O CORPO E A SEXUALIDADE COMO ENFOQUE INTERDISCIPLINAR NA FORMAÇÃO CONTINUADA DE PROFESSORES Martha Elisa Koch Fernandes de Souza – Profª PDE da Rede Estadual de Ensino de Irati-PR, [email protected] Ana Lúcia Crisostimo (orientadora) Profª Deptº de Ciências Biológicas da UNICENTRO-PR, [email protected] Universidade Estadual do Centro-Oeste/ Setor de Ciências Agrárias e Ambientais Palavras-chaves: educação sexual, formação de professores, adolescência Resumo: O trabalho socializa um processo de formação continuada desenvolvida, em 2009, junto professores da Rede Estadual de Ensino de Irati-PR, numa perspectiva interdisciplinar e vinculado ao programa PDE/UNICENTRO. A metodologia adotada foi pesquisa-ação participativa. A formação possibilitou a os envolvidos uma maior compreensão em torno da temática sexualidade integrada em diferentes disciplinas curriculares. Introdução A “sexualidade” nos remete a um universo onde tudo é relativo, implica em uma série de valores e atitudes que, freqüentemente, fazem supor que é o mesmo que falar apenas de relações genitais. Certamente, esta é uma expressão da sexualidade, mas, com certeza não é tudo o que significa este termo. A sexualidade compõe-se de muitos fatores, incluindo formas de pensar, sentir e agir desde o nascimento até a morte. A forma como o indivíduo vê o mundo e como o mundo vê o indivíduo. Desta maneira, compreende as questões de gênero, os aspectos físicos, o desenvolvimento do corpo, as alterações associadas à puberdade e os processos fisiológicos, como a menstruação, a ovulação e a ejaculação. Segundo Azevedo (2001) a sexualidade é parte integral da personalidade de cada ser humano que se manifesta até a morte, sendo uma necessidade básica, unida a outros aspectos de sua vida, tanto sociais, culturais quanto psicológicos. É a busca do contato íntimo com o próprio Anais da SIEPE – Semana de Integração Ensino, Pesquisa e Extensão 26 a 30 de outubro de 2009 corpo e com o corpo do outro, ou seja, é a energia que motiva a busca por sentimentos e prazer, indispensáveis para a vida da pessoa. Para Michael Foucalt, (2001), não se deve descrever a sexualidade como um ímpeto rebelde, estranha por natureza e indócil por necessidade, a um poder que, por sua vez, esgota-se na tentativa de sujeitá-la e muitas vezes fracassam em dominá-la inteiramente. Ela aparece mais como um ponto de passagem particularmente denso pelas relações de poder, entre homens e mulheres, entre jovens e velhos, entre pais e filhos, entre educadores e alunos, entre padres e leigos, entre administração e população. Devido ao comportamento de nossos jovens, em grande parte influenciado pelo que eles ouvem, o que eles vêm na mídia e circulando na web, entendemos que a Educação Sexual torna-se importante no processo da formação educacional. Neste contexto, educar é fazer com que nossos adolescentes se tornem cada vez mais informados, não regridam no processo evolutivo, ao contrario, sejam cada vez mais livres, contudo que esta liberdade seja imbuída de responsabilidades. A sexualidade é um fenômeno da existência humana e faz parte da vida de todos, independentemente da faixa etária a que pertença, tratar desta temática com os adolescentes tem sido um dos desafios que se apresenta para os professores no cotidiano da sala de aula, embora a grande parte dos educadores não se sintam à vontade e por vezes despreparados para tal discussão. Em geral esta abordagem acaba ficando por conta dos professores de Ciências e de Biologia, sendo este um dos desafios contemporâneos é preciso que todos os educadores saibam como tratar deste tema sempre que seja necessário. Assim, mudanças qualificativas no ensino podem ocorrer a partir de pesquisas fundadas em necessidades e problemas concretos a partir da prática docente. Material e métodos O presente trabalho tem como finalidade apresentar as atividades desenvolvidas no projeto “O Corpo e a Sexualidade no Contexto Escolar”, institucionalizado como projeto de extensão universitária e implementado a partir do Plano de Desenvolvimento Educacional – PDE, proposto pela Secretaria de Educação do Paraná – SEED. Para atingir este objetivo, apresenta-se o processo de formação continuada desenvolvido junto a um Anais da SIEPE – Semana de Integração Ensino, Pesquisa e Extensão 26 a 30 de outubro de 2009 grupo de educadores de escolas estaduais do Município de Irati – PR, em 2009. A proposta de formação continuada mencionada teve como objetivo capacitar docentes e auxiliares administrativos da rede estadual de ensino, para que passassem a tratar com mais propriedade as questões relacionadas à sexualidade no contexto escolar. O processo formativo ocorreu junto a professores nas dependências de uma escola estadual semanalmente para prepararem atividades, avaliações, discutirem planos, novas propostas de trabalho, para leitura e estudos. Durante as reuniões do grupo de estudos foi desenvolvido e implementado o material didático no formato de um Caderno Pedagógico, vinculado à produção didática do Programa de Desenvolvimento profissional (PDE) UNICENTRO, cuja temática foi: O corpo e a sexualidade no contexto escolar. Este material didático é constituído por bases teóricas e um conjunto de atividades pedagógicas que contribuem para minimizar as dúvidas que os adolescentes trazem, sobre o tema, de seu cotidiano. Para o desenvolvimento das atividades pedagógicas no grupo de estudo foram utilizados os seguintes recursos metodológicos: palestras com profissionais da área da saúde, estudo e discussão de textos, slides, dinâmicas, música, vídeos, dramatização relacionados aos temas propostos, sempre buscando a participação de todos os envolvidos, através da contextualização dos assuntos, por meio da metodologia de pesquisa-ação. Os encaminhamentos do grupo, bem como o planejamento das atividades tiveram a participação de todos os componentes do grupo. Os temas trabalhados foram registrados em relatórios detalhados de cada reunião com o grupo de estudos constituído. Abaixo apresentamos uma síntese dos encontros, com o objetivo de socializar as discussões e análises possíveis no desenvolvimento desta proposta extensionista. Principais temas estudados e discutidos no grupo de estudos foram: História da sexualidade, mitos, masturbação, homossexualidade e virgindade; O adolescente e as transformações no corpo; O adolescente e as mudanças psicológicas; O adolescente e as modificações corporais provocadas (piersing, tatuagem, body modificacion, bulimia, anorexia); A gíria entre os adolescentes; O adolescente e o sexo; O adolescente e a primeira relação sexual; O adolescente, o sexo e os pais, Gravidez na Adolescência, aborto, Sistema reprodutor masculino; Sistema reprodutor feminino; Métodos contraceptivos e DST’s, Educação sexual e educação sexual na escola; A posição da escola em relação a todos estes temas. Anais da SIEPE – Semana de Integração Ensino, Pesquisa e Extensão 26 a 30 de outubro de 2009 Para que fossem atingidos os objetivos do projeto as participantes elaboraram e desenvolveram subprojetos em suas realidades educacionais a partir das temáticas abordadas. A apresentação e discussão destes resultados foram imprescindíveis pois foram externadas dificuldades, avanços e resistências ao implementar na escola ações que tratassem diretamente questões sobre o corpo e sexualidade. Um dos resultados das reflexões do grupo que merece destaque é a idéia de que esta temática em questão seja tratada de forma contínua em todas as séries do ensino fundamental e médio, e não como projetos pontuais e descontextualizados. Conclusão Os educadores ao apontarem as dificuldades ao trabalharem a temática sexualidade, argumentaram que a escola sendo um espaço educativo deveria proporcionar aos paris dos alunos espaços de reflexão sobre como vem ou não lidando com práticas sexuais de prevenção, relações não discriminatórias, ética de convivência inclusive nas relações afetivo-sexuais e ruptura na cadeia de reproduções de tabus e intolerâncias. Mas tal postura, por ampliação das esferas de atuação da escola, além da clássica transmissão de conhecimentos disciplinares choca-se com a materialidade, a falta de recursos e insatisfação dos professores com suas condições de trabalho. Um dos objetivos do trabalho foi elencar algumas concepções que os professores envolvidos possuíam sobre a sexualidade e avaliar a importância do desenvolvimento do tema a partir do enfoque interdisciplinar. Das sínteses possíveis sobre este aspecto, a partir dos relatórios das discussões do grupo de formação continuada, foi possível constatar que é comum os professores admitirem a dificuldade em trabalhar sobre sexualidade e afetividade em sala de aula. Essa problemática se associa a questões complexas, de cunho existencial e institucional. Explicita-se a falta de preparo e de capacitação para repassar aos alunos orientações acerca da temática sexualidade pois as dúvidas vão além da informação, passando por experiências de vida pessoal, íntima, sendo que os professores sentemse, muitas vezes, constrangidos ao se posicionarem. Enfim, está discussão é extremamente relevante no contexto escolar uma vez que é um dos componentes essenciais da educação, que não se restringe a uma mera instrução sobre aspectos biológicos, mas busca orientação em vários aspectos da formação pessoal e social das crianças e Anais da SIEPE – Semana de Integração Ensino, Pesquisa e Extensão 26 a 30 de outubro de 2009 jovens. Nesse sentido, em todo o percurso escolar, obrigatoriamente, devem ser abordados vários enfoques que promovam a saúde, particularmente em relação à sexualidade humana, quer numa perspectiva interdisciplinar ou integrada às disciplinas curriculares. O professor deve fazer chegar aos alunos conteúdos que promovam a reflexão, para Tiba (2006), a escola é um espaço intermediário de educação entre a família e a sociedade, portanto, seus limites comportamentais e disciplina têm de ser mais severos que os familiares, porém mais suaves que os da sociedade. À medida que as questões relativas à sexualidade forem incorporadas ao contexto escolar de forma contínua, estaremos promovendo a formação de cidadãos críticos e bem informados, que saibam discernir o certo do errado sem preconceito, sem tabus e com maturidade. Referências AZEVEDO, M. R. D. Educação Sexual: uma questão em aberto. In: SAITO, M. I; SILVA, L.E.V. Adolescência: Prevenção e Risco. São Paulo: Athrneus, 2001. FOUCAULT, M. História da Sexualidade- I – A vontade de Saber. Tradução de:ALBUQUERQUE, M. T. C; ALBUQUERQUE, J. A.G. 18a. ed. São Paulo: Graal, 2007. TIBA, T. Disciplina Limite na Medida Certa – Novos Paradigmas. São Paulo: Integrare Ltda., 2006. 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