas, medindo aproximadamente 690-760 nm de comprimento por 11-16 nm de diâmetro. O material genético é composto por uma ou duas moléculas de RNA de fita simples, sentido positivo. O RNA viral é envolto por aproximadamente de 2.200 cópias de uma proteína capsidial com peso molecular de cerca. 34 kDa (SHUKLA et al., 1994). A proteína capsidial dos potyvírus apresenta uma região amino-terminal altamente variável em tamanho e seqüência, uma região central altamente conservada contendo de 215 a 227 aminoácidos, e uma região carboxi-terminal com 18-20 aminoácidos. As regiões amino e carboxi-terminal estão voltadas para o exterior da partícula viral, e são responsáveis pelas propriedades antigênicas da proteína e, consequentemente, da partícula viral (SHUKLA et al.,1994). O RNA dos potyvírus é covalentemente ligado a uma proteína de origem viral (genome-linked viral protein, VPg) em uma extremidade 5’ (RIECHMAN et al.,1989) e apresenta uma cauda poliadenilada, de origem viral, em sua extremidade 3’ (ALLISON et al., 1986). O RNA genômico apresenta uma única fase aberta para leitura open reading frame (ORF) localizada entre duas regiões não codificadoras denominadas 5’NTR e 3’NTR. 8 A tradução da ORF origina potencialmente uma poliproteína com peso molecular de aproximadamente 350kDa (ALLISON et al., 1986), que é processada por meio da atividade proteolítica de três proteases (P1, HC-Pro e NIa) contidas na própria seqüência, dando origem a 8-10 produtos finais (CARRINGTON et al., 1990). As proteases P1 e HC-Pro catalisam unicamente suas próprias clivagens cis, e também seis clivagens adicionais em trans (DAROS & CARRIGTON, 1997). Uma característica das proteínas sintetizadas pelos potyvírus é o seu caráter multifuncional. Cada proteína é geralmente responsável por várias funções durante o ciclo de infecção (URCUQUI-INCHIMA et al.,2001). 3.4 O vírus do mosaico da alface Lettuce mosaic virus (LMV) O LMV considerado o agente causal do mosaico de maior importância na cultura de alface (PAVAN & KUROZAWA, 1997), encontra-se disseminado por todo o mundo (DINANT & LOT, 1992). Os sintomas são o mosaico e deformação foliar, com conseqüente redução do crescimento e queda na produtividade. Os sintomas apresentam variações relacionadas a cultivar, o subgrupo do vírus e aos fatores ambientais, como temperatura, luz e nutrição que podem influenciar a expressão dos sintomas (FRENCH & HEBERT, 1980). O genoma de todo Potyvírus é composto de um único RNA de fita simples, sentido positivo, com aproximadamente 10.000 nucleotídeos, apresentando uma proteína (VPg) ligada covalentemente ao terminal 5’ e uma cadeia poliadenilada no terminal 3’ (REVERS et al., 1997). A gama de hospedeiros é bastante ampla, infectando 121 espécies vegetais pertencentes a 60 gêneros e 17 famílias botânicas (DINANT & LOT, 1992). A maioria das espécies hospedeiras encontra-se na família Asteraceae, a qual pertence à alface (DINANT & LOT, 1992). Além da alface, infecta outras culturas, entre elas, chicória espinafre, grão de bico, ervilha, girassol (DINANT & LOT, 1992) e plantas da vegetação espontânea pertencentes principalmente à família Asteraceae, como o Erigeron bonarienses (CHAVES et al., 2002), Gazania spp. (ZERBINI et al., 1997) e Zinnia elegans (VEDOVELLO et al., 1999). O LMV pode ser transmitido por afídeos, por sementes de plantas infectadas e por extrato vegetal. Diversas espécies de afídeos são capazes de transmitir o LMV, entre elas: Myzus persicae, Aphis gossypii, Macrosiphum solanifolli e Uroleucon sonchi (COSTA, 1998). No entanto, a espécie que apresenta maior eficiência na transmissão é M. persicae (EDWARDSON e CHRISTIE, 1991). A transmissão do LMV por sementes representa na maioria das vezes a principal fonte de inóculo primário na cultura (FILGUEIRA, 2000). A porcentagem de transmissão do vírus pelas sementes de alface pode variar de acordo com o subgrupo do LMV e da cultivar empregada (DINANT & LOT, 1992; JADÃO et al., 2002). 9 O subgrupo LMV-Common e LMV-Most apresentam grande variabilidade biológica, na severidade dos sintomas, na transmissão pelas sementes e na capacidade em quebrar os genes de resistência descritos em cultivares de L. sativa (JADÃO et al., 2002). No Brasil e em muitos países da Europa o LMV tem sido controlado por meio do uso de cultivares resistentes, as quais perfazem a grande maioria das cultivares plantadas. Até o final da década de 1960, dois genes de resistência haviam sido identificados: o gene recessivo g, encontrado na cultivar ‘Gallega de Invierno’ (BANNEROT et al., 1969), e o gene recessivo mo, encontrado em um acesso selvagem de Lactuca proveniente do Egito (RYDER,1970). Posteriormente, foi demonstrado que os genes g e mo constituem, na verdade, dois alelos do mesmo gene (PINK et al., 1992a; PINK et al., 1992b). O gene g passou a ser denominado mo11, e o gene mo passou a ser denominado mo12 (LE GALL, 2003). Estes genes foram incorporados a cultivares comerciais de alface no inicio dos anos 70, de forma que a grande maioria das cultivares plantadas atualmente no Brasil e na Europa possuem o gene mo11, enquanto nos Estados Unidos possuem o gene mo12 (DINANT & LOT, 1992). Além dos dois alelos recessivos, algumas cultivares de alface possuem o gene dominante Mo2, originalmente presente em Lactuca virosa (PINK et al., 1992a). Alguns isolados do LMV, na Europa, Oriente Médio e Brasil são capazes de infectar cultivares contendo os alelos mo11 e mo12 (DINANT & LOT, 1992; PINK et al., 1992a;PINK et al., 1992b; STANGARLIN et al., 2000). A classificação de isolados de LMV em patótipos foi proposta com base na capacidade dos isolados em infectar cultivares contendo diferentes genes de resistência (PINK et al., 1992a). Isolados pertencentes ao patótipo I infectam apenas cultivares que não possuem os genes de resistência. Isolados pertencentes ao patótipo II (incluindo a estirpe típica) são capazes de infectar cultivares que possuem o gene Mo2, mas não aqueles com os alelos mo11 e mo12. Isolados pertencentes ao patótipo III superam a resistência conferida pelo gene Mo2 e pelo alelo mo11. Isolados pertencentes ao patótipo IV são capazes de suplantar a resistência proporcionada pelo gene Mo2 e pelos alelos mo11 e mo12. A maioria dos isolados de LMV se enquadram no patótipo II. Porém, os novos isolados recentemente relatados na Europa, Oriente Médio e Brasil enquadram-se no patótipo IV, causando sintomas de mosaico em plantas contendo os genes mo11 e mo12 (REVERS et al., 1997; KRAUSE-SAKATE et al., 2002 ). Considerando a identificação de isolados de LMV em alface que não são capazes de contornar a resistência dos genes mo11 e mo12 e de isolados que contornam a resistência dos mesmos e, que podem ser transmitidos pelas sementes e por afídeos em cultivares portadoras destes genes, foi proposta uma nova classificação para os isolados de LMV, em dois subgrupos: LMV-Common e LMV-Most, respectivamente (KRAUSE-SAKATE et al., 2002). Estes isolados encontram-se disseminados em diversos países da Europa e 10 América do Sul, incluindo o Brasil, e por serem capazes de transmissão via semente mesmo em cultivares portadoras de genes de resistência, constituem um sério entrave à produção de alface, uma vez que não foram identificadas fontes naturais de resistência aos isolados da estirpe Most (KRAUSE-SAKATE et al., 2002). Isolados do LMV-Most e LMV-Common podem ser detectados diferencialmente por RT-PCR com oligonucleotídeos específicos (PEYPELUT et al., 2004). 3.5 Transmissão de vírus de plantas pela semente Cerca de 20% dos vírus de plantas são transmitidos durante sucessivas gerações por meio das sementes (MATTHEWS, 1991; MINK, 1993). No entanto pouco se sabe sobre os mecanismos envolvidos. Na grande maioria dos casos, a semente oferece uma efetiva barreira contra a passagem dos vírus, mesmo no caso daqueles que são altamente infectivos. A despeito desta proteção, um apreciável número de vírus passa de uma geração para a seguinte através da semente (BENNETT, 1969; SHEPHERD, 1972). O processo de transmissão do vírus pela semente é um evento importante, pois é uma das maneiras de introdução do vírus tanto em regiões onde não ocorria antes, como também nas regiões onde já ocorre. É, muitas vezes, a única ou a principal alternativa responsável pelas fontes de vírus que surgem nas plantações e a partir das quais ocorre a disseminação dentro da área plantada (GASPAR, 1980). Apesar dos fatores que levam à transmissão de um vírus de planta através da semente não serem bem conhecidos. Muitas teorias têm sido propostas para explicar esse fenômeno, sendo aquelas relacionadas com a distribuição do vírus nos tecidos infectados e principalmente naqueles associados com a formação dos gametas e da semente são as que recebem maior apoio, embora não haja evidência conclusiva a respeito (DUGGAR, 1930; CALDWELL, 1934; BENNETT, 1940). A maioria dos vírus transmitidos por semente é encontrado nos vários tecidos que constituem a semente. Mas ao que tudo indica o fator crítico para a transmissão à progênie é sua habilidade em invadir e sobreviver no embrião em algum estádio de sua formação. Testes de polinização cruzada têm mostrado que a transmissão de vírus pelo embrião pode ocorrer quando a planta-mãe sadia é polinizada com pólen oriundo de planta infectada (NELSON e DOWN, 1933; MEDINA e GROGAN, 1961; LISTER e MURANT, 1967; YANG e HAMILTON, 1974). Estes dados sugerem que a invasão do embrião provavelmente ocorre por meio de uma das três maneiras seguintes: a) introdução do vírus no saco embrionário pelo pólen; b)invasão do saco embrionário por vírus provenientes da planta mãe; c)invasão direta do embrião. É opinião da maioria dos pesquisadores que, a invasão do saco embrionário pelo vírus que infecta a planta mãe é a que com maior freqüência leva à sua presença no 11 embrião (BENNET, 1969; YANG & HAMILTON, 1974; CARROLL & MAYHEW, 1976 a e b). BENNET (1969) e SHEPHERD (1972) relataram a presença de vírus no pólen e no óvulo de plantas infectadas com certa freqüência, com valores geralmente maiores para o óvulo. Em estudos realizados por CARROLL (1981) com o Barley stripe mosaic virus – BSMV (Hordeivirus) em cevada comprovou-se que o processo de transmissão do BSMV é influenciado pela interação entre a temperatura, a estirpe do vírus e o estádio de desenvolvimento da planta na infecção. No entanto, em secções ultrafinas de anteras e grãos de pólen, observadas ao microscópio eletrônico de transmissão verificou-se que o vírus invade primeiramente o meristema floral da hospedeira e subseqüentemente as células-mães dos grãos de pólen e as células espermáticas. As evidências apresentadas pelo autor do trabalho sustentam a hipótese de BENNETT (1969) de que a transmissão pela semente pode depender da capacidade do vírus de infectar primeiramente o meristema floral e subseqüentemente invadir os gametófitos, tanto masculino quanto feminino, estes resultados sugerem que a transmissão pela semente pode ocorrer de forma direta ou indireta (CARROLL, 1981). A transmissão direta se dá pela invasão do embrião após a fertilização, enquanto a indireta é mediada pela infecção de gametas antes da fertilização. Em alguns casos, como o do BSMV em cevada, ambos os processos podem ocorrer simultaneamente (MAULE & WANG, 1996). Para que a invasão direta do embrião imaturo ocorra, as partículas virais precisam atravessar o limite entre os tecidos maternos e da progênie (embrião). Somente após os primeiros estudos de transmissão pela semente no patossistema Pea seed-borne mosaic virus – PSbMV (Potyvirus) em ervilha foi possível propor um modelo que explicasse esse processo. O PSbMV é um dos muitos potyvírus que são transmitidos pela semente de leguminosas que são de grande importância econômica (RAGBIR & MAURY, 1987). Um estudo de transmissão do PSbMV realizado utilizando duas cultivares de ervilha, comprovou que o vírus foi encontrado em tecidos florais antes da sua fertilização (WANG & MAULE, 1992). Todavia, não foram encontradas partículas virais nos grãos de pólen, nem nos óvulos. Foi sugerido que a transmissão do PSbMV pela semente, pode ocorrer apenas durante o desenvolvimento do embrião por uma “janela” que pode sofrer influências ambientais. A invasão do embrião pelo PSbMV é evidenciada pela presença de um tecido conectivo transiente denominado suspensor, que é uma estrutura que está relacionada ao suporte nutricional do embrião em desenvolvimento. O suspensor surge entre os tecidos da planta-mãe e do óvulo após a fertilização, a sua degeneração "fecharia a janela" para a transmissão do vírus pela semente. De acordo com esse modelo, não ocorre infecção viral dos tecidos que formarão o embrião antes da fertilização (WANG & MAULE, 1992). 12 Entretanto, outros autores, trabalhando com patossistemas distintos, encontraram resultados diferentes. SCHIPPERS (1963) detectou alta taxa de infecção (80%) de óvulos de Phaseolus vulgaris L. cv. Beka, pelo Bean common mosaic virus - BCMV (Potyvirus) antes da fertilização. Porém, a taxa de transmissão do vírus pela semente foi de apenas 15%. O mecanismo de transmissão do Tobacco ringspot virus - TRSV (Nepovírus) pela semente de soja foi estudado em óvulos coletados um dia antes do florescimento. Foram encontradas partículas virais no embrião, demonstrando um processo indireto de transmissão via óvulo antes da polinização. Os autores realizaram experimentos de polinização cruzada, os quais sugeriram que a infecção dos megagametófitos é o principal fator envolvido na transmissão pela semente (YANG & HAMILTON, 1974). No entanto, poucos trabalhos foram realizados visando elucidar o mecanismo de transmissão do LMV pela semente de alface. Por meio de cruzamentos entre plantas sadias e infectadas utilizando plantas com esterilidade masculina, foi evidenciada a capacidade de transmissão via óvulo, alcançando taxas de transmissão superiores a 5%, enquanto a taxa de transmissão via pólen foi inferior a 0,5% (RYDER, 1964). A localização do LMV em embriões imaturos de alface em secções ultrafinas foi investigada por meio de imunomarcação (HUNTER & BOWYER, 1994). Os autores encontraram partículas virais em todos os tecidos do óvulo, exceto no saco embrionário. Contudo, não é sabido se as partículas de LMV presentes nos tecidos não-embrionários necessariamente tornam a semente infectada. Os autores sugerem que a combinação isolado/cultivar utilizada pode não ter sido adequada para a infecção do tecido embrionário (ROBERTS et al, 2003). 3.6 Principais medidas empregadas para a comercialização de sementes A primeira lei fitossanitária relativa à quarentena de plantas foi promulgada na França, em 1881 (STAKMANN & HARRAR, 1957). O primeiro acordo internacional sobre fitossanidade foi firmado na Europa, com a finalidade de prevenir a introdução do inseto Phylloxera vitifoliae (Hemíptera: Phylloxeridae) em videira. No Brasil, o início das atividades dos serviços oficiais fitossanitários se deu com o surgimento do que hoje é o Departamento de Defesa e Inspeção Vegetal (DDIV) da Secretaria Nacional de Defesa Agropecuária (SNAD), órgão do Ministério da Agricultura, do Abastecimento e da Reforma Agrária (MAARA). Naquela ocasião, as campanhas fitossanitárias nacionais foram às primeiras manifestações de preocupação com esses problemas no país (ALVES, 1980). Atualmente, além das atividades de defesa vegetal a cargo do MAARA, que detém jurisprudência sobre todo material vegetal transitando no país, há instituições de pesquisa que, por delegação do próprio Ministério, realizam introdução e intercâmbio de germoplasma vegetal, e que conseqüentemente são encarregadas da quarentena desse material, como o Instituto Biológico (IB), Coopersucar, a comissão executiva do plano da 13 lavoura cacaueira (CEPLAC), a coordenadoria da assistência técnica integral (CATI) (MARINHO, et al, 1991), assim como o centro nacional de pesquisa de recursos genéticos e biotecnologia (CENARGEN) da empresa brasileira de pesquisa agropecuária (EMBRAPA). A quarentena vegetal visa prevenir a entrada de organismos nocivos em áreas indenes. É apoiada por leis nacionais e fundamentada em princípios biológicos. O Cenargen executa a quarentena de germoplasma vegetal introduzido no Brasil destinado aos programas de melhoramento genético do SNPA (KIMATI, 1978). A agricultura brasileira tem se beneficiado da introdução de acessos de germoplasma de diversas espécies vegetais, permitindo ao país obter variedades adaptadas às nossas condições edafoclimáticas e resistentes a pragas. No entanto, o movimento de germoplasma vegetal inevitavelmente envolve riscos de introdução de pragas em áreas livres das mesmas. Importações inadvertidas de material vegetal têm causado sérios prejuízos à agricultura brasileira. A quarentena de material vegetal evita a introdução e a disseminação de pragas agrícolas, sendo a maneira mais eficiente de proteger a agricultura e o ambiente do ingresso de pragas quarentenárias (BATISTA et al., 2002). As medidas quarentenárias aplicadas aos produtos vegetais podem ser de exclusão ou erradicação. Em caso de exclusão, os riscos de entrada dos agentes patogênicos são minimizados pelo controle da sua ausência no material vegetal antes da importação. Ao contrário, a erradicação autoriza a aplicação de tratamentos térmicos, químicos, biológicos ou de limpeza através da cultura de tecido, quando a espécie vegetal foi introduzida no país importador (MARINHO et al., 2003). Por definição, uma praga quarentenária é um organismo de risco econômico potencial para a área posta em perigo e onde ainda não está presente ou, se está não se encontra amplamente distribuída e esta oficialmente controlada. Considera-se praga quarentenária A1 aquela que não está presente no país ou na região. Praga quarentenária A2 é aquela que apresenta distribuição limitada em uma área e esta oficialmente controlada. Entende-se como área um país, parte de um país ou todas ou partes de vários países oficialmente definidos (MARINHO et al., 2003). Para decidir quais espécies são de importância quarentenária, para o país ou região, várias informações devem ser consideradas. É necessário avaliar o potencial das espécies exóticas introduzidas no país em questão. Esse processo é o componente preliminar da Análise de Risco de Pragas (APR) (MARQUES et al, 1995). Considerando a grande variabilidade genética que é própria das introduções de germoplasmas, os cuidados fitossanitários nestes casos devem ser enfatizados, pois essa variabilidade pode potencializar o risco da introdução de organismos nocivos, pela possibilidade de sempre haver disponível um hospedeiro suscetível. Ao mesmo tempo, é indesejável que esses organismos impeçam a expressão das características do 14 germoplasma ou mesmo inviabilizam sua utilização nos programas de melhoramento (MARQUES et al, 1995). A maioria do material vegetal é introduzido sob a forma de sementes. Portanto, existe uma grande necessidade em saber quais são as pragas que podem ser transmitidas por essas sementes. Por razões ainda não esclarecidas, apenas cerca de 1/3 dos vírus vegetais conhecidos são transmitidos dessa forma (BATISTA et al., 2002). Para agilizar os procedimentos quarentenários de um laboratório de virologia, é fundamental saber quais os vírus que podem ser transmitidos pelas sementes que estão sendo introduzidas. Outras informações como distribuição geográfica, sintomas no hospedeiro natural e plantas indicadoras de vírus e viróides são complementos importantes para auxiliar o diagnóstico dos mesmos (BATISTA et al., 2002). Dentre as sementes das principais culturas importadas pelo Brasil estão as de alface, cuja sanidade no cultivo, depende da qualidade fitossanitária dessas sementes, uma vez que o vírus que mais se dissemina na cultura da alface e que causa os maiores danos é o LMV. Assim, este trabalho tem por objetivo avaliar a presença do LMV em sementes das principais variedades comerciais e linhagens de alface, bem como propor uma amostragem do número de sementes, que possibilite a detecção segura do vírus nas sementes. 15 4. MATERIAL E MÉTODOS 4.1 Local de realização dos experimentos Os experimentos foram realizados no Laboratório de Fitovirologia e Fisiopatologia (LFF) e na casa de vegetação (LFF) do Centro de Pesquisa e Desenvolvimento de Sanidade Vegetal (CPDSV), do Instituto Biológico, São Paulo. 4.2 Material vegetal Foram utilizadas sementes de 17 variedades comerciais de alface, enviadas ao Instituto Biológico pelo Ministério da Agricultura e 10 linhagens pertencentes ao banco de germoplasma do Programa de Melhoramento de Alface do IAC/APTA, obtidas em campo aberto na região de Monte Alegre do Sul, durante o ano de 2006 (Tabela 1). Como controle positivo foram empregados dois isolados de LMV da Coleção de Fitovírus Karl Silberschmidt (CoFiKS) do LFF , o isolado de alface Verônica de Embu-Guaçú (CoFiKS 18/1998) e o isolado de alface Americana de Biritiba-Mirim (CoFiKS 20/1998), mantidos em tecido foliar desidratado à -20°C (Tabela 2). As sementes foram mantidas acondicionadas em sacos de papel laminados e mantidas a 5ºC. A seleção das variedades deveu-se as características agronômicas e a aceitação do mercado; já a seleção das linhagens considerando-se as suas características agronômicas e por apresentarem sintomas de mosaico brando em ensaios realizados em campo experimental do IAC-APTA de Monte Alegre do Sul. As linhagens utilizadas foram provenientes do cruzamento entre o cultivar 'Regina' e o PI 342517 (‘Ancora’) cuja genealogia está representada na Figura 1. O genitor ‘Regina’ possui o gene recessivo mo11 (anteriormente denominado g), incorporado pelo uso do cultivar Brasil 48 em sua genealogia (Figura 2) (CHUNG, 2005). 16 Tabela 1: Variedades comerciais e Linhagens utilizadas no trabalho. VARIEDADES COMERCIAIS DE ALFACE Alface Crespa Gentilina (Itália/MAPA) Alface Romana Bionda Orotolani (Itália/MAPA) Alface Romana Branca de Paris Alface Banchu Red Fire (Japão/MAPA) (Itália/MAPA) Alface Little Green (EUA/MAPA) Alface Kahuna (EUA/MAPA) Alface OGR (Japão/MAPA) Alface Kagraner (Itália/MAPA) Alface Kaiser (Japão/MAPA) Alface Mimosa Catalogna (Itália/MAPA) Alface 28060 (Itália/MAPA) Alface 27030 (Itália/MAPA) Alface 367 (Itália/MAPA) Alface 27010 (Itália/MAPA) Alface 3620 (Itália/MAPA) Alface 28531 (Itália/MAPA) Alface 28140 (Itália/MAPA) LINHAGENS DE ALFACE Linhagem C07 (Monte Alegre/BAG/APTA) Linhagem C88 (Monte Alegre/BAG/APTA) Linhagem C13 (Monte Alegre/BAG/APTA) Linhagem C44 (Monte Alegre/BAG/APTA) Linhagem C20 (Monte Alegre/BAG/APTA) Linhagem C48 (Monte Alegre/BAG/APTA) Linhagem C40 (Monte Alegre/BAG/APTA) Linhagem C52 (Monte Alegre/BAG/APTA) Linhagem C42 (Monte Alegre/BAG/APTA) Linhagem C71 (Monte Alegre/BAG/APTA) Tabela 2: Isolados do Lettuce mosaic virus utilizados no trabalho. ISOLADOS DO Lettuce moisac virus Isolado CoFiKS18/1998 Isolado CoFiKS 20/1998 17 Figura 1: Genealogia da série Brasil do IAC/apta 18 Figura 2: Genealogia do cultivar ‘Regina’ 4.3 Obtenção da planta indicadora (Chenopodium amaranticolor) para o teste biológico A sementeira para obtenção da plantas indicadora (Chenopodium amaranticolor) foi feita em caixa plástica, utilizando terra vegetal com semeadura a lanço coberta com terra vegetal peneirada e mantida em observação até atingirem o estádio de quatro folhas verdadeiras. Então, as plântulas foram transplantadas para vasos com volume de 150 ml, contendo terra vegetal e foram mantidas em casa de vegetação pertencentes ao LFF. 4.5 Detecção do LMV em sementes por teste biológico Os inóculos empregados nos testes de transmissão mecânica foram preparados pela trituração em nitrogênio liquido das sementes das variedades comerciais e das linhagens de alface em almofariz, adicionando-se PBS pH 7,4 (tampão fosfato de sódio e potássio em salina) contendo sulfito de sódio 0,01 M. Utilizou-se 1g de sementes para cada 10 ml de tampão. Os inóculos foram preparados a baixas temperaturas, pela manutenção dos almofarizes a -20 0C. As folhas foram polvilhadas com abrasivo (caborundum 600 mesh) antes de serem friccionadas com o pistilo embebido no extrato bruto. Para avaliação biológica das sementes foram inoculadas 5 plantas de C. amaranticolor para cada variedade comercial e cada linhagem de alface, sendo que 5 19 plantas de C. amaranticolor foram utilizadas como controle negativo. As plantas foram mantidas em casa de vegetação e a manifestação dos sintomas foi avaliada semanalmente por 30 dias. 4.6 Detecção do LMV em sementes por PTA-ELISA Para a detecção do LMV nas amostras de alface, utilizou-se a técnica sorológica PTA-ELISA “Plate Traped Antigen” – “Enzyme Linked Immunosorbent Assay” (CLARK & ADAMS, 1977). Foram utilizados 1g de sementes de cada variedade comercial e de cada linhagem de alface, cada amostra foi triturada em nitrogênio liquido e tampão carbonato (0,015M de Na2CO3, 0,035M NaHCO3, pH 9,6) na razão de 1:10 (p/v), sendo aplicados 100µL do extrato de cada amostra em placa de ELISA. Foi utilizada uma triplicata por amostra. As placas foram incubadas por 2h a 37ºC, e lavadas com PBS-Tween (0,0015M KH2PO4, 0,14M NaCl, 0,004M Na2HPO4, 0,003M KCl, pH 7,4.acrescido de 0,5mL Tween 20%). Após a lavagem, foram aplicados, nos poços, 100µL de antissoro policlonal contra o LMV, diluído na proporção de 1:1000 (v/v) em Tampão Fosfato 0,05M pH7,4 acrescido de 0,5% de Tween® 20 e 2% polivinilpirrolidona (PBS-TPo). A placa foi novamente incubada a 37ºC por 2h, sendo lavada e acrescentando-se a seguir 100µl do conjugado (“anti-rabbit IgG Alkaline Phosphatase” Sigma), anti-imunoglobulina de coelho conjugada à enzima Fosfatase Alcalina diluída a 1/3000 (v/v) em PBS-TPo incubando-se por 2 h a 37 °C. Após a lavagem foram adicionados, nos poços 100µl do substrato da enzima p-nitofenil fosfato (“Phosphatase Substrate” Sigma), diluída em Tampão Substrato (9,7%mL de dietalonamina; 0,02g de cloreto de magnésio; 0,02g de azida sódica em 100mL de água destilada, pH 9,8) na proporção de em 1mg/ml. O controle negativo foi de plântulas de alface sadias provenientes de sementes certificadas germinadas em câmara de crescimento (BOD). Os controles positivos foram os isolados CoFiKS 18/1998 e CoFiKS 20/1998. A leitura de absorbância à 405nm em leitor de ELISA “Multiskan Microplate Reader Bio-Rad Modelo 3550 UV” (BioRad) foi realizada 30 minutos após a adição do substrato. Os resultados foram obtidos dividindo-se o valor médio da absorbância da leitura de cada amostra infectada (I), pelo valor médio obtido da leitura da amostra controle sadia (S). Os valores de I/S iguais ou superiores a três foram considerados positivos. 20 4.6 Testes moleculares 4.6.1 Extração do RNA Total A extração do RNA total foi realizada utilizando o reagente Trizol®, seguindo indicações do fabricante (INVITROGEN). 100µg de tecido foliar coletados de plantas de C. amaranticolor apresentando sintomas de mosaico foram trituradas em nitrogênio liquido e transferidos para microtubos de 1,5mL. Foi adicionado as amostras 1mL de reagente Trizol® e as amostras foram homogeneizadas. Após, procedeu-se uma centrifugação a 12,000 x g por 10 minutos a 4ºC e incubação das amostras por 5 minutos em banho de gelo. Foi adicionado a solução 200µL de clorofórmio e as amostras foram agitadas vigorosamente por 15 segundos e incubadas em banho de gelo por 5 minutos. As amostras foram centrifugadas a 12,000 x g por 15 minutos a 4ºC e o sobrenadante foi transferido para novos tubos, sendo adicionados 500µL de álcool isopropílico. As amostras foram incubadas novamente por 10 minutos em banho de gelo e posteriormente centrifugadas a 12,000 x g por 10 minutos a 4ºC. O precipitado resultante foi lavado com etanol 75%. A mistura foi agitada vigorosamente e centrifugada a 7,000 x g por 5 minutos a 4ºC. O precipitado foi seco em temperatura ambiente e depois suspendido em água destilada deionizada estéril. As amostras foram conservadas a -20ºC. Como controle negativo, foi realizada extração de RNA de uma planta de C. amaranticolor sadia. 4.6.2 Reação de transcriptase reversa seguida de reação em cadeia de polimerase (RT-PCR) As extrações de RNA Total foram submetidas a RT-PCR utilizando par de oligonucleotídeos iniciadores (primers) específicos para o LMV (Tabela 3). Este par de primers foi desenhado para amplificar em reação do PCR um fragmento correspondente à região 3’ codificadora da proteína NIb e a região 5’ codificadora da proteína capsidial do LMV. A reação de transcrição reversa foi realizada utilizando 4,0 µL de RNA total, 0,5 µL de oligo dT e 5,5 µL de água destilada deionizada estéril. A mistura foi submetida a 70 °C por 5 minutos para desnaturação do RNA e, imediatamente, colocada em banho de gelo, para evitar a renaturação do mesmo. Adicionou-se a mistura 5 µL de tampão 5X da transcriptase reversa (PROMEGA), 0,5 µL de mistura de dNTPs (2,5mM cada), 1,0 µL de transcriptase reversa (M-MLV-PROMEGA) e 8,5 µL de água destilada deionizada estéril. A mistura foi submetida a 42 °C por 1 h para obtenção do DNA complementar (cDNA). A reação de PCR foi feita utilizando o kit GoTaq® Flexi DNA Polymerase (PROMEGA). Foi utilizado 5 µL do cDNA , 10 µL do tampão 5X GoTaq® Flexi Buffer, 1,0 µL de mistura de dNTPs (2,5mM cada), 1,0 µL de cada primer (1,0 µM), 4,0 µL de MgCl2 (2,0 mM) e água destilada deionizada para um volume final de 50 µL. 21 Os produtos da PCR foram visualizados por meio de eletroforese em gel de agarose (1,5%) contendo brometo de etídio (1,5 µg/mL). Tabela 3: Oligonucleotídeos utilizados para amplificação dos vírus nas análises de RT-PCR. Nome dos Posição no Sequência Tamanho do iniciadores genoma do produto de (primers) LMV amplificação 09171m 9171 5’GCGTTGATGTCGTCATCYTT 3’ 08894p 8894 5’CCGTACATAGCIGARTGTGCT 3’ 278 pb *Fonte: KRAUSE-SAKATE et al.,2002. 4.6.3 Digestão dos produtos da RT-PCR Os produtos da RT-PCR foram purificados utilizando o QIAquick® PCR Purification Kit, de acordo com as indicações do fabricante (QIAGEN). O DNA purificado foi digerido com a enzima Eco RI na seguinte proporção: 17,6 µL de DNA purificado, 2 µL do tampão React®3 e 0,4 µL de enzima Eco RI. A reação foi incubada por 2 h a 37 °C e visualizada em gel de agarose 2% contendo brometo de etídio (1 µg/mL) (AUSUBEL et al., 1999). 22 5. RESULTADOS E DISCUSSÃO 5.1 Transmissão mecânica e avaliação de sintomas As plantas de C. amaranticolor foram avaliadas para a visualização de sintomas, até 30 dias após a inoculação com o extrato das sementes das variedades comerciais e das linhagens de alface. Dentre as variedades comerciais avaliadas nenhuma delas induziu sintomas nas plantas de C. amaranticolor, e nas linhagens avaliadas, apenas a linhagem C13 foi positiva induzindo sintomas de anéis cloróticos locais e mosaico sistêmico em plantas de C.amaranticolor (Figura 3). Os isolados LMV CoFiKS 18/1998 e CoFiKS 20/1998, empregados como controle positivo manifestaram sintomas de mosaico sistêmico (Figuras 4 e 5). Quando se pretende fazer uma avaliação de perdas, provocadas por um determinado vírus na planta hospedeira cultivada, não se pode deixar de considerar a variabilidade biológica e molecular do vírus. Um mesmo vírus pode ter subgrupos que induzem sintomas com diferentes severidades e que são capazes de infectar certas variedades ou espécies (PINK et al., 1992). Apesar dos vírus poderem causar uma série de diferentes sintomas na planta hospedeira suscetível, os sintomas observados externamente nessa planta são os que servem como indícios da presença da doença no campo. Alguns dos sintomas morfológicos ou externos provocados por vírus são bastante característicos, de modo que podem permitir a sua diagnose imediata. No entanto, nem todos os vírus induzem sintomas característicos que permitem a sua diagnose pela inspeção visual das plantas (FIGUEIRA, 2000). Algumas espécies de hospedeiras têm sido utilizadas como indicadoras para a presença de LMV, por apresentarem sintomas característicos de lesão local e sistêmica, como as espécies C. quinoa e C. amaranticolor, sintomas sistêmicos como Nicotiana benthamiana e sintoma local como Gomphrena globosa (ZERBINI et al., 1995). A manifestação dos sintomas do LMV pode ser alterada de acordo com os fatores ambientais, como temperatura e luminosidade (RYDER, 1979). Em temperaturas elevadas, o número de plantas sem sintomas é maior (RYDER, 1979). Entretanto, apesar da avaliação biológica ser simples, é uma técnica demorada e nem sempre apresenta absoluta precisão nos resultados (FIGUEIRA, 2000). 23 Figura 1: C. amaranticolor inoculado com a linhagem C13, sintomas localizados de anéis cloróticos e mosaico. Figura 2: C. amaranticolor inoculado com o isolado LMV CoFiKS 18/1998, com sintoma de mosaico sistêmico. 24 Figura 3: C. amaranticolor inoculado com o isolado LMV CoFiKS 20/1998, com sintomas de mosaico sistêmico. 5.2 Teste Sorológico O resultado da leitura dos testes de PTA-ELISA foi negativo para a presença do LMV para todas as amostras comerciais e para 9 das linhagens avaliadas. Mas, foi positivo para a linhagem C13 e para os controles positivos LMV CoFiKS 18/1998 e CoFiKS 20/1998. A principal dificuldade, que constitui um fator decisivo na eficiência dos testes de diagnose, é a sensibilidade da técnica empregada, uma vez que, além da baixa concentração de partículas virais nas sementes, geralmente a porcentagem de sementes infectadas varia entre 5 e 15%. A localização da partícula viral na semente também pode interferir na eficiência da técnica diagnóstica. O TMV (Tobacco mosaic virus), por exemplo, se localiza na parte externa das sementes, enquanto o LMV se localiza nos tecidos embrionários, devido à infecção do óvulo ou do grão de pólen (GROGAN, 1980). A taxa de transmissão do LMV pelas sementes de alface varia de 1,33 a 16,5%, de acordo com o subgrupo e o cultivar utilizado (DINANT & LOT, 1992; JADÃO et al.,2002). Em estudo realizado por FALK & PURCIFULL (1983), vários fatores como o tipo de placa, a concentração da imunoglobulina e a preparação das amostras podem afetar a confiabilidade do teste de PTA-ELISA para o LMV. Estes autores, verificaram ainda que não houve diferença de detecção do LMV, ao indexar lotes de sementes de variedades comerciais, simultaneamente, por teste biológico e por PTA-ELISA. Apesar de o PTA-ELISA ser um teste mais rápido e fácil de ser executado. 25 A técnica de PTA-ELISA é amplamente utilizada na diagnose de fitoviroses, porém, não é suficientemente sensível na diagnose de determinadas viroses podendo levar a conclusões equivocadas a respeito da identidade de um vírus desconhecido. Embora a sorologia seja amplamente utilizada, as técnicas moleculares vêm se tornando cada vez mais comum, e a tendência é de que seu uso seja crescente (ZERBINI et al., 2001). O papel da transmissão do LMV via semente na epidemiologia do mosaico da alface é conhecido (GROGAN et al.,1952; GROGAN, 1980), sendo de extrema importância para o controle do LMV em alface, o uso de sementes livres de vírus. Antes da adoção do uso de sementes indexadas, havia muitas quebras de produção nos cultivos de alface (GROGAN, 1980). Uma das medidas de controle do LMV é baseada na utilização de sementes certificadas (KRAUSE-SAKATE, 2001). TOMLINSON (1992) observou que a porcentagem de plantas com sintoma de mosaico no campo está diretamente relacionada com a porcentagem de sementes infectadas com o LMV. Com os resultados obtidos, concluiu que sementes apresentando porcentagens de infecção superiores a 0,1% não devem ser consideradas aptas para a certificação, pois sementes com taxas de infecção entre 2,2 e 3,3% propiciaram no campo 25 a 96% de plantas com sintoma de mosaico. Na América do Norte, onde a principal estratégia para controle do mosaico da alface é o uso de sementes livres de vírus (GROGAN, 1980), a quebra da resistência por isolados ainda não foram detectados (ZERBINI et al.,1995; ZERBINI & GILBERTSON,1995). Assim, a pressão de seleção, devido ao uso de cultivares resistentes pode desempenhar um papel no surgimento e seleção de novas cepas virais (ZERBINI et al., 1995). 5.3 Testes Moleculares As reações de RT-PCR das amostras da Linhagem C13 e dos isolados LMV CoFiKS 18/1998 e CoFiKS 20/1998, amplificaram produtos de aproximadamente 280 pb, como esperado para o par de primers utilizado na reação. Isto confirma a presença do LMV nas amostras testadas (Figura 5). Não foi observada a presença de produtos de amplificação para o controle negativo. Quando realizada a digestão dos produtos da RT-PCR, não foi visualizada a digestão dos fragmentos de aproximadamente 280 pb. Este fato demonstra que os produtos da RT-PCR não contêm em sua seqüência o sítio de restrição para a enzima EcoRI (GAATTC), que é esperado para o subgrupo do LMV-Most (REVERS et al., 1999). O padrão de bandas esperado para a digestão é de 194 pb e 84 pb. PEYPELUT et al., (2004) analisaram 204 amostras de alface para a detecção do LMV e observaram que os isolados do LMV-Most avaliados possuíam o sítio de restrição para a enzima Eco RI, demonstrando que a técnica pode ser empregada para a diferenciação do subgrupo LMV-Most do 26 subgrupo LMV-Common. Portanto, a Linhagem C13 e os isolados de LMV CoFiKS 18/1998 e LMV CoFiKS 20/1998 analisados, podem ser classificados como pertencentes ao subgrupo LMV-Common, baseando-se nesta metodologia. Figura 6: Perfil eletroforético dos produtos da RT-PCR. Observou-se a presença de bandas de aproximadamente 280pb nas colunas 1 (linhagem C13), 2 (isolado CoFiKS 20/1998) e 3 (isolado CoFiKS18/1998). Na coluna 4 (controle negativo) não se observou a presença de bandas. Pode-se observar que não foi diagnosticada a presença de LMV-Most em qualquer das amostras analisadas. Este resultado está de acordo com levantamentos realizados no estado de São Paulo (FIRMINO et al, 2005) em que se verificou prevalência do subgrupo LMV-Common em relação ao LMV-Most. Apesar de este último ter adquirido a capacidade de contornar a resistência dos genes recessivos mo11 e mo12, não parecem estar tão adaptados quanto ao LMV-Common, de modo que em nossas condições onde ainda predomina o cultivo de alfaces suscetíveis e existe baixa pressão de seleção para contornar estes genes de resistência, faz com que o LMV-Common ocorra com maior incidência no campo. Considerando-se a identificação do LMV-Common na linhagem experimental C13 e nos isolados LMV CoFiKS 18/1998 e LMV CoFiKS 20/1998 pode-se inferir que a linhagem experimental C13, a alface ‘Verônica’- isolado CoFiKS 18/1998 e a alface Americana isolado CoFiKS 20/1998, não possuam o gene Mo2 ou que a resistência por ele conferida tenha sido contornada. Os isolados do LMV pertencentes ao subgrupo LMV-Most e LMV-Common podem ser detectados diferencialmente via RT-PCR com oligonucleotídeos específicos (PEYPELUT et al., 2004). Utilizando essa estratégia, em levantamento realizado nas principais regiões produtoras de alface do estado de São Paulo entre 2003 e 2005, FIRMINO et al. (2005) verificaram a incidência de isolados do LMV pertencentes aos dois 27 subgrupos sendo 11% positivas para o LMV-Most, e 25% positivas para o LMV-Common (FIRMINO et al., 2005). Medidas de controle para o LMV seriam a obtenção e o emprego de plantas resistentes (RYDER, 1968). De acordo com PAVAN & KUROZAWA (1997), as cultivares ‘Gallega de Inverno’ e ‘PI-251245’ apresentam tolerância ao mosaico causado por LMV-II, regida por genes recessivos. Assim, tanto na Europa como no Brasil, o controle do LMV vem sendo feito através da utilização de cultivares resistentes (ZERBINI, 1997), ou seja, plantio de cultivares portadoras dos genes de resistência recessivos mo11 e mo12 (KRAUSESAKATE, 2001). No Brasil, se utiliza basicamente cultivares com o gene mo11, enquanto que nos Estados Unidos e Europa adota-se a certificação de sementes juntamente com cultivares de alface portadoras do gene mo12. O gene mo11 foi inicialmente incorporado nas cultivares de série Brasil lançada pelo Instituto Agronômico de Campinas-IAC, e posteriormente em outras cultivares como Elisa (lisa), Gisele e Wanda (crespa) (PAVAN, et al., 2005). Porém, no início da década de 1990, isolados de LMV capazes de contornar a resistência conferida pelos genes mo11 e mo12 foram detectados, inicialmente na Europa e no Oriente Médio (PINK et al., 1992) e mais recentemente no Brasil (STANGARLIN et al., 2000). Em experimentos de indexação de sementes, provenientes de plantas infectadas pelo LMV-II (atual LMV-Common) e pelo LMV-IV (atual LMV-Most), realizados no Brasil, a taxa de transmissão do isolado AF199 LMV- IV (atual LMV-Most) foi bastante elevada, chegando a 16,5% em cultivares de alface onde os genes de resistência estão ausentes, e a 1,9% em genótipos contendo os alelos mo11 e mo12 (JADÃO et al., 2002). O subgrupo LMVCommon não infecta plantas contendo os alelos de resistência recessivos. A capacidade de quebra de resistência aliada à transmissão pela semente torna esses subgrupos uma séria ameaça para a cultura da alface, por facilitar sua disseminação à longa distância do vírus por meio do comércio internacional de sementes. Até o presente momento não foram identificadas fontes naturais de resistência ao subgrupo Most. O papel da transmissão do LMV por sementes na epidemiologia do mosaico da alface é de extrema importância, sendo o uso de sementes livres de vírus para o controle do LMV em alface uma das medidas mais eficientes. Pois, antes da adoção do uso de sementes indexadas, havia muitas quebras de produção nos cultivos de alface (GROGAN et al.,1952; GROGAN, 1980). Inicialmente, as tentativas de controle do LMV eram realizadas pelo uso de sementes com nível de tolerância inferior a 0,1%, porém o controle completo só foi atingido pelo uso de sementes indexadas para a transmissão do LMV de 0 em 30.000 (GROGAN, 1983). 28 Pelos resultados negativos obtidos neste trabalho, para as cultivares comerciais importadas da Europa, Estados Unidos e Japão, pode-se inferir que o programa de indexação de sementes empregado pelas empresas esta sendo eficiente e esta contornando a entrada de inóculo primário nos cultivos de alface, bem como os testes de indexação realizados pelos laboratórios nacionais também tem se mostrado eficientes na indexação dos materiais importados. O LMV ocorre em todo o mundo, muito provavelmente devido ao intercâmbio mundial de sementes. A porcentagem de infecção nas sementes colhidas a partir de plantas infectadas pode atingir até 30% das sementes produzidas pela planta, o que mostra a importância da utilização de um controle rigoroso na produção de sementes desta espécie. O uso de cultivares com resistência ao LMV tende a reduzir significativamente a incidência da doença. A produção de sementes de alface, assim como da própria alface oriunda de sementes produzidas no Brasil, era praticamente inviável até a década de 1960, isto em razão das primeiras fontes de resistência (alelo recessivo mo11, anteriormente denominado g) ao LMV em alface, terem sido identificadas no final da década de 60, aliada a pressão de inóculo no campo principalmente devido a presença de afídeos, plantas hospedeiras e condições climáticas (BANNEROT et al.1969). Por mais de 20 anos a resistência genética condicionada pelos alelos de resistência mo11 e mo12, foi classificada como durável, sendo responsável pela baixa incidência de mosaico. No entanto, estudo realizado com esses cultivares possibilitou a identificação da ocorrência de uma nova variante do LMV, denominado patotipo IV (atual LMV-Most), capaz de quebrar a resistência conferida pelos genes presentes nesses materiais (STANGARLIN et al.,2000). A introdução de germoplasma através de sementes é o meio mais empregado, porém há um grande número de doenças transmissíveis pela semente e em alguns casos a sua detecção é mais difícil do que em material de propagação vegetativa (ROCHA, 1985). Portanto, métodos de diagnóstico com alta sensibilidade são de extrema importância para a indexação de vírus em material vegetal com trânsito entre diferentes países. 29 6. CONCLUSÃO • Pelos resultados obtidos pode-se concluir que os métodos biológicos e sorológicos possuem a mesma sensibilidade para avaliar a presença do LMV em extrato bruto de sementes; • O tipo de placa, a concentração da imunoglobulina e a preparação dos extratos das amostras podem ter afetado a confiabilidade do teste de PTAELISA para o LMV; • A identificação do subgrupo LMV-Common e LMV-Most pode ser realizada pela RT-PCR seguida pela digestão enzimática com a EcoRI; • Nas amostras de sementes avaliadas foi detectado o LMV-Common somente na linhagem experimental C13. 30 7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ABCSEM- Associação Brasileira de Sementes e Mudas, <www.abcsem.com.br>, acesso em 2009. AGRIANUAL. Anuário da agricultura brasileira. São Paulo: FNP consultoria e agroinformativos. 2007. 491p. ALVES, H.T. Campanhas Fitossanitárias Nacionais. In: Encontro nacional de fitossanitaristas, 1., 1980, Campinas. Anais...Campinas:[s.n.], 1980.p. 15-27. 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