1 Universidade Estadual de Santa Cruz Departamento de Ciências Exatas e Tecnológicas Especialização em Matemática - Estruturas Algébricas Profa .: Elisangela Farias e Sérgio Motta FUNÇÕES Sejam X e Y conjuntos. Uma função de X em Y é um terno (f; X; Y ), f : X ! Y , sendo f uma relação de X para Y satisfazendo: (a) Dom(f ) = X, (b) Se (x; y) 2 f e (x; z) 2 f então y = z: [Dizemos que função é uma regra que a cada elemento x 2 X, associa um único elemento y 2 Y . ] Em notação, f :X !Y x 7 ! f (x) = y Dizemos que y é a imagem de x sob f e que x é a imagem inversa de y sob f. O conjunto Y é dito contra-domínio da função e não necessariamente coincide com o conjunto das imagens da função. Quando é dada uma lei x 7 ! f (x) = y que associa aos elementos de X elementos de Y; para termos certeza que esta lei de…ne uma função f : X ! Y; devemos veri…car que efetivamente a cada elemento de X é associado um único elemento de Y: Deve-se mostrar que se a = b; então f (a) = f (b): Além disso, deve-se garantir ainda que D(f ) = fx 2 X; 9y 2 Y : f (x) = yg = X: Exemplos e Contraexemplos Exemplo 0.1. A função f : X ! X, que ao elemento x associa o próprio x; recebe o nome de função identidade de X, e é denotada por IdX : 2 Exemplo 0.2. Seja f : X ! Y uma função tal que 9b 2 Y com f (x) = b para todo x 2 X. Esta aplicação é a função constante. Exemplo 0.3. Toda função s : N ! A é chamada sequência em A: Costuma-se escrever sn ao invés de s(n): Exemplo 0.4. Seja A um conjunto. Uma função qualquer f :A A !A é chamada de operação em A. Dizemos que a operação é comutativa se f (a; b) = f (b; a); 8(a; b) 2 A A: A operação é dita associativa se para todos os elementos a; b; c 2 A se tem f (a; f (b; c)) = f (f (a; b); c): Um elemento e 2 A é dito elemento neutro para a operação f se para todo elemento a 2 A se tem f (a; e) = f (e; a) = a: Se f possui um elemento neutro e; então um elemento a 2 A é dito simetrizável se existe b 2 A tal que f (a; b) = f (b; a) = e: Exemplo 0.5. Seja g : R ! R dada por x 7 ! p x: Esta regra não é uma função pois D(g) = R+ 6= R Exemplo 0.6. Seja g : R p ! R dada por x 7 ! 1 x2 : Esta regra não é uma função pois D(g) = [ 1; 1] 6= R e existem dois correspondentes para um mesmo valor de x: Exemplo 0.7. Seja f : R ! R de…nida por f (x) = [x] para todo x 2 R em que [x] denota o maior inteiro menor ou igual a x: Esta é chamada função maior inteiro. Exemplo 0.8. Seja A um subconjunto de um conjunto não vazio X: Então a relação f(x; y) 2 X f0; 1g; y = 1 se x 2 A e y = 0 se x 2 X Ag dá origem a uma função de X em f0; 1g, conhecida como função característica de A : : X ! f0; 1g 8 < 1 se x 2 A; A A (x) = : 0 se x 2 X ; A; . 3 Imagens e Imagens Inversas de Conjuntos Seja f : X ! Y uma função, e sejam A e B subconjuntos de X e Y; respectivamente. (a) A imagem de A sob f , que denotamos por f (A) é o conjunto de todas as imagens f (x) tais que x 2 A f (A) = ff (x); x 2 Ag (b) A imagem inversa de B sob f , que denotamos por f imagens dos elementos y 2 B f 1 1 (B) é o conjunto de todas as pré- (B) = fx; f (x) 2 Bg 0.1 Teorema. Seja f : X ! Y uma função. Então (a) f (;) = ; (b) f (fxg) = ff (x)g (c) Se A B X; então f (A) (d) Se C D Y , então f 1 (C) f (B) f 1 (D) 0.2 Teorema. Seja f : X ! Y uma função e seja fA g; 2 I uma família de subconjuntos de X. Então (a) f ([ 2I A )=[ 2I f (A ) (b) f (\ 2I A ) \ 2I f (A ) Exemplo 0.9. Sejam X = fa; bg, Y = fcg; I = f1; 2g; A1 = fag; A2 = fbg e seja ! Y a função constante f (a) = f (b) = c: Então f (A1 \ A2 ) = f (;) = ; e f (A1 ) \ f :X f (A2 ) = fcg: 0.3 Teorema. Seja f : X ! Y uma função e seja fB g; 2 I uma família de subconjuntos de Y . Então ([ 2I B )=[ 2I f 1 (\ 2I B )=\ 2I f 1 (a) f 1 (b) f 1 (B ) (B ) Seja f : X ! X uma função e A um subconjunto de X; A X: Podemos de…nir uma nova função g : A ! Y com a mesma lei f; isto é, g(x) = f (x) para 8x 2 A X: Esta função é chamada de restrição de f a A e é denotada por f jA Seja A X: A função identidade x 7 ! x; pode ser vista como a aplicação A ! X, que é chamada inclusão, e é as vezes denotada por A ,! X: 4 Se B X eC Y então toda aplicação g : B ! C tal que g(x) = f (x); 8x 2 X; é chamada prolongamento de f ao conjunto B. Exemplo 0.10. Consideremos a função f : R ! R dada por f (x) = 1 ; 8x x 2 R: Se A = f2; 4; 6; :::g; então f jA = f(2; 12 ); (4; 14 ); :::g é a restrição de f ao conjunto dos números pares maiores que zero. 8 < 0; se x = 0 A função g : R ! R dada por g(x) = : f (x); se x 2 R ; é um prolongamento . (ou extensão) de f ao conjunto R: p x2 + y 2 : Seja R(R C) e p seja g : R ! R+ dada por g(x) = jxj: Neste caso, g = f jR pois f (x) = f (x + 0i) = x2 + 02 = Exemplo 0.11. Seja f : C ! R+ dada por f (x + yi) = jxj = g(x); 8x 2 R: Exemplo 0.12. Seja f : Q ! Q dada por x 7 ! x2 : Seja agora g : R ! R dada 8 < f (x) se sex 2 Q; ; : Então g é uma extensão de f ao conjunto R: Sejam agora por g(x) = : x se x 2 R Q; . S = fx; x 2 Q e 0 6 x 6 1g e h : S ! S(ouQ) dada por x 7 ! x2 : Então h é uma restrição de f a S: Funções Injetoras, Sobrejetoras e Bijetoras 0.4 Definição. Uma função f : X ! Y é injetora quando satisfaz: se x1 ; x2 2 X e f (x1 ) = f (x2 ) então x1 = x2 0.5 Definição. Uma função f : X ! Y é sobrejetora se satisfaz: se y 2 Y; então existe ao menos um x 2 X tal que f (x) = y: Em outras palavras, f : X ! Y é sobrejetora se e somente se f (X) = Y , isto é, o conjunto imagem de X sob f é igual ao contradomínio da função. Exemplo 0.13. A função f : Z ! Z dada por x 7 ! x + 3 é injetora e sobrejetora. Exemplo 0.14. A função f : R ! [ 1; 1]; dada por f (x) = sen(x) é sobrejetora mas não é injetora. 5 Exemplo 0.15. A função f : R ! R; dada por f (x) = sen(x) não é sobrejetora nem injetora. Exemplo 0.16. A função f : R ! Q; dada por f (x) = [x] não é sobrejetora nem injetora. Exemplo 0.17. A função f : R ! Z; dada por f (x) = [x] é sobrejetora mas não é injetora. Exemplo 0.18. A função f : R ! R dada por f (x) = x2 não é injetora nem sobrejetora. Mas, Exemplo 0.19. A função f : R ! R+ dada por f (x) = x2 é sobrejetora. 0.6 Definição. Uma função f : X ! Y é chamada uma bijeção (ou correspondência um-aum) se for simultaneamente injetora e sobrejetora. Isto signi…ca que, dado um elemento y 2 Y , existe um único elemento x 2 X tal que f (x) = y 0.7 Teorema. Seja f : X ! Y uma função injetora e seja fA g; subconjuntos de X. Então f (\ 2I A )=\ 2I f (A 2 I uma família de ) 0.8 Definição. Sejam X; Y; W e sejam as funções f : X ! Y e g : Y ! W: Podemos de…nir uma nova função h : X ! W com a regra h(x) = g(f (x)): A função h é chamada de função composta de g com f e é denotada por g f: Temos portanto, por de…nição que (g f )(x) = g(f (x)): Exemplo 0.20. Consideremos as funções f : R ! R+ dada por f (x) = x2 e g : R+ ! Z dada por g(x) = [x] + 1. Então g f : R ! R dada por x 7 ! [x2 ] + 1; é a função composta de g com f . Exemplo 0.21. Sejam f : R ! R+ tal que f (x) = 2x e g : R+ ! R tal que p g(x) = x: A aplicação composta de g com f é g f : R ! R é dada por (g f )(x) = p p g(f (x)) = f (x) = 2x : Neste caso, observando os domínios e contradomínios de f e g, percebemos que podemos também considerar a função composta de f com g : f g : R+ ! R+ por (f g)(x) = f (g(x)) = p p f ( x) = 2 x 6 Observemos daí que em geral g f 6= f g: 0.9 Teorema. A composição de funções é associativa. Isto signi…ca: sejam X; Y; W; V conjuntos e sejam as funções f : X ! Y; g : Y ! W; h : W ! V: Então h (g f ) = (h g) f: 0.10 Teorema. Sejam X; Y; W conjuntos f : X ! Y; g : Y ! W funções. Se f e g são injetoras, então g f é injetora. Se f e g são sobrejetoras, então g f é sobrejetora. Podemos daí a…rmar que se f e g são bijetoras, então g f também é bijetora. 0.11 Definição. Seja f : X ! Y uma função. Uma função inversa para f é uma função g:Y ! X tal que g f = idX e f g = idY Na primeira igualdade, dizemos que g é inversa à esquerda de f. Na segunda, dizemos que g é um inversa de f à direita. 0.12 Teorema. Se existe uma função inversa para f; então ela é única, e denotamos-a por f 1 : Logo, por de…nição, a aplicação inversa f Para todo x 2 X e y 2 Y; f 1 1 (f (x)) = x e f (f é caracterizada pela seguinte propriedade: 1 (y)) = y 0.13 Teorema. Uma função é sobrejetora se e somente se ela admite inversa à direita. 0.14 Teorema. Uma função é injetora se e somente se ela admite inversa à esquerda. 0.15 Teorema. Seja f : X ! Y uma bijeção. Então f 0.16 Teorema. Seja f : X uma função inversa. 1 : X ! Y é também uma bijeção. ! Y uma função. Então f é bijetora se, e somente se, f tem 7 Exercícios 1) Sejam f : X ! Y e g : Y ! Z funções. Demonstre: a) Se g f é injetora, então f é injetora. b) Se g f é injetora e f é sobrejetora, então g é injetora. c) Se g f é sobrejetora, então g é sobrejetora. d) Se g f é sobrejetora e g é injetora, então f é sobrejetora. 2) Apresente um contraexemplo que mostre que g f ser bijetora não implica que g e f também o sejam. 3) Demonstre que se f : X funções g : Y !Z eh:Y ! Y é sobrejetora, então para todo conjunto Z e todas ! Z, g f = h f ) g = h: 4) Demonstre que se f : X funções g : Z ! X e h : Z ! X, f ! Y é injetora, então para todo conjunto Z e todas g=f h ) g = h: 5) A recíproca dos resultados nos dois últimos exercícios acima é válida? Prove ou apresente contraexemplos. OBS.: Esta apostila têm como objetivo orientar o decorrer da aula, onde os conceitos e resultados aqui descritos serão devidamente desenvolvidos, explicados e exempli…cados, sendo portanto imprescindível o acompanhamento da aula para que esta apostila seja, de fato, elucidativa. Referência Bibliográ…ca: Dean. Elementos de Álgebra Abstrata. Rio de Janeiro: Livros Técnicos e cientí…cos Editora S.A.,1974 Domingues e Iezzi. Álgebra Moderna. São Paulo: Atual, 1982. Hefez, Abramo. Curso de Álgebra, vol1. Rio de Janeiro:IMPA,CNPq,1993. Lang, Serge. Álgebra para Graduação. Rio de Janeiro: Editora Ciência Moderna Ltda, 2008.