Avaliação Econômica de Impactos Ambientais no Brasil: da atividade acadêmica ao financiamento de longo prazo de projetos e empresas. Celso Funcia Lemme Universidade Federal do Rio de Janeiro Instituto de Pós-Graduação em Administração Doutorado em Administração Orientador: Claudio Roberto Contador, PhD Rio de Janeiro – Brasil Dezembro de 2000 ii Folha de Aprovação (com a Secretaria Acadêmica) iii FICHA CATALOGRÁFICA Lemme, Celso Funcia. Avaliação Econômica de Impactos Ambientais no Brasil: da atividade acadêmica ao financiamento de longo prazo de projetos e empresas/ Celso Funcia Lemme. Rio de Janeiro: UFRJ/COPPEAD, 2000. xi, 145p. il. Tese – Universidade Federal do Rio de Janeiro, COPPEAD. 1.Avaliação Econômica de Projetos e Empresas. 2.Meio Ambiente. 3.Tese (Doutorado – UFRJ/COPPEAD). I.Título. iv RESUMO LEMME, Celso Funcia. Avaliação econômica de impactos ambientais no Brasil: da atividade acadêmica ao financiamento de longo prazo de projetos e empresas. Orientador: Claudio Roberto Contador. Rio de Janeiro: UFRJ/COPPEAD, 2000. Tese. O objetivo desta pesquisa foi examinar três aspectos do conhecimento sobre avaliação econômica de impactos ambientais no Brasil pós Plano Real: a geração e difusão, com base na pesquisa e publicação acadêmica, a transmissão, por meio dos programas de mestrado e doutorado, e a aplicação, direcionada para o financiamento de longo prazo de projetos e empresas. O foco escolhido para o exame dos aspectos de geração, difusão e transmissão foi o da comunidade acadêmica tradicional, de primeira linha, das áreas de Administração e Economia. Para a etapa da aplicação do conhecimento, a atenção concentrou-se em instituições que fornecem financiamento de longo prazo a empresas e projetos no Brasil, particularmente naquela que, pelo seu porte e amplitude de atuação, se constitui na maior agência de financiamento ao desenvolvimento no país. A abordagem utilizada partiu da identificação da avaliação econômica de impactos ambientais como um desdobramento natural dos conceitos e métodos de avaliação usualmente utilizados nos meios acadêmico e profissional das áreas de Administração e Economia para ativos financeiros, empresas e projetos. Com base nos resultados obtidos, são apresentadas sugestões para a atuação das instituições de ensino e pesquisa e do principal órgão brasileiro de fomento ao desenvolvimento econômico e social. v ABSTRACT LEMME, Celso Funcia. Avaliação econômica de impactos ambientais no Brasil: da atividade acadêmica ao financiamento de longo prazo de projetos e empresas. Orientador: Claudio Roberto Contador. Rio de Janeiro: UFRJ/COPPEAD, 2000. Tese. The objective of this research was to investigate the issue of economic valuation of environmental impacts in Brazil in the years following the implementation of the economic stabilization plan(Plano Real). The approaches of both the academy and the business world were studied. For the first one, the focus was on the fields of Economics and Business Administration, trying to investigate the generation and dissemination of knowledge in high quality journals, dissertations, theses and graduate courses. Regarding to the business world, the attention was concentrated on the institutions that give long term financial support to companies and projects in Brazil, more specifically in the federal bank that plays the major role in financing economic and social development in the country. The underlying assumption of the research was that economic valuation of environmental impacts may be seen as a development of valuation concepts and methodologies traditionally used in the fields of Economics and Business Administration for financial assets, companies and projects. Based on the results obtained, some suggestions are presented for improving the contribution given to society by educational institutions and by the major financial institution that provides long term funding for projects and companies in Brazil. vi LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS ACCA The Association of Chartered Certified Accountants AEIA Avaliação Econômica de Impactos Ambientais AMA Assessoria de Meio Ambiente ANBID Associação Nacional dos Bancos de Investimento APT Arbitrage Pricing Theory BNDES Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social CAPES Coordenação de Aperfeiçoamento do Pessoal de Nível Superior CAPM Capital Assets Pricing Model CBA Cost Benefit Analysis COI Coordenação de Organização e Tratamento da Informação CV Contingent Valuation CVM Contingent Valuation Methods DCF Discounted Cash Flow EBITDA Earnings Before Interest, Taxes, Depreciation and Amortization EPA Environmental Protection Agency ERS Environmental Review Summary EVA Economic Value Added GEF Global Environment Facility GWU George Washington University IADB Inter American Development Bank IFC The International Finance Corporation IPTU Imposto Predial e Territorial Urbano IPVA Imposto sobre a Propriedade de Veículos Automotores ITR Imposto Territorial Rural OCDE Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico ONG Organizações Não Governamentais PNUD Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento PPP Princípio do Poluidor Pagador vii RO Real Options S&P Standard and Poor’s SDD Sustainable Development Department TEV Total Economic Value TIR Taxa Interna de Retorno TRI Toxics Release Inventory VPL Valor Presente Líquido WB The World Bank WTA Willingness to Accept WTP Willingness to Pay viii LISTA DE TABELAS No TÍTULO Página 1 Revistas de Economia e Administração Pesquisadas 71 2 Número de Exemplares e de Artigos Consultados por Revista Pesquisada 72 nas Áreas de Economia e Administração 3 Número de Exemplares e de Artigos Consultados por Ano 73 4 Valores de np para os Testes Estatísticos Referentes às Revistas de 74 Economia e Administração 5 Programas de Mestrado e Doutorado em Administração Selecionados 75 6 Programas de Mestrado e Doutorado em Economia Selecionados 76 7 Número de Teses de Mestrado e Doutorado Consultadas por Área e 77 Valores de np para os Testes Estatísticos 8 Número de Disciplinas de Mestrado e Doutorado por Área e por Ano e 79 Valores de np para os Testes Estatísticos 9 Resultados do Conteúdo dos Artigos por Revista(1995 a 1999) 87 10 Resultados do Conteúdo dos Artigos por Ano 88 11 Proporções e Testes Estatísticos no Total das Revistas Acadêmicas 89 12 Proporções e Testes Estatísticos nas Revistas Acadêmicas por Área 89 13 Proporções e Testes Estatísticos nas Revistas Acadêmicas por Ano 90 14 Resultados, Proporções e Testes Estatísticos nas Teses de Mestrado e 91 Doutorado por Área 15 Resultados, Proporções e Testes Estatísticos nas Disciplinas de Pós- 94 Graduação por Área 16 Resultados, Proporções e Testes Estatísticos nas Disciplinas de Pós- 94 Graduação por Ano 17 Freqüências e Proporções das Áreas de Atuação Divulgadas na Internet 109 pelos Bancos de Investimento Privados 18 Teste Estatístico nas Áreas de Atuação dos Bancos de Investimento Privados 109 ix LISTA DE ANEXOS No. TÍTULO 1 Ranking de Programas Americanos de MBA em Função da Ênfase em Questões de Meio Ambiente 2 Roteiro Utilizado nas Entrevistas em Washington 3 Avaliação pela CAPES dos Cursos de Mestrado e Doutorado em Economia e Administração 4 Questões Apresentadas aos Entrevistados no BNDES 5 Checklist Apresentado aos Entrevistados no BNDES 6 Bancos de Investimento Associados à ANBID 7 Extrato do Perfil do Axial Banco, Conforme Apresentado na Internet em Outubro e Novembro de 2000 8 Perfil do A2R Fundos Ambientais Ltda. x SUMÁRIO PÁG. 1.INTRODUÇÃO 1 1.1.Apresentação e Objetivo 2 1.2.Motivação 5 1.3.Relevância 5 1.4.Delimitação 10 2.REVISÃO DA LITERATURA 13 2.1.O Conceito de Valor e Avaliação 14 2.2.Avaliação de Empresas 16 2.2.1.Conceitos e Significados de Valor de Empresas 16 2.2.2.Método do Valor Patrimonial Ajustado 19 2.2.3.Método do Valor de Mercado dos Títulos 19 2.2.4.Método da Comparação Direta 20 2.2.5.Método dos Fluxos de Caixa Descontados(DCF) 21 2.2.6.Método de Opções Reais 22 2.2.7.Observações Finais Sobre Avaliação de Empresas 25 2.3.Avaliação Social de Projetos 26 2.4.Avaliação Econômica de Impactos Ambientais (AEIA) 30 2.4.1.Valores Monetários e os Princípios da Economia Ambiental 30 2.4.2.A Controvérsia Envolvendo a AEIA 32 2.4.3.A Metodologia Básica da AEIA 38 2.4.3.1.Os Conceitos de Valor na Análise Ambiental 39 2.4.3.2.As Abordagens e os Métodos para Avaliação Econômica 41 2.4.3.3.Reflexões Sobre os Métodos de AEIA e Aplicações no Brasil 55 2.4.3.4.A Questão da Taxa de Desconto Ambiental 58 2.4.3.5.O Problema da Apropriação de Custos e Benefícios 61 2.5.Concluindo a Revisão de Literatura 3.METODOLOGIA 62 64 xi 3.1.Classificação da Pesquisa 64 3.2.Procedimentos 65 3.2.1.Busca de Referências Internacionais no Tratamento da AEIA 67 3.2.2.Exame de Meio Ambiente e AEIA nas Publicações Acadêmicas 70 3.2.3.Exame de Meio Ambiente e AEIA nas Disciplinas de Pós-Graduação 77 3.2.4.Exame de Meio Ambiente e AEIA nos Financiamentos do BNDES 79 3.2.5.Exame de Meio Ambiente e AEIA nos Bancos de Investimento Privados 82 3.3.Limitações da Metodologia 4.RESULTADOS, CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES 85 87 4.1.Meio Ambiente e AEIA na Pesquisa e Publicação Acadêmica 87 4.2.Meio Ambiente e AEIA no Ensino de Pós-Graduação 93 4.3.Meio Ambiente e AEIA no Financiamento de Longo Prazo no Brasil 97 4.3.1.Meio Ambiente no Financiamento de Longo Prazo no Brasil 98 4.3.2.AEIA no Financiamento de Longo Prazo no Brasil 106 4.3.3.Meio Ambiente e AEIA nos Bancos de Investimento Privados 108 4.4.Comparação do Tratamento da Questão Ambiental no Brasil e Exterior 111 4.4.1.Meio Ambiente e AEIA nas Instituições Financeiras Internacionais 112 4.4.2.Existem Diferenças Relevantes em Relação aos Padrões Internacionais? 118 4.5.Os Possíveis Aperfeiçoamentos na Metodologia Brasileira 120 5.SUGESTÕES PARA FUTURAS PESQUISAS 124 6.REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 125 1)INTRODUÇÃO Um trabalho de pesquisa pode ser feito com diferentes objetivos, que orientam seus procedimentos e dão sentido às suas conclusões. Ele nasce e se desenvolve em um determinado ambiente, que estabelece seu alcance e suas restrições. É clara, também, a influência da vida e da forma de pensar do(s) seu(s) autor(es) na sua escolha e condução. Este primeiro capítulo visa a apresentar e situar o trabalho, indicando objetivos, motivação e relevância, além de delimitar as suas fronteiras. Deve servir como referência e guia para os capítulos restantes, facilitando, ao final, o confronto dos resultados da pesquisa com as bases da sua geração. Sendo uma pesquisa de doutorado, em que o tempo e a escassez de recursos tendem a direcionar o autor para temas que sejam do seu domínio prévio e possam trazer algum benefício profissional adicional, alguns pontos devem ser destacados de imediato: • o tema específico, avaliação econômica de impactos ambientais, era quase desconhecido pelo autor no início da pesquisa, embora parecesse ser um desdobramento de outros campos de seu conhecimento. Mas parecia tão importante e fértil, que justificou o risco de tentar entendê-lo, mesmo que com um esforço maior do que o que seria requerido por um caminho anteriormente percorrido. Parecia, também, um tema pouco explorado pela área tradicional de Economia e Finanças no Brasil, o que fez com que a pesquisa ganhasse contornos de estudo exploratório, dando mais ênfase à amplitude da cobertura do que ao detalhamento de aspectos específicos; • o país(Brasil) e a universidade(Universidade Federal do Rio de Janeiro) que abrigaram a pesquisa vivem o drama da escassez de recursos, de resto obtidos através de impostos coletados de uma sociedade igualmente carente. Isto foi determinante para que o estudo fosse direcionado para a realidade brasileira, tentando trazer alguma contribuição efetiva que pudesse servir de compensação parcial pelos recursos consumidos durante o programa de doutorado; • o instituto(COPPEAD) da universidade que estimulou e sediou a pesquisa tem como filosofia a interação permanente entre o pensamento acadêmico e a aplicação prática do conhecimento. Este ambiente foi decisivo para que a pesquisa tentasse aproximar os aspectos de geração, transmissão e aplicação do conhecimento, no campo escolhido. 2 O trabalho foi desenvolvido e pode ser melhor entendido se situado dentro dessas condições básicas. Elas serviram como fonte de referência para a pesquisa, mas, naturalmente, nenhuma delas pode ser associada às prováveis falhas existentes, de exclusiva responsabilidade do autor. Com essas questões em mente, o item 1.1 a seguir sintetiza a natureza da pesquisa e seus objetivos. 1.1.Apresentação e Objetivo A questão ambiental é ampla e complexa, podendo ser abordada sob diversos aspectos, cada um buscando apoio conceitual em um ou mais campos do conhecimento humano. O presente estudo tem Economia e Administração(área de Finanças) como campos de conhecimento de referência e seu tema conjuga Economia do Meio Ambiente (do inglês, Environmental Economics) com Avaliação de Projetos e Empresas. O foco está na metodologia para incorporação dos impactos sobre o meio ambiente na avaliação econômico-financeira de empresas e projetos, com a atenção concentrada nos instrumentos para valoração monetária dos impactos ambientais. O estudo, portanto, pode ter como palavra-chave principal “Avaliação Econômica”(do inglês Valuation), tratando da questão da “atribuição de valores monetários a bens e serviços ambientais ou aos impactos das mudanças da qualidade do meio ambiente”. (DIXON et al., 1994, p.4) Seu direcionamento é para a realidade brasileira na década de 90, após o Plano Real, que trouxe alguma estabilidade para a economia. Mais especificamente, aborda o período de 1995 a 1999. Procurou-se examinar os aspectos da geração/difusão, ensino e aplicação do conhecimento que, reunidos, permitissem compreender o estágio do assunto no Brasil e, se possível, fazer algumas recomendações. Considerando o período coberto, a pesquisa foi também uma oportunidade de verificar se houve alguma alteração no diagnóstico apresentado por Peter H. May para o final da primeira metade da década de 90, quando registrou que: “A economia do bem-estar, a análise custo-benefício e suas extensões na análise econômica das externalidades ambientais são campos de limitada penetração no Brasil. Poucas instituições acadêmicas oferecem cursos nessa área e ... não há nenhuma concentração de estudos em economia do meio ambiente ou de recursos naturais oficialmente reconhecidos...”.(MAY, 1995) 3 Mais especificamente, os objetivos do trabalho foram: 1. determinar o grau de atenção que os assuntos “Meio Ambiente” e “Avaliação Econômica de Impactos Ambientais” mereceram, como objeto de pesquisa e publicação, da comunidade acadêmica tradicional de alto nível nos campos de Economia e Administração. Isto correspondeu ao exame da etapa de geração e divulgação do conhecimento; 2. verificar a freqüência com que essa comunidade acadêmica se dedicou ao ensino especializado do assunto, em nível de pós-graduação, o que eqüivaleu a investigar a fase de transmissão do conhecimento; 3. identificar a relevância da questão ambiental e da valoração dos impactos ambientais no processo de concessão de financiamentos de longo prazo para projetos e empresas no Brasil, pois é na prática da alocação de recursos de longo prazo que se manifesta, por atos e não palavras, a preocupação da sociedade com uma questão. Dessa forma, foi abordado o aspecto da aplicação do conhecimento. Como questões acessórias, sem o mesmo nível de detalhamento e formalização, buscou-se: a)comparar o tratamento da avaliação econômica de impactos ambientais utilizado por instituições brasileiras que concedem financiamentos de longo prazo com o de instituições internacionais atuantes no financiamento de projetos e empresas no Brasil; b)propor aperfeiçoamentos na metodologia brasileira, que possam contribuir para maior qualidade nas decisões de financiamento de longo prazo de projetos e empresas. Um trabalho de pesquisa deve buscar a conjugação da teoria com as evidências empíricas. Fora do meio acadêmico é comum ouvir, entre analistas financeiros profissionais, que “a teoria na prática é outra”. Este ponto-de-vista poderia ser confrontado com a percepção de que “não há nada mais prático do que uma boa teoria”. Exemplos dessa percepção não faltam na literatura, especialmente no que se refere a medidas de avaliação de investimentos. 4 Em um artigo clássico, HIRSHLEIFER(1958) consolidou, criticou e desenvolveu os fundamentos teóricos dos métodos de avaliação de investimentos baseados em fluxos de caixa descontados. Além da solidificação da base microeconômica desses métodos, o artigo abordou e, indiretamente, orientou o tratamento de diversas questões críticas para os analistas profissionais envolvidos com a seleção de investimentos. Foram discutidos os aspectos de diferenças entre taxas de captação e aplicação, custo marginal crescente de financiamentos, racionamento de capital e investimentos não-independentes. As conclusões do artigo encontram-se, hoje em dia, incorporadas aos livros-texto de finanças e análise de investimentos, bem como à prática das empresas. O que pode ter parecido, na época, uma questão de interesse estritamente acadêmico, se revelou, ao longo do tempo, uma fonte de aperfeiçoamento das práticas profissionais na área. Dessa forma, a busca do referencial teórico como suporte e fonte de aperfeiçoamento da prática da avaliação econômica de impactos ambientais no Brasil pode ser vista como o embrião deste trabalho. O estudo foi estruturado em cinco capítulos, conforme explicitado a seguir : • capítulo 1 – Introdução, onde são discutidos objetivos, motivação, relevância e delimitação; • capítulo 2 – Revisão da literatura, no qual são identificados os principais conceitos e métodos de valor e avaliação econômica; • capítulo 3 – Metodologia, que apresenta os procedimentos básicos de coleta e tratamento de dados; • capítulo 4 – Resultados, conclusões e recomendações, no qual são registrados os pontos principais revelados pelos dados obtidos e fornecidas as respostas às perguntas da pesquisa, acompanhadas de algumas recomendações às instituições pesquisadas; • capítulo 5 – Sugestões para futuras pesquisas, onde são lembradas algumas extensões possíveis do trabalho realizado. Todo trabalho de pesquisa é movido por algum tipo de interesse ou curiosidade e o item 1.2 a seguir sintetiza as razões do autor para o interesse pelo tema. 1.2.Motivação 5 A motivação para a escolha deste tema para pesquisa de doutorado transcendeu os aspectos acadêmico e científico. Acredito que todo homem pense em colocar o conhecimento que adquiriu na vida profissional a serviço de causas que entenda justas. Creio, também, que a ciência consolidará seu lugar de honra na sociedade humana à medida que possa contribuir para melhorar o padrão de vida material e espiritual dos seres vivos e suas gerações. O interesse pela Natureza e pelas questões ambientais me acompanha há tanto tempo que não me é possível identificar quando, como ou porque começou. Mas desconfio que seu início coincidiu com o meu, já passados, portanto, mais de 44 anos. O envolvimento profissional com a área de Economia e Finanças, mais recente, começou há pouco mais de 20 anos, com ênfase na questão de avaliação de projetos e empresas. A possibilidade de reunir os dois mundos foi identificada há poucos anos atrás, nas etapas preliminares da definição do meu programa de doutorado. Pareceu possível dar alguma contribuição ao complexo processo de compatibilização de duas grandes necessidades: a de desenvolvimento econômico e a de preservação do meio ambiente. Esta contribuição poderia estar na utilização do conceito de “valor”, central em Finanças, para entender e destacar alguns aspectos da importância do meio ambiente na alocação de recursos para projetos e empresas, através dos quais se faz o desenvolvimento econômico. Daí decorreu o direcionamento da pesquisa para a avaliação econômica dos impactos ambientais associados a projetos e empresas. Mas essa motivação pessoal não seria suficiente, em temos de requisitos acadêmicos, para justificar uma pesquisa de doutorado. No item 1.3 a seguir são apresentados argumentos mais isentos e objetivos para justificar a relevância do tema. 1.3.Relevância A importância do tema resulta de dois aspectos distintos e complementares: 1)o primeiro é a preocupação crescente nos países e organizações internacionais com os impactos recíprocos entre as atividades econômicas e o meio ambiente, associada com a busca de metodologias para incorporar a questão ambiental ao processo decisório. Neste aspecto, a motivação da pesquisa é associada com a questão da eficiência econômica global e os padrões de bem-estar social. 6 No Brasil, sobram exemplos dessa preocupação, ressaltada pela imprensa em dois episódios recentes no Estado do Rio de Janeiro: o derramamento de óleo pela Petrobrás na Baía de Guanabara, em janeiro de 2000, e o agravamento da poluição na Lagoa Rodrigo de Freitas, em março de 2000. Queimadas na região centro-oeste, extração clandestina de madeira na região amazônica e manejo indevido de lixo urbano também têm presença freqüente nos noticiários. Desafios ambientais para a sustentabilidade da economia brasileira são apresentados e discutidos por MOTTA(1997), com a indicação de que é necessário mudar o juízo existente, de que o meio ambiente é uma restrição ou problema no caminho do desenvolvimento, para outro, que aponta a preservação ambiental, desde que adequada à realidade econômica e social, como uma fonte de benefícios e solução de problemas. Ele registra que “....a pobreza cria poluidores e poluídos por exclusão social. Dessa forma, não há como dissociar as questões de eqüidade das propostas de política ambiental”; conclui que “.....o custo ambiental gerado na exploração ineficiente dos recursos ambientais também faz parte do custo Brasil”. O mesmo MOTTA(1996) sugere indicadores ambientais que integram as dimensões econômica (eficiência do uso de recursos) e eqüitativa (distribuição dos custos e benefícios do uso dos recursos), ilustrando a associação da questão ambiental com a preocupação com eficiência econômica e bem-estar social. Como exemplo, apresenta uma estimativa de que o consumo de capital natural, não computado nas contas nacionais, pode corresponder, grosseiramente, a 2,5% do PIB, sugerindo uma trajetória não-sustentável para a economia brasileira em termos de renda. Muitos países e sociedades começam a entender que a preservação ambiental não é adversária do desenvolvimento econômico, passando a incluir modelos de avaliação de custos e benefícios ambientais na análise dos projetos econômicos e estabelecendo novas diretrizes e regulamentações na formulação de políticas e execução de programas e projetos. (DONAIRE, 1999) A própria Universidade Federal do Rio de Janeiro, que abriga esta pesquisa, está conduzindo um Programa de Recuperação Ambiental da ilha em que está localizada, tendo a percepção do vínculo entre as questões ambiental e econômica. Nas palavras do sub-reitor de patrimônio e finanças, professor Maurício Arouca, “São investimentos em qualidade de vida, mas acabam se tornando investimentos patrimoniais, o metro quadrado passa a valer mais”.(PLANO, 2000) No plano internacional, a recusa pelo Ex-Im Bank americano em maio de 1996, pela primeira vez na história com base em critérios ambientais, em financiar empresas 7 americanas fornecedoras de equipamento para a represa chinesa de Three Gorges é um bom exemplo dessa preocupação(EX-IM BANK goes green, 1996). Outras agências de crédito à exportação também preferiram, antes de tomar uma decisão, acompanhar as reações ao projeto por parte de organizações não-governamentais e grupos de protesto(FINANCE AND THE ENVIRONMENT, 1997). Reforçando esta postura, uma diretriz proposta pela União Européia(BASS, 1997) aponta para a exigência de avaliação de impactos ambientais para planos, programas e projetos individuais nos quinze países membros. Instrumentos econômicos para o controle ambiental do ar e da água foram identificados em diversos países(MENDES e MOTTA, 1997), incluindo os da OCDE, alguns da América Latina, China, Coréia, República Checa e Rússia. Isto parece indicar que a associação entre as questões econômicas e as ambientais está disseminada em um amplo espectro de países e regiões. Esta associação chega ao campo do comércio internacional, com estimativas de um impacto significativo da regulamentação ambiental dos países sobre os fluxos comerciais de mercadorias e serviços. (EDERINGTON e MINIER, 2000) Olhando mais à frente e com horizontes mais amplos, aparecem reflexões sobre uma nova revolução industrial a caminho, com mudança radical nas fontes de energia que impulsionam a economia. (AYRES e FRANKL, 1998) 2)O segundo aspecto que confere relevância ao assunto refere-se à importância crescente dos ativos e passivos ambientais das empresas, que podem passar a representar determinantes de valor (do inglês, value drivers) fundamentais na alocação de recursos privados nas atividades produtivas. Sob esse ângulo, a importância da pesquisa está associada à questão da eficiência empresarial na alocação de recursos e à criação de valor para os grupos de interesse da empresa (do inglês, stakeholders). Os esforços no sentido de internalizar custos ambientais e generalizar a aplicação do Princípio do Poluidor Pagador (PPP, do inglês Poluter Pays Principle) devem conduzir a uma mudança na forma como os mercados de capitais avaliam as empresas, fazendo com que as que seguem os princípios do desenvolvimento sustentável sejam percebidas como de maior valor. (SCHMIDHEINY e BCSD, 1995) No Brasil, um exemplo desta tendência é o surgimento, há três anos, do banco Axial, com foco na área de meio ambiente, ilustrado em seu lema “O verde é um bom 8 negócio”. (BANCO, 2000). As atividades do banco relacionadas à questão ambiental foram recentemente absorvidas pelo fundo A2R. A avaliação monetária de impactos ambientais é reconhecida oficialmente como válida pelos tribunais americanos desde o derrame de óleo do navio petroleiro Exxon Valdez no Alasca, em 1990, sendo também utilizada em países como Alemanha e Holanda na tomada de decisão sobre empreendimentos empresariais.(BENAKOUCHE e SANTA CRUZ, 1994) SANCHES(1997) destaca a crescente atuação dos governos e da sociedade civil sobre as indústrias, no sentido de levá-las a incorporar a questão ambiental em suas atividades. Esta ação tem se desenvolvido de diversas formas, que incluem regulamentações, políticas ambientais governamentais e a pressão exercida por comunidades locais e grupos ambientalistas diretamente sobre as empresas. Nessa mesma linha, DELAZARO FILHO(1997), observa que o desempenho das empresas industriais deve sofrer influência relevante da gestão da qualidade ambiental, sugerindo que aquelas que forem capazes de obter certificação ambiental terão maiores facilidades para competir. SANCHES(2000) também chama a atenção para o período de transição pelo qual vem passando o setor industrial em função dos imperativos ambientais, ressaltando o tratamento do meio ambiente como questão estratégica e possível fonte de rentabilidade e vantagem competitiva. Reflexos dessas questões já se fazem sentir no mercado de trabalho, com a carreira de “gerente ambiental” ganhando espaço nas empresas, ainda que sem ter formato e estrutura padronizados. (SOBRAM, 2000) A preocupação com o entendimento dos riscos e oportunidades oferecidos pelo crescimento da consciência ambiental já alcança as micro e pequenas empresas, justificando a elaboração pelo SEBRAE de uma publicação específica sobre o assunto.(A QUESTÃO, 1996) No caso brasileiro, especial cuidado é necessário, porém, com a distância que pode haver entre o discurso e a prática. Sinal dessa contradição, por exemplo, é a constatação de que nove anos após a sua criação, em 1991, o seguro ambiental brasileiro ainda não saiu do papel, não tendo sido comercializada até agora nenhuma apólice do seguro responsabilidade civil poluição ambiental, apesar da ocorrência periódica de acidentes ecológicos de grande repercussão na mídia. (TEIXEIRA, 2000) Nos Estados Unidos, de acordo com uma pesquisa realizada pelo Investor Responsibility Research Center com as empresas que compõem o S&P 500 (MORE 9 COMPANIES, 1996), um número crescente de empresas começa a se interessar pelo impacto ambiental das suas atividades, apesar de poucas terem instituído medidas efetivas através de indicadores. Isto pode indicar que a mensuração dos impactos ambientais ainda não está incorporada aos sistemas corporativos de gestão ambiental. Na Inglaterra, a The Association of Chartered Certified Accountants (ACCA) premia anualmente as empresas que apresentaram os melhores relatórios sobre os seus aspectos ambientais.(1999 ACCA ENVIRONMENTAL, 2000) Evidências têm surgido no sentido de que os impactos ambientais podem se tornar relevantes para a situação financeira das empresas e dos seus acionistas. Através da metodologia de estudo de eventos, HAMILTON(1995), aponta a relevância para os investidores das notícias sobre níveis de poluição das empresas, identificando retornos anormais negativos estatisticamente significativos associados à divulgação de informações sobre poluição. Em seu estudo, esses retornos significaram uma perda média de US$ 4,1 milhões no valor das ações no dia da divulgação para as empresas destacadas no Toxics Release Inventory(TRI) da Environmental Protection Agency(EPA) americana. Outra pesquisa (KLASSEN e McLAUGHLIN, 1996), também baseada em estudo de eventos e na Hipótese de Mercados Eficientes, sinaliza a possibilidade da gestão ambiental desempenhar um papel crítico no desempenho financeiro das empresas. Os resultados obtidos indicaram retornos anormais positivos significativos nas ações associados a eventos favoráveis na gestão ambiental (como o recebimento de prêmios) e retornos anormais negativos significativos no caso contrário. Em média, na amostra considerada, o valor de mercado das empresas subiu US$ 80,5 milhões em seguida às ocorrências positivas e caiu US$ 390 milhões no caso das negativas. Resultado interessante é também relatado por HRISAK(1997), citando pesquisa da Duke University segundo a qual portfólios com ações de empresas ambientalmente responsáveis em geral apresentam retorno anual 1% a 3% superior ao daqueles com empresas que não demonstram este tipo de preocupação. Mesmo conceitos relativamente recentes em gestão financeira de empresas, como o EVA (do inglês, Economic Value Added), já começam a ser utilizados na abordagem das questões ambientais, com EPSTEIN e YOUNG(1998) discutindo o uso do EVA pelos executivos como uma ferramenta para promover investimentos em melhorias ambientais e obter recursos para que sejam realizados. 10 A importância da contabilidade ambiental de custos na melhoria do desempenho, redução de impactos ambientais e aumento na lucratividade de longo prazo é destacada por EPSTEIN(1996), em uma pesquisa abrangendo mais de 100 empresas. Adicionalmente, EPSTEIN e ROY(1998b) abordam o dilema das empresas multinacionais entre adotar padrões globais de ação ambiental ou adaptar esses padrões às exigências de cada país de atuação, relacionando essa decisão à saúde financeira corporativa de longo prazo. Concluindo, espera-se que a discussão apresentada neste item sobre os dois aspectos, macroeconômico/social e microeconômico/empresarial, tenha demonstrado não só a relevância como também a amplitude do assunto. Finalizando esta seção, vale a pena acompanhar as reflexões de Contador(1997; prefácio), ao destacar que: “A dimensão ambiental está definitivamente integrada à elaboração e avaliação de projetos e é um campo fértil e quase inesgotável de pesquisas. O que era antes considerado como efeitos externos menores superou, em importância, a mensuração dos efeitos diretos. A metodologia ainda engatinha, mas promete revolucionar os enfoques tradicionais. “ Para que a presente pesquisa, que pretendeu dar alguma contribuição a esta revolução, se tornasse viável, foram estabelecidas suas fronteiras, conforme explicitado no próximo item. 1.4.Delimitação Foram estabelecidos os seguintes limites para o estudo: • geográfico : Brasil; • temporal : década de 90, após o Plano Real, de 1995 a 1999; • instituições acadêmicas : programas de pós-graduação stricto sensu(mestrado e doutorado) de alta qualidade em Economia e Administração; • publicações acadêmicas: periódicos de primeira linha, com circulação nacional, das áreas de Economia e Administração. Como complemento, apenas para o ano de 1999, teses de mestrado e doutorado dos referidos programas de pósgraduação; • instituição fornecedora de financiamentos de longo prazo no Brasil: Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social(BNDES). Para comparações 11 com aspectos específicos do plano internacional, utilizou-se como referência principal o Banco Mundial(The World Bank) e como referências secundárias o Banco Interamericano de Desenvolvimento(Inter American Development Bank) e The International Finance Corporation, braço do Banco Mundial para o financiamento do setor privado. A escolha do período após o Plano Real, de 1995 a 1999, como base para o estudo deveu-se aos seguintes fatores : a)intensificação da abertura do país aos fluxos internacionais, tanto comerciais como financeiros; b)colocação da retomada do crescimento econômico, e, portanto, do financiamento de longo prazo a projetos e empresas, como questão crucial para o país, após a estagnação da chamada “década perdida” (década de 80) e o período de recessão que se seguiu ao aperto monetário do Plano Collor, no início da década de 90; c)relativa estabilidade monetária, que facilitou o restabelecimento de relações contratuais de longo prazo e a análise comparativa de valores no tempo. A abertura internacional e o desafio da retomada do crescimento econômico trouxeram para o primeiro plano a questão do financiamento de longo prazo para projetos e empresas, bem como a avaliação dos impactos do crescimento sobre o meio ambiente. O foco acadêmico nas áreas de Economia e Administração decorreu do fato de concentrarem a maior parte do ensino e da pesquisa em economia e finanças, que são os campos de conhecimento referenciais deste trabalho. Por ser um estudo voltado para a avaliação econômica dos impactos ambientais, uma série de outros aspectos importantes da questão ambiental, no campo da biologia, ecologia, engenharia e tecnologia, não foram abordados, sem que isto signifique qualquer juízo de valor quanto à sua relevância ou prioridade. A seleção do BNDES como referência para a investigação dos procedimentos e do alcance prático da avaliação econômica de impactos ambientais foi uma decorrência natural da relevância dessa instituição no contexto do financiamento de longo prazo de projetos e empresas no Brasil. Nas palavras de Contador(1997; p.349), “Das agências do setor público dedicadas ao financiamento de investimentos fixos, a 12 principal fonte de recursos é o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social(BNDES) e suas agências subsidiárias”. Adicionalmente, contribuiu para a escolha do BNDES o registro no texto do Protocolo Verde de que “Em financiamentos a projetos de controle do meio ambiente, o BNDES ..... se constitui na principal instituição nacional a apoiar tais projetos com créditos de longo prazo.” (PROTOCOLO VERDE, 1995, p.4) Uma delimitação adicional pode ser inferida da própria natureza da pesquisa: considerando que a avaliação econômica de impactos ambientais pode ser relevante nos níveis de avaliação de projetos, de programas e de políticas(PEARCE, 1993), é importante registrar que este trabalho, ao olhar para as instituições financeiras de fomento, focaliza projetos e empresas, não entrando no exame de programas e políticas públicas. Ao final do trabalho, no capítulo 6, são apresentadas algumas sugestões para remover esses limites em pesquisas futuras. Estabelecidos os limites da pesquisa, o próximo passo foi buscar o entendimento dos fundamentos teóricos do campo escolhido, cujos pontos principais encontram-se no capítulo 2 a seguir. 13 2)REVISÃO DA LITERATURA O objetivo deste capítulo é identificar os principais conceitos e metodologias relacionados à avaliação econômica de impactos ambientais, localizando e direcionando a contribuição a ser originada do presente trabalho. Não se pretende apresentar um resumo de toda a literatura revista, mas articular os conceitos e questões teóricas mais importantes para a finalidade da pesquisa. Isto deve facilitar a compreensão dos resultados obtidos na investigação sobre a geração/difusão, transmissão e aplicação do conhecimento nesta área no Brasil, no período de 1995 a 1999. O tema da pesquisa, em seu sentido mais amplo, é a avaliação econômica de ativos e de decisões de alocação de recursos. Como conseqüência, a discussão do tema específico, a avaliação econômica dos impactos ambientais, requer o entendimento de alguns fundamentos e de diferentes contextos de avaliação, finalidade dos itens 2.1 a 2.3 deste capítulo. O tema específico é revisto no item 2.4, que ocupa a maior parte do capítulo. Em primeiro lugar, deve ser revisto o próprio conceito de valor e avaliação neste contexto particular, objeto do item 2.1. Em seguida, é necessário entender as bases dos métodos de avaliação de empresas, ou seja, a visão empresarial de valoração e valor, tendo como princípio que a avaliação econômica de impactos ambientais se insere no objetivo de criação de valor para os grupos de interesse (stakeholders) das organizações. O item 2.2 adiante aborda este assunto. Os impactos ambientais estão incluídos entre os determinantes de valor (do inglês value drivers), merecendo atenção na avaliação sob o ponto-devista da empresa privada. Mas os critérios de avaliação econômica utilizados pela iniciativa privada diferem em parte dos adotados pelos organismos governamentais e, de certa forma, pelas agências internacionais de fomento. Como a interação entre eles faz parte deste trabalho, há a necessidade de identificar as principais diferenças entre as óticas pública e privada de avaliação econômica, revendo, no item 2.3, os fundamentos da avaliação social de projetos. Finalmente, e com ênfase maior pelos próprios objetivos da pesquisa, é fundamental examinar os conceitos e metodologias específicas para avaliação econômica de impactos ambientais. Isto é feito no item 2.4, na medida do necessário para o entendimento do trabalho, sem a pretensão de esgotar um assunto vasto. A consulta 14 às referências bibliográficas deve possibilitar um aprofundamento para os mais interessados no tema. A conjugação do conteúdo dos quatro itens deve permitir o entendimento e a avaliação dos caminhos e dos resultados da pesquisa. O primeiro passo, portanto, no item 2.1 a seguir, é conceituar valor e avaliação. 2.1.O Conceito de Valor e Avaliação Este trabalho trata de avaliação, que significa determinação de valor. Isto requer alguma especificação, uma vez que FERREIRA(1986) apresenta 15 significados para a palavra “valor” isoladamente, além de 28 usos possíveis quando combinada com outros termos. Os métodos de avaliação utilizados em Economia e Finanças utilizam, ao menos aproximadamente, o significado de “O equivalente justo em dinheiro, mercadoria, etc., especialmente de coisa que possa ser comprada ou vendida; preço, valia.” Este será o entendimento básico da palavra “valor” neste estudo. Mas para a discussão da avaliação econômica de impactos ambientais, é conveniente registrar um dos usos possíveis da palavra combinada, ou seja, o “Valor intrínseco: O que a moeda ou os objetos têm por si próprios, independentemente de qualquer convenção ou trabalho artístico.” No confronto entre esses dois sentidos, encontraremos, mais adiante, uma das bases dos conflitos conceituais existentes entre duas correntes alternativas de pensamento sobre avaliação de impactos ambientais. Mesmo restringindo-se ao primeiro sentido, é importante observar que os principais modelos propostos na teoria financeira para determinação de preços de ativos, como CAPM(Capital Assets Pricing Model) e APT(Arbitrage Pricing Theory), foram desenvolvidos tendo como base os ativos financeiros e como pressuposto as condições de equilíbrio no mercado. A idéia central é a de que o preço deriva do posicionamento do ativo dentro de um espectro de retorno-risco-liquidez, segundo um padrão de equilíbrio dinâmico. Ainda que utilizados apenas para precificação de ativos financeiros, diversas questões são levantadas em relação a esses modelos. Como exemplo, temos algumas observações clássicas em relação ao CAPM, como a identificação do ativo livre de risco e da carteira do mercado. O APT, do qual o CAPM pode ser visto como um caso especial, apresenta o desafio de seleção e interpretação dos fatores. 15 Com toda a evolução nos últimos anos dos modelos de precificação de ativos financeiros, permanece, no entanto, a dificuldade de utilizá-los na avaliação de ativos reais, como no caso de empresas e projetos, objetos dessa pesquisa. Alguns dos principais problemas envolvidos na utilização dos modelos são: a) indivisibilidade do ativo, pois na compra de controle o todo nem sempre corresponde à soma das partes; b)dificuldade, ou mesmo virtual impossibilidade, de repetição do evento, reduzindo a utilidade das medidas estatísticas de desempenho, que se baseiam na ocorrência de sucessivos eventos; c)pouca liquidez e elevados custos de transação; d)assimetria de informação entre os investidores, sendo em muitos casos fator decisivo para a realização de negócios com retorno atrativo; e)inexistência de um mercado formal, que dê transparência às transações efetuadas; f)concentração dos investidores em determinados segmentos de negócios, em função de conhecimentos tecnológicos ou de gestão, dificultando a formação de carteiras diversificadas de ativos reais. A dificuldade de trazer para a avaliação de projetos e empresas os modelos teóricos de avaliação de ativos financeiros abre espaço para procedimentos empíricos com elevado grau de subjetividade, dependentes do acesso a informações específicas e do talento do analista envolvido na avaliação. Procedimentos “caso-a-caso” podem acabar prevalecendo sobre eventuais modelos genéricos. Essas primeiras observações devem levar a duas considerações importantes para o entendimento deste estudo: • quando tratamos da avaliação econômica de impactos ambientais, a todas essas dificuldades soma-se a de definir claramente o conteúdo e os limites do que está sendo avaliado; • os problemas apontados para a utilização de modelos na valoração de ativos reais fazem com que os resultados dos métodos e modelos quantitativos representem apenas uma etapa, embora importante, do processo de julgamento e decisão O próximo passo, como anteriormente mencionado, é sumariar, no item 2.2, os principais conceitos e procedimentos relacionados à avaliação de empresas. 2.2.Avaliação de Empresas 16 Na visão de REINHARDT(1999), os gestores devem fazer investimentos ambientais pelas mesmas razões que orientam as demais alocações de recursos, ou seja, obtenção de retornos atrativos ou redução de riscos (criação de valor). Uma vez que o termo avaliação significa “estimação de valor” é importante, inicialmente, revisar os diferentes significados da palavra valor quando relacionada a empresas, conforme discutido no item 2.2.1 a seguir. 2.2.1.Conceitos e Significados de Valor de Empresas Uma síntese é apresentada por HELFERT(1991), que identifica e conceitua oito usos comuns do termo “valor” aplicado a empresas: 1. Valor Patrimonial(Book Value) - corresponde ao valor registrado no balanço patrimonial, obedecendo aos princípios contábeis geralmente aceitos. É consistente para fins contábeis, mas pode ter pouca relação com o valor econômico atual. É um valor histórico, distorcido pelo passar do tempo e pela mudança das condições econômicas; 2. Valor de Liquidação(Liquidation Value) - corresponde a uma condição especial em que a empresa tem que liquidar total ou parcialmente seus ativos, normalmente em função de intensa pressão dos credores. Trata-se, portanto, de uma situação anormal em que a pressão do tempo tende a produzir valores substancialmente abaixo do valor econômico; 3. Valor de Mercado(Market Value) - é o valor de um ativo ou conjunto de ativos quando negociado em um mercado (organizado ou não) pela livre vontade das partes. Representa um consenso momentâneo das partes, sujeito a preferências, aspectos psicológicos, etc. O verdadeiro valor de mercado de um ativo só é conhecido quando uma transação é concretizada. Antes disso, o que se tem são estimativas, sujeitas a grandes flutuações; 4. Valor de Reposição(Replacement Value) - representa o valor necessário para repor um ativo . Esta determinação baseia-se comumente na apreciação de engenheiros e envolve uma série de problemas, como obsolescência tecnológica e custos de implantação; 17 5. Valor de Decomposição (Breakup Value) - reflete o valor dos segmentos individuais (áreas ou unidades de negócio) de corporações diversificadas. Procedimentos anteriores inadequados de administração, ou oportunidades até então não detectadas, podem fazer com que a soma dos valores das áreas de negócios separadas seja maior que o valor da corporação mantida junta; 6. Valor de Garantia(Collateral Value) - é o valor atribuído a um ativo quando dado como garantia de um empréstimo ou outro tipo de crédito. Em geral é menor que o valor de mercado do ativo, com a diferença servindo como uma reserva de segurança para o caso de inadimplência do devedor. O deságio no valor do ativo depende das circunstâncias específicas de cada operação; 7. Valor Econômico(Economic Value) - corresponde à capacidade de um ativo gerar fluxos líquidos de caixa para o seu detentor. É um conceito voltado para o futuro, trazendo implicitamente uma relação de troca entre fluxos de caixa no tempo. Busca determinar a equivalência entre recebimentos e desembolsos que ocorrem em diferentes momentos, baseando-se na consideração de resultados e riscos associados às expectativas futuras; 8. Valor de Tributação(Assessed Value) - representa o valor do ativo utilizado como base para a incidência de impostos, podendo levar ou não em consideração o verdadeiro valor de mercado. Em geral, guarda pouca relação com os demais conceitos de valor. Há vários casos de utilização deste conceito no Brasil, como o valor venal dos imóveis para fins de cálculo de IPTU ou ITR e o valor presumido de automóveis para pagamento do IPVA. Cada um desses termos corresponde a um procedimento diferente para determinação do valor da empresa, implicando em graus de subjetividade e enfoques temporais diferentes(ênfase no passado, presente ou futuro). As diversas conotações práticas do termo “valor” aumentam a dificuldade de trazer para a avaliação de empresas os modelos clássicos de precificação de ativos financeiros. Além disso, torna-se necessário especificar a finalidade da avaliação, de forma a orientar a escolha da metodologia adequada. 18 O processo de avaliação de empresas busca reunir, e conciliar quando possível, teoria acadêmica, bom-senso empresarial e experiência prática, constituindo-se em uma tentativa de combinar ciência com arte. Os métodos de avaliação, ao invés de concorrentes, talvez sejam complementares, cabendo ao analista ou pesquisador juntar as diferentes abordagens de alguma forma razoável, de maneira a reunir o máximo possível de informação para a tomada de decisão. Cabe lembrar que os analistas profissionais envolvidos com a avaliação de empresas utilizam, em geral, mais de um método, com os métodos acessórios servindo de pontos de referência para os resultados obtidos pelo método preferencial. FAIRFIELD(1994) parece acreditar na conjugação de metodologias, ao sugerir um modelo de avaliação baseado em lucros e valores contábeis, originado da combinação de conceitos contábeis com o modelo de desconto de dividendos futuros. Índices como P/L (preço da ação em bolsa dividido pelo lucro líquido anual por ação) e P/VP(preço da ação em bolsa dividido pelo valor patrimonial da ação) são utilizados e a autora sugere que, em conjunto, eles revelam informações sobre a relação entre as lucratividades futura e presente. O mesmo ponto-de-vista está presente no estudo em que KAPLAN e RUBACK(1995) comparam o valor de mercado de empresas em transações fortemente alavancadas com o valor-presente dos seus fluxos de caixa projetados. Para a amostra considerada no período 1983-1989, a avaliação pelos fluxos de caixa projetados se desvia, em média, menos do que 10% dos valores de mercado das transações efetivamente completadas. Este resultado é apontado como no mínimo tão preciso quanto o obtido por avaliações usando o método de empresas comparáveis. Reforçando este entendimento, ARZAC(1996) discute a complementaridade de duas metodologias na avaliação de empresas fortemente alavancadas, que utilizam parte significativa do seu fluxo de caixa livre para a redução do endividamento e têm índice de alavancagem sujeito a incertezas. Não é demais lembrar que, sejam quais forem os métodos de avaliação empregados, o resultado final constituirá apenas um indicativo para a negociação. O verdadeiro valor de uma empresa só estará finalmente determinado quando(e se) ela for negociada. Procedimentos de due diligence, tradicionais no mercado financeiro internacional para emissão de títulos, são usados com intensidade crescente em negociações de empresas. Seus resultados são cada vez mais utilizados para renegociação do preço das transações. 19 Para os objetivos deste trabalho, uma rápida revisão dos principais métodos disponíveis para avaliação de empresas parece ser suficiente, sendo focalizados nos itens 2.2.2 a 2.2.6 adiante cinco métodos utilizados, em graus variados de intensidade, por analistas profissionais: 2.2.2.Método do Valor Patrimonial Ajustado Consiste em tomar como referência para a avaliação o último balanço patrimonial, tentando fazer os ajustes para as principais diferenças entre valores contábeis e de mercado. Como exemplo desses ajustes, temos a substituição do valor contábil dos ativos imobilizados pelo valor de reposição ou de liquidação. Alguns problemas importantes no uso do método do valor patrimonial ajustado são: a)é difícil, ou muito trabalhoso, fazer com qualidade os ajustes de todos os itens do balanço; b)o ajuste de valor de cada item individualmente pode não refletir a sinergia entre eles ou a eficiência na sua utilização; c)o valor patrimonial não reflete itens que freqüentemente não aparecem no balanço, como marcas, patentes, goodwill, carteira de clientes, capital organizacional, etc; d)questões como inflação e obsolescência tecnológica podem não ter seus impactos adequadamente refletidos. O método do valor patrimonial ajustado tem seu foco temporal no passado, com alguns ajustes para o presente. Talvez seja mais útil como um ponto de partida para a avaliação e, possivelmente, como um valor de referência, não parecendo razoável utilizá-lo como decisivo e definitivo para a definição do valor. A sua vantagem aparente é a objetividade, pois está baseado em um documento padronizado e auditado, elaborado segundo normas preestabelecidas e de conhecimento geral. No entanto, um pouco da própria objetividade é perdido quando os ajustes são feitos no valor de alguns ativos. 2.2.3.Método do Valor de Mercado dos Títulos Busca estabelecer o valor da empresa a partir da soma dos valores de mercado dos seus títulos, tanto de dívida como de participação acionária. A idéia central é a de que o valor de mercado da empresa, ou seja, de todos os seus ativos, deve ser igual ao valor de mercado de todos os instrumentos financeiros que, reunidos, representam o total de direitos sobre o caixa gerado nas atividades. 20 O enfoque temporal desse método é no presente(cotação no mercado), mas carregando uma avaliação do futuro, refletida na formação dos preços e cotações de mercado. Uma restrição importante é a de que sua aplicação requer que os títulos sejam transacionados em mercados de razoável nível de liquidez. O principal aspecto positivo é o de utilizar o mercado como “avaliador”, orientando a avaliação em caso de mercados razoavelmente eficientes. No caso brasileiro, as imperfeições e a pouca liquidez dos mercados podem se constituir em dificuldades relevantes para a utilização do método. Ele, no entanto, pode ser útil como ponto de partida da avaliação e para a indicação de valores de referência para os resultados produzidos por outros métodos. 2.2.4.Método da Comparação Direta Também chamado de método das empresas comparáveis (do inglês, comparable companies), baseia-se no princípio de “preços semelhantes para ativos semelhantes”. A idéia básica é identificar “empresas comparáveis” que apresentem relação semelhante entre determinadas variáveis (lucro, caixa, etc) e as medidas de decisão. Uma vez identificadas essas empresas, são calculados índices como preço/lucro(P/L), preço/valor patrimonial(P/VP) e preço/vendas, para posterior utilização com os dados da empresa que se pretende avaliar. O grande desafio é, naturalmente, identificar as empresas comparáveis, levando em consideração questões como a não-linearidade do comportamento das variáveis em escalas diferentes de operação e diferentes níveis de integração. Publicações de empresas de rating, como Standard & Poor’s e Moody’s, são fontes úteis para a busca de empresas comparáveis. CORNELL(1993) indica que duas empresas são comparáveis se a correlação entre seus fluxos de caixa esperados é elevada. Aponta como alternativa para a avaliação de empresas com escassez de informação a utilização conjunta dos métodos de “Valor de mercado dos títulos” e de “Comparação direta”, ou seja, utilizar o primeiro para avaliar a “empresa comparável” e o segundo para, por comparação, avaliar a empresa em questão. As empresas comparáveis devem ter aproximadamente em comum alguns itens como produto, estrutura de capital, concorrência ou mercado, qualidade de gestão, valor de patrimônio, escala e qualidade de crédito. Devem, de maneira mais geral, apresentar níveis semelhantes de risco de fluxo de caixa e de índices econômico-financeiros básicos. Alguns índices que não dependem do nível de endividamento, como 21 Preço/EBITDA(Earnings Before Interest, Taxes, Depreciation and Amortization) podem ser especialmente úteis na análise. Feitas as comparações básicas, técnicas estatísticas podem ser utilizadas para ajustar as variáveis, cabendo também introduzir correções referentes a prêmios por controle e outros ágios ou deságios. 2.2.5.Método dos Fluxos de Caixa Descontados (DCF) A essência do método é associar o valor de uma empresa ao valor-presente dos seus fluxos de caixa futuros, separando o fluxo de caixa operacional dos fluxos extraordinários e agrupando os componentes do fluxo de caixa de acordo com seus níveis de risco. Embora aplicável a um grande número de situações, o método, por lidar com projeções e ter foco temporal no futuro, pode envolver grande dose de arbitrariedade. COPELAND, KOLLER e MURRIN(1995) descrevem os seguintes passos para a avaliação de empresas de acordo com este método: 1. Analisar o desempenho histórico; 2. Projetar o desempenho futuro e o correspondente fluxo de caixa; 3. Estimar o custo de capital; 4. Estimar o valor de perpetuidade(do inglês, continuing value ou horizon value); 5. Calcular e interpretar os resultados. A escolha da taxa de desconto é crítica no método de DCF, com BREALEY e MYERS(2000) recomendando que se evite a adição de fudge factors(p.238) à taxa para ajuste ao risco e outras circunstâncias, sendo os ajustes para risco feitos preferencialmente nos fluxos de caixa. Os ajustes pelos equivalentes à certeza, recomendados pela teoria, parecem, no entanto, de difícil aplicação prática. A qualidade das estimativas de desempenho é fundamental para os resultados obtidos através da aplicação desse método. Com essa preocupação, CLAYMAN e SCHWARTZ(1994) estudaram a acurácia das estimativas de resultados mensais e anuais preparadas por analistas para 399 empresas no período de 1982 a 1992, encontrando evidências de super-estimação consistente, principalmente associadas a previsões de resultados positivos que, em realidade, acabaram sendo negativos. Resultado semelhante foi obtido por RAJAN e SERVAES(1997), que, examinando uma amostra de operações de IPO (do inglês, Initial Public Offerings) entre 1975 e 22 1987, detectaram um viés de otimismo no trabalho de avaliação das empresas pelos analistas do mercado de capitais, no que se refere ao potencial de lucros e ao crescimento de longo prazo. Mas esta questão é controversa, havendo, por outro lado: a)evidências de racionalidade e ausência de viés no trabalho dos analistas profissionais; (KEANE e RUNKLE, 1998) b)indicações de que as recomendações de analistas de primeira linha podem gerar desempenho diferenciado para os investidores; (DESAI, LIANG e SINGH, 2000) c)identificação de que a qualidade das projeções é melhor e o viés otimista menor quando se trata de estimar o comportamento de empresas de países que exigem maior divulgação de informações financeiras e operacionais. (HIGGINS, 1998) Não está no escopo deste trabalho aprofundar a discussão desta questão sobre a qual há extensa literatura, mas parece razoável concluir que a principal virtude do método de DCF, ou seja, considerar o futuro e tratá-lo explicitamente, é também seu principal problema, em função das dificuldades inerentes à elaboração de projeções financeiras. 2.2.6.Método de Opções Reais Embora não tendo ainda atingido o estágio de plena utilização pelos analistas profissionais e não se aproximando do nível de disseminação dos quatro métodos anteriormente mencionados, uma metodologia vem, nos últimos anos, aproximando a teoria de opções financeiras da avaliação de empresas e projetos no lado real da economia. Tentando agregar ao valor-presente dos fluxos de caixa de empresas e projetos o valor das opções eventualmente disponíveis, a teoria das opções reais (RO, do inglês Real Options) traz uma nova forma de entender e tratar as alternativas estratégicas disponíveis e a flexibilidade empresarial para adaptação a mudanças, cujo valor pode ser fundamental em um processo de avaliação de empresas ou na análise de um projeto de investimento. Busca-se, portanto, integrar estratégia e finanças em um modelo conceitual e quantitativo. (MINARDI, 2000) Essa abordagem de avaliação, inicialmente direcionada para empresas e projetos, pode vir a se constituir em um apoio importante na avaliação econômica de impactos ambientais, uma vez que, como será apresentado no item 2.4, o “valor de opção” é uma das categorias de valor relevante nesse campo da avaliação. 23 ROSS(1995) sugere ser necessário reexaminar a utilidade dos modelos de DCF e da regra do valor-presente líquido, uma vez que a grande maioria dos investimentos tem opções implícitas na sua avaliação. Considerações simples, como o fato de que praticamente todos os projetos de investimento têm um período de tempo dentro do qual pode se decidir sobre a sua realização (ou seja, exercer a opção de realizar), levam à possível recomendação de uso de modelos de RO para a avaliação. Em linhas gerais, quanto maior o número de opções disponíveis para uma empresa e o grau de incerteza na tomada de decisão, maior a importância potencial das RO no processo de avaliação. De forma muito sumária, os três tipos mais comuns de opções reais geralmente considerados são: • opção para decisões subseqüentes, significando o valor da flexibilidade do empreendimento para realizar mudanças ao longo do tempo e tirar proveito de oportunidades que se tornem atrativas ( mudanças na escala, produto, processo, mercado, etc.); • opção de abandono, associada à liquidação do ativo ou à alocação a outro processo; • opção de tempo ou adiamento (wait and learn), associada à possibilidade de obter informação adicional e observar os acontecimentos antes de tomar uma decisão importante. Uma das grandes dificuldades para a utilização dos modelos de opções reais na avaliação de projetos e empresas reside na mensuração da volatilidade, associada ao fato de que os mercados de bens e serviços em geral não apresentam níveis de eficiência informacional comparáveis aos dos mercados de títulos. Além disso, ao contrário das opções clássicas sobre ativos financeiros, o preço de exercício das opções reais pode variar ao longo do tempo. Apesar da literatura de RO possibilitar percepções úteis, aplicações específicas têm sido limitadas e fortemente estilizadas para possibilitar tratamento matemático adequado. KULATILAKA(1993) No entanto, sinais de que a metodologia pode, em um futuro próximo, se tornar mais facilmente operacionalizável, podem ser encontrados em trabalhos que indicam caminhos simplificados para a aplicação a casos reais(LUEHRMAN, 1998a) e associações dos conceitos de RO com estratégia empresarial(LUEHRMAN, 1998b). TRIGEORGIS(1993) discute a questão da avaliação de alternativas de investimentos em que estão presentes diversas opções, cuja interação determina o grau de 24 flexibilidade existente na tomada de decisão. Ele demonstra que o valor incremental de uma opção adicional, na presença de outras opções, é geralmente inferior ao seu valor isolado, declinando à medida que o número de opções aumenta. Isto significa que o erro de avaliação decorrente da omissão de alguma das opções existentes pode ser de pequeno impacto. Embora mais recente do que os demais métodos, diversas tentativas de aplicação de RO a situações variadas foram e continuam sendo feitas, entre elas : • determinação dos efeitos do inter-relacionamento entre projetos na avaliação e na tomada de decisão em investimentos; (CHILDS, OTT e TRIANTIS, 1998) • avaliação da flexibilidade, ou seja, da possibilidade de adotar correções de rumo em projetos de pesquisa e desenvolvimento, decorrentes da incerteza associada a retornos, orçamentos, desempenho do produto, requisitos de mercado e cronograma de implantação; (HUCHZERMEIER e LOCH, 1999) • escolha entre diversas alternativas estratégicas de pesquisa em uma indústria farmacêutica internacional de grande porte; (LOCH, BODE-GREUEL e SMUCK, 1999) • avaliação dos direitos de uma concessão e determinação do cronograma ótimo para exploração de petróleo; (DIAS e ROCHA, 1999) • valoração da flexibilidade gerencial na avaliação de reservatórios de petróleo; (SAITO, SCHIOZER e CASTRO, 2000) • avaliação de empresas de Internet; (SCHWARTZ e MOON, 2000) • avaliação de empresas de biotecnologia. (KELLOGG e CHARNES, 2000) Esta metodologia já alcança o campo do meio ambiente, como em estudos de valor de áreas de preservação.(FORSYTH, 2000). 2.2.7.Observações Finais Sobre Avaliação de Empresas Concluindo esta rápida revisão dos conceitos e métodos de avaliação de empresas, cabe destacar que, sejam quais forem os procedimentos utilizados, nada substitui um exame cuidadoso dos fundamentos econômicos dos empreendimentos, notadamente quando se está diante de questões como compra de controle(ECCLES, LANES e WILSON, 1999) ou avaliação de empresas de alta tecnologia(CHAUDURI e TABRIZI, 1999). 25 A revisão dos fundamentos de avaliação de empresas deve colaborar em cinco aspectos para o entendimento do desenvolvimento e dos resultados desta pesquisa: 1)possibilitar a compreensão da ótica empresarial de determinação de valor, fundamental para o seu confronto com o ponto-de-vista público ou social, dentro do qual se situam a maior parte das questões referentes a impactos ambientais; 2)deixar claro que, quando o objeto da avaliação é complexo, a existência de diversos métodos e critérios pode conduzir a conflitos de resultados, ou seja, a metodologia pode ajudar a ordenar a análise, mas não é, necessariamente, capaz de produzir resultados de consenso; 3)ilustrar o fato de que qualquer resultado de avaliação econômica é ponto de partida e não de chegada, ou seja, serve apenas de base para a discussão e negociação entre os diversos grupos de interesses; 4)indicar que a avaliação privada está baseada em preços de mercado de insumos e produtos, muitas vezes indisponíveis no caso da avaliação econômica de impactos ambientais, o que gera a necessidade de identificar alternativas metodológicas; 5)demonstrar que métodos de avaliação podem estar baseados em observação (ex.: itens 2.2.2 e 2.2.3) ou estimação (ex.: itens 2.2.5 e 2.2.6) da realidade. Os métodos alternativos de avaliação econômica de impactos ambientais, discutidos na seção 2.4, refletirão esta dicotomia. Revista a abordagem empresarial, o item 2.3 a seguir repassa brevemente os fundamentos da avaliação social de projetos, tentando se concentrar nas principais diferenças entre a ótica privada de análise e a ótica de eficiência econômica global. A ênfase nas diferenças deve permitir um entendimento do assunto, sem que haja necessidade de recorrer a uma descrição mais abrangente da metodologia de avaliação social de projetos. O entendimento de ambas as óticas e metodologias é importante no âmbito desta pesquisa para que se possa situar a avaliação econômica dos impactos ambientais na visão das empresas e da sociedade como um todo. 2.3.A Avaliação Social de Projetos Enquanto a avaliação privada, às vezes chamada de financeira, preocupa-se com os resultados da empresa e do projeto para o empreendedor, a avaliação social, também conhecida como econômica, busca determinar o impacto do projeto sobre a economia como um todo. 26 Como primeira conseqüência deste objetivo, a avaliação social trabalha com preçossombra ou preços sociais, ao invés de preços de mercado. Os preços-sombra, no entanto, não são visíveis, tornando a tarefa bem mais complexa. Este é tipicamente o caso dos bens ambientais. (CONTADOR, 1997) Outra dificuldade refere-se à impossibilidade de utilizar na avaliação social de projetos os métodos de valor patrimonial ajustado, valor de mercado dos títulos e comparação direta, descritos no item 2.2. Isto reduz a possibilidade de confrontar valores obtidos por diferentes métodos, aumentando a insegurança e a percepção de incerteza por parte do avaliador, que fica restrito praticamente à metodologia de fluxos de caixa descontados, dado o estágio inicial de aplicação do conceito de opções reais. Um terceiro problema é a existência de diversos critérios para a avaliação de custos e benefícios sociais, correspondendo a diferentes formas de julgar os efeitos distributivos dos projetos. O mais usualmente utilizado, conhecido como “critério de eficiência”, considera que uma unidade adicional de renda tem o mesmo valor no cálculo de custo-benefício qualquer que seja o nível de renda do seu beneficiário. Outros critérios consideram como relevante na decisão a distribuição observada dos benefícios do projeto. (LONDERO, 1992 e 1996) Critérios diferentes levarão, naturalmente, a resultados conflitantes. O quarto aspecto é a ocorrência de externalidades, enquadráveis sob o rótulo geral de “falhas no sistema de mercado”, que distorcem a formação dos preços no mercado, criando outra das distinções entre a análise privada e a social. Os custos e benefícios sociais dos empreendimentos tornam-se diferentes dos privados. Os valores, portanto, do empreendimento sob as óticas privada e social não coincidem. Esta diferença na valoração parece fundamental na questão dos impactos ambientais, objeto da presente pesquisa. CONTADOR(1997) registra que os problemas práticos com externalidades geralmente surgem devido a direitos de propriedade mal definidos, havendo espaço para que mecanismos de mercado (acordos, pagamentos diretos, fusões, seguros especializados, etc) sejam utilizados para eliminar ou amortecer externalidades. Ressalta, além disso, que as soluções imaginadas para as externalidades devem obedecer a requisitos éticos de aprovação social. Na questão ambiental, a mesma visão sobre direitos de propriedade é compartilhada por BROMLEY(1991), ao afirmar que “os problemas de recursos naturais são problemas de direitos de propriedade; políticas de recursos naturais são políticas de direitos de propriedade”. 27 Note-se que a redução de externalidades através da especificação de direitos de propriedade corresponde a uma realocação de riqueza em favor do(s) novo(s) detentor(es) do direito. Ao internalizar os custos ambientais de um projeto ou empresa no momento do exame de um pedido de financiamento, a instituição de fomento estará, de forma teórica, atribuindo o direito de propriedade à comunidade afetada pelo projeto. A internalização dos efeitos ambientais aproxima a visão empresarial da visão social em relação ao valor econômico dos projetos, melhorando a qualidade das decisões dos órgãos de fomento (etapa de aplicação do conhecimento, discutida no item 1.1). Na origem da complexidade da avaliação social de projetos está o fato dela fazer a mesma pergunta que a avaliação privada, mas a um número maior de pessoas, ou, de forma conceitual, a toda a sociedade(MISHAN, 1976). O trabalho de análise parte da substituição de alguns conceitos importantes, como: • renda por benefício social; • custos de mercado por custo de oportunidade dos recursos; • lucro por excesso de benefício social sobre o custo. Para melhor entendimento das diferenças entre as óticas privada e social de avaliação de projetos e empresas, é interessante classificar os bens e serviços em três grandes grupos, exemplificados a seguir para o caso de um recurso natural (KOPP e SMITH, 1993b): • bens e serviços privados - normalmente transacionados em mercados formais, de acesso controlado através da disponibilidade de renda, com a quantidade consumida observável e o consumo de um indivíduo excluindo o dos outros. Ex.: pesca comercial; • bens e serviços quase-privados ou quase-públicos – não transacionados em mercados, tendo acesso controlável mas normalmente não regulado e a quantidade consumida inferida através da observação de comportamentos individuais. O consumo de um indivíduo, até certo ponto, não afeta o dos demais (mas além desse ponto o congestionamento de consumidores reduz o nível de bem-estar de todos). Ex.: pescaria para lazer; • bens e serviços públicos – não transacionados em mercados, acesso não controlável, quantidade transacionada não observável nem passível de inferência através de observação; o consumo de um indivíduo não afeta o dos demais. Ex.: desfrute de uma paisagem que inclua um rio ou lago. 28 É possível perceber que a avaliação privada focaliza principalmente os bens e serviços do primeiro grupo, enquanto a avaliação social alcança também os dois últimos. Bens e serviços públicos, com suas características de não-rivalidade e não exclusividade, são de difícil valoração, com muitos ativos ambientais se enquadrando nesta categoria. A avaliação das funções ambientais, freqüentemente não precificadas, pode, portanto, ser uma tarefa importante para orientar decisões econômicas. MISHAN(1976) indica que os conceitos de “variação compensatória” e “variação equivalente” podem auxiliar na valoração das externalidades e que alguma indicação de valor, ainda que muito grosseira, deve ser tentada. Variação compensatória é a quantia mínima que alguém aceitaria, voluntariamente, como compensação por uma variação desfavorável no seu ambiente externo, enquanto variação equivalente corresponde à quantia mínima que seria aceita como substituto de uma possível variação favorável. Como alternativa, este autor sugere cálculos de contingência, ou seja, quanto deveriam ser os valores das externalidades para anularem os benefícios líquidos do projeto. Destaca que técnicas de questionário e entrevista podem ser boas alternativas à avaliação subjetiva e à observação. PINDYCK e RUBINFELD(1994) identificam as três possíveis formas a seguir para a correção de desvios de eficiência na alocação do mercado decorrentes de externalidades associadas ao meio ambiente: • estabelecimento de padrões de manejo ambiental (ex. : nível de emissão de poluentes); • imposição de impostos sobre externalidades ambientais ; • criação de permissões transferíveis, ou seja criação de um mercado, com visibilidade de preços, para as externalidades ambientais. Esses autores lembram que, quando há incerteza a respeito dos custos e benefícios, qualquer das três formas pode ser preferível, dependendo apenas das curvas de custos e benefícios marginais sociais. Cada uma dessas formas tem, evidentemente, um resultado diferente na avaliação econômica dos impactos ambientais dos projetos, pois representa diferentes valores a serem internalizados pelas empresas e projetos. 29 Concluindo esta rápida revisão, a comparação da avaliação social de projetos com a metodologia de avaliação de empresas deve permitir o confronto das visões pública e privada. Para que o processo de financiamento de projetos e empresas por órgãos de fomento ao desenvolvimento econômico se concretize, é necessária a compatibilização de interesses privados e públicos. O confronto dessas visões é importante para os objetivos desta pesquisa, que estão em parte voltados para o entendimento e o aperfeiçoamento dos mecanismos desses financiamentos. Esta breve revisão dos fundamentos de avaliação social de projetos deve, também, permitir a sistematização dos fundamentos da avaliação econômica de impactos ambientais, desenvolvida no item 2.4 a seguir e objeto da presente pesquisa. Isto porque os impactos da atividade econômica sobre o meio ambiente têm características de externalidades e sua valoração busca inspiração nos conceitos da avaliação social. O exame atento dos itens 2.1, 2.2 e 2.3 deve também indicar que todo processo de avaliação requer base conceitual, terminologia e metodologia específicas. Apresentálas, para o caso da avaliação econômica de impactos ambientais, é o principal objetivo do item 2.4. 2.4.Avaliação Econômica de Impactos Ambientais (AEIA) A noção de valor econômico é baseada em modelos nos quais indivíduos ditos “racionais” buscam maximizar o seu bem-estar através do melhor uso possível das oportunidades e recursos. Os modelos econômicos supõem que os indivíduos reagirão de forma previsível a alterações diversas, como de preços, salários e do ambiente natural. Os valores econômicos estão relacionados às quantias que os indivíduos pagariam para evitar ou obter essas mudanças. (MCCONNELL,1993) Não é difícil imaginar que a utilização desses conceitos em questões ambientais seja cercada de dificuldades e controvérsias, abrindo um campo amplo para a pesquisa aplicada. Ferramentas econômicas têm sido utilizadas no estudo de questões ambientais muito variadas, tais como biodiversidade (MONTGOMERY et al.,1999), proteção de florestas tropicais (KRAMER;MERCER, 1997), demanda por atividades de lazer(FEATHER;SHAW,1999) e qualidade ambiental(GOODMAN; SEABROOKE; JAFFRY, 1998). 30 Uma revisão da avaliação econômica de impactos ambientais poderia ser orientada pelas seguintes perguntas: 1. os valores monetários envolvidos nesta questão, se não forem levados em conta os aspectos fundamentais de ética e moral, são relevantes ? 2. que princípios são necessários para incorporar os impactos sobre o meio ambiente à avaliação econômica tradicional ? 3. existem argumentos contrários ao processo de valoração monetária de bens e serviços ambientais ? Quais são e que alternativas apresentam ? 4. quais são os principais métodos disponíveis para a avaliação, seus fundamentos, problemas e possibilidades de aplicação ? Os itens 2.4.1 a 2.4.3 a seguir tentam conduzir a revisão do assunto através das respostas a essas quatro questões. 2.4.1.Valores Monetários e os Princípios da Economia Ambiental Tentando responder à primeira pergunta, LOVINS, LOVINS e HAWKEN(1999), citando cálculos apresentados pela revista Nature, estimam o valor global dos serviços prestados à espécie humana por todos os ecossistemas da Terra em pelo menos US$ 33 trilhões, algo próximo ao produto bruto mundial registrado pelos métodos tradicionais de contas nacionais. Mais ainda, para a maioria desses serviços, sem os quais não podemos viver, não há substituto conhecido a qualquer preço. BENAKOUCHE e CRUZ(1994) constatam que os negócios com o meio ambiente assumiram contornos de um verdadeiro setor econômico, que movimentava algo em torno de US$ 450 bilhões por ano já em meados da década de 90, equiparando-se à indústria de armamentos. Passando para a segunda questão, CONTADOR(1997) registra que, para que os efeitos sobre o meio ambiente sejam incluídos na avaliação de projetos e empresas, é preciso que o meio ambiente seja considerado como um fator econômico, sujeito à escassez e com custo alternativo não-nulo. Reconhece que os efeitos diretos(sobre atividade produtiva, solo, etc) são de mais fácil análise, por comportarem muitas vezes direitos de propriedade, enquanto os indiretos (sobre saúde, capacidade de geração de renda, etc) são de tratamento mais difícil. Identifica, também, diversos tipos de impacto sobre a espécie humana, como encurtamento da vida, queda na capacidade 31 produtiva, gastos com remédios e tratamentos, e mesmo a redução do nível de satisfação pessoal, usualmente chamada de qualidade de vida. Reforçando essa visão, a Economia Ambiental é apresentada por TURNER, PEARCE e BATEMAN(1994) como uma expansão do conceito tradicional de Economia, uma vez que em seu núcleo está a questão de como uma economia se sustenta ao longo do tempo. A economia passa a ser vista como um sistema aberto e circular, que funciona baseada nos seus fundamentos ambientais. Estes autores registram a não existência de preços de mercado para muitos serviços e produtos ambientais, o que leva à questão das falhas de mercado mencionadas no item 2.3, destacando que a valoração das funções ambientais é importante para orientar decisões econômicas corretas. Eles concluem que o estudo da Economia não se restringe ao que acontece com o fluxo de dinheiro na sociedade, entendendo que mudanças no nível de bem-estar humano também são efeitos econômicos. BATABYAL(1999) destaca, ainda, que a visão de que os sistemas econômico e ecológico são conjuntamente determinados só começou a se generalizar recentemente, fazendo com que muitas questões importantes em economia ambiental permaneçam pouco ou não entendidas. Ele lembra que ao se voltar a atenção para a gestão integrada dos sistemas econômicos e ecológicos, aumentará a compreensão dos impactos que as mudanças nesses sistemas têm sobre o bem-estar social. Adicionalmente, a perspectiva de equilíbrio de materiais (do inglês, materials balance) como base de reflexão para a Economia Ambiental é ressaltada por FIELD(1994), destacando que a economia humana representa uma permanente relação com o meio ambiente, pois, em última análise se constitui nas etapas de extração de recursos naturais, processamento e devolução de resíduos à Natureza. Examinadas as reflexões que tentam dar resposta às duas primeiras questões, nos deparamos com a polêmica associada à terceira., abordada no item 2.4.2 adiante. 2.4.2.A Controvérsia Envolvendo a AEIA A evolução de qualquer ramo da ciência requer o confronto de idéias e fatos. Este trabalho de pesquisa não teria significado se não identificasse os principais pontos-devista contrários à sua concepção. Para tal, é útil retornar às seguintes perguntas: • existem argumentos contrários ao processo de valoração monetária de bens e serviços ambientais ? 32 • quais são e que alternativas apresentam ? As respostas são claras : os argumentos existem, acompanhados da proposição de algumas alternativas. A origem da polêmica em torno da idéia de valorar recursos ambientais reside em certas questões que poderiam estar no campo da meta-economia, das quais as principais podem ser: • cabe à espécie humana atribuir valor a outras formas de vida ? Estaremos com isso replicando o absurdo de poucos séculos atrás, quando, em sociedades em que existia escravidão, seres humanos tinham um preço de mercado ? • a geração atual tem legitimidade e capacidade para avaliar os desejos das gerações futuras ? • nas decisões sobre o meio ambiente os homens devem se colocar como consumidores, com interesses individuais, ou como cidadãos, movidos por princípios éticos e morais ? A essência da posição contrária à idéia de valoração monetária do meio ambiente é apresentada por diversos autores, com destaque para os seguintes argumentos: • a valoração corresponde a uma tentativa de tratar o conteúdo ético do comportamento econômico com ferramentas econômicas. Como cidadãos, não devemos nos perguntar “o que preferimos ?” mas “o que devemos fazer para alcançar o melhor resultado ?”; (FOSTER,1997) • os atos de troca são atos sociais, com sentidos sociais, não expressáveis em valores monetários. Quando Judas levou os soldados até Cristo, o problema não foi a sub-avaliação de Cristo (30 moedas de prata), mas o ato da traição, por si só visto como socialmente inaceitável;(O’NEIL, 1993) • na visão neo-clássica, a economia contem o ecossistema, enquanto na abordagem de estado estacionário, mais adequada, o ecossistema contem a economia, à qual fornece matéria e energia de acordo com algum critério de taxa sustentável e não de propensão individual a pagar por um bem ou serviço; (DALY, TOWNSEND, 1993) 33 • os métodos de avaliação podem desprezar aspectos qualitativos importantes, refletindo uma visão limitada do problema; (GROVEWHITE,1997) • os desejos humanos não são a única fonte de valor da Natureza, que possui valor intrínseco. Mesmo o Valor Econômico Total (TEV, do inglês Total Economic Value), subestima o verdadeiro valor do meio ambiente, por não considerar o Valor Primário, ou seja, aquele que está além e acima do valor das funções e serviços; (TURNER, PEARCE, BATEMAN, 1994) • a avaliação monetária dos bens ambientais pode ferir os “contratos de segunda ordem”. Estes são contratos sociais que regulam os contratos econômicos nos mercados e correspondem a condutas pré-definidas fora dos contratos, como, por exemplo, o princípio de que os contratos devem ser respeitados. Isto explicaria a recusa das pessoas em fornecer respostas para as tradicionais perguntas direcionadas para a propensão a pagar por um bem ou serviço(WTP, do inglês Willingness to Pay) ou a propensão a aceitar compensações financeiras por perdas(WTA, do inglês Willingnes to Accept) em questões ambientais, pois a apresentação da pergunta estaria quebrando uma norma socialmente aceita; (PEACOCK, 1997) • a avaliação de bens ou ativos fora do mercado é irrelevante diante da questão maior da obrigação dos homens com a Natureza, que vai além de preocupações exclusivamente antropocêntricas; logo, as questões filosóficas são pelo menos tão importantes como as metodológicas; (MAZZOTTA,KLINE, 1995) • nossos processos de escolha resultam da aplicação de julgamentos e não de matemática; (O’NEIL, 1997) • valoração é usualmente entendida como um processo de concentrar informação em uma única medida. Quando aplicado à questão ambiental, este processo pode acarretar perda de informação importante, gerando processos de escolha cuja qualidade não é superior à obtida com julgamentos qualificados; (VATN,BROMLEY, 1994). • a visão da Economia como ciência requer a crença em uma verdade objetiva e na habilidade dos economistas de revelarem essa verdade. A análise econômica pode identificar as verdadeiras preferências dos indivíduos, mas não o verdadeiro valor de um bem ambiental. Moral e 34 outros julgamentos de valor não podem ser derivados de evidências empíricas; (SPASH, 1997) • os valores que as pessoas atribuem aos bens ambientais são apenas vagamente representáveis em temos monetários, com quantias em um intervalo muito grande sendo consideradas como uma expressão aceitável de valor; (GREGORY et al., 1995) • quando o valor de preservação de algum bem não decorre dos benefícios individuais que possa gerar, é incoerente valorá-lo através da soma dos valores atribuídos pelos indivíduos, sendo este o caso dos bens ambientais; (COX, 1997) • análises de custo-benefício(CBA) cometem erro de categoria, ou seja, associam um conceito a outro que não tem com ele qualquer relação. Confundem a categoria de “valor” com a de “preferências”, associando aos julgamentos e crenças das pessoas conceitos econômicos que só fazem sentido quando aplicados a desejos e preferências(KEAT,1997). Pode-se solicitar a alguém razões e evidências para os seus julgamentos e crenças, mas a eles não se pode associar um valor monetário; este só pode ser atribuído a desejos e preferências. O método de CBA, além disso, falha em princípios, tais como: • desconsidera as razões para as visões e crenças das pessoas, focalizando a atenção na quantia que se disporiam a pagar para ter seus desejos atendidos (quem paga mais tem mais razão ?); • confunde cidadãos com consumidores; • concentra-se apenas na eficiência da alocação, desprezando a questão da eqüidade. Esta deve ser tratada no nível político, fora do escopo da CBA; • trata julgamentos sobre “o que é moralmente correto” como se fossem sobre “o que contribuiria para o bem-estar da pessoa que está julgando”; • a tentativa de traduzir diversas formas de experiência humana em simples valores monetários é um substituto inadequado para meios institucionais mais diretos de abordar as preocupações coletivas com as questões ambientais; (WYNNE,1997) • com certa ironia, HODGSON(1997) menciona que os economistas neoclássicos, inspiradores da CBA, são como o personagem cínico da peça de 35 Oscar Wilde “Lady Windermere’s Fan”, uma pessoa que “sabe o preço de tudo, mas não sabe o valor de nada”. Argumenta que impactos nãomonetários não são menos “econômicos” que os monetários. Lembra, ainda, que, assim como há os conhecidos riscos de submeter os interesses dos indivíduos aos do Estado, há graves problemas em reduzir os interesses da humanidade à agregação quantitativa dos interesses individuais e os interesses do ecossistema a qualquer um desses dois. Algumas alternativas metodológicas à valoração monetária dos impactos ambientais são objeto de discussão, tais como: • mapas de análise multi-critério; (STIRLING,1997; MIRASGEDIS, DIAKOULAKI, 1997, ROMERO, 1997) • valoração baseada em medidas de energia; (FAUCHEUX e PILLET, 1994 ; PILLET, 1994) • avaliação contingente em grupos, trocando o conceito de consultas individuais, que visam revelar valores, por consultas coletivas, que buscam construir valores. Os valores individuais surgiriam da divisão pelo número de pessoas do total que devesse ser gasto pela autoridade pública e não do que cada um individualmente se dispusesse a pagar. Esta metodologia seria conjugada com o julgamento profissional dos gestores ambientais; (JACOBS,1997) • formação de um júri de valores composto por cidadãos selecionados por processo aleatório, com os jurados dispondo de nível adequado de informação e não recebendo influências de grupos de interesse. Em situações apropriadas, o júri pode evitar a avaliação explícita, recomendando diretamente alternativas de gerenciamento de recursos ambientais; (BROWN, PETERSON, TONN, 1995) • escolhas através de julgamentos racionais em uma estrutura discursiva, com as medidas, técnicas e algoritmos servindo com suporte para o processo deliberativo. (FOSTER,1997) Embora conceitualmente relevantes e coerentes, essas alternativas não parecem estar em um estágio suficientemente desenvolvido ou difundido de operacionalização e aplicação, talvez por serem algumas ainda mais recentes do que os também relativamente recentes métodos de avaliação econômica de impactos ambientais. 36 TURNER, PEARCE e BATEMAN(1994) preferem, ao invés de acirrar as divergências, tentar conciliar os pontos-de-vista favoráveis e contrários ao processo de valoração, observando que o aspecto moral é um dos argumentos para a proteção do meio ambiente, não havendo razão para que seja desprezado o aspecto econômico. Chamam a atenção para o fato de que a avaliação econômica de impactos ambientais não pretende valorar o meio ambiente, mas apenas medir preferências humanas em relação aos estados do ambiente, lembrando que valores monetários são uma forma bastante comum e perceptível das pessoas expressarem preferências. Este último argumento é enfatizado por PEARCE(1993), ao destacar que a principal razão para a oposição de muitos cientistas e cidadãos comuns à utilização da análise econômica para a abordagem da questão ambiental está no uso habitual, enganoso e equivocado, da expressão “avaliação monetária de ativos ambientais”, que sugere a troca de vidas e de ecossistemas por dinheiro. Ele reforça o entendimento de que o objeto da avaliação são (algumas) preferências humanas e não a Natureza e a vida em si. Avaliar preferências por mudanças de estado no meio ambiente e por mudanças nos níveis de risco de perda da vida ou da saúde é algo diferente de trocar a Natureza, a vida ou a saúde por alguma quantidade de dinheiro. A avaliação não deixa, no entanto, de ser baseada em um sistema de valores antropocêntrico(KOPP e SMITH, 1993c), refletindo o valor que os seres humanos atribuem aos recursos naturais. Ferramentas de análise econômica podem se juntar ao arcabouço técnico e conceitual de outras ciências no suporte à tomada de decisão sobre as questões ambientais. Nas palavras de MAY(1995, p. 1/2): “a análise científica isoladamente, não importa o quanto seja bem fundamentada, com raras exceções seria suficiente para enfrentar a rápida degradação dos recursos naturais e a iminência de catástrofes sócioambientais....A falta de informações confiáveis quanto às interações entre a economia e o ecossistema resulta na necessidade de incentivar a valoração dos serviços ambientais para indicar distorções embutidas nos preços de mercado ”. Os conceitos econômicos podem ajudar na formulação de políticas ambientais, quando adequadamente usados, seguindo-se o entendimento de MORGENSTERN(1997), que recusa as atitudes extremadas ao reconhecer que a Economia não é algo intrinsecamente nocivo nem o único método no qual as decisões 37 devem ser baseadas. Ele argumenta que a análise econômica deve ser feita de forma correta e transparente, com todos os interessados nas decisões sendo envolvidos desde os primeiros passos do trabalho. JAMES(1994) destaca que uma contribuição importante dos conceitos econômicos na Avaliação de Impactos Ambientais (EIA, do inglês Environmental Impact Assessment) é fornecer um arcabouço para a coleta, análise e interpretação das informações. Basicamente, a análise econômica na EIA seria um meio de “internalizar” os efeitos ambientais nos projetos de investimento, reduzindo a probabilidade de um dano ao meio ambiente ser uma conseqüência não intencional ou não calculada de uma proposta de desenvolvimento econômico. O autor lembra ainda que a análise econômica poderia fornecer outras informações relevantes, como viabilidade financeira dos projetos e impactos secundários sobre renda, emprego e impostos. Também HODGSON(1997) parece acreditar em alguma conjugação de esforços, indicando que não se trata de descartar todas as técnicas de análise econômica, mas de substituir a abordagem centrada na agregação de escolhas individuais por um debate sobre as questões ambientais democraticamente conduzido e orientado por questões morais e informações científicas. Em complemento, O’NEIL(1997) e WYNNE(1997) concluem que as medidas e as técnicas devem ser entendidas como instrumentos de apoio ao processo de julgamento e não como seus substitutos. PEACOCK(1997), indiretamente, sugere que as ferramentas econômicas podem ser úteis, já que a sustentação com base apenas em valores morais pode ser insuficiente para conduzir o debate entre grupos com diferentes sistemas de valores. Diante de visões diferentes, algumas extremadas e outras conciliadoras, cabe voltar a lembrar que o foco do presente trabalho está voltado para a avaliação econômica dos impactos ambientais. Isto corresponde a aceitar que ela pode ser útil como parte do processo, sem descartar suas limitações conceituais e operacionais nem as visões críticas e diferentes posturas em relação ao assunto apresentadas nos parágrafos anteriores. O entendimento dos argumentos contrários é parte importante do julgamento das contribuições em qualquer campo do conhecimento. Chegamos, assim, à quarta questão apresentada no início do item 2.4: “Quais são os principais métodos disponíveis para a AEIA, seus fundamentos, problemas e possibilidades de aplicação ?” 38 Tentar respondê-la é o objetivo do item 2.4.3 abaixo. 2.4.3. A Metodologia Básica da AEIA Avaliar significa julgar e julga-se sempre utilizando-se critérios e partindo dos objetivos perseguidos.(BENAKOUCHE e CRUZ, 1994) Para examinar os métodos de avaliação, é necessário antes determinar o que está sendo avaliado. PEARCE(1993) lembra que os sistemas naturais são ativos multifuncionais, que fornecem à humanidade um grande número de funções de valor. Com algumas simplificações, poderíamos reuni-las em quatro grupos: • suprimento de recursos materiais renováveis ou não-renováveis; • assimilação de lixo ou rejeitos; • fornecimento de serviços, como recreação, estética e conforto espiritual; • um complexo serviço de suporte à vida. Cabe, ainda, observar que muitos componentes do patrimônio ambiental que podem ser usados como produto final pelos consumidores também podem servir como fatores de produção na atividade econômica tradicional, tornando o processo de valoração monetária mais complexo.(POINT, 1994) Como todo processo de avaliação, a exemplo do de avaliação de empresas e do de avaliação social de projetos, o de impactos ambientais requer metodologia e terminologia específicas. O primeiro passo, como visto na avaliação de empresas, é identificar os diferentes tipos e conceitos de valor. 2.4.3.1. Os conceitos de valor na análise ambiental Combinando os entendimentos de BATEMAN(1994), SHECHTER e PEARCE(1993), TURNER, FREEMAN(1994), PEARCE ALDRED(1997) e e FREEMAN(1993), temos as seguintes concepções de valor, exemplificadas para o caso de uma floresta tropical: 1)Valor de Utilização ( Use Value): • Valor Direto (Direct Value) – valor obtido do uso direto do recurso. Ex.: madeira, plantas medicinais, turismo e habitat humano; 39 • Valor Indireto (Indirect Value) – valor decorrente do benefício indireto derivado de funções e serviços naturais, como inserção no ciclo de nutrientes, proteção de bacias hídricas, redução de poluição do ar e estabilização de micro-climas. Este conceito aparece às vezes também associado ao consumo de livros, revistas, filmes e semelhantes sobre um determinado recurso ambiental(vicarious consumption); • Valor de Opção (Option Value) – valor que os indivíduos se disponham a pagar para preservar a floresta para usos futuros, diretos ou indiretos. É semelhante a um prêmio de seguro que alguém se dispusesse a pagar para assegurar a disponibilidade de um bem que de outra forma seria incerta; • Valor de Herança (Bequest Value) – valor da oportunidade de deixar possibilidades de uso dos recursos naturais para as gerações futuras; 2)Valor Intrínseco, de Existência, ou de Não-Utilização (Intrinsic Value / Nonuse Value / Existence Value) Valor intrínseco do meio ambiente, ou seja, aquele que um elemento no mundo natural tem independentemente de qualquer uso, atual ou futuro, pelos seres humanos. Este conceito envolve questões culturais, comportamentais e éticas, sendo, talvez, o aspecto da avaliação econômica de impactos ambientais mais complexo e aquele que cria a maior diferença com a avaliação de empresas(item 2.2) e a avaliação social de projetos(item 2.3). Sua importância parece ser mais acentuada quando a avaliação envolve recursos naturais muito peculiares ou situações de perdas irreversíveis. Apesar de complexo, o próprio conceito e a magnitude dos valores a ele associados fazem parte do nosso dia-a-dia. Um bom exemplo são as grandes quantias e os grandes esforços despendidos por indivíduos e por organizações não-governamentais visando a preservar florestas tropicais e diversos outros ecossistemas, dos quais não extraem benefícios diretos e que talvez jamais venham a conhecer de perto. Este tipo de valor reflete a satisfação decorrente de saber que um determinado ambiente natural será preservado e continuará a existir, mesmo que isto não nos traga qualquer benefício material. A preocupação de muitas pessoas com a preservação de diversas espécies de animais, como baleias e ursos panda, também exemplifica este 40 conceito, sendo fácil perceber que a grande maioria dessas pessoas provavelmente sequer terá contato com esses animais em seu habitat natural. Uma visão mais abrangente do valor intrínseco sugere que ele corresponde ao valor residente no mundo natural, independentemente dos sentimentos ou preferências que os seres humanos tenham em relação a ele. Este valor existiria, portanto, mesmo na ausência da espécie humana e não poderia ser captado por instrumentos econômicos, não havendo como medi-lo e, conseqüentemente, traduzi-lo em termos monetários ou outros padrões humanos. Nesse caso, valor econômico e valor intrínseco seriam duas vertentes complementares, quantitativa e qualitativa, da visão de valor, devendo ambas ser consideradas nas decisões sobre políticas de desenvolvimento e políticas ambientais. A soma dos valores em (1) e (2) representa o Valor Econômico Total (TEV, Total Economic Value). Alguns autores, no entanto, entendem que mesmo o TEV não representa a totalidade, por não incluir os Valores Primários, espécie de estrutura agregada dos ecossistemas que antecede e determina as espécies e os processos individuais. De definição algo imprecisa, corresponde à “cola” que mantém todo o sistema natural unido, sendo uma macroestrutura que também possui valor. Cabe mencionar que autores diferentes apresentam diferentes classificações para os conceitos de valor, levando FREEMAN(1993) a observar que as definições e classificações podem, em parte, ser consideradas uma questão de gosto pessoal. Entre as diferenças usuais está, por exemplo, o enquadramento do valor de opção e do valor de herança no grupo de valores intrínsecos e não no de valor de utilização. Vistos os diferentes conceitos e fontes de valor para os bens e serviços ambientais, o próximo passo é identificar os possíveis métodos para a sua quantificação, a exemplo do que foi visto em avaliação de empresas (item 2.2) e avaliação social de projetos(item 2.3). 2.4.3.2. As abordagens e os métodos para avaliação econômica Inicialmente, é necessário observar (DIXON et al., 1994; MCCONNELL, 1993) que a utilização de modelos de avaliação econômica de impactos ambientais depende de: • completa mensuração das mudanças físicas, químicas, biológicas e sociais produzidas pelos projetos e/ou empresas em questão. Neste ponto de partida reside muito da força ou eventual fraqueza da aplicação dos métodos; 41 • identificação das condições de funcionamento do sistema “sem” e “com” o impacto; • delimitação espacial ou geográfica do alcance do impacto; • delimitação temporal dos efeitos do impacto; • estabelecimento das relações entre as mudanças físicas, químicas, biológicas e sociais e as mudanças de comportamento e/ou bem-estar das pessoas; • especificação do contingente humano afetado pelo impacto. A facilidade de utilização e a robustez dos resultados das diversas abordagens ou métodos de avaliação econômica dependem em grande parte da qualidade dos dados disponíveis. Algumas são baseadas em dados de mercado, mais fáceis de entender e quantificar. Na inexistência de mercados específicos para produtos e serviços ambientais, valores de “mercados substitutos” podem ser utilizados. O fundamento de diversas abordagens de avaliação, no caso de valores de utilização(use values) consiste em identificar produtos ou serviços, transacionados em mercados formais, que sejam complementos ou substitutos dos bens ambientais que se quer avaliar, medindo o valor destes através do consumo daqueles. Finalmente, sendo o caso de bens ambientais totalmente não-precificados, alguma indicação pode ser obtida através de questionamento direto dos envolvidos, usando técnicas rotuladas como avaliação contingente (CV, do inglês Contingent Valuation). Uma combinação das contribuições de TURNER, PEARCE E BATEMAN(1994), JAMES(1994), PEARCE(1993), DIXON et al.(1994) e HOEVENAGEL(1994a), indica a existência de 10 principais abordagens e métodos, que podem ser agrupados em 4 grandes categorias. São elas: 1)Abordagens Convencionais de Mercado(Conventional Market Approaches) – utilizam preços de mercado (ou, se necessário, preços-sombra) para valorar uma alteração na produção de bens ou serviços ou os gastos necessários para restabelecê-la. As mais comuns são: 1.1)Abordagem das Variações de Produtividade (Productivity Changes Approach ou Dose-Response Approach) - busca medir, freqüentemente 42 através de preços de mercado, mudanças potenciais na produtividade de sistemas resultantes de mudanças nas condições ambientais. Esta abordagem pode ser útil para avaliar impactos ambientais que afetam a produtividade da atividade pesqueira, florestal, agrícola, turística e outras. As variações de produtividade podem decorrer da degradação dos insumos, como a água utilizada em processos industriais, ou dos produtos, como o resultado da pesca ou da lavoura. É importante verificar os impactos ocorridos além da fronteira do projeto, bem como especificar o horizonte de tempo em que as variações de produtividade serão computadas; 1.2)Abordagem do Custo de Reposição(Replacement / Repair Cost Approach) - considera os gastos adicionais para a reposição, reparo ou manutenção de ativos físicos em decorrência dos impactos ambientais, só sendo aplicável em situações em que a magnitude do dano pode ser dimensionada e a medida corretiva é possível. Estritamente falando, esta abordagem não mede os benefícios da preservação ambiental em si, mas os valores envolvidos na recuperação após a eventual perda ambiental. Aplicações em correções de danos a solos agrícolas podem se utilizar deste procedimento. A abordagem pressupõe que o valor dos recursos perdidos é superior aos gastos para a sua reposição, caso contrário não haveria sentido econômico nessa decisão. Além disso, para que a estimativa seja consistente, é preciso que não haja outros benefícios decorrentes dos gastos com a reposição; 1.3)Abordagem do Projeto-Sombra(Shadow Project Approach) - podendo ser visto como um caso especial da abordagem do custo de reposição, examina o custo de projetos hipotéticos que poderiam fornecer substitutos para os bens ou serviços ambientais destruídos. O custo do projeto hipotético pode ser adicionado ao do projeto que causa a destruição. A comparação com alternativas não lesivas ao meio ambiente pode ser feita com base no critério de valor-presente líquido. Esta abordagem requer duas premissas básicas : a) que o valor dos bens e serviços ambientais ameaçados seja maior do que o custo do projeto 43 hipotético; e b) que este projeto possa replicar adequadamente os bens e serviços. Uma aplicação interessante descrita refere-se a projetos para proteção de enchentes desenvolvidos na Holanda em 1974, onde, entre outras, havia a alternativa de fechar completamente o estuário do Oosterschelde e construir uma lagoa artificial que replicasse os serviços ambientais do estuário, tais como recreação, pesca comercial e habitat para pássaros ; 1.4)Abordagem do Custo de Relocalização(Relocation Cost Approach) – podendo, novamente, ser encarada como uma variante da abordagem do custo de reposição, focaliza o custo de realocar uma instalação produtiva cuja eficiência operacional no local de origem tenha sido prejudicada por mudança ambiental. Uma aplicação típica refere-se à descarga de efluentes tóxicos em um rio cuja água é captada para irrigação ou consumo doméstico, forçando a uma mudança da estrutura de captação para um ponto do traçado do rio anterior àquele em que passou a haver a descarga. O custo do remanejamento da captação deve ser considerado como parte da avaliação econômica do impacto ambiental. Um caso muito particular refere-se à movimentação de populações quando da construção de represas, cujos estudos devem tentar incluir, juntamente com os de mudança e preparação de novo local, os aspectos psicológicos e sociais da realocação, ainda que qualitativamente; 1.5)Abordagem dos Lucros Cessantes(Loss of Earnings Approach / Human Capital Approach) - focaliza o efeito dos impactos ambientais na redução(aumento) de ganhos associada(o) a perdas(ganhos) de dias de trabalho, decorrentes de problemas(melhorias) de saúde. Esta abordagem identifica apenas uma parte do valor do impacto, pois não são incluídos os efeitos sobre os menores que não trabalham, os que não têm trabalho remunerado(como donas de casa) e os aposentados. Também não são considerados os gastos com medicamentos, os impactos sobre a saúde ou a produtividade se eles não gerarem perda de dias de trabalho. Nenhum valor é também atribuído ao sofrimento físico ou espiritual. 44 Exemplos de aplicação podem ser encontrados na poluição por agentes nocivos à saúde, como no caso da contaminação por Césio 147 em Goiás na década de 80 e os rumorosos acidentes de Chernobyl, na Rússia, e Bophal, na Índia; 2)Funções de Produção Domésticas(Household Production Functions) – baseiam-se em gastos com bens que são substitutos ou complementares de alguma característica ambiental para tentar valorá-la. As principais são: 2.1)Abordagem dos Gastos Defensivos(Defensive/Avertive Expenditures Approach) - avalia o dano causado pela degradação ambiental de acordo com os gastos que produtores ou consumidores se dispõem a fazer para prevenir o dano ou amenizar suas conseqüências. Em princípio, os indivíduos irão incorrer em gastos para evitar perdas pessoais decorrentes de danos ambientais somente quando eles entenderem que as perdas são iguais maiores do que os gastos necessários para evitá-las. Esta abordagem considera que a soma dos gastos individuais pode ser representativa do valor do dano ambiental, pois indica, através da disposição a pagar pela proteção, a magnitude dos benefícios resultantes da redução do impacto ambiental. Na prática, nem sempre os impactos ambientais podem ser eliminados através de ações individuais isoladas. Como exemplo, a utilização de isoladores de ruídos em residências situadas em regiões com poluição sonora não é um substituto eficaz para a qualidade perdida do meio ambiente, pois atua apenas no ambiente interno, sem amenizar o desconforto de quem está na rua ou em um ambiente aberto. Um exemplo clássico da utilização desta abordagem pode ser encontrado no estudo de 1975 da demanda por materiais para isolamento acústico na vizinhança do aeroporto de Heathrow, em Londres. A demanda por dois bens ambientais, paz e silêncio, foi estimada utilizando-se um mercado substituto, o de materiais redutores de ruído. Outra aplicação prática refere-se aos gastos com a aplicação de cloro para tratamento da água destinada ao consumo humano: uma melhoria na qualidade da água captada pode levar à redução dos gastos com o tratamento 45 com cloro e esta redução pode ser entendida como um limite inferior para o valor econômico da melhoria (outros benefícios poderiam ocorrer). Exemplos diversos podem ser encontrados em gastos para a redução de riscos ou suavização de impactos, como detetores de fumaça, cintos de segurança, filtros de água ou ar, ida ao médico e uso de protetores solares em função dos problemas com a camada de ozônio. Esta abordagem pode sub-avaliar o aspecto econômico dos impactos ambientais, pois no caso do aeroporto, por exemplo, o isolamento acústico poderia ser obtido apenas parcialmente e, mesmo assim, somente em recintos fechados. Além disso, os gastos são limitados pela renda disponível ou pode haver um excedente do consumidor mesmo após eles serem realizados. Por outro lado, uma super-avaliação pode ocorrer se houver benefícios secundários decorrentes dos gastos; 2.2)Método do Custo de Viagem(Travel Cost Method) - aplicável para a avaliação econômica de locais de lazer, principalmente os de acesso público como parques, praias e locais históricos, quando não há indicação de propensão a pagar por parte dos usuários. Busca derivar, através de análise de regressão, uma curva de demanda, usando os custos de deslocamento até o local como proxy para os preços de entrada, determinando dessa forma o valor do bem ou serviço ambiental. O método parte do princípio de que o número de visitantes do local é uma função do custo de deslocamento até ele. Sua aplicação exige pesquisa de campo e entrevistas estruturadas com os visitantes. Naturalmente, o método só estima o valor para os visitantes efetivos, não captando os valores de opção e de não-utilização anteriormente conceituados. Visando a derivar uma curva de demanda, são assumidas algumas premissas, tais como: 1)as pessoas podem ser agrupadas em zonas residenciais nas quais todos têm preferências semelhantes; 2)os indivíduos reagirão ao aumento dos custos de transporte de forma semelhante à que fariam na elevação do preço da entrada em uma área de lazer; 3)Métodos dos Preços Hedônicos(Hedonic Price Methods) – tentam valorar uma característica ambiental através da observação do comportamento de um mercado 46 que tem seus preços por ela influenciados, como os mercados de imóveis e de trabalho. Merecem destaque os seguintes: 3.1)Abordagem do Valor de Propriedades(Property Value Approach / Hedonic Property Prices) - busca medir, com o auxílio de análise de regressão múltipla, o valor dos impactos ambientais, identificando seus efeitos sobre os preços das propriedades. Baseia-se no conceito de que o valor de uma propriedade é diretamente relacionado ao fluxo futuro de benefícios dela esperado. É, portanto, semelhante ao método de DCF para avaliação de empresas discutido no item 2.2. Considera que o preço que alguém se dispõe a pagar por um imóvel depende de alguns atributos com tamanho total, número de quartos, qualidade da construção e, entre outros mais, qualidade do ambiente onde o imóvel está situado. Tem sido aplicado na avaliação de impactos ambientais sobre residências, mas pode ser também utilizado para propriedades rurais e outras. Exemplos são fáceis de observar no dia-a-dia, como no caso dos imóveis com vista para o mar ou montanha. Na cidade do Rio de Janeiro, um exemplo recente está na forte desvalorização sofrida por imóveis residenciais e comerciais em regiões da cidade muito afetadas pela violência decorrente da ocupação dos morros e favelas pelo crime organizado; 3.2)Abordagem do Diferencial de Remuneração(Wage Differential) – tenta captar os diferenciais de remuneração de profissões que decorrem da existência de risco ou insalubridade associados a problemas ambientais. A idéia básica é de que os trabalhadores exigirão um adicional de remuneração para aceitarem trabalhos que os exponham a riscos ou a ambientes desagradáveis. São premissas para a aplicação dessa abordagem a existência de concorrência e mobilidade no mercado de trabalho, alguma similaridade nas habilidades dos trabalhadores e a ampla disponibilidade de informações aos participantes do mercado. As críticas mais comuns referem-se à diferença entre riscos voluntários e involuntários e à possibilidade de que as pessoas que aceitam atividades profissionais mais arriscadas sejam menos risco-aversas que o restante da 47 população. A análise de regressão múltipla é utilizada para estimar os coeficientes de troca entre remuneração e condições ambientais de trabalho; 4)Métodos Experimentais, de Avaliação Contingente(CVM, Contingent Valuation Methods), ou de Avaliação Hipotética(Hypothetical Valuation) - aplicáveis em situações em que não são disponíveis preços de mercado para os bens e serviços, o que é muito comum quando se trata de valorar impactos ambientais. Isto talvez explique sua presença predominante na literatura especializada em avaliação econômica de impactos ambientais, justificando um exame um pouco mais detalhado nesta revisão de literatura. Esses métodos buscam, através de pesquisa de campo, simular um mercado para bens e serviços que não apresentam mercados estabelecidos. Baseiam-se no pressuposto de que os consumidores são capazes de determinar, e irão revelar a um entrevistador, sua real disposição em comprar(WTP) ou vender(WTA) bens ou serviços para os quais não existe mercado formal, se colocados diante de um mercado hipotético. Os métodos assumem que as pessoas responderão a esta situação contingencial exatamente como em um mercado real, seguindo padrões microeconômicos de comportamento do consumidor, como a maximização de utilidade sujeita a restrição orçamentária. Dito de outra forma, as pessoas têm preferências definidas, mas não manifestadas, por todos os tipos de bens ambientais e são capazes de traduzir essas preferências em unidades monetárias. Os planos e questionários de pesquisa devem incluir cinco elementos básicos: • identificação e descrição precisa do recurso que se deseja avaliar, garantindo que o entrevistado esteja familiarizado com ele; • descrição clara da mudança ambiental qualitativa e/ou quantitativa em questão; • descrição do método de pagamento do valor estabelecido; • descrição do mercado hipotético; • questões para validação dos valores obtidos(como renda disponível, atitudes diante de impactos ambientais e motivação para concretizar o pagamento). Em alguns casos, como na determinação de valor de existência e valor de opção, descritos anteriormente, a avaliação contingente pode vir a ser a única alternativa disponível. No entanto, os resultados obtidos com esses métodos podem ser impactados por diversos tipos de viés ou dificuldade, capazes de influenciar as 48 respostas dos entrevistados. Entre os mencionados na literatura especializada, temos: (SCHULZE,1993) • comportamento estratégico do entrevistado, que corresponde a super ou subestimar a WTP ou WTA, quando há expectativa variada sobre a possibilidade de algum pagamento vir realmente a ser exigido. Isto gera um distanciamento entre as respostas aos questionários e o comprometimento econômico que haveria em um mercado real; (WILLIS, POWE, 1998; BYRNES, JONES, GOODMAN, 1999) • falta de incentivo para responder adequadamente a perguntas que exigem tempo e reflexão profunda; • falta de tempo para refletir sobre as perguntas antes de respondê-las, dependendo do nível educacional e social dos entrevistados; (WHITTINGTON et al., 1992) • comportamento altruístico, com a consideração do pagamento “por uma boa causa”, sem relação estreita com o valor atribuído ao objeto específico da avaliação; (STEVENS, MORE, GLASS,1994; McCONNELL, 1997) • deficiência de informação de contexto, principalmente quando há pouca familiaridade com os bens ou serviços objetos da avaliação, acarretando baixa relevância para o entrevistado (AJZEN, 1996). Isto pode levar a eventual diferença de confiabilidade nas respostas de entrevistados que são usuários locais dos recursos, em relação aos que são usuários de outros lugares e aos que não são usuários (WHITEHEAD et al., 1995); • respostas não refletindo uma avaliação pré-existente, com os valores sendo “construídos” mentalmente no momento da entrevista; (SCHKADE, PAYNE, 1994) • variação dos valores obtidos em função do tempo decorrido entre a realização da entrevista e a ocorrência do impacto ambiental; (CARSON et al., 1997) • falta de clareza ou precisão na apresentação das questões pelo entrevistador; • desconsideração pelos entrevistados do papel dos bens substitutos e/ou complementares, bem como das restrições orçamentárias; (LOOMIS, GONZALEZCABAN, GREGORY,1994; WHITEHEAD, BLOMQUIST,1995; LOOMIS, GONZALEZ-CABAN, GREGORY,1995) • valor inicial apresentado ao entrevistado nos jogos de oferta (descritos adiante), que pode estabelecer um patamar do qual ele sinta dificuldade de se afastar significativamente; (HERRIGES, SHOGREN, 1996) • vontade do entrevistado de agradar o entrevistador, respondendo o que ele imaginaria que seria do interesse deste; 49 • escolha das formas ou instrumentos para concretização do pagamento ou recebimento de indenização, tais como impostos gerais, cobrança específica, subsídios a produtores, compensação financeira à vista ou a prazo; (JOHNSTON,SWALLOW,WEAVER, 1999; STEVENS, DeCOTEAU, WILLIS, 1997) • disparidade entre os valores de WTP e WTA para uma mesma situação hipotética. Como toda metodologia que se propõe a ser de aplicação abrangente, também a CVM tem seus adeptos entusiasmados e seus ferrenhos opositores, com alguns chegando a sugerir que toda a avaliação feita tendo-a como base deverá ser colocada sob suspeita(KAHNEMAN, KNETSCH, SMITH, 1992) Os principais métodos de avaliação contingente são : • Jogos de Oferta(Bidding Games) – buscam obter do entrevistado a indicação direta do valor que ele se disporia a pagar para desfrutar de um determinado bem, serviço ou nível de qualidade ambiental. As variantes mais comuns desse método são: o Oferta Aberta(Open Bid) ou Única(Single Bid) – solicita ao entrevistado a oferta específica de um valor monetário. Tem a vantagem de poder ser aplicada tanto pessoalmente como em pesquisa enviada por correio; o Oferta Convergente(Convergent Bidding) ou Iterativa(Iterative Bidding) – o entrevistado é apresentado a um valor muito elevado, que deverá exceder sua WTP, e a outro muito baixo, que quase certamente ele se disporia a pagar. Gradativamente, os valores elevados vão sendo reduzidos e os valores baixos aumentados, até que convirjam para um equilíbrio. Embora levando, em geral, a um desvio-padrão em torno da média inferior ao da oferta aberta, tem a desvantagem de só poder ser aplicada pessoalmente, elevando os custos da pesquisa; o Escolha Dicotômica(Dichotomous Choice) ou do tipo Pegar-ou- Largar(Take-it-or-Leave-it Experiment) – pergunta-se ao entrevistado se ele aceitaria pagar uma quantia específica, variando-se esta quantia para cada sub-amostra da população. Uma distribuição de freqüência acumulada é ajustada às respostas obtidas, a partir da qual pode ser obtida a média e a mediana da WTP. Uma vantagem usualmente sugerida para esse procedimento em relação à oferta aberta é que o entrevistado pode achar 50 mais fácil determinar se sua WTP está acima ou abaixo do valor proposto do que fornecer uma estimativa precisa para ela. Neste caso, ele atua de forma mais parecida ao que faz em um mercado real, no qual não propõe preços para os produtos, mas apenas decide se aceita ou não um preço pré-definido. Facilidade na resposta, no entanto, não deve ser confundida com precisão, não havendo consenso sobre a vantagem comparativa deste tipo de abordagem (FRYKBLOM, 1997); o Cartão de pagamento(payment-card method) – o entrevistado recebe um cartão com vários valores, entre os quais ele pode escolher sua WTP máxima. Às vezes, como referência, inclui-se as quantias gastas com outros bens públicos por pessoas do mesmo nível de renda; • Jogos de Troca(Trade-Off Games) – O indivíduo é colocado diante de uma relação de pares de combinações de quantias em dinheiro e atributos ambientais(como determinada qualidade da água ou certo número de visitas a uma reserva florestal), devendo hierarquizá-los. Estabelecida a ordem de preferência entre os pares, pode ser determinada, no ponto de indiferença, a taxa marginal de substituição entre valores monetários e o atributo ambiental. O procedimento pode ser estendido para mais de um atributo ambiental. Uma variante desse método, conhecida como Escolha sem Custo(Costless Choice), utiliza produtos bem conhecidos, como aparelhos eletroeletrônicos, ao invés de dinheiro, partindo da premissa de que as pessoas conhecem o valor de mercado desses produtos. Uma vez estabelecida a hierarquia, os produtos são substituídos pelo seu valor monetário, permitindo a valoração do atributo ambiental através da taxa marginal de substituição. Neste caso, é necessário cuidar para que os produtos sejam conhecidos e valorados em nível semelhante pelos entrevistados; • Método do Avaliador de Prioridades(Priority Evaluator Method) – busca simular o modelo microeconômico de comportamento do consumidor. Um grupo de indivíduos é colocado diante de uma cesta de produtos, contendo bens tradicionais e ambientais, com preços pré-definidos. Cada indivíduo tem um orçamento suficiente para adquirir quantidades positivas de todos os bens, mas não toda a cesta de produtos; portanto, deve avaliar prioridades e fazer escolhas. A maximização de utilidade de cada indivíduo requer que a utilidade marginal de cada quantidade consumida seja proporcional ao seu preço. Se os preços estabelecidos para os produtos da cesta maximizarem a utilidade, 51 todos terão a mesma probabilidade de serem escolhidos. Computando-se as freqüências observada e esperada de consumo, verifica-se se os preços estão adequados; não estando, o experimento é refeito com novos preços, até que se obtenha o equilíbrio, a partir do qual se obtém a valoração adequada dos bens, inclusive os ambientais. Também a técnica de Delfos(Dephi Technique) aparece, às vezes, como uma modalidade de avaliação contingente, com as diferenças básicas de que (1)as consultas são feitas a especialistas e não aos usuários e (2)há circulação de opiniões entre os entrevistados, embora sem contato direto entre eles, buscando-se convergência no grupo e não opiniões individualizadas. Uma classificação alternativa dos modelos de avaliação, baseada na combinação das idéias de PEARMAN(1994), DIXON et al.(1994), KOPP e SMITH(1993a), KOPP e SMITH(1993b) e FREEMAN(1993), poderia enquadrá-los em dois grupos : • os que envolvem fundamentos técnicos ou físicos, também chamados de abordagens de avaliação objetiva, como variações de produtividade e custo de reposição. Nesse caso, as preferências dos indivíduos em relação a maiores ou menores danos ambientais são presumidas e não diretamente detectadas, fazendo com que as estimativas não tenham relação direta com as funções de utilidade dos indivíduos e possam ser viesadas em certos casos; • os que têm base comportamental, também rotulados de abordagens de avaliação subjetiva, subdivididos em : o de avaliação direta, expressa formalmente, também chamados de preferências declaradas(stated preferences), como CVM, baseados em mercados hipotéticos e em prováveis atitudes futuras. Seus resultados são baseados no que os indivíduos dizem que fariam em determinadas circunstâncias, com a pesquisa sendo apoiada em dados primários; o de avaliação indireta, conhecidos como de preferências reveladas(revealed preferences), como valor de propriedades, custo de viagem, gastos defensivos e diferencial de remuneração, baseados em mercados reais e, em sua maior parte, no registro de ações passadas. Têm seu arcabouço teórico baseado em modelos de otimização de comportamento e seu conteúdo empírico extraído da observação de comportamentos individuais. Extraem conclusões daquilo que as 52 pessoas fazem quando atuam nos mercados, com dados secundários suportando a pesquisa. É possível perceber que os diversos métodos e abordagens aproximam-se, em maior ou menor intensidade, dos diferentes conceito de “valor” de empresas listados no início do item 2.2, implicando em graus de subjetividade e enfoques temporais diferentes. Alguns, por exemplo, apoiam-se no conceito de “valor de reposição”, outros no de “valor econômico” e assim sucessivamente. Isto poderia servir como base para uma classificação adicional dos métodos de avaliação econômica de impactos ambientais separando-os em dois grandes grupos: • os que buscam medir impactos ambientais através do esforço e custo envolvidos na reconstituição do ativo deteriorado; • os que tentam fazer a medição através do valor atribuível à alteração dos fluxos de bens e serviços ambientais gerados pelo ativo. Esta classificação guarda semelhança com os métodos de avaliação de empresas e avaliação social de projetos discutidos nos itens 2.2 e 2.3, ressaltando, também, conforme revisto no item 2.1, as maiores dificuldades existentes na avaliação de ativos reais quando comparados com ativos financeiros. Ainda em relação aos conceitos discutidos nos itens 2.2 e 2.3, outro aspecto importante é que a avaliação econômica de impactos ambientais não pode buscar apoio em métodos equivalentes aos do “valor patrimonial ajustado” (item 2.2.1), “valor de mercado dos títulos” (item 2.2.2) e “comparação direta” (item 2.2.3), usuais em avaliação de empresas, ficando restrita às ferramentas de DCF (item 2.2.4), ajustada para preços sociais (item 2.3), e de RO (item 2.2.5). Note-se, portanto, que o eventual aperfeiçoamento da metodologia de RO pode vir a ser um apoio útil para a avaliação econômica de impactos ambientais, particularmente no que se refere aos “valores de opção”, descritos no início deste item 2.4. Cabe lembrar que muitos bens e serviços ambientais podem ser enquadrados como quase-públicos e públicos, conforme conceituado no item 2.3, trazendo dificuldades adicionais para a avaliação econômica pela inexistência de mercados em que sejam transacionados. 53 O enquadramento dos bens e serviços ambientais em privados, quase-públicos ou públicos pode orientar a escolha do método de avaliação mais adequado a cada caso, dependendo do grau de disponibilidade de informações de mercado. Em situações em que se torna difícil usar qualquer um dos quatro grupos de métodos anteriormente discutidos, ou até mesmo inadequado estabelecer um valor econômico, alguns outros procedimentos podem ser úteis, entre eles: • Análise de Custo-Efetividade(Cost-Effectiveness Analysis) – aplicável quando se torna muito difícil avaliar benefícios ambientais em termos econômicos. Parte do estabelecimento de um determinado objetivo ou padrão em termos físicos, como um indicador social ou ambiental, buscando-se o caminho de menor custo para alcançá-lo. O custo para compatibilização com o padrão estabelecido é somado ao do projeto propriamente dito, podendo, inclusive, torná-lo economicamente inviável. Este tipo de análise envolve um esforço adicional de identificação das várias alternativas possíveis para estabelecer um processo de produção de bens e serviços que tenha impacto ambiental; • Análise de Permuta de Custos(Cost Tradeoff Analysis) – quando se torna difícil até mesmo estabelecer padrões ambientais em termos físicos, há a possibilidade de utilizar julgamentos subjetivos, baseados na busca de um ponto lógico na curva que relaciona padrões ambientais com seus respectivos custos marginais de obtenção. Busca-se uma permuta entre custos econômicos e ambientais, procurando-se um ponto da curva em que a avaliação subjetiva indique que o adicional de custo compensa o adicional de benefício. Isto pode corresponder, por exemplo, a aceitar um determinado nível de poluição ambiental em certo local, considerando que os recursos necessários para eliminá-la totalmente produziriam benefícios maiores se utilizados para a melhoria de outros ambientes em que o nível de poluição seja muito elevado; • Análise de Limiar ou de Custo de Oportunidade(Threshold Analysis / Opportunity Cost) – em casos em que um projeto de desenvolvimento e a preservação ambiental são mutuamente exclusivos, como na implantação de uma usina hidroelétrica, pode ser muito difícil sugerir um valor econômico para um ecossistema de grande porte e complexidade. Após o cálculo do VPL do projeto em consideração e considerando as evidências existentes de que a preferência por bens e serviços ambientais aumenta acompanhando os 54 aumentos de população e de renda, faz-se um tentativa de determinar o valor que precisaria ser atribuído à preservação ambiental para que ela alcançasse o limiar dos benefícios econômicos do projeto. Embora não fazendo uma exatamente uma avaliação econômica do impacto ambiental, esta análise pode fornecer aos tomadores de decisão elementos para uma avaliação subjetiva do valor implícito mínimo do meio ambiente para a comunidade atingida que justificaria a preservação. Revistos os métodos e as abordagens para a avaliação econômica de impactos ambientais, o item 2.4.3.3 a seguir apresenta breves reflexões a respeito, além de alguns exemplos recentes de aplicação no Brasil. 2.4.3.3. Reflexões sobre os métodos de AEIA e aplicações no Brasil Assim como na avaliação de empresas, discutida no item 2.2, não é possível hierarquizar os métodos de forma genérica, pois a escolha do método mais adequado depende das características do problema, da disponibilidade de informações e dos recursos disponíveis para a pesquisa; além disso, a utilização de qualquer modelo para a tomada de decisão envolve um processo de julgamento(KOPP e SMITH, 1993c). Diversos estudos tentam comparar as metodologias disponíveis baseando-se em um ou mais dos seguintes critérios: • alcance : a variedade de situações que pode ser tratada; • abrangência : os tipos de benefícios que podem ser incluídos; • validade : o método mede o que pretende medir ?; • confiabilidade : as medidas obtidas são consistentes (no tempo e no espaço)?; • simplicidade : a facilidade de implementação da metodologia. Um bom resumo da comparação dos métodos e abordagens pode ser encontrado em HOEVENAGEL(1994b), acompanhado da constatação de que a escolha da metodologia adequada depende do objetivo e das condições específicas de cada avaliação. Novas metodologias surgem à medida que as aplicações práticas colocam desafios aos pesquisadores. KING(1997) comenta uma publicação da EPA americana que identifica 37 ferramentas aplicáveis na avaliação. 55 KOSTOFF(1993), discutindo a prática da pesquisa sobre avaliação de impacto ambiental nos Estados Unidos, conclui que nenhum método isoladamente fornece uma avaliação completa. Como na avaliação de empresas e de projetos, a utilização, se possível, de mais de um método ou abordagem em um mesmo processo de avaliação pode servir para reforçar a credibilidade dos resultados, se eles forem convergentes. Por exemplo, em alguns casos práticos, a combinação de vários aspectos dos métodos de preferências declaradas e preferência reveladas pode ser uma boa estratégia(MCCONNELL, 1993), com a comparação dos resultados obtidos pelos dois métodos sendo útil no processo de tomada de decisão. (FIX, LOOMIS, 1998; ADAMOWICZ, LOUVIERE, WILLIAMS, 1994) Um teste conveniente de validação das metodologias, quando possível, é observar a consistência dos seus resultados com o comportamento real dos mercados e com as conclusões de estudos técnicos, possibilitando uma verificação externa dos resultados. (KENYON, EDWARDS-JONES, 1998) Naturalmente, além dos métodos e abordagens específicos para a valoração dos impactos ambientais diretos de projetos e empresas, toda a metodologia tradicional da análise econômica pode ser utilizada não só para avaliar impactos secundários em nível regional ou nacional, como para investigar as questões de eqüidade associadas às propostas de investimento. Surge, portanto, espaço para utilização de matrizes de insumo-produto, multiplicadores de impacto econômico e avaliação de impactos fiscais, etc. É fácil perceber que o efeito secundário de um projeto sobre a economia de uma região pode gerar fontes indiretas significativas de poluição e outros impactos ambientais. Em outras palavras, uma indústria com tecnologia “limpa”, pode gerar forte degradação ambiental por estimular a propagação de fornecedores com tecnologia “suja”. Por não estar no foco do presente trabalho, essas ferramentas tradicionais não serão exploradas, concentrando-se a atenção nos métodos e abordagens direcionados para a valoração dos impactos diretos. Entre os exemplos recentes de aplicação no Brasil da avaliação econômica de ativos e impactos ambientais, temos os seguintes: • valoração de projetos relacionados ao gerenciamento de recursos hídricos nas bacias do Alto Tietê, do rio Piracicaba e da Baixada Santista;(BELLUZZO Jr., 1999) 56 • avaliação econômica de ecossistemas de manguezal;(GRASSO et al., 1995) • custeio de usos alternativos do solo para planejamento municipal;(ALMEIDA, UHL, 1995) • valoração dos ativos ambientais do estado de Rondônia;(PESSOA e RAMOS, 1998) • avaliação de imóveis associada a projeto de eliminação de enchentes nas regiões norte e leste da cidade de São Paulo;(AGUIRRE e FARIA, 1997) • avaliação de custos e benefícios da recuperação ambiental em morros favelados;(MAY, ANDRADE, PASTUK, 1995) • estimativa do valor econômico dos danos ambientais causados pelo processo de assoreamento (erosão-sedimentação) do rio Sapucaí , estado de São Paulo, através dos efeitos no sistema de geração de energia elétrica;(MARQUES, COMUNE, 1997) • avaliação da racionalidade econômica da decisão de desmatamento na fronteira agrícola amazônica;(YOUNG, FAUSTO, 1997) • avaliação de impactos ecológicos da produção e utilização de carvão vegetal;(MEDEIROS, 1995) • estimativa da depreciação das florestas a partir da extração de madeira na Amazônia Legal brasileira;(MOTTA e FERRAZ, 1998) • revisão e análise dos critérios econômicos de cobrança e criação de mercado de água no ambiente legal e institucional brasileiro, com a apresentação de dez critérios econômicos alternativos para a valorização da água;(MOTTA, 1998) • comparação do TEV da preservação da floresta amazônica com o VPL de usos alternativos da área para agricultura;(ANDERSEN, 1997) • valoração das concessões de áreas para exploração de madeira na Amazônia brasileira;(ROCHA et al., 2000) Adicionalmente, seja qual for a abordagem ou método escolhido, resta a importante questão de como tratar economicamente benefícios e custos situados em momentos diferentes do tempo. Surge, então, o desafio de estabelecer uma taxa ambiental de desconto, cujos principais aspectos são revistos adiante. 2.4.3.4. A questão da taxa de desconto ambiental Muitos dos impactos de projetos e empresas sobre o meio ambiente se manifestam por longos períodos de tempo. Isto ocorre com armazenamento de lixo nuclear, 57 poluição de mares, destruição de florestas, danificação da camada de ozônio e em muitas outras situações. A prática tradicional em Economia e Finanças de descontar fluxos de caixa futuros corresponde a aceitar que custos e benefícios que ocorrem no futuro longínquo têm menor peso na tomada de decisão do que os observados no presente e futuro próximo. Isto porque o que está sendo considerado é a preferência que um indivíduo ou grupo de indivíduos possa ter ao escolher entre fluxos disponíveis a curto prazo ou a longo prazo. No caso, porém, dos impactos ambientais e dos recursos naturais, principalmente os não-renováveis, este procedimento poderia levar a um viés no processo decisório, com os interesses das gerações futuras sendo considerados de menor importância que os da atual, distorcendo a eqüidade inter-temporal. Não tendo rosto, voz, voto ou renda (lembrando WTP ou WTA), os futuros inquilinos do planeta não têm como influenciar nas decisões sobre o estado em que receberão a sua macro-residência. Como conseqüência das diferenças conceituais, há diferenças materiais relevantes entre as posturas(PEARCE, 1993) de: (1)a geração atual faz escolhas em nome das gerações futuras; e (2)a geração atual preserva os recursos e as condições para que as gerações futuras possam fazer as suas escolhas. Decorre desse raciocínio o ponto-de-vista de alguns autores favorável a uma taxa de desconto nula para a avaliação econômica de impactos ambientais, significando que a importância do bem-estar de um indivíduo não pode ser alterada pelo momento de sua existência ao longo do tempo(JAMES, 1994). Ao contrário do desconto de fluxos de caixa na análise financeira tradicional, em que compara-se os custos e benefícios para um mesmo indivíduo ou grupo de indivíduos ao longo do tempo, nos impactos ambientais estão sendo tratados os interesses de cidadãos diferentes, vivendo em momentos diferentes da existência da Terra. Não haveria, portanto, por esta ótica, sentido em descontar o futuro em função do presente. Talvez, aos olhos dos futuros cidadãos, o nosso presente é que merecesse algum “desconto”, por estar muito distante do futuro em que estarão vivendo. Mas explorar esta questão estaria muito além dos objetivos deste trabalho de pesquisa, cabendo deixá-la para as discussões filosóficas ou, quem sabe, para as obras de ficção científica. 58 Outros autores, sem chegar a propor a taxa nula, sugerem o desconto dos fluxos muito distantes no futuro à menor taxa possível no caso de projetos ou atividades ambientais de longo prazo, como os de atenuação dos efeitos da mudança climática global(WEITZMAN, 1998). Argumentam também que a taxa social de desconto deve ser inferior à vigente nos mercados privados, com essa diferença podendo aumentar ao longo do horizonte de tempo (WEITZMAN, 1994). De outro lado, uma justificativa usual para o desconto de fluxos futuros é a de que as futuras gerações serão beneficiadas pelo crescimento econômico geral, atribuindo um valor menor a uma unidade monetária adicional de renda do que a geração atual, como conseqüência da menor utilidade marginal da renda(ANDERSEN, 1997). Além disso, não seria correto desconsiderar a preferência subjetiva pelo presente e o custo de oportunidade referente ao uso alternativo dos recursos. Ao buscar traduzir os pontos-de-vista em números, os contrastes de opiniões se acentuam. Como exemplo, temos a estimativa de uma taxa real de 2% ao ano para benefícios ambientais associados à saúde (MOORE, VISCUSI, 1990) comparada com a taxa de 10% para projetos federais recomendada pelo US Office of Management and Budget (QUIRK, TERASAWA, 1991). Como é possível perceber, os economistas envolvidos com a avaliação de ativos ambientais continuam apresentando divergências substanciais na identificação da taxa de desconto apropriada, dificultando a obtenção de consenso em casos reais de valoração dos impactos ambientais(D’ARGE, 1993). Importante, de qualquer forma, é perceber que um exame do impacto da taxa de desconto sobre o gerenciamento de recursos ambientais indica, teoricamente(TURNER, PEARCE e BATEMAN, 1994), as taxas que tornariam indiferentes, em termos estritamente econômicos, a utilização ou a preservação dos recursos, dependendo das suas características: a)Recursos renováveis : taxa de desconto = taxa de crescimento biológico + crescimento no valor do capital, sendo : • taxa de crescimento biológico = crescimento do peso total do estoque(por exemplo, de peixes); • crescimento do valor do capital = ganhos de capital por deixar os recursos intocados(por exemplo, os peixes na água) se o seu preço está aumentando. 59 É fácil observar que a adoção de taxas de desconto elevadas pode estimular a extinção do recurso, o que ocorre com algumas espécies animais que têm baixa taxa de crescimento biológico, como elefantes e baleias. Esta é a origem do entendimento de alguns autores de que o uso de taxas de desconto é incompatível com o conceito de desenvolvimento sustentável.(JAMES, 1994) Um ponto-de-vista menos restritivo sugere que o critério de valor-presente pode ser útil, por sinalizar eficiência econômica, mas deve ser usado para fazer escolhas apenas entre alternativas sustentáveis, sendo descartado o uso de taxas de desconto “não-sustentáveis”. Possivelmente estariam nesse caso taxas superiores a 5% ao ano, sendo recomendado que os seus proponentes sejam capazes de apontar pelo menos cinco projetos sustentáveis que proporcionem esses rendimentos(10%, por exemplo) antes de poder usá-lo como taxa de desconto na análise de valor-presente de investimentos.(DALY e COBB, 1994) b)Recursos não-renováveis: taxa de desconto = crescimento no valor do capital (pois não há crescimento físico) Um caso especial interessante é o dos projetos com impactos ambientais irreversíveis, pois tenderiam a ser recusados qualquer que fosse a taxa de desconto utilizada, uma vez que teriam custo de reposição infinito e, portanto, VPL igual a menos infinito. Mas não é só a questão da taxa de desconto que divide as opiniões dos envolvidos na avaliação econômica de impactos ambientais. Sejam quais forem os valores dos benefícios e custos gerados pelos projetos e empresas, é importante saber sobre quem recaem. Isto significa que além da etapa de avaliação existe a da apropriação, revista de forma sumária a seguir. 2.4.3.5.O problema da apropriação de custos e benefícios Uma questão adicional, de extrema importância prática, refere-se aos mecanismos para apropriação dos valores econômicos associados ao meio ambiente. Muitos recursos ambientais de grande valor econômico (e/ou intrínseco) estão em países pobres, nos quais os conflitos entre desenvolvimento econômico e preservação ambiental são permanentes. 60 Florestas tropicais ou espécies em extinção, consideradas de alto valor para cidadãos e organizações de países desenvolvidos, podem significar muito pouco para populações vizinhas a esses recursos, que têm carências fundamentais, como alimentação, habitação e emprego. A questão passa a ser como transformar o valor econômico estimado por uns em benefícios concretos(fluxos de caixa) para os outros, de cujo comportamento depende a preservação. Este passo, que pode ser chamado de “etapa de apropriação”, deve, necessariamente acompanhar a etapa de valoração, sob pena de anular os impactos positivos do uso de ferramentas de análise econômica na gestão do relacionamento dos homens com o meio ambiente. Não haverá preservação ou uso racional de recursos se os custos forem de uns e os benefícios de outros. Instrumentos como o Global Environment Facility(GEF) são um passo nesse sentido. Quaisquer que sejam os métodos utilizados, permanece a dificuldade de definir quem são os perdedores a serem compensados nos casos de impactos ambientais. Estudos elaborados tanto por DUNFORD, JOHNSON e WEST(1997) como por RANDALL(1997) indicam que em diversas condições não são consideradas as perdas sofridas por crianças pequenas, pessoas que desconhecem os benefícios de um recurso natural, os de motivação não-econômica, etc. Um exemplo ilustrativo do tratamento diferenciado em tribunais é o do caso do navio Exxon Valdez, analisado por DUFFIELD(1997), no qual a corte americana aceitou os procedimentos de avaliação de mercado das perdas sofridas pelas empresas de pesca, mas rejeitou os de avaliação extra-mercado dos prejuízos sofridos pelos nativos do Alaska, que praticavam pesca de subsistência. 2.5.Concluindo a Revisão de Literatura A discussão dos conceitos, abordagens e métodos de valor e avaliação neste capítulo visou a fundamentar a operacionalização da pesquisa, não tendo a intenção de esgotar o assunto. È importante lembrar que este estudo tem Economia e Administração(área de Finanças) como campos de conhecimento de referência e tenta examinar a questão ambiental sob a ótica de valor. O exame de sua metodologia e dos seus resultados requer, portanto, a associação da AEIA com a discussão mais ampla de valor em Finanças e Economia. Considerando o relativo estágio de amadurecimento da avaliação de ativos financeiros, empresas e projetos nos cursos de pós-graduação, na pesquisa 61 acadêmica e na prática profissional das áreas de Economia e Finanças, este trabalho tenta examinar a AEIA como um desdobramento natural da questão de valor e avaliação em um contexto de preocupação com a variável ambiental (vide item 1.3, capítulo 1). Tudo o que foi registrado até aqui nos capítulos 1 e 2 sugere que a AEIA constitui um ramo do conhecimento que: • apresenta muitos pontos importantes ainda sem consenso, em processo de discussão e evolução, envolvendo valores monetários expressivos e questões filosóficas importantes; • está atraindo interesse crescente por parte de governos, empresas e das pessoas em geral; • tem sua evolução fortemente associada `a interação entre a pesquisa acadêmica e prática profissional, uma vez que os conceitos são expandidos e as metodologias aperfeiçoadas à medida que novos problemas e desafios surgem na prática; • tem especial importância para o estabelecimento de políticas e diretrizes para os países em desenvolvimento, que conjugam problemas econômicos, sociais e ambientais. Com este entendimento, a pesquisa buscou identificar o estado-da-arte deste assunto no Brasil, unindo pesquisa e publicação, formação acadêmica e prática profissional. Esta identificação parece ser um passo fundamental no direcionamento e concentração de esforços teóricos e práticos para o aperfeiçoamento da alocação de recursos, na busca da criação de valor e de uma trajetória de desenvolvimento sustentável para as empresas e o país. Para que os resultados da pesquisa possam ser entendidos e criticados dentro do seu contexto, o capítulo 3 a seguir apresenta os principais aspectos da metodologia adotada. 62 3)METODOLOGIA O objetivo deste capítulo é apresentar os procedimentos básicos da pesquisa, sendo, ao final, indicadas as limitações da metodologia escolhida. Partindo das indicações de relevância(item 1.3, capítulo 1) da questão ambiental nos campos da Economia e Administração(Finanças), a pesquisa tentou identificar o estado-da-arte do conhecimento, percorrendo a geração/difusão, ensino e aplicação. As perguntas básicas da pesquisa foram: 1. os assuntos “meio ambiente” e “avaliação econômica de impactos ambientais” receberam atenção relevante como foco de pesquisa e publicação da comunidade acadêmica tradicional de primeira linha das áreas de Economia e Administração ? 2. esses assuntos foram enfatizados por essa comunidade, na formação, através dos programas de mestrado e doutorado, de profissionais especializados para os mercados profissional e acadêmico ? 3. a avaliação econômica de impactos ambientais foi relevante nas decisões de financiamento de longo prazo de projetos e empresas no Brasil ? As perguntas secundárias foram: a)o tratamento da questão ambiental no financiamento de longo prazo de projetos e empresas no Brasil apresenta diferenças relevantes em relação aos padrões internacionais ? b)existem aperfeiçoamentos operacionalizáveis a curto e médio prazos na metodologia brasileira, que possam contribuir para maior qualidade nas decisões de financiamento de longo prazo de projetos e empresas ? O item 3.1 a seguir classifica a pesquisa quanto aos meios e fins, cabendo lembrar que os critérios de classificação podem variar de autor para autor. 3.1.Classificação da Pesquisa Utilizando os critérios propostos por Vergara (1998), esta pesquisa pode ser classificada como : • quanto aos fins : • descritiva – por apresentar o foco acadêmico e a prática atual no que se refere ao objeto de estudo; 63 • metodológica – já que busca indicar possíveis aperfeiçoamentos na metodologia para o tratamento da avaliação econômica dos impactos ambientais no financiamento dos projetos; • aplicada – uma vez que é motivada pelo interesse em resolver, embora não de forma imediata, problemas concretos. • quanto aos meios : • de campo – por ter partes realizadas nos locais em que os processos ocorrem, incluindo entrevistas e observação; • bibliográfica – dado que envolve a consulta a livros, revistas, bases de dados, manuais de procedimentos publicados pelos órgãos financiadores de projetos e páginas da Internet. Vista a classificação, no próximo item são descritos os principais procedimentos adotados para a obtenção e tratamento dos dados. 3.2.Procedimentos O modelo conceitual da pesquisa buscou investigar as três etapas básicas do conhecimento no campo da avaliação econômica de impactos ambientais, ou seja: • geração e difusão através da pesquisa acadêmica, refletida nos artigos publicados nas revistas especializadas e em teses de mestrado e doutorado; • ensino, concretizado por meio dos cursos de mestrado e doutorado em que o conhecimento de ponta é transmitido; • aplicação, quando os responsáveis pela alocação de recursos fazem uso do conhecimento para tomar decisões. O diagrama a seguir resume o modelo conceitual utilizado: GERAÇÃO e DIFUSÃO APLICAÇÃO TRANSMISSÃO 64 Os procedimentos para obtenção e tratamento dos dados seguiram cinco passos complementares, descritos nos itens 3.2.1 a 3.2.5 a seguir, sendo que: • o item 3.2.1 reflete a etapa de busca de referências internacionais no tratamento da AEIA; • o item 3.2.2 retrata o exame da atenção que a questão ambiental e, mais especificamente, a avaliação econômica de impactos ambientais receberam, como objeto de pesquisa e publicação, da comunidade acadêmica tradicional das áreas de Economia e Administração(fase de geração e difusão do conhecimento); • o item 3.2.3 refere-se à identificação, nos programas tradicionais de alta qualidade em Administração e Economia selecionados, de disciplinas de mestrado ou doutorado voltadas para meio ambiente e, mais especificamente, para a AEIA (fase de transmissão do conhecimento); • o item 3.2.4 é voltado para o exame do tratamento dado à questão ambiental e, mais especificamente, à AEIA, no processo de financiamento de longo prazo para projetos e empresas pelo BNDES (fase de aplicação do conhecimento); • finalmente, o item 3.2.5 descreve a verificação da abordagem da questão ambiental por instituições financeiras privadas (fase de aplicação do conhecimento – procedimento complementar). O caminho escolhido para a coleta e tratamento dos dados mesclou abordagens quantitativas e qualitativas. Esta escolha decorreu da própria natureza do tema pesquisado e das primeiras indicações obtidas em leituras e entrevistas com especialistas. Nelas ficou claro que os principais desafios para a disseminação da AEIA estão mais associados ao entendimento e operacionalização dos conceitos do que aos procedimentos de cálculo, respeitada a importância dos últimos. Também o foco da pesquisa foi determinante para a escolha do caminho, uma vez que a finalidade principal foi fornecer uma visão crítica da interação de diversos aspectos da AEIA e não examinar detalhadamente qualquer dos métodos disponíveis ou propor novas metodologias. A abordagem qualitativa envolveu entrevistas e revisão de procedimentos de instituições, seguidas de identificação de pontos de consenso e de divergência, busca de razões para os procedimentos e avaliação de alternativas de ação. Esta abordagem forneceu os elementos conceituais para o diagnóstico e formulação de propostas para o caso brasileiro. 65 O aspecto quantitativo englobou a obtenção de evidências numéricas dos processos pesquisados, seguida da aplicação de testes estatísticos de hipótese. Embora sem o uso de modelos econométricos ou formas mais sofisticadas de análise quantitativa, desnecessários para a finalidade do estudo, boa parte das conclusões da pesquisa baseou-se em evidências quantitativas. A descrição detalhada dos procedimentos encontra-se nas páginas que se seguem, iniciando pela busca de referência internacionais registrada no item 3.2.1. 3.2.1.Busca de Referências Internacionais no Tratamento da AEIA Esta primeira etapa caracterizou-se pela tentativa de identificar uma referência internacional no tratamento da AEIA, incluindo os pontos importantes sob a ótica de diferentes organizações e a atuação de instituições internacionais que concedem financiamentos de longo prazo para empresas e projetos no Brasil. Nesta etapa inicial do trabalho, nos meses de agosto e setembro de 1998, foi realizado um estágio na George Washington University(GWU), Washington D.C., EUA, com os objetivos de: • ampliar e aprofundar o entendimento sobre AEIA; • identificar o seu tratamento em instituições internacionais que fornecem financiamentos de longo prazo para projetos e empresas no Brasil. A escolha da GWU como ponto de apoio para a realização da parte internacional do programa do doutorado e da pesquisa deveu-se à classificação da sua escola de administração na fronteira(primeiro quartil) do processo de educação em aspectos ambientais da gestão de negócios. Esta classificação foi publicada em 1998 pelo The World Resources Institute’s Management Institute for Environment and Business (MEB-WRI), como resultado de pesquisa realizada entre as 67 principais escolas de pós-graduação em administração. A pesquisa investigou as atividades nos currículos de programas de MBA que abordavam questões sobre o meio ambiente(vide World Resources Institute, “Grey Pinstripes with Green Ties”, 1998). O Anexo 1 apresenta o ranking das escolas e os principais critérios para a sua definição. Outro motivo para a escolha foi o fato do campus da GWU estar próximo às sedes de instituições de interesse da pesquisa, a saber: 66 • instituições internacionais que concedem financiamento de longo prazo a projetos e empresas no Brasil; • organizações não-governamentais americanas envolvidas com a avaliação econômica de impactos ambientais; • órgão governamental regulador e fiscalizador das questões ambientais nos Estados Unidos da América (Environmental Protection Agency – EPA). Dessa forma, na fase internacional da pesquisa foram feitos contatos com quatro vertentes da questão ambiental: a acadêmica, os órgão financiadores de projetos e empresas, o Governo e as organizações não-governamentais. Nessa fase, foram feitas 15 entrevistas por pauta (VERGARA, 1998, p.53) com profissionais atuantes nos diferentes aspectos ligados à questão ambiental, sendo: a)oito em organismos internacionais de financiamento: • The World Bank(WB): • John A . Dixon – Program Team Leader - Environmental Economics and Indicators-Environmental Department; • Maureen Cropper – Principal Economist - Development Research Group-Infrastructure & Environment; • Stefano Pagiola – Economist - Global Environment Division and Pollution and Environmental Economics Division-Environment Department; • The International Finance Corporation(IFC), braço do WB voltado para o setor privado: • Mark Eckstein – Environmental Specialist - Environment and Social Review Unit-Environment Division; • Peter A . Neame – Environmental Specialist - Environment DivisionTechnical and Environment Department; • Inter-American Development Bank(IADB) • Antonio Carlos Rossin – Senior Industrial and Urban Pollution Control Specialist; • Alberto Uribe – División de Administración de Recursos Naturales y Medio Ambiente; • Ladislao F. Brachowicz – Economista; b)três em organizações não-governamentais: 67 • Resources for the Future – Raymond J. Kopp – Director and Senior FellowQuality of the Environment Division; • Cato Institute – Jerry Taylor – Director of Natural Resource Studies; • Cato Institute – Peter Van Doren – Assistant Director of Environmental Studies; c)três no meio acadêmico(The George Washington University): • Prof. Arun Malik – Economics Department; • Prof. Aseem Prakash – School of Business and Public Management; • Prof. Mark Starik – School of Business and Public Management; d)uma na agência governamental reguladora e fiscalizadora: • U.S. Environmental Protection Agency(EPA) – Brett R. Snyder – Economist – Economic Analysis Branch-Office of Policy. Essas entrevistas foram conduzidas com o apoio de um roteiro pré-definido, mas, a critério dos entrevistados, poderiam ser incluídos outros temas ou eliminados assuntos considerados não-pertinentes. Utilizou-se anotação ao invés de gravação, para dar maior liberdade de expressão aos entrevistados. O roteiro não foi enviado previamente, sendo os entrevistados informados apenas sobre a natureza da pesquisa e os objetivos básicos da entrevista. O Anexo 2 apresenta o roteiro utilizado nas entrevistas. Em todos os contatos realizados foi assegurado que a pesquisa não faria qualquer divulgação individualizada ou detalhada das informações obtidas, que seriam usadas apenas para a obtenção de um entendimento amplo das questões e aspectos relativos à AEIA. As entrevistas foram acompanhadas da coleta de relatórios e publicações das instituições visitadas. No que se refere ao material coletado no WB, IADB e IFC, o conteúdo deveria servir para orientar a comparação com os procedimentos adotados pelo BNDES. Além das entrevistas e da leitura de publicações, foi possível assistir na sede da IFC a uma apresentação, para um comitê de analistas, do estudo de impacto ambiental de um projeto referente à construção de um canal para irrigação e abastecimento de água potável no Senegal, que ilustrou as práticas utilizadas na instituição. Adicionalmente, o estágio na GWU permitiu a leitura e aquisição de bibliografia especializada não disponível no Brasil. 68 Os dados obtidos nesta fase receberam o seguinte tratamento: • foram selecionados os pontos das entrevistas que pareciam consensuais ou forneciam indicações para a geração, transmissão ou aplicação do conhecimento no Brasil; • as indicações referentes aos procedimentos das instituições financeiras, principalmente WB, foram sumarizadas para comparação com a abordagem do BNDES. O passo seguinte, descrito no item 3.2.2, foi o exame do conteúdo das publicações acadêmicas nas áreas de Economia e Administração. 3.2.2.Exame de Meio Ambiente e AEIA nas Publicações Acadêmicas Esta segunda etapa da pesquisa foi voltada para o exame da atenção que a questão ambiental e, mais especificamente, a avaliação econômica de impactos ambientais receberam, como objeto de pesquisa e publicação, da comunidade acadêmica tradicional das áreas de Economia e Administração(fase de geração e difusão do conhecimento). Para isto, procurou-se avaliar a freqüência com que esses temas foram abordados em revistas acadêmicas de primeira linha das áreas de Economia e Administração, com circulação nacional, nos anos de 1995 a 1999. A freqüência de publicação foi utilizada como variável instrumental para aferir a atenção recebida porque resulta da conjugação da freqüência de submissão de artigos com a de aprovação, pelo corpo editorial, do que é submetido. Foram selecionadas as publicações listadas na Tabela 1: TABELA 1 – REVISTAS DE ECONOMIA E ADMINISTRAÇÃO PESQUISADAS REVISTA INSTITUIÇÃO RESPONSÁVEL Economia Aplicada (EA) Universidade de São Paulo (FEA-USP/FIPE) Pesquisa e Planejamento Econômico (PPE) Inst. de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) 69 Revista Brasileira de Economia (RBE) Fundação Getulio Vargas (FGV) Revista de Administração (RA) Universidade de São Paulo (USP) Revista de Administração Contemporânea (RAC) Assoc. Nac. Progr. Pós-grad. Adm (ANPAD) Revista de Administração de Empresas (RAE) Fundação Getulio Vargas (FGV) Revista de Administração Pública (RAP) Fundação Getulio Vargas (FGV) Obs.: EA e RAC começaram a ser publicadas em janeiro de 1997. Foram examinados os títulos e os resumos/abstracts dos artigos para determinação da natureza de seu conteúdo. Os que abordavam a questão ambiental foram enquadrados em quatro grupos de assuntos : 1. Valoração(AEIA) : apresentavam avaliação econômica, com valoração monetária de custos e/ou benefícios de projetos, empresas, programas ou políticas. Tratavam, portanto, do tema de interesse específico desta pesquisa; 2. Impactos ambientais : focalizavam, sem ênfase em valoração monetária, gestão de recursos naturais, impactos sobre o meio ambiente, como poluição, efeitoestufa ou reciclagem, e aplicações práticas de desenvolvimento sustentável; 3. Gestão ambiental : abordavam práticas de gestão ambiental de empresas e ações específicas, como produtos “verdes” ou marketing ambiental; 4. Outros : tratavam de questões diversas, como legislação, normatização, tributação(imposto verde), fiscalização, políticas públicas, educação ambiental, comércio internacional, reflexões sobre teoria e outras. A seleção do grupo apropriado apresentou dificuldades em alguns casos. Não houve dúvidas, porém, quanto ao fato de ser abordada a questão ambiental nem quando se tratava do assunto “valoração”. As restrições listadas a seguir foram consideradas na revisão dos artigos, em função das características dos periódicos e dos objetivos da pesquisa: • Economia Aplicada : incluídas as seções “Comunicação”, ‘Pesquisa” e “Nota” e excluídas as seções “Debate”, “Como eu pesquiso”, “Depoimento”, “Especial” e “Influências intelectuais”; • Revista de Administração : incluída a seção “Notas & comunicações” ; • Revista de Administração Contemporânea : excluída a seção “Documento” ; • Revista de Administração Pública : excluídas as seções “Depoimentos”, “Documento”, “Seções especiais” e “Espaço internacional”. 70 Os dados foram consolidados por área (visando a identificar variações no posicionamento dos campos de Economia e Administração) e no total da amostra. A Tabela 2 detalha, por área e periódico, a amostra utilizada, indicando o número de exemplares e de artigos consultados. Esta informação pode ser útil para a crítica dos resultados da pesquisa, uma vez que as publicações escolhidas apresentam diferenças de periodicidade (bimestral, trimestral e quadrimestral) e de tempo de existência. TABELA 2 – NÚMERO DE EXEMPLARES E DE ARTIGOS CONSULTADOS POR REVISTA PESQUISADA NAS ÁREAS DE ECONOMIA E ADMINISTRAÇÃO REVISTA N.º DE EXEMPLARES N.º DE ARTIGOS Economia Aplicada (EA) 12 73 Pesquisa e Planejamento Econômico (PPE) 14 92 Revista Brasileira de Economia (RBE) 20 123 46 288 20 189 9 64 Revista de Administração de Empresas (RAE) 22 165 Revista de Administração Pública (RAP) 28 247 Sub-total da área de Administração 79 665 TOTAL DA AMOSTRA 125 953 Sub-total da área de Economia Revista de Administração (RA) Revista de Administração Contemporânea (RAC) Adicionalmente, os dados foram agrupados por ano, conforme resumido na Tabela 3, visando a investigar variações no interesse pelos assuntos pesquisados ao longo do tempo. TABELA 3 – NÚMERO DE EXEMPLARES E DE ARTIGOS CONSULTADOS POR ANO ANO 1995 N.º DE EXEMPLARES N.º DE ARTIGOS 21 192 71 1996 21 161 1997 28 201 1998 28 213 1999 27 186 TOTAL 125 953 Finalmente, os resultados obtidos foram expressos em proporções dos artigos em que os temas escolhidos eram abordados, aplicando-se testes estatísticos de hipótese para proporções, ao nível de significância de 5%, para os temas “meio ambiente” em geral e AEIA em particular. As hipóteses formuladas foram : • H0: os temas estiveram no foco de pesquisa e publicação das áreas de Economia e Administração (p = 0,05); • H1: os temas não estiveram no foco de pesquisa e publicação das áreas de Economia e Administração (p < 0,05). O modelo binomial foi adotado como base para os procedimentos de análise quantitativa, já que o evento observado correspondia à ocorrência ou não do(s) tema(s) escolhido(s) em cada artigo pesquisado. Os testes de hipótese foram baseados na aproximação da distribuição binomial à curva normal, uma vez que tanto a amostra total como as sub-amostras eram grandes o suficiente para permitirem aproximações de boa qualidade (np e nq maiores que 5 – vide FREUND, WILLIAMS e PERLES, p. 341). A Tabela 4 retrata os valores de np para as sub-amostras e para a amostra total, sendo os valores de nq sempre superiores aos de np, uma vez que p =0,05 e, conseqüentemente, q =1 - p =0,95. TABELA 4 – VALORES DE np PARA OS TESTES ESTATÍSTICOS REFERENTES ÀS REVISTAS DE ECONOMIA E ADMINISTRAÇÃO POR ÁREA : Economia N.º DE ARTIGOS (n) VALOR DE np 288 14,4 72 Administração 665 33,3 POR ANO : 1995 192 9,6 1996 161 8,1 1997 201 10,1 1998 213 10,7 1999 186 9,3 953 47,7 TOTAL DA AMOSTRA Os testes de hipótese foram realizados usando-se a estatística Z descrita a seguir, decorrente da aproximação da distribuição binomial por uma distribuição normal padronizada (FREUND, WILLIAMS e PERLES, p. 472): Z= x − np np(1 − p ) onde: x – número de ocorrências do evento na amostra; n – tamanho da amostra; p – probabilidade de ocorrência do evento em cada elemento da amostra. Como procedimento complementar do exame da fase de geração e divulgação do conhecimento, avaliou-se a freqüência com que AEIA e meio ambiente foram abordados em teses de mestrado e doutorado defendidas nos programas tradicionais de alta qualidade das áreas de Economia e Administração. Foram examinados os títulos e os resumos das teses. A pesquisa foi feita junto às bases de dados da Coordenação de Organização e Tratamento da Informação(COI) da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior(CAPES). A análise restringiu-se ao ano de 1999, em decorrência da limitação de acesso aos dados do período de 1995 a 1998. O critério para considerar um programa como tradicional e de alta qualidade foi ter recebido, nas duas avaliações formais realizadas pela CAPES no período de 1995 a 1999, grau igual ou superior a 4(anteriormente B). Não houve avaliação oficial no ano 2000 e a avaliação continuada não atribui graus às instituições. Os graus A e B em 1996 correspondem, respectivamente, a 5 e 4 em 1998. A avaliação de todos os cursos de Administração e Economia encontra-se no Anexo3. 73 Os programas selecionados estão relacionados nas tabelas 5 e 6, nas quais constam os conceitos recebidos nas avaliações de 1996 e 1998: TABELA 5 – PROGRAMAS DE MESTRADO E DOUTORADO EM ADMINISTRAÇÃO SELECIONADOS INSTITUIÇÃO UF NÍVEL 1996– MEST. 1996-DOUT. 1998 FGV RJ M/D A - 4 FGV(AE) SP M B - 5 FGV(AP) SP M/D A B 5 PUC RJ M/D A - 4 UFBA BA M/D A CN 5 UFLA(AR) MG M B - 4 UFMG MG M/D A CN 4 UFPB/J.P. PB M B - 4 UFPR PR M B - 4 UFRGS RS M/D A CN 5 UFRJ RJ M/D A B 5 USP SP M/D A B 5 TABELA 6 – PROGRAMAS DE MESTRADO E DOUTORADO EM ECONOMIA SELECIONADOS INSTITUIÇÃO UF NÍVEL 1996– MEST. 1996-DOUT. 1998 FGV RJ M/D A A 6 FGV SP M/D B B 4 PUC SP M B - 4 PUC RJ M/D A CN 6 UFC(ER) CE M B - 4 UFF RJ M A - 4 UFMG MG M A - 5 UFPE PE M/D B B 5 UFRGS RS M/D B CN 6 UFRGS(ER) RS M B - 4 UFRJ RJ M/D A A 5 UFV(ER) MG M/D B B 4 74 UNB DF M/D A - 6 UNICAMP SP M/D A A 5 USP SP M/D A A 6 USP/ESALQ SP M/D A A 5 Notações nas tabelas 5 e 6: M – mestrado; D – doutorado; AE - Administração de Empresas; AP Administração Pública; AR - Administração Rural; CN - Curso novo; ER - Economia Rural Os dados foram consolidados por programa e carreira(Economia e Administração), sendo expressos em proporções, com o assunto “Meio Ambiente” enquadrado nos mesmos quatro grupos utilizados para os artigos das revistas de Economia e Administração. A seleção do grupo específico merece as mesmas considerações mencionadas no caso das revistas. O mesmo modelo binomial foi adotado como base para os procedimentos de análise quantitativa, pois o evento em estudo correspondia à ocorrência ou não do(s) tema(s) escolhido(s) em cada tese pesquisada. Os testes de hipótese também foram baseados na aproximação da distribuição binomial à curva normal, uma vez que tanto a amostra total como as sub-amostras eram grandes o suficiente para permitirem aproximações de boa qualidade (np e nq maiores que 5). Utilizou-se testes estatísticos de hipótese de proporções, ao nível de significância de 5%, para os resultados em Economia, Administração e no total da amostra, para os temas “meio ambiente” em geral e AEIA em particular, sendo formuladas as seguintes hipóteses: • H0: os temas estiveram no foco de pesquisa discente nos programas de mestrado e doutorado de primeira linha das áreas de Economia e Administração (p = 0,05); • H1: os temas não estiveram no foco de pesquisa discente nos programas de mestrado e doutorado de primeira linha das áreas de Economia e Administração (p < 0,05). Os testes de hipótese foram realizados com o uso da estatística Z descrita anteriormente. A Tabela 7 detalha por área a amostra utilizada, indicando o número de teses consultadas e os valores de np para os testes estatísticos. 75 TABELA 7 – NÚMERO DE TESES DE MESTRADO E DOUTORADO CONSULTADAS POR ÁREA E VALORES DE np PARA OS TESTES ESTATÍSTICOS ÁREA N.º DE TESES VALOR DE np Economia 258 12,9 Administração 329 16,5 587 29,4 TOTAL No prosseguimento da pesquisa, a atenção voltou-se para as disciplinas de pósgraduação dos programas de Economia e Administração, conforme registrado no item 3.2.3. 3.2.3.Exame de Meio Ambiente e AEIA nas Disciplinas de Pós-Graduação Esta etapa focalizou a identificação, nos programas tradicionais de alta qualidade em Administração e Economia selecionados, de disciplinas de mestrado ou doutorado voltadas para meio ambiente e, mais especificamente, para a avaliação econômica de impactos ambientais(fase de transmissão do conhecimento). Foram considerados os programas listados nas tabelas 5 e 6, sendo a pesquisa feita com o apoio das bases de dados da COI - CAPES. O período coberto foi de 1996 a 1999, em função das restrições de acesso aos dados de 1995. A amostra considerou todas as disciplinas de mestrado e doutorado, obrigatórias e eletivas, inclusive seminários e tópicos especiais ou avançados. A classificação foi feita com base no título das disciplinas registrados na CAPES, não tendo sido possível o acesso às ementas. Em função desta restrição, o assunto “meio ambiente”, não foi subdividido nos quatro grupos utilizados nas revistas e teses, pois a simples inspeção dos títulos não permitia o enquadramento com nível razoável de segurança. Aplicou-se tratamento semelhante ao dos dados referentes às revistas e às teses de mestrado e doutorado, compreendendo a separação por carreira (Economia e Administração) e por ano, a expressão dos resultados em proporções, o uso do modelo binomial, a aproximação pela curva normal e o uso da estatística Z para os testes estatísticos. 76 A Tabela 8 sintetiza a amostra das disciplinas de mestrado e doutorado por área e por ano, apresentando ainda os valores de np para os testes estatísticos. TABELA 8 – NÚMERO DE DISCIPLINAS DE MESTRADO E DOUTORADO POR ÁREA E POR ANO E VALORES DE np PARA OS TESTES ESTATÍSTICOS N.º DE DISCIPLINAS VALOR DE np POR ÁREA : Economia 1.745 14,4 2.224 33,3 POR ANO : 1996 959 9,6 1997 982 8,1 1998 1.017 10,1 1999 1.011 10,7 3.969 47,7 Administração TOTAL DA AMOSTRA Testes de hipótese para proporções foram realizados, ao nível de significância de 5%, para os temas “meio ambiente” em geral e AEIA em particular, utilizando os resultados por ano, por área(Economia e Administração) e total da amostra, sendo estabelecidas as seguintes hipóteses: 77 • H0: esses temas estiveram no foco dos cursos de mestrado e doutorado dos programas de primeira linha das áreas de Economia e Administração (p = 0,05); • H1: os temas não estiveram no foco dos cursos de mestrado e doutorado dos programas de primeira linha das áreas de Economia e Administração (p < 0,05). Na fase seguinte, explicitada no item 3.2.4 adiante, a pesquisa foi direcionada para a atuação do BNDES no financiamento de projetos e empresas. 3.2.4.Exame de Meio Ambiente e AEIA nos Financiamentos do BNDES Esta etapa concentrou-se na fase de aplicação do conhecimento, examinando o tratamento dado à questão ambiental e, mais especificamente, à avaliação econômica de impactos ambientais, no processo de financiamento de longo prazo para projetos e empresas pelo BNDES. Nessa fase foram realizadas 17 entrevistas por pauta (VERGARA, 1998, p.53) com profissionais do banco, conforme relação a seguir : • Antônio Carlos Dias Pastori – Contador do Departamento de Mineração e Metalurgia(área de Operações Industriais 2 - OI2); • Carlos Alberto de Lourenço Roque – Economista do Departamento de Estudos Florestais (área OI2); • Eduardo Loyola Canepa – Engenheiro da Assessoria Especial de Meio Ambiente; • Francisco Pelajo – Engenheiro do Departamento de Agro-Indústria(área de Operações Industriais 1 - OI1); • Getulio Antonio Mendes – Advogado da Área de Crédito; • Isaura Maria Rezende Lopes Frondizi – Chefe da Assessoria Especial de Meio ambiente; • Israel Blajberg – Coordenador de Serviços da Assessoria Especial de Meio ambiente; • Jacob Raimundo Kutwak – Engenheiro do Departamento de Papel e Celulose(área OI2); • José Eduardo Pessoa de Andrade – Gerente do Departamento de Petroquímica(área OI1); 78 • Josumar Fernandes – Contador do Departamento de Petroquímica(área OI1); • Juan M. de Campos Adrados – Economista da Área de Crédito (Comitê de Enquadramento) • Lucimar da Silva Guarneri – Gerente da Área de Desenvolvimento Social; • Marinho Urubatão Gomes dos Santos – Chefe do Departamento de Operações de Saneamento Ambiental (área de Projetos de Infra-estrutura Urbana) • Nelson Fontes Siffert Filho – Subchefe da Secretaria de Desenvolvimento Regional; • Paulo Roberto de Sousa Melo – Gerente de Estudos Setoriais Eletroeletrônica e de Bens de Consumo(área OI1); • Ronaldo Vianna da Silveira – Engenheiro da Assessoria Especial de Meio ambiente; • Sebastião Bergamini Junior – Gerente da Área de Crédito. As questões apresentadas nas entrevistas encontram-se no Anexo 4. Além disso, foi coletado e revisto material publicado pelo banco, desde documentos genéricos até os direcionados especificamente para as questões de financiamento e ambiental. Foram analisados os seguintes documentos: • Relatórios Anuais de 1995 a 1999; • Informe BNDES (publicação mensal) de fevereiro de 1995 a setembro de 2000; • Descrição das linhas de financiamento; • O BNDES e o Meio Ambiente - Políticas e Diretrizes; • Roteiro de Informações para Enquadramento – AC/CEREN, de 26/03/98; • Protocolo Verde, de 14/11/95, que representa uma iniciativa do governo federal para a internalização da variável ambiental pelos bancos oficiais; • Resolução 874/96, de 04/07/96, que trata da inserção da variável ambiental nos procedimentos de enquadramento, análise de crédito, contratação e acompanhamento de operações do Sistema BNDES; • O.N. 2.2.2 de 06/12/96, que descreve os documentos jurídicos necessários para análise das operações financeiras; • Pesquisa Gestão Ambiental na Indústria Brasileira, de 1998, elaborada pelo BNDES, CNI e SEBRAE; 79 • Roteiro de Informações para Análise do Projeto, de março de 1996; • Roteiro de Informações para Enquadramento da Área de Crédito, de julho de 2000; • Palestra sobre Convênio BNDES / Federações, de dezembro de 1999. Em complemento, foi apresentado aos profissionais do banco um check-list para verificar o uso pela instituição dos conceitos e metodologias de avaliação de empresas, avaliação social de projetos avaliação econômica de impactos ambientais. O check-list encontra-se no Anexo 5 e o entendimento de sua terminologia pode ser obtido através de consulta à revisão de literatura apresentada no capítulo 2. Em todos os contatos realizados no BNDES foi assegurado que a pesquisa não faria qualquer divulgação individualizada ou detalhada das informações obtidas, que seriam usadas apenas para que fosse possível obter um entendimento da forma de atuar do banco. Os dados obtidos nesta fase receberam o seguinte tratamento: • confronto do conteúdo das entrevistas, de forma a selecionar pontos de consenso e aspectos controversos do posicionamento e atuação do banco na área ambiental; • seleção dos aspectos dos documentos, relatórios e publicações que indicassem a postura e forma de trabalhar nessa área; • comparação com as características de atuação das instituições internacionais, principalmente WB. Finalmente, o quinto e último passo da pesquisa visou a complementar o estudo da fase de aplicação do conhecimento, examinando o tratamento dado à questão ambiental por instituições financeiras privadas. Os procedimentos específicos são descritos no item 3.2.5 a seguir. 3.2.5.Exame de Meio Ambiente e AEIA nos Bancos de Investimentos Privados Como procedimento acessório, visando a complementar a visão da questão ambiental no financiamento a empresas e projetos, foi examinado o foco dos bancos de investimento privados. Esta investigação não fazia parte do desenho original da 80 pesquisa, sendo conduzida a título de ilustração e com menor rigor que as demais etapas. O método adotado foi o exame das páginas das instituições na Internet, buscando identificar quais deles divulgavam alguma espécie de atuação associada à questão ambiental, como captação de recursos para projetos e empresas “ambientalmente corretos” ou qualquer tipo de “marketing verde”. Para isso, adotou-se como universo os bancos de investimento filiados à Associação Nacional de Bancos de Investimento(ANBID), listados no Anexo 6. Foram consultadas as páginas de 53 dos 69 bancos associados, identificando-se os produtos, serviços e operações oferecidos para pessoas jurídicas. A amostragem pode ser caracterizada como “ de conveniência”, pois as páginas examinadas foram aquelas que possuíam link a partir da página da ANBID. Sua inspeção visual, no entanto, deve indicar que foram selecionadas instituições representativas do mercado brasileiro. As áreas de atuação dos bancos foram classificadas em 10 grupos: • meio ambiente (direta ou indiretamente); • leasing; • project finance; • crédito rural e agribusiness; • administração de recursos (asset management), gestão de fundos e de risco; • mercado de capitais, underwriting e operações estruturadas; • fusões e aquisições, reestruturações e privatização; • seguros e previdência privada; • câmbio e comércio exterior; • capital de giro. Foram incluídos na amostra os seguintes bancos: • ABC Brasil; • ABN Amro Real; • AGF Braseg; • Alfa de Investimentos; • Bandeirantes de Investimento; • Banif Primus; 81 • BBA Creditanstalt; • BBM; • Bilbao Vizcaya; • BNL do Brasil; • Boavista Interatlântico; • Boreal; • Bradesco; • Brascan; • CCF Brasil; • Chase Manhattan; • Cidade; • Citibank; • Daycoval; • Crédito Nacional; • BMC; • do Estado de São Paulo; • Finasa de Investimento; • Icatu; • Inter American Express; • Itaú; • J.P.Morgan; • Lloyds; • Matrix; • Merrill Lynch; • Opportunity; • Pactual; • Rural; • Safra; • Santander Brasil; • Santos; • Sul América; • Votorantim; • UBS Warburg; • BankBoston; 82 • BB-Banco de Investimento; • BRB-DTVM; • Caixa Econômica Federal; • Cigna Previdência & Investimentos; • Deutsche Bank; • Dresdner Bank Brasil; • Fama Investimentos SC; • Hedging-Griffo Corretora de Valores; • HSBC Bank Brasil; • Investidor Profissional Gestão de Recursos; • ING Investment Management; • Multi-Banco; • Unibanco. Anotadas as áreas de atuação de cada instituição, foram apuradas as proporções com que elas apareciam na amostra, sendo aplicado um teste de hipótese para proporções, ao nível de significância de 10%, para o resultado referente à área de “meio ambiente”. As seguintes hipóteses foram estabelecidas: • H0: há foco nessa área nos bancos de investimento privados (p = 0,10); • H1: não há foco nessa área nos bancos de investimento privados (p < 0,10). Como nos testes anteriormente mencionados, foi utilizado o modelo binomial com aproximação normal(np = 5,3) e a estatística Z.. Apresentados os cinco passos básicos que conduziram à concretização da pesquisa, cabe observar que o método escolhido apresenta algumas limitações, resumidas no item 3.3. 3.3.Limitações da metodologia O método utilizado tem como limitações mais importantes: 83 • a escolhas dos entrevistados nas fases internacional e internacional, que, apesar do esforço de seleção, podem não refletir todos os aspectos e considerações importantes sobre o tema em suas instituições; • a definição dos periódicos para pesquisas dos artigos, que abrangeu publicações de alcance nacional, podendo ter desconsiderado outras de circulação mais restrita mas com maior foco no aspecto econômico-financeiro da área ambiental; • a utilização dos critérios da CAPES para selecionar os programas de primeira linha, não sendo possível afirmar que critérios diferentes não levariam à inclusão de outros programas no grupo dos de alta qualidade; • a consideração apenas dos bancos de investimento associados à ANBID, sendo possível a exclusão de alguma instituição especializada não filiada; • a avaliação das áreas de atuação dos bancos de investimento privado através do que eles divulgam em suas páginas da Internet, que pode não refletir todo o alcance e os detalhes das suas atividades; • a utilização da visão norte-americana como referência para o cenário internacional, com a possibilidade de existirem pontos-de-vista diferentes em outros países e continentes. A maior parte dessas limitações decorreu da restrição de recursos materiais e financeiros para a pesquisa. A eliminação das restrições em pesquisas futuras pode melhorar os resultados, sendo algumas sugestões apresentadas no capítulo 5. Apresentada a metodologia utilizada e as suas limitações, o capítulo 4 relata os principais resultados obtidos e as respostas às perguntas de pesquisa que orientaram todo o trabalho, acompanhadas de algumas considerações e recomendações julgadas pertinentes. 84 4)RESULTADOS, CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES A finalidade deste capítulo é organizar os principais resultados, conclusões e recomendações da pesquisa. Para isso, retornaremos às perguntas básicas e secundárias expostas no capítulo 3, tentando, ao respondê-las, indicar os principais produtos e contribuições do trabalho. As respostas às cinco perguntas, três básicas e duas secundárias, estão organizadas nos itens 4.1 a 4.5 a seguir, começando pelas perguntas básicas. 4.1.Meio Ambiente e AEIA na Pesquisa e Publicação Acadêmica A primeira pergunta da pesquisa foi: Os assuntos “meio ambiente” e “avaliação econômica de impactos ambientais” receberam atenção relevante como foco de pesquisa e publicação da comunidade acadêmica tradicional de primeira linha das áreas de Economia e Administração ? Para tentar responder a esta pergunta, o primeiro passo foi organizar os resultados referentes ao conteúdo dos artigos das revistas acadêmicas das áreas de Economia e Administração, resumidos na Tabela 9: TABELA 9 – RESULTADOS DO CONTEÚDO DOS ARTIGOS POR REVISTA (1995 a 1999) EA PPE RBE RA RAC RAE RAP TOTAL N.º de exemplares 12 14 20 20 9 22 28 125 N.º de artigos 73 92 123 189 64 165 247 953 Meio ambiente 3 2 4 4 0 7 11 31 *valoração(AEIA) 1 2 2 0 0 0 0 5 *impactos ambientais 2 0 2 1 0 3 2 10 *gestão ambiental 0 0 0 2 0 3 0 5 *outros 0 0 0 1 0 1 9 11 EA=Economia Aplicada; PPE=Pesquisa e Planejamento Econômico; RBE=Revista Brasileira de Economia; RA= Revista de Administração; RAC=Revista de Administração RAE=Revista de Administração de Empresas; RAP=Revista de Administração Pública. Contemporânea; 85 Observa-se que, ao longo dos cinco anos, apenas 31 artigos(3,3%) trataram da questão ambiental, sendo somente 5(0,5%) referentes à avaliação econômica de impactos ambientais. O passo seguinte foi separar os resultados por ano, o que pode ser visto na Tabela10: TABELA 10 – RESULTADOS DO CONTEÚDO DOS ARTIGOS POR ANO 1995 1996 1997 1998 1999 TOTAL 21 21 28 28 27 125 N.º de artigos 192 161 201 213 186 953 Meio ambiente 12 3 8 6 2 31 *valoração(AEIA) 2 0 1 1 1 5 *impactos ambientais 3 1 3 2 1 10 *gestão ambiental 2 1 2 0 0 5 *outros 5 1 2 3 0 11 N.º de exemplares A simples inspeção visual indicaria maior interesse pela questão ambiental nos anos de 1995, 1997 e 1998, sem ênfase em valoração em qualquer dos cinco anos. Mas para que fosse possível propor alguma resposta à pergunta da pesquisa, não bastaria a simples observação ou inspeção visual, tornando-se necessário examinar os resultados após configuração e tratamento estatístico adequados. Para facilitar a leitura e interpretação dos resultados, a seguir encontra-se repetida a formulação do teste estatístico de hipótese proposto no capítulo 3, para os temas “meio ambiente” em geral e AEIA em particular. As hipóteses formuladas foram : • H0: os temas estiveram no foco de pesquisa e publicação das áreas de Economia e Administração (p = 0,05); • H1: os temas não estiveram no foco de pesquisa e publicação das áreas de Economia e Administração (p < 0,05). Os resultados dos cálculos e testes estatísticos de proporções para a amostra das revistas acadêmicas encontram-se na Tabela 11: 86 TABELA 11 - PROPORÇÕES E TESTES ESTATÍSTICOS NO TOTAL DAS REVISTAS ACADÊMICAS Total % Z Decisão N.º de artigos 953 100,0 ------ -------------- Meio ambiente 31 3,3 -2,47 Rejeitar H0 5 0,5 -6,34 Rejeitar H0 AEIA Esses resultados indicam que Meio Ambiente e AEIA não foram alvo de atenção relevante em pesquisa e publicação nas áreas de Economia e Administração no período de 1995 a 1999. Um desdobramento dos resultados por área, no entanto, ajuda a detalhar melhor a realidade. A Tabela 12 sintetiza estes resultados: TABELA 12 – PROPORÇÕES E TESTES ESTATÍSTICOS NAS REVISTAS ACADÊMICAS POR ÁREA ECO % Z Decisão 283 100,0 ------ Meio ambiente 9 3,2 -1,46 Não rejeitar H0 22 AEIA 5 1,8 -2,54 Rejeitar H0 0 N.º de artigos --------------- ADM % 665 100,0 3,3 Z Decisão ------2,0 Rejeitar H0 0,0 -5,92 Rejeitar H0 ECO= Economia; ADM= Administração Os resultados das sub-amostras consideradas, portanto, confirmam o diagnóstico anterior no que se refere à área de Administração. Mas na área de Economia, não foi possível obter evidências de ausência de interesse pela questão ambiental, embora elas tenham sido encontradas para o caso específico da avaliação econômica de impactos ambientais. Outras indicações podem ser obtidas com a partição temporal do resultado das revistas, conforme indicado na Tabela 13: 87 TABELA 13 – PROPORÇÕES E TESTES ESTATÍSTICOS NAS REVISTAS ACADÊMICAS POR ANO 1995 1996 1997 1998 1999 N.º de artigos 192 161 201 213 181 Meio ambiente 12 3 8 6 2 -% 6,3 1,9 4,0 2,8 1,1 -Z 0,79 -1,83 -0,66 -1,46 -2,46 - Decisão Não rejeitar H0 Rejeitar H0 Não rejeitar H0 Não rejeitar H0 Rejeitar H0 2 0 1 1 1 -% 1,0 0,0 0,5 0,5 0,6 -Z -2,52 -2,91 -2,93 -3,03 -2,79 AEIA - Decisão Rejeitar H0 Rejeitar H0 Rejeitar H0 Rejeitar H0 Rejeitar H0 Estes resultados confirmam o relativo desinteresse das revistas acadêmicas pelo tema AEIA ao longo dos cinco anos examinados. Mas não fornecem evidências de desinteresse pela questão ambiental, em sua forma mais ampla, nos anos de 1995, 1997 e 1998. Para completar os elementos necessários à resposta da primeira pergunta da pesquisa, referente à fase de geração e difusão do conhecimento, é útil examinar os resultados referentes à pesquisa e publicação discente, refletidas nas teses de mestrado e doutorado defendidas em 1999 nos programas de Economia e Administração selecionados. Neste ponto, pode ser útil relembrar o teste estatístico de hipótese proposto no capítulo 3 para os temas “Meio Ambiente” e “AEIA”: • H0: os temas estiveram no foco de pesquisa discente nos programas de mestrado e doutorado de primeira linha das áreas de Economia e Administração (p = 0,05); • H1: os temas não estiveram no foco de pesquisa discente nos programas de mestrado e doutorado de primeira linha das áreas de Economia e Administração (p < 0,05). 88 A Tabela 14 sintetiza a informação relevante, incluindo os testes estatísticos correspondentes: TABELA 14 – RESULTADOS, PROPORÇÕES E TESTES ESTATÍSTICOS NAS TESES DE MESTRADO E DOUTORADO POR ÁREA Total Administração Economia 587 329 258 19 8 11 -% 3,2 2,4 4,3 -Z -1,96 -2,14 -0,54 No. de teses Meio Ambiente - Decisão Rejeitar H0 Rejeitar H0 Não rejeitar H0 2 0 2 -% 0,3 0,0 0,8 -Z -5,18 -4,16 -3,11 AEIA - Decisão Rejeitar H0 Rejeitar H0 Rejeitar H0 Repete-se aqui o padrão observado nas revistas acadêmicas, com evidências de pouco interesse pela AEIA nas duas áreas e no total da amostra, associado a algum interesse relevante pela questão ambiental em geral na área de Economia, mas não na de Administração. Reunindo e consolidando os resultados numéricos e comentários registrados nas tabelas 9 a 14, podemos tentar discutir, nos parágrafos seguintes, a primeira pergunta da pesquisa. Quanto à AEIA, a resposta sugerida pelos resultados das publicações em revistas é consistentemente negativa, tanto para o conjunto da amostra, como para cada um dos anos (1995 a 1999) e das áreas (Administração e Economia). A mesma conclusão pode ser obtida examinando-se as teses de mestrado e doutorado defendidas. Isto contrasta com o tratamento freqüente, nos meios acadêmico e profissional, das demais questões associadas a valor discutidas no capítulo 2, como avaliação de ativos financeiros e avaliação de empresas. 89 A reduzida atenção dedicada à AEIA pelos pesquisadores, docentes, discentes e/ou editores pode decorrer da própria ausência de mercados formais para diversos bens ambientais, que dificulta a percepção da aplicabilidade de critérios monetários e a associação com os estudos sobre valor. É interessante notar que o interesse pelo tema “avaliação de empresas” cresceu bastante no Brasil com o movimento de privatizações, fusões e aquisições da década de 90. A ênfase na valoração dos impactos ambientais pode estar à espera de algum agente catalisador, como o acirramento das restrições comerciais internacionais a produtos e processos poluidores. Outra possível explicação pode estar na dificuldade de quebrar o círculo vicioso formado por “ausência de pesquisa e publicação - ausência de ensino – ausência de aplicação”. Se este for o caso, a saída pode estar em um esforço adicional dos que atuam na área para dar visibilidade ao tema. No que se refere a “meio ambiente” em geral, as publicações na área de Economia parecem demonstrar algum interesse pelo assunto, o que não acontece na área de Administração. O padrão é semelhante para as revistas e as teses de mestrado e doutorado. A explicação para essa diferença entre as duas áreas pode estar no fato da Economia do Meio Ambiente ser um ramo relativamente consolidado, ao menos em alguns países, enquanto em Administração a questão ambiental talvez ainda não tenha adquirido rosto próprio. Consolidando os dados de Economia e Administração e colocando-os em uma perspectiva temporal, não é possível afirmar que há tendência de crescimento no interesse pelo assunto, com os anos de 1995,1997 e 1998 sinalizando interesse, em confronto com os resultados negativos dos demais anos. Em resumo, podemos estar diante de uma primeira evidência de que essa comunidade acadêmica específica não tem interesses de pesquisa sintonizados com algumas demandas de conhecimento sobre meio ambiente evidenciadas no capítulo 1. Um sinal da ausência de espaço para as questões ambientais nas publicações tradicionais pode ser o surgimento de revistas alternativas, como a “Mundo & Vida – Alternativas em estudos ambientais”, lançada este ano pelo Programa de PósGraduação em Ciências Ambientais(PGCA) da Universidade Federal Fluminense. 90 A primeira contribuição desta pesquisa, portanto, pode ser despertar os autores e editores em Economia e Administração para que avaliem possibilidades e interesses de abrirem espaço em suas agendas de estudos para essas questões. Nas revistas, uma alternativa seria iniciar criando uma seção de “notas”. Passamos, então, à segunda pergunta básica da pesquisa, focalizada no item 4.2. 4.2.Meio Ambiente e AEIA no Ensino de Pós-Graduação A segunda pergunta da pesquisa foi: Esses assuntos(“meio ambiente” e “avaliação econômica de impactos ambientais”) por essa comunidade(comunidade Administração), foram enfatizados acadêmica tradicional de primeira linha das áreas de Economia e na formação, através dos programas de mestrado e doutorado, de profissionais especializados para os mercados profissional e acadêmico ? Os resultados alcançados podem orientar o fornecimento da resposta a esta questão, tendo em mente o teste estatístico de hipótese proposto no capítulo 3(para os temas “Meio Ambiente” em geral e “AEIA”), reapresentado a seguir: • H0: esses temas estiveram no foco dos cursos de mestrado e doutorado dos programas de primeira linha das áreas de Economia e Administração (p = 0,05); • H1: os temas não estiveram no foco dos cursos de mestrado e doutorado dos programas de primeira linha das áreas de Economia e Administração (p < 0,05). A Tabela 15 resume o total da amostra e especifica por área os resultados referentes às disciplinas de mestrado e doutorado: TABELA 15 – RESULTADOS, PROPORÇÕES E TESTES ESTATÍSTICOS NAS DISCIPLINAS DE PÓS-GRADUAÇÃO POR ÁREA Total Administração Economia No. disciplinas 3.969 2.224 1.745 Meio Ambiente 51 19 32 1,3 0,9 1,8 -% 91 -10,74 -Z - Decisão Rejeitar H0 -8,97 -6,07 Rejeitar H0 Rejeitar H0 2 0 2 -% 0,1 0,0 0,1 -Z -14,31 -10,82 -9,36 AEIA - Decisão Rejeitar H0 Rejeitar H0 Rejeitar H0 A amostra utilizada forneceu evidências estatisticamente significativas de que a questão ambiental, de forma mais genérica, e a avaliação econômica de impactos ambientais não mereceram destaque na formação acadêmica de mestres e doutores no conjunto do período que vai de 1996 a 1999. A tentativa de examinar a questão por ano letivo é destacada nos resultados da Tabela 16: TABELA 16 – RESULTADOS, PROPORÇÕES E TESTES ESTATÍSTICOS NAS DISCIPLINAS DE PÓS-GRADUAÇÃO POR ANO 1996 1997 1998 1999 No. disciplinas 959 982 1.017 1.011 Meio ambiente 11 10 12 18 -% 1,1 1,0 1,2 1,8 -Z -5,47 -5,72 -5,59 -4,7 - Decisão Rejeitar H0 Rejeitar H0 Rejeitar H0 Rejeitar H0 1 1 0 0 -% 0,1 0,1 0,0 0,0 -Z -6,96 -7,04 -7,32 -7,29 AEIA - Decisão Rejeitar H0 Rejeitar H0 Rejeitar H0 Rejeitar H0 As evidências extraídas da amostra utilizada indicam que as conclusões mencionadas anteriormente são válidas para todo o horizonte de tempo pesquisado. Os resultados obtidos sugerem, portanto, que os dois assuntos examinados não mereceram atenção relevante na formação de mestres e doutores em Economia e 92 Administração, o que parece reforçar a escassez e as oportunidades registradas no capítulo 1 para esses profissionais no mercado. Cabe chamar a atenção para o fato de que esses programas de mestrado e doutorado apresentam diversas disciplinas voltadas para os demais aspectos de valoração revistos no capítulo 2, notadamente a precificação de ativos financeiros e a avaliação de empresas e projetos de investimento. Uma vez mais, podemos estar diante do círculo vicioso anteriormente mencionado. É possível, também, que as áreas de Economia e Administração, ou ao menos as suas escolas tradicionais de primeira linha, estejam perdendo as oportunidades e a potencial liderança na área ambiental para outras áreas ou escolas. Um exame mais amplo da Pós-Graduação no Brasil dará indicações interessantes, como: • a existência, a partir de 1999, na Universidade Santa Úrsula de um programa de mestrado em Economia no qual 17 das 36 disciplinas são referentes a meio ambiente, sendo 2 especificamente voltadas para a AEIA; • a criação de cursos de pós-graduação stricto sensu em Ciência Ambiental em instituições como Universidade Federal do Paraná, Universidade Federal de Santa Catarina, Universidade Federal da Paraíba, Universidade Federal do Pará, Universidade Federal do Rio de Janeiro e Universidade de São Paulo e Universidade Federal Fluminense, com a constituição, em 09/12/99, do Fórum Permanente de Coordenadores de Cursos de Pós-Graduação Stricto Sensu em Ciência Ambiental; • o surgimento de programas de pós-graduação lato sensu em meio ambiente, voltados para o mercado de trabalho, em instituições como a Universidade Federal do Rio de Janeiro e a Fundação Getulio Vargas; • o estabelecimento de núcleos interdisciplinares nas universidades, como o Núcleo Interdisciplinar de Estudos Ambientais e Desenvolvimento(NIEAD) do Centro de Ciências Matemáticas e da Natureza(CCMN), e o Laboratório Interdisciplinar de Meio Ambiente(LIMA) da COPPE, ambos na Universidade Federal do Rio de Janeiro, além do surgimento de grupos de estudos em instituições de ensino e pesquisa, como a Fundação Escola Nacional de Seguros (FUNENSEG). A constituição de núcleos interdisciplinares para tratar de meio ambiente pode estar indicando que a área passará, nos próximos anos, pelo mesmo caminho percorrido pelas de “Administração” e “Economia” há algumas décadas, ou seja, de acessório 93 pouco importante de outra(nos dois casos a Engenharia), para posição individualizada e até mesmo mais destacada do que a que lhe deu origem. Como desdobramento das respostas às duas primeiras perguntas básicas, ficam algumas possíveis alternativas para as escolas tradicionais de Economia e Administração: • incluir cursos sobre meio ambiente, gestão ambiental e AEIA, inicialmente como disciplinas eletivas de poucos créditos ou parte da ementa de outras disciplinas; • buscar aproximação com outros programas(ex.: biologia, engenharia, geociências), criando disciplinas comuns sobre aspectos ambientais; • estimular linhas de pesquisa e teses em sistema de co-orientação, envolvendo professores de diversos departamentos relacionados a meio ambiente. A contribuição da pesquisa, neste aspecto, é incentivar as universidades, particularmente a que abrigou este trabalho, a assumirem posição de liderança no processo de organização e consolidação deste campo do conhecimento, não só respondendo às demandas profissionais e técnicas, mas a elas se antecipando. A preocupação com o meio ambiente teve crescimento expressivo no mundo real, conforme ilustrado no item 1.3 do capítulo 1, nos desembolsos para projetos ambientais pelo BNDES e no surgimento do Axial Banco e do A2R. O mundo acadêmico das áreas de Economia e Administração parece não estar acompanhando adequadamente esse interesse crescente, deixando de fornecer contribuição mais expressiva. Além disso, o conhecimento sobre meio ambiente ainda se mostra um tanto disperso nas universidades. Pode ser o momento adequado para criar uma nova área multidisciplinar, reunindo professores e pesquisadores originados das ciências naturais e das ciências sociais. É interessante constatar que os dados da pesquisa parecem indicar que, transcorrida meia década, não houve alteração relevante no diagnóstico apresentado por Peter H. May para o final da primeira metade da década de 90, quando registrou que: “A economia do bem-estar, a análise custo-benefício e suas extensões na análise econômica das externalidades ambientais são campos de limitada penetração no Brasil. Poucas instituições acadêmicas oferecem cursos nessa 94 área e ... não há nenhuma concentração de estudos em economia do meio ambiente ou de recursos naturais oficialmente reconhecidos...”.(MAY, 1995) Prosseguindo com a discussão dos resultados, o item 4.3 trata da terceira pergunta básica da pesquisa. 4.3.Meio Ambiente e AEIA no Financiamento de Longo Prazo no Brasil Temos, então, a terceira pergunta da pesquisa: A avaliação econômica de impactos ambientais foi relevante nas decisões de financiamento de longo prazo de projetos e empresas no Brasil ? As bases para tentar responder a esta pergunta diferem das utilizadas nas duas anteriores. Aqui os testes estatísticos de hipóteses são pouco relevantes, predominando aspectos qualitativos e informações diversas, extraídas de entrevistas, leitura de documentação(geral, técnica e operacional) e da própria observação direta. A resposta precisa ser dividida em duas partes, partindo-se da constatação de que está no sistema BNDES a principal fonte de financiamento de longo prazo do país. Tendo o BNDES como foco, o item 4.31. examina a relevância da questão ambiental, em sua forma genérica, nas decisões de financiamento, ficando para o item 4.3.2 o exame mais específico da relevância da AEIA nas decisões. Para o item 4.3.3 ficou reservado um exame mais superficial da questão ambiental nos bancos de investimento privados, sem impacto material sobre as conclusões centrais da pesquisa. 4.3.1.Meio Ambiente no Financiamento de Longo Prazo no Brasil No que se refere à questão ambiental em sentido mais amplo, sua relevância nos processos e decisões do BNDES parece clara. Os resultados obtidos indicam que esta relevância está apoiada em cinco pilares básicos: 95 1o Pilar - Sintonia com o assunto dos profissionais nos diversos níveis e áreas da instituição(a grande atenção e a extrema cordialidade com que o pesquisador foi recebido são indícios do respeito com que o assunto é tratado no banco). A importância da questão ambiental é claramente percebida pelos profissionais dos diversos setores, embora haja diferenças quanto ao entendimento de sua relevância para as decisões de financiamento de empresas e projetos. Em uma das entrevistas, chegou a ser comentado que a variável ambiental desperta mais atenção nos analistas do banco do que a social, apesar desta fazer parte do próprio nome da instituição. Mencionou-se, também, a ênfase da variável ambiental no planejamento estratégico 2000-2004, recentemente concluído. Todos destacaram o rigoroso cumprimento das leis e das normas dos órgãos ambientais nas etapas de enquadramento, análise, contratação e acompanhamento dos financiamentos. Alguns, no entanto, entendem que a postura é tipicamente a de “seguir as regras estabelecidas”, como a verificação de licenças; os riscos ambientais só ganhariam relevância quando afetassem o risco de crédito ou criassem constrangimentos nos meios de comunicação. A prioridade seria “fazer as operações”, respeitados os objetivos do banco e os riscos do negócio. Outros entrevistados julgam que a consciência ambiental está verdadeiramente internalizada na instituição, apesar de outros aspectos predominarem na seleção de financiamentos, como capacidade de pagamento, geração de empregos e geração de divisas. Em outras palavras, se o meio ambiente não for um aspecto decisivo, é certamente muito importante. Um dos entrevistados chamou a atenção de que o seu departamento aborda a questão ambiental com os empresários na conversa inicial, antes da própria consulta formal através da carta-consulta. Não parece haver dúvida quanto à possibilidade de um financiamento ser recusado como decorrência de posturas e passivos ambientais, tendo sido citados casos concretos ocorridos nos últimos anos. o 2 Pilar - Inserção nas normas, políticas e diretrizes. As Políticas e Diretrizes apresentam, explicitamente, o compromisso do banco e de sua subsidiárias com o meio ambiente e os princípios do desenvolvimento sustentável. Registram, também, a destinação, desde 1986, de uma média de 6% do seu desembolso anual para componentes ambientais de projetos, além de destacar ações pioneiras da instituição, como a articulação do Protocolo Verde, assinado em 1995, e 96 o compromisso firmado com o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente(PNUMA/UNEP) mediante a assinatura da Carta de Princípios para o setor financeiro. A inserção da variável ambiental nas operações é consolidada nos regulamentos internos e normas que orientam as operações, destacando-se: • Estatuto Social , que no artigo 10.1 indica que “O BNDES deverá proceder ao exame técnico e econômico-financeiro do projeto e de suas implicações sociais e ambientais”; • Orientações Normativas 2.1.1, 2.1.2 e 2.2.2, indicando os documentos jurídicos necessários para a análise da operação, incluindo as licenças ambientais; • Resolução 874/96, que trata da inserção da variável ambiental nos procedimentos de enquadramento, análise de crédito, contratação e acompanhamento das operações. 3o Pilar - Existência de apoio financeiro a projetos ambientais, com condições favorecidas de taxa de juros e prazo de pagamento. A interação da questão ambiental com o financiamento de projetos e empresas é abordada de forma abrangente e específica, estando registrada em diversos documentos do banco(O BNDES e o meio ambiente,1999a; FINEM,1999; O BNDES e o meio ambiente,1999b; Informe BNDES,1995-2000, CONVÊNIO BNDES / Federações, 1999). São exemplos importantes dessa interação: • a existência de apoio financeiro para projetos ambientais, com a especificação dos projetos que são: • passíveis de apoio: prevenção e controle de poluição do ar, da água e do solo; coleta, disposição e tratamento adequados de resíduos industriais, domiciliares e hospitalares; recomposição da cobertura vegetal, preferencialmente com essências nativas; recuperação/descontaminação ambiental; modernização produtiva utilizando tecnologias, processos e procedimentos que visam reduzir a geração de resíduos, aumentar a eficiência energética e evitar utilização de insumos tóxicos; projetos no âmbito de programas nacionais e regionais (ex.: Recursos Hídricos, Protocolo Verde, Corredores de Biodiversidade); manejo sustentável; monitoramento ambiental; higiene e segurança do trabalho; sistemas de gestão ambiental; plantio direto; e projetos agrícolas que visem a utilização de biofertilizantes, biocidas e de técnicas orgânicas; 97 • não-financiáveis: empreendimentos do setor de mineração que incorporem processo de lavra rudimentar ou garimpo; • de apoio condicionado: empreendimentos que utilizem madeira proveniente de florestas nativas, quando acompanhados de um programa de manejo sustentável e reflorestamento com essências nativas; segmentos de serraria quando vinculados a reflorestamentos; setor de gusa (somente em projetos de reflorestamento com monoculturas, verticalização e modernização que não impliquem no aumento de consumo absoluto do carvão vegetal. Condicionar o apoio a empresas que tenham aderido ao PIF - Plano Integrado Florestal); • a redução do spread básico da linha FINEM, do nível padrão de 2,5%a.a. para 1%a.a., no caso de projetos voltados para o meio ambiente; • a ampliação dos prazos de pagamento, que poderão variar de 5 a 12 anos em função da capacidade de pagamento, para investimentos visando à melhoria de indicadores ecoeficientes. 4o Pilar - Especificação, sistematização e formalização do tratamento dos problemas ambientais nas diversas etapas do processo de financiamento dos projetos gerais. O tratamento do aspecto ambiental no processo de financiamento envolve as seguintes atividades: A)no caso de apoio direto pelo BNDES: A.1)fase de enquadramento da proposta: • avaliação preliminar do impacto ambiental do projeto; • classificação do projeto segundo aspectos ambientais associados(quadro de classificação de projetos); • proposição das recomendações ambientais. O enquadramento é aprovado por um comitê com a participação de 16 superintendentes, no qual a área de planejamento tem participação e que sempre conta com a presença de alguém a área de meio ambiente. O Roteiro de Informações para Enquadramento da Área de Crédito, que indica os requisitos necessários para a solicitação inicial de financiamento, aborda explicitamente a variável ambiental nas páginas 11, 12 e 13. (ROTEIRO, 2000) A.2)fase de análise do projeto: 98 • avaliação do risco ambiental, rota tecnológica e regularidade junto ao órgão de meio ambiente e pendências judiciais; • avaliação das questões relativas à higiene e segurança do trabalho; • solicitação das medidas mitigadoras e/ou compensatórias do projeto. A variável ambiental é mencionada nas páginas 8 e 18 do Roteiro de Informações para Análise do Projeto. (ROTEIRO, 1996) A.3)fase de contratação da operação: • contratação condicionada à apresentação das licenças e demais autorizações ambientais concedidas pelos órgãos de meio ambiente estadual e/ou municipal, ou em caráter supletivo, pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis e da Amazônia Legal IBAMA, observando-se a aprovação de Estudos e Avaliações de Impacto Ambiental; • inclusão de obrigações especiais de natureza ambiental em complemento as exigências previstas em lei, quando for o caso. A.4)fase de acompanhamento: • realização de visitas periódicas, para acompanhamento e avaliação dos seguintes pontos: • • regularidade ambiental; • cronograma físico-financeiro; • normas de proteção ao trabalhador; • resultados do acompanhamento do órgão ambiental; o não cumprimento das obrigações ambientais pela empresa, resultará em suspensão dos desembolsos pelo BNDES e em casos extremos, o vencimento antecipado do contrato. B)no caso de apoio indireto(através de agente financeiro, geralmente para empresas de pequeno ou médio porte): • análise e avaliação do impacto ambiental realizadas pelo agente financeiro; • verificação da regularidade ambiental – licenciamento; • classificação ambiental do projeto na fase de enquadramento pelo BNDES, quando for o caso; • sugestão, pelo BNDES, de ações pontuais com vistas a atenuar impactos ambientais em função da natureza e da localização do projeto. 99 A natureza da avaliação ambiental depende da classificação do projeto em uma das seguintes categorias: • M – projetos ambientais puros; • A – exigem avaliação completa (EIA e RIMA); • B – exigem avaliação específica (licenças e autorizações); • C – em princípio, não exigem avaliação. A classificação A/B/C corresponde, de certa forma, a um rating de risco ambiental, definido logo no início da análise. Não há ainda, no entanto, um procedimento estabelecido para incluir de forma sistemática o risco ambiental no rating oficial de risco que a área de crédito atribui às empresas e projetos. Estudos nesse sentido tem sido desenvolvidos pelos técnicos do banco. Há, ainda, uma lista de verificações por setor de atividade, indicando os principais focos de atenção na análise de impactos ambientais. Bastante específica, ela aponta os seguintes grupos de projetos e recomendações: 1)Projetos Industriais - examinar sempre a adequação dos seguintes sistemas: • de controle da poluição do ar; • de contaminação de águas superficiais, subsuperficiais e subterrâneas; • de tratamento de efluentes líquidos industriais; • e de disposição adequada de resíduos. Verificar também o cumprimento das normas relativas a higiene, segurança e medicina do trabalho. 2)Projetos de Mineração - os impactos poderão ocorrer nas fases de pesquisa, implantação, operação e desativação da jazida. Observar a adequação da tecnologia de lavra e tratamento utilizado, principalmente: • manejo dos rejeitos e estéreis; • processos erosivos; • efeito da dispersão de poluentes; • manejo da cobertura vegetal pré-existente e recomposição geomorfológica e paisagística das áreas mineradas. 3)Projetos de Infra-estrutura - observar a legislação federal e local quanto à exigência de EIA e RIMA e sua abrangência especificada nos termos de referência do projeto. 100 4)Projetos Florestais - deverá ser observada a legislação específica do IBAMA. E quando for o caso, Institutos Estaduais de Florestas e outros órgãos pertinentes. 5)Projetos de Hotelaria - deverão ser observadas as disposições sobre hotéis na Lei Orgânica do respectivo município e a legislação de uso do solo e sobre as áreas de preservação, ecoturismo e lazer. O projeto deverá definir o uso de estação de tratamento de esgotos ou de rede coletora municipal, bem como a forma de disposição de resíduos, privilegiando a coleta seletiva e reciclagem do lixo. 6)Projetos Agropecuários a)observar o percentual de vegetação nativa a ser preservada, incluindo: • matas ciliares, mananciais e áreas úmidas; • proibição de plantio em encostas de elevada inclinação angular; • normas de utilização de biocidas e outras correlatas e as técnicas de utilização racional do solo. b)estimular a reciclagem de nutrientes, utilização de matéria orgânica e biocidas naturais; c)prever a conservação de áreas selecionadas representativas do ecossistema original e examinar registros e autorizações recentes do IBAMA em favor do manejo e da reposição florestal. d)observar recomendações ambientais complementares para melhoria da produtividade: • agroindústrias e cooperativas deverão adotar tecnologias e procedimentos ambientalmente adequados em suas instalações de beneficiamento de leite, abate e processamento de carnes; • desenvolver, em conjunto com centros de pesquisa e órgãos de apoio e fomento tais como Universidades, EMBRAPA e Secretarias de Agricultura, projetos que privilegiem a utilização eficiente de insumos, economia de água e energia; valorização dos resíduos como insumos em outras atividades; tecnologias que visem reduzir a geração de poluentes; sistemas adequados de tratamento de efluentes; disposição segura dos resíduos que não puderem ser reciclados. o 5 Pilar - Existência de uma área específica (AMA) para cuidar do assunto, que, embora pequena, conta com um grupo de profissionais dedicado e motivado. 101 A ação do banco na área de meio ambiente é coordenada pela Assessoria Especial de Meio Ambiente (AMA), vinculada à Área de Planejamento, que atua através da elaboração de estudos e procedimentos, da proposição de ações e formas de apoio e da representação do banco junto a órgãos e eventos externos. A AMA fundamenta o seu trabalho nos conceitos de desenvolvimento sustentável, internalização da variável ambiental e gerenciamento do risco ambiental. Seu quadro atual é formado por 11 pessoas, sendo: • 7 profissionais permanentes; • 2 técnicos do PNUD, cuja permanência depende de renovação do contrato; • 1 estagiário; • 1 secretário. A equipe tem origem e formação básica bastante diversificada, demonstrando entusiasmo pelo trabalho que realiza. Há preocupação da chefia com o constante aperfeiçoamento profissional, concretizado através da participação em cursos, seminários e programas de pós-graduação. Tanto na chefia como nos funcionários mais experientes é clara a postura de atender com alta qualidade às demandas ambientais sem dificultar exageradamente o trabalho das áreas operacionais. Parece haver uma combinação adequada de idealismo e realismo. Em alguns departamentos de operação há o entendimento de que a interação com a AMA poderia ser mais freqüente e intensa, havendo como obstáculo para isso o reduzido tamanho da equipe para atender ao porte e volume de trabalho da instituição. Foram sugeridas alternativas, como formalização e divulgação de orientações aos departamentos, estabelecimento de rotinas e distribuição de listas de verificação. Há cultura ambiental no banco, mas não há prática intensiva de manualização abrangente e detalhada de conceitos e procedimentos. São manualizados os aspectos básicos, sendo o restante decidido por comitês, com exame caso-a-caso. Em alguns departamentos pode haver, por outro lado, certo receio em contatar a AMA e gerar uma demanda muito grande de informações dos projetos, que as empresas geralmente não estão preparadas para fornecer. O tempo da análise dos aspectos ambientais pode ser maior do que o das questões bancárias. Isto poderia emperrar os processos e dificultar, além do necessário, o fechamento das operações. 102 Para atenuar esta dificuldade foi sugerido um programa de treinamento na abordagem ambiental para os analistas dos departamentos, facilitando e agilizando a identificação e solução de problemas desde as etapas iniciais do trabalho. Isto ajudaria a criar e disseminar competências nas diversas áreas. Atualmente a postura predominante nas áreas de operação parece ser a de confiar o julgamento do mérito dos aspectos ambientais à AMA e aos órgãos públicos. A ação da AMA em cada projeto é inicialmente definida já na fase de enquadramento, podendo variar de simples observadora a agente decisivo em uma análise conjunta com os departamentos de análise. Os cinco pilares apontados sustentam a atenção com a questão ambiental nos processos e decisões de financiamento de longo prazo do BNDES, refletida, nos últimos anos, em uma participação ativa no financiamento de projetos e empresas. Nos anos de 1990 a 1994 os desembolsos anuais para projetos ambientais ou componentes ambientais de projetos oscilaram entre US$ 200 e US$ 300 milhões. No período coberto por esta pesquisa, 1995 a 1999, os desembolsos anuais para a área ambiental tiveram um crescimento acentuado, com valores anuais entre US$ 500 milhões e US$ 1,1 bilhão. Alguns exemplos importantes de financiamentos concedidos para investimentos na área ambiental foram: (fonte : Relatório Anual de 1999, página 36) • Siderúrgicas integradas – US$ 158 milhões; • Setor Químico – US$ 23 milhões; • Setor Petroquímico – US$ 51 milhões; • Postos de serviço (ex.: shopping centers) – US$ 6 milhões; • Recuperação de áreas alteradas – US$ 10 milhões; • Pólo Petroquímico de Camaçari – US$ 33 milhões; • Pólo Têxtil de Santa Catarina – US$ 5 milhões; • Iniciativas privadas em programas de despoluição como os do rio Tietê, da Baía de Guanabara, da região metropolitana de Belo Horizonte e do rio Guaíba – US$ 600 milhões; • Programa de apoio à região de Cubatão – US$ 47 milhões; • Suinocultura integrada na Região Sul, com a melhoria do padrão genético e do sistema de tratamento de dejetos – US$ 81 milhões. 103 Vista, no item 4.3.1, a primeira parte da resposta à terceira pergunta da pesquisa, o item 4.3.2. apresenta a segunda parte, referente à relevância da AEIA nas decisões de financiamento de longo prazo de projetos e empresas no Brasil. Como já mencionado anteriormente, o BNDES foi utilizado como base para entender essas decisões de financiamento. 4.3.2.AEIA no Financiamento de Longo Prazo no Brasil As evidências obtidas indicam que a AEIA não foi relevante nas decisões de concessão de financiamentos de longo prazo, não sendo parte da cultura nem da prática do BNDES valorar monetariamente os impactos ambientais para inclusão na avaliação econômica de projetos e empresas. Contrastando com a abrangência e profundidade das análise técnica, financeira e legal, e apesar da intensidade de sua atuação na questão ambiental, o banco não faz avaliação econômica de impactos ambientais, ou seja não atribui valores monetários explícitos aos custos e benefícios ambientais gerados como externalidades pelos projetos e empresas que financia. A análise, neste caso, é essencialmente, descritiva e qualitativa, sem indicativo de valor. O motivo não parece associado às restrições de caráter conceitual discutidas no item 2.4.2. e sim a dois aspectos práticos: • a pequena familiaridade dos profissionais das diversas áreas com os conceitos e a metodologia específicos da AEIA. É ilustrativo notar que esses profissionais tem bom domínio dos conceitos e métodos de avaliação de empresas e projetos revistos no capítulo 2, faltando, talvez, a percepção da AEIA como um desdobramento natural dos temas valor e avaliação econômica. O check-list (Anexo 5) para verificação da utilização pelo banco dos conceitos e metodologias de avaliação de empresas, avaliação social de projetos avaliação econômica de impactos ambientais apresentou indicações claras. Os métodos de avaliação de empresas são, à exceção de Opções Reais, bem conhecidos e utilizados. Os conceitos de avaliação social de projetos são pouco familiares e não utilizados. Os conceitos e métodos de avaliação econômica de impactos ambientais são ainda menos conhecidos, ficando restritos aos profissionais que, por motivos específicos, se interessaram pelo assunto; ! o pouco tempo disponível dos profissionais da AMA para absorver e disseminar os conceitos e métodos, liderando a discussão e eventual 104 introdução da AEIA no banco. A equipe deve participar da discussão e acompanhamento de um número grande de projetos no dia-a-dia do banco, o que consome todo o tempo disponível. Mas ficou a impressão para o pesquisador de que o grupo da AMA, apesar de fazer muito, tem motivação para fazer ainda mais. Também não foi claramente identificado nenhum movimento institucional, gerencial ou técnico no sentido de incorporar a avaliação econômica dos impactos aos procedimentos do banco. Isto parece conflitante com a própria abordagem do Protocolo Verde, do qual o banco é signatário, que observa (PROTOCOLO, 1995, p.2): “No cenário internacional, pode-se perceber uma tendência na gestão ambiental de uma gradual passagem do método tradicional de comando e controle para o da utilização de instrumentos econômicos. ..... os preços dos bens ambientais devem refletir, o mais corretamente possível, os valores que lhes sejam imputados pela sociedade, de forma que se possa cobrar adequadamente pelo uso desses bens, seja de forma direta quanto indireta, via taxas, subsídios, etc.” É interessante notar que a variável ambiental passou a ser considerada pelo banco na análise de projetos há mais de 20 anos, mais precisamente a partir de 1976. Na década de 80 novas ações consolidaram a questão ambiental no banco, como o intercâmbio com o WB e a criação de linhas de crédito específicas para o meio ambiente. Finalmente, a partir do início da década de 90 o banco incorporou o conceito de desenvolvimento sustentável, com o apoio financeiro a investimentos destinados ao controle da poluição, desenvolvimento de tecnologias mais limpas e preservação do meio ambiente. Com toda essa evolução é curioso que não se tenha tentado explorar até o momento a avaliação econômica dos impactos ambientais. A análise do banco é feita pela ótica empresarial ou privada. Uma vez que o impacto ambiental não é monetizado, a parte privada e monetária do projeto é que deve responder pela sua aprovação. Como exemplo, na avaliação de um hotel na região amazônica voltado para turismo ecológico, a viabilidade do projeto deve ser determinada pelos seus benefícios privados, ou seja, as diárias cobradas dos hóspedes. 105 O indicadores mais utilizados para análise de projetos e empresas são Taxa Interna de Retorno(TIR), Valor Presente Líquido(VPL) e capacidade de pagamento. Projetos ambientais típicos tem sua análise restrita à capacidade de pagamento e risco de crédito, já que os indicadores TIR e VPL não podem ser calculados por não ser praticada a AEIA. Examinada a atuação do BNDES, que fornece os elementos decisivos para responder à terceira pergunta da pesquisa, o item 4.3.3 resume as indicações obtidas na análise menos rigorosa feita nos bancos de investimento privados. 4.3.3.Meio Ambiente e AEIA nos Bancos de Investimento Privados Retornando aos procedimentos quantitativos, é interessante observar na Tabela 17 as freqüências e proporções das 10 áreas de atuação consideradas na amostra de 53 bancos de investimento: TABELA 17 – FREQÜÊNCIAS E PROPORÇÕES DAS ÁREAS DE ATUAÇÃO DIVULGADAS NA INTERNET PELOS BANCOS DE INVESTIMENTO PRIVADOS ÁREA DE ATUAÇÃO 1)Meio ambiente No. de BANCOS PROPORÇÃO 0 0,0% 17 32,1% 3)Project finance 4 7,5% 4)Crédito rural e agribusiness 9 17,0% 2)Leasing 106 5)Administração de recursos, gestão de fundos e de risco 49 92,5% 6)Merc. de capitais, underwriting e operações estruturadas 28 52,8% 7)Fusões e aquisições, reestruturações e privatização 20 37,7% 8)Seguros e previdência privada 23 43,4% 9)Câmbio e comércio exterior 25 47,2% 10)Capital de giro 20 37,7% Com base nesses resultados, foi feito teste estatístico de hipótese para a proporção relativa à atuação na área de meio ambiente, com as seguintes hipóteses, descritas no capítulo 3: • H0: há foco nessa área nos bancos de investimento privados (p = 0,10); • H1: não há foco nessa área nos bancos de investimento privados (p < 0,10). A tabela 18 retrata o resultado do teste: TABELA 18 - TESTE ESTATÍSTICO NAS ÁREAS DE ATUAÇÃO DOS BANCOS DE INVESTIMENTO PRIVADOS Total No. de páginas visitadas Meio ambiente % 53 0 Decisão 100,0 -----------------0,0 Rejeitar H0 A análise superficial da atuação dos bancos de investimento indica pouca atenção, nas suas linhas de ação, para o meio ambiente. Mas a metodologia adotada na pesquisa não permite segurança nessa conclusão. Isto, no entanto, não afeta de forma material a resposta à pergunta 3 da pesquisa, dada a forte preponderância do sistema BNDES no financiamento de longo prazo de projetos e empresas no Brasil. Constatada a inexistência aparente de qualquer atuação na área ambiental dos bancos de investimento associados à ANBID, foi feita uma busca adicional voltada para o setor privado, através de matérias na imprensa e da conjugação de palavraschave na consulta `a Internet. 107 O resultado deste processo foi a identificação do Axial Banco, que adota em sua página na Internet o título de “O banco do desenvolvimento sustentável” e apresenta “meio ambiente” como uma das suas áreas principais de atuação. A indicação de pioneirismo é reforçada pela observação de que “Isso faz do Banco Axial o primeiro e único banco do mundo com investimentos na área de meio ambiente”. O Anexo 7 apresenta um extrato do perfil do Axial Banco, conforme encontrado na Internet em outubro e novembro de 2000. Recentemente, as atividades do Axial Banco voltadas para meio ambiente foram absorvidas pelo A2R Fundos Ambientais Ltda., sediado em São Paulo, que atua na obtenção de recursos, tanto participação acionária como financiamentos de longo prazo, para oportunidades de negócio relacionadas ao meio ambiente. Para obter um entendimento da forma de atuar do A2R foi realizada entrevista por telefone com seu Diretor Executivo, Sr. John Michael Forgach, que destacou a importância do elemento financeiro na missão de preservação da Natureza. O fundo é assessorado por um conselho de especialistas em diversos aspectos da questão ambiental e apoia projetos que tenham viabilidade econômica e impacto neutro ou positivo sobre a biodiversidade. Projetos apoiados pelo fundo se tornaram modelo para, por exemplo, extrativismo no Brasil, conjugando geração de renda, cidadania e preservação ambiental. Segundo o seu Diretor Executivo, uma das maiores dificuldades enfrentadas pela instituição é a falta de recursos humanos capacitados para a gestão das atividades. Existem bons projetos e há recursos financeiros para desenvolvê-los, mas faltam profissionais para conduzi-los. Durante a entrevista foi mencionada a postura das universidades como “torres de marfim”, sem sintonia com o mundo real, dificultando a formação e direcionamento desses profissionais. Em pelo menos dois aspectos, portanto, a atuação do A2R parece se aproximar dos objetivos da presente pesquisa: • associação dos conceitos de Economia e Administração(Finanças) com os de meio ambiente; • preocupação com a sintonia entre geração, transmissão e aplicação do conhecimento. O Anexo 8 contem um perfil resumido do A2R. 108 Abordada nos itens 4.3.1. a 4.3.3 a resposta à terceira pergunta formulada, fica como contribuição da pesquisa aos bancos privados e públicos a indicação de que olhem para a questão ambiental como uma oportunidade e não como ameaça, incluindo a AEIA no seu arsenal de instrumentos de seleção de ativos e carteiras de projetos e empresas. Adicionalmente, a criação de “fundos verdes” e de um portfolio de projetos ambientais semelhante ao do A2R poderia se constituir em um cartão de visitas e uma fonte de retornos adequados para o nível de risco envolvido. No âmbito do BNDES, isto talvez pudesse ser conduzido através de uma atuação coordenada com a subsidiária BNDESPAR. Um procedimento preparatório poderia ser a constituição e acompanhamento, durante alguns meses, de uma carteira teórica, de forma a acompanhar o seu desempenho e analisar a conveniência de levá-la para o mundo real. Discutidas as três perguntas básicas da pesquisa, o item 4.4 examina a primeira pergunta complementar. 4.4.Comparação do Tratamento da Questão Ambiental no Brasil e Exterior A primeira pergunta secundária da pesquisa foi: O tratamento da questão ambiental no financiamento de longo prazo de projetos e empresas no Brasil apresenta diferenças relevantes em relação aos padrões internacionais ? Como mencionado anteriormente, o tratamento desta questão utilizou o BNDES para representar o Brasil e WB, IADB e IFC para o entendimento dos padrões internacionais. Nesta etapa as indicações para a resposta surgiram de abordagens qualitativas, mais adequadas para esse aspecto do problema. As características principais da atuação do BNDES na questão ambiental foram examinadas no item 4.3. Nesse momento, portanto, é necessário apresentar um resumo das principais características da atuação ambiental do WB, IFC e IADB, identificadas na pesquisa de campo, para possibilitar a comparação. Isto pode ser visto no item 4.4.1. 4.4.1.Meio Ambiente e AEIA nas Instituições Financeiras Internacionais 109 Em linhas gerais, a questão ambiental apresenta-se com as seguintes características nas instituições internacionais visitadas: 1)The World Bank: • a análise ambiental tornou-se em 1989 um procedimento-padrão para os projetos que buscam financiamento; • as políticas e procedimentos para a avaliação ambiental estão formalizadas e detalhadas em um documento publicado pelo Environment Department em 1991, após ter circulado como esboço para uso durante aproximadamente um ano. O documento está permanentemente aberto para críticas e sugestões dos usuários, que devem ser encaminhadas para o diretor do departamento. A AEIA é tratada explicitamente no capítulo 4, sendo discutidos tanto os métodos como as questões de taxas de desconto e risco;(ENVIRONMENTAL, 1991-v.I) • também manualizadas e detalhadas estão orientações específicas para o tratamento das questões ambientais em diversos setores de atividade, como agricultura, pesca, manejo de floresta, desenvolvimento rural, saúde e nutrição, água e esgoto, estradas, portos e navegação, turismo, empreendimentos imobiliários e coleta e tratamento de lixo; (ENVIRONMENTAL, 1991-v.II) • em volume separado são apresentadas as diretrizes específicas para o exame dos aspectos ambientais de projetos industrias e de energia, como hidroelétricas, termelétricas, oleodutos, usina nucleares, cimento, química e petroquímica, siderurgia, papel e celulose, mineração e petróleo; (ENVIRONMENTAL,1991-v.III) • os projetos são classificados em 3 grupos, em função da análise ambiental recomendada(ENVIRONMENTAL ASSESSMENT- CHALLENGES, 1995): • o • A – requerem análise ambiental completa; • B – requerem análise ambiental parcial; • C – não requerem análise ambiental; processo de análise ambiental é composto de 5 etapas(ENVIRONMENTAL ASSESSMENT- CHALLENGES, 1995): 1)exame inicial, para determinar a natureza e magnitude dos impactos ambientais e decidir a natureza e extensão da análise a ser conduzida, classificando o projeto em um de três grupos(A, B ou C); 110 2)identificação mais precisa dos impactos ambientais e das áreas de influência do projeto. Como parte dessa etapa, informações sobre o projeto e os impactos são passadas para comunidade locais sujeitas aos efeitos e para Organizações Não-Governamentais(ONG), seguindose consultas a representantes desses grupos de interesse. A finalidade dessas consultas é dar ênfase na análise ambiental às questões mais importantes para as comunidades locais a serem afetadas; 3)preparação do relatório de impacto ambiental, no caso de projetos A ou B. Os esboços dos relatórios são discutidos com as ONGs e comunidades potencialmente afetadas; 4)quando o relatório for julgado satisfatório, a equipe de projeto é autorizada a avaliar o projeto, examinando se as recomendações da análise ambiental estão adequadamente tratadas no desenho do projeto e na análise econômica; 5)implantação do projeto, com o monitoramento da implementação dos aspectos ambientais sendo parte do processo de supervisão. Se necessário, são utilizados especialistas em questões ambientais específicas. • os manuais que orientam o tratamento das questões ambientais são regularmente atualizados, através da publicação Environmental Assessment Sourcebook Update, com a clara identificação do volume, capítulo e página que estão sendo expandidos, revistos ou substituídos. As atualizações tiveram início em abril de 1993, tendo como exemplos: • expansão do conceito de análise de impactos ambientais do nível de projetos para o de setores da economia;(SECTORAL, 1993) • integração dos conceitos de saúde pública e segurança na análise;(HEALTH, 1997) • orientação sobre a avaliação de alternativas nos níveis de planejamento regional, setorial e de projeto;(ANALYSIS, 1996) • discussão das relações entre avaliação ambiental e análise econômica, indicando como esta pode incorporar custos e benefícios ambientais;(ECONOMIC, 1998) 111 • houve evolução da fase de avaliação técnica dos impactos ambientais para a de inclusão de valoração monetária, chegando posteriormente à etapa de apropriação, através do GEF; • os profissionais de Economia Ambiental julgam que o mais importante é entender o problema, pois freqüentemente as pessoas não sabem exatamente o que querem avaliar e para que perguntas estão buscando respostas. Identificar o que deve ser avaliado é difícil e fundamental, sendo necessário perceber o que pode ser feito em cada situação específica; • o custo dos estudos é um problema importante, com algumas firmas de consultoria cobrando centenas de milhares de dólares; • a maior parte dos conflitos envolvendo AEIA é com os gerentes de projetos e não com os cientistas; • algumas orientações importantes para o trabalho: • valorar apenas os pontos fundamentais, suficientes para julgar os projetos; • promover a interação entre profissionais com formação em Economia Ambiental e os cientistas, como biólogos e químicos; • desenvolver modelos ou ferramentas específicas; • concentrar-se na definição de uma abordagem sólida e confiável e não em provas teóricas; • perguntar sempre: de onde vieram os números ? o que significam ? há números melhores ? • • detalhar e abrir todos os números importantes; a maior dificuldade é obter os dados, sendo importante examinar o que pode ser feito com os dados disponíveis; • há uma atividade intensa de disseminação do conhecimento adquirido, através das publicações Environment Department Papers, Environment Department Work in Progress, World Bank Environment Papers, ESD Publications e Dissemination Notes; • a AEIA é tratada explicitamente em publicações regulares, que apresentam casos reais de aplicação, como: • estudo de degradação ambiental e de recursos naturais na agricultura intensiva em Bangladesh; (PAGIOLA, 1995) 112 • identificação dos custos da poluição em bacias hidrográficas no Marrocos; (SADOFF, 1996) • avaliação dos benefícios da redução das emissões de óxidos de enxofre em regiões da Eslovênia; (AYRES e DIXON, 1995) • exame de alternativas de gestão de florestas na Malásia; (KUMARI, 1995) • análise econômica do recifes de coral na Indonésia; (CESAR, 1996) • avaliação de projeto para reconstrução e proteção das florestas costeiras na Croácia, destruídas pela guerra; (PAGIOLA, 1996) • há preocupação em publicar também material técnico genérico sobre AEIA e outros aspectos da questão ambiental, discutindo desde metodologia até fundamentos e aspectos conceituais. Exemplos interessantes dessa postura são as seguintes publicações: • discussão de experiências de estratégias ambientais;(NATIONAL, 1995) • revisão das principais questões sobre valoração do meio ambiente;(SERAGELDIN e STEER, 1994) • metodologia e estudo de caso para avaliação de florestas tropicais;(KRAMER, SHARMA e MUNASINGHE, 1995) • utilização da Economia Ambiental e gestão de recursos naturais em países em desenvolvimento; (MUNASINGHE, 1993) • abordagem de valores éticos e espirituais na promoção do desenvolvimento sustentável; (SERAGELDIN e BARRET, 1995) • guia para avaliação de florestas de uso alternativo à extração de madeira; (LAMPIETTI e DIXON, 1995) • metodologia para avaliação de benefícios de reservas marinhas; (HOAGLAND, KAORU e BROADUS, 1995) • adicionalmente, a postura de participar ativamente da busca de alternativas para o financiamento do desenvolvimento sustentável fica clara em uma série de ações e publicações como: • organização de conferências voltadas para a discussão de problemas e soluções para o financiamento em diferentes regiões do mundo e através dos setores público e privado(SERAGELDIN e SFEIR-YOUNIS,1996; SERAGELDIN e MARTIN-BROWN,1996); 113 • revisão da teoria e da prática no financiamento da redução de poluição de diversos tipos e em diferentes países; (LOVEI, 1995) 2)Inter-American Development Bank: • a fase inicial da análise do projeto é a de viabilidade, incluindo os aspectos social e ambiental. Há um comitê de impactos ambientais e sociais, que prepara o Environmental and Social Impacts Review(ESIR); • além de atuar com agente financeiro, apoia a constituição de fundos de capital de risco para projetos ambientais. Publica também estudos sobre mecanismos de financiamento para o desenvolvimento sustentável;(López, 1996) • a Environment Division, subordinada ao Sustainable Development Department(SDD), é responsável pela elaboração de políticas e estratégias ambientais, preparação de análises técnicas, organização de cursos de formação e revisão da qualidade das operações. A responsabilidade pela programação e preparação de novas operações fica a cargo das Divisiones de Medio Ambiente y Recursos Naturales dos Departamentos Regionais. Nesses departamentos, as representações do banco em cada país respondem pela execução dos projetos;(INFORME ANUAL, 1997) • os objetivos e funções da Environment Division, bem como sua equipe e respectivos currículos, são divulgados de forma simples e clara;(THE IDB’s NEW, 1995) • a experiência com AEIA começou nos anos 80, inicialmente com métodos de preços hedônicos. Ao final da década de 80 os estudos passaram a considerar com maior freqüência os métodos de avaliação contingente e custo de transporte(VAUGHAN e ARDILA, 1993). Os conceitos e métodos de AEIA estão claramente apresentados em diversos documentos e estudos, como: • orientações para os gerentes sobre o tratamento da questão ambiental no setor de transporte;(ENVIRONMENTAL ASSESSMENT, 1996) • práticas recomendáveis para o manejo de áreas verdes urbanas e investimentos correlatos;(SORENSEN et al., 1998) • práticas adequadas para a gestão de recursos naturais em bacias hidrográficas;(THE BUSINESS, 1997) 114 • estudo técnico sobre a análise econômica de alternativas para o tratamento de resíduos sólidos;(MALARIN e VAUGHAN, 1997) • anais de seminários promovidos para discutir o uso de instrumentos econômicos para a gestão de recursos hídricos(SEMINAR, 1997) e os investimentos na preservação de biodiversidade;(INVESTING, 1997) • a disseminação de informações e uma das funções importantes do SDD, que tem cinco tipos de publicação; Best Practices and Guidelines, Technical Studies and Conference Proceedings, Strategies and Policies, Books and Magazines e Newsletters.(PUBLICATIONS, 1998) 3)International Finance Corporation: • atualmente as questões ambientais e sociais merecem grande atenção por parte da alta administração. Em 1990 havia 2 pessoas na divisão de meio ambiente, atualmente tem 25; • projetos passam por revisão técnica, social e ambiental. São enquadrados pelo grau de risco/impacto social e ambiental em 3 categorias básicas, A, B, C, além da FI para projetos financiados através de intermediários. Os do tipo A vão para o Conselho do banco (reuniões com 60 a 70 pessoas)para discutir impactos econômicos, sociais e ambientais; • dependendo do tamanho do projeto, a avaliação de impacto ambiental(AIA) pode levar de 2 a 3 anos. Requerem coisas além dos requisitos de cada país; • preparam um documento chamado Environmental Review Summary(ERS), com 5 a 6 páginas, que é enviado ao interessado no projeto para verificação. O ERS vai para o WB e para a Internet, ficando à disposição do público para crítica; • os procedimentos para o tratamento da questão ambiental nos projetos são formalizados em um documento que apresenta políticas, diretrizes, etapas do processo e exemplos;(PROCEDURE, 1998) • os princípios da Economia Ambiental são bem aceitos, mas não há prática disseminada de valoração de impactos. Desenvolvem AIA há aproximadamente 20 anos, mas sem quantificação econômica. Estão nos estágios iniciais no uso de AEIA, desenvolvendo ferramentas para integrar impactos físicos e econômicos sobre o meio ambiente; 115 • preparam pessoas nos bancos com que interagem para os estudos ambientais, mas o tempo é curto e as pessoas, em geral, não tem formação para se sentirem seguras na preparação do ERS; • grupo de meio ambiente do IFC selecionado com base na experiência em avaliação de impacto ambiental, experiência internacional e habilidade técnica. É formado por biólogos, engenheiros e outros especialistas. Há dúvidas quanto à questão de ter os especialistas dentro de casa ou contratar como consultores. As atividades são coordenadas pela Environment Division, que faz parte do Technical and Environment Department e é constituída de duas unidades, Environmental Review Unit e Environment Project Unit. Revistas as características principais da atuação ambiental das instituições financeiras internacionais escolhidas, o item 4.4.2 tenta responder à primeira pergunta secundária formulada na pesquisa. 4.4.2.Existem Diferenças Relevantes em Relação aos Padrões Internacionais ? A resposta é positiva e a primeira e principal diferença parece estar exatamente na valoração dos efeitos ambientais por algumas instituições internacionais. Fica como contribuição da pesquisa a sugestão de que o BNDES e os bancos de desenvolvimento regionais examinem a possibilidade e a conveniência de incorporar este tipo de análise, fornecendo treinamento adequado para suas equipes. A prática da AEIA poderia se concentrar nos métodos, setores e atividades em que o conhecimento internacional está mais estabelecido, evitando-se as questões de solução mais complexa. Nas 15 entrevistas realizadas durante a fase internacional da pesquisa, detalhadas no item 3.2.1, surgiram as seguintes indicações, que poderiam orientar as fases iniciais da utilização da AEIA: 1. métodos de AEIA mais úteis e adequados para aplicação prática na avaliação de projetos e empresas: • métodos de preferências reveladas, baseados em observações do comportamento do mercado, com a utilização de ferramentas estatísticas. Suas rotinas de pesquisa são bem estabelecidas. 2. setores e atividades em que a aplicação da AEIA pode ser feita com maior segurança e menor controvérsia: 116 • erosão de solos; • efeitos sobre a saúde(mortalidade e doença); • suprimento de água; • infra-estrutura; • poluição do ar; • turismo voltado para recursos naturais. 3. setores e atividades em que a aplicação da AEIA envolve questões ainda de difícil solução: • determinação de valores intrínsecos; • preservação de espécies e biodiversidade; • ecossistemas. Uma possibilidade seria, na fase inicial, fazer a AEIA de alguns projetos apenas a título de ilustração e aprendizado, sem interferir nos prazos e decisões dos financiamentos. Com a consolidação do conhecimento, a AEIA poderia ser gradativamente incorporada à análise, com duas considerações: • utilizá-la como elemento da decisão e não como regra de decisão; • reservá-la para os projetos de maior porte ou impacto, em função do custo e do tempo envolvidos. Adotando a AEIA, tornar-se-ia possível estimar TIR e VPL dos projetos ambientais, colocando sua análise em sintonia com o restante dos projetos do banco. Outra diferença relevante em relação aos padrões internacionais é a prática de alguma instituições de colocarem para exame e discussão com a sociedade civil, através da Internet ou de outros meios, os estudos de impactos ambientais de projetos e empresas solicitantes de financiamento. Esta pode ser uma alternativa para as instituições brasileiras, sendo necessário, no entanto, verificar a existência de eventuais conflitos com as leis de sigilo bancário. Concluída a comparação com os padrões internacionais, resta examinar, no item 4.5, a segunda e última pergunta secundária da pesquisa. 4.5.Os Possíveis Aperfeiçoamentos na Metodologia Brasileira A última pergunta complementar da pesquisa foi: 117 Existem aperfeiçoamentos operacionalizáveis a curto e médio prazos na metodologia brasileira, que possam contribuir para maior qualidade nas decisões de financiamento de longo prazo de projetos e empresas ? Uma vez mais a resposta parece ser positiva, com duas possíveis sugestões tendo sido apresentadas no item 4.4. Mas diversos outros aperfeiçoamentos, mais nas práticas e processos do que na metodologia, podem ser sugeridos, tendo como referência o BNDES. São eles : • maior formalização dos procedimentos em manuais de orientação, atualizados periodicamente, com divulgação para as áreas operacionais. Além de facilitar o trabalho do dia-a-dia, isto contribuiria para a geração de críticas e sugestões e reduziria o custo e o risco de perda de conhecimento quando da transferência ou afastamento de funcionários. Ajudaria, também, no treinamento dos novos funcionários que viessem a ingressar no banco, em sintonia com o planejamento estratégico de recursos humanos; • mais ênfase na preparação de publicações técnicas e de estudos de casos, para disseminar o conhecimento sobre meio ambiente no banco, nos clientes potenciais e na sociedade em geral(aproveitar a experiência que o banco tem na preparação e divulgação de estudos setoriais); • reforçar critério para seleção da equipe responsável por meio ambiente, baseado na reunião de profissionais especializados, com competências diversas e complementares, como engenheiros, biólogos e economistas; • manter um programa institucional de formação em meio ambiente para as áreas operacionais, incluindo cursos, seminários, discussões de casos concretos da atuação do banco e um fluxo de informações periódicas (vale lembrar o item 8 da Carta de Princípios para o Desenvolvimento Sustentável, Anexo 1, página 18, do Protocolo Verde : “ A execução da política ambiental nos bancos requer a criação e treinamento de equipes específicas dentro dos seus quadros”); • realizar seminários para empresários interessados em obter financiamentos; • criar alguma descentralização operacional, com a colocação de um profissional de meio ambiente na equipe dos departamentos cujos projetos são mais sujeitos a impactos ambientais. Isto poderia enriquecer e aprofundar a análise ambiental, além de gerar conhecimento especializado. Esse profissional teria interação técnica com a equipe da AMA; 118 • incluir formalmente o risco ambiental no risco de crédito utilizado pela Área de Crédito para fazer o rating. As entrevistas realizadas durante a pesquisa de campo indicaram que o banco tem realizado estudos para isso, podendo vir a liderar a geração e difusão desse conhecimento. Adicionalmente, o banco poderia se envolver com as instituições do mercado segurador na discussão e difusão do seguro de riscos ambientais(responsabilidade civil), atuando em outra vertente da gestão do risco; • preparar e distribuir para os departamentos de análise e operações uma lista de verificação com os principais impactos a observar por tipo de projeto, direcionando a atenção dos profissionais responsáveis pelas análises. Esta lista já existe (ver item 4.6) e talvez precise apenas de revisão, formatação e divulgação. Mesmo para a equipe da AMA, principalmente os novos funcionários, poderia ser útil a inclusão, em um manual, de uma descrição dos projetos e fatores geradores de impactos mais freqüentes, juntamente com alguns efeitos que devem ser identificados no início da análise. Roteiros como os de JAMES(1994) e DIXON et al.(1994) podem ser um ponto de partida. Adicionalmente, os relatórios da AMA ou dos departamentos de operações sobre os aspectos ambientais poderiam incluir uma matriz com os aspectos do projeto nas colunas e os efeitos ambientais nas linhas. As células mais relevantes poderiam ser destacadas, dando uma boa análise qualitativa e visual das relações entre o projeto e o ambiente. Isto orientaria : • a revisão inicial e, em casos extremos, o abandono do projeto; • a identificação das necessidades de coleta de dados adicionais; • a definição dos tipos de conhecimento e técnicas para estudar os impactos. Naturalmente, essa ações iriam requerer uma certa quantidade e variedade de recursos, inclusive o tempo dos executivos e técnicos. Esses recursos possivelmente não estão disponíveis no momento e a contribuição da pesquisa se limita a tentar chamar a atenção para essas possibilidades de aperfeiçoamento. Se algumas delas vierem a ser consideradas relevantes pela administração da instituição, será necessário preparar um plano de ação para a sua implementação gradativa ao longo do tempo. 119 Concluída a tentativa de responder, com base nos resultados obtidos, às perguntas básicas e secundárias, cabe sintetizar a contribuição geral da pesquisa, uma vez que as específicas já foram apresentadas ao longo das respostas. Esta contribuição talvez esteja na apresentação da AEIA como um desenvolvimento natural e relevante dos conceitos e modelos de valor e avaliação econômica, usuais tanto nas áreas de Economia, Administração e Finanças das instituições de ensino, como nas instituições dedicadas ao financiamento de projetos e empresas. A esperança e a expectativa são de que isso possa ajudar a criar estímulo, nos meios acadêmico e profissional, para um movimento permanente de geração, difusão, transmissão e aplicação do conhecimento relativo à AEIA. Como conseqüência, espera-se contribuir para a aproximação de todos os que podem se interessar pelo meio ambiente, sejam movidos pelos pensamentos e sentimentos pessoais ou pela busca de oportunidades no “capitalismo natural”. Nessa aproximação pode estar um caminho para o desenvolvimento sustentável do país, das empresas e das pessoas Finalizando as conclusões e recomendações, ficam registrados três pontos-de-vista do autor, consolidados ao longo de todo o trabalho de pesquisa: 1)os aspectos éticos e morais da questão ambiental são de extrema relevância e devem ser fortemente considerados, tanto na formulação de políticas públicas e privadas, como na avaliação de projetos e empresas; 2)a avaliação do aspecto econômico pode ser de grande utilidade, desde que adequadamente associado com a ética e a moral social; 3)como na avaliação de empresas e projetos, o resultado numérico do processo de avaliação econômica de impactos ambientais não produz “valores verdadeiros”, mas bases, referências e evidências para o processo de negociação e decisão. A avaliação está sujeita a nível variado de distorção, em função das condições em que é feita e das características do seu objeto. Mas alguma avaliação explícita, com pressupostos e metodologia claramente definidos, é melhor do que nenhuma, quando todas as indicações passam a ser implícitas e subjetivas. Nenhum método de valoração monetária, no entanto, pode excluir as etapas de julgamento e negociação. Avaliações econômicas podem ser um bom início, mas nunca o final do processo decisório. Restaram para o capítulo 5 algumas sugestões aprofundamentos do trabalho de pesquisa realizado. de desdobramentos ou 120 121 5)SUGESTÕES PARA FUTURAS PESQUISAS A seguir encontram-se alguma extensões possíveis desta pesquisa em trabalhos futuros: • complementar o estudo com a inclusão dos cursos de graduação de primeira linha em Economia e Administração; • ampliar a amostra, incluindo cursos de pós-graduação mais recentes ou de menor avaliação na CAPES, mas que possam ter atuação direcionada para áreas específicas; • abordar outras áreas, além de Economia e Administração, que possam ter envolvimento com os conceitos de valor e avaliação econômica. Os programas de Engenharia de Produção, por exemplo, seriam uma boa alternativa; • examinar outras instituições internacionais, de perfil diferente, para comparar conceitos e procedimentos de maneira mais geral; • incluir uma análise da atuação dos demais bancos públicos signatários do Protocolo Verde (BB, CEF, BNB e BASA); • ampliar a análise dos bancos privados na questão ambiental, utilizando um processo de entrevistas e detalhamento das suas linhas de ação; • avaliar possíveis impactos sobre o custo de capital das empresas decorrentes da redução dos custos e riscos ambientais; • examinar alternativas para a inclusão dos riscos ambientais em sistemas de rating de crédito das empresas, ou, em outra vertente, avaliar problemas e possibilidades associados ao aumento da disseminação do seguro de riscos ambientais(responsabilidade civil); • verificar custos e benefícios associados à introdução de “Selo Verde” no âmbito brasileiro ou do Mercosul. 122 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS : 1999 ACCA ENVIRONMENTAL Reporting Awards - The report of the judges and review of other reporting initiatives. 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