1 ISSN 2317-661X Vol. 08 – Num. 02 – Agosto 2015 EDUCAÇÃO DE SURDOS: LEITURA ENTENDIDA, ESCRITA COMPREENDIDA Dinéia de ARAÚJO1; Aluno (a) do Curso de Licenciatura em Pedagogia da UVA/UNAVIDA. [email protected] . RESUMO: O Brasil comporta duas línguas oficiais, o Português que se destina a população dominante, que é a de ouvintes, mas também a Libras- Língua Brasileira de Sinais, língua utilizada pelas comunidades surdas. Ambas as línguas apresentam estrutura gramatical própria que se difere e muito uma da outra. Nós que fazemos parte da categoria ouvinte, começamos a aprender o português desde que nascemos pelas vias auditivas e no momento da aquisição do código escrito, apesar de ser grande a dificuldade pela complexidade determinada pela própria língua, a mesma se torna mais acessível no que se diz respeito a escrita, pois ouvimos, geralmente, da mesma maneira como produzimos um texto, coloquial e/ou formal. Porém que dizer dos surdos então, que não ouvem e desde a aquisição de sua língua até a obtenção do código escrito tem de ter contato com duas línguas, a Libras, sua língua natural e o português, sua língua materna na forma escrita, ambas com seu grau de complexidade. Nosso objetivo principal com este trabalho é o de mostrar a que tipo de complexidade está inserido o surdo no tocante as duas línguas, como o português é encarado por ele, quais as dificuldades no que se refere a compreensão de texto escritos em português e as esfinges na hora de colocar suas ideias no papel para que se faça compreender pelos ouvintes que não tem contato com a Libras, uma vez que o surdo tende a escrever da forma como fala na Libras. Propor, diante deste fato, métodos que viabilizem o ensino da língua portuguesa na sua forma escrita de que entendam sua leitura e se façam compreender sem, contudo marginalizar a Libras, pelo contrario, fazer uso da mesma para mediar o processo de ensino e aprendizagem numa perspectiva de letramento. Palavras-Chave: Bilíngue, alfabetização, surdez, letramento, língua. ABSTRACT: Brazil has two official languages, the Portuguese intended the dominant population, which is the listeners, but also pounds- Brazilian Sign Language. Both have their own language grammar and structure which differs much from one another. We are part of the listener class, we begin to learn Portuguese from birth by the auditory pathways and in the acquisition of the written code, despite being great difficulty by the complexity determined by the language, it becomes more accessible as relates to writing, because heard generally produce the same manner as text, conversational and / or formal. But what of the deaf then, who do not listen and since his first contacts must have contact with two languages Pounds, its natural language and Portuguese, his native language in written form, both with its complexity. Our main goal with this work is to show what kind of complexity is inserted deaf regarding the two languages, such as Portuguese is seen by him, what difficulties regarding the understanding of text written in Portuguese and difficulties time to put your ideas on paper so that they do understand by listeners who do not have contact with the pounds, since the deaf tend to write the way you talk in pounds. Propose, on this fact, methods of enabling the Portuguese language teaching in their correct order in writing, but without marginalizing Pounds, on the contrary, make use of it to mediate the process of teaching and learning. Keywords: Bilingual, literacy, deafness, literacy, language. INTRODUÇÃO A língua “oficial” do Brasil, a que é reconhecida mundialmente para fins de representação e a que domina o território nacional é o Português. Nossa língua abrange uma complexidade tal, que não é difícil encontrar pessoas que viveram uma vida inteira e nunca www.revistascire.com.br 2 ISSN 2317-661X Vol. 08 – Num. 02 – Agosto 2015 conseguiram compreender sua estrutura formacional ou mesmo sequer foi apresentada a mesma, me atrevo até a dizer que os grandes estudiosos da língua em algum momento se sentem perturbados em coordená-la gramaticalmente, embora o falante seja competente na variedade coloquial, via de regra não se sente conhecedor de sua língua segundo Mollica (2003, apud Mollica, 2011, p. 12). Nossa língua não surgiu assim do nada, foram séculos de construção e ainda hoje está em constante estruturação, a exemplo disso, o último acordo que mudou as regras do idioma foi assinado a pouco, em 2009 e ainda hoje causa confusão em estudantes e até mesmo em professores que não são doutores no assunto, que dirá a população compartilhada de nossa grandiosa nação. Porém não ficamos apenas na língua portuguesa, o Brasil tem uma segunda língua oficial, a Libras- Língua Brasileira de Sinais que é a língua natural falada pelas comunidades surdas. Esta comunidade surda é formata principalmente por surdos e deficientes auditivos, mas também por familiares dos mesmos, intérpretes da língua e também por militantes dos movimentos em prol dos direitos dos surdos. O surdo na antiguidade, como todos os deficientes, eram condenados a exclusão e até mesmo a morte, a igreja abominava o surdo e atribuía a ele causas sobrenaturais, somente no fim da idade média, aproximadamente 570 d. c é que se começa a caminhar para a educação do surdo. A comunicação com pessoas surdas sempre se deu de forma gestual, onde cada família desenvolvia sua forma de se comunicar de maneira eficiente com seu surdo. No Brasil a Libras começou a se tornar notória e unificada por volta de 1855, quando veio ao Brasil um professor chamado Ernesto Huet e fundou no Rio de Janeiro a primeira escola para surdos no e com a ajuda de D. Pedro II que com a lei n. 839, de 26 de setembro de 1857, fundou o Imperial Instituto dos Surdos-Mudos, hoje denominado Instituto Nacional de Educação de Surdos (INES). Porém, a Libras apenas foi perfilhada como uma língua natural e só veio a ser reconhecida e registrado com a Lei Nº 10.436 de 24 de abril de 2002 e Decreto Nº 5.626/2005, onde se tem respeitados os valores da Língua e Cultura dos Surdos, reconhecendo LIBRAS como sendo a primeira Língua dos Surdos e a Língua Portuguesa como segunda, como também o direito por Escolas Bilíngues para Surdos. Diante destes episódios, focaremos o ensino de uma língua portuguesa dentro da libras, ou seja, o surdo tem sua língua materna (língua materna, também conhecida como idioma, é a língua que se fala em um país, em nosso caso o português) e sua língua natural (língua natural é aquela que a pessoa faz uso para sua comunicação, mas que se difere da www.revistascire.com.br 3 ISSN 2317-661X Vol. 08 – Num. 02 – Agosto 2015 língua de seu país, no caso dos surdos no Brasil, a Libras). Vamos entender melhor: a língua materna do surdo é a língua portuguesa, pois é a língua oficial do Brasil e sua língua natural é a Libras, no entanto, dependendo do grau de surdez, possa ser que este surdo nunca venha a aprender o idioma na sua forma oral, que se adquire ao ouvir para que possa reproduzir os sons, mas continuará fazendo uso da mesma na forma ESCRITA, no entanto a língua que fará uso para sua comunicação com a comunidade surda (que é composta por surdos, seus familiares, intérpretes e pessoas que lutam pelos direitos dos surdos) será a sua língua natural, a Libras. Nosso propósito é focar o ensino da língua portuguesa na sua forma escrita fazendo uso de Libras. É recorrente durante todo o processo acadêmico do surdo os mesmos reclamarem que não compreendem nada do que o professor escreve, do mesmo modo, textos maiores escritos por surdos tornam-se incoerentes e mesmo incompreensíveis. Isto ocorre devido o fato de a língua portuguesa não ser minimamente compreendida pelos surdos em seus parâmetros formacionais básicos para construção de textos, mesmo os mais simples. Para podermos compreender o porquê isso se dá, precisamos atinar para a estrutura gramatical da língua portuguesa e de Libras, dessa forma seremos capazes de compreender o porque da dificuldade de o surdo aprender a fazer uso do português escrito como também proporcionar métodos de intervenção para que se possibilite um melhor entendimento do mesmo por parte dos surdos. Lembrando que quando dizemos que nos propusemos a conduzi-los a compreender textos simples, não estamos querendo limitá-los a apenas estes, mas enfatizamos que o conhecimento é um processo contínuo e deve se estender por toda a vida e estar em constante reformulação, desafios, superação e avanços. METODOLOGIA Do conjunto de técnicas que servem para de normas para a obtenção dos objetivos propostos, sendo, portanto a parte prática da coleta de dados na qual optamos pela observação direta e intensiva, em que utilizamos os sentidos na obtenção das informações dentro da realidade que estamos estudando. Consiste além de ver, ouvir, examinar fatos e fenômenos que desejamos compreender, descrever as características do objeto de estudo quanto a forma de aplicação dos métodos para atingir os objetivos propostos. A fim de explicitar os instrumentos utilizados na investigação e as fontes de pesquisa para atingir os objetivos www.revistascire.com.br 4 ISSN 2317-661X Vol. 08 – Num. 02 – Agosto 2015 definidos, trabalhamos o seguinte caminho e procedimentos metodológicos. Laboramos em nossa pesquisa, um estudo de campo no qual se dá maior profundidade as questões propostas, seu planejamento apresenta flexibilidade e pode ocorrer ainda que seus objetivos e metodologia sejam reformulados ao longo da pesquisa. No estudo de campo estuda-se um único grupo e sua estrutura social destacando a interação entre seus componentes, utiliza-se muito de técnicas de observação e interrogação. Constitui em um modelo de investigação como relata Gil (2002, p. 53) Tipicamente, o estudo de campo focaliza uma comunidade, que não só é necessariamente geográfica, já que pode ser uma comunidade de trabalho, de estudo, de lazer ou voltada para qualquer outra atividade humana. Basicamente a pesquisa é desenvolvida por meio da observação direta das atividades do grupo estudado e de entrevistas com informantes para captar suas explicações e interpretações do que ocorre no grupo. Esses procedimentos são geralmente conjugados com muitos outros, tais como a análise de documentos, filmagens e fotografias. (Antônio Carlos Gil, 2002, p. 53) Como citado, percebe-se que em um estudo de campo o pesquisador realiza a maior parte do trabalho pessoalmente, pois é de evidente importância a própria vivência direta com as situações de estudo. É importante que o pesquisador permaneça o maior tempo possível no local onde ocorre o fenômeno a ser estudado. De fato, com interação na realidade podem-se entender as regras, os costumes e as reações diversas vividas pelo grupo e em nosso caso, o pesquisador não apenas esteve presente, mas foi o condutor da ação estudada. Realizamos também um estudo bibliográfico para a aquisição dos conhecimentos teóricos pertinentes a argumentos e conceitos para a posteriori o delineamento adequado do caminho e dos instrumentos de pesquisa que sendo entendida como caminho e próprio de abordagem correspondente a parte prática de coleta de dados, que inclui aspectos reais de concepção de teoria, técnica e criatividade (Gonsalves, 2007), tal qual como pesquisador se faz fundamental nossa presença e neste caso em particular, nossa atuação direta para aplicação dos instrumentos propostos, que é nosso objeto de estudo, para fins de investigação e comprovação. Dentro de um aglomerado de princípios disponíveis ao conhecimento, decidimos iniciar através da leitura e compreensão da gramática da língua portuguesa, posteriormente da Libras, para finalmente propormos nosso utensílio de intervenção pedagógica que seguirá da observação, pois “utiliza os sentidos na obtenção de determinados aspectos da realidade. Não consiste apenas em ver e ouvir, mas também em examinar fatos ou fenômeno que se deseja estudar” (Marconi &Lakatos, 2010, p. 205). www.revistascire.com.br 5 ISSN 2317-661X Vol. 08 – Num. 02 – Agosto 2015 A língua portuguesa chegou ao nosso país no século XVI, veiculada pelos portugueses, juntando-se assim ao tupi-guarani (língua falada na época pelos nativos indígenas que aqui habitavam). Como dito anteriormente, está em constante transformação e influencias de diversos países, tem uma estrutura complexa e de difícil compreensão e confunde-nos constantemente. Começaremos por tentar entender como funciona a estrutura gramatical da língua portuguesa. Gramática é o engenho no qual se organiza e se rege o funcionamento de uma determinada língua (Jr, 2004), a gramática é a Lei, ou seja, o conjunto de normas que rege a língua daí então a gramática normativa. Ressaltando que para ser considerada língua, o dialeto precisa ser munido da capacidade de expressar qualquer ideia, seja ela concreta ou abstrata e no caso das línguas de sinais, pesquisas vem mostrando que são compatíveis em complexidade e expressividade a qualquer língua oral, o que a reforça como “língua”. Vamos nos ater aos parâmetros formacionais da nossa língua, que são estruturados e utilizados como impera a gramática, posteriormente a Libras, são eles: FONOLOGIA- é a seção que se destina ao estudo do sistema sonoro do idioma, como os sons se organizam dentro da mesma, como se classificam suas unidades e seus significados chamados de FONEMAS. MORFOLOGIA- é onde estudamos a estrutura da formação das palavras, fazemos isso estudando a palavra separadamente e não sua função dentro da frase e se divide nas seguintes classes: Substantivo, Artigo, Adjetivo, Numeral, Pronome, Verbo, Advérbio, Preposição, Conjunção e Interjeição. SINTAXE- agora a sintaxe estuda o papel da palavra dentro da frase e a relação lógica das frases entre si, é um instrumento fundamental para manipular satisfatoriamente as palavras dentro das frases. SEMÂNTICA- estuda o significado das palavras, e o que elas representam, é muito complexa e extenuante seu estudo, contrapõe-se assiduamente com a sintaxe. A semântica leva em consideração: PRÁGMÁTICA- estuda o contexto das palavras dentro do texto. Todos estes são aspectos da linguística, da fala e de seu uso, sem os quais se tornaria impossível a existência da gramática e sem um conhecimento mínimo, se torna impossível a compreensão e o uso correto da gramática. www.revistascire.com.br 6 ISSN 2317-661X Vol. 08 – Num. 02 – Agosto 2015 Vamos então aos parâmetros formacionais de Libras. O que nós chamamos de palavra ou item lexical nas línguas orais-auditivas, nas línguas de sinais, chamamos de sinal. Estes sinais são formados através de uma combinação de movimento das mãos, localizadas a uma determinada posição em relação ao corpo e em um determinado espaço (frente, lado, próximo, longe), estas configuração de mãos (o formato que a mão assume ao produzir determinado sinal) pode ser comparado aos fonemas na língua oral-auditiva, na Libras são cinco os parâmetros: CONFIGURAÇÃO DE MÃO: É a forma que a mão, ou as duas mãos assumem para o inicio da realização de determinado sinal, em alguns sinais esta configuração vai mudando até que se complete todo o sinal; PONTO DE ARTICULAÇÃO: É o lugar onde se posiciona a mão predominante configurada, podendo esta tocar ou não alguma parte do corpo. MOVIMENTO: Os sinais podem ser compostos por movimentos, às vezes existem sinais iguais para episódios diferentes e o que vai definir do que se trata é o movimento que ele assume. ORIENTAÇÃO/ DIRECIONALIDADE: Está ligada ao lado para o qual a palma da mão está virada na hora da realização do sinal. EXPRESSÃO FACIAL E/OU CORPORAL: Muitos sinais são acompanhados de expressão facial ou corporal, na língua portuguesa o que enfatiza interrogação, exclamação, firmeza, choro, etc. é a entonação da voz, na Libras é a expressão facial ou corporal, ou mesmo as duas simultaneamente. Esses aspectos são os linguísticos, vamos aos gramaticais; Numerais: Estes podem assumir configuração de mão e movimento diferentes quando se trata de representar numerais cardinais, ordinais e de quantidade; Advérbio de tempo e tempos verbais: Quase sempre nas frases os verbos são apresentados no infinitivo, quando isto acontece é utilizado um advérbio que vai indicar se a ação aconteceu ontem, antes de ontem, amanhã, hoje, ano passado, se vai acontecer daqui a dois anos, ET.; Pronomes pessoais: No singular, o sinal é o mesmo, o que vai mudar é a direcionalidade, EU a mão aponta para mim mesmo, VOCÊ a mão aponta para a pessoa em frente, ELE/ELA a mão aponta para a pessoa que não está inserida direta ou indiretamente na conversa, NÓS a mão realiza um movimento circular com o indicador apontando pra cima www.revistascire.com.br 7 ISSN 2317-661X Vol. 08 – Num. 02 – Agosto 2015 compreendendo o circulo de pessoas ao redor. Em caso dual, a mão assume o numeral dois, do mesmo modo o trial e o quatrial, a partir daí, o sinal de nós se repete acrescido do sinal de grupo. Dentro deste, os pronomes pessoais de primeira pessoa do singular, do plural, segunda pessoa do singular, do plural, terceira pessoa do singular e do plural, seguirá a mesma regra, sendo que a mão assume o numeral indicativo da quantidade de pessoas. Pronomes demonstrativos e advérbios de lugar: Assumem a mesma configuração de mão que os pronomes pessoais, porém, pontos de articulação diferentes. Pronomes possessivos: assim como os demonstrativos não possuem gênero, está relacionada à pessoa do discurso e não ao objeto possuído, caso queira determinar gênero, o sinal vem acompanhado do sinal de homem e de mulher. Pronomes interrogativos: O pronome quem é utilizado no inicio da frase, o pronome onde no final da frase. Verbos: Quase sempre é utilizado no infinitivo, o que determina quando ocorreu à ação é o acompanhamento do advérbio de tempo. Pronomes interrogativos: São utilizados no final das frases e acompanhados de expressão de interrogação. Pronomes indefinidos: É determinado pelo sinal que representa a palavra nada. Ex: Se quero dizer de nada (após um obrigado) apenas realizo o sinal, se quero dizer ninguém, realizo o sinal de pessoa seguido do sinal nada. E desta forma se compõe a estrutura gramatical básica de Libras (como a que apresentamos da língua portuguesa) compreendido isto, no que dizem respeito as línguas de sinais, os seus usuários podem através delas discutir qualquer assunto que desejar, o que vai determinar o grau de compreensão é o nível de conhecimento obtido, porém, um surdo sente uma grande dificuldade em escrever o português dada a distinção entre ambas, de mesmo modo, um ouvinte sente dificuldade no inicio do aprendizado em se fazer entender dada a complexidade gramatical das duas línguas. A grande maioria dos bebês responde mais prontamente a sons da fala que a outros tipos de sons, ela não requer uma academia, um curso ou um tipo específico para sua aquisição, começamos a aprendê-la desde que nascemos apenas por ouvir, além disso, somos capazes de falar, escrever e compreender uma quantidade imensa de sentenças e palavras diferentes () desse modo se torna mais fácil a aquisição correta da escrita, basta apenas adquirir o código e por sua vez, em posse do código decodificá-lo. Porém, no que se refere aos surdos, conduzir a www.revistascire.com.br 8 ISSN 2317-661X Vol. 08 – Num. 02 – Agosto 2015 aquisição do código escrito é simples, o dificultoso está em tudo que engloba a gramática da língua portuguesa como já estudamos anteriormente. Quando um surdo, mesmo que tenha um nível acadêmico mais elevado, vai escrever suas ideias, ocorre um grande problema com a concordância, como nos relatou um terapeuta que trabalha com uma perspectiva de reabilitação, o psicopedagogo, professor e palestrante Marcos Paterra (https://www.facebook.com/marcos.paterra?ref=ts&fref=ts) ao relatar que uma paciente surda, com mestrado e que passou toda a sua vida acadêmica acompanhada de interprete de Libras, ao chegar a seu consultório, solicitou-lhe que fizesse uma redação, a mesma simplesmente não conseguiu redigir um texto com a menor coerência justamente pelo fato do pouco conhecimento e falta de prática com o português escrito, um exemplo disso foi uma conversa com uma surda, amiga minha em que ela me relatava seu desejo de ganhar uma casa nesses programas sociais, vejam o relato: -“Eu falar prefeitura esperar ganhar casa feliz morar triste sem família casa”- o que ela queria dizer na verdade (e sabe-se pelo conhecimento adquirido tanto da língua, quanto com o convívio com a pessoa) era “Eu fui fazer a inscrição na prefeitura, espero ganhar uma casa, ficaria muito feliz, sou muito triste por não ter uma casa para morar com minha família”. Percebem a complexidade de nossa língua diante da Libras? Percebem a dificuldade em coordenar pensamentos quando se trata em escrevê-los em português? A partir do conhecimento e da aprendizagem de novas relações somos capazes de reproduzir comportamentos referentes a essas novas relações, o que isto quer dizer, que quanto melhor for o ensino da língua portuguesa e quanto maior for o contato com leitura e escrita, maior será a aquisição do código escrito em português. Nesta perspectiva, devemos lembrar que no propósito de uma visão inclusiva, nos valemos e devemos fazer uso do AEE- Atendimento Educacional Especializado para alunos surdos numa perspectiva bilíngue, ou seja, fazendo-se uso da Libra para o ensino da língua portuguesa. A escola é uma das exigências do letramento, ou seja, a alfabetização ligada às práticas sociais, tornar o ser pensante, questionador, transformador de si mesmo e do meio em que vive, É interessante constatar que, nas sociedades modernas, os valores culturais associados a normas linguísticas de prestigio considerada correta, apropriada e bela são ainda mais arraigados e persistentes que outros de natureza ética, moral e estética. (Bortoni-Ricardo, 2005, p. 13) www.revistascire.com.br 9 ISSN 2317-661X Vol. 08 – Num. 02 – Agosto 2015 O procedimento linguístico é um referencial de indicação de estratificação de classes sociais, quanto melhor o indivíduo fala e escreve melhor seu poder aquisitivo, pois teve com certeza melhores condições de estudo. A escola no Brasil é orientada a ensinar a língua da cultura dominante, no caso o português, e para surdos, o português escrito, tudo o que distancia desse código é defeituoso e deve ser eliminado. A escola não pode ignorar as diferenças sócio linguísticas, principalmente no que se refere a Libras, a segunda língua oficial do nosso país e levar em consideração suas variantes e inclusive e fundamentalmente, o uso da mesma para o ensino de português escrito. É imprescindível que se realize um bom planejamento, com objetivos atingíveis, sensatos e viáveis e que se tenha consciência que precisa ser realizado um trabalho para alcançá-los. Os objetivos são de fundamental importância, pois aceleram os resultados e mecanismos do trabalho a ser realizado pelo professor e os alunos também como os resultados a serem atingidos de acordo com os níveis de conhecimento já obtidos pelos alunos como preconiza Libâneo (1994, p. 119). Para que esses objetivos sejam alcançados, faz-se necessário que sejam sobrepostos um ambiente e as condições necessárias, isso às vezes requer investimento pesado, o que na maioria das vezes não acontece, então entra toda a capacidade de transformação do professor, um exemplo disso é a velha cópia no quadro, precisa-se que se promova uma cópia com reflexão, que se gere discussão a respeito do tema tratado, estimular o aluno a produzir o próprio texto dando a ele a consciência de ser transformador, nos mostra Neurilene Martins, doutora em educação e professora do curso de pedagogia do Centro Universitário Jorge Amado UNIJORGE (Revista Nova Escola nº 278, p. 13), sem em momento nenhum diminuir ou desprezar a Libras, pelo contrário, se fazendo uso do português coerente na escrita e promover debates utilizando a Libras. É importante o ensino e o uso de palavras e letras em situações reais de leitura e escrita, motivá-los a escrever seus próprios textos, promover reflexão sobre eles, conversar, discutir, debater, instigá-los a expor seus pensamentos, suas conclusões, resultados. É interessante que se faça relação entre as palavras desconhecidas com palavras já conhecidas, relação entre sinônimos, verbos, para facilitar a compreensão democratizando o ensino da leitura e escrita para que todos alcancem o aprendizado “o professor deve dar todas as condições para que a sala pense sobre como se escreve, para que se escreve e quem escreve” (Silvana Augusto, Revista Nova Escola, nº 278, p. 22). www.revistascire.com.br 10 ISSN 2317-661X Vol. 08 – Num. 02 – Agosto 2015 Como dito anteriormente, abancamos um grupo de cinco alunos do 5º ano do ensino fundamental e aplicamos a seguinte sequência didática para a prática de leitura e escrita com o objetivo de praticar os artigos definidos e indefinidos e os verbos que outrora já haviam sido ensinados e trabalhados e introduzir o conhecimento a preposição, suas equivalências e possibilidades de substituição para no decorrer da leitura e escrita haja compreensão. Para que o leitor tenha uma melhor ideia de como trabalhamos, daremos uma pequena explanação de como cada assunto foi trabalhado separadamente. Trabalhamos com o tema Letramento Digital com o objetivo de alfabetizar os surdos letrados, usando tecnologia digital, pois uma vez em tempos de inclusão, faz-se necessário que sejam utilizados todos os recursos cabíveis e dispostos para a alfabetização dos mesmos em língua portuguesa, uma vez que tudo o que é transmitido aos mesmos tem de ser feito de forma contextualizada, o uso da tecnologia como data show, lousa digital, computador, mediada pelo professor por meio de sua língua natural, a Libras, ajuda a dar sentido, significância ao aprendizado da língua portuguesa que é a língua dominante e por ser de tão difícil compreensão pelos surdos pelo fato de ter uma estrutura linguística e gramatical completamente diferente da Libras o que torna o português escrito não tão fácil compreendido pelos surdos. O conteúdo abrangeu noticia, leitura, escrita, artigo, preposição e o publico alvo foi de alunos entre 4º e 5º ano do ensino fundamental com um tempo Máximo de 05 aulas no qual foi trabalhada a gramática da língua portuguesa com o uso dos artigos, verbos e preposições. Será solicitado de cada aluno que tragam um recorte de jornal com uma noticia de seu interesse. A professora também levou uma noticia para iniciar a aula, mostrando onde se encontra cada termo de interesse e explicando a funcionalidade de cada um deles, o que é, para que serve, quando e como usar, entre outras duvidas que por ventura surgiram. No decorrer da semana foram trabalhadas as demais noticias que os alunos trouxeram e depois de abordada a temática, foi solicitado dos alunos que se organizassem na escolha de um tema de interesse comum de todos, foi entregue aos alunos uma câmera digital e requerido que realizem diversas fotografias, dependendo do tema escolhido, caso seja um tema social, por exemplo, que os alunos fizessem fotos de pontos positivos, negativos, situações que os desagradam, que os agradam, de ações que caso estejam sendo tomadas para saneamento da problemática, enfim. Colhido o material, o professor como escriba, conduziu o grupo à produção de uma notícia com um texto que seja normativo a língua portuguesa por meio do computador, deste www.revistascire.com.br 11 ISSN 2317-661X Vol. 08 – Num. 02 – Agosto 2015 modo então o professor conheceu o que foi captado de conhecimento pelo grupo e suas maiores dificuldades, realizando assim as explicações pertinentes e instigando a pensar, a questionar, a transformar por meio da escrita. RESULTADOS E DISCUSSÃO É importante que o tema educação seja trabalhado e vivido de forma plena e interina. Como já foi dito anteriormente, utilizar-se de todos os meios para proporcionar e facilitar a educação de pessoas com surdez. Vê-las muito além de sua deficiência, mas como seres plenamente competentes e capazes de realizar toda e qualquer tarefa com êxito, os recursos existem que devem ser buscados e praticados. Logo, diante do tema apresentado, que é de extrema relevância para o tratamento do processo educativo de surdos e da mediação proposta para o ensino da língua portuguesa, concluímos que o aprendizado se deu de forma natural e lúdica com o uso de jogos, brincadeiras, histórias, e acredite, até musica (o surdo não consegue ouvir, mas ele sente a vibração do som que se dá não só pela vibração dos tímpanos, mas também dos ossos). Neste tipo de educação se trabalha muito com o visual, com placas de boas maneiras, alfabeto, objetos, todos desenhados e com a representação do sinal em libras. Para contar uma história, por exemplo, se faz necessário a sequência da mesma em gravuras no quadro ou na parede e é nessa hora que o educador tem de colocar todo seu lado artístico para fora, pois tem de ser muito bem representada, pois o bom entendimento da libras se faz principalmente através da expressão corporal, que é o que dá ênfase e sentido ao que está sendo dito. CONCLUSÕES O resultado foi muito satisfatório, contextualizamos o aprendizado, pois como dito anteriormente, a educação de surdos precisa se da de forma ao aluno ver sentido no que aprende, precisa ver, sentir, trabalhar sua aplicação em seu dia a dia. Sem sombra de dúvidas, o ensino da língua portuguesa dado desta forma, fez com que o aluno veja o português de outra maneira. Mostraram-se incrivelmente estimulados a buscar novos textos, novas palavras, e dentro do objetivo proposto com os itens abordados, conseguiram produzir textos www.revistascire.com.br 12 ISSN 2317-661X Vol. 08 – Num. 02 – Agosto 2015 compreensíveis. Percebemos que com uma proposta educativa que vise verdadeiramente o aprendizado do aluno nesta perspectiva de letramento, construímos seres motivados a buscar a sua própria identidade levando a construção de uma sociedade em comum, pois se rompem as barreiras do desconhecido e mostramos ao aluno que nada é impossível diante de sua condição física (pois “Aquele que não pode se comunicar, em sinais pode se manifestar” Papa Inocêncio III- 1198) sejam estas cognitivas, física ou motora. Precisamos nos dispor a compreende-los e praticar também o que se destina a nós educadores e nossa proposta educacional, a de formar seres pensantes, questionadores e transformadores. É indispensável que se proponha uma diversidade de canais escritos dos mais variados gêneros oportunizando a escrita segundo as ideias, o conhecimento e o entendimento do aluno, e promover a interpretação do escrito por meio do contexto, que é a Libras, depois, caso haja divergência pela questão gramatical, o professor como escriba, conduzir o aprendizado, lembrando que jamais se deve esquecer que sua língua é a Libras e promover o ensino da língua portuguesa favorecendo o uso contínuo da mesma, fazendo, por exemplo, comparação de frases escritas nas duas línguas ou o debate de determinado texto, onde o aluno para se expressar fará uso de sua língua. Dentro de nossa proposta, promover a relação entre o que ela entende da leitura, o que se faz entender por meio da reescrita e o que realmente ela quis dizer. É basilar que se leve em conta o ponto de vista do aluno, o aprendizado deve ser motivador e quanto mais ele sentir que é essencial no processo de construção do mundo que o cerca, mais determinado para aprender ele se sentirá. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALBRES, Neiva de Aquino. Ensino de Libras como segunda língua e as formas de registrar uma língua visuo-gestual: problematizando a questão. ReVEL, v. 10, n. 19, 2012. BRASIL, Ministério da Educação. Educação especial na perspectiva da Inclusão Escolar. Abordagem Bilíngue na Escolarização de Pessoas com Surdez. Brasília: 2007. BRASIL, Ministério da Educação. Secretaria de educação especial. Diretrizes para a educação especial na educação básica. 2º Ed. Brasília: MEC; SEESP, 2011. 1°Primeira Feira Muito Especial de Tecnologia Assistiva e Inclusão Social das pessoas com Deficiência da Paraíba. www.revistascire.com.br 13 ISSN 2317-661X Vol. 08 – Num. 02 – Agosto 2015 BORTONI-RICARDO, Stella Marís. 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