UMA ABORDAGEM DE GEOMETRIA NÃO EUCLIDIANA NO ENSINO MÉDIO: CONTRIBUIÇÕES PARA O ENSINO DE MATEMÁTICA Wanderley Pivatto Brum – [email protected] Universidade Regional de Blumenau, mestrando no PPGECIM. Blumenau – SC. Elcio Schuhmacher - [email protected] Universidade Regional de Blumenau, coordenador do PPGECIM. Blumenau – SC. Resumo: Este trabalho está sendo desenvolvido a partir de uma proposta de ensino para a disciplina de Matemática, tratando – se dos conteúdos referentes à Geometria Euclidiana estudada no Ensino fundamental e Médio e da Geometria Não – Euclidiana pouco abordada pelos professores em sala de aula. O trabalho desencadeia – se dentro de uma perspectiva de integração entre esses conteúdos, partindo do princípio de que havendo abalroada entre essas geometrias, mereceria certa atenção, uma vez que os conhecimentos geométricos euclidianos fundamentaram soluções e se mostraram eficientes para a compreensão dos problemas de ciências naturais até o século XIX. Esses conhecimentos evoluíram, e surgiram alternativas para a geometria de Euclides: as Geometrias não – Euclidianas advindas do desenvolvimento teórico da Matemática e da Computação no século XX. Esta proposta está sendo pesquisada obedecendo a uma unidade de ensino envolvendo uma turma de segundo ano do ensino médio de uma escola da rede pública de Santa Catarina. Busca – se neste trabalho, proporcionar aos alunos um entendimento referente à Geometria Não – Euclidiana, a partir de estratégias de ensino definidas, com respectivas atividades desenvolvidas e suas reflexões, balizada pelo aporte teórico da aprendizagem significativa de David Ausubel e colaboradores. Espera - se desta investigação, que o aluno consiga relacionar o conhecimento sobre geometria não euclidiana com seu cotidiano, compreendendo os diferentes modelos geométricos que o cerca. Palavra – Chave: Matemática, Geometria não euclidiana, Aprendizagem significativa. 1 INTRODUÇÃO Uma viagem ao mundo da geometria permite – nos ter uma visão da importância dessa parte da Matemática que tanto contribuiu com seus axiomas, teoremas, postulados e com sua propriedade de explicar coisas simples, do dia – a – dia, dos objetos que nos rodeiam. Como seria magnífico poder voltar ao tempo, na época de Euclides, para vislumbrar a riqueza das suas contribuições deixadas para a humanidade ou participar dos encontros secretos dos pitagóricos. No entanto o desejo de retornar a Europa no fim do século XIX é maior, a oportunidade de ser um espectador de um dos momentos marcantes da história da Matemática é algo incomparável. A imaginação passa ter um lugar de destaque em minha mente, é poder fazer parte da revolução da história da Geometria, é entender e aplaudir grandes matemáticos da época que descobriram por assim dizer, a geometria não euclidiana. Contudo nossa viagem precisa chegar ao fim, não um fim em si mesmo, mas um novo caminho precisa ser trilhado, convergindo para os dias atuais, para dentro da escola, olhando para nossos alunos e relatar toda essa experiência vivida a muito tempo atrás, apresentando momentos inesquecíveis a cada um deles, que o ensino de geometria não euclidiana não é um assunto fora de sua realidade, e sim que faz parte do seu cotidiano, do contexto de mundo que ele vive. Que momentos seriam estes para despertar a disposição do aluno a aprender geometria não euclidiana? Qual o ponto de partida para o ensino dessa geometria? Talvez lançando em sala situações problemas que desperte o interesse do aluno, que faça transitar em seus conhecimentos ou situações do seu cotidiano. Poderia ser esta pergunta: Duas retas paralelas tem ponto em comum? Ou qual a menor distância entre dois pontos? Vivemos sobre uma superfície quase que totalmente esférica, e isto por muito tempo provocou medo nos navegadores, acreditando eles que ao fim do horizonte os navios eram engolidos por algo que não podiam explicar e que simplesmente as embarcações desapareciam. A busca por estudantes que pensam como os antigos navegadores, ou seja, que a representação geométrica de nosso planeta é uma folha retangular ou um plano e não uma esfera é bastante simples. Os estudantes de Física, por exemplo, ao representar o comportamento da gravidade sobre os seres humanos, apresentam modelos euclidianos, desconsiderando a forma de nosso planeta. Parece um bom ponto de partida para introduzir o estudo da geometria não euclidiana, apresentando aos estudantes um roteiro de viagem dos sonhos sem escala, na história da geometria. A geometria é um dos temas mais interessantes para serem explorados pelos professores, por constituir - se de uma riqueza em ilustrações, por possibilitar resoluções diversas com criatividade e por fim, atraindo os alunos para uma interação com o conhecimento nas construções e interpretações de problemas do cotidiano. Arriscamos a dizer que a geometria é a disciplina que possibilita com maior ênfase a capacidade de desenvolvimento cognitivo. O estudo da Geometria deve possibilitar aos alunos o desenvolvimento da capacidade de resolver problemas práticos do quotidiano, como, por exemplo, orientar-se no espaço, ler mapas, estimar e comparar distâncias percorridas, reconhecer propriedades de formas geométricas básicas, saber usar diferentes unidades de medida (OCEM, 2006, p.75). A geometria está presente em tudo que se imagina; na natureza, nas navegações, nos sistemas de localização por GPS, nas aulas de geografia ao tratar sobre o planeta Terra, na Física para compreensão do comportamento da luz no espaço. Com tantos exemplos citados, como é possível a geometria não euclidiana estar ausente dos planos de ensino de Matemática? Acreditamos que a apresentação de situações cujas resoluções necessitem de conhecimentos geométricos não euclidianos, a partir de um resgate histórico desta nova geometria, configuram, os materiais ideais para o objetivo a qual estamos dispostos, uma possível aprendizagem significativa sobre geometria não euclidiana no ensino médio. A geometria estudada por Riemann e Lobachevsky, aproximará o aluno da geometria que ele caminha e vive. Nosso ponto inicial é a geometria euclidiana, que por muito tempo, conseguiu cumprir seu papel na matematização da realidade, para enfim, irmos ao encontro dessa nova geometria. Partindo dessa breve apresentação sobre geometria, entendendo que o aluno deve ser o elemento ativo na construção do conhecimento, o trabalho está sentado sobre o aporte teórico de David Paul Ausubel, Joseph Donald Novak e Helen Hanesian, na década de 1960. Entendemos ser possível desenvolver o que os autores denominam de uma aprendizagem significativa, quando os estudantes processam uma reorganização de suas arquiteturas conceituais já estabelecidas em sua mente. Ou seja, os conceitos operam conexões mentais que podem levar a transformações que se entende como aprendizagem (AUSUBEL et al., 1980). É importante afirmarmos que para um novo conhecimento ser significativo segundo a concepção ausubeliana, é preciso ser funcional, ou seja, que o aluno utilize este conhecimento de forma não arbitrária e não literal, evitando a aprendizagem mnemônica, descontextualizada, sem relacionar com alguma informação relevante na estrutura cognitiva. O professor enquanto mediador neste processo deve ter compreensão que o aluno não é uma tábula rasa, um depósito de informações, mas sim, um indivíduo socialmente constituído e que carrega consigo, uma quantidade de conhecimentos cotidianos sobre geometria, e usar isto para ser o ponto inicial da construção da nova informação é fundamental na teoria ausubeliana. O fator isolado mais importante que influencia a aprendizagem é aquilo que o aprendiz já conhece, descubra o que ele sabe e baseie nisso seus ensinamentos (AUSUBEL et al, 1980). Se o aluno tem conhecimentos sobre geometria euclidiana e noções sobre tridimensionalidade, nada mais evidente do que se aproveitar destas informações para iniciar o estudo sobre geometria não euclidiana, conceituando, diferenciando da geometria de Euclides e especificando singularidades, propriedades e a sua importância para a Matemática contemporânea. Aprender uma nova geometria não significa descartar a geometria euclidiana, mas pelo contrário, resgatá – la, e partindo desse pressuposto, espera - se nesse trabalho por parte dos alunos, um considerável relacionamento com o conhecimento sobre geometria não euclidiana na resolução de problemas do seu cotidiano, compreendendo as diferenças existentes entre geometria esférica, hiperbólica e euclidiana, proporcionando momentos de discordância ou conflito na sua estrutura cognitiva. A geometria é considerada atualmente como o alicerce essencial da Matemática, porém a forma como é transmitida nas escolas, através de problemas descontextualizados, por métodos de repetição, sem relacionar com o seu cotidiano, parece não manifestar nos alunos grande interesse para apropriar – se desse conhecimento. Os efeitos colaterais para essa situação é a ausência de condições para o surgimento de indicadores em uma possível aprendizagem significativa. A aprendizagem repetitiva refere - se a situações nas quais simplesmente se estabelece associações arbitrárias, não relacionando os conhecimentos prévios com o novo conteúdo apresentado (COLL et al, 2007). A inexistência de uma abordagem sobre o ensino de geometria não euclidiana no ensino médio evidencia que os professores em geral, negligenciam os conhecimentos cotidianos dos alunos ou obedecem a determinado livro didático como fonte única de conhecimento, mostrando assim a fragilidade de um sistema de ensino que privilegia resultados abstratos, propedêuticos e sem relação com o cotidiano do estudante. Por se tratar de um assunto pouco conhecido entre os professores do ensino médio, as evidências mostram que entre outros fatores que inviabilizam a introdução de geometria não euclidiana no ensino escolar, está a complexidade matemática exigida por este tema, tornando está área bastante técnica até mesmo no meio acadêmico. Porém, a história da educação nos mostra que muitos temas já foram considerados de difícil abordagem na escola e atualmente passeiam sem qualquer questionamento pelos nossos currículos. Parece - nos que o assunto de geometria apresenta - se como mais um degrau que devemos subir. A realidade é que a geometria em sua plenitude é deixada em segundo plano, e entre muitas razões está sua ofuscada presença no currículo escolar. Diante dessa realidade e evidenciando a problemática, surgi à luz do nosso conhecimento à seguinte pergunta problema: Quais contribuições uma abordagem de Geometria não Euclidiana, fundamentada na aprendizagem significativa, pode proporcionar para o ensino de Matemática em sala de aula? 2 JUSTIFICATIVA DA EXECUÇÃO DO TRABALHO O interesse em trabalhar no ramo da Matemática deve – se, a formação acadêmica do pesquisador e professor, que possui graduação em Matemática e especialização nesse ramo. Outro fator considerável dá – se pela investigação por parte do mesmo pela história da Matemática com ênfase nas contribuições que a geometria euclidiana proporcionou por muitos séculos, fornecendo respostas aos problemas em geral. Pontualmente, a escolha pelo estudo da geometria não euclidiana, seu surgimento no cenário da comunidade científica, as repercussões e as críticas de filósofos da época, seus atores principais, Riemann e Lobachevsky e o caminho construído para a possibilidade de integração com a geometria de Euclides, tema pertencente ao programa curricular na disciplina de Matemática, no segundo ano do ensino médio. Outro ponto importante para a escolha do tema é a experiência e os anos trilhados na educação do pesquisador e professor, lecionando Matemática e Física para o ensino fundamental e médio, identificando nesta caminhada as dificuldades apresentadas pelos alunos ao abordar o tema de geometria. Partindo dessas considerações, com intenção de superar estas dificuldades e promover uma possível aprendizagem significativa no ensino de geometria não euclidiana, emergiu a necessidade de uma investigação nessa dissertação. A escolha pelo segundo ano do ensino médio se justifica pelo fato de que nesta série, o estudo da geometria euclidiana passa a ser observado com um olhar mais crítico no que concernem os postulados de Euclides, permitindo a inserção ao estudo de geometria não euclidiana com um enfoque que almeje um ensino mais efetivo, contextualizado e significativo para o estudante. Desse modo, a apresentação desta nova geometria possui diversas razões para ser exposta, destacando a importância desse conhecimento por pertencer ao corpo da programação curricular enquanto estudo tridimensional ou espacial, possibilitando assim, uma compreensão de problemas ou realização de atividades de investigação além da geometria euclidiana. Não podemos deixar de referir que, ao tratar sobre geometria não euclidiana, os aspectos históricos relatam um amálgama de modelos explicativos, podendo de certa forma, identificar os conhecimentos prévios dos alunos sobre o assunto abordado, o que colabora diretamente para um estudo mais significativo entre essas geometrias. Os estudos sobre geometria não euclidiana permitem uma compreensão mais ampla do modelo geométrico que estamos localizados, proporcionando uma abordagem por meio de uma linguagem mais concisa e universal. Entretanto, atualmente, os estudantes de uma forma geral, observam breves registros sobre Euclides encontrados em livros didáticos, e utilizam – se dessas informações para resolver diversos problemas que se encontram de forma descontextualizada, prontos e acabados, desconsiderando toda uma riqueza para solucionar problemas cotidianos. As pessoas não desenvolvem o pensar geométrico ou o raciocínio visual sem conhecimentos prévios sobre geometria e, sem essa habilidade, elas dificilmente conseguirão resolver as situações de vida que forem geometrizadas; também não poderão se utilizar da Geometria como fator altamente facilitador para a compreensão e resolução de questões de outras áreas de conhecimento humano ( LORENZATO, 1995, p. 5). É compreensível que crianças e adultos utilizem – se dos conhecimentos deixados por Euclides, até mesmo por que seus registros por muito tempo resolveram diversos problemas matemáticos, como uma forma de compreender o mundo que os cerca. É importante apontar que em geral, após quase dois mil anos, os alunos do ensino fundamental estudam tópicos de geometria, encharcados de noções prévias puramente euclidianas, sendo que o professor, por estar inserido em um sistema que o sobrecarrega com rotinização e institucionalização, não consegue construir uma ponte para além dos muros da escola, onde encontram - se modelos geométricos que pertencem ao seu mundo e do aluno. Direcionando nosso olhar para o ensino médio, os alunos do segundo ano revisam conteúdos de geometria, mas novamente de forma euclidiana, desconsiderando a existência de outras geometrias como hiperbólica e esférica, não percebendo que diversas situações apresentadas em sala de aula e no cotidiano, são modeladas por estas representações geométricas, ocorrendo assim, o mesmo equívoco que no ensino fundamental. Entende - se que uma discussão acerca dos conteúdos de geometria apresentados em sala de aula merece atenção, uma vez que estes traduzem em parte a ideologia do autor, contribuindo para um pensamento propedêutico, pronto e acabado. O ensino de modo geral está doente, em que o aluno não é solicitado a pensar de forma criativa, não elaborar conclusões, devendo - se simplesmente memorizar o conteúdo (MOLINA, 1987, p. 34). As grandes dificuldades encontradas por parte dos alunos em se apropriar do conhecimento cientifico, são decorrentes das mudanças educativas ocorridas nos últimos anos. Tanto os professores quantos os alunos, não conseguem fazer distinção entre os conteúdos apresentado nos livros de forma arbitrária, daqueles conhecimentos necessários para solucionar problemas da realidade. Isto é devido em sua grande totalidade, a uma abordagem de ensino que apresenta os conceitos de forma hermética, acabada e pouco contextualizada por parte dos professores, colocando como pano de fundo os conhecimentos prévios dos alunos, dando ênfase simplesmente aos problemas apresentados nos livros didáticos com modelos com suas respectivas respostas. Ao confrontar suas ações cotidianas com as produções teóricas, é necessário rever as práticas e as teorias que as informam, pesquisar a prática e produzir novos conhecimentos para a teoria e a prática de ensinar. Assim, as transformações das práticas docentes só efetivarão se o professor ampliar sua consciência sobre a própria prática, a de sala de aula e da escola como um todo, o que pressupõe os conhecimentos teóricos e críticos sobre a realidade (DELIZOICOV et al., 2009, p.13). A crítica aponta para uma aprendizagem mecânica, baseado na transmissão, recepção e repetição de atividades, não favorecendo a participação ativa do estudante, apresentando o conhecimento de forma unilateral, pragmática e com total falta de criticidade, desconsiderando assim, o que a história da geometria nos revelou durante séculos. Espera – se que ocorra uma catarse nos professores ao tratar de conhecimento ciêntífico e suas implicações na história da humanidade, levando a tona que a abordagem de conhecimento através de atividades repetitivas e assépticas, serão armazenadas na estrutura cognitiva do estudante de maneira arbitrária, não contribuindo para a identificação de possíveis indicadores de uma aprendizagem significativa. A escola constitui uma agressão ao ego do aluno, devido às poucas satisfações intrínsecas que oferece a aprendizagem mecânica, arbitrária e memorística (NOVAK, et al. 1984 ). Contudo, quanto mais se relaciona o novo conteúdo de maneira substancial e não arbitrária com algum aspecto da estrutura cognitiva prévia que lhe for relevante, mais próximo se está da aprendizagem significativa. Quanto menos se estabelece esse tipo de relação, mais próxima se está da aprendizagem mecânica ou repetitiva (AUSUBEL, et al., 1980). Os pesquisadores apontam para uma necessidade de diálogo entre professor e aluno tratando sobre fatos importantes ocorridos na história da geometria. Esse movimento facilitaria a identificação dos conhecimentos prévios dos estudantes, desta forma, a história da geometria nos revelada no século XIX, ganha representatividade e destaque nas aulas de Matemática, por apresentar - se como alternativa a geometria de Euclides e isto, é um fato que o professor não pode ignorar em sala de aula. 3 BASES DA TEORIA DA APRENDIZAGEM SIGNIFICATIVA A teoria da aprendizagem significativa foi formulada inicialmente pelo psicólogo norte americano David Paul Ausubel. As ideias de Ausubel, cujas formulações iniciais são dos anos 60, encontram-se entre as primeiras propostas psico - educativas em sua obra “Psicologia Educacional”, recebendo colaborações em 1980 de Joseph Donald Novak e Helen Hanesian, acerca de fatores sociais, cognitivos e afetivos na aprendizagem. [...] é essencial levar – se em consideração as complexidades provenientes da situação de classe de aula, estes por sua vez, incluem a presença de muitos alunos de motivação, prontidão e aptidões desiguais; as dificuldades de comunicação entre professor e aluno; as características particulares de cada disciplina que esta sendo ensinada; e as características das idades dos alunos (AUSUBEL, et al., 1980, p. 5). Basicamente a ideia central de aprendizagem significativa apresentada pelos autores é uma reorganização da estrutura cognitiva, isto é, um processo pelo qual uma nova informação se relaciona com um aspecto relevante da estrutura do conhecimento do indivíduo. Para uma aprendizagem ser significativa são necessárias duas condições: o aluno precisa ter uma disposição para aprender: se o indivíduo quiser memorizar o conteúdo arbitrária e literalmente, então a aprendizagem será mecânica. A aprendizagem significativa pressupõe que o estudante manifeste uma disposição para a aprendizagem, ou seja, disposição para relacionar – se de forma não arbitrária e substantiva ao novo conhecimento (AUSUBEL, et al., 1980). Em segundo, o conteúdo escolar a ser aprendido tem que ser potencialmente significativo, ou seja, deve estar relacionado à estrutura cognitiva do aluno, portanto, devem estar disponíveis em sua estrutura cognitiva subsunçores adequados. A teoria ausubeliana não estabelece uma dicotomia entre aprendizagem significativa e mecânica, mas sim como um continuum, vindo a esclarecer como ocorre esse movimento da aprendizagem escolar. A aprendizagem significativa ocorre quando há um processo de interação no qual os conceitos mais relevantes e inclusivos (subsunçores) integram com o novo material a ser aprendido. A aprendizagem significativa caracteriza - se por uma interação entre os aspectos específicos e relevantes da estrutura cognitiva e as novas informações, por meio das quais essas adquirem significado e são integradas a uma estrutura hierárquica altamente organizada de subsunçores de maneira não - arbitrária e não - literal. Para que a aprendizagem significativa ocorra de fato, não é suficiente que as novas informações sejam simplesmente relacionadas (de forma não arbitrária e substantiva) a ideias correspondentemente relevantes no sentido abstrato do termo, é também necessário que o conteúdo ideacional relevante esteja disponível na estrutura cognitiva de um determinado aluno (AUSUBEL, et al., 1980, p.37). A aprendizagem significativa deve preponderar em relação a uma aprendizagem de associações arbitrárias, encerradas em si mesma, organizacionalmente isoladas, mecânica, pressupondo a existência prévia de conceitos subsunçores. Um subsunçor é entendido como sendo um conceito já existente na estrutura cognitiva, capaz de servir de ancoradouro a uma nova informação, de modo que esta adquira significado para o estudante. Evidenciar uma aprendizagem significativa não é uma tarefa simples. Verificar se uma aprendizagem ocorreu, simplesmente perguntando ao estudante os atributos de um conceito ou proposição é arriscado, haja vista a possibilidade de respostas mecanicamente memorizadas serem respondidas. Para evidenciar a ocorrência de uma aprendizagem significativa, é necessária uma compreensão no domínio dos significados que apresentam – se de forma clara, precisa, diferenciados e transferíveis. Ao buscar – se indicativos de uma aprendizagem significativa, através das alternativas propostas por Ausubel e seus colaboradores, o ponto mais importante é partir dos conhecimentos que os alunos trazem para dentro da sala de aula. Se tivéssemos que reduzir toda a psicologia educacional a um único princípio diríamos que o fator singular mais importante que influencia a aprendizagem é aquilo que o aprendiz já sabe, descubra isso e baseie – se nisso seus ensinamentos. A percepção de uma aprendizagem significativa se consolida por meio de um processo que é considerado dinâmico e não unilateral, estático, no qual o estudante carregado de interconexões mentais e saberes, torna – se peça fundamental nesse movimento de construção do conhecimento, contudo se o estudante deseja memorizar de forma arbitrária e literal, o processo de aprendizagem com seu conhecimento será mecânico e sem significado. A aprendizagem significativa pressupõe que o aluno manifeste uma disposição para aprendizagem significativa – ou seja, uma disposição para relacionar, de forma não arbitrária e substantiva, o novo material a sua estrutura cognitiva – e que o novo material à sua estrutura cognitiva – e que o material aprendido seja potencialmente significativo – principalmente incorporável a sua estrutura do conhecimento através de uma relação não arbitrária e não literal (AUSUBEL, et al., 1980, p. 38). Nesse olhar, o aprendiz está em condições de decidir se quer aprender significativamente ou deseja recorrer à memorização automatizada de definições e conceitos sem a compreensão do significado das palavras. Assim, uma das razões para o surgimento de uma aprendizagem automática e sem significado por parte dos alunos, surge a partir de experiências mal sucedidas. Por exemplo, se o estudante deseja aprender o teorema das retas paralelas, afirmando que duas retas são paralelas no plano quando não tem ponto em comum, ele irá memorizar na sua estrutura cognitiva este conceito, muitas vezes pressionados em demonstrar bons resultados, porém, não poderá ser aprendida significativamente, a menos que o estudante saiba previamente a existência de outros modelos geométricos para estudar o comportamento dessas retas, levando em consideração a estrutura enquanto geometria de mundo que ele vive atuando sobre o mesmo. Se desejarmos testar um determinado conhecimento pedindo ao estudante o relato de atributos essenciais de uma proposição, ele poderá apresentar respostas mecanicamente memorizadas, portanto, entendemos que as avaliações devem ser constituídas de linguagem diferente da comumente utilizada no material de aprendizagem. Os testes de compreensão devem no mínimo ser apresentado num contexto um pouco diferente daquele em que o material de aprendizagem foi originalmente encontrado. Talvez a maneira mais simples de se fazer isto seja solicitar ou escolher os elementos característicos de um conceito ou proposição a partir de uma lista contendo aqueles elementos tanto dos conceitos quanto das proposições correlatas (AUSUBEL, et al., 1980, p. 122). Para evitar, portanto, uma possível simulação significativa, a sugestão é a utilização de avaliações que contenham exercícios de relacionamento, onde o aprendiz tenha que relacionar ideias semelhantes ou apresentar ao aprendiz, uma situação nova por meio de solução de problemas, que sejam novos e não familiares, requerendo máxima transformação, requerendo outras capacidades e qualidades, assim como poder de raciocínio, flexibilidade, improvisação e astúcia tática. É importante salientar que a procura de sinais de aprendizagem significativa utilizando questionamento verbal, avaliações escritas, de assimilação de conceitos anteriores ou de resolução de problemas, há de ter - se em mente a possibilidade do aparecimento de respostas mecanicamente memorizadas. Para tentar impedir a roupagem memorística em detrimento de uma aprendizagem significativa, as avaliações devem conter questões e problemas escritos de forma diferente da qual os estudantes estão habituados, devendo exigir respostas que proporcionem uma grande modificação do conhecimento apresentado 4 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS QUE ESTÃO SENDO UTILIZADOS NA PESQUISA O objetivo principal deste trabalho é elaborar, desenvolver e analisar uma proposta de ensino referente à Geometria não Euclidiana, utilizando – se de uma unidade de aprendizagem, apoiada na teoria da aprendizagem significativa, proposta por David P. Ausubel, Joseph D. Novak e Helen Hanesian, na década de 1960. A unidade de aprendizagem é um modo de planejamento, elaboração, organização e realização de atividades, constituída dialogicamente no ambiente de sala de aula (GALIAZZI, 2004). Esta pesquisa, com abordagem qualitativa, está sendo realizada em uma classe de 15 alunos da segunda série do ensino médio, numa escola do município de Tijucas da rede pública de ensino do estado de Santa Catarina. Para iniciar este trabalho, identificaremos os conhecimentos prévios dos estudantes utilizando – se de um pré - teste aplicado antes do desenvolvimento do processo de ensino sobre o tema. O pré – teste está sendo direcionado identificarmos subsunçores existentes na estrutura cognitiva dos estudantes referente a conhecimentos de geometria não euclidiana. A elaboração do pré – teste elege assuntos considerados pertinentes para a abordagem da Geometria não euclidiana: retas paralelas, menor distância entre dois pontos, soma das medidas dos ângulos internos de um triângulo, axiomas, postulados, triângulos e quadriláteros. Por tratar – se de um tema que não é muito familiar para os estudantes, decorrente da falta de abordagem no ensino médio, poderá ocorrer a utilização de organizador prévio com o intuito de manipular a estrutura cognitiva do estudante, a fim de facilitar a aprendizagem significativa. Os organizadores prévios devem servir de âncora para a nova aprendizagem e levem ao desenvolvimento de conceitos subsunçores que facilitem a aprendizagem subsequente. São materiais introdutórios apresentados antes do próprio material a ser assimilado (AUSUBEL, et al., 1980). O organizador que será apresentado constitui – se de texto com assuntos familiares aos alunos sobre geometria euclidiana, balizado por situações cuja geometria utilizada é não euclidiana. Para iniciar o assunto, será escolhido um vídeo com duração de 28 minutos, abordando temas sobre geometria. O professor pesquisador orientará os alunos a anotarem alguns relatos do vídeo que estivesse relacionado com os seguintes conceitos: retas paralelas, menor distância entre dois pontos, soma das medidas dos ângulos internos de um triângulo, axiomas, postulados, triângulos e quadriláteros. A partir das anotações realizadas pelos estudantes, será solicitada a leitura destas frases. A medida que elas serão apresentadas, o professor as anotará na lousa, iniciando a explanação dos conceitos de geometria não euclidiana. De posse das frases, seus conceitos e seus verbos de ligação, os estudantes começarão a construção de mapas conceituais a partir das abordagens descritas anteriormente, com a participação e organização dos alunos. Para a construção dos mapas conceituais, neste primeiro momento, os alunos trabalharão sem o auxílio do professor, utilizando – se de seus subsunçores e das frases disponíveis na lousa. Em outra aula, os estudantes continuarão a elaboração de seu mapa conceitual, sendo mediado pelo professor com relação às dúvidas surgidas na formação de conexões conceituais. Em outro momento, o professor explorará os postulados de Euclides, mostrando por meio de materiais educacionais, que o quinto postulado euclidiano não ocorre em determinadas geometrias. Aproveitando este momento, apresentará por meio de um texto, fatos históricos que levaram a uma revolução na Matemática ocorrida no século XIX. Para finalizar, será aplicado um pós – teste com situações problema, levando o estudante a utilizar de conhecimentos sobre geometria não euclidiana para resolve – los. 5 RESULTADOS ESPERADOS NA PESQUISA Os resultados esperados na investigação ao tratar sobre geometria não euclidiana com estudantes do ensino médio é possibilitar uma visualização das diferenças entre a geometria euclidiana, geometria hiperbólica, geometria esférica e geometria táxi através da contextualização e investigação além de trazer à luz, discussões com os alunos sobre a existência de outras geometrias com o intuito de oportunizar, descobrir e analisar sua importância na nossa vida atual. Esperamos também que os alunos compreendam conceitos geométricos básicos, de forma que conheçam as dimensões geométricas da geometria euclidiana e de geometrias não euclidianas, por meio da visualização e experimentação de materiais manipuláveis, entendendo que conhecer Geometria é ter possibilidades de intervir na mudança do espaço onde o estudante circula e vive. 6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AUSUBEL, D.P.; NOVAK, J.D.; HANESIAN. Psicologia Educacional. Rio de Janeiro: Interamericana, 1980. COLL, C.; MARCHESI, A,; PALACIOS, J. Desenvolvimento psicológico e educação: psicologia da educação escolar. 2ª ed. Porto Alegre: Artmed, 2007. DELIZOICOV, D.; ANGOTTI, J. A.; PERNAMBUCO, M. M. Ensino de Ciências: fundamentos e métodos. São Paulo: Cortes, 2009. GALIAZZI, M.C. Construindo Caleidoscópios: organizando unidades de aprendizagem. Ijuí: Unijuí, 2004. LORENZATO, Sérgio. Porque não ensinar geometria. Revista da Sociedade Brasileira de Educação Matemática. São Paulo, v.1, n. 4, p.5, mar/agos. 1995. MOLINA, O. Quem engana quem? São Paulo: Papirus, 1987. NOVAK, J.D.; GOWIN, B.. Aprender a Aprender. Lisboa: Plátano, 1984. ORIENTAÇÕES CURRICULARES PARA O ENSINO MÉDIO. Ciências da natureza, matemática e suas tecnologias. Secretaria de Educação Básica. Brasília: Ministério da Educação, Secretaria de Educação Básica, 2006. A NON-EUCLIDEAN GEOMETRY APPROACH IN HIGH SCHOOL: CONTRIBUTIONS TO THE TEACHING OF MATHEMATICS Abstract: This paper is being developed from a proposal for teaching the discipline of mathematics, dealing with - if the contents with respect to Euclidean geometry studied in Elementary and Middle Geometry and Non - Euclidean rarely addressed by teachers in the classroom. The triggers work - within a perspective of integration of these contents, assuming that there is involved in a collision between these geometries, it deserves some attention, since the Euclidean geometric knowledge grounded solutions and proved effective in understanding the problems of science natural until the nineteenth century. This knowledge evolved, and there were alternatives to Euclidean geometry: the geometries do not - coming from the Euclidian theoretical development of Mathematics and Computer Science in the twentieth century. This proposal is being investigated following a teaching unit involving a class of second year of high school in a public school in Santa Catarina. Search - this work was to provide students with an understanding not relating to Geometry - Euclidean, from teaching strategies defined, with their activities and their reflections, guided by theoretical meaningful learning of David Ausubel et al. Wait - is this investigation that the student can relate knowledge about non-Euclidean geometry with their daily lives, understanding the different geometric models that surrounds it. Key - Word: Mathematics, non - Euclidean geometry, Learning significant.