Patologias mamárias na adolescência

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ARTIGO ORIGINAL
Josele Rodrigues Freitas
Patologias mamárias na adolescência
A telarca é definida como o início do desenvolvimento mamário na mulher. A variação de
idade normal para o seu início vai dos 8 aos 14
anos de idade, com média em torno dos 11 anos.
Usualmente o primeiro sinal de puberdade, é seguida, dentro de seis meses, pela pubarca e, em dois a
quatro anos, pela menarca(2). Não é incomum um
desenvolvimento assimétrico, com a outra mama só
começando seu desenvolvimento após seis meses.
O aparecimento inicial da pubarca antes da telarca
não é anormal nem incomum. Os estágios do desenvolvimento mamário foram descritos por Marshall e
Tanner, que estabeleceram um excelente sistema
para a avaliação do desenvolvimento mamário(3).
O exame mamário deve fazer parte da rotina
dos cuidados médicos, com inspeção e palpação
das mamas, levando em conta o estadiamento de
Marshall e Tanner em relação à idade cronológica. A técnica para o exame na adolescente não se
diferencia da realizada na mulher adulta. Muitas
adolescentes preferem que o exame seja feito sem
a presença da mãe e/ou responsável. O médico,
junto com a paciente, determina quem deve ficar
durante o exame(1). Essa é uma oportunidade para
explicar, tanto para a adolescente quanto para a
acompanhante, o desenvolvimento mamário normal, identificar alguma anormalidade e rever alguns conceitos que a paciente possa ter.
Nessa faixa etária deve-se ser prudente diante de uma patologia mamária(6). A observação e
a contemporização por um tempo razoável serão
benéficas. Somente cabe administrar tratamentos
hormonais a casos em que essa terapia seja considerada imprescindível, o que raramente ocorre(5).
As indicações de cirurgias devem ser bem
pensadas, visto que o que pode parecer um tumor
Professora-assistente da disciplina de Ginecologia da Faculdade de Ciências Médicas
da Universidade do Rio de Janeiro (FCM/UERJ); mestra em Endocrinologia pela UERJ;
responsável pelo Setor de Ginecologia Infanto-Puberal da disciplina de Ginecologia
da FCM/UERJ.
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volume 4  nº 2  abril 2007
muitas vezes é o broto mamário em desenvolvimento glandular, que desaparecerá oportunamente. Deve-se acalmar a paciente e seus familiares(4).
QUADRO CLÍNICO E DIAGNÓSTICO
• Exame clínico minucioso com inspeção e palpação
das mamas, axilas e linha mamária embrionária;
• punção/aspiração com agulha fina: serve para
esvaziamento de cisto e pesquisa do material para
cultura e citologia;
• ultra-sonografia: excelente recurso para avaliação
de cistos e nódulos sólidos;
• mamografia nas adolescentes: não é rotineiramente indicada, visto que o parênquima mamário
em desenvolvimento, ainda com pouco componente de tecido gorduroso, compõe-se normalmente de tecido denso fibroglandular, além do
baixo risco para doença maligna.
A Tabela 1 apresenta as principais patologias
mamárias encontradas nessa faixa etária.
Tabela 1
PRINCIPAIS PATOLOGIAS MAMÁRIAS NA ADOLESCÊNCIA
Agenesia mamária
Amastia mamária
Assimetria mamária
Deformidade tuberosa
Atrofia mamária
Hipertrofia juvenil ou virginal
Mastalgia ou mastodinia
Mastite ou abscesso mamário
Galactorréia ou descarga papilar
Fibroadenoma
Cisto mamário
Politelia (mamilos acessórios)
Polimastia (mamas acessórias)
Adolescência & Saúde
Freitas AGENESIA MAMÁRIA
A agenesia mamária congênita, condição clínica extremamente rara, consiste na ausência completa da mama, uni ou bilateralmente. Pode ser
devida a alterações cromossomiais, deficiência de
gonadotrofinas ou hiperplasia adrenal congênita. O
tratamento é realizado por meio de cirurgia estética,
com retalho miocutâneo, prótese artificial, criação
de aréola e mamilos artificiais com os pequenos lábios vulvares, de forma adequada e harmônica.
AMASTIA MAMÁRIA
A amastia se caracteriza pela presença de aréola e mamilo e ausência do tecido mamário e do
músculo peitoral, devendo ser pesquisadas alterações cromossomiais. O tratamento é realizado por
cirurgia estética, com retalho miocutâneo, prótese
artificial de forma adequada e harmônica.
ASSIMETRIA MAMÁRIA
Nesses casos a paciente deve ser acompanhada até o completo desenvolvimento mamário,
que se dará aos 18 anos de idade, quando estiver
no estágio V de Tanner. Devido aos problemas psicológicos que podem ocorrer, sugere-se o uso de
prótese no sutiã para que haja equilíbrio estético.
Mamoplastia com prótese cirúrgica pode ser realizada na época ideal.
PATOLOGIAS MAMÁRIAS NA ADOLESCÊNCIA
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ATROFIA MAMÁRIA
O tamanho e a forma das mamas são controlados por algumas variáveis, incluindo fatores
genéticos, sempre com o cuidado de aguardar a
idade do completo desenvolvimento. Devido ao
fato de as mamas serem compostas principalmente
de tecido gorduroso, existe uma associação entre o
tamanho da mama e o peso. Perda significativa de
peso pode resultar em diminuição do volume mamário. A atrofia mamária pode ser devida a outras
causas, incluindo sintomas de hipoestrogenismo
e virilização. Quando doenças sistêmicas levam à
atrofia mamária, ela pode estar associada a perda
de peso, catabolismo e/ou hipoestrogenismo.
HIPERTROFIA JUVENIL OU VIRGINAL
Esse termo refere-se a um desenvolvimento
patológico das mamas que pode ser uni ou bilateral, além de ter caráter familiar. Decidir quando
as mamas estão muito grandes é subjetivo, porém
algumas pacientes as desenvolvem de tal maneira,
que chega a interferir em seu estado físico e psicológico.
Desenvolvimento rápido e maciço das mamas
resulta em dor, ferimento nos ombros, hipovascularização, cifose postural, intertrigo e estrias. A paciente será beneficiada tanto física quanto psicologicamente com a mamoplastia redutora.
MASTALGIA OU MASTODINIA
DEFORMIDADE TUBEROSA
Essas pacientes têm volume mamário pequeno, com desenvolvimento e protuberância muito
grande da aréola, uni ou bilateralmente. Nelas não
é possível estabelecer o desenvolvimento mamário
através do estadiamento de Tanner. Nesses casos,
os critérios para determinar a época ideal para uma
cirurgia estética devem levar em conta o estágio
puberal, a menarca, o crescimento somático e a
idade óssea.
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A dor mamária pode ser causada por terapia
à base de estrogênio, trauma, hipertrofia, infecção
e afecção funcional benigna das mamas (AFBM).
Contraceptivos hormonais, principalmente os de
dose alta, têm sido relacionados com a mastalgia,
devendo-se nesses casos tentar o uso de baixa dosagem ou outro método anticoncepcional não-hormonal. Dores mamárias não-específicas têm sido tratadas com vitamina E, porém ainda não se demonstrou
a eficácia real dessa terapia. Pacientes com mastalgia
devido à AFBM têm-se beneficiado quando evitam
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PATOLOGIAS MAMÁRIAS NA ADOLESCÊNCIA
consumir cafeína e derivados de leite. No tratamento, o uso de sutiã mais elevado (sustentando melhor
as mamas), analgésicos e antiinflamatórios não-hormonais (AINHs) são atualmente a melhor opção.
MASTITE OU ABSCESSO MAMÁRIO
Embora a mastite seja mais comum nas pacientes que estão amamentando, essa infecção
bacteriana pode ocorrer em mulheres não-lactantes, inclusive nas adolescentes. As causas mais
comuns são trauma, retirada de pêlo ou ato de coçadura da região periareolar. Sinais de inflamação
(dor, calor, rubor) com áreas endurecidas devem
ser tratados com analgésicos, AINHs e antibiótico
de largo espectro. Drenagem cirúrgica é indicada
nos casos de abscesso.
GALACTORRÉIA OU DESCARGA
PAPILAR
O diagnóstico diferencial de galactorréia deve
ser feito com gravidez, lactação, hiperprolactinemia, hipotireoidismo e galactorréia benigna. Nos
casos de galactorréia, descartar a ingesta de medicamentos hiperprolactinêmicos e dosar a prolactina (basal e/ou pool da prolactina). Se ela estiver alterada, pesquisar sela túrcica através de raios X de
crânio e/ou tomografia computadorizada cerebral.
Causas de descarga papilar: infecção, papiloma intraductal (geralmente produz um fluido
serossanguinolento), cisto mamário e secreção das
glândulas areolares. O tratamento será determinado com a etiologia.
Freitas
FIBROADENOMA
É a mais comum alteração mamária nessa faixa etária. Clinicamente é um tumor benigno, bem
delimitado, endurecido e móvel. Pode desaparecer
espontaneamente, porém, se, depois de observado
durante alguns meses, não desaparecer e até aumentar, está indicada a exérese cirúrgica.
CISTO MAMÁRIO
A presença de cisto pode ser detectada pela
ultra-sonografia. O tratamento é realizado através
de punção com estudo citológico.
POLITELIA (MAMILOS ACESSÓRIOS)
A politelia é a mais comum anomalia das mamas, com presença de mamilo e aréola ao longo da
linha mamária embriológica, que vai da axila à virilha. Comumente aparece um complexo mamilo/
aréola pouco desenvolvido logo abaixo da mama,
podendo ser uni ou bilateral. O único tratamento,
quando necessário, é cirúrgico.
POLIMASTIA (MAMAS ACESSÓRIAS)
Polimastia, isto é, tecido mamário acessório,
é menos comum e pode-se tornar um problema
na puberdade ou durante a gravidez e a amamentação. Quando isso ocorre, devido ao crescimento
desse tecido extramamário, torna-se necessária a
exérese cirúrgica.
REFERÊNCIAS
1. Emans SHJ, Goldstein DP. Pediatric & adolescent gynecology. Boston: Little, Brown and Company.1990.
2. Garden AS. Pediatric & adolescent gynecology. London: Arnold Publishers. 1998.
3. Kreutner AKK, Hollingsworth DR. Adolescent obstetrics & gynecology. Chicago: Year Book Medical Publishers. 1978.
4. Sanfilippo JS, Murram D, Dewhurst J, Lee PA. Pediatric and adolescent gynecology. Philadelphia: W.B. Saunders. 1994.
5. Tourinho CR, Bastos AC, Moreira AJ. Ginecologia da infância e adolescência. 2. ed. São Paulo: Byk-Procienx. 1980.
6. Zeiguer BK. Ginecologia infanto-juvenil. Buenos Aires: Ed. Med. Panamericana. 1977.
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