HIPERPLASIA FIBROADENOMATOSA MAMÁRIA FELINA: RELATO DE CASO FELINE MAMMARY FIBROADENOMATOUS HYPERPLASIA: CASE REPORT Bianca Fiuza Monteiro1; Anderson Coutinho da Silva2; Tânia Parra Fernandes2; Silvia Regina Kleeb3; Paulo Sérgio Salzo2 Paulo Sérgio Salzo - Rua Cunha Bueno 54, apto. 24, São Paulo/SP. CEP 01322-040. [email protected] Resumo O complexo hiperplasia fibroadenomatosa mamária felina representa um aumento rápido e exagerado de uma ou mais glândulas mamárias, associado à presença de progesterona endógena ou progestágenos sintéticos, muitas vezes utilizados como contraceptivos. O quadro é relativamente raro na clínica. Foi atendido um felino SRD, fêmea, com cinco meses de idade e prenhe, acometida pelo aumento repentino de todas as glândulas mamárias. Exame citológico mamário confirmou a hiperplasia benigna. O animal foi medicado com o antiprogestágeno aglepristone que em poucos dias reduziu parcialmente o tamanho das mamas e encaminhado para ovário-histerectomia via flanco. A cirurgia muitas vezes não é realizada devido ao difícil acesso pela linha média ventral, pelo grande volume das glândulas mamárias. Cinco dias após a cirurgia, as mamas haviam diminuído de volume acentuadamente com consistência macia sem sensibilidade ao toque. Diante da rápida melhora concluiu-se que a associação da remoção ovariana com a aplicação de aglepristone é uma opção viável e eficiente para tratamento deste distúrbio. Palavras-chave: hiperplasia, glândula mamária, felino, aglepristone Summary Feline mammary fibroadenomatous hyperplasia complex is an acute and large increase in one or all mammary glands due the presence of natural or synthetic progesterone, often used as contraceptive. The condition has uncommon occurrence in veterinary medicine. A five month old pregnant female mixed breed cat was brought in because sudden onset of exaggerated increase in all mammary glands. Mammary cytology confirmed benign hyperplasia. The cat was first treated with aglepristone, an inhibitor of progesterone in mammary gland cells, and in a few days glands sizes were reduced. Spaying through lateral abdomen was done some days after the medication. Surgery procedure is not often conducted because of the difficult access through the medial ventral line, due to large increase of mammary glands. Five days after surgery all mammary glands were softer, smaller and painless. It is possible to conclude that the association of aglepristone with ovarian removal is a viable option to treat this disorder. Key words: hyperplasia, mammary gland, feline, aglepristone A hiperplasia fibroadenomatosa mamária caracteriza-se por formação de nódulos bem delimitados em uma ou mais glândulas mamárias. É uma condição benigna e não-neoplásica (CALDERÓN et al. 2002) e ocorre devido à rápida proliferação do estroma e epitélio ductal (RAHAL et al. 2003; SOUZA et al. 2002). Dentre as espécies domésticas é observado exclusivamente nos felinos. As mamas acometidas tornam-se turgidas, quentes e doloridas, ocasionalmente há acometimentosistêmico e desenvolvimento de apatia, anorexia, pirexia e desidratação, sobretudo nos casos em que se desenvolve ulceração e necrose do tecido _______________________ 1 Médica Veterinária, Hospital Veterinário, Universidade Metodista de São Paulo Médico Veterinário, Professor Mestre, Universidade Metodista de São Paulo 3 Médica Veterinária, Professora Doutora, Universidade Metodista de São Paulo 2 hiperplasiado (VASCONCELLOS, 2003). Esse distúrbio é mais comumente descrito em fêmeas não ovariectomizadas com menos de dois anos de idade, e tem associação com ação de substâncias progestacionais naturais ou sintéticas (LORETTI et al. 2004). Ocorre, portanto, em fêmeas no inicio da gestação, nas que estão ciclando ou naquelas que recebem doses de progesterona exógena. O tratamento consiste na retirada do estimulo hormonal, seja através da ovário-histerectomia, da suspensão de administração de progesterona exógena ou ainda no uso de aglepristone, um fármaco anti-progestágeno (AMORIM et al. 2006; FILGUEIRA et al. 2008). O procedimento cirúrgico, entretanto muitas vezes não é realizado devido ao difícil acesso cirúrgico pela linha média ventral, pelo grande volume das glândulas mamárias (HARDIE et al. 2004). O objetivo deste trabalho é relatar um caso atendido no Hospital Veterinário, em que uma gata apresentou sinais de hiperplasia fibroadenomatosa mamária e foi submetida a uma técnica alternativa de ovário-histerectomia, com acesso cirúrgico pelo flanco, associado à prévia terapia com fármaco anti-progestágeno visando à remissão mais precoce dos sinais clínicos. Um animal da espécie felina, fêmea, cinco meses de idade, não castrada foi atendido no Hospital Veterinário com histórico de aumento de volume em todas as glândulas mamárias há aproximadamente um mês. O proprietário do animal relatou ainda apatia, hiporexia, fezes pastosas e polidipsia. Referiu também possibilidade de acasalamento recente. Ao exame físico o animal apresentava emaciação, apatia, desidratação leve e mucosas hipocoradas. As glândulas mamárias encontravam-se edemaciadas e turgidas, com áreas de adelgaçamento da pele (Figura I). Foi possível palpar no abdômen estruturas redondas de consistência firme em região dorsal na transição meso-hipogástrica, possivelmente fetos em formação. Diante da apresentação clinica, estabeleceu-se o diagnóstico de hiperplasia fibroadenomatosa. Foram coletados exames pré-operatórios, citologia aspirativa de uma das mamas, prescrito terapia de suporte, com antiinflamatório não esteroidal tópico e aplicação de aglepristone semanal, antes da realização do procedimento cirúrgico. Após uma semana procedeu-se a realização de ovário-histerectomia com acesso pelo flanco e manteve-se a administração injetável de aglepristone semanal. Os exames pré-operatórios não apresentaram anormalidade, porém a citologia mamária confirmou o quadro benigno de hiperplasia mamária. No momento da castração foi confirmada a suspeita de gestação e o útero gravídico contendo seis fetos em desenvolvimento foi removido juntamente aos ovários, que não apresentavam alteração macroscópica. Apesar da castração pelo flanco ser uma técnica pouco comum, faz-se útil nesses casos em que o acesso cirúrgico habitual pela linha media não é possível. Imediatamente após a cirurgia manteve-se a terapia anti-progestágena, com esquema de aplicações semanais. O aglepristone aplicado anteriormente à cirurgia possibilitou em poucos dias uma redução de cerca de 50% no volume das mamas, reduzindo a dor e desconforto. No dia seguinte ao procedimento cirúrgico o animal apresentou-se para atendimento em bom estado geral e cinco dias após a cirurgia, o animal estava em ótimo estado geral e as mamas já haviam diminuído de volume de forma ainda mais acentuada e aparentavam consistência macia sem sensibilidade ao toque (Figura II). Diante da rápida melhora do quadro de hiperplasia mamária no relato descrito, concluiu-se que a associação de terapia cirúrgica á aplicação de antiprogestágeno é uma opção viável e eficiente para tratamento desse distúrbio. 2 Referências Bibliográficas AMORIM, F.V.; SOUZA, H.; FERREIRA, A. Clinical cytological and histopathological evaluation of mammary masses in cats from Rio de Janeiro, Brazil. Journal of Feline Medicine and Surgery, v. 8, p. 379-388, 2006. CALDERÓN, C.; AMORIM, R.L.; BANDARRA, E.P.; ROCHA, N.S.; LOPES, M.D. Hiperplasia fibroepitelial: relato de caso em felino macho. In: Congresso Brasileiro da Anclivepa. Anais XXIII, Brasília: Anclivepa-DF, 2002. FILGUEIRA, K.D.; REIS, P.F.C.C.; PAULA, V.V. Hiperplasia mamária felina: sucesso terapêutico com o uso de aglepristone. Ciência Animal Brasileira, v. 9, n.4, p.1010-1016, 2008. HARDIE, R.J.; MCGRATH, H.; DAVIS, E. Lateral flank approach for ovariohysterectomy in small animals. Compendium on Continuing Education for the Practicing Veterinarian, v.26, p. 922-931, 2004. LORETTI, A.P.; ILHA, M.R.S.; BREITSAMETER, I.; FARACO, C.S. Clinical and pathological study of feline mammary fibroadenomatous change associated with depot medroxyprogesterone acetate therapy. Arquivos Brasileiros de Medicina Veterinária e Zootecnia, v. 56, n. 2, p. 270-274, 2004. RAHAL, S.C.; CAPORALI, E.H.G.; LOPES, M.D.; ROCHA, N.S.; MELERO, F.H. Hiperplasia mamária felina- relato de três casos. Ars Veterinaria, Jaboticabal, v. 19, n.2, p.188-190, 2003. SOUZA, T.M.; FIGHERA, R.A.; LANGOH, I.M.; BARROS, C.S.L. Hiperplasia fibroepitelial mamária em felinos: cinco casos. Ciência Rural, Santa Maria, v.32, n.5, p.891894, 2002. VASCONCELLOS, C.H.C. Hiperplasia mamária. In: SOUZA, H.J.M. Coletâneas em medicina e cirurgia felina. Rio de Janeiro: L.F. Livros, 2003. P. 231-237. Figura I- aumento de volume em todas as glândulas mamárias, áreas de adelgaçamento irregular da pele e inicio de necrose em mamas caudais. Figura II- tecido mamário com evidente diminuição de volume, flácido e de coloração e textura normais, após aplicação de aglepristone e OSH. 3