2 lesão renal aguda (lra) em unidades de terapia intensiva

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INSTITUTO BRASILEIRO DE TERAPIA INTENSIVA – IBRATI
SOCIEDADE BRASILEIRA DE TERAPIA INTENSIVA – SOBRATI
MESTRADO PROFISSIONALIZANTE EM TERAPIA INTENSIVA
AGNA ROBERTA RODRIGUES DE SOUSA
LESÃO RENAL AGUDA NA UNIDADE DE TERAPIA INTENSIVA: ESTRATÉGIAS
DE PREVENÇÃO
TERESINA/PI
2015
AGNA ROBERTA RODRIGUES DE SOUSA
LESÃO RENAL AGUDA NA UNIDADE DE TERAPIA INTENSIVA: ESTRATÉGIAS
DE PREVENÇÃO
Dissertação apresentada ao Programa de PósGraduação em Terapia Intensiva, do Instituto
Brasileiro de Terapia Intensiva, como requisito
parcial para obtenção do título de Mestre em
Terapia Intensiva.
Orientador: Prof. M.e Marttem Costa de Santana
Co-orientadora: Prof. M.a Francimeiry dos
Santos Carvalho
TERESINA/PI
2015
AGNA ROBERTA RODRIGUES DE SOUSA
LESÃO RENAL AGUDA NA UNIDADE DE TERAPIA INTENSIVA: ESTRATÉGIAS
DE PREVENÇÃO
Dissertação apresentada ao Programa de PósGraduação em Terapia Intensiva, do Instituto
Brasileiro de Terapia Intensiva, como requisito
parcial para obtenção do título de Mestre em
Terapia Intensiva.
Orientador: Prof. M.e Marttem Costa de Santana
Co-orientadora: Prof. M.a Francimeiry dos
Santos Carvalho
Aprovada em: 30/08/2015
BANCA EXAMINADORA
Marttem Costa Santana
____________________________________________________
Presidente(Orientador)
Edilson Gomes de Oliveira
__________________________________________________
Examinador 1
Vicença Maria Azevedo de Carvalho Gomes
____________________________________________________
Examinadora 2
TERESINA/PI
2015
AGRADECIMENTOS
Agradeço...
À Deus por todas as bênçãos recebidas, por me sustentar em suas mãos para que eu
não tropesse em meio às diversidades e provações.
À minha família pelo apoio nos momentos difíceis, confiança e amor, por me
ensinarem a persistir nos meus objetivos ajudando a alcançá-los, vocês são os responsáveis
por essa conquista, Amo vocês!
Aos meus orientadores Marttem e Francimeiry pelas sábias palavras, orientações,
compreensão e pelas valiosas contribuições para o desenvolvimento desse trabalho. Sou
muito grata por sua confiança e seus ensinamentos.
Meu carinho e gratidão, à equipe do IBRATI vocês foram mestres e amigos, foram
peças fundamentais para o alastramento dos conhecimentos ao longo dessa trajetória.
Enfim agradeço a todos que de forma direta ou indireta me auxiliaram para a
concretização dessa conquista.
RESUMO
Considerada como uma enfermidade complexa, a Lesão Renal Aguda (LRA) é caracterizada
pela perda rápida no ritmo de filtração glomerular, retenção de produtos nitrogenados e
distúrbios hidroeletrolíticos. Os fatores de risco para o desenvolvimento da LRA na UTI são
eventos isquêmicos, nefrotóxicos, infecciosos, obstrutivos, hipotensão arterial, choque,
insuficiências cardiovasculares, hepática e respiratória, neoplasias e tempo médio de
internação superior a sete dias. O diagnóstico precoce e a instituição de medidas terapêuticas
adequadas a cada situação clínica podem alterar o curso e a gravidade do envolvimento renal,
reduzindo a morbimortalidade do paciente. O objetivo do presente estudo: Investigar, nas
evidências disponíveis na literatura, as estratégias de cuidados preventivos da equipe
interdisciplinar para Lesão Renal Aguda em Unidades de Terapia Intensiva. Para o
desenvolvimento desse estudo, foi utilizada pesquisa do tipo revisão de literatura tendo como
fonte de dados os artigos disponíveis nos websites da Biblioteca Virtual de Saúde (BVS),
Jornal Brasileiro de Nefrologia, Revista Brasileira de Enfermagem e de Terapia Intensiva,
Revista da Associação Médica Brasileira, publicados em português entre os anos de 2006 a
2015. Ao buscar as Bases de Dados Virtuais em Saúde e livros que reportassem a temática da
prevenção da Lesão Renal Aguda, foram escolhidos 16 trabalhos. Após a leitura dos mesmos,
foi possível observar o consenso de diversos autores a respeito das medidas preventivas da
Lesão Renal Aguda em pacientes de Unidade de Terapia Intensiva. Para a redução do alto
índice de mortalidade, mostra-se necessária a criação de programas eficazes de prevenção de
LRA, com monitorização clínica cuidadosa. Percebeu-se que, a atuação da equipe
interdisciplinar na prevenção da Lesão Renal Aguda é fundamental para estabelecer um plano
de cuidados e intervenções da maneira adequada e que contemplem as necessidades e
respeitem as particularidades de cada paciente. Os planos de cuidados são fundamentados
cientificamente, proporcionando segurança, meios de avaliação e qualidade no tratamento.
Palavras chave: Lesão Renal Aguda. Unidade de Terapia Intensiva. Prevenção.
ABSTRACT
Considered as a complex illness, acute kidney injury (AKI) is characterized by the rapid loss
in glomerular filtration rate, retention of nitrogen products and electrolyte disturbances. Risk
factors for the development of AKI in ICU are ischemic events, nephrotoxic, infectious,
obstructive, hypotension, shock, cardiovascular, liver and respiratory, cancer and mean
hospital stay longer than seven days. Early diagnosis and institution of appropriate treatment
for each clinical situation can alter the course and severity of renal involvement, reducing the
morbidity and mortality of the patient. The purpose of this study: To investigate, the evidence
available in the literature, preventive care strategies interdisciplinary team for Acute Renal
Injury in intensive care units. For the development of this study, research type review of the
literature taking as data source we used the items available on the websites of the Virtual
Health Library (VHL), the Brazilian Journal of Nephrology, Journal of Nursing and Intensive
Care, Journal of Association Brazilian medical, published in Portuguese in the years 2006 to
2015. In seeking Virtual Databases Health and books reportassem the issue of prevention of
acute kidney injury, were chosen 16 works. After reading the same, we observed the
consensus of several authors about the preventive measures of acute kidney injury in intensive
care unit patients. To reduce the high mortality rate, it appears to be necessary to create
effective programs for prevention of AKI, with close monitoring. It was felt that the work of
the interdisciplinary team in the prevention of acute kidney injury is critical to establish a care
and intervention plan properly and that address the needs and respecting the particularities of
each patient. Care plans are scientifically based, providing security, means of assessment and
quality treatment.
Key words: Acute Renal Injury. ICU. Prevention.
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................... 7
1.1Objetivos................................................................................................................................9
2 LESÃO RENAL AGUDA (LRA) EM UNIDADES DE TERAPIA INTENSIVA ......... 10
Insuficiência Renal Aguda: causas pré-renal........................................................................... 12
Insuficiência Renal Aguda: causas renais ................................................................................ 13
Insuficiência Renal Aguda: causas pós-renal .......................................................................... 14
3 ASPECTOS METODOLÓGICOS .................................................................................... 16
4 ESTRATÉGIAS DE PREVENÇÃO DA LESÃO RENAL AGUDA NA UNIDADE DE
TERAPIA INTENSIVA ......................................................................................................... 17
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS .............................................................................................. 22
REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 23
7
1 INTRODUÇÃO
Considerada como uma enfermidade complexa, a Lesão Renal Aguda (LRA) é
caracterizada pela perda rápida no ritmo de filtração glomerular, retenção de produtos
nitrogenados e distúrbios hidroeletrolíticos. Esta síndrome é uma das mais importantes
complicações observadas em pacientes hospitalizados. Fatores celulares, moleculares e
metabólicos se interagem ocasionando complicações graves e como conseqüência aumento na
mortalidade desses pacientes.
A partir da década de 50, as características dos pacientes que sofrem dessa síndrome
alteraram-se. Segundo Carmo (2006), desde o advento da terapia dialítica na Unidade de
Terapia Intensiva (UTI), tem sido observado um contínuo aumento na severidade das doenças
de base que apresentam Insuficiência Renal Aguda como complicação associada. O
comprometimento renal surge como mais uma complicação de uma doença sistêmica, como
sepse, choque prolongado e falência de múltiplos órgãos.
Os fatores de risco para o desenvolvimento da LRA na UTI são: eventos isquêmicos,
nefrotóxicos,
infecciosos,
obstrutivos,
hipotensão
arterial,
choque
(hipovolêmico,
cardiogênico e séptico), insuficiências cardiovasculares, hepática e respiratória, neoplasias e
tempo médio de internação superior a sete dias (BERNARDINA et al., 2008).
Por outro lado, as estratégias de redução na mortalidade ocasionadas pelas doenças
infecciosas e parasitárias resultaram num aumento da expectativa de vida da população,
acometendo assim aumento das doenças crônico-degenerativas, sendo uma delas a
insuficiência renal.
A Lesão Renal Aguda é uma condição comum em pacientes admitidos em Unidade de
Terapia Intensiva. Santos e Marinho (2013) asseveram que as causas da Lesão Renal Aguda
podem ser de origem renal, pré-renal ou pós-renal. A LRA pré-renal é rapidamente reversível
se corrigida a causa e resulta principalmente de uma redução na perfusão renal, causada por
uma série de eventos que culminam principalmente com diminuição do volume circulante e,
portanto, do fluxo sangüíneo renal, como por exemplo desidratação (vômito, diarréia, febre),
uso de diuréticos e insuficiência cardíaca; a intra- renal, quando resulta de lesão no
parênquima renal ou glomérulos (agentes nefrotóxicos, isquemia prolongada, processos
infecciosos) entre outros; e a pós renal está associada a obstruções no trato urinário.
8
Uma pesquisa realizada por Santos et al., (2009) informou que a Lesão Renal Aguda
(LRA) em unidade de internação foi cerca de 1,9%, mas em Centro ou Unidade de Terapia
Intensiva (UTI) apresentou incidência de 40%. Carmo (2006) acrescenta que apesar dos
avanços terapêuticos na terapia dialítica, a taxa de mortalidade continua alta, podendo variar
entre 50 e 80% no contexto da falência múltipla de órgãos (FMO), especialmente em
pacientes com hipotensão severa ou síndrome do desconforto respiratório agudo.
Para Santos e Marinho (2013), a Lesão Renal Aguda é uma das complicações mais
comuns no ambiente hospitalar. É uma doença reversível e sua incidência vai variar de acordo
com a gravidade do paciente.
Sendo uma área hospitalar destinada ao atendimento de pacientes graves que precisam
de cuidados complexos e especializados, a UTI possui recursos tecnológicos apropriados para
a monitorização contínua dos sinais vitais, e caso precise, para intervenções em situações de
instabilidade do paciente. É um setor que dispõe de atendimento multiprofissional e
interdisciplinar que também busca prevenir situações indesejadas no decorrer da assistência,
no intuito de promover a qualidade do cuidado intensivo desejado, a todos os seus pacientes.
Contudo, mesmo possuindo tais recursos, as UTI’s possuem altas incidências de
pacientes que desenvolvem LRA e com elevadas taxas de mortalidade. Neste sentido, a LRA
é uma síndrome de grande magnitude no contexto da saúde pública, relacionada ao grande
consumo de recursos humanos e financeiros, com importante impacto na mortalidade dos
pacientes.
O diagnóstico precoce e a instituição de medidas terapêuticas adequadas a cada
situação clínica podem alterar o curso e a gravidade do envolvimento renal, reduzindo a
morbimortalidade do paciente. A Sociedade Brasileira de Nefrologia (2007) reforça a
necessidade de prevenção da LRA, como a opção terapêutica mais eficaz e a atenção às
características da doença crítica como um todo, ao invés da simples preocupação com os
aspectos exclusivamente nefrológicos do tratamento. Santos e Marinho (2013) esclarecem,
que a multiprofissionalidade na complexidade de respostas a problemas de saúde e a
imprescindibilidade dos cuidados de enfermagem exigem a resposta de um profissional
competente.
Diante das altas taxas de incidência de Lesão Renal Aguda nas UTI’s surge a questão
de pesquisa: Quais as estratégias de prevenção realizadas pela equipe interdisciplinar das
UTI’s para Lesão Renal Aguda?
9
Portanto, propôs-se no presente estudo como objetivo: Investigar, nas evidências
disponíveis na literatura, as estratégias de cuidados preventivos da equipe interdisciplinar para
Lesão Renal Aguda em Unidades de Terapia Intensiva.
Como enfermeira especialista em nefrologia e atuante de um centro de diálise, é
possível observar a presença de pacientes com disfunção renal aguda, provenientes da UTI,
que precisam de tratamento hemodialítico. Com isso, despertou-me o interesse de buscar as
evidências disponíveis na literatura sobre as intervenções eficazes na prevenção da Lesão
Renal Aguda em pacientes críticos, e poder apresentar de forma organizada e sistemática para
que possa assim servir de subsidio para o aprofundamento da equipe interdisciplinar que atua
na UTI.
10
2 LESÃO RENAL AGUDA (LRA) EM UNIDADES DE TERAPIA INTENSIVA
Ao estudar a sociedade e a ciência da saúde é possível notar significativas
transformações no perfil epidemiológico da população. Essas mudanças foram impulsionadas
por medidas que reduziram a mortalidade por doenças infecciosas e parasitárias. Dentre elas,
podem ser citadas: medidas de controle e erradicação de epidemias; saneamento básico;
descoberta de antibióticos; e o processo de urbanização/industrialização (SANTOS;
MARINHO, 2013).
Para Oliveira e Alves (2007, p. 477):
Nas últimas décadas, medidas sanitárias específicas como o controle e erradicação
de grandes epidemias, saneamento básico, avanços da antibioticoterapia e da
quimioterapia, entre outras, resultaram em acentuada redução da mortalidade por
causas infecciosas e parasitárias, contribuindo para o aumento da esperança de vida
e envelhecimento da população.
O aumento da expectativa de vida como resultado dessas medidas acima citado, trouxe
por outro lado, aumento das doenças crônico-degerativas, sendo a Lesão Renal uma delas. Os
rins são órgãos responsáveis pela preservação da homeostasia do organismo. Dessa forma, ao
ser acometido por uma doença, o sistema renal pode comprometer o equilíbrio de todo o
organismo e surgir como causa ou complicações de um internamento.
A Unidade de Terapia Intensiva é uma estrutura hospitalar com características
complexas dotada de sistemas de monitoração contínua que recebe pacientes potencialmente
graves com descompensação de um ou mais sistemas orgânicos. De acordo com Pinto et al.,
(2009), a ocorrência da Lesão Renal Aguda em pacientes críticos é um dos principais fatores
de mau prognóstico em relação à sua evolução, notadamente em Unidades de Terapia
Intensiva, a sua prevalência é, em média, de 20% a 30% dos casos.
Souza (2012) afirma que a depender da definição adotada, sua prevalência tem sido
descrita entre 1 e 25% em pacientes internados em unidades de terapia intensiva, com
mortalidade entre 15 a 80%.
O termo “Lesão Renal Aguda” é reconhecido como nomenclatura preferível para a
síndrome clínica previamente conhecida como “Insuficiência Renal Aguda.” Tal mudança na
terminologia enfatiza que o espectro desta síndrome é mais amplo que o termo “insuficiência
renal” sugere, ou seja, compreende um largo espectro de pacientes que não necessariamente
apresentam gravidade a ponto de requerer tratamento dialítico (SOUZA, 2012).
A Acute Dialysis Qualitiy Initiative (ADQI) foi criada por um grupo de especialistas
em terapia intensiva e nefrologistas para desenvolver um consenso e rotinas baseadas em
evidência para o tratamento e prevenção da insuficiência renal aguda. Ao reconhecer a
11
necessidade de uma definição uniforme para insuficiência renal aguda, o grupo ADQI propôs
um consenso de definição graduada, chamado critérios RIFLE (Risk, Injury, Failure). Uma
modificação nos critérios RIFLE foi posteriormente proposta pelo Acute Kidney Injury
Network (AKIN), que incluía o grupo ADQI bem como representantes de outras sociedades
de nefrologia e terapia intensiva. Por causa dessas iniciativas, o termo Lesão Renal Aguda foi
proposto para representar o espectro amplo da insuficiência renal aguda (HUSM, 2011).
Lesão Renal Aguda tem sido proposta em substituição a IRA por ser mais amplo.
Abrange desde pequenas alterações na função renal até mudanças que necessitam de Terapia
de Substituição Renal (TSR) (NUNES et al.,2010).
Definida por Peres, Wandeur e Matsuo (2015, p.39):
A Lesão Renal Aguda (LRA) é uma síndrome caracterizada por uma deterioração
abrupta da função renal que repercute em um rápido declínio na taxa de filtração
glomerular, podendo resultar em acúmulo de metabólitos nitrogenados e distúrbios
hidroeletrolíticos, responsáveis pelas manifestações clínicas heterogêneas nos
pacientes.
Um estudo realizado no Hospital das Clinicas de Botucatu (HC-FMB), a LRA ocorreu
em torno de 1,9% das internações, entretanto, nas UTIs deste hospital este número aumentou
para estimados 30%, com mortalidade dos pacientes em torno de 70% (PONCE et al., 2011).
Isso ocorre devido ao difícil e tardio diagnóstico de LRA, aumento da idade e subsequente
presença de mais comorbidades crônicas dos pacientes e, por fim, utilização intensificada de
procedimentos invasivos (PERES; WANDEUR; MATSUO, 2015).
As causas da Lesão Renal Aguda podem ser de origem pré-renal, renal ou pós- renal.
Pré-renal: é a causa mais comum de azotemia aguda em pacientes hospitalizados, em
porcentagem que varia de 40% a 60% do total de acometimentos por IRA. Não há defeito
estrutural nos rins, simplesmente falta perfusão sanguínea adequada, no leito capilar renal, à
medida que a pressão arterial média cai progressivamente, abaixo de 80 mmHg. O seu
diagnóstico é extremamente importante, já que existe reversibilidade nesses casos, em um a
dois dias e, se persistir, pode levar os rins à lesão denominada de Necrose Tubular Aguda
(NTA) (COSTA; NETO, 2003).
Para Riela (2003, p. 389):
Durante a baixa perfusão renal, o volume urinário diminui e fica altamente
concentrado com nitrogenados e quantidades mínimas de sódio, e é essa habilidade
de retenção de sal e água que distingue basicamente a azotemia pré-renal das causas
parenquimatosas de IRA. Este quadro ocorre devido à redução do fluxo plasmático
renal e do ritmo de filtração glomerular.
O mesmo autor ainda ressalta que a redução na perfusão renal, causada por uma série
de eventos que culminam principalmente com diminuição do volume circulante e, portanto,
12
do fluxo sanguíneo renal, como por exemplo, desidratação (vômito, diarréia, febre), uso de
diuréticos e insuficiência cardíaca.
Síndrome hepatorrenal é uma forma particular e agressiva de IRA que acomete
pacientes com cirrose ou outras hepatopatias, ocorre vasoconstricção intra-renal e retenção
acentuada de sódio. Pacientes com hepatopatia avançada apresentam au-mento no volume
plasmático, mas redução no volume circulante efetivo em consequência da vasodilatação
sistêmica e retenção portal de líquido (NUNES, 2010). No quadro 1, segue as causa da
Insuficiência Renal Aguda (IRA) pré-renal.
Quadro 1 – Insuficiência Renal Aguda: causas pré-renal
1- Hipovolemia: hemorragias, perdas gastrointestinais, terceiro espaço,
queimaduras, sobrecarga de diuréticos, febre.
2- Diminuição do débito cardíaco: arritmias, insuficiência cardíaca
congestiva, infarto agudo do miocárdio, tamponamento pericárdico.
3- Vasodilatação periférica: choque anafilático, bacteremia e
antihipertensivos.
4- Vasoconstricção renal: anestesia, cirurgias, síndrome hepatorrenal.
5- Drogas: agentes antiinflamatórios não hormonais, inibidores da enzima
de conversão da angiotensina, ciclosporina, agentes contrastados para RX.
Fonte: Nunes, 2010.
A causa renal ou intra-renal acontece quando resulta de lesão no parênquima renal
ou glomérulos (agentes nefrotóxicos, isquemia prolongada, processos infecciosos, entre
outros). Riela (2003) informa que causa mais comum de dano tubular é de origem isquêmica
ou tóxica, sendo que as nefrotoxinas depois da isquemia é a causa mais freqüente de IRA. Os
antibióticos aminoglicosídicos, os contrastes radiológicos e os quimioterápicos, como por
exemplo, as cisplatinas estão entre as drogas que podem causar dano tubular diretamente.
A IRA isquêmica possui três fases: início, período inicial de hipoperfusão renal com
duração de horas a dias; manutenção, tipicamente de uma a duas semanas onde ocorre lesão
das células renais com débito urinário e TFG mínimos e a recuperação quando ocorre o reparo
e regeneração das células parenquimatosas renais, pode ocorrer acentuado período poliúrico
(NUNES, 2010). Esse mesmo autor ainda afirma que a IRA renal por nefrotoxinas é
aumentada nos idosos e nos pacientes com doença renal pré-existente. Geralmente é
reversível, previsível e passível de correção se identificada precocemente
Nessa classificação também estão presentes as pielonefrites, glomerolunefrites e a
necrose cortical. No quadro 2, encontra-se as causas da Insuficiência Renal Aguda tipo renal
ou intra-renal.
13
Quadro 2 – Insuficiência Renal Aguda: causas renais
1- Hemodinâmicas (isquêmicas): politraumatismos, hemorragias, choque
séptico, reações a transfusão, hemorragia pós-parto, pancreatite,
gastroenterite.
2- Nefrotóxicas: antibióticos: aminoglicosídeos, tetraciclina, anfotericina,
sulfa, aciclovir, foscarnet. Metais pesados: mercúrio, arsênico, chumbo,
antimônio, ouro. Contrastes radiográficos. Solventes orgânicos:
etilenoglicol, tetracloreto de carbono, tolueno, gasolina, querosene.
Venenos: pesticidas, herbicidas, veneno de cobra,
de aranha e de abelha. Químicos: anilina, cresol. Anestésicos:
metoxiflurano, enflurano.
Agentes antiinflamatórios não hormonais. Agentes nefrotóxicos endógenos:
mioglobina, hemoglobina, metaemoglobina, deposição tubular de cálcio,
ácido úrico e oxalato.
3- Doenças glomerulares e vasculares: glomerulonefrite difusa aguda,
nefrite lúpica, panarterite nodosa, glomerulonefrites, hipertensão maligna,
síndrome hemolíticourêmica, necrose cortical bilateral, trombose arterial
renal bilateral, trombose da veia renal, trauma
vascular, crise esclerodérmica.
4- Nefrite intersticial aguda - antibióticos (penicilina G, meticilina,
ampicilina, sulfa, cefalosporinas, rifampicina); drogas antiinflamatórias não
hormonais; diuréticos (tiazídicos, furosemide); cimetidine, etc.
Fonte: Nunes, 2010.
No grupo da causa pós-renal, está a obstrução intra ou extra-renal por cálculos,
traumas, coágulos, tumores e fibrose retroperitoneal. A obstrução das vias urinárias pode ser
conseqüência de hipertrofia prostática, câncer de próstata ou cervical, bexiga neurogênica
(causa funcional) (RIELA, 2003).
Costa e Neto (2003) esclarecem que essa causa é menos freqüente, em torno de 2 a 4%
entre todas as causas de LRA e pode aumentar para 10% em faixas etárias mais avançadas. A
importância do diagnóstico, nesse grupo, é a reversibilidade da lesão renal.
A obstrução do colo vesical é a causa mais comum e em geral é decorrente de doença
prostática, bexiga neurogênica ou tratamento com anticolinérgicos. Se a obstrução
permanecer por mais de duas a quatro semanas pode ocorrer fibrose intersticial, atrofia
tubular progressiva e nefropatia obstrutiva crônica. O diagnóstico da obstrução é usualmente
feito pela ultrassonografia, com sensibilidade e especificidade de 98% e 78% respectivamente
(NUNES, 2010).
No quadro 3, pode-se verificar as causas mais freqüentes da Insuficiência Renal
Aguda pós- renal.
14
Quadro 3 - Insuficiência Renal Aguda: causas pós-renal
1- Obstrução bilateral dos ureteres: tumores da próstata e cérvix, fibrose
retroperitoneal idiopática, hemorragia retroperitoneal, ligadura acidental
durante cirurgias pélvicas.
2- Obstrução bilateral dos ureteres (intraluminal): cristais de ácido úrico e
sulfa, edema, coágulos, cálculos.
3- Obstrução em bexiga: hipertrofia da próstata, carcinoma de bexiga,
infecção, neuropatia ou bloqueadores ganglionares.
4- Obstrução uretral: válvula congênita, estenose, tumor, funcional.
Fonte: Nunes, 2010.
Segundo Bernardina et at., (2008, p.174), [...] “a associação dos fatores de risco,
evolução clínica e as múltiplas intervenções no paciente na UTI contribuem para a
manutenção das taxas elevadas de morbidade e mortalidade da IRA, sem melhora
significativa nestas taxas há, pelo menos, duas décadas”.
Apesar de ter diversos critérios diagnósticos publicados, Mehta et al., (2002 apud
PERES; WANDEUR; MATSUO, 2015) com o objetivo de uniformizar tais critérios,
definiram LRA como: aumento agudo do nível absoluto de creatinina sérica acima de 0,3
mg/dl ou redução do débito urinário inferior a 0,5 ml/Kg/hora por mais de seis horas.
A Sociedade Brasileira de Nefrologia indica que seja realizado outros exames de
sangue para avaliar: sódio, potássio, cálcio, fósforo, hematócrito, hemoglobina, assim como,
ultrassonografia para esclarecer tamanho, forma, ecogenicidade, simetria, número de rins,
obstrução/estenose vascular e uropatia.
Nunes, 2010 ressalta que a Lesão Renal Aguda pré-renal se manifesta com sede,
hipotensão ortostática, redução de pressão venosa jugular sinais de desidratação. Considere
sempre buscar a causa base, como insuficiência cardíaca avançada, sepse, hepatopatia crônica
com hipertensão portal ou causas de diminuição do volume sanguíneo efetivo, lembrando de
avaliar também uso de IECA e AINEs.
Apesar da IRA renal nefrotóxica e isquêmica corresponderem à maioria dos casos,
estudiosos ressaltam que deve-se buscar, pela história e exame físico, informações que podem
levar ao diagnóstico de outras causas.
Dentre estas informações podemos encontrar: dor no flanco associado há fibrilação
atrial ou IAM recente pensar em oclusão de veia ou artéria renal; presença de nódulos
subcutâneos, placas retinianas, livedo reticularis isquemia digital, manipulação recente da
aorta pode ser indício de ateroembolização; sedimento urinário ativo, edema, hipertensão e
15
oligúria considerar hipótese de glomerulonefrite; hipertensão grave com cefaléia, retinopatia,
papiledema sugerem hipertensão maligna; ingestão recente de drogas, febre, exantema ou
artragias sugerem nefrite intersticial aguda (NUNES, 2010).
A IRA pós-renal costuma apresentar-se com dor suprapúbica ou em flanco associada à
bexiga palpável, dor no flanco em cólica que se irradia para a bexiga pode sugerir obstrução
ureteral; nictúria, polaciúria e hesitação costumam ocorrer na síndrome prostática. O
diagnóstico propriamente dito ocorre com a rápida melhora da função renal após a
desobstrução e realização de exames radiológicos que comprovem essa obstrução (SBN,
2007).
16
3 ASPECTOS METODOLÓGICOS
Para o desenvolvimento desse estudo, foi utilizada pesquisa do tipo revisão de
literatura com intuito de realizar um levantamento a cerca das publicações existentes sobre
prevenção da Lesão Renal Aguda em pacientes na Unidade de Terapia Intensiva.
Os
trabalhos de revisão são definidos por Boccato (2006, p. 266), como:
Estudos que analisam a produção bibliográfica em determinada área temática, dentro
de um recorte de tempo, fornecendo uma visão geral ou um relatório do estado-daarte sobre um tópico específico, evidenciando novas idéias, métodos, subtemas que
têm recebido maior ou menor ênfase na literatura selecionada. Trata-se, portanto, de
um tipo de texto que reúne e discute informações produzidas na área de estudo.
Assim para a realização da revisão foi necessária a pesquisa bibliográfica. Para Pizzani
(2012), a pesquisa bibliográfica é uma das etapas da investigação científica, é o que se chama
de levantamento bibliográfico, a qual pode ser realizada em livros, periódicos, artigo de
jornais, sites da Internet entre outras fontes.
Contudo, o presente estudo utilizou como fonte de dados os artigos disponíveis nos
websites da Biblioteca Virtual de Saúde (BVS), Jornal Brasileiro de Nefrologia, Revista
Brasileira de Enfermagem e de Terapia Intensiva, Revista da Associação Médica Brasileira,
publicados em português entre os anos de 2006 a 2015. Os descritores utilizados foram: Lesão
Renal Aguda; Unidade de Terapia Intensiva; Prevenção.
Após a realização do levantamento bibliográfico, procedeu-se a análise e síntese do
material respeitando as seguintes etapas propostas por Moreira (2004): leituras inspecional do
material com o fim de identificar quais os textos mereciam uma leitura mais atenta e
profunda; estabelecimento e aplicação de roteiro de leitura para analisar como os textos
revisados respondem aos objetivos da revisão de literatura; organização das pesquisas
relevantes segundo os critérios de inclusão; avaliação crítica buscando identificar e agrupar
discordâncias e concordâncias, entre vários autores.
A leitura analítica permitiu relacionar os conhecimentos produzidos gerando a
elaboração de possíveis estratégias para que equipe multiprofissional da Unidade de Terapia
Intensiva possa atuar na prevenção da Lesão Renal Aguda.
A presente revisão de literatura assegura os aspectos éticos, garantindo a autoria dos
artigos pesquisados, utilizando para citações e referências dos autores as normas da
Associação Brasileira de Normas Técnicas - ABNT
17
4 ESTRATÉGIAS DE PREVENÇÃO DA LESÃO RENAL AGUDA NA UNIDADE DE
TERAPIA INTENSIVA
Ao buscar as Bases de Dados Virtuais em Saúde e livros que reportassem a temática
da prevenção da Lesão Renal Aguda, foram escolhidos 16 trabalhos publicados entre 2005 a
2015, utilizando as palavras chaves: Lesão Renal Aguda; Unidade de Terapia Intensiva;
Assistência; Prevenção.
Após a leitura dos mesmos, foi possível observar o consenso de diversos autores a
respeito das medidas preventivas da Lesão Renal Aguda em pacientes de Unidade de Terapia
Intensiva, conforme é possível observar nas falas abaixo.
Diante da alta taxa de mortalidade é necessário a prevenção e o diagnóstico precoce da
Lesão Renal Aguda (LRA) em todos os ambientes hospitalizados, especialmente na Unidade
de Terapia Intensiva (SANTOS e MARINHO, 2013).
Um grande número de LRA provém de atitudes mais agressivas, retardo em medidas
preventivas e desatenção por parte dos médicos que, através de melhor análise do paciente,
evitando o uso de drogas nefrotóxicas, e agindo rapidamente ao menor sinal de complicação,
podem evitar o desenvolvimento do quadro (COSTA e NETO, 2003).
Muitos são os mecanismos fisiopatológicos envolvidos no desenvolvimento e
progressão do comprometimento da função renal e seu entendimento pode, em várias
circunstâncias, ajudar a prevenir a instalação da LRA (BRESOLIN; BANDEIRA;
TOPOROVSKI, 2008).
“Para a redução do alto índice de mortalidade, mostra-se necessária a criação de
programas eficazes de prevenção de LRA, com monitorização clínica cuidadosa” [...]
(GONÇALVES et al., 2012 p 110).
Existem situações clínicas em que é previsível a possibilidade de lesão renal,
tais como, no uso de drogas nefrotóxicas, cirurgias de grande porte, quadros infecciosos
sistêmicos graves e liberação de pigmentos (mioglobina, hemoglobina, bilirrubina). Nestas
situações é possível prevenir ou ao menos amenizar a gravidade da insuficiência renal. (SBN,
2007).
Considerando a alta prevalência e a clara associação da LRA com pior prognóstico, o
desenvolvimento de estratégias de proteção renal torna-se indispensável, especialmente em
pacientes com alto risco para o desenvolvimento de LRA (SANTOS et al., 2014).
18
Para Nunes et al., (2010), como não existe tratamento específico, a prevenção assume
importante papel. A restauração do volume intravascular diminui significativamente a incidência de
LRA após grandes cirurgias, traumatismos, queimaduras e diarréia.
Percebe-se nos estudos acima citados que a atuação da equipe interdisciplinar é
fundamental na vigilância constante aos pacientes críticos em especial aos atendidos na
Unidade de Terapia Intensiva, pois o desenvolvimento da Lesão Renal Aguda pode piorar o
prognóstico, causando complicações que podem levar a morte.
Dessa forma foi elaborado um quadro resumitivo apresentando as estratégias de
prevenção da Lesão Renal Aguda em pacientes sob cuidados intensivos.
Quadro 1- Intervenções de prevenção da Lesão Renal Aguda na Unidade de Terapia
Intensiva
REFERÊNCIA INTERVENÇÕES DE PREVENÇÃO DA LESÃO RENAL AGUDA

SBN(2007)




Berbel
et
al.,
(2011);





SBN (2007)


Nunes (2010)
Smeltzer, Bare

(2011);

Santos
e
Marinho (2013)

Gonçalves



et
al.,(2012);
Smeltzer, Bare
Estabelecer valor basal da função renal por dosagem de creatinina
sérica ou depuração de creatinina. Ideal menor que 1,5mg/dl;
Manter Pressão Arterial Média em 80 mmHg;
Hematócrito acima de 30%;
Evitar uso de drogas nefrotóxicas (aminoglicosídios), em paciente
com função renal já comprometido;
Utilizar solução salina expansora (bicarbonato e manitol) em caso
de mioglobinúria e hemoglobinúria;
Evitar hiperhidratação.
Se possível peso diário.
Prevenir hipercalemia diminuindo ingesta de proteínas, potássio e
evitar drogas que interferem na sua excreção;
Monitorar os marcadores nutricionais: albumina, pré-albumina.
Monitorar a ingesta de líquidos e eletrólitos, orientação dietética
deve controlar também algumas conseqüências da uremia.
Nutrição enteral ou parenteral deve ser instituída assim que possível.
Controlar a infusão de grandes quantidades de aminoácidos e glicose, na
fase inicial da LRA, pois pode aumentar o consumo renal de oxigênio,
agravando a lesão tubular e a disfunção renal.
Monitorar os níveis de eletrólitos séricos, balança hídrico,
observação constante do débito urinário;
Monitorar estado hemodinâmico: PVC- Prevenção Venosa
Central, Saturação Venosa Central de Oxigênio (SvO2), PAPPressão Arterial Pulmonar, PCP- Pressão do Capilar Pulmonar;
Manter oxigenação tecidual adequada, níveis de gasometria
arterial.
Fornecer hidratação adequada;
Evitar e tratar de imediato o choque, hipotensão, infecções, febre;
Dar atenção especial as feridas, queimaduras e outras situações que
possam levar a sépsis;
19

(2011)



Sousa
et
al.


(2010)
Silva (2006)

Cuidado meticuloso com sonda vesical de demora retirá-la assim
que possível;
Assegurar o emprego de técnicas assépticas durante os
procedimentos;
Manter técnica de isolamento, quando necessário;
Administrar medicamentos: vasodilatadores e/ou vasoconstritores
antiarrítmicos, antibióticos, antifúngicos adequadamente;
Monitorar SSVV com freqüência.
Acompanhar e tratar as doenças de base como: Insuficiência
Cardíaca descompensada, choque cardiogênico, sepse, disfunção
hepática, obstruções urinárias.
Avaliar a eficácia dos protocolos implantados nos serviços de
saúde com estudos, pesquisas e atualizações na busca de reduzir
óbitos.
Fonte: elaborado pela pesquisadora, 2015.
Sabemos que as alterações mais evidentes na LRA são a queda da filtração glomerular
e as lesões nas células tubulares renais. As alterações patológicas nas células tubulares renais
ocorrem basicamente em virtude da isquemia e da hipóxia. Nesse contexto, parece uma opção
razoável o uso de drogas que possam aumentar o fluxo sanguíneo renal, elevando a TFG.
Caso não seja possível atingir a pressão arterial média adequada mesmo com a volemia
otimizada, deve considerar o uso de drogas vasoativas. Entre as drogas com esse efeito, a
noradrenalina é preferencial em relação a dopamina. (SANTOS et al.,2014).
Esses mesmos autores ainda afirmam que a hidratação e a alcalinização urinária com
bicarbonato de sódio têm sido utilizadas como estratégia de prevenção para a nefropatia
induzida por contraste, sugerem ainda que a hidratação endovenosa em pacientes submetidos
à cirurgia cardíaca previne a LRA no pós-operatório, todos os pacientes com disfunção renal
deveriam receber hidratação endovenosa pelo menos 12 horas antes do início do
procedimento, por ser uma estratégia de baixo custo e bem tolerada pelos pacientes.
O controle das doenças de base se mostra imprescindível na prevenção da LRA. Cruz
et al.,(2014) afirmam que a hipertensão aumenta a pressão em todo o sistema vascular,
inclusive nas arteríolas renais e capilares glomerulares, gerando uma vasoconstricção reflexa,
que, em longo prazo, leva à nefroesclerose e à conseqüente redução na taxa de filtração
glomerular (TFG) de caráter progressivo e irreversível. A insuficiência cardíaca, por sua vez,
predominantemente é de baixo débito, o que favorece o hipofluxo renal, resultando na
diminuição da TFG, principalmente em caso de descompensação aguda.
Obter e implantar práticas que reduzam as complicações e melhorarem o estado do
paciente, como evitar ou tratar de imediato à febre e a infecção, que aumentam a taxa
20
metabólica, o catabolismo e subsequentemente a liberação de potássio e acúmulo de produtos
residuais endógenos (uréia e creatinina) (GONÇALVES et., al 2012).
Na infecção sistêmica, há uma produção excessiva de mediadores inflamatórios e uma
ativação exacerbada de células inflamatórias, resultando numa anarquia metabólica. Um
importante marcador do processo séptico é a oligúria. As manifestações clínicas da sepse
provêm do processo infeccioso inicial, do processo inflamatório implícito e das disfunções
orgânicas em andamento. Assim, a hipovolemia é instalada pela dilatação arterial e venosa,
provocada por mediadores inflamatórios liberados pelo endotélio e pela perda de fluidos para
o espaço extravascular, devido à disfunção endotelial. Essa hipovolemia impede uma boa
perfusão tecidual, causando isquemia e carecendo de maior volume a ser infundido (CRUZ et
al., 2014).
A Sociedade Brasileira de Nefrologia alerta que é necessário evitar a hiperhidratação,
pois a IRA é um processo hipercatabólico e um paciente que não estiver perdendo cerca de
300 gramas de peso corporal por dia, quase certamente está em balanço positivo de água. O
melhor parâmetro para diagnosticar precocemente a hiperhidratação é a monitorização do
peso diário.
Em doentes sob terapia intensiva e mantidos com drogas vasoativas é particularmente
difícil estimar a adequação do volume intravascular. Nesses casos, pode ser preciso utilizar
medidas complementares para avaliação da volemia. Estas incluem a pressão venosa central, a
saturação venosa de oxigênio, ecocardiografia e testes dinâmicos de volemia como a variação
da pressão de pulso (deltaPP) após infusão rápida ou elevação passiva dos membros inferiores
(SBN,2007)
Devido à sua função de excreção e de concentração, o rim se expõe a várias
substâncias endógenas e exógenas. Geralmente, a lesão nefrotóxica é reversível, previsível e
passível de correção, se identificada precocemente. As lesões nefrotóxicas estão fortemente
relacionadas não somente a sua concentração ou duração da exposição, mas a múltiplos
fatores e resistência do paciente em questão. Doses nefrotóxicas, que são normalmente
toleradas em indivíduos saudáveis, podem ser desastrosas em pacientes idosos e desidratados,
por exemplo (COSTA; NETO, 2003).
O uso de drogas, especialmente antiinflamatórios não esteróides (AINES), antibióticos
e agentes antiretrovirais, são etiologias descritas de LRA. Diuréticos e IECA também têm sido
independentemente associados com maior risco de LRA, que parece ser potencializado pelo
uso concomitante de AINES (SOUZA, 2012).
21
Pinto et al., (2009) esclarecem que são diversas as formas de nefrotoxicidade por
medicamentos usados em pacientes críticos: lesão tubuloepitelial (aminoglicosídeos, contraste
venoso), nefrite intersticial (penicilina, inibidores de calcineurina, AINEs), glomerulite
(IECA, sais de ouro, d-penicilamina), formação de cristais intratubulares (indinavir e
aciclovir) e redução do fluxo plasmático renal (IECAs, AINEs).
Quanto à avaliação nutricional, pode se dizer que é indispensável para o
acompanhamento clínico do paciente crítico e propicio a Lesão Renal Aguda. Berbel et al.,
(2011) afirmam que dentre as alterações metabólicas mais freqüentes na LRA, estão o
hipercatabolismo, hiperglicemia e hipertrigliceridemia. O suporte nuricional deve ter como
objetivos atingir as necessidades ótimas de energia, proteínas e micronutrientes a fim de
prevenir o “protein-energy wasting” (PEW), preservar a massa muscular, melhorar a cicatrização, melhorar a função imunológica e reduzir a taxa de mortalidade.
22
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Apesar da pequena produção de estudos nacionais em relação medidas preventivas da
Lesão Renal Aguda, essa revisão de literatura pôde demonstrar que a qualidade na assistência
ao paciente crítico está diretamente relacionada com o acometimento de sequelas e outros
riscos para os pacientes internados na unidade de terapia intensiva. Estes estudos
demonstraram que essa síndrome vem aumentando ocasionando elevadas taxas de
mortalidade, e isso pode ser minimizado através de práticas sistematizadas que envolva toda a
equipe interdisciplinar que compõem a UTI.
Foi possível identificar nesse estudo, que todos os trabalhos remetem a gravidade e ao
impacto que a Lesão Renal Aguda incide sobre a morbimortalidade nos pacientes
hospitalizados e, sobretudo, na Unidade de Terapia Intensiva. Portanto, é imprescindível que
o clínico e os intensivistas estejam atentos às medidas preventivas, habitualmente, simples e
necesssárias. Essas medidas baseiam-se na manutenção da volemia, otimização de débito
cardíaco e cautela no uso de drogas nefrotóxicas. Deve-se dar especial atenção aos pacientes
pertencentes a grupos de risco para desenvolvimento de LRA: pessoas idosas, desnutridas,
com cardiopatias, hepatopatias, diabetes, neoplasia maligna, disfunção renal crônica ou
estenose de artéria renal.
Percebeu-se, ainda, que a atuação da equipe interdisciplinar na prevenção da Lesão
Renal Aguda é fundamental para estabelecer um plano de cuidados e intervenções da maneira
adequada e que contemplem as necessidades e respeitem as particularidades de cada paciente.
Os planos de cuidados são fundamentados cientificamente, proporcionando segurança, meios
de avaliação e qualidade no tratamento. Nesse contexto, o cuidado personalizado às
necessidades do usuário exige dos profissionais habilidades aliada às ações técnico-científicas
como requisitos para a eficácia do processo de cuidar.
Realça-se que as intervenções realizadas na prevenção da Lesão Renal Aguda pela
equipe interdisciplinar, quando ocorre em tempo oportuno e com atendimento adequado,
evitam possíveis complicações, objetivando uma melhora na qualidade de vida dos pacientes
23
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