BELO HORIZONTE, QUARTA-FEIRA, 30 DE DEZEMBRO DE 2015 2 OPINIÃO Economia, verdade secreta VIRENE ROXO MATESCO Há consenso de que há, em todas as famílias, verdades secretas que, de tempos em tempos, vêm à tona em sussurros ao pé do ouvido ou em situações extremas de brigas e mortes. Na economia não é diferente. Há verdades que parecem ser secretas para os responsáveis por sua condução e por aqueles que delas se beneficiam. Para o restante da população, distante dos privilégios do poder e das benesses públicas, as “falsas” verdades são percebidas como insustentáveis a médio e longo prazos. A matriz macroeconômica implementada durante o primeiro mandato da presidente Dilma Rousseff trazia em seu bojo a plena e duradoura felicidade para os felizardos e crédulos: elevados gastos públicos, sobretudo, destinados ao social, juros baixos, crédito e consumo fartos, preços administrados (câmbio, energia, combustíveis e etc.) controlados e frouxidão das metas de inflação. Tudo isso associado à sofrível governança corporativa das empresas e instituições públicas levou o sistema econômico a uma rota de colisão, resultando em uma das mais sérias e completas crises (econômica, política, social e de credibilidade) que o País já vivenciou. Em pronunciamento na ONU, em setembro passado, a presidente parecia que enfim revelaria todas as verdades escondidas debai- xo do tapete quando afirmou “que o modelo de crescimento econômico do País chegou ao limite”. No entanto, num golpe de mestre, alterou a ordem dos fatos ao afirmar que “a desvalorização cambial e as pressões recessivas produziram inflação e forte queda da arrecadação, levando a restrições nas contas públicas”. Apenas para ilustrar e sendo breve, a atual desvalorização cambial é resultado da falta de competência, de vontade política e de credibilidade por parte do governo em dar andamento à desordem fiscal de natureza conjuntural e estrutural. A desordem fiscal, de um lado, e o excesso de consumo das famílias via crédito, de outro, levaram ao endividamento público e privado a níveis bem elevados. Com isso, a inflação, que outrora fora de demanda, criou vida própria, seguindo uma trajetória inercial, difícil de ser revertida. Uma lição este governo já deveria ter aprendido: políticas econômicas adequadas são importantes, mas não garantem por si só o crescimento da economia. Já políticas inadequadas levam necessariamente à retração, gerando desemprego e perda do poder de compra da população em um processo de destruição dos ganhos sociais alcançados duramente no passado. Pressionada pelas circunstâncias, a presidente Dilma viu-se obrigada a alterar os alicerces de sua matriz macroeconômica e convidou o ortodoxo-eficiente Joaquim Levy para consertar seus próprios e crassos erros. Era previsível que a permanência de Levy à frente do Ministério da Fazenda fosse passageira. Afinal, ele agradara o mercado, mas não o PT e a própria presidente. A despeito de seu esforço em levar adiante o “respeito fiscal”, previsto em lei, o fracasso fora inevitável por absoluta falta de apoio do Executivo e Legislativo. Sua saída já estava escrita nas estrelas, era apenas uma questão de tempo. O novo convidado, Nelson Barbosa, é do agrado do PT, mas as pessoas comuns, as donas de casa, os economistas e o “mercado” não estão confiantes com suas promessas. Todos aguardamos ressabiados os acontecimentos que virão das áreas econômica e política nos primeiros meses de 2016. A negação dos sérios e complexos problemas ainda teima em persistir. A verdade ainda continuará secreta, assim ela crê verdadeiramente. No entanto, para mais de 70% das pessoas consultadas, a verdade já foi revelada. Este governo está reprovado. * Doutora em Economia e professora da FGV/ Faculdade IBS Declínio dos governos populistas BADY CURI NETO * Na Argentina encerrou-se, após 12 anos, o fim do governo Kirchner pautado no populismo demagógico envolvido em escândalos de corrupção, com viés autoritário, sempre na tentativa de emudecer a imprensa, levando aquele país a uma crise política e econômica sem precedentes. Os hermanos elegeram Mauricio Macri líder de uma frente de centro-direita, como uma nova esperança para o país, com novo modelo de governabilidade. Na Venezuela a oposição a Maduro venceu as eleições legislativas e irá ocupar 99 cadeiras das 167 do parlamento daquele país. A aliança oposicionista é formada por partidos conservadores e de centro. O governo populista/socialista de Maduro impôs à nação uma escassez de alimentos básicos, com as prateleiras dos supermercados vazias. No Brasil desde que o governo populista assumiu a cadeira de mandatário maior da nação, estamos entrando em decadência socioeconômica. Pessoas ligadas ao governo estão chafurdadas em escândalos de corrupção, do Mensalão à Operação Lava Jato. Conseguiram transformar a Petrobras, empresa de orgulho nacional, em sinônimo da corruptela. A crise política/financeira impede o desenvolvimento do País. Medidas assistencialistas em demasia foram tomadas sem preocupação com o orçamento. O governo gastou mais do que arrecadou, descumprindo a Lei de Responsabilidade Fiscal, sendo obrigado a fazer as ditas “pedaladas fiscais”. Incentivou-se a um consumo interno desenfreado, sem nenhum incentivo à produção ou às reformas de infraestrutura. Poder-se-ia elencar outras séries de equívocos, como represamento do valor de combustível, energia elétrica, etc., mas tudo se resume a um plano de perpetuação no poder da esquerda, sem preocupar com um plano de governabilidade. Nos primeiros anos no governo de esquerda no Brasil a demagogia imperou sobre as pessoas, levando a falsa esperança de um país melhor, de uma vida mais digna da população carente, de um governo probo e reto. Com o passar dos tempos, a nação brasileira percebeu que o sonho se tornara pesadelo, a corrupção apoderou-se do governo como forma de conseguir recursos para manter-se no poder. A afirmativa restou clara com a Ação Penal 470, onde deputados da base aliada eram cooptados através de uma mesada, para traírem o povo e votar de acordo com interesses do partido do mandatário maior da nação. Com os envolvidos condenados pelo Supremo Tribunal Federal (STF), teve-se a utopia de que aquele escândalo fora um ponto fora da curva e que a atuação da Polícia Federal, Ministério Público e o julgamento da Suprema Corte serviriam para inibir novos desvios de condutas de agentes públicos. Ledo engano, a Operação Lava Jato demonstrou que a prática é corriqueira, o que interessa é o poder e não a nação. A crise política instaurada pelos desmandos do governo trouxe uma conjuntura de instabilidade política, social e financeira, com consequente aumento do desemprego, inflação, juros, etc. A presidente da República está com os menores índices de aprovação da história do Brasil. Para os governos demagógicos de esquerda vale a frase de Abraham Lincoln: “Você pode enganar uma pessoa por muito tempo; algumas por algum tempo; mas não consegue enganar todos por todo o tempo.” * Advogado fundador do Escritório Bady Curi Advocacia Empresarial, ex-juiz do Tribunal Regional Eleitoral de Minas Gerais (TRE-MG) Dilma não mente Dilma fala a verdade quando diz que a saúde deve ser uma prioridade, já que nos últimos 5 anos aumentou o estado de calamidade nos hospitais públicos, com falta de médicos, equipamentos, leitos e remédios. Dilma fala a verdade quando diz que o País precisa investir em segurança pública, já que nos últimos 5 anos aumentou absurdamente o tráfico de drogas, os assaltos e o número de jovens assassinados no Brasil. Dilma fala a verdade quando diz que precisamos melhorar o combate à corrupção, já que nos últimos 5 anos uma quadrilha tomou de assalto as entidades públicas e as empresas estatais. Dilma fala a verdade quando diz que o País precisa criar mais empregos para atender a entrada anual de jovens no mercado de trabalho, já que nos últimos 5 anos mais de um milhão e meio de empregados perderam seus postos de trabalho por falta de uma política de desenvolvimento. Dilma fala a verdade quando diz que a Petrobras precisa recuperar sua imagem no mercado, já que nos últimos 5 anos a empresa se tornou virtualmente falida e foi tomada de assalto por uma gangue de administradores e políticos desonestos. Dilma fala a verdade quando diz que o governo precisa estimular a participação da iniciativa privada na área de infraestrutura, já que nos últimos 5 anos a nossa logística perdeu as condições para atender a um mer- cado competitivo. Dilma fala a verdade quando diz que o Brasil precisa se inserir nos grandes mercados, para melhorar sua posição no cenário mundial, já que nos últimos 5 anos o Brasil só fez acordos comerciais com países falidos e carentes de democracia. Dilma fala a verdade, quando diz que precisamos melhorar nossa matriz energética, privilegiando a energia limpa, já que nos últimos 5 anos o País aumentou substancialmente a geração de energia através de termoelétricas poluentes. Dilma fala a verdade, quando diz que precisamos reduzir a carga tributária para o setor produtivo, já que nos últimos 5 anos foram aumentadas as tarifas e os tributos sobre o transporte e a produção. Dilma fala a verdade, quando diz que precisamos manter a inflação dentro da meta de 4,5% ao ano, para preservar o poder de compra do povo, já que nos últimos 5 anos a inflação corroeu a capacidade financeira e a dignidade do trabalhador. Dilma fala a verdade, quando diz que precisamos reduzir a taxa de juros, já que nos últimos 5 anos as taxas praticadas pelos bancos atingiram níveis desconhecidos pelo resto do mundo. Dilma fala a verdade, quando diz que o país precisa levar o direito à Justiça igualmente para todos os brasileiros, já que nos últimos 5 anos aumentou a ineficiência dos NACIB HETTI * tribunais, com mais de 250 importantes comarcas sem juízes de qualquer espécie. Dilma fala a verdade, quando diz que o país precisa investir em saneamento como um processo auxiliar da saúde pública, já que nos últimos 5 anos quase nada foi feito para tirar miseráveis de ambientes insalubres, sem esgoto e sem água tratada. Dilma fala a verdade, quando diz que o País precisa equilibrar suas finanças, já que nos últimos 5 anos foram feitos investimentos equivocados e despesas não programadas, pedindo um ajuste para cobrir o rombo causado pelas chamadas pedaladas fiscais. Dilma fala a verdade, quando diz que o País precisa melhorar o seu produto interno bruto, já que nos últimos 5 anos o PIB brasileiro tem sido inferior à média mundial, com previsão de uma queda de 3,6% para 2015. Dilma fala a verdade, quando diz que o País precisa melhorar sua imagem de bom pagador, já que nos últimos 5 anos o Brasil foi rebaixado por todas as agências de classificação de risco que medem a nossa economia. Resumindo: Dilma não pode sofrer o impeachment. Nos próximos três anos ela deve continuar falando a verdade, consertar o estrago feito nos últimos 5 anos e entregar o governo um pouco melhor. *Diretor da ACMinas Diário do Comércio Empresa Jornalística Ltda. Fundado em 18 de outubro de 1932 Fundador: José Costa Diretor-Presidente Luiz Carlos Motta Costa Diretor Executivo Yvan Muls [email protected] [email protected] Erros e suas consequências O Brasil termina o ano em recessão e as perspectivas para 2016, mantidas as condições atuais, são também negativas. Na visão oficial, a deterioração registrada reflete a conjuntura externa e teria sido agravada pelas condições políticas internas. Uma avaliação tão indulgente quanto imprecisa, diferente do pensamento de observadores independentes e bem qualificados. O que acontece agora é, na realidade, a consequência previsível de erros que foram sendo acumulados nos últimos anos, com o País deixando de aproveitar os efeitos positivos do ciclo de expansão externa que levou à valorização de commodities minerais e agrícolas para expandir investimentos, ao mesmo tempo em que favoreceu a expansão dos gastos públicos. A contração externa, após 2008, bastou para evidenciar o desajuste interno, deteriorando rapidamente as contas Nessa linha de raciocínio públicas e assim comprometendo fala-se novamente em a capacidade de reformas, com o ministro investimento. Compreender Valdir Simão cuidando a realidade é de lembrar que o sistema fundamental para que ela possa previdenciário precisa e ser modificada deve ser reajustado, além e, efetivamente, o País seja capaz de propor que aspectos de demonstrar é possível da legislação trabalhista que compatibilizar o reequilíbrio das sejam revistos contas públicas com a retomada do crescimento, tarefa atribuída pela presidente Dilma Rousseff aos novos comandantes da área econômica, os ministros da Fazenda e do Planejamento. Nessa linha de raciocínio fala-se novamente em reformas, com o ministro Valdir Simão cuidando de lembrar que o sistema previdenciário precisa e deve ser reajustado, além de propor que aspectos da legislação trabalhista sejam revistos. E sem contar que é preciso melhorar a gestão e a qualidade dos gastos. Estamos falando da lição de casa mais elementar, aquela que foi tomada e apresentada como verdadeiro fundamento do Plano Real, que apontava a estabilização monetária apenas como pré-requisito para a realização de reformas estruturais na organização do Estado, no sistema tributário e na ordenação trabalhista, tendo como ponto de partida a reforma política. Tudo ficou para trás, primeiro diante dos sinais de sucesso no combate à inflação, depois diante da ilusão de que as receitas de exportação obtidas exclusivamente à custa da valorização temporária de bens primários representavam o ingresso do País no mundo desenvolvido. Pagamos agora o preço das oportunidades perdidas, do tempo desperdiçado e das ambições de políticos imediatistas. Faltaram e faltam ações permanentes, políticas de Estado. Nada que possa ser feito da noite para o dia, nada capaz de nos transportar do inferno ao paraíso como mais uma mágica, muito menos salvar reputações. Com certeza o rumo capaz de colocar o Brasil num horizonte de melhores perspectivas.