TECNOLOGIA LEVE NA GERÊNCIA DO CUIDADO DE ENFERMAGEM Resumo Introdução: O cuidar e o administrar são característicos da enfermagem. Sendo as tecnologias leves as relacionadas diretamente as relações humanas, tratar de seu dimensionamento no cuidado se torna essencial. Objeto: uso de tecnologia leve pelo enfermeiro como primeira atividade prioritária realizada por enfermeiros de duas instituições de saúde do norte fluminense. Encontra-se inserida no Grupo de Estudo e Pesquisa em Educação, Gerência e Ética em Enfermagem da Universidade Federal Fluminense (GEPEGENF/UFF). Justifica-se pela escassez literária e também, pela oportunidade de salientar e tecer reflexões de que a gerência do cuidado é atrelada ao uso de tecnologias, principalmente a tratada em questão, por estar relacionada às relações com o outro, e pelo outro ser o receptor do cuidado. Objetivos: Caracterizar o perfil de enfermeiros de duas instituições de saúde do norte fluminense; Analisar as possíveis tecnologias leves utilizadas por enfermeiros em seu ambiente laborativo; Discutir as implicações do uso da tecnologia leve para assistência de enfermagem. Método: Trata-se de uma pesquisa qualitativa, de natureza descritivo-exploratória, que obteve aprovação pelo CEP HUAP UFF sob parecer de Nº 242.736. Os participantes/cenário foram enfermeiros lotados em duas instituições do Norte Fluminense. A coleta de dados foi realizada no primeiro e no segundo semestre de 2015, através de um questionário. Os dados foram submetidos à análise temática. Resultados: Através da análise dos dados, emergiu uma categoria central que trata do uso de tecnologias leves na gerência do cuidado, entendendo que a gerência está diretamente relacionada ao cuidado. Através da análise dos dados ocorreu a emersão do tema que trata do uso de tecnologias leves na gerência do cuidado, entendendo que a gerência está diretamente relacionada ao cuidado. Do tema central emergiram dois subtemas: I- trata do uso das tecnologias leves para o bom exercício da gerência de enfermagem e II- que trata especificamente da utilização das tecnologias leves com o paciente. Conclusão: Conclui-se, portanto, que a enfermagem, assim como apontado no presente estudo, utiliza a todo o tempo as tecnologias leves para desenvolver e aprimorar a gerência do cuidado. Observa-se ainda o quanto as tecnologias leves fazem parte da rotina laboral dos profissionais. Descritores: Enfermeiro; Gerência; Prática Profissional. Introdução O processo de trabalho tem se adaptado constantemente as mudanças globais. Em meio a era tecnológica, aliar o cuidado e a gerência de enfermagem é algo essencial para um trabalho de qualidade. Com tantos novos recursos advindos das tecnologias modernas, lançalos no desenvolvimento do trabalho é de grande valia. Para isso utiliza-se três tipos de tecnologias, no trabalho, sendo elas: a tecnologia dura, tecnologia leve-dura e tecnologia leve. Marques e Souza (2010) descrevem em um de seus estudos, que os três tipos de tecnologias são classificadas, deste modo, quando relacionadas à: Duras quando ligadas a equipamentos como máquinas, instrumental, normas, rotinas e estruturas organizacionais. Leve-duras quando relacionadas a tipos de saberes, tais como a filosofia, anatomia, psicologia, entre outros. Leves que são as relacionadas ao conhecimento para a produção das relações entre sujeitos. Elas são presentes no espaço trabalho-usuário e são materializadas apenas em atos, sendo elas acolhimento produção de vínculo, encontros de subjetividade e autonomização. Na Lei n° 7.498 de 1986, em seu 11° artigo define-se diversas atribuições privativas do enfermeiro, dentre elas as relacionadas à gerência do cuidado. Christovamet et al (p.735, 2012) admite em um de seus estudos que o processo de trabalho “desde a institucionalização da Enfermagem como profissão é constituído por dois processos, o processo de cuidar e o processo de administrar”. Com isso pode-se afirmar que o exercício da enfermagem atrela o processo de cuidar ao processo de administrar, desde seus primórdios. O cuidar e o administrar são característicos da enfermagem. Sendo as tecnologias leves as relacionadas diretamente as relações humanas, tratar de seu dimensionamento no cuido se torna essencial. Quando admite-se um paciente em uma unidade de atendimento, deve-se prestar um cuidado completo, que reflita na melhora de seu quadro. Os cuidados de enfermagem vão além da administração de medicamentos, tratamento de feridas, entre outros, eles estão na grande complexidade que é a gama de se relacionar com o outro. É exatamente nesse relacionamento, no qual se faz o uso direto da tecnologia leve na gerência do cuidado, visto que “a gerência do cuidado realizada pelo enfermeiro relaciona-se diretamente à busca pela qualidade assistencial” (SANTOS et al, p.257, 2013), e para se garantir qualidade é preciso ver o outro em toda sua totalidade e para isso é necessário conectar-se ao outro. Haja vista ao exposto, a presente pesquisa tem por objeto de investigação uso de tecnologia leve pelo enfermeiro como primeira atividade prioritária realizada por enfermeiros de duas instituições de saúde do norte fluminense e encontrasse inserida no Grupo de Estudo e Pesquisa em Educação, Gerência e Ética em Enfermagem da Universidade Federal Fluminense (GEPEGENF/UFF). A pesquisa justifica-se pela escassez literária observada nas bases de dados, da BIREME, ao se pesquisar por enfermagem AND gerência AND tecnologias leves, encontramos apenas seis trabalhos, dos quais três são repetidos. Justifica-se também, pela oportunidade de salientar e tecer reflexões de que a gerência do cuidado é atrelada ao uso de tecnologias, principalmente a tratada em questão, por estar atribuída as relações com o outro, e pelo o outro ser o receptor do cuidado. Destarte, diversos questionamentos suscitaram convergindo para as seguintes questões norteadoras como questões norteadoras: O enfermeiro tem o hábito de priorizar as tecnologias leves em suas atividades laborativas? Quais seriam os tipos de tecnologia leve utilizada por esses profissionais em seu local de trabalho? Visando buscar repostas aos questionamentos anteriormente mencionados foram traçados os seguintes objetivos: Caracterizar o perfil de enfermeiros de duas instituições de saúde do norte fluminense; Analisar as possíveis tecnologias leves utilizadas por enfermeiros em seu ambiente laborativo; Discutir as implicações do uso da tecnologia leve para assistência de enfermagem. Pretende-se através do estudo, contribuir-se na área da pesquisa somando com mais uma publicação sobre o tema, visto a escassez literária evidenciada. No ensino visa contribuir com a sensibilização desde as bases educacionais dos estudantes, quanto à importância das tecnologias leves na gerência do cuidado, através da análise da evidenciação de seu uso na rotina laboral. Na assistência é necessário, para que os presentes e futuros profissionais observem o quanto às tecnologias leves são utilizadas por eles no desenvolvimento de seu trabalho, fomentando discussões sobre a utilização dessas. Metodologia Trata-se de uma pesquisa de abordagem qualitativa, do tipo descritivo-exploratório. As pesquisas que se utilizam da abordagem qualitativa possuem a facilidade de poder descrever a complexidade de uma determinada hipótese ou problema, analisar a interação de certas variáveis, compreender e classificar processos dinâmicos experimentado por grupos sociais, apresentar contribuições no processo de mudança, criação ou formação de opiniões de determinado grupo e permitir em maior grau de profundidade, a interpretação das particularidades de comportamentos ou atitudes dos indivíduos. (OLIVEIRA, p. 117, 2000) Pesquisa qualitativa é multimetodológica quanto ao seu foco, envolvendo abordagens interpretativas e naturalísticas dos assuntos. Isto significa que o pesquisador qualitativo estuda coisas em seu ambiente natural, tentando dar sentido ou interpretar os fenômenos, segundo o significado que as pessoas lhe atribuem (DENZIN; LINCOLN, 1994, p.2). Os participantes/cenários foram Enfermeiros que desenvolvem suas atividades duas instituições de saúde, localizadas no Norte Fluminense. Os critérios de elegibilidade foram: aceitar em participar do estudo, ser enfermeiro, desenvolver atividades laborativas no cenário aprovado pelo comitê de ética da presente pesquisa, assinar o termo de consentimento livre e esclarecido. Já o critério de exclusão foram os participantes que solicitarem desligamento da pesquisa após assinatura do termo de consentimento livre e esclarecido ou estarem afastados por motivo de licença. A coleta de dados ocorreu durante o primeiro e o segundo semestre de 2015. O instrumento de coleta foi através de entrevista semi-estruturada gravada em sistema digital, sendo transcritas posteriormente. A entrevista semi-estruturada está focalizada em um assunto sobre o qual confeccionamos um roteiro com perguntas principais, complementadas por outras questões inerentes às circunstâncias momentâneas à entrevista. Para o autor, esse tipo de entrevista pode fazer emergir informações de forma mais livre e as respostas não estão condicionadas a uma padronização de alternativas. (MANZINI, 1990/1991, p.154) Os dados coletados foram analisados e submetidos ao processo de análise temática, que segue três etapas, descritas por Minayo (2007), sendo elas: pré-análise, exploração do material ou codificação e tratamento dos dados obtidos e interpretação. Na etapa da pré-análise é onde: São desenvolvidas as operações preparatórias para a análise propriamente dita. Consiste num processo de escolha dos documentos ou definição do corpus de análise; formulação das hipó- teses e dos objetivos da análise; elaboração dos indicadores que fundamentam a interpretação final. (OLIVEIRA p.572, 2008) Oliveira (p.572, 2008) ainda define que na análise categorial que o tratamento apresentação dos resultados poderão ser realizados: Resultados poderão ser apresentados em forma de descrições cursivas, acompanhadas de exemplificação de unidades de registro significativas para cada categoria ou, ainda, em forma de tabelas e gráficos, quadros seguidos de descrições cursivas e outros. (OLIVEIRA p.572, 2008) Vale ressaltar que, tendo em vista as questões ético-legais, a pesquisa foi encaminhada ao Comitê de Ética em Pesquisa do Hospital Universitário Antônio Pedro, tendo sido aprovado sob o número 242.736. Além disso, em cada entrevista foi fornecido aos sujeitos um termo de consentimento livre e esclarecido como forma de garantir os princípios éticos preconizados pela Resolução do Conselho Nacional de Saúde n°466/2012. Resultados Ao todo foram entrevistados 17 enfermeiros, sendo sua maioria do sexo feminino (10 participantes), com idade média de 31 à 35 anos (6 participantes) e com tempo de atuação profissional na enfermagem de 6 à 15 anos (8 participantes). A grande parte já trabalhava nas unidades acerca de 6 à 10 anos (8 participantes), a maioria dos trabalhadores da enfermagem possuíam duplo vínculo (13 participantes). Através da análise dos dados ocorreu a emersão de uma Unidade temática que trata do uso de tecnologias leves na gerência do cuidado, entendendo que a gerência está diretamente relacionado ao cuidado. Do tema central, emergiram, ainda, dois subtemas. O subtema I, trata do uso das tecnologias leves para o bom exercício da gerência de enfermagem, no qual se verifica a utilização das tecnologias leves com a equipe como base para utilização de outras tecnologias, no qual existe uma grande preocupação do enfermeiro em gerenciar sua equipe, supervisionando, remanejando, avaliando a frequência dos profissionais, administrando recursos e verificando vagas, além de evidenciar-se o conversar com sua equipe. O que tem por finalidade propiciar um bom atendimento para o paciente que será recebido na instituição, fazendo com que para a gerência que visa uma assistência de qualidade, seja primordial a utilização da tecnologia leve comunicação. E o subtema II, que trata especificamente da utilização das tecnologias leves com o paciente, que retrata a preocupação com o paciente, a interlocução do profissional com ele, que vai desde planejar seu aprazamento até os cuidados com a humanização, que perpassa desde sua recepção, até sua alta. É a relação que o profissional desenvolve com o seu paciente. Discussões O uso de tecnologias leves está fragmentado em todo o trabalho de gerência do cuidado do enfermeiro, e sua utilização tem reflexo no cotidiano laboral e dos sujeitos envolvidos nesse panorama, no caso os pacientes, as tecnologias tem por finalidade facilitar e melhorar o trabalho do profissional se bem utilizadas. A utilização destas tecnologias nos processos gerenciais do enfermeiro pode interferir na produção do cuidado. O grande compromisso e desafio de quem gerencia o cuidado é o de utilizar as relações enquanto tecnologia, no sentido de edificar um cotidiano, por intermédio da construção mútua entre os sujeitos (ROSSI; LIMA, p.305, 2005). Não adianta dispor de alta tecnologia para o desenvolvimento da assistência de enfermagem, se não possuir um mínimo de humanização, pois a interação entre a tecnologia e a humanização deve estar sempre presente, sem esses elementos o cuidado se torna fragmentado ( SALVADOR et al, p. 112, 2011). A gerência é um potencial para se desenvolver e o uso das tecnologias leves colabora com isso. O lidar com o outro, o saber se relacionar com o seu semelhante, é algo desafiador, dentro disso as tecnologias são fundamentais. A fala a seguir denota a utilização e tecnologias leves, quando o enfermeiro assume a gerência do cuidado e nesse papel de gerente visa garantir a qualidade e a continuidade do serviço: “Primeiro eu acho que é a administração, né, da gente administrar os recursos que a gente tem que trabalhar. Que a gente chega recebe plantão, vê o que você tem, programar, o enfermeiro tem muito essa função de gerência, os cuidados técnicos mesmo, nossos privativos do enfermeiro...” (E,1-1) “Na verdade a gente começa o plantão fazendo a parte de gerenciamento de pessoal, colocar os funcionários nos setores, vê se teve falta, a parte de gerenciamento mesmo...” (E,1-2) Lopes et al (p.823, 2009) em um de seus estudos de revisão, avaliou que nas publicações que observou sobre a temática, existia a afirmativa de que: As tecnologias leves podem ser importantes ferramentas de gerenciamento utilizadas pelo enfermeiro na busca da qualidade do cuidado prestado aos usuários, pois estabelecem momentos de intercessão entre trabalhadores e usuários e permitem a real possibilidade de reconhecimento e satisfação das necessidades dos indivíduos. O cuidado de enfermagem está tolamente relacionado a humanização, quando se fala em humanização, se menciona o uso da tecnologia leve no cuidado propriamente dito, afinal, a humanização é algo profundo, que valoriza o cuidado, Deslandes (p.7, 2004) afirma ser a humanização: Base de um amplo conjunto de iniciativas, mas não possui uma definição mais clara, geralmente designando a forma de assistência que valoriza a qualidade do cuidado do ponto de vista técnico, associada ao reconhecimento dos direitos do paciente, de sua subjetividade e cultura, além do reconhecimento do profissional. Sendo a definição de humanização extensa e complexa, nota-se que saber aplicar a tecnologia leve é um recurso facilitador para o desenvolvimento do cuidado humanizado. Rossi e Lima (p.464, 2005) discorrem que: As tecnologias leves podem ser importantes ferramentas de gerenciamento utilizadas pelo enfermeiro na busca da qualidade do cuidado prestado aos usuários, pois estabelecem momentos de intercessão entre trabalhadores e usuários e permitem a real possibilidade de reconhecimento e satisfação das necessidades dos indivíduos. Dessa forma, podem ser utilizadas para a concretização e sustentação de um modelo de assistência que venha a contemplar um cuidado humanizado. A Relevância da relação com o paciente pode ser observada na seguinte fala, na qual o enfermeiro para o desenvolvimento do que menciona utiliza a tecnologia leve: “Humanização, ações éticas/morais” (E 5-1). Sendo a tecnologia leve um facilitador para a gerência do cuidado ao utilizar o recurso é importante, visto que sua utilização colabora para a produção de um trabalho de enfermagem de qualidade. Rossi e Lima (p.464, 2005) falam que: As diferentes possibilidades tecnológicas, assim como o desenvolvimento tecnológico devem ser contempladas constantemente no cotidiano dos estabelecimentos de saúde na busca de resultados mais efetivos das ações, evitando a prática de ações insuficientes para a satisfação dos usuários. Ressalta-se a relevância da utilização da humanização e de uma boa comunicação pelo enfermeiro para a realização da gerencia de enfermagem, seja como paciente ou com a equipe. Visto que a utilização das tecnologias leves, tais como a comunicação e a humanização são essenciais para a realização das demais atividades elementares da enfermagem, até mesmo as que utilizam de tecnologias duras e leve-duras. Conclusão Conclui-se, portanto, que a enfermagem, assim como apontado no presente estudo, utiliza a todo o tempo as tecnologias leves para desenvolver e aprimorar a gerência do cuidado. Observa-se ainda o quanto as tecnologias leves fazem parte da rotina laboral dos profissionais. É importante que outros estudos sejam realizados dentro da temática, pois muitas vezes atrela-se o uso de tecnologias apenas a meios digitais e se abstêm que em todo o tempo na enfermagem se utiliza tecnologias, principalmente as leves, na gerência dos serviços e da equipe, em especial, quando cumprindo o papel de gerente precisa dialogar com a equipe e no cuidado quando se integra com a problemática do outro para obter um resultado satisfatório. Ainda é imprescindível que se observe que a gerência e o cuidado são fragmentos indissociáveis do trabalho do enfermeiro, visto que só é possível se obter êxito profissional por meio do exercício da gerência do cuidado. Referências Bibliográficas: BRASIL. Conselho Nacional de Saúde. Resolução 466. Disponível http://conselho.saude.gov.br/resolucoes/2012/Reso466.pdf. Acesso em: 14 abr. 2016. em: BRASIL. Lei 7.498, de 25 de junho de 1986. 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