4 Impresso Especial CARDIONUCLEAR 2014/03 DR/RS Cardionuclear Exames Realizados CARDIOVASCULAR · cintilografia da perfusão miocárdica de repouso e esforço com tomografia (SPECT) · cintilografia de perfusão miocárdica de repouso e estresse farmacológico, com tomografia (SPECT) · cintilografia sincronizada das camaras cardíacas (ventriculografia-MUGA) de repouso · pesquisa de viabilidade miocárdica · pesquisa de infarto agudo do miocárdio (pirofosfato de tecnécio) · atividade inflamatória do miocárdio com Gálio-67 · avaliação do sistema nervoso autônomo através de I-123 MIBG GASTRO-INTESTINAL · cintilografia do fígado e baço · cintilografia do fígado e vias biliares · cintilografia das glândulas salivares · cintilografia do pool sanguíneo hepático com hemácias marcadas GENITO-URINÁRIO · cintilografia renal dinâmica (DTPA ou MAG3) basal com estímulo diurético (furosemida) ou com teste do captopril · cintilografia renal estática/quantitativa (DMSA) MÚSCULO-ESQUELÉTICO · cintilografia óssea · cintilografia óssea com Gálio-67 RESPIRATÓRIO · cintilografia pulmonar · perfusional · inalatória · cintilografia pulmonar com Gálio-67 NEUROPSIQUIATRIA · cintilografia da perfusão cerebral com tomografia (SPECT) · avaliação de morte cerebral DIVERSOS · cintilografia de feocromocitoma em corpo inteiro com I-123 MIBG · cintilografia de paratireóides · linfocintilografia N o t a s O Dr. Gabriel Grossman apresentou tese de Doutorado em Cardiologia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul no dia 27 de outubro próximo passado. Recebeu conceito A pela tese intitulada "Cintilografia Miocárdica Quantitativa com Tc-99m Sestamibi e Correção de Atenuação: Desenvolvimento de Base de Dados Normal Gênero independente de Estudos de Perfusão Miocárdica de Estresse e Validação Multicêntrica em População de Pacientes Obesos" que foi desenvolvida no Emory University Hospital e publicada no Journal of Nuclear Cardiology. O presente estudo foi citado como de alta relevância entre as publicações em cardiologia durante o ano de 2004 (“The year in cardiac imaging” publicado no Journal of the American College of Cardiology 2004; 44 (10): 1937-1944). Os Drs. Roberto Ludwig e Gabriel Grossman foram palestrantes no Curso Pré-Congresso do XV Congresso de Cardiologia do RGS e VIII Congresso Sul-brasileiro de Cardiologia recentemente realizado em Gramado. Falaram respectivamente sobre viabilidade miocárdica e estratificação de risco do paciente assintomático. O estudo "Avaliação Não-Invasiva da Disfunção Simpática na Insuficiência Cardíaca: Resultados Preliminares da Cintilografia Miocárdica com Iodo123 MIBG em Pacientes com Miocardiopatia Dilatada" realizado pelos grupos da Cardionuclear, Cardiologia Pediátrica e Transplante Cardíaco do IC-FUC foi apresentado pelo Dr. Cesar Santos neste mesmo encontro, recebendo prêmio de 3º melhor tema livre do evento. Os físicos da Cardionuclear Ilo Baptista e Carolina Mazzola receberam os títulos de Especialistas em Física Médica aplicada à Medicina Nuclear pela Associação Brasileira de Física Médica e de Supervisores de Radioproteção, concedido pela Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN). Ambos finalizaram, em maio do presente ano, curso de pós-graduação em Ciências Radiológicas pelo Departamento de Energia Nuclear da UFRGS. No dia 12 de novembro do corrente ano, foi lançado o livro "Nuclear Cardiology and Correlative Imaging - a teaching file" editado pelos Drs. João V. Vitola e Dominique Delbeke, tendo o Dr. Gabriel Grossman participado como co-autor para o capítulo "Pitfalls and Artifacts in Cardiac Imaging". CARDIONUCLEAR Porto Alegre/RS Nº 5 Novembro/2004 BOLETIM INFORMATIVO editorial serviços CORREIOS Interação clínico-diagnóstica é fundamental A Ao término de mais um ano de trabalho, divulgamos aos colegas um breve sumário da experiência acumulada na avaliação da perfusão miocárdica sob diferentes tipos de estresse, além de resultados preliminares obtidos pelo grupo no estudo da inervação simpática do ventrículo esquerdo ao longo do último ano. O estudo da perfusão miocárdica em repouso e sob estresse é um método consagrado pela literatura internacional no diagnóstico e estratificação de risco em cardiopatia isquêmica sob suas várias apresentações (ver boletim 4). A revisão de 18.178 exames realizados entre junho de 1998 e julho de 2004 demonstra que 4,3% das solicitações foram para avaliação de risco operatório, 3% por arritmias cardíacas, sendo a grande maioria para diagnóstico de isquemia miocárdica em função de dor torácica ou ergometria alterada, estratificação de risco e avaliação após terapia medicamentosa ou revascularização miocárdica. A principal apresentação clínica foi dor torácica atípica (39%), sendo dor típica relatada em 23,5% ao passo que 25% dos pacientes eram assintomáticos. Os fatores de risco mais freqüentes foram hipertensão arterial (59%), sedentarismo (57%), dislipidemia (42%), hereditariedade (36%), obesidade (21%), diabetes e tabagismo (ambos com 15%). O sexo esteve distribuído igualmente (51,8% masculino). O uso de medicação com efeitos cardiovasculares esteve presente em grande número de pacientes, conforme exemplificado na tabela abaixo: Classe farmacológica Antagonistas do cálcio Antiplaquetários Betabloqueadores Estatinas Inibidores da ECA/AT II Nitratos O elevado percentual de drogas cardiovasculares, muitas utilizadas simultaneamente, pode explicar o fato de 45% do testes terem sido realizados sob estresse farmacológico (44% com dipiridamol, isoladamente ou associado ao exercício e 1% com dobutamina). Nos próximos boletins estaremos revisando os efeitos de medicamentos empregados no tratamento da cardiopatia isquêmica e hipertensão sobre a extensão e severidade das alterações de perfusão miocárdica, com as eventuais implicações sobre testes cuja finalidade primária seja diagnóstica e não prognóstica (estratificação de risco). Estas considerações ressaltam a necessidade de estreita colaboração e comunicação entre os serviços de cardiologia nuclear e médicos assistentes, a fim de individualizar o procedimento, adequá-lo ao paciente e sua situação clínica específica, de forma a obter os Atendimento a particulares e convênios · · · · · Caixa Econômica Federal CASSI CABERGS GEAP Golden Cross · · · · · IPE Saúde Bradesco Sul América UNIMED Outros ENDEREÇO: Av. Princesa Isabel, 395 Porto Alegre - RS - 90620-001 TELEFONE: 51 3217.7200 Avaliação do sistema nervoso simpático cardíaco na insuficiência cardíaca avançada (IC) Página central Percentual de uso (%) 20 22 37 14 31 27 procedimentos 2 3 CARDIONUCLEAR Avaliação do sistema nervoso simpático cardíaco na insuficiência cardíaca avançada (IC) Dr. César Graeff Santos D Dando prosseguimento ao tema abordado no boletim 3 de outubro de 2003, estamos a seguir apresentando os resultados preliminares obtidos após um ano de experiência utilizando a cintilografia com 123 Iodo-MIBG (meta-iodobenzilguanidina) na investigação da disfunção simpática presente em insuficiência cardíaca avançada. Os dados foram apresentados recentemente no VIII Congresso Sul-Brasileiro de Cardiologia, realizado em Gramado no início deste mês. Foram estudados 14 voluntários normais e 15 pacientes com distintos graus de disfunção ventricular esquerda, predominantemente relacionada a miocardiopatias em fase dilatada. Analisamos a captação de 123I-MIBG pelo miocárdio em relação ao mediastino obtida 4 horas após a aplicação intravenosa do traçador (Índice Coração/ Mediastino) e a taxa de eliminação cardíaca do mesmo ("washout rate"), aferida através da variação de contagens cardíacas entre as imagens iniciais e após 4 horas da injeção. As características demográficas dos grupos e os resultados obtidos estão sumarizados abaixo na Tabela 1. Controles voluntários (n=14) Pacientes cardiopatas** (n=15) 36,2 ± 11 39,5 ± 25 7 12 Índice Coração/Mediastino 1,96 ± 0,2 1,48 ± 0,3 * "Washout" em 4 horas (%) 15,9 ± 4,9 27,97 ± 6,2 * Tabela 1 Idade (anos) Sexo (masculino) * p < 0,0001; ** Fração de ejeção do VE neste grupo: 26,5% ± 10% Os principais índices obtidos estão representados na figura 1 abaixo. 30 28 25 20 Controles 16 Pacientes 15 10 5 0 W asho u t ( %) 2 e/ou disfunção ventricular severa refratária (dados sugeridos na literatura, sem recomendações estabelecidas até o momento Figura 2). 1,96 1,8 1,6 1,48 NORMAL 1,4 1,2 Controles 1 Pacientes 0,8 PRECOCE 0,6 0,2 0 Rel.Cor/M Figura 1. Representação gráfica do washout cardíaco de MIBG e Índice coração mediastino nos dois grupos em estudo. Os resultados obtidos, embora limitados pelo número de indivíduos examinados, reproduzem as duas principais anormalidades referidas na literatura internacional: a redução na captação miocárdica do análogo da noradrenalina (MIBG) e sua depuração acelerada do coração em portadores de disfunção ventricular avançada quando comparados a indivíduos normais. Numerosos relatos publicados a partir de 1998 tem demonstrado que estes parâmetros (redução na relação coração/mediastino e washout elevado) estão associados a níveis elevados de noradrenalina circulante, redução de sensibilidade dos beta-receptores cardíacos, maior comprometimento funcional aferido pela classificação da NYHA e redução na fração de ejeção do ventrículo esquerdo. A experiência relatada na literatura, tem sido reproduzida em adultos e crianças, sendo observado que o tratamento farmacológico com drogas de eficácia comprovada na redução de mortalidade em estudos multicêntricos de insuficiência cardíaca severa (metoprolol, inibidores da ECA, carvedilol, espironolactona) é acompanhado de melhora nos índices de inervação simpática cardíaca. Isto costuma preceder a melhora na função ventricular esquerda e redução dos níveis de noradrenalina circulante. Em 112 casos de miocardiopatia dilatada idiopática acompanhados por dois anos na França, a redução significativa no índice coração/mediastino de captação de MIBG apresentou o maior valor preditivo positivo de eventos cardíacos (morte e/ou evolução para transplante cardíaco) no período de observação, sendo superior em prognosticar uma evolução desfavorável que os índices tradicionalmente utilizados (vide pág. 4, boletim 3 de outubro de 2003). A técnica permite a avaliação não invasiva da atividade simpática em IC, podendo ser empregada para otimizar a seleção de candidatos a transplante cardíaco prioritário face ao risco aumentado de morte súbita arrítmica Av. Princesa Isabel, 395 - CEP 90620-001 - Porto Alegre - RS Fone: (51) 3217.7200 - Fax: (51) 3217.2580 - e-mail: [email protected] Dr. César Graeff Santos Dr. Eduardo Brunel Ludwig Administração Lizia de Azevedo Rosa MIBG 0,4 Boletim da CARDIONUCLEAR Diretoria TRANSPLANTADO lar grave e coração considerado "estruturalmente normal" pelos demais métodos de imagem. A importância do estímulo simpático na gênese de arritmias ventriculares e evento isquêmico agudo (espasmo coronário?) podem ser demonstrados in-vivo em casos selecionados. Dr. Paulo de Araújo Carvalho Dr. Roberto Telles de Freitas Ludwig Dr. Gabriel Blacher Grossman Edição e Textos: Lola Rodrigues Mtb 6631 Editoração, Fotolito e Impressão: Dolika Afa F.: 33435533 ANTERIOR TARDIO Figura 2. Imagens do tórax em projeção anterior, demonstrando o padrão de captação miocárdica de I-123 MIBG em indivíduo normal (coluna esquerda) e em receptor de transplante cardíaco, portanto com coração cirurgicamente denervado (controle negativo, na coluna da direita). Observar a ausência praticamente total de captação na área cardíaca nas imagens precoces (acima) e de 4 horas (abaixo) à direita. Em casos de insuficiência cardíaca avançada, observa-se uma severa redução na retenção miocárdica de MIBG, tão importante quanto em corações cirurgicamente denervados por transplante, e que difere do aspecto perfusional obtido com Tecnécio sestamibi ou Tálio 201 (Figura 3). Sabemos que a terapia com inibidores da ECA, betabloqueadores, antagonistas da aldosterona e mais recentemente amiodarona é acompanhada de melhora na retenção cardíaca de MIBG, fato que em geral precede a melhora hemodinâmica e sugere efeito modulador "protetor"destas drogas sobre o miocárdio frente a excessiva estimulação adrenérgica presente na insuficiência cardíaca. Além da aplicação em insuficiência cardíaca avançada, o uso da cintilografia com MIBG tem sido empregado para demonstrar alterações de função simpática em arritmias ventriculares, miocardiopatias hipertróficas e após vasoespasmo coronário ou síndromes isquêmicas agudas. É sabido que as terminações nervosas são mais sensíveis a isquemia que o músculo cardíaco, sendo em geral observados defeitos de inervação superiores aos perfusionais em casos de espasmo coronário e isquemia miocárdica. Um exemplo desta aplicação pode ser visto na figura 4, em paciente recuperada de parada cardíaca por fibrilação ventricular (FV), com coronárias epicárdicas e função ventricular normais e avaliação funcional através da cintilografia miocárdica demonstrando hipoperfusão transitória em parede lateral ao esforço. O estudo da inervação simpática com I123-MIBG, realizado alguns dias mais tarde, demonstra importante redução segmentar de captação em parede lateral com perfusão preservada em repouso (99mTc-sestamibi). Estes achados ("mismatch" entre perfusão e inervação) evidenciam anormalidade funcional na inervação présináptica do simpático cardíaco em indivíduo com arritmia ventricu- OAE SESTAMIBI Figura 3. Imagens da inervação simpática cardíaca 4 horas após a injeção de I123MIBG em projeções anterior (acima à esquerda) e oblíqua anterior esquerda (acima à direita) e as correspondentes imagens da perfusão miocárdica com Tc99m-sestamibi abaixo. Observar o grande aumento de volume cardíaco (FE inferior a 15%) que apresenta ausência de captação miocárdica de MIBG. O paciente foi submetido a transplante cardíaco 4 semanas após o estudo. Figura 4. Imagem tomográfica (eixos curto e horizontal) da perfusão miocárdica em repouso com Tc-99m sestamibi na porção superior e da inervação présináptica simpática com I123-MIBG na inferior, demonstrando perfusão miocárdica normal e defeito segmentar de inervação em parede lateral. Paciente de 40 anos recuperada de fibrilação ventricular há 1 mês e com cinecoronariografia normal. Referências bibliográficas: 1) J Nucl Cardiol 2004; 11: 587-602. 2) J Nucl Med 1999; 40: 917-923. 3) J Nucl Cardiol 1998; 5: 591-597. 4) J Am Coll Cardiol 1993; 22: 1344-53.