PULGÕES DA ALFACE Valdir Atsushi Yuki Instituto Agronômico

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PULGÕES DA ALFACE
Valdir Atsushi Yuki
Instituto Agronômico, Centro de Fitossanidade, CP 28, CEP 13001-970,
Campinas, SP, Brasil. E-mail: [email protected]
A alface (Lactuca sativa L.) pode ser colonizada por cerca de 16 espécies
diferentes de afídeos (BLACKMAN & EASTOP, 1989). Desses, os que foram
encontrados em São Paulo, tanto em condições de campo, como em cultivo
protegido, são: Myzus persicae (Sulzer), Uroleucon ambrosiae (Thomas) e
Rhopalosiphum rufiabdominalis (Sasaki) (COSTA et al., 1972). Mais recentemente
foi verificada a presença de mais uma espécie colonizando plantas de alface,
Nasovia ribis nigri (Mosley).
Os afídeos, ou comumente chamados de pulgões, tem dupla importância
na cultura:
a. como praga, alimentando-se sobre as plantas, nas folhas ou em alguns
casos, nas raízes. Causam danos diretos sugando a seiva, injetando toxinas,
e, em caso de altas populações, provocando o desenvolvimento da fumagina,
causando perdas, tanto quantitativas, como qualitativas. Algumas vezes, essas
perdas ocorrem não pelo aspecto, mas pela presença de alguns desses insetos
nas folhas que os consumidores refugam;
b. como vetores de vírus, especialmente o vírus do mosaico da alface
(“Lettuce mosaic virus” – LMV), um dos principais problemas de viroses da
cultura, que pode em alguns casos causar perdas totais.
A seguir descrevemos as principais características desses pulgões:
1. Myzus persicae (Sulz.) = Esta espécie de afídeo é uma das mais abundantes
em São Paulo, ocorrendo de maneira generalizada em todo o mundo
(cosmopolita), e considerada a mais importante vetora de vírus; somente esta
espécie é capaz de transmitir mais de 100 diferentes vírus de plantas (KENNEDY
et al., 1962). É vetora eficiente do LMV. Tem tamanho de 1,2 a 2,3 mm, com
coloração verde pálida, amarelo pálida e até rosada. O formato do corpo é
periforme. Entre plantas daninhas e cultivadas, coloniza mais de 40 famílias
botânicas, portanto, é uma espécie polífaga. Tem relativa resistência aos
inseticidas, daí a dificuldade no seu controle. Na maioria das espécies de
plantas esse afídeo tem preferência por se alimentar nas partes mais baixas
da planta e no lado inferior das folhas, dificultando ainda mais o seu controle.
O fato do mosaico da alface ocorrer nos períodos mais frios do ano está
relacionado com os períodos de maiores revoadas deste pulgão, que vai de
abril a setembro, com pico em maio.
2. Nasovia ribis-nigri (Mosley) = Esta espécie, já é descrita ocorrendo no Brasil
(BLACKMAN & EASTOP, 1985), mas somente em 1998 foi reconhecida como praga
importante nas culturas comerciais de alface em São Paulo e não se sabe
exatamente há quanto tempo ocorre entre nós. Foi reconhecida justamente
quando começou a causar danos à cultura como praga de difícil controle, em
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razão da sua localização no interior da cabeça da alface, sendo os pulgões
dispersos entre as folhas que se fecham. Tem tamanho de 1,5 a 2,5 mm,
coloração verde, verde claro a amarelo pálido. Ainda nada se sabe sobre os
hábitos de colonização, transmissão de vírus e meios de controle em São
Paulo. Aparentemente o grande problema está na sua localização na planta
o que dificulta o seu controle. O pulgão é considerado vetor do LMV (DAVIS et
al., 1997), mas de eficiência baixa (BLACKMAN & EASTOP, 1989).
3. Rhopalosiphum rufiabdominalis (Sasaki) = São pulgões que colonizam as
raízes de muitas plantas, inclusive a alface. Tem tamanho de 1,2 a 2,0 mm, de
coloração verde muito escura a oliva e a parte posterior avermelhada a marrom.
É cosmopolita e polífaga. Aparentemente não é vetor do LMV.
4. Uroleucon spp. = Aparentemente, a espécie mais comum em alface é o
Uroleucon ambrosiae (Thomas). São afídeos relativamente grandes, com
tamanho de 3,0 a 3,5 mm, de coloração vermelha escura e formato alongado;
são muito fáceis de serem distinguidos nas plantas. Embora também se
alimentem nas folhas, tem certa preferência pelas hastes floríferas. Ocorrem
com freqüência nas plantas daninhas. Parece não ser vetora do LMV.
5. Outras espécies: Algumas outras espécies que ocorrem em São Paulo e
podem ser encontradas colonizando as alfaces são: Aphis gossypii Glover,
A. fabae Scopoli, A. citricola van der Goot (=A. spiraecola Patch), Aulacorthum
solani (Kltb.), Macrosiphum euphorbiae (Thomas) e Pemphigus spp. (em raízes).
6. Hyperomyzus lactucae (L.) = Embora esta espécie de afídeo não seja
considerada hospedeira de plantas de alface, está sendo aqui inserida
por ser vetora do LMV e ocorrer nas plantas daninhas próximas à cultura.
Tem tamanho de 2,0 a 2,7 mm, de coloração esverdeada e seu corpo é
relativamente alongado. É um pulgão parecido com N. ribis-nigri. Pode
também ser confundido com o M. persicae, entretanto, essa última espécie
é menor, de coloração mais pálida. Este pulgão coloniza outras espécies
da família da alface (compostas) como as serralhas (Sonchus spp., Emilia
spp. etc.). Sua importância se deve a ser bastante comum nessas plantas
daninhas e sempre ocorrer nas proximidades da cultura de alface, além
de ser vetor do LMV.
Controle
Até o momento, as medidas de controle dos pulgões da alface eram
baseadas em reduzir a incidência dos vírus por eles transmitidos, entretanto,
com o aumento da sua importância como praga, principalmente a espécie N.
ribis-nigris, novas recomendações são necessárias. Por falta de maiores
conhecimentos originados de pesquisas sobre essa espécie em São Paulo, as
medidas aqui recomendadas são resultantes da experiência pessoal do autor
com afídeos em geral:
1. uma boa cultura inicia-se com um bom preparo do solo, que deve estar livre
de plantas daninhas no momento da semeadura ou transplante. As plantas
daninhas a serem controladas não são somente as do canteiro, mas, também
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nos carreadores e locais que estejam infestados, principalmente as de folhas
largas. Não há necessidade de controle das gramíneas (folha estreita);
2. separar bem os lotes de acordo com as idades, se possível colocar uma tela
(tipo sombrite ou outra) de pelo menos 1,5 m separando um do outro;
3. dê preferência ao plantio de mudas (transplante) à semeadura direta no
campo. O controle de pragas é mais fácil nas bandejas do que no campo e as
mudas ficam menos expostas às revoadas dos pulgões. É importante que
essas mudas sejam produzidas em locais protegidos e com um bom controle
de pragas. Esse controle deve estar sempre concentrado no início da cultura,
para se evitar que a praga atinja níveis elevados na colheita;
4. mantenha as mudas o máximo possível em local protegido, retardando o
transplante, a fim de que fiquem menor tempo possível no campo. Desse
modo reduz-se o tempo de colonização, consequentemente diminuindo o
número de gerações dos pulgões em cada ciclo da cultura;
5. leve as mudas protegidas com inseticida para o campo. Pouco antes do
transplante faça uma boa pulverização com um inseticida para retardar o
início da colonização pelos pulgões;
6. no campo, o controle das mudas novas é importante, portanto, concentrese em fazer um bom controle no início da cultura. Mudas novas e recém
transplantadas são as melhores hospedeiras de pulgões;
7. os pulverizadores devem estar bem regulados e calibrados. Muitas vezes a
falta de eficiência de um agrotóxico é resultado do mau uso e a falta de
manutenção do pulverizador. A distribuição dos bicos, altura da pulverização,
vazão e pressão devem estar reguladas e calibradas. Lembre-se, nem sempre
o mau controle se deve à ocorrência de resistência dos insetos;
8. evite que a própria alface ou outros matos sirvam de criadouro de pulgões.
Após a colheita destrua imediatamente todos os restos de cultura. Com uma
rotativa incorpore tudo no solo e mantenha o canteiro livre de plantas
daninhas até o próximo plantio.
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
BLACKMAN , R.L. & EASTOP, V.F. Aphids on the world’s crops: an identification guide.
Chischester: John Wiley & Sons, 1989. 466p.
C OSTA, C.L.; E ASTOP, V.F.; C OSTA, A.S. A list of the species (Homoptera: Aphidoidea),
collected in São Paulo, Brazil. Rev. Per. Entomol., v.15, n.1, p.131-134, 1972.
DAVIS, R.M.; SUBBARAO, K.V.; R AID, R.N.; K URTZ, E.A. Compendium of lettuce diseases. St.
Paul: APS Press, 1997., 79p.
KENNEDY, J.S.; DAY, M.F.; E ASTOP, V.F. A conspectus of aphids as vectors of plant viruses.
London: Commowealth Institute of Entomology, 1962. 114p.
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