INTRODUÇÃO DE PEIXES VIVOS COMO ENRIQUECIMENTO AMBIENTAL PARA ONÇA PINTADA (Panthera onca Linneaus, 1758). Peixoto, T. V.1;2; Chiquitelli Neto, M.2;3*; Silva, C. A.1; Barros, G. A. C.1;2 1 Aluno(a) do Curso de Ciências Biológicas FEIS/UNESP/Ilha Solteira Integrante do MANERA – Núcleo de Manejo Racional – Ambiência e Bem-Estar Animal [email protected] 3 Professor Assistente Doutor do Departamento de Biologia e Zootecnia – FEIS/UNESP/Ilha Solteira. (18) 3743-1152 – Campus de Ilha Solteira - Faculdade de Engenharia - Ciências Biológicas 2 INTRODUÇÃO O enriquecimento ambiental é um princípio de manejo animal que busca melhorar a qualidade do cuidado a animais cativos pela identificação e pelo uso dos estímulos ambientais necessários à promoção do seu bem-estar psicológico e fisiológico, mantendo os animais cativos ocupados através do aumento da gama e diversidade de oportunidades comportamentais e do oferecimento de ambientes mais estimulantes (ENRIQUECIMENTO..., s.d.). Segundo Sanders et al (2007), o enriquecimento ambiental divide-se em cinco grandes grupos, sendo que o enriquecimento alimentar tem um papel fundamental para melhorar a qualidade de vida de animais em cativeiro, pois na natureza eles procuram e caçam seus alimentos. Acredita-se que o enriquecimento ambiental proporcione aos animais de cativeiro a possibilidade de terem um comportamento o mais próximo possível do exibido no meio natural, otimizando o espaço disponível. Melhorar a qualidade de vida dos animais cativos é uma necessidade dos zoológicos, visto que são ambientes que o enriquecimento assume um papel maior na conservação das características típicas da espécie, a manutenção de habilidades naturais e de sobrevivência (ENRIQUECIMENTO..., s.d.). Este trabalho teve como objetivo avaliar a melhoria do bem estar da onça pintada cativa mediante enriquecimento ambiental focado na alimentação. MATERIAIS E MÉTODOS As observações foram realizadas no Centro de Conservação da Fauna Silvestre de Ilha Solteira (CCFS-IS), São Paulo, no recinto de exposição dos animais. O espécime estudado foi uma fêmea (Rebeca) adulta. Os materiais utilizados para coleta de dados foram fichas diárias de observação e cronômetro. O método de amostragem Ad libitum foi adotado inicialmente durante 3 dias para a construção do etograma e da planilha de coleta de dados. Posteriormente, o método de amostragem utilizado foi o focal e a rota de coleta contínua, conforme descrito por Martin & Bateson (1986). Procurou-se identificar os comportamentos que pudessem indicar possíveis problemas comportamentais, chegando-se as seguintes categorias de comportamentos: locomoção (LO), movimento estereotipado (ME), repouso (RE), auto-limpeza (AL), vocalização (V) e subir no tronco (ST) e no com tratamento foram acrescentados os comportamentos de observar a água (OB) e pescar (Pe). As observações ocorreram durante 8 dias, divididos da seguinte forma: 4 dias consecutivos sem o enriquecimento ambiental (sem tratamento) e 4 dias com a introdução dos peixes na dieta do animal (com tratamento). O período diário das observações foram de 6 horas, sendo 3 horas durante a manhã e 3 horas durante a tarde, considerando que o fornecimento dos alimentos ocorre a partir das 16:00 horas. Os dados obtidos foram incluídos em uma planilha do Excel, sendo elaborados gráficos com os comportamentos observados para cada animal e analisados estatisticamente por meio de ANOVA. RESULTADOS E DISCUSSÕES No período sem tratamento, foram observados que o animal permanecia grande parte do tempo repousando sobre um tronco no recinto, onde dormia e realizava também a maioria da autolimpeza, apresentando alta freqüência destes comportamentos. O repouso é um comportamento que pode indicar ociosidade, principalmente quando persiste durante grande parte do tempo. Isto é comumente observado no cativeiro, pois, ao contrário do comportamento em vida livre que interage ativamente com o ambiente, o animal cativo não despende tempo a procura de seus alimentos, não procura parceiros para acasalamento e não interage com outros animais e com o ambiente, devido a limitação imposta pelo cativeiro. O indivíduo mostrava comportamentos de locomoção (LO) e movimentos estereotipados (ME), principalmente o “pacing”, quando próximo o horário da alimentação. A locomoção pode indicar comportamento próximo ao de vida livre da espécie, porém a estereotipia é associada a permanência no cativeiro. Embora a presença de tais comportamentos indiquem atividade do indivíduo, mesmo que durante horários restritos, os movimentos estereotipados estão frequentemente relacionados ao estresse provocado pelo ambiente cativo. Desta forma, no período sem tratamento pode-se observar que o animal se encontrava ocioso devido a relativa falta de atividade, principalmente locomotora, comparada ao repouso, quase em tempo integral. Com tratamento, o animal teve sua freqüência bem como o tempo de repouso diminuídos, aumentando, concomitantemente, o tempo gasto em outras atividades, indicando a diminuição do ócio (Figura 1). A freqüência do comportamento ME, apesar de numericamente menor com tratamento, não apresentou diferença significativa (P>0,05). Tais resultados sugerem que, no período da tarde, principalmente próximo ao horário da alimentação, o indivíduo indicava sinais de estresse e ansiedade. Talvez fosse necessário um período maior de observações para que a diminuição de ME fosse significativa. Frequência (média/dia) Sem tratamento Com tratamento 70 60 50 * * 40 30 * * 20 10 0 ME LO RE V AL ST OB PE Categorias de comportamento Figura 1: Freqüência dos comportamentos da onça pintada sem tratamento e com tratamento. * indica diferença significativa entre tratamento (P<0,01). LO = locomoção (P=0,069); RE = repouso (P= 0,016); OB = observando a água (P=0,000); e Pe = pescando (P=0,000). Os comportamentos ME = movimento estereotipado (P=0,2972), V = vocalização (P=0,3398), A = auto limpeza (P=0,3218) e ST = subir no tronco (P=0,5039), apesar de sofrerem diferenças com o tratamento, essas não foram significativas. Tais resultados observados com tratamento podem ser devido à introdução do enriquecimento ambiental proposto no trabalho. A presença de peixes vivos no pequeno lago do recinto estimulou a onça pintada a exercer atividades antes não praticadas como ficar observando a água e entrar no pequeno lago, exercendo a caça, ao tentar e/ou pegar os peixes. Sabendo que a alimentação fornecida pelo zoológico consiste, principalmente, em carne bovina e galinhas sacrificadas, a introdução dos peixes possibilitou que o indivíduo caçasse em períodos indeterminados, aumentando assim seu período ativo (Figura 2). Frequência (média/dia) 160 140 120 100 Sem tratamento 80 Com tratamento 60 40 20 0 Atividade Ócio Categorias de comportamento Figura 2: Gráfico representando a freqüência de atividade e ócio sem o tratamento e com o tratamento, considerando como atividade os comportamentos de movimento estereotipado, locomoção, vocalização, auto limpeza, subir no tronco, observando a água e pescando e como Ócio o comportamento de repouso. Observa-se o aumento das atividades da onça pintada e a redução do repouso (P<0,01). Desta forma, quando comparado à fase sem tratamento, enriquecimento alimentar promoveu a redução do comportamento de ócio e um aumento da atividade com comportamento exploratório, brincadeiras e expressão de comportamentos naturais (como caçar, por exemplo). O enriquecimento ambiental otimizou o espaço disponível para o animal cativo, promovendo uma maior interação deste com o ambiente e a exibição de comportamentos típicos da espécie, sendo estes alguns dos critérios para avaliar se um animal se encontra com seu bem-estar promovido. CONCLUSÃO O enriquecimento ambiental alimentar promoveu, conforme os dados apresentados, uma melhoria no bem-estar da onça pintada, aumentando as atividades além de proporcionar ao animal mais uma fonte nutricional. Desta forma, sugere-se que a introdução de peixes vivos no recinto da onça-pintada é uma boa alternativa para amenizar a ociosidade e o estresse do animal cativo, principalmente durante a exposição. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ENRIQUECIMENTO AMBIENTAL. Disponível em: <http: Enriquecimento_ambiental_e_bem- estar.com.br>. Acesso em: 2 jun. 2008. SANDERS, A.; FEIJÓ, A. G. S. Uma reflexão sobre animais selvagens cativos em zoológicos na sociedade atual. Adaptação do artigo publicado no anais do III Congresso Internacional Transdisciplinar Ambiente e Direito – III CITAT, PUCRS, Porto Alegre, 2007. MARTIN, P., BATENSON. Measuring Behavior – an introdoctury guide. 1º ed., Cambridge University Press, Cambridge, 1986.