1 ERROS DE ADMINISTRAÇÃO DE MEDICAMENTOS EM UNIDADES DE TERAPIA INTENSIVA NEONATAL Resumo: A terapia medicamentosa é responsável pela maioria dos erros ocorridos durante a assistência à saúde, sendo que os erros de medicação são os mais frequentes e mais graves. O presente estudo identificou o tipo e a frequência de erros na administração de medicamentos intravenosos em duas Unidades de Terapia Intensiva Neonatais (UTIN). Pesquisa transversal de natureza observacional, realizada por meio de observação sistemática direta do processo de administração de medicamentos. A coleta ocorreu no segundo semestre de 2012 a partir da observação de 100 doses de medicamentos intravenosos. Os erros de administração de medicamentos se mostraram frequentes, sendo que os mais observados foram os de técnica incorreta de administração (51%) e erro de horário (16%). Conclui-se que há necessidade da incorporação de uma cultura de segurança por parte das instituições e dos profissionais de saúde que nelas atuam para diminuição dos índices de erros e garantia de segurança dos pacientes. Palavras-Chave: Erros de medicação. Recém-nascido. Segurança do paciente. Cuidados de enfermagem. MEDICATION ADMINISTRATION ERRORS IN NEONATAL INTENSIVE CARE UNIT Abstract: Drug therapy is responsible for most of the errors occurred during the health care, and medication errors are the most frequent and severe. The present study identified the type and the frequency of errors in the administration of intravenous medications in two Neonatal Intensive Care Units (NICU). Cross Search observational nature, performed by systematic direct observation of medication administration process. Data collection occurred in the second half of 2012 from the observation of 100 doses of intravenous drugs. The errors of medicines administration showed frequent, and the most observed were the incorrect administration of technician (51%) and error time (16%). It concludes that there is need of the incorporation of a culture of safety by part of the institutions and health professionals that in them act for decrease the rates of errors and ensuring patient safety. Key-Words: Medication erros. Newborn. Patient safety. Nursing care. ERRORES DE ADMINISTRACIÓN DE MEDICACIÓN EN UNIDADES DE CUIDADOS INTENSIVOS NEONATALES Resumén: El tratamiento farmacológico es el responsable por la mayor parte de los errores se produjeron durante la atención de la salud, y los errores de medicación son los más frecuentes y graves. El presente estudio identificó el tipo y la frecuencia de errores en la administración de medicamentos intravenosos en dos Unidades Cuidados Intensivo Neonatales. Investigación transversal de la naturaliza observaciona, llevada a cabo mediante la observación sistemática directa del proceso de administración de medicamentos. La colección se produjo en la segunda mitad de 2012 de observación de 100 dosis de drogas intravenosas. Errores de administración de medicación eran frecuentes, y las más observadas fueran la técnica incorrecta de la administración (51%) y el error de horario (16%). Se concluye hay necesidad de la incorporación de una cultura de seguridad por parte de las instituciones y de los profesionales de salud para disminuir la incidencia de errores y garantizar la seguridad del paciente. Palabras-Clave: Errores de medicación. Recién nacido. Seguridade del paciente. Atención de enfermeira. Introdução 2 O tratamento medicamentoso é responsável pela maioria dos erros ocorridos durante a prestação da assistência à saúde(1), sendo que os erros de medicação são mais frequentes e mais graves nos pacientes neonatais, comparado aos pacientes adultos(2). A terapia medicamentosa faz parte do sistema de medicação, que é complexo e composto por uma equipe multiprofissional e conta com vários processos que vão desde a prescrição dos medicamentos, dispensação, distribuição, armazenamento, preparo, administração, monitoramento e registro. A administração de medicamentos é o último processo onde o erro pode ser detectado antes de atingir o paciente, pois após essa etapa apenas o monitoramento pode detectar alguma falha cometida, porém, neste momento já pode ter causado algum dano ao paciente que recebeu a medicação. Quando se analisa a literatura sobre os erros de medicação percebe-se que o erro de administração é sempre um dos mais presentes dentro do sistema, atingindo números exorbitantes. Revisão sistemática da literatura com o objetivo de identificar os estudos realizados sobre erros de medicação em pediatria evidenciou a ocorrência de erros durante algumas etapas do processo de medicação em crianças, sendo que o erro de administração está entre os mais frequentes, com taxas que variam de 72,0 a 75,0%(1). A unidade de terapia intensiva neonatal (UTIN) é um setor em que os erros de medicação merecem análise particular, devido à complexidade da terapia medicamentosa utilizada, ao uso de diversos medicamentos potencialmente perigosos e a gravidade e instabilidade clínica dos pacientes. Além disso, os recém-nascidos (RN) internados neste ambiente têm características que os tornam mais vulneráveis ao erro, e por menor que seja a falha cometida, o erro ocorrido tem grande possibilidade de trazer complicações severas para a vida do paciente(3). 3 Considerando que a equipe de enfermagem tem papel de destaque na terapia medicamentosa, já que é responsável pelo preparo e pela administração dos medicamentos, seus profissionais devem possuir habilidades e competências para construir barreiras capazes de detectar o erro antes que ele alcance o paciente, assegurando um cuidado seguro e livre de erros. Nesse sentido, faz-se necessário ações de educação permanente voltadas para esta área(4). Diante do exposto, o objetivo do presente estudo foi identificar o tipo e a frequência de erros que ocorrem na etapa de administração de medicamentos intravenosos em duas UTIN. Metodologia Trata-se de uma pesquisa com desenho transversal de natureza observacional realizada em duas UTIN, uma pública e outra privada da cidade de Cuiabá – MT, sendo que o hospital público faz parte da Rede Sentinela da ANVISA. Os resultados aqui apresentados são parte de uma dissertação de mestrado(5). Por se tratar de duas unidades de cuidados intensivos com demandas muito distintas em relação ao número de pacientes e em consequência a quantidade de medicações realizadas, optou-se por definir como unidade amostral do estudo para avaliar o erro, a dose de medicação. Assim, para que se pudesse analisar de forma igualitária as instituições, foi pré-definido a observação de 50 doses de medicação intravenosa para cada unidade estudada. A opção apenas por medicamentos intravenosos se deu pelo fato da terapêutica medicamentosa em UTIN ocorrer quase que totalmente por esta via, além dessa requerer dos profissionais um conjunto especifico de conhecimentos teórico-práticos e ser a via com o maior potencial para os erros graves e fatais. A amostragem se deu por conveniência, sendo que as doses observadas foram preparadas e administradas por mais de um funcionário. Para analisar o erro de medicação foi utilizada a definição da National Coordinating Counsil for Medication Error Reporting and Prevention (NCC MERP), que o caracteriza como qualquer evento evitável que pode causar ou induzir ao uso inapropriado do medicamento ou 4 prejudicar o paciente enquanto o medicamento está sob o controle do profissional de saúde, paciente ou consumidor. Tais eventos podem estar relacionados à prática profissional, produtos de cuidados de saúde, procedimentos, sistemas, incluindo prescrição, comunicação, rótulo, embalagem e nomenclatura, aviamento, dispensação, distribuição, administração, educação, monitoramento e uso(6). Assim os erros de administração foram classificados em: erros de omissão; erros na administração de um medicamento não prescrito; erros referentes à via (administração por uma via errada ou diferente da que foi prescrita); erros devido ao horário incorreto (administrar o medicamento fora do horário aprazado, com limite de meia hora para mais ou para menos); e erros devido à utilização de técnicas incorretas de administração de medicamento (uso de procedimentos inconvenientes ou técnicas impróprias, falhas nas técnicas de assepsia/lavagem das mãos)(7-9). Os dados foram coletados em duas etapas, no segundo semestre de 2012, pela pesquisadora e uma graduanda de enfermagem treinada previamente. Na primeira etapa foi realizada observação sistemática não participante durante a administração de medicamentos, com a finalidade de identificar as possíveis falhas neste processo. Tal observação foi direcionada por instrumento adaptado do estudo realizado em um hospital público de ensino na cidade de Rio Branco–AC, pertencente a rede sentinela da ANVISA(7) e continha dados do ambiente de administração de medicamentos; do medicamento (dose); do paciente; do profissional que administrou e do procedimento realizado. A segunda etapa constou da coleta de dados nos prontuários dos recém-nascidos em que a medicação foi observada e se deu ao final de cada dia de observação, a fim de comparar o que foi feito durante a administração de medicamentos e identificar a ocorrência de erros. Para tanto foi utilizado roteiro estruturado elaborado pelas pesquisadoras, com dados referentes à prescrição das medicações observadas, cuidados de enfermagem com os medicamentos e anotações de enfermagem. 5 Para análise dos resultados empregamos o referencial de Donabedian para avaliação da qualidade dos serviços de saúde, que abrange três dimensões: estrutura, processo e resultado(10). A análise da estrutura está relacionada aos materiais, recursos humanos, físicos e financeiros para proporcionar a atenção em saúde. O processo corresponde à avaliação das atividades desenvolvidas pelos profissionais de saúde, considerando as questões técnicas e as relações interpessoais. A dimensão resultado retrata os efeitos da assistência à saúde do usuário, bem como as mudanças relacionadas com o conhecimento e comportamento das pessoas e a satisfação do paciente(10). Optou-se pela utilização deste referencial para organização e análise dos dados por entender que é o que melhor se adapta ao sistema de medicação hospitalar. Os dados resultantes foram armazenados no software Microsoft Excel 2010 e receberam tratamento estatístico descritivo. O projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa sob parecer n° 36189 CEP/2011. Foi fornecido termo de consentimento livre e esclarecido para os participantes do estudo, e garantido o anonimato dos sujeitos e das instituições pesquisadas. Para fins do estudo, denominou-se UTIN1 e UTIN2 para identificação das respectivas unidades participantes. Cabe destacar que na ocorrência de erros percebida pela pesquisadora durante a observação, o profissional era interrompido antes de o medicamento chegar ao paciente e orientado quanto à forma correta e segura de executar o procedimento, e o erro de medicação observado contabilizado. Resultados e Discussão Os dados utilizados nesta análise serão apresentados em três dimensões: estrutura, processo e resultado. Dimensão da estrutura 6 Sabe-se que alguns aspectos relacionados à estrutura do ambiente de administração de medicamentos podem interferir de forma negativa neste processo, gerando uma brecha no sistema para a ocorrência de erro. Nesta pesquisa, foram observados primeiramente elementos externos aos profissionais (recursos materiais e físicos) que pudessem interferir diretamente na qualidade do processo medicamentoso ocasionando um erro de medicação, são eles: iluminação do ambiente, nível de ruído no momento da administração da medicação, interrupções, local próprio para higiene das mãos (lavatório com fechamento sem comando manual, sabão, antisséptico, e recurso para secagem das mãos), e a limpeza e organização do ambiente. Em relação aos aspectos da estrutura considerados inadequados, a iluminação foi a que obteve maior frequência, 14,0% (14), interrupções do procedimento 7,0% (7) e por fim, nível de ruído, 1,0% (1). Vale destacar que a iluminação se mostrou inadequada no ambiente de administração apenas na UTIN1, e o espaço inadequado apenas na UTIN2 (Tabela 1). Tabela 1 – Inadequações do ambiente durante o processo de administração de medicamentos em duas UTIN de Cuiabá, MT, 2012. Itens observados Iluminação Interrupções do procedimento Nível de ruído UTIN1 (n=50) UTIN2 (n=50) Total (n=100) N 14 03 % 28,0 6,0 N 04 % 8,0% N 14 07 % 14,0 7,0 01 2,0 - - 01 1,0 Fonte: As autoras A iluminação insuficiente pode prejudicar a execução do procedimento, e ocasionar um erro de medicação causando danos ou não ao paciente. A iluminação inadequada, com baixa intensidade, influencia na ocorrência dos erros de medicação, pois dificulta a leitura de rótulos e do prontuário(11). Ressalta-se que no caso da UTIN1, é uma pratica comum que a luz permaneça desligada quando não se está realizando cuidados nos recém-nascidos para que os mesmos possam gozar de um melhor padrão de sono e repouso. Tal medida é louvável, pois 7 humaniza o ambiente, porém, deve-se observar certos limites para não prejudicar os cuidados diretos com a medicação, e garantir a segurança e a qualidade dos procedimentos. No que refere à interrupções e nível de ruído durante a administração de medicamentos, a equipe deve ser encorajada a eliminar atitudes como essas, pois o profissional necessita estar focado e concentrado no processo em andamento para que o mesmo possa ser executado com segurança e qualidade, diminuindo os riscos para o paciente. Quanto ao local para higiene das mãos no ambiente de administração de medicamentos, ambas as instituições atendem a este quesito, porém, não estão de acordo com todas as exigências da RDC 45(12), pois na UTIN1 o lavatório possui fechamento manual, o que é desaconselhável quando se busca uma higienização correta para diminuição dos índices de infecção. Sabe-se que a correta higiene das mãos é a principal medida para se reduzir as infecções intrahospitalares e aumentar a segurança dos pacientes(13). Já em relação à limpeza e organização do ambiente obteve-se resultado satisfatório, pois ambas as unidades apresentaram-se adequadas nestes aspectos. É importante que o ambiente seja organizado e limpo para garantir uma assistência segura(11). Dimensão do processo Como as duas unidades apresentaram diferenças consideráveis nos processos de administração de medicamentos, optou-se por apresentá-los através de fluxogramas para melhor entendimento do leitor. A figura 1 representa respectivamente o processo de administração de medicamentos na UTIN1 e UTIN2. A partir dos fluxogramas apresentados, destacamos alguns pontos dos processos que estão diretamente ligados à segurança dos pacientes. 8 O processo de administrar o medicamento merece uma atenção especial por se tratar da ponta do sistema, da realização do objetivo em si, de levar ao paciente algo que foi planejado e seguiu um percurso determinado com o objetivo de chegar até ele. Este processo se encontra sob a responsabilidade da enfermagem. Pelo fato da enfermagem ser a responsável pela ponta do sistema, é necessário que a mesma esteja muito bem preparada para detectar erros advindos dos outros processos e que não encontraram barreiras para impedir sua ocorrência. Portanto, trata-se de uma etapa importantíssima e que tem de estar estruturada de maneira exemplar para garantir um sistema seguro. No que tange à enfermagem, apesar da lei do exercício profissional preconizar que práticas mais complexas devam ser realizadas por enfermeiros, no dia-a-dia da assistência o que se observa em muitas instituições de saúde brasileiras é que enfermeiros, técnicos e auxiliares de enfermagem, possuem as mesmas atribuições na terapia medicamentosa realizada em crianças, sem aumento do dimensionamento de enfermeiros para a execução desta prática, o que pode contribuir para que vários erros de medicação atinjam pacientes pediátricos(14). Ao analisar criticamente os processos de administração de medicamentos das UTIN em questão, percebe-se que apesar de serem muito semelhantes eles se diferem em uma etapa fundamental para a segurança do paciente, a conferência do medicamento com o paciente. Na UTIN2, como as medicações foram rotuladas no processo de preparo, ao chegar ao leito do paciente, o técnico de enfermagem realiza a conferência para ter certeza se a medicação está correta, verificando se o nome do paciente escrito no rótulo confere com o nome identificado na incubadora. Tal ação, já se configura como uma barreira de segurança, mas poderia ser mais efetiva se também fosse conferida com a prescrição. Indica-se, portanto, uma conferência de três vias, 9 por assim dizer, o rótulo do medicamento, o nome do paciente em seu leito e a prescrição daquela medicação, prevenindo-se de forma mais efetiva os erros. Já na UTIN1, por não rotularem os medicamentos no momento do preparo, essa conferência não é realizada e dessa forma não existe barreira para prevenir que alguns erros cheguem até o paciente. Como dito anteriormente, é necessário que ações mínimas, e nesse caso de baixo custo sejam efetivadas. Portanto, recomenda-se que seja implantada na UTIN1 essa conferência no ato de administrar o medicamento; para tanto, o rótulo não pode deixar de ser feito no processo de preparo de medicação. As falhas na comunicação da equipe são muito comuns quando se trata de administração de medicamentos e podem levar a erros, como é o caso dos erros de administração de dose extra e de medicamentos suspenso. Estes erros podem ser gerados pela não verificação do prontuário do paciente antes de administrar determinado medicamento, e se configura como uma falha na comunicação(11). Para diminuir esse tipo de erro, é importante ler os rótulos dos medicamentos, conferir com a prescrição médica, rotular o medicamento preparado com o nome do paciente, número do leito, nome do profissional responsável, via de administração, dose e horário. Também deve-se verificar no prontuário se a medicação a ser administrada não foi suspensa(11). Outro aspecto constatado foi que o monitoramento dos efeitos dos medicamentos no paciente era apenas uma simples etapa do processo de administração de medicamentos em ambas as UTIN e não um processo à parte como é preconizado para o sistema. Tal situação denota a falta de conscientização dos profissionais envolvidos sobre a importância de tal ação para a segurança dos pacientes e eficácia do tratamento, já que muitas vezes, essa etapa acaba sendo ignorada pelos profissionais, que monitoram os efeitos apenas quando esses aparecem de forma gritante após a administração de alguma droga, ou seja, quando “há necessidade”. 10 Durante a observação, foi possível verificar que o monitoramento do paciente em até 15 minutos após a administração do fármaco para acompanhar e atuar durante possíveis reações indesejáveis, ocorreu em 73,0% (73) dos casos. Reafirma-se que tal cuidado se conforma apenas como uma etapa dentro do processo de administração de medicamentos e não como um processo em si como é desejável. Considerando que esta etapa não é realizada em todas as doses administradas, o que configura-se uma falha grave, já que é a última barreira para detectar rapidamente o erro ocorrido e intervir prevenindo maiores danos aos pacientes. Apesar disso, quando comparado com estudo realizado em unidade pediátrica de um hospital no interior de Minas Gerais, nosso resultado foi um pouco mais satisfatório, pois neste hospital em 100% das doses não houve acompanhamento do paciente depois da administração do medicamento(15). A observação sistemática do processo de administração de medicação evidenciou alguns passos que deixaram de ser cumpridos em determinadas doses administradas ou mesmo que não são feitos. Exemplo disso é a consulta à prescrição antes de administrar o medicamento. Ressalta-se que, o único local em que isso foi registrado foi na UTIN2, em que das 50 doses observadas, em 24,0% (12) das vezes o profissional que administrou o medicamento consultou a prescrição para conferência antes de administrá-lo. Na UTIN1 isso não ocorreu em nenhuma vez durante a administração das 50 doses medicamentosas. Ainda, após o término da ação de administrar o medicamento ao paciente, em 72,0% (72) das vezes o profissional checou no prontuário imediatamente após a ação realizada. Ao se analisar em separado cada instituição, notou-se que isso ocorreu com maior frequência na UTIN2, já que nesta unidade este índice chegou a 90,0% (45). Na UTIN1, a frequência foi de 54,0% (27) das vezes. Reforça-se a necessidade de que tal medida seja seguida nas instituições. Além da correta documentação, o fato de checar no prontuário logo após a administração do medicamento evita que equívocos sejam cometidos e outro profissional administre novamente 11 a medicação, assim como mantém atualizado a todo o momento o prontuário do paciente para que em caso de alguma intercorrência possa agir o mais rápido possível e sem dúvidas. Dimensão do resultado A partir da observação sistemática das doses de medicamentos administrados, e a consulta das prescrições das referidas nos prontuários dos RN pode-se chegar ao número de erros cometidos durante o processo de administração de medicamentos segundo sua tipologia. Na tabela 2 nota-se que os erros que se destacaram nas UTIN são os referentes à utilização de técnicas incorretas de administração e erros de horário, com frequências de 51,0% (51) e 16,0% (16) respectivamente. Tabela 2 – Distribuição dos erros na administração de medicamentos intravenosos nas duas UTIN estudadas. Cuiabá- MT, 2012. TIPOS DE ERROS* UTIN1 (n=50) N % 43 86,0 UTIN2 (n=50) N % 08 16,0 Erros devido à utilização de técnicas incorretas de administração 05 10,0 11 22,0 Erros devido ao horário incorreto 01 2,0 0 0,0% Erros na administração de um medicamento não autorizado *Pode ter sido observado mais de um erro em cada dose de medicamento observada. Fonte: As autoras TOTAL (n=100) N % 51 51,0 16 01 16,0 1,0 Sabe-se que são vários os fatores que podem causar um erro ao administrar o medicamento(7,8). Neste estudo consideramos como técnicas incorretas de administração, a não lavagem das mãos, não conferência da prescrição no momento da administração, contaminação de material e/ou medicamento (com ação não percebida pelo profissional e não descarte da dose), e punção incorreta (local inadequado, dispositivo impróprio e falta de antissepsia do local)(7,16). A não lavagem das mãos e não conferência da prescrição no momento da administração dos medicamentos representaram 80,4% (41) e 94,1% (48) respectivamente do total dos erros 12 de administração de medicamento. Ressalta-se que uma mesma dose pode apresentar mais de um erro. No que diz respeito à contaminação de material e/ou medicamento, tal erro não foi observado, assim como punção incorreta, já que nenhum recém-nascido foi puncionado durante a administração das doses observadas. Quando se trata de erro de administração de medicamentos, pesquisas nacionais mostram uma realidade mais favorável à segurança do paciente. Investigação desenvolvida em três UTI, sendo duas adultas e uma pediátrica de um hospital privado de São Paulo, foi encontrada taxa de 10,7% de erros de administração de medicamentos(17). Já no estudo realizado em UTIN de um hospital filantrópico de São Paulo acreditado pela Joint Commission on Acreditation of Health care Organization – JCAHO, os erros de administração de medicamentos alcançaram índices de 7,4% (18). Por outro lado, investigação realizada em uma UTI adulta de um hospital de Porto Alegre-RS, os profissionais relataram uma taxa de 27,3% de erros relacionados à administração de medicamentos(19). Erros de administração de medicamentos atingem diretamente o paciente e não podem ser barrados por outro profissional dentro da cadeia do sistema de medicação que não a própria equipe de enfermagem, geralmente quem executa o procedimento. Portanto, é imprescindível que a equipe esteja bem treinada e orientada sobre a administração de medicamentos para que erros não sejam cometidos e a droga chegue da forma mais segura ao paciente. Tendo em mente estas questões, o índice de erros de administração detectados na presente pesquisa é preocupante, sendo necessário rever onde os profissionais estão cometendo o erro, e de que forma o processo está estruturado para possibilitar que isto ocorra. Nesse sentido, nota-se que os erros de medicação tanto na UTIN1 quanto na UTIN2 ocorreram principalmente devido a não lavagem das mãos antes de administrar o medicamento e a não conferência da dose a ser administrada com a prescrição médica. Neste contexto, as instituições 13 de saúde são primordiais para desenvolverem práticas que motivem seus funcionários a realizarem a lavagem das mãos, cabendo à Comissão de Controle de Infecção Hospitalar (CCIH) de cada instituição desenvolver medidas que favoreçam este hábito(20). A não conferência da prescrição médica no momento da administração do medicamento, também é um erro grave, visto que pode ser efetivamente esta a última barreira para detecção do erro de medicação. Conferir o que será administrado com a prescrição evita erros que possam atingir o paciente e causar algum dano ao mesmo(11). Tornar esta medida protocolo no momento da administração do medicamento, e conscientizar os profissionais de sua importância são fundamentais para um sistema de medicação seguro. Em relação ao horário, os dados mostraram que em 16% das vezes o medicamento foi administrado com mais de meia hora de atraso ou antecedência. O índice encontrado nas UTIN estudadas foi menor que o descrito em investigação desenvolvida em hospital universitário de Ribeirão Preto-SP, aonde o atraso ou antecedência chegou a 22,9%(21). Em relação ao horário correto de administração do medicamento, sabe-se que é importante acompanhar rigorosamente os intervalos de tempo entre as doses, pois o mesmo está diretamente relacionado com a farmacocinética e farmacodinâmica da droga, e um atraso ou antecipação pode levar a prejuízo terapêutico não dando sequencia à ação do medicamento, principalmente no caso dos antibióticos, tão amplamente utilizados em ambientes de UTIN(22). Um fator que influencia no atraso ou antecipação na administração de medicamentos é a questão do horário padrão, rotina encontrada nas UTIN participantes. Muitas vezes um volume grande de medicamentos é aprazado para o mesmo horário, o que dificulta o preparo e atrapalha a rotina do serviço. Tais questões precisam ser constantemente avaliadas e revistas para que se possa ter um sistema de medicação mais seguro. Conclusão 14 Ao analisar o processo de administração de medicamentos por meio da observação, pode-se chegar ao percentual de erros importante, onde mais de metade das doses administradas sofreram algum tipo de erro, o que evidencia que algo precisa ser feito em prol da segurança do paciente e da melhoria nas condições de administração de medicamentos. Muitos dos erros que ocorreram neste processo foram básicos, como não lavagem das mãos, não conferência do medicamento com o paciente, não consulta da prescrição no prontuário, entre outros. Os fatores causadores destes erros demonstram o quão simples seria a diminuição destes índices, tendo em vista que medidas que dependem apenas da ação do profissional, sem custo financeiro, se realizadas corretamente previnem tais erros. Felizmente, todas as falhas encontradas são passíveis de correção, mas para que isso ocorra há necessidade da incorporação de uma cultura de segurança por parte das instituições e dos profissionais de saúde que nelas atuam. Referências 1- Miller, MR, Robinson, KA, Lubomski, LH, Rinkle, ML, Pronovost, PJ . Medications errors in pediatric care: a systematic review of epidemiology and an evaluation of evidence supporting reduction strategy recommendations. Qual Saf Health Care 2007; 16: 116-26. 2- Hughes, RG, Edgerton EA. Reducing pediatric medication errors. Children are especially at risk for medication errors. Am J Nurs 2005; 105: 79-84. 3- National Association Neonatal Nurses. Medication safety in the neonatal intensive care unit. Position Statement 3047. August, 2009. [citado 2012 set 8]; Disponível em: < http://www.nann.org/pdf/0909medication.pdf 4- Mussaraki, ACY, Versa, GLGS, Junior, JAB, Meireles, VC, Vituri, DW, Matsuda, LM. Avaliação de cuidados na terapia intravenosa: desafio para qualidade na enfermagem. Esc Anna Nery 2013; 17(1):11-16. 5- SOUZA, JS. Preparo e administração de medicamentos em Unidades de Terapia Intensiva Neonatal. 2013. [Dissertação]. Cuiabá (MT). Programa de Pós-Graduação em Enfermagem. Universidade Federal de Mato Grosso –UFMT. Cuiabá, 2013. 6- National Coordinating Counsil for Medication Error Reporting and Prevention. NCCMERP Taxonomy of medication errors. NCCMERP, 1998. [citado 2013 fev 23]; Disponível em < http://www.nccmerp.org/public/aboutmederror.html 7- Optiz, SP. Sistema de Medicação: análise dos erros nos processos de preparo e administração de medicamentos em um hospital de ensino. Ribeirão Preto: USP, 2006. 190 p. Tese de Doutorado – Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo. 15 8- Otero López MJ, Castaño Rodriguez B, Pérez Encinas M, Codina Jane C, Tamés Alonso MJ, Sánchez Muñoz T. Actualización de la classificación de errores de medicación del grupo Ruiz-Jarabo 2000. Farm Hosp 2008; 32(1):38-52. Disponível em < http://www.ismpespana.org/ficheros/Clasificaci%C3%B3n%20actualizada%20Ruiz-Jarabo%202000.pdf> 9- Anacleto TA, Rosa, MB, Neiva HM, Martins MAP. Erros de medicação. Farmacovigilância: como implantar. Farmácia Hospitalar Jan/fev 2010; 1-24.Disponível em < http://www.cff.org.br/sistemas/geral/revista/pdf/124/encarte_farmaciahospitalar.pdf> 10- Donabedian A. La calidad de La atención médica: Definición y métodos de evaluación. Traducción de Carolina Amor de Fournier. Revisión técnica de Júlio Frenk. Ediciones científicas. 1ª reimpresión. La Prensa Médica Mexicana, S. A. de C. V; 1991. 11- Santana, JCB, Sousa, MA, Soares, HC, Avelino, KSA. Fatores que influenciam e minimizam os erros na administração de medicamentos pela equipe de enfermagem. Rev Enfermagem Revista 2012; 15(1): 122-137. Disponível em: < http://periodicos.pucminas.br/index.php/enfermagemrevista/article/view/3300/3657> 12- Anvisa. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Resolução RDC/ANVISA nº 45, de 12 de Março de 2003. Dispõe sobre o Regulamento Técnico de Boas Práticas de Utilização das Soluções Parenterais (SP) em Serviços de Saúde. Brasília, DF, 2003. [citado 2014 mar 3]; Disponível em: < http://www.anvisa.gov.br/hotsite/segurancadopaciente/documentos/rdcs/RDC%20N%C2%BA%20452003.pdf 13- Martinez, MR; Campos, LAAF; Nogueira, PCK. Adesão à técnica de lavagem das mãos em UTIN. Rev Paul Pediatr 2009; 27(2):179-185. 14- Harada, MJCS, Chanes, DC, Kusahara, DM, Pedreira, MLG . Segurança na administração de medicamentos em pediatria. Acta Paul Enferm 2012; 24(4):639-642. Disponível em: < http://www.scielo.br/pdf/ape/v25n4/25.pdf> 15- Telles, PCP; Pereira Junior, AC; Veloso, IR. Identificação e análise de erros na administração de medicamentos em uma unidade pediátrica hospitalar. Rev Enferm UFPE on line, 2014; 8(4):943-50. Disponível em: < http://www.revista.ufpe.br/revistaenfermagem/index.php/revista/article/viewFile/5590/pdf_4900> 16- National Coordinating Council for Medication Error Reporting and Prevention (NCC MERP). The Council: moving into the second decade “Developing recommendations and offering tools" [Internet]; 2010. [citado 2013 fev 23]; Available from: http://www.nccmerp.org/pdf/fifteen_Year_report.pdf 17- Pelliciotti, JSS; Kimura, M. Erros de medicação e qualidade de vida relacionada à saúde de profissionais de enfermagem em UTI. Rev Latino-Am Enfermagem 2010; 18(6): [09 telas]. Disponível em: < http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0104-11692010000600004&script=sci_arttext&tlng=pt> 18- Silva, CSMR; Vendramim, P. Problemas relacionados a medicamentos em unidade de cuidado intensivo neonatal. Rev Acred 2013; 2(3):136-147. 19- Lopes, BC, Vargas, MAO, Azeredo, NSG, Behenck, A. Erros de medicação realizados pelo técnico de enfermagem na UTI: contextualização do problema. Enfermagem em foco 2012; 3(1):16-21. Disponível em: < file:///C:/Users/J%C3%BAlia%20Salom%C3%A9/Downloads/214-449-1-SM.pdf> 20- Oliveira, AC; Paula, AO. Fatores relacionados à baixa adesão à higienização das mãos na área da saúde: uma reflexão. Cienc Cuid Saúde 2014; 13(1):185-190. 21- Cassiani, SHDB; Teixeira, TCA. Análise de causa raiz: avaliação de erros de medicação em hospital universitário. Rev Esc Enferm USP 2010; 44(1):139-46. 22- Campino, A. et al. Errores en la preparación de fármacos intravenosos en una Unidad de Cuidados Intensivos Neonatal. Una potencial fuente de eventos adversos. Anales de Pediatría, Barcelona 2013; 79(1):21-25.