Impressões sobre contextos escolares diferentes - Unifal-MG

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Impressões sobre contextos escolares diferentes
Amadeu Pinto de Moraes
Universidade Federal de Alfenas – UNIFAL-MG
Análise dos Diferentes Contextos Escolares
A presente reflexão visa apresentar impressões iniciais dos diferentes contextos
escolares onde o PIBID de Ciências Sociais atua. Uma escola situa-se no centro da cidade de
Alfenas – MG e a outra na periferia do município. Cabe ressaltar que as diferenças não são
apenas de localização, mas também de conjectura. Sendo assim, estes dois contextos se
diferenciam pela localização geográfica, pelas características do seu entorno, pelos discursos
que representam, pela estrutura física dos prédios das escolas.
Ao se pensar nos diferentes contextos escolares, pode-se refletir por meio da análise de
Durkheim (1978, p. 40 ) sobre o caráter uno e diverso da educação:
[...] toda e qualquer educação, a do rico e a do pobre, a que conduz às
características liberais, como a que prepara para as funções industriais [...]
tem por função suscitar na criança um certo número de estados físicos e
mentais, que a sociedade, a que pertença, considere como indispensáveis a
todos os seus membros; certos estados físicos e mentais, que o grupo social
particular (casta, classe, família, profissão) considere igualmente
indispensáveis a todos quantos o formem.
Considerando a educação como una e diversa, pode-se compreender que o discurso de
preparação integra dos alunos para as provas de classificação para o ensino superior que a
“Escola A” reproduz é produto de uma norma de conduta do próprio período histórico, em
que a meritocracia é entendida como condição dada para as formas materiais da vida.
Percebendo via observação direta que a “Escola A” dá oportunidade aos alunos do
terceiro ano do ensino médio de confeccionarem camisetas de turmas, onde estampam frases
em que fica explícita a noção de meritocracia: “O talento, a força de vontade e a persistência
nos trouxeram até aqui”. Há também um plangente discurso durante as aulas sobre as
tecnologias que são “necessárias” para prestar a prova do ENEM (Exame Nacional de Ensino
Médio), em que se percebe serem produtos do contexto histórico que forja a noção de
competição – através da educação –, característica do modelo capitalista. Se for pensado nesta
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16 a 18 de maio de 2012.
configuração, temos uma interiorização do discurso defendido pela escola por parte dos
alunos, em que por vias informais constata-se que mesmo alunos de outros contextos sociais,
como o da “Escola B”, que será trabalhado mais a frente no texto, reproduzem verbalmente a
eficiência pretendida pelo discurso, que por muitas vezes não serão constituídos
materialmente, pois a competição implica na exclusão, e a atual noção de educação do senso
comum que contempla os dados quantitativos.
Diferente deste contexto mencionado acima, temos outra realidade na “Escola B”. Se
na “Escola A” há um estereótipo de uma escola “melhor”, nesta outra escola, pelas suas
particularidades, nota-se a sua desvalorização, que por vezes sustenta-se em noções préconcebidas, a respeito dos alunos, como também de moradores do seu entorno. Por meio de
diálogos informais com alunos, os mesmos expõem as colocações dos pais que os obrigam a
irem para a escola enquanto estão no horário de trabalho, assim como a visão esperançosa
destes pais acerca da educação: a escola passa a ser um ambiente onde os pais enviam seus
filhos acreditando que nele o seu filho estará “seguro” (no sentido de que não estão na rua),
como também poderão ascender socialmente. Entretanto, neste contexto em que a escola é
considerada um lugar “seguro” e, paralelamente que recebe alunos que muitas vezes já estão
inseridos no mundo do trabalho e o contato familiar é constituído basicamente pelos finais de
semana, a escola passa a adotar práticas de coerção destes alunos, em que necessariamente
não se busca a compreensão dos fatos ocorridos dentro das salas de aula, mas busca-se sempre
mantê-los retidos dentro das salas.
Esse processo passa pela configuração de reconhecer estes como patológicos,
estereotipados como possíveis “marginais”. Entretanto, como afirma Collares (1995, p.8), o
processo de patologização na relação ensino-aprendizagem tece juízos provisórios, e não
necessariamente estes juízos se confirmam na realidade, acentuando desta maneira o
preconceito. Esta contextualização de garotos supostamente “doentios” considerado por
funcionários da escola, que por vezes presenciei se referirem aos alunos como “loucos”,
ligado à condição de que o trabalho denota tempo, energia etc., acentua a visão ainda relativa
do aluno sobre o papel da escola, em que este passa a se questionar se realmente a conclusão
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do período escolar obrigatório é de fato necessária no que diz respeito às condições de
configuração da trajetória pretendida de vida.
Por meio de diálogos informais me parece que os alunos passaram a considerar a
presença na escola como um fardo, pois expõem a dificuldade em estudar e trabalhar e a
obrigatoriedade imposta pelos que veem o espaço escolar como uma forma de ascensão
social, além e considera-la um espaço “seguro” (e mais produtivo) se comparado às ruas.
Logo, é possível afirmar que a escola não está fora do contexto social, mas sim inserida nele
e, portanto, exteriorizará e interiorizará aspectos do período histórico como as relações do
mercado de trabalho capitalista e os estereótipos criados pela sociedade.
Dentro desses aspectos expostos, pode-se considerar a escola como um lugar que
redefine as configurações do modelo capitalista? Lembrando que o processo competitivo
implica na exclusão ou a “marginalização” dos que não detém o conhecimento que é dito
necessário para se produzir a vida.
Referências Bibliográficas
DURKHEIM, Émile. Educação e sociologia. São Paulo; Almedina, 2009.
COLLARES, Cecília A. Lima. O cotidiano escolar patologizado: espaço de preconceitos e
práticas cristalizadas. Tese de livre-docência, Faculdade de Educação da Universidade
Estadual de Campinas, 1995.
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