Recomendações da Câmara Técnica Nacional de Medicina Baseada em Evidências do Sistema Unimed Caneta para ablação cirúrgica da fibrilação atrial 1 Recomendações da Câmara Técnica Nacional de Medicina Baseada em Evidências do Sistema Unimed I - Data: 03/2009 II - Especialidade(s) envolvida(s): III - Responsáveis Técnicos: Dr. Alexandre Pagnoncelli*, Dr Carlos Augusto Cardim de Oliveira*, Dra Claudia Regina de O. Cantanheda*, Dra. Izabel Cristina Alves Mendonça*, Dr. Jurimar Alonso*, Dr Luiz Henrique P. Furlan*, Dra. Silvana Márcia Bruschi Kelles*, Dr. Valfredo de Mota Menezes*, Dra. Christiane Guilherme Bretas**, Dra. Lélia Maria de Almeida Carvalho, Bibliotecária: Mariza Cristina Torres Talim**. E-mail para contato: [email protected] Declaração de potenciais de conflitos de Interesses Os membros da Câmara Nacional de Medicina Baseada em Evidências declaram que não mantêm nenhum vínculo empregatício, comercial ou empresarial, ou ainda qualquer outro interesse financeiro com a indústria farmacêutica ou de insumos para área médica. Todos os membros da Câmara Nacional de Medicina Baseada em Evidências trabalham para o Sistema Unimed. *Membro da CTNMBE ** Membro da Câmara Estadual de MBE 2 Recomendações da Câmara Técnica Nacional de Medicina Baseada em Evidências do Sistema Unimed Sumário Resumo .............................................................................................................. 4 1. Questão Clínica ...................................................................................... 6 2. Introdução ............................................................................................... 6 2.1. Aspectos epidemiológicos.................................................................. 6 2.2. Descrição do produto e alternativas terapêuticas .............................. 7 3. Metodologia ............................................................................................ 8 3.1. População envolvida: ......................................................................... 8 3.2. Intervenção: ....................................................................................... 8 3.3. Controle: ............................................................................................ 8 3.4. Resultados (outcomes): ..................................................................... 8 3.5. Bases de dados pesquisadas: ........................................................... 8 4. Resultados ............................................................................................ 11 4.1. Apresentação dos resultados dos estudos selecionados: ............... 11 5. Conclusão e recomendações .............................................................. 17 5.1. Conclusão ........................................................................................ 17 5.2. Recomendação da Câmara Técnica Nacional de Medicina Baseada em Evidências (CTNMBE): ........................................................................ 17 6. Anexos .................................................................................................. 19 7. Referências Bibliográficas: ................................................................. 20 3 Recomendações da Câmara Técnica Nacional de Medicina Baseada em Evidências do Sistema Unimed Resumo A Fibrilação Atrial (FA) é a arritmia sustentada mais freqüente na prática clínica, com prevalência de 0,4% na população geral, aumentando com o avanço da idade. Além disso, é a arritmia cardíaca mais comumente associada à doença da válvula mitral. Sua incidência nos pacientes que serão submetidos ao reparo da válvula mitral varia de 30% a 60%, sendo que a maioria permanece com a arritmia após a cirurgia. 2,3 A presença de FA no pré-operatório de cirurgia da válvula mitral é um preditor independente de redução da sobrevida em longo prazo e sua persistência após a cirurgia pode favorecer a ocorrência de tromboembolismo, podendo reduzir as vantagens de um reparo valvar. Desde a década de 80, uma técnica cirúrgica, conhecida como cirurgia de Cox- Maze ou cirurgia do labirinto tem sido utilizada nos pacientes portadores de doença da válvula mitral e de FA permanente que se submetem à cirurgia para reparo da válvula a fim de impedir a permanência da arritmia. Entretanto a técnica é bastante complexa, impedindo a sua difusão. Com a introdução da ablação por cateter de radiofreqüência no arsenal de tratamento da área cardiovascular, surgiu a possibilidade de associar tal dispositivo à técnica cirúrgica elaborada por Cox. Entretanto, com as evidências disponíveis não é possível concluir que a realização da técnica utilizando a radiofreqüência trará mais benefícios clínicos que a técnica com corte e sutura (convencional). 4 Recomendações da Câmara Técnica Nacional de Medicina Baseada em Evidências do Sistema Unimed Recomendação – As evidências encontradas mostram benefício em relação a manutenção do ritmo sinusal no período pós-operatório com a utilização da técnica de Maze com objetivo de tratar cirurgicamente a Fibrilação Atrial nos pacientes portadores de doença da válvula mitral. Entretanto, as evidências para a utilização da caneta de radiofreqüência, substituindo a técnica convencional de excisão seguida da sutura do miocárdio, são frágeis, não sendo possível concluir que sua utilização seja mais benéfica para o paciente. Considerando o custo da caneta de ablação e a falta de comprovação da sua superioridade em relação à técnica convencional, a Câmara Técnica de Medicina Baseada em Evidências do Sistema Unimed não recomenda sua incorporação até que novos estudos clínicos de boa qualidade metodológica sejam publicados e demonstrem a superioridade da caneta de ablação avaliada em melhora de resultados clínicos. 5 Recomendações da Câmara Técnica Nacional de Medicina Baseada em Evidências do Sistema Unimed 1. Questão Clínica O uso da caneta de ablação por radiofrequência em pacientes portadores de Fibrilação Atrial permanente e doença da válvula mitral, que serão submetidos à cirurgia cardíaca é eficaz e segura? 2. Introdução 2.1. Aspectos epidemiológicos A Fibrilação Atrial (FA) é a arritmia sustentada mais freqüente na prática clínica, com prevalência de 0,4% na população geral, aumentando com o avanço da idade, podendo duplicar a cada década a partir de 50 anos. Pode ser classificada em: Paroxística: episódio com duração de até 7 dias. Geralmente são autolimitados e freqüentemente revertem espontaneamente a ritmo sinusal. Persistente: episódios com duração superior a 7 dias. Nesse caso a interrupção da FA geralmente exige cardioversão elétrica e/ou farmacológica. Permanente: casos em que a arritmia está documentada há algum tempo e que a cardioversão, farmacológica ou elétrica, é ineficaz na reversão a ritmo sinusal 1. Além disso, é a arritmia cardíaca mais comumente associada à doença da válvula mitral. O seu desenvolvimento é um fator de risco independente para o aumento do risco de morte súbita, acidente vascular cerebral (AVC) e de insuficiência cardíaca. A incidência de FA nos pacientes que serão submetidos ao reparo da válvula mitral varia de 30% a 60%, sendo que a maioria permanece com a arritmia após a cirurgia. 2,3 A presença de FA no pré-operatório de cirurgia da válvula mitral é um fator independente de redução da sobrevida em longo prazo e a persistência da FA após a cirurgia pode favorecer a ocorrência de tromboembolismo, podendo reduzir as vantagens de um reparo valvar. Os preditores para a persistência da FA após uma bem sucedida cirurgia são a presença de FA por mais de 01 ano e o átrio esquerdo maior que 50 mm. 4 A partir da década de 80, quando James Cox descreveu a técnica do procedimento de Maze (labirinto) os pacientes portadores de doença da válvula 6 Recomendações da Câmara Técnica Nacional de Medicina Baseada em Evidências do Sistema Unimed mitral e de FA permanente que se submetiam à cirurgia para reparo da válvula, podiam se beneficiar de tal procedimento. A intervenção consistia na realização de incisões e suturas da parede atrial, de forma a isolar os focos ectópicos evitando a propagação desta arritmia. 5 Apesar da evolução da técnica nos anos seguintes - atualmente a técnica executada é o MAZE III - o procedimento aumentava consideravelmente o tempo operatório, o tempo de circulação extracorpórea e de clampeamento aórtico, podendo estar associada a um aumento das taxas de morbi-mortalidade pós-operatória. Com o surgimento da ablação por cateter, utilizando fontes de energia como a radiofreqüência, e seus bons resultados, os cirurgiões cardiovasculares passaram a utilizar esta fonte de energia durante a cirurgia cardíaca para corrigir a FA em pacientes portadores de valvulopatia associada à FA. 2.2. Descrição do produto e alternativas terapêuticas É um dispositivo manual de ablação por radiofreqüência, para ser usado em cirurgia cardíaca. A caneta de ablação por radiofreqüência Cardioblate® é unipolar e possui um sistema de irrigação com soro fisiológico. Não deve ser utilizada em vigência de endocardite bacteriana. As complicações possíveis relacionadas com a produção de lesões pontuais ou lineares no tecido cardíaco, em combinação com uma cirurgia cardíaca aberta são: • Perfuração de tecidos. • Extensão do bypass extracorporal. • Perturbações peri-operatórias do ritmo cardíaco (auriculares e/ou ventriculares). • Complicações embólicas pós-operatórias. • Derrame ou tamponamento pericárdico. • Lesões nos grandes vasos. • Lesões de folhetos valvulares. • Perturbações de condução (nódulo SA/AV). • Episódio de isquemia aguda do miocárdio. 7 Recomendações da Câmara Técnica Nacional de Medicina Baseada em Evidências do Sistema Unimed Segundo dados do sistema de cadastramento e precificação da Câmara Técnica de Materiais da Unimed Mercosul, o preço da caneta de radiofreqüência (cardioblate®) varia de R$ 3.800,00 (três mil e oitocentos reais) a R$ 4.200,00 (quatro mil e duzentos reais). Anexo 1: Registro na Anvisa 3. Metodologia 3.1. População envolvida: Pacientes portadores de fibrilação atrial com indicação de cirurgia cardíaca por outros motivos que não a arritmia (valvular, revascularização coronária), nos quais se propõe realizar a cirurgia de Maze para também corrigir a FA. 3.2. Intervenção: Cirurgia de ablação da FA com a caneta de radiofrequência. 3.3. Controle: Cirurgia de ablação da FA com a técnica convencional (corte e sutura). 3.4. Resultados (outcomes): Recorrência da FA, sobrevida, qualidade de vida. 3.5. Bases de dados pesquisadas: Procedeu-se a busca no Medline, via PubMed. Critérios de seleção dos artigos: foram buscados ensaios clínicos randomizados e revisões sistemáticas e na ausência ou insuficiência destes, foram incluídos outros estudos comparados prospectivos e retrospectivos. 8 Recomendações da Câmara Técnica Nacional de Medicina Baseada em Evidências do Sistema Unimed O quadro abaixo mostra o resultado das buscas. Bases Termos Resultados Estudos Selecionados BIREME http://www.bireme.br/ LILACS Biblioteca Cochrane MEDLINE (via PubMed) www.ncbi.nlm.nih.gov Search ("Catheter Ablation"[Mesh]) AND "Atrial Fibrillation/surgery"[Mesh] AND maze procedure Limits: published in the last 5 years, Humans, Systematic Reviews: Search ("Catheter Ablation"[Mesh]) AND "Atrial Fibrillation/surgery"[Mesh] AND maze procedure Limits: published in the last 10 years, Humans, Clinical Trial 4 1 9 3 (encontrado 2) 5 0 Search ("Catheter Ablation"[Mesh]) AND "Atrial Fibrillation/surgery"[Mesh] AND maze procedure Limits: published in the last 5 years, Humans, Meta-analysis: 13 1 (não encontrado) 2 1 enviadas pelo solicitante 2 2 encontradas em uma referência do solicitante (Santos, Magaly Arrais dos) 2 2 Search ("Catheter Ablation"[Mesh]) AND ("Atrial Fibrillation/surgery"[Mesh]) AND pen Limits: published in the last 5 years, Humans Search cardioblate Field: Title/Abstract, Limits: Humans Referências relacionadas Agências de Tecnologias O grau de recomendação tem como objetivos dar transparência às informações, estimular a busca de evidência científica de maior força e auxiliar 9 Recomendações da Câmara Técnica Nacional de Medicina Baseada em Evidências do Sistema Unimed a avaliação crítica do leitor, o responsável na tomada de decisão junto ao paciente. Nível de Evidência Científica por Tipo de Estudo - “Oxford Centre for Evidence-based Medicine” - última atualização maio de 200113 Grau de Nível de Tratamento/ Recomendação Evidência Prevenção – Etiologia 1A Diagnóstico Revisão Sistemática (com Revisão Sistemática (com homogeneidade) homogeneidade) de Estudos Diagnósticos nível 1 Critério de Ensaios Clínicos Controlados e Diagnóstico de estudos nível 1B, em Randomizados diferentes centros clínicos Ensaio Clínico Controlado e Coorte validada, com bom padrão de Randomizado com Intervalo de referência Critério Diagnóstico testado em um Confiança Estreito Resultados Terapêuticos do tipo “tudo ou único centro clínico Sensibilidade e Especificidade próximas de nada” 100% A 1B 1C Revisão Sistemática (com 2A Revisão Sistemática (com homogeneidade) homogeneidade) de estudos diagnósticos de nível > 2 de Estudos de Coorte Estudo de Coorte (incluindo Ensaio 2B Clínico Randomizado de Menor Qualidade) B Coorte Exploratória com bom padrão de Referência Critério Diagnóstico derivado ou validado em amostras fragmentadas ou banco de dados Observação de Resultados Terapêuticos 2C (outcomes research) Estudo Ecológico Revisão Sistemática (com 3A Revisão Sistemática (com homogeneidade) homogeneidade) de estudos diagnósticos de nível > 3B de Estudos Caso-Controle Seleção não consecutiva de casos, ou 3B Estudo Caso-Controle padrão de referência aplicado de forma pouco consistente C D 4 5 Relato de Casos (incluindo Coorte ou Estudo caso-controle; ou padrão de referência Caso-Controle de menor qualidade) pobre ou não independente Opinião desprovida de avaliação crítica ou baseada em matérias básicas (estudo fisiológico ou estudo com animais) 10 Recomendações da Câmara Técnica Nacional de Medicina Baseada em Evidências do Sistema Unimed 4. Resultados 4.1. Apresentação dos resultados dos estudos selecionados: Tipo de Estudo População Revisão Sistemática N = 3832 Estudos 6 Khargi et al. 2007 Grupo I = 2279 para fontes alternativas, sendo 1652 por radiofreqüência Grupo II = 1553 para técnica do “corte e sutura” Desfechos Avaliar a conversão para ritmo sinusal nos pacientes submetidos à cirurgia cardíaca com procedimento de Maze III, comparando a técnica convencional com a técnica usando fontes de energia, Resultados Ritmo sinusal no pósoperatório foi detectado em 78,3% no grupo I e 84,9% no grupo II (p = 0,03). No subgrupo da radiofreqüência com cateter irrigado o ritmo sinusal alcançado foi de 79%. Mortalidade em 30 dias foi de 4,2% no grupo I e 2,1% no grupo II (p = 0,09). Comentários do autor: Os estudos incluídos apresentavam heterogeneidade no recrutamento dos pacientes e no tratamento, necessitando de vários ajustes estatísticos para a interpretação dos resultados. Comentários do revisor: No grupo II, os pacientes apresentavam menor média de idade (55 anos), que pode favorecer os resultados para este grupo, já que é sabido que a FA tem sua prevalência aumentada com a idade. Houve maior número de procedimentos combinados no grupo I, o quê pode aumentar a mortalidade. NE 2A Estudos Doukas et al 2005 7 Tipo de Estudo População Ensaio clínico randomizado N = 96 pacientes submetidos à cirurgia da válvula mitral apresentando FA permanente*. Grupo I = 48 pacientes submetidos à cirurgia da válvula mitral associada à ablação da FA por radiofreqüência. Grupo II = 48 pacientes submetidos à cirurgia da válvula mitral. Desfechos Resultados Desfecho primário era avaliar presença de ritmo sinusal após 12 meses. Desfecho secundário era avaliar classe funcional (New York Heart Association), capacidade funcional (teste de caminhada), contratilidade atrial, função e dimensão dos ventrículos esquerdos e direitos e níveis plasmáticos de peptídeo atrial natriurético β (BNP). Foram avaliados 89 pacientes, pois ocorreram 03 óbitos no grupo I e 04 no grupo II. Não houve diferenças estatísticas entre os grupos em relação a taxas de complicações pós-operatórias e tempo de permanência hospitalar e em unidade de cuidados intensivos. Após 12 meses 20 pacientes (44%) no grupo da ablação e 2 pacientes (4,5%) no grupo controle encontravam-se em ritmo sinusal (p<0,001). A capacidade funcional 11 Recomendações da Câmara Técnica Nacional de Medicina Baseada em Evidências do Sistema Unimed foi melhor em 12 meses nos pacientes que realizaram a ablação quando comparado ao grupo controle. (p=0,02). Não houve diferença entre os grupos em relação à classe funcional pela NYHA e à mediana dos níveis de BNP. Comentários do revisor: Dos pacientes submetidos à cirurgia, 11% foram submetidos à revascularização miocárdica e 7% à cirurgia tricúspide, concomitantemente à cirurgia mitral, sem que houvesse diferença nos dois grupos. Todos os pacientes permaneciam em uso de amiodarona por pelo menos 3 meses após procedimento cirúrgico, sendo suspensa a medicação se o ritmo fosse sinusal após este período. A avaliação foi feita através do eletrocardiograma a cada 03 meses, sendo que Holter ou eletrocardiogramas extras seriam realizados apenas quando o paciente apresentasse sintomas. Desta forma, os episódios de FA paroxística assintomática podem não ter sido detectados. O grupo II, de comparação, não foi submetido a cirurgia de correção da FA. Portanto, não responde a questão se a técnica com caneta de ablação é superior a técnica de corte e sutura. *Fibrilação Atrial permanente foi definida como FA ininterrupta por pelo menos 6 meses, sem evidências de reversibilidade espontânea e que não foi possível conversão para ritmo sinusal através de medicação ou cardioversão elétrica. NE 2B Tipo de Estudo Desfechos Resultados População Ensaio clínico Avaliar segurança, O tempo adicional de 8 Abreu Filho et al bypass cardiopulmonar foi randomizado viabilidade e 2005 efetividade do sistema de 12.3 ± 4.2 minutos N = 70 pacientes para a realização do de ablação por portadores de doença radiofreqüência com procedimento no átrio cardíaca de origem cateter irrigado para direito e de 14.2 ± 5.1 reumática com tratamento cirúrgico da minutos no átrio acometimento da válvula fibrilação atrial esquerdo. Não houve mitral e com FA permanente. mortes no grupo II; no permanente, que serão grupo I houve 2,3% de submetidos à cirurgia mortes (p>0.99). cardíaca para correção da valvulopatia. Houve maior morbidade no grupo I (26,2%) que no Grupo I = 42 pacientes grupo II (21,4%). submetidos à correção da valvulopatia mitral No seguimento de 12 associado ao meses não houve procedimento de Maze III, diferença estatisticamente realizado com a caneta de significativa com relação à abalção. mortalidade. Grupo II = 28 pacientes Maior freqüência de ritmo submetidos à correção da sinusal no grupo I valvulopatia mitral. (p=0.001). Comentários do revisor: O procedimento de Maze III foi realizado nos dois átrios. O grupo II, de comparação, não foi submetido a cirurgia de correção da FA. Portanto, não responde a questão se a 12 Recomendações da Câmara Técnica Nacional de Medicina Baseada em Evidências do Sistema Unimed técnica com caneta de ablação é superior a técnica de corte e sutura. NE 2B Tipo de Estudo Estudos Desfechos Resultados População 9 Akpinar et al. Ensaio clínico Um paciente de cada grupo 2003 randomizado teve que ser reoperado no Avaliar efetividade e pós-operatório devido a N = 67 pacientes com viabilidade. sangramento. doença da válvula mitral e FA permanente, que serão Um paciente no grupo I e submetidos à cirurgia com dois pacientes do grupo II mini-toracotomia e com foram readmitidos com sistema de circulação tamponamento cardíaco. extracorpórea endovascular (portNo 1º mês de access). acompanhamento houve uma morte em cada grupo Grupo I = 33 pacientes não relacionada com a submetidos à cirurgia cirurgia. combinada com procedimento Maze III No seguimento houve uma realizado com a caneta de morte no grupo I, não ablação. relacionada a causa cardiovascular (acidente de Grupo II = 34 pacientes trânsito). submetidos à cirurgia. No grupo II houve uma morte súbita considerada de origem cardíaca e outra por evento tromboembólico cerebral. Excluídos os pacientes com disfunção ventricular esquerda, átrio esquerdo gigante, deformidades torácicas, doença coronariana, insuficiência aórtica, aderências pulmonares e pacientes com doença da artéria ilíaca. No grupo I todos os pacientes ficaram livre de FA no período intra-operatório, 81% estavam sem FA na alta hospitalar, 87,2% em 6 meses, 93,6% em 12 meses e 92% em mais de 12 meses. No grupo II 41% dos pacientes ficaram livres de FA no período intraoperatório, 15,2% estavam sem FA na alta hospitalar, 9,4% em 6 meses, 9,4% em 12 meses e 7,6% em mais de 12 meses (p=0.0001). A capacidade funcional aumentou em ambos os grupos de forma significativa (p<0.001). Comentários do revisor: Não há explicação de como foi realizada a aleatorização dos pacientes. O procedimento de Maze III foi realizado nos pacientes do grupo I, sendo no átrio esquerdo em 24 pacientes e biatrial em 09. O esquema de antiarrítmico no pós-operatório foi diferente para os dois grupos: o grupo I recebeu amiodarona por 03 meses com retirada progressiva e o grupo II recebeu 13 Recomendações da Câmara Técnica Nacional de Medicina Baseada em Evidências do Sistema Unimed amiodarona por 12 meses, sendo que os pacientes que permaneceram em ritmo sinusal continuaram com a medicação. O grupo II, de comparação, não foi submetido a cirurgia de correção da FA. Portanto, não responde a questão se a técnica com caneta de ablação é superior a técnica de corte e sutura. NE 2B Estudos Tipo de Estudo População 10 Deneke et al. 2002 Ensaio clínico randomizado. Desfechos Avaliar o ritmo no pósoperatório como desfecho principal. Avaliar resultados clínicos, sobrevida, função de transporte atrial e capacidade funcional. N = 30 pacientes com idade média de 68 anos e doença da válvula mitral e FA permanente com indicação cirúrgica de substituição da válvula mitral Grupo I = 15 pacientes submetidos à troca da válvula mitral associada ao procedimento de Maze realizado com a caneta de abalção. Grupo II = 15 pacientes submetidos à troca da válvula mitral isolada Resultados No 1º dia de pósoperatório estavam em ritmo sinusal 53,4% dos sobreviventes do grupo I e 26,6% dos sobreviventes do grupo II. Após 12 meses estavam ritmo sinusal 81,8% dos sobreviventes do grupo I e 21,4% dos sobreviventes do grupo II. Houve 4 mortes no grupo I, sendo apenas uma não relacionada à doença cardíaca ou ao procedimento realizado, e 1 morte no grupo II, de origem não cardíaca (p=0,13). Houve melhora da função atrial nos pacientes com ritmo sinusal de ambos os grupos (p=0.53). Houve melhora da capacidade funcional em ambos os grupos (p=0.53). Comentários do revisor: Não há descrição do processo de randomização. O seguimento foi de 12 meses, sendo que nos primeiros 06 meses os pacientes fizeram uso de antiarrítmicos. Houve perda parcial de seguimento de 2 pacientes do grupo II, mas ambos apresentavam FA constatada por eletrocardiograma realizado em locais fora do centro investigador. Em caso de persistência da FA foram realizadas até duas tentativas de cardioversão elétrica. O grupo II, de comparação, não foi submetido a cirurgia de correção da FA. Portanto, não responde a questão se a técnica com caneta de ablação é superior a técnica de corte e sutura. NE 2B Tipo de Estudo Estudos Desfechos Resultados População 11 Chiappini et al Quasi experimento 2004 O desfecho primário O tempo médio de N = 70 pacientes era a restauração do seguimento foi de 15 meses (variação de 7-74 submetidos à cirurgia ritmo sinusal após a cardíaca aberta (troca da cirurgia. meses). válvula mitral, plastia Os desfechos secundários eram: tricúspide, troca da Não houve diferença válvula aórtica, correção presença de estatisticamente de defeito do septo contração atrial, 14 Recomendações da Câmara Técnica Nacional de Medicina Baseada em Evidências do Sistema Unimed interatrial ou interventricular), portadores de FA. Grupo I = 30 pacientes submetidos à cirurgia cardíaca + correção cirúrgica da arritmia pela técnica de corte e sutura. Grupo II = 40 pacientes submetidos à cirurgia cardíaca + correção cirúrgica da arritmia com a utilização da ablação por radiofreqüência. eventos adversos e sobrevida. significativa de mortalidade intrahospitalar entre os dois grupos, 6,6% no grupo I (2 pacientes) e 7,5% no grupo II (3 pacientes). O tempo médio de circulação extracorpórea foi de 155,5 ± 40,4 minutos no grupo I e 126,3 ± 31,5 minutos no grupo II (P=0,002), enquanto que o tempo médio de pinçamento da aorta foi de 113,3 ± 26,1 no grupo I e 104,8 ± 31,5 no grupo (p=0,23). A taxa cumulativa de ritmo sinusal foi de 68,9% nos pacientes do grupo I e 88,5% nos pacientes do grupo II (p=0,53). A taxa de restauração da contração atrial foi semelhante nos dois grupos. Não houve diferença entre os dois grupos quando avaliada a classe funcional pela New York Heart Association (NYHA), embora tenha sido observada melhora de classe funcional em ambos os grupos quando comparada ao período pré-operatório. Comentários do autor: O estudo apresenta as seguintes limitações: estudo retrospectivo e não randomizado, a análise da contração atrial foi feita pelo ecocardiograma transtorácico que pode gerar informação imprecisa, especialmente em pacientes portadores de prótese valvar, episódios de FA assintomática podem ter não ter sido detectados. Comentários do revisor: O estudo foi realizado no decorrer de 07 anos, sendo o grupo I incluído no período de Abril de 1995 a Março de 2001 e o grupo II no período de Abril de 2001 a Junho de 2002. Desta forma, a curva de aprendizagem pode interferir nos resultados do trabalho. NE 2C Tipo de Estudo Estudos Desfechos Resultados População 12 Lall et al Quasi experimento Tempo de O tempo de pinçamento 2007 pinçamento aórtico; aórtico foi maior no grupo N = 242 pacientes Tempo de I quando comparado ao 15 Recomendações da Câmara Técnica Nacional de Medicina Baseada em Evidências do Sistema Unimed submetidos à ablação cirúrgica da FA. Grupo I = 154 pacientes submetidos à ablação cirúrgica da FA pela técnica tradicional com corte e sutura. Grupo II = 88 pacientes submetidos à ablação cirúrgica da FA utilizando ablação por radiofreqüência e crioablação. internação em UTI; Mortalidade em 30 dias; Implante de marcapasso permanente e AVC; grupo II, 121 + 34 min x 76 + 37 respectivamente (p<0,001). Não houve diferença significativa entre os grupos em relação ao tempo de internação em unidade intensiva, mortalidade em 30 dias, implante de marcapasso permanente e AVC. A sobrevida em 1 ano foi de 94% no grupo I e de 89% no grupo II (p=0,19). A taxa de pacientes em ritmo sinusal no final do seguimento no grupo I e no grupo II foi de 96% e 93% respectivamente. Comentários do revisor: O tempo de seguimento foi maior no grupo I, cerca de 05 anos, já no grupo II o seguimento foi de aproximadamente 01 ano. O estudo foi realizado no decorrer de 07 anos, sendo possível a interferência da curva de aprendizagem nos resultados do estudo. Outro fator de confusão na avaliação da caneta de ablação é a associação da crioablação no grupo da ablação com a radiofreqüência. NE 2C 16 Recomendações da Câmara Técnica Nacional de Medicina Baseada em Evidências do Sistema Unimed 5. Conclusão e recomendações 5.1. Conclusão Foi encontrada uma revisão sistemática 6 que mostra que os resultados utilizando a técnica de Maze com corte e sutura ou com a caneta de ablação apresentam resultados semelhantes em relação a mortalidade em 30 dias (4,2% no grupo da caneta de ablação e 2,1% no grupo de corte e sutura, p = 0,09). A taxa de ritmo sinusal no grupo que utilizou a radiofrequência foi de 78.3% contra 84.9% no grupo da técnica de corte e sutura (p= 0,03). Entretanto, o grupo que utilizou a técnica de corte e sutura (Cox-Maze III) apresentava diferenças demográficas que são consideradas fatores de bom prognóstico como menor idade média (55 vs 61 anos p= 0,005) e maior frequência de fibrilação atrial paroxística (22,9% vs 8,0) e isolada (19.3% vs 1.6%) do que o grupo submetido a técnica que empregou radiofrequência. Após a correção dessas variações, a taxa de conversão nos dois grupos foi semelhante (p=0.26). Não foram encontrados ensaios clínicos randomizados que comparassem a técnica de Maze da forma original (corte e sutura) com a forma utilizando a caneta de ablação. A maioria dos ensaios clínicos encontrados 7,8,9,10 faz comparação entre os resultados utilizando ou não a técnica de Maze com uso da caneta de ablação, mostrando claro benefício em relação a taxa conversão para ritmo sinusal no pós-operatótio quando se utiliza a técnica, não tendo como objetivo avaliar a caneta. Nesses estudos não houve diferença em relação à capacidade funcional e mortalidade. Em relação ao desfecho complicações pós-operatórias, o estudo de Doukas estudo de Abreu Filho 8 7 não demonstrou diferenças, enquanto o demonstrou maior morbidade no grupo que utilizou a caneta de ablação comparado ao grupo que realizou apenas reparo da válvula mitral. 5.2. Recomendação da Câmara Técnica Nacional de Medicina Baseada em Evidências (CTNMBE): 17 Recomendações da Câmara Técnica Nacional de Medicina Baseada em Evidências do Sistema Unimed As evidências encontradas mostram benefício em relação à manutenção do ritmo sinusal no período pós-operatório com a utilização da técnica de Maze com objetivo de tratar cirurgicamente a Fibrilação Atrial nos pacientes portadores de doença da válvula mitral. Entretanto, as evidências para a utilização da caneta de radiofreqüência, substituindo a técnica convencional de excisão seguida da sutura do miocárdio, são frágeis, não sendo possível concluir que sua utilização seja mais benéfica para o paciente. Considerando o custo da caneta de ablação e a falta de comprovação da sua superioridade em relação à técnica convencional, a Câmara Técnica de Medicina Baseada em Evidências do Sistema Unimed não recomenda sua incorporação até que novos estudos clínicos de boa qualidade metodológica sejam publicados e demonstrem a superioridade da caneta de ablação avaliada em melhora de resultados clínicos. 18 Recomendações da Câmara Técnica Nacional de Medicina Baseada em Evidências do Sistema Unimed 6. Anexos Anexo 1 – Registro da Anvisa Nome da Empresa: CNPJ: Produto: Modelo Produto Médico: Registro: Processo: Origem do Produto Vencimento do Registro: MEDTRONIC COMERCIAL LTDA 01.772.798/0001-52 Autorização: 1033919 CANETA DE ABLACAO CIRURGICA CARDIOBLATE MEDTRONIC Nenhum Modelo Encontrado! 10339190305 25351.210415/2007-15 FABRICANTE : MEDTRONIC CARDIAC SURGERY TECHNOLOGIES - ESTADOS UNIDOS DISTRIBUIDOR : MEDTRONIC BV - HOLANDA (PAÍSES BAIXOS) DISTRIBUIDOR : MEDTRONIC, INC. - ESTADOS UNIDOS 06/08/2012 19 Recomendações da Câmara Técnica Nacional de Medicina Baseada em Evidências do Sistema Unimed 7. Referências Bibliográficas: 1. Sociedade Brasileira de Cardiologia.Diretriz de fibrilação atrial. Arq Bras Cardiol [série online] 2003 [Acesso em 2 jul. 2007] 81 suppl 6. Disponível em: http://publicacoes.cardiol.br/consenso/2003/site/052.pdf. 2. Handa N, Schaff HV, Morris JJ, Anderson BJ, Kopecky SL, Enriquez-Sarano M. Outcome of valve repair and the Cox maze procedure for mitral regurgitation and associated atrial fibrillation. J Thorac Cardiovasc Surg 1999;118(4): 628 –35. 3. Raanani E, Albage A, David TE, Yau TM, Armstrong S. The efficacy of the Cox/maze procedure combined with mitral valve surgery: a matched control study. Eur J Cardiothorac Surg 2001;19(4): 438–42. 4. American College of Cardiology/American Heart Association Task Force on Practice Guidelines; Society of Cardiovascular Anesthesiologists; Society for Cardiovascular Angiography and Interventions; Society of Thoracic Surgeons, Bonow RO, Carabello BA, et al. ACC/AHA 2006 guidelines for the management of patients with valvular heart disease: a report of the American College of Cardiology/American Heart Association Task Force on Practice Guidelines (writing committee to revise the 1998 Guidelines for the Management of Patients With Valvular Heart Disease): developed in collaboration with the Society of Cardiovascular Anesthesiologists: endorsed by the Society for Cardiovascular Angiography and Interventions and the Society of Thoracic Surgeons. Circulation 2006;114(5); e84-e231. 5. Henry L, Ad N. The Maze procedure: a surgical intervention for ablation of atrial fibrillation. Heart Lung 2008;37(6): 432- 9. 6. Khargi K, Keyhan-Falsafi A, Hutten BA, Ramanna H, Lemke B, Deneke T. Surgical treatment of atrial fibrillation: a systematic review. Herzschrittmacherther Elektrophysiol 2007;18(2): 68-76. 7. Doukas G, Samani N, Alexiou C, Oc M, Chin DT, Stafford PG et al. 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