Manifesto Pau Brasil Parte II - Sala de Imprensa | Tutu

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A Arte é um Vírus ou uma Onça – Manifesto Pau Brasil Parte II
Tutu-Marambá: Pesquisas das Artes do Corpo, LowLives: Occupy! 3/Março/2012
Manifesto Pau Brasil Parte II
Somos o pó poético das nações indígenas estraçalhadas, das nações africanas estilhaçadas,
das nações europeias e asiáticas desterradas. Deste pó, surgimos, misturados.
Queremos a mestiçagem. Queremos ser o que somos a partir do que Oswald de Andrade
chamou de “a contribuição milionária de todos os erros”, ancorados numa nova-velha
ordem, “correspondente ao milagre físico em arte”, ou “a cozinha, o minério e a dança”. Em
outras palavras, queremos exercer nossa mistura fertilizadora em nossos ambientes sociais,
físicos e culturais. Em todas as nossas interrelações.
Queremos o acesso amplo à informação que vem pela tecnologia dos satélites e à felicidade
dos pés no chão. E não à tecnologia de pés-no-chão e à felicidade que nos é oferecida
somente pelos satélites.
Queremos exercer o papel de guardiães de nossa memória, isto é, de todos os textos
culturais criados pelos artistas de todos os tempos e espaços. Isso é um bem inalienável, um
direito de todos os homens. O poder cuida do poder. Os artistas cuidam da arte.
Responsabilidade de voo.
A arte é um vírus. Como em tudo o que é vivo, a pasteurização excessiva homogeneíza o
meio de modo perigoso. Sem diversidade, a vida não acha caminhos. Vida estéril.
A arte é uma onça. A palavra jaguar, de origem tupi, dicionarizada nos Oxfords do mundo,
comprova que a onça contamina. E surpreende. Não tente pegar uma onça à unha. Traga sua
lança e dançaremos juntos. O canibalismo estético pede que possamos dançar com aqueles
que devoraremos. À arte também cabe a devoração e o apavorar, pois ela se pretende uma
canção de ninar que acalante e assuste. Um Tutu-Marambá, afro-indígena da América do
Sul. Da América do sal.
Menos burocracia, menos institucionalização no que é desnecessário. Que os espaços
públicos sejam mais férteis e contaminadores. O ar que respiramos deve ser o da liberdade.
Que ninguém nos venha domar, para pagar nossa arte, nem nossas contas. Queremos
parcerias, não patrocínio. Os ideais anarquistas de coletividade precisam ser reinjetados
para dentro de nossas fronteiras.
Saudamos o sol de Maiakóvski, onde quer que ele esteja iluminando neste momento!
Cleide Riva Campelo
2ª feira de Carnaval, 2012
Art is a Virus or a Jaguar – Manifesto Pau Brasil Part II
Tutu-Marambá: Pesquisas das Artes do Corpo, LowLives: Occupy! March 3rd/2012
Manifesto Pau Brasil Part II
We are the poetic dust of shattered native Indian nations, of bulldozened African nations, of
outcasted European and Asian nations. We are born a misture out of this dust.
We do call for miscegenation. We want to be who we are, from what Oswald de Andrade
called “the millionaire contribution from all mistakes”, rooted within a new-ancient order
“corresponding to the physical miracle in art”, or “cuisine, mining and dancing”. In other
words, we want to exercise our fertilizing miscegenation in our social, physical and cultural
environments. And in all of our interrelations.
We want to have full access to the information which comes through the satellite technology
and to the happiness that comes from being able to walk barefoot. We do not want either
barefoot technology or happiness only being offered to us from the satellites.
We want to take the role of being the guardians of our memory, that is, of all texts of culture
ever created by artists in all times and places. This is an inalienable asset, a right to all men.
Let bureaucrats take care of power. Let artists take care of art. Each one carrying on his own
flight responsibilities.
Art is a virus. As in everything which is alive, excessive pasteurization homogenizes the
environment in a dangerous way. Without diversity, life can find no paths to flow. Sterile
life.
Art is a jaguar. The word jaguar, from tupi etymology, present in all Oxfords in the world,
testifies that the jaguar has the power to contaminate. And to surprise. Don´t try to catch a
jaguar with your nails. Bring your spear and let´s dance together. The esthetic cannibalism
asks for us to be able to dance with those who we wish to devour. To art, devouring is also
an expected action, as well as scaring, as it wants to be seen as a lullaly. One song that rocks
and rolls. A Tutu-Marambá, an Afro-Indian deity from South America. From Salt America.
Less bureaucracy, less institutionalization on unnecessary fields. May our public spaces
become more fertilized and more contaminating. The air we breathe must be one of
freedom. Might we have no one approaching to domesticate us in order to pay for our art or
to pay our bills. We want partnership, not sponsorship. The anarchist ideals of collectivity
must be reintroduced into our boundaries.
We salute the sun of Maiakóvski, whereever might it be shining at this moment!
Cleide Riva Campelo
Monday of Carnaval, 2012
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